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| ARTIGO ORIGINAL | | 84 | REV. SOBECC, SÃO PAULO. ABR./JUN. 2018; 23(2): 84-88 NECESSIDADES DE APRENDIZAGEM ACERCA DA CIRURGIA CARDÍACA NA PERSPECTIVA DE PACIENTES E ENFERMEIROS Learning needs about cardiac surgery from the perspective of patients and nurses Necesidades de aprendizaje acerca de la cirugía cardíaca en la perspectiva de pacientes y enfermeros Débora de Almeida Pereira1, Tamyres Millena Ferreira2, Jadiane Ingrid da Silva3, Eduardo Tavares Gomes4*, Simone Maria Muniz da Silva Bezerra5 1Enfermeira pela Universidade de Pernambuco – Recife (PE), Brasil. 2Acadêmica de Enfermagem da Universidade de Pernambuco – Recife (PE), Brasil. 3Residente de Enfermagem em Cardiologia do Pronto-Socorro Cardiológico Universitário de Pernambuco Professor Luiz Tavares – Recife (PE), Brasil. 4Mestre em Enfermagem pela Universidade de Pernambuco; Enfermeiro Assistencial da Unidade de Blocos Cirúrgicos do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco – Recife (PE), Brasil. 5Pós-Doutora em Enfermagem Fundamental pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto (SP), Brasil. *Autor correspondente: edutgs@hotmail.com Recebido: 30/11/2017 – Aprovado: 04/03/2018 DOI: 10.5327/Z1414-4425201800020005 RESUMO: Objetivo: Verificar a concordância entre a percepção dos enfermeiros sobre a necessidade de aprendizagem dos pacientes em período pré-ope- ratório acerca da cirurgia cardíaca e os tópicos sobre os quais os pacientes mostram menor conhecimento. Método: Trata-se de um estudo descritivo-ex- ploratório, realizado em duas etapas, em dois hospitais universitários na cidade do Recife, Pernambuco, Brasil. Em uma primeira etapa, os pesquisadores questionaram 30 enfermeiros sobre quais tópicos eles acreditavam que os pacientes tivessem mais dúvidas ou menor conhecimento. Na segunda etapa, 50 pacientes foram entrevistados para verificar seu conhecimento acerca dos 18 tópicos que os enfermeiros haviam julgado. Resultados: A média de acertos dos pacientes foi igual a 5,92. Em 16 dos 18 tópicos avaliados, o conhecimento dos pacientes era menor na perspectiva dos enfermeiros do que nos valores representados pelos acertos dos próprios pacientes. Conclusão: Os tópicos que os pacientes tiveram mais dúvidas devem se tornar focos de atenção no processo educativo do enfermeiro, que necessita conhecer a população sob seus cuidados para melhor planejar suas ações. Palavras-chave: Educação em saúde. Período pré-operatório. Cirurgia cardíaca. Cuidados de enfermagem. ABSTRACT: Objective: To verify the agreement between nurses’ perceptions about learning needs of patients in the preoperative period of cardiac sur- gery, and the topics that patients show to have less knowledge about. Method: Descriptive-exploratory study carried out in two steps, at two university hospitals in the city of Recife, Pernambuco, Brazil. In the first step, researchers questioned 30 nurses on which topics they believed patients had more questions or less knowledge about. In the second step, 50 patients were interviewed so as to check their knowledge about the 18 topics that the nurses had judged. Results: The mean of correct answers was 5.92. In 16 of the 18 topics assessed, patients had less knowledge in nurses’ perspective than their correct answers represented. Conclusion: The topics patients had more queries about should become the focus of attention in nurses’ formation, as these professionals should be acquainted with the population they’re caring for in order to better plan their actions. Keywords: Health education. Preoperative period. Thoracic surgery. Nursing care. RESUMEN: Objetivo: Verificar la concordancia entre la percepción de los enfermeros sobre la necesidad de aprendizaje de los pacientes en período preope- ratorio acerca de la cirugía cardiaca y los tópicos sobre los cuales los pacientes muestran menor conocimiento. Método: Se trata de un estudio descripti- vo-exploratorio, realizado en dos etapas, en dos hospitales universitarios en la ciudad de Recife, Pernambuco, Brasil. En una primera etapa, los investiga- dores cuestionaron a 30 enfermeros sobre qué tópicos creían que los pacientes tenían más dudas o menor conocimiento. En la segunda etapa, 50 pacien- tes fueron entrevistados para verificar su conocimiento acerca de los 18 tópicos que los enfermeros habían juzgado. Resultados: El promedio de aciertos de los pacientes fue igual a 5,92. En 16 de los 18 tópicos evaluados, el conocimiento de los pacientes era menor en la perspectiva de los enfermeros que en los valores representados por los aciertos de los propios pacientes. Conclusión: Los tópicos que los pacientes tuvieron más dudas deben convertirse en focos de atención en el proceso educativo del enfermero, que necesita conocer a la población bajo sus cuidados para mejor planificar sus acciones. Palabras clave: Educación en salud. Periodo preoperatorio. Cirugía torácica. Atención de enfermería. | 85 | REV. SOBECC, SÃO PAULO. ABR./JUN. 2018; 23(2): 84-88 NECESSIDADES DE APRENDIZAGEM ACERCA DA CIRURGIA CARDÍACA INTRODUÇÃO O período pré-operatório é destinado ao processo de preparação do paciente em todos os aspectos, além de ser o momento para esclarecer dúvidas quanto aos procedimentos, sobre como ele deve se preparar e como pode ser o pós-operatório1,2. A espera de uma cirurgia é vista, muitas vezes, como o risco de incapa- cidade, morte, ou como a possibilidade de alteração da ima- gem corporal, o que gera angústia e ansiedade3. A ansiedade e o estresse trazem repercussões psicológicas e fisiológicas que podem desencadear diminuição da capacidade de recuperação dos tecidos e resposta imunológica lenta, con- tribuindo para uma maior predisposição a infecções4. O enfermeiro, para implementar a educação em saúde, deve buscar compreender as necessidades de aprendizagem dos pacientes e ter as evidências científicas necessárias para organizar o cuidado e orientar o processo educativo5. A educação em saúde promove reflexão e consciência crítica, com ênfase em um processo dialógico e organizador da forma de se trabalhar com pessoas, não sendo ape- nas um ato meramente instrucional6. Sendo assim, o enfermeiro deve saber se comunicar com o outro, entender as demandas do paciente e, em sentido mais popular, falar a língua do paciente. No intuito de tornar a prática da educação em saúde mais efetiva e eficiente no período pré-operatório de cirurgia cardíaca, é importante pensar em estratégias com linguagem acessível ao público-alvo e propor ações educativas e interativas entre o profissional e o paciente. É de suma relevância a realização de orientações e visitas pré-operatórias, visto que elas diminuem a ansiedade e aumentam a adesão à proposta terapêutica2,5,7. OBJETIVO Verificar a concordância entre a percepção dos enfermeiros sobre a necessidade de aprendizagem dos pacientes em período pré-operatório acerca da cirurgia cardíaca e os tópicos sobre os quais os pacientes mostram menor conhecimento. MÉTODO Trata-se de um estudo exploratório, descritivo, com aborda- gem quantitativa. A pesquisa foi realizada em duas etapas, em dois hospitais universitários na cidade do Recife, Pernambuco, Brasil, sendo um especializado e referência em cardiologia, e outro que atende, além de cirurgia cardíaca, a outras especialidades cirúrgicas. Em uma primeira etapa, os pesquisadores questionaram 30 enfermeiros sobre quais tópicos eles acreditavam que os pacientes tivessem mais dúvidas ou menor conhecimento. Para se obter tal resposta, foram utilizados os conteúdos que são ministrados na estratégia de educação em saúde do hospital, as dúvidas mais frequentes e a experiência dos autores com o tema. O conteúdo utilizado nas orientações aos pacientes, realizadas no hospital, foi elaborado após ampla revisão da literatura, além de ser baseado na experiência dos profissionais e nos protocolos do hospital. Para essa etapa, foi elaborado um instrumentoem 18 tópicos que permitia que os enfermeiros avaliassem, em uma escala tipo Likert, de 1 a 5 pontos, o nível de dúvida ou o pouco conhecimento que os pacientes com os quais lidam cotidiana- mente apresentam sobre determinado tópico. A pontuação 1 foi atribuída à menor dúvida, e para cada tópico que o paciente apresentava maior dúvida, foram empregados 5 pontos. Para a análise desses dados, os tópicos que apresentavam escores 3, 4 e 5 foram considerados relevantes na perspectiva dos enfermeiros, pois retratam, na visão dos profissionais, as maiores necessidades dos pacientes. Na segunda etapa, foram avaliados 50 pacientes acerca dos mes- mos tópicos. Suas respostas foram classificadas da seguinte forma: • o paciente não sabe sobre o questionado (quando não houve resposta de sua parte ou quando esteve com- pletamente equivocado); • o paciente sabe parcialmente sobre o questionado (quando não utilizou corretamente os termos ou não soube detalhes, mas soube o principal sobre o cuidado a que o item se refere); • o paciente sabe sobre o questionado (quando respon- deu corretamente, com suas palavras, sobre o princi- pal cuidado relacionado ao item). Os autores tiveram o cuidado de não entrevistar pacientes que já haviam sido submetidos a qualquer intervenção educa- tiva, de forma a buscar as dúvidas mais primárias, ou seja, que não haviam sido abordadas por nenhum profissional8. Os dados foram analisados utilizando-se o software SPSS 20.0. Foram comparados, ao final, pelo teste do χ2, a diferença entre o percentual de respostas que os pacientes não sabiam e o percen- tual de importância atribuída pelos enfermeiros a cada item, con- siderando-se o nível de significância estatística para valor p<0,05. A pesquisa foi elaborada com base nos preceitos éticos da Resolução nº 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), sendo iniciada após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Complexo Hospitalar da Universidade de Pernambuco, via Plataforma Brasil, sob número CAAE: 12600113.4.0000.5192. | 86 | REV. SOBECC, SÃO PAULO. ABR./JUN. 2018; 23(2): 84-88 PEREIRA DA, FERREIRA TM, SILVA JI, GOMES ET, BEZERRA SMMS RESULTADOS Foram convidados a participar 30 enfermeiros, em sua maio- ria mulheres (24/80,0%), com tempo médio de formação de 5,5 anos (±10,43) e tempo de experiência aproximado ao de formação (5,0±10,78). O tempo de experiência variou entre 4 e 28 anos e todos trabalhavam na área assistencial. Quanto à formação acadêmica, 18 profissionais (60,0%) tinham mestrado em Enfermagem e 27 (90,0%) tinham especialização em Cardiologia, Clínica Cirúrgica ou em áreas correlatas em saúde do adulto; apenas 2 (6,77%) eram doutores. Vinte (66,7%) tinham artigos publicados em periódicos na área de Enfermagem em Cardiologia; 17 (56,7%) participaram ou participavam de pes- quisas na área; e 23 (76,7%) tinham experiência assistencial nessa área; o restante (7/23,3%) tinha experiência em Clínica Cirúrgica, incluindo assistência nos períodos pré e pós-operatório. A amostra de 50 pacientes foi composta predominante- mente por mulheres (27/54,0%), com até 65 anos (37/74,0%), provenientes do interior (25/50,0%), com companheiros, indepen- dentemente do vínculo formal de situação conjugal (26/52,0%). A principal religião referida foi a católica (25/50,0%) e 22 pacien- tes (44,0%) eram aposentados. A maioria apresentava índice de massa corpórea (IMC) normal (32/64,0%). A principal comorbi- dade na amostra foi a hipertensão arterial (25/50,0%), seguida de diabetes (13/26,0%); também foram verificados elevados índices de tabagismo (23/56,0%) e etilismo (23/56,0%). Uma parcela de 32,0% (16) dos pacientes já havia sido submetida a uma cirurgia cardíaca anteriormente. A Tabela 1 apresenta a estatística des- critiva dos acertos dos pacientes entrevistados. Comparando-se os tópicos propostos quanto aos pacien- tes que não souberam responder e as perspectivas dos enfer- meiros sobre as dúvidas e o pouco conhecimento dos pacien- tes, pode-se observar que o percentual de pacientes que não soube realmente responder era menor do que a estimativa dos enfermeiros, considerando-se 16 dos 18 tópicos (Tabela 2). Isso significa que, para os enfermeiros, o conhecimento dos Tabela 1. Estatísticas descritivas do número de acertos entre os pacientes entrevistados. Recife, Pernambuco, Brasil, 2017. Mediana Média Desvio padrão Mínimo Máximo Percentil 25 Percentil 75 Número de acertos 5,0 5,92 4,35 1,0 15,0 4,0 8,0 Tabela 2. Comparação dos tópicos quanto aos pacientes que não souberam responder e as perspectivas dos enfermeiros sobre dúvidas e pouco conhecimento dos pacientes. Recife, Pernambuco, Brasil, 2017. Proposição Paciente não soube responder (n/%) Perspectiva do enfermeiro (n/%) Valor p 1. Qual a cirurgia a ser realizada? 18/36,0 26/86,7 <0,001 2. Qual o motivo da realização dessa cirurgia? 16/32,0 29/96,7 <0,001 3. Como é realizado esse tipo de cirurgia? 35/70,0 17/56,7 0,238 4. O que é jejum? 02/4,0 19/63,3 <0,001 5. Quanto tempo é necessário fazer jejum antes da cirurgia? 32/64,0 30/100,0 <0,001 6. Qual o motivo do jejum? 40/80,0 24/84,0 1 7. Qual tricotomia é necessária? 15/30,0 23/76,7 <0,001 8. Após a cirurgia pode tossir? 40/80,0 29/96,7 0,046 9. Qual a posição para dormir no hospital após a cirurgia? 11/22,0 27/90,0 <0,001 10. Em que local você estará quando despertar da cirurgia? 17/34,0 28/93,3 <0,001 11. Como será sua alimentação e dieta após a cirurgia? 25/50,0 30/100,0 <0,001 12. Há possibilidade de retorno às atividades de vida diária realizadas antes da cirurgia? 17/34,0 28/93,3 <0,001 13. Há possibilidade de retorno às atividades físicas? 20/40,0 27/90,0 <0,001 14. Poderá fazer esforço físico desgastante, como pegar objetos pesados após a alta? 05/10,0 26/86,7 <0,001 15. Há possibilidade de vida sexual normal após a alta? 24/48 30/100,0 <0,001 16. Quais os cuidados com a ferida operatória pós-alta? 36/72 30/100,0 <0,001 17. Quais os sinais de infecção da ferida operatória? 34/68 30/100,0 <0,001 18. Poderá voltar a fumar após a cirurgia? 0/0 30/100,0 <0,001 | 87 | REV. SOBECC, SÃO PAULO. ABR./JUN. 2018; 23(2): 84-88 NECESSIDADES DE APRENDIZAGEM ACERCA DA CIRURGIA CARDÍACA pacientes é menor do que o que eles realmente apresentaram. Apenas no item 6, referente ao motivo do jejum, o percentual foi igual (80,0%), e no item 3, sobre como era realizado o tipo de cirurgia, os enfermeiros estimaram que eles saberiam res- ponder menos do que eles responderam (p=0,238). DISCUSSÃO É de suma importância a elaboração de escalas e instrumen- tos validados para avaliar aspectos subjetivos relacionados ao cuidado em saúde e, em particular, ao conhecimento dos pacientes9-11. Esses instrumentos possibilitam avaliação mais precisa e proposição mais focada e otimizada de medidas de intervenção, com o propósito de prestar assistência de melhor qualidade a esses pacientes11,12. As ações educativas do enfermeiro para pacientes e família, além de reduzirem a ansiedade, aumentam a adesão ao auto- cuidado, necessário tanto no pré quanto no pós-operatório13. Estudos mostram que a adesão ao processo de reabilitação está associada ao fato de o paciente ter consciência a respeito do procedimento pelo qual será submetido e seu processo de recuperação14. As intervenções de Enfermagem no período pré- -operatório são fundamentais para que o paciente se empodere do conhecimento necessário para se tornar responsável, com a equipe, pelo seu processo de recuperação e autocuidado15. Dos resultados, pode-se inferir que os enfermeiros conside- ravam o conhecimento dos pacientes menor do que o referido por estes ao acertarem as questões, mesmo que parcialmente. Contudo, o fato de os enfermeiros subestimarem o conheci- mento dos pacientes não repercute diretamente no processo de educação, visto que o contrário seria preocupante. Erros sobre aspectos que podem ser considerados básicos, tais como o tipo de cirurgia e o motivo (40; 80,0%) e o tempode jejum (32; 64,0%), representam pouco conhecimento, que pode ser minimizado pela visita pré-operatória, a ser realizada pelo enfermeiro do setor ou mesmo pelo profissional do Centro Cirúrgico. Contudo, o enfermeiro do período pré-operatório pode dispor de outras estratégias para educação em saúde, como confecção de cartilhas, vídeos educativos e palestras expositivas. Ressalta-se que questões acerca do pós-operató- rio também devem ser enfatizadas, considerando que há evi- dência de que isso contribui para a ansiedade pré-operatória, a recuperação e a adaptação do paciente, inclusive do tempo de permanência na terapia intensiva e da incidência de complica- ções pós-operatórias16-18. Na amostra, questões sobre autocui- dado no pós-operatório não tiveram resultados satisfatórios. De forma geral, pode-se afirmar que a média de acertos 5,92 (±4,35) foi baixa, considerando que o percentil de 75,0% dos pacientes acertou até 8 questões, de um total de 18, ou seja, menos da metade (Tabela 1). Considerando que a distribuição das respostas corretas teve de 1 até 15 tópicos respondidos cor- retamente, deve-se continuar investigando fatores que possam acarretar melhorias nos resultados, inclusive o acesso à inter- net, os meios de comunicação, a presença de acompanhantes. Uma pesquisa nacional sobre validação clínica do Diagnóstico de Enfermagem “Conhecimento deficiente” apontou que mais de 75,0% dos pacientes o apresentavam, similar ao achado em outros trabalhos19-21. Esse percentual é próximo da perspectiva dos enfermeiros do presente estudo acerca do pouco conheci- mento dos pacientes sobre a cirurgia cardíaca. Outra pesquisa, com 80 pacientes, utilizando-se de um ques- tionário específico sobre doença coronária e revascularização, encontrou que mais de 50,0% dos pacientes que compuseram a amostra erraram ou não souberam responder às questões refe- rentes ao nome da doença, aos sinais e sintomas de complicação, aos objetivos e ao tipo de cirurgia e anestesia22. Ainda não há, no Brasil, questionário que aborde o conhecimento dos pacientes em pré-operatório acerca de cirurgias cardíacas. A pesquisa apresentada teve por limitação não investigar se os pacientes haviam buscado alguma informação anterior sobre a cirurgia que pudesse impactar, de forma significativa, no seu conhecimento, como, por exemplo, acesso à internet, experiência de amigos, parentes e até colegas de enfermaria que realizaram a cirurgia anteriormente. CONCLUSÃO Os enfermeiros mostraram que consideravam o conhecimento dos pacientes menor do que o realmente apresentado por estes ao acertarem as questões, mesmo que parcialmente. Entre os 18 tópicos avaliados, em 16 deles o conhecimento dos pacientes era menor na perspectiva dos enfermeiros do que nos valores representados pelos acertos dos próprios pacientes. Os tópicos que os pacientes tiveram mais dúvidas devem se tornar foco de maior atenção no processo educativo do enfermeiro. Para dar continuidade a este estudo, os autores seguirão na elaboração e validação de uma escala para avaliar o conhe- cimento de pacientes no período pré-operatório acerca da cirurgia cardíaca. Com essa escala, enfermeiros assistenciais poderão verificar na população sob seus cuidados quais tópi- cos suscitam mais dúvidas, bem como avaliar o impacto das estratégias educativas utilizadas. | 88 | REV. SOBECC, SÃO PAULO. ABR./JUN. 2018; 23(2): 84-88 PEREIRA DA, FERREIRA TM, SILVA JI, GOMES ET, BEZERRA SMMS REFERÊNCIAS 1. Costa TMN, Sampaio CEP. As orientações de enfermagem e sua influência nos níveis de ansiedade dos pacientes cirúrgicos hospitalares. 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