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Barcarena Cidade da gente ESTUDOS REGIONAIS Fundamental I Jacobson Estumano João Poça Luiz Guimarães Roberto Anjos Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida e/ou transmitida, seja quais forem os meios empregados sem a permissão dos Autores e Editores. DIDÁTICOS e d i t o r a Catalogação na publicação Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) © Didáticos Editora, 2018 Direção Editorial: Eric Medeiros Coordenação Editorial: Nara Moreira Telry Freire Polyana Veloso Liane Frota Regina Campelo Thyago Lima Deborah Moura, Eduardo Rosberg Cláudio Oliveira Supervisão de produção: Coordenador de equipe: Coordenação pedagógica: Revisão ortográfica: Projeto gráfico e diagramação: Ilustrações: Fotografias: Avenida Oliveira Paiva, Número 1600, Jardim das Oliveiras, Fortaleza - CE CEP 60822-130 email: didaticoseditora@gmail.com Apresentação Caríssimos alunos, professores e pais, É com muita satisfação que lhes apresentamos este livro sobre nosso município. Ele nasceu de uma oportunidade de reunir e organizar num só volume muitas informações que antes estavam dispersas sobre nossa terra. Os dados e reflexões aqui apresentados passeiam pela história e pela geografia de Barcarena, sua cultura, seu povo, suas atrações turísticas, seus aspectos econômicos e muito mais. Nossa maior expectativa nessa empreitada é a de proporcionar aos lei- tores uma viagem por imagens, histórias, paisagens, belezas, problemáticas e desafios, de modo que conheçam mais e de diversas formas a terra de nossa habitação. Convidamos, então, cada uma e cada um que folhear essas páginas a refletir, questionar, debater e, assim, conhecer melhor o lugar onde nas- ceu ou escolheu viver, e também conhecer a si próprio enquanto pessoa e enquanto cidadão. Que essa experiência seja tão prazerosa e reveladora quanto o foi para nós. Abraços. Os autores. Palavra do Prefeito Querido aluno barcarenense, é com extrema alegria e certeza do dever cumprido que estamos, cada vez mais, contribuindo para o fortalecimento do padrão de qualidade da educação municipal, a partir do lançamento deste belo e significativo livro. Considero que a edição do Livro “Barcarena cidade da gente” representa oportuno e valoroso investimento no resgate de importantes aspectos relacionados à vida socio- econômica, histórica e cultural do nosso estimado município, que são disponi- bilizados ao nosso alunado de forma clara, contextualizada e atrativa. Dessa forma, minha satisfação é imensa, pois como cidadão barcarenen- se, desde que aqui cheguei, sempre acreditei e compreendi que é possível, com forte compromisso social, responsabilidade e uma boa dose de ousadia, fazer algo inovador, diferente e transformador da realidade social e educa- cional, em particular, através de investimentos, como este livro, que possam dignificar e enaltecer cada vez mais essa linda e valorosa terra Mortigura. Tenho plena convicção de que este livro, que destaca e evidencia conhe- cimentos, acontecimentos e informações peculiares e relevantes da nossa terra, será extremamente útil no trabalho educativo escolar, constituindo-se em importante instrumento de apoio aos nossos educadores, que poderão as- sim qualificar ainda mais o processo educacional, fazendo com que os nossos alunos aprendam muito mais e melhor! Ademais, quero carinhosamente congratular-me com os nobres e estima- dos educadores barcarenenses, autores deste material, que nos brindam com esta histórica e magnífica obra didática. Antônio Carlos Vilaça Prefeito Municipal de Barcarena Mensagem da Secretária de Educação Estimados educadores e alunos da rede municipal de edu- cação, a Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Desenvol- vimento Social tem o prazer e a satisfação de apresentar-lhes este livro, que é fruto de um intenso e profícuo trabalho co- letivo iniciado há vários anos, que vem buscando o resgate, reconstrução e valorização da história barcarenense em todos os seus aspectos, através de adequado intercâmbio com o processo ensino-aprendizagem, assim como cuidadoso trabalho de pesquisa e sistematização de dados, informações e conhecimentos. Assim, acreditando sempre numa perspectiva pedagógica de trabalho ino- vadora e que contempla o resgate dos nossos laços históricos e culturais, e a partir dos conhecimentos compartilhados com nossos educadores, com os resultados práticos que obtivemos na interação com o alunado, enfim, com o produto das experiências acumuladas nesse percurso, foi possível chegarmos à condição de podermos abraçar este projeto, que se constitui em iniciativa pio- neira no nosso município. Temos certeza de que esta obra contribuirá de forma expressiva para que nossos alunos tenham, cada vez mais, um aprendizado significativo e prazero- so acerca das nossas características e peculiaridades, enquanto município que possui aspectos históricos, culturais, geográficos e socioeconômicos tão inte- ressantes, instigantes e dignos de serem conhecidos, valorizados e enaltecidos. É importante destacar que as informações, imagens e os dados aqui con- tidos foram criteriosamente selecionados, sistematizados e apresentados com o objetivo de possibilitar uma viagem literária/didática, interligada e prazerosa pelo mundo do conhecimento das grandes e “apaixonantes questões barcare- nenses”. Por fim, queremos agradecer e parabenizar a todos os nossos educandos e educadores, que nesse processo de construção coletiva e solidária, contribuíram para que pudéssemos chegar a este momento tão almejado e especial: lançar esta maravilhosa obra educativa, sob a responsabilidade de renomados educa- dores barcarenenses! Ivana Ramos do Nascimento Secretária Municipal de Educação, Cultura e Desenvolvimento Social Unidade 1 Barcarena – Pará: Lugar de viver Unidade 2 Barcarena – Pará: História e memória 16 O município no estado do Pará 17 Uma cidade em muitos lugares 20 Paisagem e ordem urbana 24 Formas de trabalho e economia 44 Barcarena: nossa história, nossa memória 45 Barcarena: a invenção de uma cidade 45 No tempo dos índios: terra dos Gibirié e Mortigura 48 As missões religiosas 52 A expulsão dos jesuítas e o nascimento de Barcarena e Conde 54 Barcarena, um nome que veio do outro lado do Atlântico 56 De freguesia de Belém à criação do município de Barcarena 56 A Cabanagem 62 Economia, trabalho e resistência 68 A busca pelo progresso e a reinvenção da cidade em dois tempos 68 A transferência da sede municipal 72 A criação das vilas operárias uma nova fase da urbanização de Barcarena Unidade 3 Barcarena – Pará: Lugar de memória Unidade 4 Barcarena – Pará: Educação Socioambiental 78 A cidade e seus lugares de memórias 79 Memória legalizada 83 Uma avenida conta histórias: A Cronje da Silveira 88 Lendas: símbolos do imaginário barcarenense 91 Mestre Vieira, um contador de estórias 94 Uma baleia em Barcarena: uma história quase fantástica 98 Memórias de infância e das brincadeiras 101 Brincar na cidade 110 Barcarena e os objetivos da Agenda 2030 da ONU 115 Elementos naturais e culturais 116 O nosso solo e relevo 117 A vegetação do município de Barcarena 118 Nossa fauna barcarenense 126 O acidente do navio Haidar e suas consequências na Vila do Conde 129 Do Extrativismo do Açaí e forno de farinha para a Indústria do Alumínio Unidade 5 Barcarena – Pará: O lazer na cidade e o turismo Unidade 6 Barcarena – Pará: Poder e cidadania 145 Iniciando a conversa 146 O turismo natural 151 O turismo histórico 156 A cultura barcarenense 161 Eventos culturais 172 Introdução à Unidade 173 Barcarena: cidade, comunidade 195 Cidadania: representatividade da população 205 Sugestão de subsídios para aprofundar os conhecimentos sobre Barcarena “A cidade é o retrato físico das experiências das várias gerações de indivíduos que ao longodos anos habitam este espaço”. Luiz Antonio Valente Guimarães Barcarena – Pará: Lugar de viver Unidade 1 14 Barcarena – Pará: lugar de viver Unidade 1 Caro aluno, vamos iniciar uma viagem pelo conhecimento de nossa cidade. O roteiro da viagem come- ça pelos caminhos da história, da memória, depois seguiremos pelo meio ambiente, visitaremos os espaços de lazer e turismo e, finalmente, veremos as formas de poder e exercício de cidadania. Você é o passageiro fundamental nessa viagem, vamos começar! “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”, assim diziam os gregos. Muito distante desse tempo, tomamos a frase dos fi- lósofos antigos para começar este passeio sobre a cidade de Barcarena. “Conhece-te a ti mesmo” é um convite para que você, aluno, possa re- conhecer, no tempo e no espaço as transformações que essa cidade da região amazônica vem conhecendo ao longo de seus mais de trezentos anos de existência. Desde as primeiras populações indígenas e seus lugares transfor- mados em missões religiosas, até a implantação dos grandes projetos, trazendo suas cidades planejadas, eis um roteiro do percurso. Percebere- mos as modificações físicas da paisagem. Veremos os caminhos se torna- rem ruas, ao mesmo tempo em que assistimos ao ritmo da vida se tornar cada vez mais intenso, as pequenas vilas se tornarem bairros populosos com milhares de migrantes que se somaram às populações nativas, cons- truindo um povo mestiço. Veremos o comércio da beira do rio se tornar hipermercado, o surgimento de redes bancárias, escolas, transportes e toda a diversidade de alterações que fazem esta cidade estar sempre numa contínua construção, da qual você faz parte. Conhece-te a ti mesmo é o anseio e a necessidade que propomos a você, nesta obra, para que depois de desvendar a nossa história lo- 15 Vista aérea da sede do Município de Barcarena Fo to : C lá ud io O liv ei ra cal possamos enxergar com facilidade, respeito e compromisso o mundo melhor para todos, que igualmente pretendemos ajudar a construir. Vamos praticar 1. Você conhece a si mesmo? Vamos representar a história de nossa família por meio do preenchimento da árvore genealógica (Árvore de Família), abaixo: Im agem 1 16 O município no estado do Pará Mapa dos Municípios do Estado do Pará – 2017. Fo nt e: F ap es pa /I B G E O Pará é uma das 27 unidades federativas do Brasil e o segundo maior estado do país com uma extensão de 1.247.955,238 km², pouco maior que Angola, e está dividido em 144 municípios. Situa-se no centro da região Norte e tem como limites o Suriname e o Amapá ao norte; o Oce- ano Atlântico a nordeste; o Maranhão a leste; Tocantins a sudeste; Mato Grosso ao sul; o Amazonas a oeste e Roraima e a Guiana a noroeste. O estado é o mais populoso da região Norte, contando com uma po- pulação estimada pelo IBGE, em 2017, de 8.366.628 habitantes. Sua ca- pital, Belém, reúne em sua região metropolitana cerca de 2 milhões e 100 mil habitantes, sendo a maior população metropolitana da região Norte. Outras cidades importantes do estado são Abaetetuba, Altamira, Ananin- deua, Barcarena, Castanhal, Itaituba, Marabá, Parauapebas, Santarém e Tucuruí. O relevo é baixo e plano; 58% do território se encontra abaixo dos 200 metros. As altitudes superiores a 500 metros estão nas serras de Carajás, Cachimbo e Acari. Im agem 2 17 Os rios principais são o Amazonas, o Tapajós, o Tocantins, o Jari e o Pará. Uma cidade em muitos lugares O município de Barcarena, por sua localização e expressão econômica, foi incluído na mesorregião metropolitana de Belém, desde o ano de 2017, e está situado entre as coordenadas 01°30’24” de latitude sul e 48°37’12” de longitude a oeste de Greenwich, com uma área de 1.310,588 km2, distante 25 km em linha reta da cidade de Belém. Limita-se ao norte com a baía do Guajará e o município de Belém; ao sul com o município de Moju e Abaetetuba; a leste com a baía do Guajará e o município do Acará e a oeste com a baía do Marajó. (Tema da Unidade 4). Mapa do Município de Barcarena Im agem 3 18 O município de Barcarena nem sempre foi do tamanho que é hoje. Ele foi se formando pela junção de vilas e povoados, que hoje são os bairros da cidade, o que faz de nossa cidade um lugar em constante modificação. Poderíamos identificar cinco principais regiões e seu tempo na cons- trução do município. Primeiro, estão as vilas fundadoras da cidade, a Vila de Conde, em 1653, e a Vila de São Francisco Xavier, em 1709, que ain- da hoje guardam no aspecto de suas ruas estreitas e na igreja da vila os traços da arquitetura das vilas coloniais. Um segundo espaço que se juntou à cidade foi o distrito de Aicaraú, extensa área rural de antigos engenhos e propriedades agrícolas. Esse lugar existe desde a época colonial e é formado por várias localidades, como: Cafezal, Cabresto, São Luiz, Bacharela, São Felipe, entre outras. Essa grande área de terras passou a fazer parte de Barcarena no ano de 1943, quando o município foi criado. Nessa mesma época, a Ilha das Onças foi incorporada à extensa área insular do território, que já era for- mado pelas ilhas Trambioca, Arapiranga e outras ilhas menores. Uma quarta composição ocorreu com a mudança da sede municipal da antiga Vila de São Francisco para a margem esquerda do rio Mucu- ruçá. Na época, o motivo para tal mudança era o interesse pelo comér- cio que circulava pelo rio Mucuruçá com destino às distantes regiões da Amazônia. Um símbolo desse novo espaço urbano da cidade é o prédio da prefeitura inaugurado em 1962. E finalmente, a partir de 1980, com a instalação dos grandes projetos em Barcarena, o município conheceu uma nova fase na sua urbanização. A criação de vilas operárias planejadas, como o Núcleo Urbano, hoje Vila dos Cabanos, e o bairro Pioneiro são marcas deste tempo. Estas vilas fo- ram formadas pelos milhares de imigrantes de diversas partes do Brasil e compõem a parte mais moderna da cidade. A Barcarena de hoje é formada por vários lugares que foram sendo incorporados ao longo de mais de trezentos anos. Vilas, povoados, sítios, cidades, todos esses espaços formam o nosso município. Espalhados nes- se território moram cerca de 121.190 habitantes, conforme o IBGE. 19 Divisão de Barcarena por bairros 1. De acordo com o texto, além de Belém, que cidades do Pará se desta- cam por suas condições econômicas e populacionais? _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ 2. Qual a localização do município de Barcarena? _________________________________________________________ _________________________________________________________ 3. Destaque do texto três áreas que formam o município e demonstre as principais características desses lugares. _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ Vamos praticar Proposta de divisão de bairros de Barcarena Fo nt e: S EM EO TH /P M B Im agem 4 20 4. Em que localidade, rio, bairro ou rua você mora? Como você descreve- ria os aspectos físicos do lugar no qual você reside? _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ 5. Observando a imagem três do mapa de Barcarena, faça um desenho reproduzindo o mapa do município e pinte. Paisagem e ordem urbana A paisagem de uma cidade é tudo aquilo que vemos por meio dos nossos sentidos (visão, olfato, tato e audição), no entanto a análise da paisagem é mais comum pela observação visual. As paisagens são formadas por diferentes elementos que podem ser de domínio natural, humano, social, cultural ou econômico e que se mis- turam uns aos outros. Elas estão em constante processo de modificação,sendo adaptadas conforme as atividades humanas. No território do município de Barcarena, podemos encontrar várias formas de representação da sua paisagem. Nas ilhas e nas margens dos muitos rios que cortam a cidade encontramos a vida das populações ri- beirinhas. 21 Paisagem de uma tradicional moradia ribeirinha – Ilha da Mucura Fo to : A ce rv o pe ss oa l, Lu iz G ui m ar ãe s Nessas localidades, embora haja o predomínio de elementos naturais, como os rios, os igarapés, a floresta com suas árvores e outros aspectos, a ação do homem modificando e adaptando esses lugares às suas necessidades está presente. Uma dessas formas de adaptação é a criação do matapi de plástico. Com garrafas plásticas, o homem ri- beirinho reelaborou uma antiga armadilha de cap- Matapi – instrumento de pesca artesal feito de talas de miriti, ao lado, feito com garrafas plásticas Fo nt e: D iv ul ga çã o Matapi: Armadilha cilíndrica, confeccionada com tala de miriti, utili- zada para capturar camarão nos rios da Amazônia. turar camarão, que tradicionalmente era feita com talas e fibras de árvo- res naturais e que agora pode usar produtos artificiais para a fabricação desses objetos. Im agem 6 Im agem 5 22 A intervenção do homem na paisagem está presente em várias par- tes da cidade, nos prédios públicos e particulares, no comércio, nas fei- ras, nas estradas, enfim, nas mais diversas formas, a vida na cidade vai se transformando. Escola das Ilhas de Barcarena – Escola M. E. I. F Jupariquara Fo nt e: S EM ED /P M B. 1. Que tipo de paisagem você observa próximo à sua casa? Descreva. _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ 2. Você tem observado que a paisagem ao redor de sua casa tem se mo- dificado? Como? _________________________________________________________ _________________________________________________________ Vamos praticar Im agem 7 23 _________________________________________________________ _________________________________________________________ 3. Faça um desenho representando a paisagem que você vê ao redor de sua residência. Faça uma entrevista com seus pais ou avós, per- gunte a eles como era a paisagem do bairro ou rua onde moravam. Partindo da memória deles monte um mapa de seu espaço de moradia descrevendo o que mudou e o que permaneceu daquela época para os dias de hoje. O resultado pode ser mostrado em sala de aula numa roda de conversas. Além da sala de aula 24 As pessoas que moram na cidade formam a co- munidade urbana e as pessoas que vivem no campo formam a comunidade rural. A zona rural, também chamada de campo, é a região que fica fora da cida- de. As pessoas vivem no campo em sítios, chácaras, fazendas, etc. As casas da zona rural não são cons- truídas perto umas das outras. Para saber mais Formas de trabalho e economia Podemos com algum cuidado dizer que a cidade de Barcarena tem duas fases da sua economia. Uma, antes da implantação do polo indus- trial, outra, depois que esses empreendimentos aqui chegaram. Para que possamos pensar nas diferenças entre essas duas etapas da história de Barcarena, vejamos alguns números. Até antes da chegada das empresas em Barcarena, o município contava, em 1980, com uma população de 20.021 habitantes, de acordo com o IBGE. Desse total, so- mente 6.700 pessoas diziam morar na zona Urbana, o restante, 13.231, vivia na zona rural. 25 Como você pôde ver a maioria da população que vivia em Barcarena, antes de 1980, portanto, antes da chegada da Albrás, Alunorte e todos os seus empreendimentos, residia na zona rural, ou seja, no campo. As pessoas que moram nesta parte da cidade retiram seu sustento da natureza. Muitos moradores que tinham e têm suas casas nas ilhas, às margens dos rios e igarapés, trabalham na pesca de peixe e camarão e na coleta de frutas como manga, cupuaçu, jambo e particularmente açaí. Nas áreas alagadas, nas várzeas, viviam da extração de seringa, sementes de andiroba e produção de lenha. Outros que moravam nas áreas menos alagadas trabalhavam com roças de plantação de mandioca, milho, abacaxi e outros produtos. Grande parte do que produziam se destinava ao próprio consumo. Alguns poucos que tinham propriedades maiores levavam parte do que produziam para vender nas feiras da cidade ou mandar para Belém para vender no Ver-o-Peso. Trabalhos e produtos da zona rural de Barcarena Extração de borracha – látex da seringueira, ao lado, coleta de açaí, produção do abacaxi. Produção de cupuaçu típico da Amazônica – pesca artesanal Im agem 8 Fo nt e: D iv ul ga çã o Fo nt e: W ik ip éd ia D eu ts ch D iv ul ga çã o Im agem 9 26 A segunda fase da economia da cidade ocorre após a instalação dos grandes projetos em Barcarena. Embora tenham sido pensados desde o final da década de 1970, foi a partir da década seguinte, que a cidade começou a sentir as mudanças decorrentes dessas ações no seu espaço. Os grandes projetos na Amazônia Os grandes projetos são empreendimentos im- plantados na Amazônia a partir da segunda metade do século XX, com objetivo de explorar as riquezas naturais, principalmente minérios, existentes em abundância na região. Foram e são planejados fora da região e visam atender ao mercado externo. Esses empreendimentos precisam de portos, ferrovias e estradas para os transportes. Usam mo- dernos equipamentos de trabalho. Além disso, após a fase de instalação, precisam de mão de obra qua- lificada. Praticamente todos eles são criados em nú- cleos urbanos planejados, as cidades empresa ou Company Town. Trata-se de residenciais com água encanada tratada, como rede de esgotos, energia elétrica, ruas pavimentadas, meios de comunica- ções, além de habitações de ótima qualidade. Para saber mais O município, conforme previa o projeto, receberia em seu território a construção de grandes obras. Em Vila do Conde, o porto de Ponta Grossa foi escolhido, por sua posição geográfica, para ser construído um porto da Portobras, por onde deviam sair produtos para várias partes do mundo. Fonte: <http://valdemirogomes.blogspot.com/2013/05/grandes-projetos-na-amazonia.html> 27 Vista aérea do porto de Vila de Conde – Barcarena. Empresa Albras – Alumínio Brasileiro S/A Fo nt e: < ht tp :/ /w w w .d ia ri oo nl in e. co m .b r/ no tic ia s/ Ligado ao Porto de Vila do Conde começava a operar, em 1985, o primeiro empreendimento de grande porte, uma indústria de alumínio, a Albrás (Alumínio Brasileiro S/A). Dez anos depois, era inaugurada uma fábrica de transformação de bauxita em alumina, a Alunorte (Alumina do Norte do Brasil S/A). A construção da Albras e da Alunorte modificaria profundamente a rotina da pacata cidade de Barcarena. Fonte: <https://www.hydro.com/pt-BR/a-hydro-no-brasil/operacoes-no-brasil/barcarena/albras---aluminio-brasileiro-s.a/> Im agem 10 Im agem 11 Para a construção da Albras e todos os espaços do polo industrial foi criada a CDI (Companhia de Desenvolvimento Industrial do Pará), e a CODEBAR (Companhia de Desenvolvimento de Barcarena). Para atender às necessidades da Albrás seria construída uma subestação de energia 28 BARCARENA APÓS 1980 Antes da instalação dessas empresas, Caripi era um lu- gar que não dispunha de qualquer infraestrutura, exceção dos pequenos barcos que faziam o transporte fluvial para esta praia, por isso, pouco frequentada. No final da década de 1970 e início de 1980, para viabilizar o sistema de produção de alumínio, acrescentam-se na configuração territorial de Barcarena portos, estradas, núcleo urbano planejado, fábri- ca, sistema de energia, a praia vê-se transformada em área de lazer da Vila dos Cabanos. Instala-se em Caripi rede de energia,de água encanada, telefonia, serviços de hotelaria, Para saber mais da Eletronorte, para abastecer os fornos de fabricação de alumínio. Não se pode esquecer que a transformação de alumina em alumínio se faz com grande consumo de energia elétrica. Enquanto todos esses empreendimentos eram construídos, milhares de trabalhadores das mais diversas partes do Brasil e, por vezes de paí- ses estrangeiros, chegavam a Barcarena. Você poderia perguntar como e onde todas essas pessoas iriam mo- rar na cidade de Barcarena enquanto construíam todas essas obras? Os antigos povoados, como Vila do Conde, Itupanema, São Francisco e Laranjal, cresceram rapidamente em ruas e casas. Na sede do municí- pio surgiram o bairro Novo, o bairro da Pedreira e mais tarde o bairro de Nazaré (Imobiliária). Porém, foram as vilas operárias criadas pela Codebar os principais espaços que abrigariam os novos moradores de Barcarena. Surgiram, assim, o bairro de Operações – o Núcleo Urbano – que depois recebeu o nome de Vila dos Cabanos e o bairro do Pioneiro. A Vila dos Cabanos foi construída sobre a antiga Vila de Murucupi, enquanto o bairro do Pionei- ro, destinado a receber a maioria dos alojamentos dos operários, ficava entre o Núcleo Urbano e a Vila do Laranjal. Era importante que essas vilas operárias não ficassem tão longe dos locais onde os trabalhadores desenvolveriam suas atividades para não dificultar seu transporte. 29 Nahum, João dos S. O território usado em Barcarena, Modernização e ações políticas conservadoras na Amazônia paraense. Ananindeua-Pa: Ed. Itacaiúnas, 2016. bares, restaurantes, segurança, salva-vidas, limpeza, cole- ta de lixo. Tudo isso diferencia o lugar de outros lugares do litoral barcarenense, tornando-o parte das rotas turísticas. A frequência de visitantes aumentou a partir de 2002, com a ligação de Belém à Rodovia PA-150 e ao porto de Vila do Conde, através da Alça Viária, incluindo Caripi no circuito comercial paraense. O progresso econômico havia chegado a Barcarena. A cidade que até então era chamada de a capital do abacaxi passava agora a também ser caracterizada como “a capital do alumínio”. Era tão forte a chegada daqueles novos tempos que nas expressões culturais do município incor- poravam essa nova fase da cidade. Um bloco de carnaval assim traduzia em seu samba enredo esse tempo: Mas chegou, o progresso chegou Com o alumínio veio a evolução É o reino Mojuquara Dando força pra nossa gigante nação Bloco “Quem é Quem” - Tema: “O fascínio, o esplendor e a glória de um povo” (Letra: Xaxá) Vista aérea da Vila dos Cabanos em Barcarena Fo nt e: < ht tp s: // al be rt od ua rt te .b lo gs po t. co m /2 01 2/ 01 /v ila -d os -c ab an os -b ai rr o- de -b ar ca re na .h tm l> Im agem 12 30 Na cidade cresceram as atividades comerciais, os meios de trans- portes se tornaram mais rápidos e muitos prédios urbanos surgiram. O movimento de trabalhadores trajando seus uniformes coloridos nas es- quinas das ruas da cidade para se deslocarem ao trabalho passou a ser uma rotina constante. Fonte: <https://www.hydro.com/pt-BR/a-hydro-no-brasil/empregos-e-carreiras> Im agem 13 Mas, por outro lado, o progresso também trouxe uma nova realidade para o município de Barcarena. Junto com os benefícios que a cidade viu surgir a partir da instalação das grandes empresas também vieram os problemas ambientais, o crescimento desordenado da cidade. Recente- mente a cidade e seus habitantes, que vivem próximos às empresas, têm convivido com materiais poluentes gerados pelas fábricas. Vamos praticar 1. Observe a imagem e identifique com (R) para atividades da zona rural e (U) para atividades da zona urbana ( ) ( ) ( ) Trabalhadores de empresas 31 2. De acordo com o texto o que diferencia a vida na área rural de quem mora na área urbana? _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ 3. Com base no que estudamos como era viver em Barcarena antes da chegada do polo industrial? _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ 4. Por que Barcarena foi chamada de “capital do alumínio”, depois de 1980? Você concorda com essa expressão? _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ 5. Com a chegada das indústrias Barcarena conheceu uma nova fase em sua história. Registre os aspectos positivos e os negativos dessa nova etapa. _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ 32 Aspectos da urbanização da cidade Esse rio é minha rua Minha e tua mururé, Piso no peito da lua, Deito no chão da maré. Trecho da música de Paulo André e Ruy Barata “Esse rio é minha rua”. http://www.culturapara.art.br/rbarata/ruymusic.htm É muito provável que você hoje, ao sair de casa para vir à escola, deve ter andado por uma rua para conseguir o transporte para vir es- tudar. É certo que essa rua, em Barcarena, pode ter várias formas. Em alguns casos ela pode ser uma via asfaltada, onde circulam automóveis, bicicletas, motos, em outros, ruas de chão de um ramal ou caminho de terra em meio às árvores, ou ainda, pelos igarapés, depois rios ou baías onde passam as pequenas e grandes embarcações de passageiros. Fo nt e: T ra ns po rt e es co la r na s ilh as d o Pa rá Transporte escolar nas ilhas do Pará Im agem 14 Por meio de seu deslocamento é possível imaginar como a cidade se mostra de forma diversa para cada morador. Para alguns Barcarena é cheia de rios, ilhas, caminhos, ramais; para outros, a rodovia, as estra- das e ruas são espaços que estão presentes no seu cotidiano. Mas você sabe como surgiram os primeiros povoados de Barcarena, com suas ruas e bairros, até ela se formar a cidade que é hoje? Então, agora, vamos estudar como ocorreu a evolução urbana de nosso muni- cípio. A Vila de São Francisco e a Vila do Conde foram os dois primeiros nú- 33 cleos urbanos a transformarem seus caminhos em ruas. Embora a maior parte da população se deslocasse pelos rios, nesses povoados, já exis- tiam estreitos caminhos por onde andavam as pessoas e, por vezes, car- ros de bois levando produtos. Tipo de carro de boi que era usado em Vila do Conde – Barcarena Im agem 15 Fonte: REGO, José Moraes. Inspeção sanitária do município de Barcarena, ano 1956. Panorama aéreo da sede de Barcarena onde mostra o seu traçado em quadros Porém, foi com a transferência da sede municipal para as margens do rio Mucuruçá, em 1960, que a cidade ganhou ruas planejadas (tema a ser desenvolvido na Unidade 2). Inspirada no traçado da cidade de Goiânia, no centro-oeste do Brasil, a nova sede foi planejada pelo urbanista Fran- cisco Cronje Bezerra da Silveira. Fo nt e: f ot o de d iv ul ga çã o Im agem 16 34 Em 1982, a prefeitura municipal assim demonstrava a área de expan- são urbana da cidade. Jornal de divulgação da PMB - prefeito municipal José Pinheiro Rodrigues - 1982 Fo nt e: S ec re ta ri a M un ic ip al d e C ul tu ra /P M B – a ce rv o Lu iz G ui m ar ãe s Nesse ano, pouco tempo antes da implantação do complexo industrial em Barcarena, a sede municipal possuía uma avenida, onze travessas e oito ruas. Apesar de pequena,a cidade curiosamente tinha um aeroporto que cruzava as travessas Sebastião de Oliveira até a Cantídio Nunes. Os nomes das ruas da sede têm relação com os personagens políti- cos que atuaram no processo de transferência da cidade, tais como: o já citado Cronje da Silveira, urbanista, que por ter planejado a cidade, teve seu nome registrado na principal avenida da cidade. O interventor federal Im agem 17 35 Plano de Urbanização da área de construção da Vila dos Cabanos que autorizou a mudança do centro administrativo foi homenageado com a avenida que leva seu nome: Governador Magalhães Barata. As demais vias possuem nomes de personalidades da política local ou alusão aos prédios ali existentes. Como a rua Frederico Vasconcelos, que homenageia o prefeito que iniciou o processo de transferência da sede municipal, já a travessa da Matriz ganhou a sua designação em função da Igreja Matriz edificada na esquina da avenida Cronje da Silveira. Finalmente, foi a partir da instalação do complexo industrial em Bar- carena na década de 1980, que um novo modelo urbanístico foi planejado para o município. Com vistas a criar bairros para abrigar os trabalhadores do empreendimento industrial, coube à empresa Joaquim Guedes & Ar- quitetos Associados a execução do plano de urbanização encomendado pela CODEBAR (Companhia de Desenvolvimento de Barcarena). Assim, foram traçados os novos espaços de ocupação urbana de Barcarena (ver imagem abaixo). Fo nt e: Re la tó ri o de P es qu is a – ID ES P. Im agem 18 36 Havia, segundo o planejamento urbano, três bairros principais: o bairro de Operações, o bairro Pioneiro e o bairro Atacadista. Com exce- ção deste último, sabemos que os demais foram construídos. O bairro de Operações, que inicialmente era conhecido como Núcleo Urbano – NURB, foi edificado nas terras da antiga Vila de Murucupi. Este bairro foi plane- jado para abrigar uma população de mais 70 mil habitantes. Nesse bairro moderno, havia lugares destinados às moradias dos tra- balhadores da Albrás, segundo as funções que desempenhavam na em- presa e o tamanho da família do operário. Além disso, a vila operária pos- suía um cinema, clube, escolas, comércio próprio, hospital, entre outros espaços destinados a atender a vida do trabalhador e de sua família. Fo nt e: P U B – P la no U rb an ís tic o de B ar ca re na Processo de urbanização de Vila dos Cabanos – Cons- trução das moradias da vila operária. Com menos infraestrutura do que o Núcleo Urbano, o bairro Pioneiro foi construído para abrigar os operários das empresas que atuavam na construção das fábricas, portos e do próprio Núcleo Urbano. 37 No ano de 1985, como par- te das comemorações dos 150 anos do principal movimento popular do Pará, a Cabanagem, o presidente da CODEBAR en- comendou ao historiador e jor- nalista Carlos Roque um projeto de nomeação das ruas do bairro de Operações, o Núcleo Urbano. Assim, a vila operária passaria a se chamar Vila dos Cabanos e todas as suas ruas, traves- sas e avenidas com nomes de personagens e acontecimentos ligados à Revolução Popular de 1835 Para saber mais Nota de jornal sobre a criação da Vila dos Cabanos e a nomeação de suas vias. Fonte: Jornal Diário do Pará Como você pôde ver, as ruas de Barcarena contam um pouco da his- tória da cidade. Cada personagem ou fato registrado nas placas de nome das ruas está relacionado a um acontecimento ou indivíduo que tem re- lação com o nosso município. Vamos praticar 1. Pinte de verde o quadrinho ao lado das frases corretas e de vermelho o das frases incorretas. A Vila de São Francisco e a Vila do Conde foram os dois primeiros núcleos urbanos a transformarem seus caminhos em ruas. 24/04/1985 38 A travessa da Matriz ganhou esse nome por causa do rio que passa em frente à cidade. A Vila dos Cabanos tem as suas ruas, travessas e avenidas com nomes de personagens e acontecimentos ligados à Cabanagem. Cronje da Silveira é o nome de uma localidade que fica na ilha das Onças em Barcarena. A Vila dos Cabanos era antes conhecida como Núcleo Urbano. 2. Quais foram os primeiros povoados que deram origem ao município de Barcarena? Havia ruas nesses lugares? Como elas eram usadas? _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ 3. Que cidade brasileira serviu de inspiração para a construção de Barca- rena? Quem traçou o plano urbanístico dessa nova cidade? _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ 4. Faça um desenho procurando demonstrar o lugar onde você mora. Identifique o nome da rua ou localidade onde está sua casa. 39 Qual o nome da rua ou localidade onde você mora na cidade? Você sabe por que tem essa de- nominação? Pergunte para uma pessoa idosa que possa lhe ajudar a conhecer a história de sua rua ou lugar onde mora. Faça um pequeno texto e co- mente em sala de aula com seus colegas. Além da sala de aula Gostou de nossa viagem até aqui? Ela só está começando, mas você já está percebendo que nós temos muitas histórias para contar e aprender. Aliás, por falar em história, esse será o tema da próxima Unidade. Até lá! 40 Anotações _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ 41 Anotações _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ “A história nos possibilita olhar pela janela do tempo as mudanças ocorridas em nossa cidade.” Luiz Antonio Valente Guimarães Barcarena – Pará: História e memória Unidade 2 44 Barcarena – Pará: História e Memória Unidade 2 Caro aluno, você já imaginou fazer um passeio pela história de nossa cidade? Então, nessa Unidade, teremos a oportunidade de visitar as antigas aldeias dos índios, a missão dos jesuítas. Veremos a bravura dos cabanos, a luta dos escravos nos engenhos e a criação de nossa cidade ao longo do tempo. Vamos começar nosso passeio? Barcarena: nossa história, nossa memória Você já observou que dentro do nosso município embora seja um só existem vários lugares diferentes? Há quem more na sede de Barcarena, outros vivem na Vila dos Cabanos, Vila do Conde, São Francisco, Laran- jal, Pioneiro, Aicaraú, Cafezal, Ilha das Onças, enfim, temos várias locali- dades, mas todos somos barcarenenses. Mas por que temos essa grande diferença de lugares? Será que todos eles sempre foram de Barcarena ou tiveram ligação com outros lugares? Há quanto tempo podemos dizer que os barcarenenses existem? Quem eram os seus antepassados? Por meio de um passeio por nossa história e memória poderemos ter as respostas para muitas dessas perguntas. Vamos começar. 45 Barcarena: a invenção de uma cidade É correto dizer que o município de Barcarena, a contar da data de sua emancipação político-administrativa, ocorrida por meio do Decreto Lei nº 4.505, de 30 de dezembro de 1943, contará, no ano de 2018, com 75 anos de existência. Mas antes de se tornar município o que teria sido este lugar? Quem habitava essas terras? Como viviam aqui? Antes de começar o nosso percurso, observe uma linha do tempo para a história de Barcarena. Antes 1653 1653 – 1709 1758 1833 1897 1943 Tempo dos índios Tempo das missões jesuíticas: Missão dos Mortigura e dos Gibirié Expulsão dos jesuítas e a criação do lugar de Barcarena e Conde Pela divisão interdistrital do município de Belém, Barcarena fi- gurava como 6º distrito e Aicaraú como o 7º. Projeto de lei do Se- nado da Câmara de Belém eleva a povoação à categoria de Vila Decreto Lei 4.505, de 30 de de- zembro de 1943, cria o município de Barcarena Aldeia Missão Religiosa Freguesia de Belém Distrito de Belém Vila de Bar- carena Município emancipado Observando essa linha do tempo, podemos notar que o lugar que hoje forma o município de Barcarena foi uma aldeia indígena, depois missão religiosa, freguesia e finalmente distrito do município de Belém. Vejamos agora como se deram os principais acontecimentos, ao longo dos seus mais de trezentos anos de existência. No tempo dos índios: terra dos Gibirié e Mortigura Antes mesmo da chegada dos primeiros colonizadores, essa região era povoada por índios. Nas terras do atual município de Barcarena havia povos nativos que transitavam nas matas desta porção da grande Ama- zônia. Eles faziam parte do tronco tupi. Espalhavam-se por esta vasta região os Gibirié, os Mortigura e outros tantos. Por sua natureza, habitavam as margens dos rios, alimentando- -se daquilo que a natureza lhes fornecia. Não conheciam instrumentos mais sofisticados. As bordunas, os arcos e flechas feitos de varas e cipós 46 constituíam seus objetos de trabalho e sobrevi- vência no meio das matas. Habitavam em mo- radias cobertas com folhas de palmeiras nativas da região. Hoje, por meio de pesquisas, é possível localizar objetos que indi- cam a presença das populações nativas que aqui habitaram no passado. Pedras lapidadas e pedaços de cerâmicas remontam aspectos da vida doméstica e dos ritos funerários dos nossos ancestrais. No terreno per- tencente à fábrica da Alunorte foi localizado pelos estudiosos do Museu Paraense Emílio Goeldi um sítio arqueológico contendo cerâmica indígena e cabocla, como se pode ver abaixo. (LOPES e CANTO, 2009) Borduna: Nome comum às armas indígenas feitas de madeira dura, usadas para dar bordoadas. Mini Aurélio Século XXI, 2001. Cerâmicas localizadas nas escavações dos sítios Alunorte e Jambuaçu. LO PE S e C A N TO ( or gs .) M PE G /V A LE , 20 09 . Borduna indígena Imagem 1 Imagem 2 47 Vamos praticar 1. Encontre no diagrama abaixo alguns nomes relacionado às populações indígenas que existiram em Barcarena. MORTIGURA GIBIRIÉ BORDUNA ARCOS CIPÓS 2. Quais eram as tribos indígenas que ocupavam as terras de Barcarena antes da chegada do colonizador europeu? _________________________________________________________ _________________________________________________________ 3. Como esses índios faziam para sobreviver? _________________________________________________________ _________________________________________________________ 4. Como é possível comprovar hoje que esses povos nativos habitaram as terras de Barcarena? _________________________________________________________ _________________________________________________________ 48 Igreja de São Francisco Xavier de Barcarena primeira edificação da antiga Missão de Gibirié. Povoado onde foi fundado o município de Barcarena. Fo nt e: C lá ud io O liv ei ra ( Fo tó gr af o) . As missões religiosas Por volta do final do século XVII, as terras dos indígenas foram ocupadas pelos europeus. Na fronteira da baia do Marajó, assentava-se a mis- são religiosa de Mortigura, na atual Vila de Con- de. No estreito canal da aldeia dos Gibirié, recebia em forma de sesmaria, o português Francisco Ro- drigues Pimenta, uma légua de terras, criando a Fazenda Gibirié, primeira povoação de Barcarena, localizada na atual Vila de São Francisco Xavier. Missão dos Gibirié Em 1709, o proprietário da Fazenda Gibirié resolveu doar suas terras aos padres jesuítas com a condição de não as vender. Ali surgia em torno de uma igreja dedicada a São Francisco Xavier a Missão dos Gibirié. Na missão dos jesuítas havia habilidosos escultores em madeira, como os índios Marçal, Ângelo e Faustino, que, além das imagens existentes na Igreja de São Francisco onde viviam também deixaram seus trabalhos na Igreja de Santo Alexandre, em Belém do Pará. 5. Você acredita que as populações indígenas deixaram alguma influência para nossa cultura? Quais? _________________________________________________________ _________________________________________________________ Im agem 3 Glossário: Sesmaria: lote de terra que os reis de Portugal cediam para cultivo (Mini Aurélio século XXI, 2001) 49 Gravura do primeiro templo da Igreja de São João Batista. Missão dos Mortigura Embora a Missão Gibirié tenha sido o núcleo fundador da cidade de Barcarena, este povoado nãofoi o ponto principal das missões religiosas instaladas pelos jesuítas nesta região. Seria na terra dos Mortigura (atual Vila de Conde) o lugar onde os missionários jesuítas fizeram um impor- tante trabalho de catequese dos índios. A Igreja de São Francisco Xavier da Missão Gibirié Foi nesta ribanceira elevada às margens do rio que foi edificada uma Igreja que media 55 para 60 palmos de comprido e vinte e cinco de largo. O orago S. Francisco Xavier. Além desta imagem mais outra e diversos painéis. Os objetos e ornamentos da praxis não são ricos, mas dig- nos. Assim descreve Serafim Leite o aspecto da primeira grande construção que marca a presença dos padres jesu- ítas na Missão Gibirié. Para saber mais Fragmento adaptado de: LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil, 1943 Im agem 4 Fo nt e: B or ro m eu , Pe C ar lo s. “ C on tr ib ui çã o à hi st ór ia d as P ar oq ui as d a A m az ôn ia ”, 1 94 6. 50 Marcas do tempo dos jesuítas em Vila do Conde Antigo altar existente na Igreja de São João Batista de Vila de Conde, pro- vavelmente entalhado pelos índios. Instalada desde 1653, a missão religiosa de Mortigura chegou a ser chamada de Arca de Noé por abrigar tantos indígenas. Essa aldeia mis- sionária recebeu índios de diversas localidades da Amazônia, como os bravos índios Aruan, da costa da ilha do Marajó, que ali foram misturados à população local. Ao longo de sua existência Mortigura chegou a possuir cerca de 800 índios arqueiros e 50 que dominavam o uso de armas de fogo. No final do século XVII, a Missão de Mortigura estava entre as cinco mais populosas deste espaço do território amazônico. Sua importância também pode ser notada pelos religiosos que ali residiram, como o frei João Felippe Bettendorff e nada menos que o notável padre Antônio Viei- ra. Fo nt e: C lá ud io O liv ei ra ( Fo tó gr af o) . Imagem 5 51 Hoje, em Vila do Conde, local da antiga Missão dos Mortigura, resis- te às margens da baía do Marajó, de costas para as águas, uma grande igreja. No seu interior se encontra um altar entalhado em madeira possi- velmente feito pelos índios da missão religiosa de Mortigura. Vamos praticar 1. Marque um (X) na alternativa correta a) Missão religiosa que é considerada o núcleo fundador da cidade de Barcarena. ( ) Missão de Mortigura ( ) Missão de Gibirié ( ) Missão de Beja ( ) Missão de São José do Moju 2. Como surgiu a Missão dos Gibirié? _________________________________________________________ _________________________________________________________ 3. De acordo com o texto, como se caracterizava a Igreja de São Francis- co Xavier no tempo dos jesuítas? _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ 4. Por que a Missão dos Mortigura chegou a ser chamada de “Arca de Noé”? _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ 52 A expulsão dos jesuítas e o nascimento de Barcarena e Conde As missões religiosas se tornaram na Amazônia a mais importante forma de organização espiritual e econômica da época colonial. Porém, as notícias que vinham da Europa trariam importantes mu- danças na organização religiosa do Brasil e particularmente na Amazônia. D. José I foi coroado rei de Portugal, em 1750, e nomeou para o cargo de primeiro ministro o Marquês de Pombal. Esse administrador, que era 5. O que fazia da Missão dos Mortigura um lugar tão importante para os jesuítas? _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ Sob a orientação do professor visite um desses lo- cais históricos – Vila de São Francisco ou Vila de Conde e construa um breve relatório de sua visita, conside- rando o seguinte roteiro: • Nome do local visitado. • Como se encontra hoje os prédios e a igreja? • Se visitar a igreja por dentro indique os objetos que lhe chamaram a atenção? Por quê? • O que você conseguiu conhecer depois dessa vi- sita? • Faça um pequeno texto com suas informações e compartilhe na sala de aula com seus colegas a expe- riência dessa visita. Além da sala de aula 53 Nome indígena Nome nas missões Nome português Aldeia de Samaúma São Miguel de Samaúma Vila de Beja Aldeia de Mortigura São João Batista de Mortigura Vila de Conde Aldeia de Gibirié São Francisco Xavier de Gibirié Barcarena contrário ao trabalho das missões reli- giosas, resolveu expulsar os jesuítas do Brasil. O motivo de sua decisão era porque este governante dizia que os padres je- suítas formavam um “estado dentro do Estado” e não obedeciam às leis por- tuguesas. Por meio de sua política, os jesuítas foram mandados para fora do Brasil. Pombal estabeleceu as Leis do Di- retório dos Índios. Por essa lei, todos os bens que estavam em posse dos religio- sos passavam para a tutela do governo, inclusive o controle sobre as populações indígenas. Capa da Lei do Directório estabele- cida pelo Marquês de Pombal. Imagem 6 https://ufpadoispontozero.w ordpress.com /2015/05/05/diretorio-dos-indios/ Após a retirada dos jesuítas do Brasil ocorreram muitas mudanças, entre as quais estavam: • Abolição da administração dos jesuítas nas aldeias dos índios, pas- sando o controle ao governo português. • Política do “índio cidadão”, que consistia, entre outros, na “civiliza- ção” dos costumes e construção de uma rotina de trabalhos “produtivos”. • Assimilação de nome e “sobrenome” português. Assim, portanto, foi também por meio desta política que as antigas missões religiosas tiveram seus nomes modificados. As antigas aldeias indígenas, que tinham se tornado missões religiosas, tiveram suas deno- minações substituídas por nome de cidades portuguesas, como se pode ver no quadro abaixo: 54 Barcarena, um nome que veio do outro lado do Atlântico Nos arredores de Lisboa fica localizada a pequena freguesia de Bar- carena. Com cerca de 10 km2, Barcarena é atualmente uma das nove freguesias do Concelho de Oeiras, fazendo parte do distrito de Lisboa. Esta pequena povoação foi durante muito tempo um lugar muito im- portante, pois era ali que se fabricava a pólvora usada nas conquistas portuguesas na Ásia, África e América. Atribui-se à influência árabe a origem do nome Barcarena, segundo se pode observar num dicionário denominado “Vestígios da Lingoa Ará- bica em Portugal”, escrito em 1830, pelo frei João de Sousa. Nesta obra localizamos o verbete Barcarena com o seguinte significado: Barr. (terra ou campo), Carra (habitar) e na (Nós). Significando algo como “terra de nossa habitação”. Fonte: “Vestígios da Lingoa Arábica em Portugal”, escrito em 1830, pelo frei João de Sousa. Barcarena foi um dos nomes portugueses que chegou com as refor- mas de Pombal na Amazônia. Assim, a antiga missão religiosa de Gibirié no Grão-Pará passou a se chamar Freguesia da Vila de Barcarena, inspi- rada no nome de outra cidade portuguesa do outro lado do Atlântico. Como você pode ver, foi assim que o nosso município ganhou o nome que tem até hoje – Barcarena. Mas você sabe qual a origem deste nome? 55 Brasão da Freguesia de Barcarena, em Portugal, e a fachada da antiga fábrica de pólvora de Barcarena, hoje transformada em Museu da Pólvora. Vamos praticar 1. Destaque do texto os motivos que levaram os padres jesuítas a serem expulsos do Brasil? _________________________________________________________ _________________________________________________________ 2. O que mudaria na vida dos índios após a expulsão dos jesuítas e a im- plantação do Directório? _________________________________________________________ _________________________________________________________3. Observando o quadro sobre as mudanças dos nomes das missões re- ligiosas existentes no nosso município, preencha as informações abaixo: Imagem 7 Nome indígena Nome nas missões Nome português Aldeia de Mortigura Aldeia de Gibirié 56 4. De acordo com o texto, qual a origem do nome Barcarena? _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ De freguesia de Belém à criação do município de Barcarena Freguesia: Palavra de origem portu- guesa que significa: Subdivisão de um conce- lho, sendo a menor enti- dade administrativa. Parte do território de uma diocese dirigida por um pároco; uma paróquia. Como vimos, depois da expulsão dos jesuítas, as missões de Gibirié e Mortigura passaram a ser Conde e Barcarena.Esses lugares se tornaram freguesias ligadas ao município de Belém até 1943, quando Bar- carena se tornou um município emancipado. Nesse longo período em que passou vin- culado administrativamente à capital, mui- tos acontecimentos se deram nesse territó- rio. Surgiram e se desenvolveram povoações na ilhas das Onças, Trambióca e Arapiranga. O Aicaraú se tornou um im- portante espaço de atividades agrícolas, com destaque para a Fazenda Cafezal. Porém, antes de demonstrar como foi criado o município de Barca- rena em 1943, vejamos alguns acontecimentos que marcaram de forma significativa a história de nossa cidade. O primeiro deles é a Cabanagem. A Cabanagem Gravura da invasão de Belém pelos cabanos, em 1835. Fo nt e: D iv ul ga çã o Imagem 8 57 Situadas próximo à capital paraense, as terras de Barcarena foram palco para as tramas que levaram às invasões de Belém em 1835. Nossa cidade foi o local onde viveram ou morreram os principais líderes da Ca- banagem e principalmente de onde saíram as populações humildes que participaram deste evento. Ainda hoje é possível localizar em Barcarena famílias ligadas à Revolução de 1835-40, como Malcher, Pimentel, Dias, Vasconcelos, entre outros. A Revolução Cabana, que explodiu em Belém do Pará em 1835, deixou mais de 30.000 mortos e uma população local que só voltou a crescer significativamente em 1860 (Raiol, 1970: 1000). Este movimento matou mestiços, índios e africanos po- bres ou escravos, mas também dizimou boa parte da elite da Amazônia. O principal alvo dos cabanos eram os brancos, es- pecialmente os portugueses mais abastados. A grandiosidade desta revolução extrapola o número e a diversidade das pesso- as envolvidas. Ela também abarcou um território muito amplo. Nascida em Belém do Pará, a Revolução Cabana avançou pelos rios amazônicos e pelo mar Atlântico atingindo os quatro can- tos de uma ampla região. Chegou até as fronteiras do Brasil central, mas também se aproximou do litoral norte e nordeste. Gerou distúrbios internacionais na América caribenha, intensi- ficando um importante tráfico de ideias e de pessoas. Para saber mais RICCI, Magda. Fronteiras da Nação e da Revolução: identidades locais e a experiência de ser brasi- leiro na Amazônia (1820-1840). Boletín Americanista, Año LVIII, nº58, Barcelona, 2008 A morte do cônego Você sabia que um dos episódios considerados marcantes para o iní- cio do movimento cabano se deu em Barcarena? Então, isto aconteceu no dia 31 de dezembro de 1834, no furo do Arrozal, que na época era chamado de Atiteua. O que aconteceu foi a trágica morte do cônego Batista Campos. Esse religioso era influente entre as populações humildes por ser contra o go- vernador da época Bernardo Lobo de Souza. Sua morte ocorreu quando fugia das perseguições ordenadas pelo governante ao cônego. Depois de vários dias escondendo-se na casa de amigos, o cônego 58 Nicho de madeira que guarda na pare- de da Igreja de São Francisco Xavier a urna com os restos mortais do cônego Batista Campos Fo nt e: A ce rv o Lu iz G ui m ar ãe s pediu abrigo na Fazenda Boa Vista do padre Eugênio de Oliveira Pantoja, que ficava no furo do Arrozal. Já muito abatido, ali adoeceu em função de um ferimento no rosto causado por uma “espinha carnal que ele a cortou quando fazia a barba na Fazenda de Amanajás”. Sem acesso aos cuidados médicos na capital, o religioso faleceu às duas horas da tarde, depois de “confessado e ungido” pelo vigário de Bar- carena, Francisco da Silva Cravo. Seu corpo foi “sepultado às dez horas da manhã do dia seguinte na igreja paroquial, dentro da capela-mór”. Esse acontecimento contribuiu para aumentar a raiva que a popula- ção já possuía do governador Bernardo Lobo de Souza e resultar, sete dias depois, na caçada e morte deste governante em Belém como vin- gança, entre outros, pela morte do cônego em Barcarena. O cearense Eduardo Angelim O cônego Batista Campos, como vimos, morreu na propriedade de Eugênio de Oliveira Pantoja, no furo do Arrozal, no dia 31 de dezembro de 1834, enquanto fugia das tropas do presidente Bernardo Lobo de Souza. Seu corpo foi sepultado em Barcarena nos arredores da Igreja de São Francisco Xavier, conforme costume da época. Eduardo Angelim não teve sorte tão diferente. Depois de ter sido o terceiro governador cabano, esse cearense de Aracati, líder das lutas populares, chamado Eduardo Francisco Nogueira, que tinha o apelido de Angelim, por ser forte como uma espécie madeira da Amazônia, foi per- seguido pelo general José Soares de Andrea. No ano de 1836, o ex-presidente cabano foi preso numa “palhoça” nos confins do Acará, num lugar chamado Rio Pequeno. Como prisioneiro Imagem 9 59 Crânio de Eduardo Angelim encontrado em 3 de janeiro de 1985, no Sítio Madre de Deus. Fo nt e: R O C Q U E, C ar lo s. H is tó ri a G er al d e B el ém e d o G rã o- Pa rá . 20 01 .( Fo to : D ir ce u Fo rn en go ) De bandidos a heróis e a Vila dos Cabanos Com o passar dos anos, porém, tanto cônego Batista Campos como Eduardo Angelim tiveram seus nomes e suas trajetórias de vida reinven- tados na história do Pará. Cônego Batista Campos, desde a proclamação da República em 1889, tornou-se um herói republicano, por sua luta contra as forças im- periais. Muitas cidades passaram a ter ruas, praças, escolas com o nome do religioso revolucionário. Em Barcarena, já desde 1897, o bacharel e deputado Antônio Firmo Dias Cardoso Júnior havia realizado homenagens e cerimônias para celebrar a memória do cônego, renomeando a praça em frente a secular Igreja de São Francisco Xavier, com o nome do mártir cabano. Angelim, com menor destaque, não deixou de ser lembrado. Seu foi remetido para o Rio de Janeiro e depois para a Ilha de Fernando de Noronha. Em 1851, retornou ao Pará, fixando residência em sua proprie- dade na Fazenda Madre Deus, em Barcarena, onde morreu em 1882, sem grande reconhecimento por seus atos. Imagem 10 60 nome era facilmente encontrado em escolas, embarcações e outros lo- cais. Grupo “Vieira e Seu Conjunto” fotografado no toldo do barco da PMB Eduardo Angelim Fo nt e: C ap a do L P de V ie ir a e se u C on ju nt o La m ba da d as Q ue br ad as v ol . 2. Não menos simbólico a respeito da revitalização da Cabanagem e seus “heróis” em Barcarena, está a implantação da Company Town (cida- de da empresa), criada para atender aos propósitos do projeto Albrás e Alunorte. Em 1985, data em que se comemorava os 150 anos da revo- lução popular, o bairro de Operações recebeu a alusiva denominação de “Vila dos Cabanos”, assim como todas as suas vias públicas passaram a exibir nomes ligados à Cabanagem. É isso! gostou de perceber como esse movimento popular tão marcante na história do Pará está muito ligado com a nossa cidade? Agora, vamos exercitar o que aprendemos sobre esse tema. Imagem 11 61 Vamos praticar 1. O fato de Barcarena estar situada próxima a Belém influenciou na par- ticipação desta cidade no movimento popular? Por quê? __________________________________________________________________________________________________________________ 2. De acordo com o texto, onde e quando morreu o cônego Batista Cam- pos? Qual foi a causa de sua morte? _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ 3. Eduardo Angelim foi um importante líder da Cabanagem. De acordo com o que estudamos onde ele residiu até seus últimos dia de vida? _________________________________________________________ _________________________________________________________ 4. Preencha a cruzada abaixo: a. b. c. d. A N G E L I M 62 a. Localidade de Barcarena onde faleceu o cônego Batista Campos. b. Primeiro nome do governador do Pará que mandou perseguir o cônego Batista Campos. c. Primeiro nome da ilha onde Eduardo Angelim ficou preso antes de re- tornar a Barcarena. d. A proclamação de que evento histórico nacional revitalizou a imagem dos cabanos para o Brasil. Economia, trabalho e resistência Barcarena, por sua posição geográfica, não foi somente estratégica para os levantes cabanos, como vimos anteriormente. Por causa de sua localização próxima a Belém, também ajudou na implantação de empre- endimentos econômicos. E isto já era conhecido desde o século XIX. O que acham de fazermos agora um passeio por algumas das atividades eco- nômicas que se desenvolveram nas terras de nosso município? Vamos nessa! Os engenhos “Calhas”, igarapé “ladrão” são, entre outros, os termos utilizados pe- las populações locais para denominar arquiteturas desconhecidas nas margens dos rios e estreitos de igarapés. Essas ruínas de pedras lavradas são evidências materiais de antigos engenhos de maré que existiram no passado nas terras de Barcarena. Hoje, algumas pesquisas têm mostrado 63 As ruínas do engenho São Mateus, a chaminé e o desvio do curso das águas feitos de pedra. Fo nt e: A ce rv o Lu iz G ui m ar ãe s Mas entre todos os engenhos existentes em Barcarena, o que mais se destacou por sua grandiosidade foi aquele existente na Fazenda Cafezal. Ligado inicialmente às terras do Carnapijó, que pertenciam ao negociante português Francisco Bernardo da Silva, o engenho Santa Anna do Cafezal foi comprado pelo também comerciante português Antonio José Machado no ano de 1846. que, desde o século XVIII e XIX, espalhava-se nas terras do atual muni- cípio de Barcarena mais de duas dezenas de engenhos construídos nos seus rios e igarapés. Entre esses engenhos existentes em Barcarena podemos destacar o engenho de São Mateus, localizado num igarapé que recebeu o mesmo nome ligado ao rio Carnapijó. Os donos dessa propriedade foi o portu- guês Mateus Magno Ferraz de Araújo e depois de 1871, essa engenho passou a pertencer à família Acatauassú. Imagem 12 Depois de ter comprado esse engenho, seu novo dono mandou mo- dernizar a Fazenda Cafezal. No ano de 1849, instalou máquinas a vapor, inglesas compradas na empresa dos engenheiros Bowman & Mc. Callum, proprietários de uma “fundição de ferros e fábrica de machinas” com sede em Pernambuco. 64 Fazenda Cafezal por volta de 1968, vista pelo Rio Aicaraú (Cafezal). Fo nt e: A ce rv o fo to gr áf ic o do h is to ri ad or V ic en te S al le s. A Fazenda Cafezal tornou-se um rico empreendimento agrícola sob a direção de Fortunato Alves de Souza, um imigrante português que se casou com uma das filhas de António José Machado. Neste local, produ- ziam-se açúcar e cachaça. No terreno da fazenda, espalhados ao longo do rio Cafezal, estavam plantados vastos canaviais e inúmeras árvores de cacau, tudo isso cultivado pelas mãos de quase uma centena de escravos. Fortunato Alves de Sousa, o dono da Fazenda Cafezal Fortunato se tornou um respeitado homem de negó- cios, com propriedades e residências em Barcarena e Be- lém. Na capital do Pará, participava de importantes órgãos e associações. Entre eles estava a diretoria da Santa Casa de Misericórdia e o hospital D. Luiz (Beneficente Portu- guesa). Em 1864, ajudou a restabelecer a Associação Co- mercial do Pará, onde foi eleito para participar da mesa diretora. Seu nome ainda aparece como sócio-fundador do Grêmio Literário Português, em Belém. Para saber mais Imagem 13 65 Fragmento do Inventário dos bens do Engenho São Mateus Anúncio de fugas de escravos do Engenho Carnapijó Fo nt e: C en tr o de M em ór ia d a A m az ôn ia C M A /U FP A . Fo nt e: J or na l T re ze d e M ai o - 24 /1 0/ 18 55 Nessa propriedade, alguns dos negros trabalhavam na lavoura de cana- de-açúcar e cacau enquanto outros trabalhavam na fabricação de açúcar e, principalmente, cachaça, que era um produto muito importante no comércio regional. Entretanto, os negros africanos, por sua condição de escravos, não aceitavam de forma pacífica o modo como eram tratados nesses enge- nhos por seus senhores. Eles resistiam à situação de escravidão e por isso fugiam. Era muito comum, nessa época, os jornais mostrarem em suas páginas anúncios de fugas de escravos, tal como podemos notar na notícia abaixo: Escravidão e resistência negra em Barcarena Nos vários empreendimentos agrícolas estabelecidos às margens dos rios de Barcarena havia uma significativa presença de trabalhadores es- cravos, alguns de origem indígena e a maioria africanos. No já citado engenho São Mateus, havia, em 1871, 65 escravos, sendo 37 homens e 28 mulheres, entre adultos e crianças. Imagem 14 Imagem 15 66 Porém, um dos maiores símbolos da resistência dos negros à escra- vidão ocorrida nas terras de Barcarena ficou registrado na existência do quilombo de Mucajuba, localizado no rio Arauaia, distrito de Aicaraú. O Mucajuba era tido como o principal quilombo localizado nas proximidades de Belém. De acordo com os jornais na época da “destruição”, em 1855, o quilombo de Mucajuba teria existido por mais de trinta anos. O jornal Treze de Maio dizia que, apesar de estar próximo de Belém, o lugar definido para a construção do quilombo tinha muitos segredos para se alcançar. Não foi por acaso que, anos mais tarde se contava, em for- ma de uma narrativa fantástica, a existência de um lago encantado para as bandas do Arauaia. E por certo, o quilombo de Mucajuba ficava por trás de um lago onde foram encontrados pela polícia “setenta amocam- bados, sendo cerca de quarenta e cinco escravos e três livres, nove se entregaram aos seus senhores”. Nesse lugar havia “vinte e tantas casas, trinta e tantas montarias e grandes roças de mandiocas, bem plantadas”. Conforme o comandante da polícia Manoel Freitas Ribeiro, o chefe do quilombo era o negro conhecido como João Bala. Este, quando da chega- da da guarda no Mucajuba, em 7 de setembro de 1855, “debalde traba- lhava em sua defesa, tomou o expediente de retirar-se, levando consigo nove pretas e pretos em fuga pelo rio Moju”. Sem pretender avançar nessa heroica história dos negros africanos em Barcarena, fica aqui uma breve demonstração de que a resistência escrava tão celebrada na luta de Zumbi dos Palmares, na Serra da Barri- ga (Alagoas), não se fez longe de nossa cidade. Bem, depois desse passeio pelos engenhos, fazendas e das lutas escravas em Barcarena, vamos exercitar o que aprendemos a respeito desses assuntos. 67 Vamos praticar 1. Que registros comprovam que em Barcarena existiram engenhos de produção de açúcar e cachaça? _________________________________________________________ _________________________________________________________ 2. De acordo com o texto, por que o engenho da Fazenda Cafezal se tor- nou o mais importante de nossa cidade? _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ 3. Os negros africanos aceitavam serescravizados? Sim ou não? O que eles faziam? _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ 4. Em que localidade de Barcarena ficava o quilombo de Mucajuba? De acordo com o texto acima, como era esse lugar? _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ 68 A busca pelo progresso e a reinvenção da cidade em dois tempos O "desejo do progresso" e o "avanço do progresso" redefiniram por dois momentos os rumos do município de Barcarena. No primeiro mo- mento ocorreu com a transferência da sede para as margens do rio Mu- curuçá e o segundo com a instalação de um grande empreendimento industrial a partir da década de 1980. A transferência da sede municipal Você já ouviu falar das histórias do Cafezal? Se não, converse com alguém que tenha conhecimen- to e faça uma pequena entrevista. Colha as narra- tivas dessas pessoas e faça um pequeno texto para ser lido em sala de aula. Além da sala de aula Croquis com a demonstração do terreno do Mucuruçá, onde deveria ficar a sede de Barcarena Imagem 16 Fo nt e: G U IM A R Ã ES . L. s ub sí di os p ar a o es tu do d a H is tó ri a de B ar ca re na , 19 99 69 Na década de 1940, logo após Barcarena tornar-se município, os go- vernantes da época resolveram mudar de local a sede administrativa municipal. A justificativa para tal medida era o desejo de colocar a cidade em um lugar com maiores oportunidades econômicas e por isso no cami- nho do progresso. Era a última sexta feira do ano de 1943, quando foi sancionada pelo então interventor federal no estado do Pará, coronel Joaquim de Magalhães Cardoso Barata, o Decreto Lei de nº 4.505, “que fixa a divisão administrativa e judiciária do Estado, que vigorará sem alteração, de 1º janeiro de 1944 a 31 de dezembro de 1948, e dá outras providências”. A partir da publicação desta Lei, Barcarena deixava de ser distrito de Belém para ser um município emancipado. Para saber mais A proposta foi feita pelo prefeito Frederico Vasconcelos, em sua “Ex- posição de motivos sobre a mudança da sede do governo municipal de Barcarena”. Nesse documento, justificava o porquê de transferir a sede da antiga vila colonial de São Francisco Xavier de Barcarena para um novo terreno que ficava na margem esquerda do rio Mucuruçá. A escolha desse local se devia às seguintes condições: • Terreno plano e enxuto, margens sólidas e de magnífica terra para cultura. • Esplendida situação topográfica para fazer surgir uma aprazível ci- dade que se poderá converter em centro de repouso como Soure, Mos- queiro etc. • Cidade próxima da capital com porto acessível a todas as embarca- ções, de pequeno ou grande porte, que fazem o tráfego do Amazonas e de outros municípios paraenses. (Observe o mapa da página ao lado) Assim, foi feito um longo processo de transferência da sede para as margens do rio Mucuruçá, tendo como marco fundador a inauguração do prédio da prefeitura municipal, ocorrido em 4 de fevereiro de 1962, du- rante o governo do prefeito Raimundo Alves da Costa Dias. 70 Placa inaugural da Prefeitura de Barcarena fixada na parte externa de entrada do prédio. Fo nt e: A S C O M /P M B – fo tó gr af o C lá ud io O liv ei ra . Fachada do prédio da Prefeitura Municipal na década de 1970 Entretanto, foram os prefeitos Laurival Campos Cunha (1963-1967) e Claudomiro Correa de Miranda (1967-1971) que promoveram a “co- lonização” e urbanização da nova sede municipal. Nas memórias dos moradores pioneiros da nova sede, é comum lembrarem que o prefeito Fo nt e: A ce rv o di gi ta l L ui z G ui m ar ãe s Imagem 17 Imagem 18 71 Laurival Cunha percorria as várias localidades incentivando as famílias a mudarem para a “cidade nova”. A promessa era que, na sede, haveria escolas, hospitais, comércio, facilidades de transporte para Belém e ou- tros serviços até então inacessíveis para os habitantes fixados na zona rural. Assim, por meio dessa migração estimulada, a cidade foi aos pou- cos sendo povoada. Abertura das primeiras ruas da nova sede de Barcarena, na gestão Laurival Cunha Inauguração do serviço de abastecimento de água e energia elétrica da “Força e Luz” Fo nt e: D ep ah /S ec ul d/ PM B – A ce rv o di gi ta l L ui z G ui m ar ãe s Porém, foi durante o governo do prefeito Claudomiro Miranda que al- guns dos serviços urbanos foram estabelecidos na sede. A instalação de abastecimento de água, eletrificação domiciliar por gerador a óleo diesel, a construção do mercado municipal, uma doca para receber as embarca- ções que faziam o transporte de mercadorias para a cidade, entre outras iniciativas. Fo nt e: D ep ah /S ec ul d/ PM B – A ce rv o di gi ta l L ui z G ui m ar ãe s Imagem 19 Imagem 20 72 Doca - porto para embarcações e o mercado municipal Fonte: Depah/Seculd/PMB – Acervo digital Luiz Guimarães Como você pôde observar, apesar das muitas desconfianças da po- pulação e o longo processo político que decorreu para a sua execução, estava concretizado o projeto de transferência da sede municipal para as margens do rio Mucuruçá, assim como estava inventada uma nova cidade. A criação das vilas operárias uma nova fase da urbanização de Barcarena A partir de 1980, com o discurso do avanço do progresso para a Amazônia, Barcarena assistiu à instalação em seu território dos grandes projetos. Isto significava, entre outros, a construção da Albras, o porto de Vila de Conde, a subestação de energia da Eletronorte e a construção do Núcleo Urbano – a atual Vila dos Cabanos. Essa fase marca um novo tempo na vida da cidade e de sua população. (tema abordado na Unidade 1). O processo de implantação do Complexo Industrial em Barcarena – Portobras, Albras/Alunorte e Núcleo Urbano (Bairro de Operações, Bairro Pioneiro e Laranjal), mais tarde chamado de Vila dos Cabanos – alterou a configuração do espaço e da população de Barcarena. Portão de entrada da fábrica da Albras Fo nt e: H ot el E qu in óc io s di vu lg aç ão Im agem 21 Im agem 22 73 Os números desse crescimento podem ser vistos nos censos demo- gráficos do IBGE que registraram essa dinâmica populacional. Em 1980, a população de Barcarena, que era de 20.021 habitantes, duplicou na dé- cada seguinte para 45.946. No ano 2000, alcançava 63.268 e finalmente chegou à primeira década do século XXI a 99.859, conforme dados do mesmo centro de investigação populacional. A cidade, com a entrada dos grandes projetos, ganhou cores e formas contrastantes. Se por um lado surgia um centro urbano moderno, com ruas planejadas, com infraestrutura das grandes metrópoles, como na Vila dos Cabanos, por outro lado, as oportunidades de trabalho geradas pelas empresas atraíram muitas pessoas, que foram se estabelecer nos bairros pobres, e a cidade passou a conhecer com mais frequência o sur- gimento de ocupações espontâneas. Residência dos operários na Vila dos Cabanos no início da instalação da Albras Fo nt e: P U B – P la no U rb an ís tic o de B ar ca re na S EP LA N /P M B Como você pôde ver, Barcarena ganhou outra configuração urbana após os anos de 1980. Depois que você leu esta parte, vamos testar o que aprendemos? Imagem 23 74 Vamos praticar 1. Pinte de verde o quadrinho ao lado das frases corretas e de vermelho o das frases incorretas. Barcarena se tornou um município emancipado por meio do Decreto Lei de nº 4.505, de 30 de dezembro de 1943. A sede administrativa do município nunca precisou mudar de lugar, pois ela sempre esteve num lugar de
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