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A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA PARA PROFESSORES QUE ATENDEM ALUNOS INCLUSOS NA REDE REGULAR DE ENSINO ZANIN, Edinara1 GUERIOS, Felipe2 ZANIN, Raquel3 PIOVEZANI, Marcia Ionara4 RESUMO: O presente trabalho decorre de reflexões feitas sobre a inclusão de alunos com Necessidades Educacionais Especiais – NEEs, bem como sobre a formação dos profissionais que atendem esses alunos inclusos. O objetivo é analisar a importância da formação continuada dos professores da rede municipal de ensino regular do Município de Pato Branco que atendem alunos com deficiências, transtornos e déficit de aprendizagem nas instituições de ensino. A presente investigação busca identificar também as reais dificuldades encontradas pelos professores ao atendimento a esses alunos e a oferta da formação continuada por parte do poder público. Ao longo dos estudos e das análises de narrativas dos sujeitos, a exploração deste tema evidencia lacunas e a necessidade de uma formação continuada capaz de preparar e capacitar os professores diante dos desafios com os quais se deparam no processo de inclusão dos alunos com NEEs no ensino regular. Palavras-chave: Inclusão. Formação Continuada. Ensino Regular. ABSTRACT: The present work is based on reflections made on the inclusion of students with special educational needs (SENs), as well as on the training of the professionals that attend these included students. The objective is to analyze the importance of the continuing education of the teachers of the regular municipal network of the Municipality of Pato Branco that attend students with deficiencies, disorders and learning deficits in educational institutions. The present research also seeks to identify the real difficulties encountered by teachers in attending these students and the provision of continuing education by the public authorities. Throughout the studies and analyzes of subjects' narratives, the exploration of this theme reveals gaps and the need for continuous training capable of preparing and training teachers in the face of the challenges they face in the process of inclusion of students with SENs in education regular. Key-words: Inclusion. Continuing Education. Regular Education. 1 Acadêmica do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade de Pato Branco – FADEP. E-mail: edi_zanin11@hotmail.com. 2 Acadêmico do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade de Pato Branco – FADEP. E-mail: felipeguerios@hotmail.com. 3 Acadêmica do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade de Pato Branco – FADEP. E-mail: quel.zanin@hotmail.com. 4 Docente do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade de Pato Branco – FADEP. Mestre em Educação pela UNIOESTE, Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional, Graduada em Pedagogia. E-mail: marcia_ionara@hotmail.com. 2 1 - INTRODUÇÃO A educação inclusiva no Brasil ainda está em seu estado embrionário, ou seja, no seu estado inicial e sabe-se que o apoio e o investimento dos governos são necessários e, atualmente, insuficientes. Todavia, espera-se que o contínuo aprimoramento de projetos nesse sentido, tanto na formação acadêmica quanto na formação continuada de professores, com o tempo sane ou pelo menos minimize as falhas no atendimento aos portadores de necessidades especiais. Para que uma escola tenha um ensino de qualidade para todos é necessário aceitar e aprender a conviver com a diversidade, sendo que este “pontapé” inicial reforça a percepção de que as políticas de inclusão devem ser adotadas, permitindo que uma parcela de alunos anteriormente excluída das demais, possa a partir de então fazer parte das escolas comuns ou regulares. Este estudo tem por objetivo nos remeter a uma reflexão sobre a formação do professor no desafio de entender o seu papel como agente na efetivação da atual proposta de educação inclusiva. O grande desafio é formar professores habilitados para atuar em uma escola inclusiva, acessível a todos, independente de suas especificidades, o qual venha viabilizar possibilidades de tornar a inclusão uma realidade. Em função disso o estudo se apoia nas legislações vigentes que amparam o atendimento ao aluno incluso no ensino regular e discorrem sobre a importância da formação continuada dos professores que atuam na área da inclusão. Além disso, para a realização deste estudo foram feitas pesquisas bibliográficas em diversas obras, como livros, artigos científicos, sites e revistas atuais sobre o assunto, delimitando-se o espaço de tempo para as obras consultadas entre o período de 1986 a 2017. Essa pesquisa bibliográfica foi complementada com uma pesquisa de campo, onde foram realizadas entrevistas com duas professoras – sendo uma professora de sala de recursos e a outra, que atua como regente em uma sala de ensino regular – e com a Secretária de Educação do Município de Pato Branco. O desenvolvimento do artigo foi dividido em subtítulos: o primeiro subtítulo após essa introdução traz um breve histórico da escolarização do aluno incluso, destacando os principais acontecimentos relacionados à educação especial. Em 3 seguida, discorremos sobre a importância da formação dos professores na rede regular de ensino para o atendimento ao aluno incluso, uma vez que a educação é considerada como um agente de transformação desse aluno e da comunidade onde ele e a escola estão inseridos. Entendemos que a formação dos professores é um elemento de fundamental importância no processo de superação de preconceitos e de exercício da cidadania, principalmente na luta de segmentos sociais pela inclusão social de alunos com deficiência, estando tais segmentos no âmbito governamental, universitário, familiar ou outros. No subtítulo seguinte tratamos de analisar a legislação vigente acerca da formação dos professores para atender os alunos inclusos no ensino regular. Para finalizar, o último subtítulo trata da análise e discussão das informações coletadas na pesquisa de campo, sendo notórias as ansiedades, decepções e descasos quanto à inclusão de alunos com deficiência e como essa inclusão está sendo concretizada na atualidade. Este trabalho evidencia que, para se conquistar um ensino de qualidade e para todos, nesse caso mais especificamente para os alunos portadores de NEEs, devem-se realizar adaptações físicas na estrutura escolar bem como é preciso oferecer atendimento educacional especializado, paralelamente às aulas regulares, pois a nossa Constituição garante, desde 1988, o acesso de todos ao Ensino Fundamental, sendo que alunos com necessidades especiais devem receber atendimento especializado preferencialmente na escola, e que esse atendimento não substitui o ensino regular. 2 - REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 - A HISTÓRIA DA ESCOLARIZAÇÃO DO ALUNO INCLUSO A maneira de organizar a Educação Especial sempre foi motivada por um critério específico: a definição de sujeitos que, por diversas razões, não correspondem às perspectivas de normalidade definidas por padrões sociais vigentes. No decorrer da história, a Educação Especial constituiu-se uma área da educação designada a apresentar retornos educativos para determinados alunos, ou seja, para aqueles que não apresentariam probabilidades de aprendizagem 4 coletivamente em classes regulares. Esses alunos foram denominados e rotulados como anormais, retardados, entre outras denominações. Na Idade Média por falta de conhecimento e superstição, alguns povos ignoravam essa parcela da população chegando, em alguns casos, até a matar as pessoas com deficiência por acreditar em castigo divino. Outras pessoas portadoras de deficiências sofriam o abandono por parte da família, pois agindo desta forma a família acreditava estar livrando-se do mal lançado sobre eles. Nesta perspectiva, um grupo de médicos da época começou a se preocuparcom essas atitudes vindas da sociedade. Tais médicos resolveram trabalhar com esses sujeitos em asilos, casas de expostos, hospitais psiquiátricos, casas de misericórdia, dentre outros. No percurso da educação especial, percebe-se a adaptação da cultura diferenciada, de diferentes indivíduos pertencentes a outras origens, mesmo vivendo em um mesmo país, para a cultura integradora, em encontro com a atualidade para o todo da escola inclusiva, ultrapassando as antigas concepções. Para entender o processo histórico da deficiência é necessário conhecer os trajetos percorridos pelo homem na sua relação com a quantia da população constituída por pessoas distintas, com dificuldades funcionais e necessidades diferenciadas. Segundo Jannuzzi (2004), a educação de pessoas com deficiência foi originada a partir dos esforços e trabalho de pessoas sensibilizadas com o problema. A autora relata que Ainda na esperança de que um órgão nacional conseguisse melhorias e integração social ao deficiente, foi criado em 1985 um novo órgão para integração das populações, a Coordenação Nacional para a Integração da Pessoa com Deficiência (CORDE), que visou aspectos mais amplos do que o CENESP e oportunizou a participação dos deficientes em suas decisões, colaborou não só com a divulgação de orientações que viabilizassem a integração social do deficiente, mas também apontou os motivos que pareciam dificultar tal feito. (JANUZZI, 2004) A educação inclusiva percorreu um longo caminho até o presente momento, tendo inúmeras vitórias e conquistas. No entanto, ainda há muito para ser feito até que a escola seja um verdadeiro instrumento que promova a inclusão, onde todos sejam aceitos com suas especificidades e diferenças, suas limitações e dificuldades. 5 A escola inclusiva visa a construção de uma sociedade para todos, com os mesmos direitos e oportunidades de se desenvolverem, sem discriminação ou preconceito. 2.2 - A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DA REDE REGULAR DE ENSINO NO ATENDIMENTO AO ALUNO INCLUSO A necessidade de explorar ou aprofundar o tema "A importância da formação continuada dos professores", inicia-se quando nos deparamos com as dificuldades de aprendizagens apresentadas pelos alunos. Entre outras possibilidades para a origem dessas dificuldades, estão aquelas de cunho pedagógico, envolvendo estratégias metodológicas diferenciadas e apropriadas de acordo com as necessidades apresentadas pelos alunos inseridos no ensino regular. Em um primeiro momento é necessário que o docente articule seu trabalho voltado para a diversidade, para que a inclusão aconteça em sua totalidade no ensino regular. Em um segundo momento faz-se necessário que o professor possua um olhar para as individualidades de cada sujeito que está inserido em sua sala de aula. Esse olhar singular permite que o professor seja capaz de identificar as necessidades individuais de cada aluno, bem como suas potencialidades, para melhor atendê-los em suas dificuldades. Entende-se que, para isso, se faz necessária e pertinente uma formação que capacite o professor para atender a demanda de alunos inclusos. A inclusão deve ser um processo que resulte no desenvolvimento de forma integral de todos os alunos. A escola é a instituição capaz de promover esse desenvolvimento significativo na totalidade. Para tanto, é preciso considerar que cada pessoa aprende de forma peculiar, no seu tempo, de diversas maneiras, levando em consideração também o meio social em que está inserido e seu contexto histórico. Neste contexto a instituição escolar também se torna um instrumento capaz de conscientizar as demais crianças, ditas “normais”, por meio do trabalho do professor, da importância do respeito às diferenças e às necessidades singulares de cada um. Segundo Moraes 6 [...] o conhecimento humano é adquirido pelo indivíduo por meio da estruturação, por meio da transmissão estruturadora do processo ensino-aprendizagem, e o sujeito tem um papel insignificante em sua aquisição e em sua elaboração. A educação, na maioria das vezes, é compreendida como instrução e está circunscrita à ação da escola. A ênfase é dada às situações de sala de aula, nas quais os alunos são instruídos pelo professor. (MORAES, 2003, p.51) Nesse sentido, cabe ao professor em sala de aula estimular o respeito à diversidade e heterogeneidade entre os alunos. Para isso, se faz necessário repensar as práticas que, historicamente, têm se mostrado homogêneas. Segundo Mantoan (2009, p.142), “compreender o espaço que cada um está inserido é compreender uma gama de possibilidades partindo da prática educativa dos professores”. O professor como mediador deverá promover um ensino capaz de atender as diferenças apresentadas pelos alunos. Para Mantoan, [...] a inclusão é um motivo para que a escola se modernize e os professores aperfeiçoem suas práticas e, assim sendo, a inclusão escolar de pessoas deficientes torna-se uma consequência natural de todo um esforço de atualização e de reestruturação das condições atuais do ensino básico. (MANTOAN,1997, p.120) No entanto, não basta apenas o professor ter formação, faz-se necessário que a escola também esteja preparada para derrubar barreiras atitudinais impostas por ela mesma. Assim, cabe à sociedade ter o comprometimento de empreender as mudanças, pois somente dessa maneira a inclusão de pessoas com deficiência acontecerá definitivamente. Para que haja respeito e compreensão para com as pessoas portadoras de deficiências é preciso obter o conhecimento e assim proporcionar o avanço no processo de ensino aprendizagem. A inclusão estabelece uma ruptura com o modelo tradicional de ensino, necessitando-se de uma transformação que coloque em destaque o aluno como sujeito do processo, percebendo que, mesmo não possuindo deficiência aparente, cada um tem seus limites. 7 3 - ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO VIGENTE ACERCA DA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES PARA ATENDER OS ALUNOS INCLUSOS NO ENSINO REGULAR A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (BRASIL, 1996), no artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos estudantes currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas necessidades; assegura a terminalidade específica àqueles que não atingiram o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências; e assegura a aceleração de estudos aos superdotados para conclusão do programa escolar. Também define, dentre as normas para a organização da educação básica, a “possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado”. Da LDB, entendemos que toda pessoa deficiente tem direito a participar da vida social de maneira mais “normal”5 possível, tendo seus direitos reconhecidos e respeitados pela sociedade em geral. Percebe-se que a inclusão não cabe no paradigma tradicional da educação, mas requer um modelo diferente das propostas existentes. Essa proposta diferenciada parte, tanto pelo reconhecimento dos direitos dos deficientes pela sociedade, quanto pela regulamentação das leis que promovam acessibilidade, e ainda pela formação continuada do professor. Nos últimos anos as escolas começaram a preocupar-se com essa questão em relação à necessidade de oferta de um atendimento de qualidade aos alunos inclusos, pois está cada vez maior a demanda de alunos com algum tipo de deficiência nas escolas de ensino regular. Para uma escola ser inclusiva, além de receber os alunos, a mesma tem o dever de realizar as adaptações necessárias para o devido atendimento da criança inclusa, ou seja, dos mais variados tipos de alunos. Além de eliminar as barreiras arquitetônicas, é importante adotar métodos e práticas de ensino adequado às diferenças dos alunos, sendo responsabilidade da equipe escolar, enquanto mediadores desta inclusão,proporcionar um ensino sem desigualdades, pois quando se fala sobre inclusão não se está falando somente dos alunos com deficiência e sim de toda a escola, onde a diversidade se sobressai por sua singularidade. Cabe ressaltar que a inclusão ultrapassa a simples matrícula desse 5 Aqui o termo “normal” está colocado no sentido de participar na sociedade sem discriminação e exclusão, sendo respeitadas suas limitações. 8 aluno no ensino regular. A inclusão deve promover o desenvolvimento por meio de mudanças significativas no processo de escolarização. Como afirmam Glat e Nogueira: Vale sempre enfatizar que a inclusão de indivíduos com necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino não considera apenas a sua permanência junto aos demais alunos, nem na negação dos serviços especializados àqueles que deles necessitam. Ao contrario, implica uma reorganização do sistema educacional, o que acarreta a revisão de antigas concepções e paradigmas educacionais na busca de se possibilitar o desenvolvimento cognitivo, cultural e social desses alunos, respeitando suas diferenças e atendendo às suas necessidades. (Glat e Nogueira, 2002, p. 26) É importante reconhecer o professor como facilitador desse processo de apropriação do conhecimento, independentemente da diversidade que se apresenta, assim tornando o ambiente de sala aula propício para a aprendizagem e desenvolvimento integral de todos os educandos. Ainda na LDB (BRASIL, 1996), seu artigo 59 expõe que os sistemas de ensino da educação básica devem assegurar aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação: I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades; II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular. (BRASIL, 1996) Diante da LDB é possível perceber que, no inciso terceiro, destaca-se a importância e obrigatoriedade da formação específica dos professores para que 9 realizem o atendimento individualizado no ensino regular, ao aluno que tenha qualquer tipo de deficiência. Para ser habilitado à realizar a integração dos educandos em âmbito escolar, o profissional deve ter uma formação ampla para atender e desenvolver as competências de cada um. O documento Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) apresentou de forma mais clara o processo de inclusão. Com um aspecto orientador, trouxe entre os objetivos dessa política: Assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantir acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade dos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior, oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissional da educação para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e articulação intersetorial na implementação das políticas públicas (BRASIL, 2008). Segundo esse documento, a educação especial em toda a esfera educacional, deve ocorrer por ações que possam promover o acesso à educação e o envolvimento dos alunos no processo educativo, partindo sempre de um planejamento pedagógico e organização dos recursos didáticos apropriados para atender às múltiplas necessidades educacionais apresentadas pelos alunos. Evidencia-se mais uma vez que a verdadeira inclusão deve garantir o acesso do aluno ao conhecimento historicamente construído, utilizando-se de metodologias adequadas para cada tipo de deficiência, buscando atender as necessidades educacionais especiais de cada sujeito. A legislação garante o direito de acesso à educação de qualidade a todos, inclusive aos alunos com deficiência. De acordo com o artigo 27 do Estatuto da Pessoal com Deficiência: A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, 10 intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem. (BRASIL, 2015) Neste aspecto, é cabível o questionamento, de como os profissionais da educação estão sendo preparados para atender esta “nova demanda”? A formação continuada existe, mas está contemplando essa área? Está atendendo às necessidades desses profissionais? É suficiente para promover uma educação de qualidade para todos? Segundo a mesma lei, em seu parágrafo XI, o poder público deve garantir formação e disponibilização de professores para o atendimento educacional especializado, de tradutores e intérpretes de LIBRAS, de guias intérpretes e de profissionais de apoio. A lei é clara, mas está sendo cumprida dentro de suas diretrizes? Há incentivo aos profissionais para que se especializem nesta área? Diante disso vem outro questionamento: o professor que está em sala, atualmente, está apto a atender esse aluno portado de NEEs? A inclusão beneficia todas as pessoas e não só as com deficiência, porque a verdadeira inclusão é para todos. Nesse sentido, entende-se que a escola precisa adequar suas funções políticas, sociais e pedagógicas, alterando seus espaços físicos, melhorando as metodologias de ensino, a formação dos profissionais que nela atuam, aprimorando suas ações para garantir a aprendizagem, buscando atender as necessidades de qualquer educando, sem discriminação. Promover a inclusão requer muitos esforços. Não se trata apenas de garantir que o aluno com NEEs esteja matriculado, mas é imprescindível ofertar condições adequadas de aprendizagem, como destaca Magalhães: [...] não se trata somente de garantir vagas, mas de organizar formas que colaborem com uma permanência com êxito. Isto implica na necessidade de formação adequada de profissionais do ensino [...] e da quebra de barreiras de quaisquer tipos. (2006, p. 46) Partindo desses pressupostos, realizou-se uma entrevista com a secretaria de educação do Município de Pato Branco, no Estado do Paraná e com duas professoras que atuam na rede municipal de ensino e atendem alunos com deficiência incluídos no ensino regular com o objetivo de enriquecer essa pesquisa e responder as questões em relação à formação continuada dos professores. 11 4 - ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS Neste subitem serão apresentados os sujeitos inquiridos, bem como suas narrativas. As narrativas dos sujeitos foram adquiridas por meio de entrevista semiestruturadas, que é uma forma qualitativa de coletar as informações para aanálise do objeto de pesquisa. De acordo com MANZINI (2004), a entrevista semiestruturadas “se insere em um espectro conceitual maior que é a interação propriamente dita que se dá no momento da coleta”. A escolha metodológica de realizar essa pesquisa utilizando a entrevista semiestruturadas está apoiada na ideia de que [...] a entrevista pode ser concebida como um processo de interação social, verbal e não verbal, que ocorre face a face, entre um pesquisador, que tem um objetivo previamente definido, e um entrevistado que, supostamente, possui a informação que possibilita estudar o problema em pauta, e cuja mediação ocorre, principalmente, por meio da linguagem. (MANZINI, 2004). A pesquisa foi desenvolvida junto à Secretaria de Educação do Município de Pato Branco, onde foi entrevistada a secretária, e também junto à professores da Rede Municipal de ensino que atendem em suas classes alunos inclusos no ensino regular. As entrevistas realizadas tinham, como primeiro ponto de análise, entender como acontece a formação continuada dos professores da rede municipal de ensino, mais especificamente aqueles professores que atendem alunos com deficiência no ensino regular. Fez-se uso da entrevista com o objetivo de identificar e confrontar informações fornecidas pelo representante da Secretaria e pelos professores no que tange à capacitação dos professores para atender os alunos inclusos no ensino regular. A mesma possibilitou a busca de informações sobre opiniões, concepções, expectativas e percepções, tanto por parte do poder público quanto por parte dos professores, sobre a oferta de formação continuada e preparação dos mesmos para atender os alunos inclusos matriculados na rede municipal de ensino. Além disso, as narrativas dos sujeitos serviram para complementar a as informações obtidas por meio de fontes bibliográficas. 12 Para realizar a entrevista com a secretária de educação pautou-se na legislação que garante a inclusão do aluno com necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino. Foram feitas algumas questões junto a responsável pela secretaria de educação do município de Pato Branco com o intuito de esclarecer como acontece a formação continuada dos professores da rede municipal de ensino. Quando indagada sobre a existência de uma legislação específica que rege a inclusão de alunos com deficiência na educação básica no município de Pato Branco, a entrevistada respondeu: O município não possui um sistema próprio, segue todas as normas e regulamentos da Secretaria Estadual de Educação e do Governo Federal, sempre respeitando a lei maior (LDB). Em relação à oferta de formação continuada aos professores da rede municipal de ensino, visando o aperfeiçoamento da equipe, a mesma informou que: O município promove formação continuada de forma abrangente, não especifica a todos os profissionais da área, mas sim a um grupo que trabalha de forma multidisciplinar, onde eles repassam as aprendizagens aos demais que necessitam obter as mesmas informações. A formação geral acontece a cada seis meses, ou quando há parcerias com instituições de ensino superior e entidades parceiras do município. É necessário ressaltar que a Política Nacional de Educação Especial (BRASIL, 2008) trata da importância da formação dos professores delineando as Diretrizes da Educação Especial para amparar o sistema regular de ensino diante da inclusão dos alunos com necessidades especiais. Em reforço a isso, a LDB (BRASIL, 1996), traz em seu artigo 59, citado anteriormente, dois perfis de professores para atuar com alunos que necessitam atendimento educacional especial: a) Professor de classe comum capacitado - comprove em sua formação conteúdos ou disciplinas sobre Educação Especial e desenvolvidas competências para: I - perceber as necessidades educacionais especiais dos alunos; II - flexibilizar a ação pedagógica nas diferentes áreas do conhecimento; 13 III - avaliar continuamente a eficácia do processo educativo; IV- atuar em equipe e em conjunto com o professor especializado. b) Professor especializado em Educação Especial - Formação em cursos de licenciatura em Educação Especial ou complementação de estudos ou pós-graduação para: - Identificar as necessidades educacionais especiais; - Definir e implementar respostas educativas; - Apoiar o professor da classe comum; - Atuar no processo de desenvolvimento e aprendizagem dos alunos; - Desenvolver estratégias de flexibilização, adaptação curricular e práticas alternativas. (BRASIL, 1996) Segundo Mittler (2003, p. 15), “[...] a inclusão implica que todos os professores tenham o direito de receber preparação apropriada na formação inicial em educação e desenvolvimento profissional contínuo durante sua vida profissional”. Para tanto, os princípios de formação docente necessitam ser reestruturados, com propostas de modificações para habilitar os professores por meio de uma metodologia constante de desenvolvimento profissional envolvendo formação inicial e continuada, oportunizando assim a edificação e a ampliação de suas desenvolturas para trabalhar com o ensino inclusivo, objetivando oportunizar a todas as crianças e jovens o acesso ao ensino de qualidade, diante das suas desiguais necessidades. Relacionado aos investimentos feitos para fins de aperfeiçoamento, a entrevistada destaca com ênfase que a prefeitura utiliza de recursos próprios e em alguns casos conta com auxílios dos Governos Estadual Federal. Reforçando sobre a frequência em que são ofertadas as capacitações para os professores, ficou claro que incide nas semanas pedagógicas, em três momentos durante o ano letivo. Quando indagada se são suficientes essas formações oferecidas pelo município aos profissionais de educação, respondeu: Sim. Acredito que todos os cursos oferecidos aos educadores visam um apoio ao trabalho pedagógico, isso é possível medir pela aprendizagem dos alunos, todos os cursos objetivam a qualidade no ensino, porém, cabe aos educadores que o recebem, adaptar a teoria com a prática. Percebe-se que a entrevistada não manteve o foco na questão em análise, uma vez que não se obteve uma resposta clara e objetiva em relação à suficiência das formações continuadas ofertadas aos professores da rede municipal de ensino. 14 Questionada sobre quais circunstâncias os alunos recebem a tutoria ou o apoio de um profissional especializado que o acompanhe em sala de aula no cotidiano escolar, a entrevista responde: Os profissionais que atuam em sala de aula como apoio, são geralmente professores em fase final de carreira, (aposentadoria), que não tem mais disposição para ser regentes de uma turma, ou estagiários de psicologia, enfermagem e pedagogia, sempre de acordo com a demanda de alunos e do município. Entretanto, para que a inclusão de fato se concretize, é necessário que os professores estejam preparados para lidar com esse tipo de situação. O art. 59, da Lei das Diretrizes e Bases, afirma que os sistemas de ensino devem assegurar aos educandos com necessidades especiais “professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns.” (Brasil, 1996). Em um segundo momento visitou-se duas escolas de Ensino Fundamental - Séries Iniciais, para entrevistas diretas com os profissionais que atendem os alunos inclusos dentro de sala de aula, a fim de enriquecer essa discussão. Foram entrevistadas duas professoras que trabalham com alunos portadores de deficiência na rede regular de ensino. Para preservar a identidade das professoras, elas serão chamadas de professora "A" e professora "B". A professora “A” é formada em pedagogia e pós-graduada em educação especial. Atua na área de pedagogia há 20 anos, e na educaçãoespecial há cinco anos. Iniciamos perguntando se a escola onde ela atua atende algum aluno incluso, e, caso positivo, quais as deficiências apresentadas por esses alunos. A entrevistada respondeu: A escola atende em sala de recurso multifuncional tipo um, que trabalha com alunos com as deficiências de autismo, asperger, disléxico, discalculia, deficiências intelectuais, ou seja, todas de tipo leve. Não atendemos aqui alunos surdos, cegos, com deficiência física, por falta de adaptação tanto na estrutura quanto no preparo de pessoas para auxiliá-los. Também trabalho com outras duas escolas nos bairros próximos. Na escola, alguns alunos com transtornos tem uma professora estagiária de psicologia e no contraturno um atendimento especializado. Alunos com altas habilidades tem atendimento em outra escola do município. 15 Em relação à oferta de formação continuada aos professores que atendem alunos inclusos na rede municipal de ensino do município de Pato Branco, a profissional informou: Existiram formações em alguns momentos em outras gestões. Os professores tinham uma semana de formação continuada, manhã, tarde e noite, algo bem significativo em forma de cursos com certificação, isso até os anos de 2013/2014, após isso, foram ofertados entre cinco ou seis palestras sobre o assunto, sem certificação. Quando muda alguma lei, por exemplo, os professores são informados, tendo um apoio verbal que necessitam. Isso a prefeitura oferta sempre. Ainda sobre a formação continuada, questionou-se sobre as especificidades das formações. Indagamos se as mesmas são específicas para o professor que atende o aluno de inclusão no ensino regular, em resposta: São específicos para professores de salas de recursos, e algumas vezes para os de sala regular. Questionada sobre a frequência com a qual essa formação continuada é ofertada, ela responde: Não tem nada definido além da Semana do Excepcional, onde a APAE de Pato Branco oferece um dia de formação continuada, onde são apresentados novos casos, além disso, quando alguma instituição da cidade tem algo programado sobre o assunto, os profissionais são convidados a participar, normalmente são palestras. Questionamos se esses cursos ofertados são suficientes para garantir uma educação de qualidade numa escola inclusiva, a professora afirma: Não, nem para os professores especializados, muito menos para os professores de sala regular, onde muitas vezes se negam a aceitar esses alunos inclusos em sala de aula, deixando-os muitas vezes sem os atendimentos necessários, não efetivando uma educação de qualidade conforme prevista na legislação. A partir da fala da professora, percebe-se o quanto ela se sente despreparada, apesar da sua formação, para trabalhar com esses alunos inclusos. 16 Destaca-se a urgência da qualificação profissional para se trabalhar na perspectiva da educação inclusiva. Assim observa-se essa discussão em torno da formação continuada dos professores que vem fortemente ganhando espaço no campo educacional, num plano inacabável de debates, no que se refere às práticas e teorias para que os docentes se tornem capacitados para atender a diversidade. A professora informou sobre o que mais a ajudou nesse tempo de formação continuada ofertada pelo município, a docente informou que: Não tem como destacar um único curso ou algo em específico, pois todos os cursos de formação continuada realizado durante minha carreira como professora trouxeram informações importantes que acrescentaram no meu conhecimento que utilizo no meu dia a dia. A cada formação são novos temas e discussões abordadas e que auxiliam muito na escola. Sabemos que o aperfeiçoamento profissional é imprescindível e necessário, pensando nisso, durante a entrevista foi questionado à docente se ela fez alguma formação continuada ou especialização por vontade e com recursos próprias. Sua resposta foi: Sim, cursos específicos na área de dificuldades na aprendizagem, neurociência, LIBRAS, musicalização... todos que são direcionados às dificuldades de aprendizagem sendo utilizada muito a formação em brinquedoteca, nos atendimentos, contação de histórias, coordenação motora, entre outros. Todos procurados e pagos por conta própria, alguns inclusive em outros estados, como São Paulo por exemplo. Sobre a importância da formação continuada de professores, Garcia afirma que: A formação continuada de professores favorece questões de investigação e de propostas teóricas e práticas que estudam os processos nos quais os professores se implicam, e que lhes permite intervir profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currículo e da escola. (1999, p. 22) Tendo em vista a importância dada à propriedade do professor em conhecimentos característicos para atuar com Educação Especial, é necessário 17 remeter-se aos cursos de licenciatura, que se propõem formar professores aptos. Os cursos de licenciatura devem adequar metodologias que auxiliem no desenvolvimento da aprendizagem significativa de seus alunos. Com isso destaca- se a contribuição do profissional no desenvolvimento e atendimento aos alunos inclusos. Em seguida, questionou-se a professora a esse respeito, isto é, a importância do processo pedagógico no trabalho desenvolvido junto aos alunos portadores de NEEs. A esse questionamento, ela respondeu: O processo pedagógico com a criança é de grande valia, é possível observar isso pelo retorno dado por elas, em simples atividades e ações realizadas, contudo, nessa perspectiva, não basta apenas o trabalho pedagógico, mas sim também a família torna-se importante nesse processo. Como a professora trouxe o elemento família em sua resposta, consideramos importante, nesta perspectiva, evidenciar o pensamento de Nérici, que escreve: Faz-nos refletir sobre essa relação, “[...] A influência da família, no entanto, é básica e fundamental no processo educativo do imaturo e nenhuma outra instituição está em condições de substituí-la [...]”, é necessário que família e escola trabalhem em consonância para que o processo educativo seja evidente e eficaz. (1972, p. 12). Pensando sobre a necessidade do apoio em sala de aula ou de uma equipe multidisciplinar para que aconteça a contribuição no atendimento dos alunos inclusos, a professora respondeu que: Existe um apoio de uma escola do Município de Pato Branco onde fica concentrada a equipe multidisciplinar (fonoaudióloga, psicóloga e a coordenadora de educação especial), que necessitando de algum desses profissionais é feito o agendamento dentro das disponibilidades de horários, pois os mesmos são contratados 20 horas semanais pelo município para atendimento de todos os casos, também pelo fato de nenhuma escola ter psicopedagoga no seu quadro de funcionários, o trabalho é feito também pelo professor da sala de recursos, como identificação e avaliação dos alunos com suspeita de algum transtorno, incluindo a ficha avaliativa que cada um necessita ter com as diversas informações colhidas no decorrer dos atendimentos. 18 Para finalizar a entrevista com essa professora, perguntamos se ela teria alguma sugestão para melhorar esses atendimentos aos alunos inclusos, ela diz: A prefeitura deveria fazer visitas nas escolas para conhecer a realidade dos alunos inclusos, pois cada um necessita de um atendimento diferenciado, ou seja, não é possível trabalhar com todos utilizando os mesmos métodos, somente assim seria possível entender que o professor não consegue aplicar a mesma coisa em todas as escolas, e que o trabalho realizado com elas depende muito do dia a dia de cada criança. Com isso é possível perceber a falta de conhecimento no âmbito presencial da Secretaria de Educação do Município de Pato Branco nas escolas, escolas essas que são responsáveis pelos atendimentos das crianças com deficiência. Logo, paraque seja possível uma compreensão de forma individual de cada necessidade que precisa ser suprida, deixando de lado uma visão errônea de que é possível atender a todos os transtornos de uma mesma forma, e com isso poder oferecer formas e métodos adequados a cada situação, garantindo uma educação significativa e de qualidade a todos os alunos inclusos, é de suma importância que as visitas às escolas, entrando nas salas de aulas com alunos inclusos, sejam constantes, de forma investigativa e como apoio aos profissionais que estejam trabalhando diretamente com essas crianças inclusas, para acompanhar como estão atuando. Em outro momento o grupo de pesquisa visitou outra escola do Município de Pato Branco, onde foi conversado com a professora “B”, graduada em Pedagogia e pós-graduada em Supervisão e Orientação Educacional, atuando na área da educação há vinte e dois anos. Foram repetidas as mesmas perguntas para as duas profissionais em questão, “A” e “B”, porém algumas das respostas não foram as mesmas. Iniciamos a entrevista indagando a professora se a escola na qual ela atua atende algum aluno incluso e, caso positivo, quais as deficiências que eles possuem. Sua resposta foi: Atuo hoje em uma Escola Municipal na cidade de Pato Branco e possuímos crianças inclusas. As deficiências são: auditiva, TDAH, Síndrome de Tourett, Mental Leve a Moderada, tetraparético com hemiparesia. Perguntamos à mesma se ela já teria trabalhado com algum aluno de inclusão, e qual era sua deficiência ou necessidade educacional especial: 19 Sim, em contra turno com retardo leve e algumas outras disfunções, quando iniciei minha carreira, pouco era discutido e abrangente o tema inclusão, não se tinha um trabalho específico dedicado a essas crianças. Indagamos se Município de Pato Branco, junto a Secretaria Municipal de Educação oferta formação continuada aos professores da rede: O município oferta uma formação ampla, nada dedicada e exclusiva em determinadas áreas, geralmente quem precisa se especializar deve procurar outros meios de formação. Comparando as duas profissionais entrevistadas, foi possível perceber que essa formação continuada ofertada pelo município já aconteceu com maior frequência e de outras formas, o que resultou em um maior aproveitamento. Percebe-se que atualmente, caso o professor necessite de um amparo específico, ele precisa procurar por sua própria conta. Ainda nesse ponto, questionamos se essa formação que acontece hoje em dia é específica para o professor que atende o aluno de inclusão no ensino regular, ela responde: Ocorre a oferta, mas, o professor deve investir na sua formação, a prefeitura divulga cursos, mas o profissional deve correr atrás, pelo que sei existe formação específica para equipes multidisciplinares que atuam junto à prefeitura. Em análise as respostas das professoras “A” e “B”, obteve-se a conclusão de que esta formação continuada é ofertada primeiramente apenas para profissionais que atuam multidisciplinarmente ou em sala de recursos, deixando os profissionais atuantes em sala regular em um segundo plano, observando que na maioria dos casos, os profissionais contratados para acompanhar esses alunos são estagiários. Deveriam ser os professores os mais indicados para obter preparo específico para essa demanda, e não os estagiários. Pensando nisso, Pimenta assegura que a formação continuada: Mobiliza os saberes da teoria da educação necessários à compreensão da prática docente, capazes de desenvolverem as competências e habilidades para que os professores investiguem a própria atividade docente, e, a partir dela, constituam os seus saberes- 20 fazeres docentes, num processo contínuo de construção de novos saberes. (2005, p. 528) Tendo em vista essa importância, a questão levantada em seguida foi referente à frequência com que esses cursos de formação acontecem. A professora responde que: Acontece para todos os professores a cada seis meses na semana pedagógica ou quando ocorrem convites por partes de entidades parceiras e a APAE de Pato Branco, que oferece uma especialização algumas vezes. Pensando no aspecto da profissionalização, o docente é visto como um administrador ativo dentro do seu meio de desempenho, sujeito que é capaz de refletir em sua prática. A formação continuada também promove isso, pois além da especialização para a atuação docente, é um momento de auto avaliação, onde o profissional vai pensar sobre sua prática e ponderar outras, ainda mais partindo do pressuposto do atendimento educacional especializado, no qual o aluno atendido deve ter uma atenção maior. Levantou-se então a questão de se esses cursos ofertados são suficientes para garantir uma educação de qualidade em uma escola inclusiva. A professora diz: Não. Creio que deveria acontecer com mais frequência e que fossem mais especificas e norteadoras, o tempo de seis meses é muito longo pela quantidade de assuntos e informações que surgem a cada instante. Após essa resposta, questionamos se ela teria procurado alguma especialização ou formação por conta própria, e quais teriam sido: Sim, fiz um semestre em Francisco Beltrão um curso adicional onde engloba todas as deficiências. Ainda existem muitos desafios enfrentados pelos docentes, mas manter-se atualizado é de extrema importância, realizando cursos de formação continuada. Isso irá contribuir para o bom desenvolvimento das suas práticas e fará com que esse profissional realize, de forma diferente, seu trabalho, que é tão necessário. Com relação a isso, indagou-se quanto à contribuição desses cursos na sua formação para o trabalho com alunos inclusos. A a professora enfatizou que: 21 Sempre contribui, pois é a partir desses desafios que procuramos nos aperfeiçoar e depois vemos o resultado nas crianças. Isso é compensador, apesar de ter muita resistência pelas famílias. Outra questão levantada foi quanto à necessidade de outro profissional apoiando em sala de aula. A professora opinou que: Sempre é necessário um profissional para auxiliar o professor, um tutor seria ótimo! Assim, seria feito um trabalho mais intenso e de qualidade. Antigamente nas escolas apenas um professor tinha que dar conta de tudo, agora às crianças contam com o apoio de tutores e auxiliares, que ajudam muito no trabalho pedagógico. O acompanhamento por tutoria no contexto escolar dentro da educação básica deve ser entendido como, “a atitude, o comportamento do professor que se coloca como um facilitador, incentivador ou motivador da aprendizagem” (MASETTO, 2000, p.144). E acrescentamos ser fundamental que o professor ampare o aluno de inclusão para que seja possível superar suas dificuldades, construir os conhecimentos, trabalhar novos conhecimentos e participar da vida escolar. O aumento cognitivo dentro da escola é estimado e entendido como fase da vida do aluno, período no qual acontece a constituição do conhecimento para a sua independência na sociedade. Finalizando a entrevista foi perguntado à professora se teria alguma sugestão para que melhorasse esse atendimento aos alunos inclusos. Ela concluiu: Formação continuada deve ocorrer com mais frequência e o docente deve aliar mais a teoria e a prática e quando acontece à formação continuada os professores devem demonstrar mais interesse e procurar se inteirar do que é estudado. A educação inclusiva vem quebrando paradigmas, porém, ainda são necessárias transformações e adaptações nos espaços, melhorar os recursos metodológicos e, principalmente, é necessária uma transformação nas atitudes, para além da estrutura física das escolas, uma transformação com acréscimo nos métodos de ensino e aprendizagem e nas afinidades entre as pessoas. Foi evidenciada a partir dos perfis das professoras entrevistadas a necessidade urgente no investimento e incentivo daprefeitura do Município de Pato 22 Branco em promover cursos de aperfeiçoado aos docentes, que abordem diversos aspectos e temas contribuindo para uma educação igualitária e de qualidade a todos os alunos inclusos na rede regular. 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Com esta pesquisa pretendeu-se investigar se os professores da rede regular de ensino do Município de Pato Branco/PR sentem-se preparados para atuar com os alunos com deficiência, que cada vez mais estão chegando às escolas. Pretendeu-se também investigar como acontece, na percepção desses educadores, a formação inicial e continuada para trabalhar com os alunos portadores de NEEs. Para tanto, essa pesquisa ouviu a Secretária de Educação do Município e duas professores atuantes na área de inclusão. A partir desses relatos, a proposição inicial foi confirmada, ou seja, nas falas dos profissionais, percebeu-se que eles, na maior parte das vezes, não possuem na sua formação inicial e continuada o conhecimento indispensável para atender os alunos inclusos com transtornos e deficiências que são introduzidos nas suas salas de aula. Destaca-se que na prática pedagógica dos profissionais a qualidade desse atendimento não é assegurada, por muitos fatores. Uma das principais dificuldades assinaladas pelos entrevistados é a falta de formação apropriada que permitem ao professor conhecimentos específicos para atuação com todos os alunos independentemente de suas necessidades e diferenças. Nesse sentido, consideram-se imprescindíveis e urgentes os investimentos a serem realizados, pela Secretaria de Educação do Município de Pato Branco/PR, na formação continuada dos professores que atendem alunos inclusos. Acredita-se que esses investimentos na formação continuada sejam uma ação capaz de auxiliar na melhoria das práticas pedagógicas dos professores, as quais, como foram apresentadas, atualmente se mostram insuficientes para proporcionar um ensino de qualidade a estes alunos. Essas são algumas das questões que se procurou pontuar nesse estudo. De modo especial espera-se que os responsáveis que estão à frente desse processo de formação continuada de professores sejam compassivos às vozes dos profissionais 23 que atuam inteiramente com esses alunos, no sentido de compreenderem suas dificuldades no atendimento dos alunos com deficiência, inclusos no ensino regular. Estes clamores quando ouvidos, respeitados e atendidos poderão trazer subsídios para uma prática educativa mais eficiente para todos os alunos inseridos na escola, sejam eles com ou sem deficiência. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 1996. 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