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Dilemas de Direito Civil - Maria Celina

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Dilemas de 
Direito Civil-Constitucional 
 
 
 
Casos e decisões sobre os novos desafios 
para a tutela da pessoa humana nas relações existenciais 
 
 
 
 
MARIA CELINA BODIN DE MORAES 
CARLOS NELSON KONDER 
 
 
 
 
 
 
2 
 Apresentação 
 
 
E allora come può il giurista, che non voglia né sterilmente 
ripudiare il proprio tempo né dolorosamente piangere il 
declino, come può non guardarsi tutt’intorno e non 
aprire il dialogo con il mondo dei filosofi?
1
 
– Natalino IRTI 
 
 
Esta obra é resultado de um projeto de pesquisa – ou melhor, de vários projetos 
interligados por uma mesma finalidade – que perdura há cinco anos. Mais do que isso, é 
fruto de um movimento no sentido de tornar o ensino do direito civil mais rico e 
interessante, adaptando-o ao novo contexto jurídico em que vivemos, ou, para os mais 
modernos, a um novo paradigma de interpretação e aplicação do direito contemporâneo. 
As drásticas transformações sociais ocorridas ao longo do século XX tiveram impacto 
marcante no Direito, impacto que se revelou ainda mais interessante no direito civil, em 
virtude de se tratar de ramo cuja dogmática foi construída, a rigor, em um passado 
distante e, portanto, encontra-se, em princípio, mais desatualizada frente às novas 
conjunturas. Ao mesmo tempo, por se tratar de ramo do direito repleto de construções 
científicas tão tradicionais, a resistência de alguns de seus operadores em aceitar abrir 
mão de seus instrumentais teóricos clássicos e rever o significado de conceitos 
consolidados é mais aguerrida, sendo maior o seu apego aos moldes que herdaram do 
passado. 
De modo geral, o período de grave crise econômica que acarretou o colapso do modelo 
liberal e deu lugar a mecanismos de intervenção do Estado na economia, aliado à 
revelação das atrocidades do holocausto nazista por ocasião da segunda guerra mundial, 
que impuseram uma proteção mais plena da pessoa humana, levaram a uma mudança 
dramática no âmbito do Direito. Construído a partir de estruturas conceituais que, 
embora aparentemente neutras, eram inspiradas em valores típicos da sociedade do 
século XIX – direito subjetivo, sujeito de direito, contrato, propriedade etc. – a 
dogmática do direito civil se revela axiologicamente inapropriada para a análise dos 
problemas jurídico-existenciais contemporâneos, permeada que está pelo ethos de uma 
sociedade burguesa individualista e patrimonialista.
2
 
 
1
 Tradução livre: “E então, como pode o jurista, que não queira esterilmente repudiar o próprio tempo, 
nem chorar dolorosamente o declínio, como pode olhar-se em torno e não abrir o diálogo com o mundo 
dos filósofos?” 
2
 Cf. Maria Celina BODIN DE MORAES. A caminho de um direito civil constitucional. In Direito, Estado e 
Sociedade: Revista do Departamento de Direito da PUC-Rio, n. 1, 2ª ed.. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 
jul./dez. 1991, pp. 59-73. Este e os demais textos, de minha autoria, citados neste livro, ora estão revistos 
 
 
 
3 
Observamos assim a passagem de uma época de segurança para uma época de 
incertezas.
3
 As respostas técnicas tão cuidadosamente elaboradas pelos civilistas do 
passado não mais atendem aos dilemas de uma sociedade civil multicultural e complexa 
que aspira ser livre, justa e solidária. Assim, o direito civil contemporâneo abre suas 
portas para a construção de uma normativa mais democrática, plural e solidarista por 
meio daquilo que se vem chamando de sua “constitucionalização”.
4
 
Esta perspectiva consiste em dar plena eficácia à premissa teórica kelseniana sobre a 
qual se constrói o paradigma jurídico contemporâneo: a superioridade normativa do 
texto constitucional. A Constituição provê o ordenamento de unidade, coerência e 
sistematicidade ao determinar a obediência de todas as demais normas, inferiores, aos 
seus preceitos. Trata-se, como é de se destacar, não apenas de uma obediência formal, 
no que tange à distribuição de competências, mas também uma subordinação material: 
as normas inferiores devem concretizar, especificar o conteúdo dos mandamentos 
constitucionais, em especial os valores que se encontram lá positivados sob a forma de 
princípios.
5
 Esta supremacia da Constituição encontra fundamento no princípio da 
democracia: enquanto as normas inferiores são elaboradas por uma assembleia de 
representantes ordinários – o Congresso Nacional –, a Constituição é resultado da 
deliberação da soberana Assembleia Nacional Constituinte. 
Portanto, a interpretação e aplicação das normas do direito civil devem sempre ser feitas 
à luz da legalidade constitucional, sob pena de subversão da hierarquia normativa. Isso 
exige, por parte da doutrina, um urgente controle de validade dos conceitos, técnicos e 
muitas vezes herméticos, de direito civil, forjados sob a inspiração de valores pouco 
compatíveis com a ordem contemporânea.
6
 Ao mesmo tempo impõe, por parte da 
jurisprudência, um esforço para, de um lado, permitir que a aplicação das normas civis 
seja feita em concordância com a Constituição e, de outro lado, evitar que sob o 
pretexto desta adaptação a garantia de segurança jurídica seja esvaziada e decisões 
arbitrárias ocorram. 
O âmbito das situações jurídicas existenciais – isto é, não patrimoniais – é 
especialmente exemplificativo desta dificuldade. A proteção integral da dignidade da 
pessoa humana, embora consagrada internacionalmente a partir da segunda metade do 
século XX e prevista de forma central no art. 1º, III, da nossa Constituição, pode ser 
efetivada de diversas maneiras. Segundo a melhor doutrina, a dignidade abarca em si 
uma série de outros princípios – como a liberdade, a solidariedade, a igualdade e a 
 
em um volume único: Maria Celina BODIN DE MORAES. Na medida da pessoa humana. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2010. 
3
 Maria Celina BODIN DE MORAES. Constituição e direito civil: tendências, Direito, Estado e Sociedade – 
Revista do Departamento de Direito da PUC-Rio, n. 15, ago.-dez./1999, p. 112. 
4
 Para uma visão pioneira da perspectiva, remete-se aos seus principais mentores, Pietro PERLINGIERI. 
Perfis do direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 1999 e Stefano RODOTÀ, A vida na sociedade da 
vigilância. Privacidade hoje. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. 
5
 Gustavo TEPEDINO. Premissas metodológicas para a constitucionalização do direito civil. Temas de 
direito civil, 3. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, pp. 12-13. 
6
 Michele GIORGIANNI. O direito privado e suas atuais fronteiras. Revista dos Tribunais, vol. 747. Rio de 
Janeiro: Revista dos Tribunais, jan. 1998, pp. 38-39 
 
 
4 
integridade psicofísica – que podem, em um determinado caso concreto, entrar em 
colisão entre si.
7
 A solução destes hard cases,
8
 que vêm sendo enfrentados no Brasil e 
no exterior, configura verdadeiro dilema para os civilistas contemporâneos, para os 
quais o arcaico instrumental teórico que se lhes afigura não é de grande valia. 
No contexto atual, em que já se encontra razoavelmente consolidada em nossa doutrina 
e jurisprudência a importância da aplicação direta dos princípios constitucionais às 
relações privadas, em especial da proteção integral da pessoa humana, o desafio 
emergente é como impedir que o poder conferido ao juiz para este fim não seja 
desvirtuado, corrompido em exercício arbitrário dos valores pessoais do magistrado. 
Neste âmbito, somente a análise da argumentação contida na motivação das decisões 
que realizam a ponderação de princípios nos chamados hard cases pode oferecer 
parâmetros objetivos pelos quais o judiciário se pauta ou deve se pautar. A análise da 
solução determinada a tais casos e a sistematização de tais parâmetros é uma 
contribuição fundamental para garantir o respeito ao valor da segurança jurídica, central 
em nossoordenamento. 
Esta obra visa inicialmente permitir ao aluno, através da pesquisa envolvendo casos 
concretos, a construção de uma perspectiva de análise crítica e renovada do direito civil 
contemporâneo. Busca-se, assim, o desenvolvimento do raciocínio jurídico do aluno sob 
o viés de problematização do Direito. Mais especificamente, visa identificar, por meio 
da análise dos casos, possíveis parâmetros idôneos a guiar o operador do direito na 
solução destas controvérsias de forma adequada à legalidade constitucional e, 
simultaneamente, em respeito à segurança jurídica. 
O catálogo de casos e decisões não se pretende exaustivo nem na sua seleção, nem nas 
informações que cada relato traz. A seleção foi verdadeiramente arbitrária, no sentido de 
que foi guiado apenas pelo nosso arbítrio. O único critério guia foi: “é interessante?”. 
Toda sistematização veio em um segundo momento, quase como uma constatação de 
como o ordenamento é pródigo em casos interessantes quando despido de formalismos e 
dogmatismos. Da mesma maneira, os enunciados normativos pertinentes e as 
referências bibliográficas indicadas foram aquelas mais acessíveis e rapidamente 
identificáveis. Pedimos àqueles dedicados ao estudo aprofundado de cada um dos temas 
a compreensão de que uma obra deste porte não pode se permitir a verticalização em 
cada assunto. Enfim, de maneira, geral, não é um tratado, mas apenas um convite. Um 
convite a pensar o direito de forma mais lúdica. 
E este convite não poderia ter sido feito sem a contribuição de muitos dos seus 
convidados, os alunos e pesquisadores que nos auxiliariam a recolher casos, decisões e 
informações e a debatê-los, testando seu potencial como material de estudo. Assim, 
 
7
 Maria Celina BODIN DE MORAES. O princípio da dignidade da pessoa humana. In _____(org). Princípios 
do direito civil contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, pp. 57-59. 
8
 Na definição de Manuel Atienza, os hard cases [ou casos difíceis] são aqueles nos quais, aplicando-se 
um critério de racionalidade estrita, resultaria que: a) o caso não tem solução; b) tem uma solução que 
resultaria inaceitável; c) tem mais de uma solução (incompatíveis entre si). (Para uma razonable 
definición de razonable. In Doxa. n. 4, 1987, p. 194). 
 
 
5 
agradecemos inicialmente a Miguel Labouriau, que, na condição de bolsista de iniciação 
científica do CNPq junto ao Departamento de Direito da PUC-Rio, levou a cabo longa e 
minuciosa pesquisa sobre a tutela da personalidade, a qual permitiu dar início a toda 
esta empreitada. Agradecemos também a colaboração de João Victor Guedes dos 
Santos, que deu continuidade a este projeto de pesquisa. Agradecemos ao CNPq pelo 
auxílio neste projeto. 
Da mesma forma, parte substanciosa das informações aqui reunidas foram coletadas e 
organizadas pelos alunos integrantes do grupo de pesquisa junto à Faculdade de Direito 
da UERJ, coordenados com o imprescindível auxílio do professor Rafael Esteves. 
Agradecemos, portanto, “aos meninos da UERJ”, isto é a Daniel Lannes, Tabata Poleze, 
Rafaela Coutinho Canetti, Nathalie Gazzaneo, Ely Caetano Xavier Júnior, Nayara 
Rocha, Beatriz Chiesse, Laura Caravello, Elias Mendes, Leticia Branquinho, Raphael 
Linhares e Pedro Rennó. 
Cabe mencionar ainda a participação dos alunos do Núcleo de Estudos de Direito Civil 
“Constitucionalização do Direito Civil e Proteção da Pessoa Humana”, do curso de 
direito do Ibmec, Daniela Pessanha, Evelyn Melo, Erika Ribeiro, Felipe Laport, 
Fernanda Ballerini, Graziela Rossi, Herbert Moura Teles e Thamires Gualter, que 
participaram de uma versão embrionária deste projeto, ainda em fase de testes. 
Enfim, agradecemos a todos os professores e pesquisadores que contribuíram para a 
seleção do material, seja diretamente nos encaminhando e sugerindo casos, seja através 
de publicações científicas empreendendo este mesmo esforço de tornar o direito mais 
concreto e rico. Neste sentido, desejamos nominar os colegas e amigos Ana Carolina 
Brochado Teixeira, Ana Luiza Maia Nevares, Anderson Schreiber, Bruno Lewicki, 
Caitlin Mulholland, Carlos Affonso Pereira de Souza, Daniel Sarmento, Daniele Chaves 
Teixeira, Danilo Doneda, Fernanda Paes Leme, Gustavo Tepedino, Heloísa Helena 
Barboza, Ingo Sarlet, Luiz Edson Fachin, Marcelo Calixto, Marcus Dantas, Maria 
Cristina de Cicco, Noel Struchiner, Pablo Rentería, Rafael Esteves, Renata Vilela, Rose 
Melo Vencelau Meireles, Sérgio Vieira Branco Júnior, Rocco Favale e Thamis 
Dalsenter. 
Agradecemos e dedicamos este livro a todos os alunos que nos ensinam todo dia como 
ensinar direito. 
 
 
 
 
6 
Sumário 
 
Apresentação .................................................................................................................................... 2 
DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO ............................................................................. 10 
1. Liberdade de expressão e ato ilícito ....................................................................................... 11 
I. Casos e decisões .................................................................................................................. 11 
II. Normativa aplicável ............................................................................................................ 24 
III. Bibliografia sugerida ........................................................................................................... 26 
2. Igualdade racial e direito à livre iniciativa ............................................................................ 28 
I. Casos e decisões .................................................................................................................. 28 
II. Normativa aplicável ............................................................................................................ 34 
III. Bibliografia sugerida ........................................................................................................... 53 
DIREITO À IGUALDADE E DIREITO À DIFERENÇA .......................................................... 54 
3. Direito à objeção de consciência ............................................................................................. 55 
I. Casos e decisões .................................................................................................................. 55 
II. Normativa aplicável ............................................................................................................ 66 
III. Bibliografia sugerida ........................................................................................................... 68 
4. Direito à educação diferenciada ............................................................................................. 70 
I. Casos e decisões .................................................................................................................. 70 
II. Normativa aplicável ............................................................................................................ 79 
III. Bibliografia sugerida ........................................................................................................... 83 
5. Direito à identidade corporal ................................................................................................. 84 
I. Casos e decisões .................................................................................................................. 84 
II. Normativa aplicável ............................................................................................................ 89 
III. Bibliografia sugerida ........................................................................................................... 91 
6. Direito à competição igualitária ............................................................................................. 93 
I. Casos e decisões ..................................................................................................................93 
II. Normativa aplicável ............................................................................................................ 99 
III. Bibliografia sugerida ......................................................................................................... 105 
DIGNIDADE HUMANA E LIBERDADE INDIVIDUAL ........................................................ 107 
7. Direito a um tratamento dignificante .................................................................................. 108 
I. Casos e decisões ................................................................................................................ 108 
II. Normativa aplicável .......................................................................................................... 112 
III. Bibliografia sugerida ......................................................................................................... 112 
8. Direito à mudança de sexo .................................................................................................... 114 
 
 
7 
I. Casos e decisões ................................................................................................................ 114 
II. Normativa aplicável .......................................................................................................... 127 
III. Bibliografia sugerida ......................................................................................................... 133 
9. Direito à autodeterminação corporal ................................................................................... 135 
I. Casos e decisões ................................................................................................................ 135 
II. Normativa aplicável .......................................................................................................... 140 
III. Bibliografia sugerida ......................................................................................................... 143 
10. Direito a não nascer ............................................................................................................... 145 
I. Casos e decisões ................................................................................................................ 145 
II. Normativa aplicável .......................................................................................................... 151 
III. Bibliografia sugerida ......................................................................................................... 152 
TUTELA DA PERSONALIDADE DA PESSOA HUMANA.................................................... 153 
11. Direito à mudança de nome .................................................................................................. 154 
I. Casos e decisões ................................................................................................................ 154 
II. Normativa aplicável .......................................................................................................... 163 
III. Bibliografia sugerida ......................................................................................................... 166 
12. Direito à imagem-retrato, imagem-atributo e identidade pessoal .................................... 167 
I. Casos e decisões ................................................................................................................ 167 
II. Normativa aplicável .......................................................................................................... 182 
III. Bibliografia sugerida ......................................................................................................... 182 
13. Direito à sepultura ................................................................................................................. 184 
I. Casos e Decisões ............................................................................................................... 184 
II. Normativa aplicável .......................................................................................................... 190 
III. Bibliografia sugerida ......................................................................................................... 211 
A EXPANSÃO DA PRIVACIDADE ........................................................................................... 213 
14. Direito à privacidade e liberdade de informação ............................................................... 214 
I. Casos e decisões ................................................................................................................ 214 
II. Normativa aplicável .......................................................................................................... 225 
III. Bibliografia sugerida ......................................................................................................... 226 
15. Direito ao esquecimento ........................................................................................................ 228 
I. Casos e Decisões ............................................................................................................... 228 
II. Normativa aplicável .......................................................................................................... 233 
III. Bibliografia sugerida ......................................................................................................... 243 
16. Direito a não saber ................................................................................................................. 244 
I. Casos e decisões ................................................................................................................ 244 
 
 
8 
II. Normativa aplicável .......................................................................................................... 248 
III. Bibliografia sugerida ......................................................................................................... 263 
TUTELA DA PERSONALIDADE NA FAMÍLIA ..................................................................... 265 
17. Direito do incapaz à constituição da própria família ......................................................... 266 
I. Casos e decisões ................................................................................................................ 266 
II. Normativa aplicável .......................................................................................................... 277 
III. Bibliografia sugerida ......................................................................................................... 279 
18. Direito do incapaz à assistência moral ................................................................................. 281 
I. Casos e decisões ................................................................................................................ 281 
II. Normativa aplicável .......................................................................................................... 287 
III. Bibliografia sugerida ......................................................................................................... 292 
19. Direito a não sofrer punição corporal.................................................................................. 294 
I. Casos e decisões ................................................................................................................ 294 
II. Normativa aplicável .......................................................................................................... 296 
III. Bibliografia sugerida ......................................................................................................... 298 
20. Direito a conhecer as próprias origens genéticas ................................................................ 300 
I. Casos e decisões ................................................................................................................300 
II. Normativa aplicável .......................................................................................................... 307 
III. Bibliografia sugerida ......................................................................................................... 309 
21. Direito a elaborar um testamento vital ....................................... Erro! Indicador não definido. 
I. Casos e decisões .................................................................... Erro! Indicador não definido. 
I. Normativa aplicável .............................................................. Erro! Indicador não definido. 
II. Bibliografia sugerida ............................................................. Erro! Indicador não definido. 
DIGNIDADE E REPRODUÇÃO................................................................................................. 311 
22. Reprodução assistida ............................................................................................................. 312 
III. Casos e decisões ................................................................................................................ 312 
IV. Normativa aplicável .......................................................................................................... 317 
V. Bibliografia sugerida ......................................................................................................... 320 
23. Embriões congelados ............................................................................................................. 322 
I. Casos e decisões ................................................................................................................ 322 
II. Normativa aplicável .......................................................................................................... 331 
III. Bibliografia sugerida ......................................................................................................... 332 
24. Gestação substituta ................................................................................................................ 333 
I. Casos e decisões ................................................................................................................ 333 
II. Normativa aplicável .......................................................................................................... 337 
 
 
9 
III. Bibliografia sugerida ......................................................................................................... 338 
 
 
 
10 
 
DIREITO PÚBLICO E DIREITO 
PRIVADO 
 
 
 
11 
 
1. Liberdade de expressão e ato ilícito 
Entre as hipóteses de colisão de princípios ensejadoras de casos difíceis, a liberdade de 
expressão parece ser a principal fonte de exemplos. A liberdade de expressão é 
assegurada de maneira geral em todos os Estados democráticos, por vezes referida 
mesmo como símbolo do grau de democraticidade de um dado ordenamento. 
No entanto, o exercício da liberdade de expressão é pródigo em produzir lesões a 
outros bens jurídicos tutelados pelo ordenamento. Desta forma, em todos os 
ordenamentos se reconhece a necessidade de impor limites ao exercício da liberdade de 
expressão, sejam eles expressos ou implícitos, internos ou externos, legais ou judiciais, 
definidos a priori ou a posteriori. 
Assim, nos casos em que há colisão entre tais interesses, surge a necessidade de 
averiguar se o exercício da liberdade de expressão ultrapassou um desses limites e, 
portanto, saiu da esfera da licitude. 
 
I. Casos e decisões 
1 
O Caso Lüth. Veit Harlan, diretor de cinema na Alemanha nazista, conseguira grande 
destaque com seus filmes de incitação ao ódio contra os judeus, até o período da 
Segunda Guerra Mundial. Seu filme que obteve o maior destaque na propaganda nazista 
fora a obra intitulada “Jud Suss”. Após 1945, novo filme de Harlan, “Amante Imortal” 
(Unsterbliche Geliebte), seria lançado, mas desta vez não havia tônica antissemita em 
seu conteúdo. Mesmo assim, Lüth, um judeu alemão convocou o público alemão, em 
especial donos de casas de cinema e produtores de filme, a boicotarem os filmes 
produzidos por Harlan. O Tribunal Distrital de Hamburgo decidiu que Lüth deveria 
deixar de promover boicotes ao novo filme de Harlan, pois tal boicote violava regra 
presente no Código Civil Alemão acerca da prática de ato ilícito. Inconformado com tal 
decisão, Lüth recorreu ao Tribunal Constitucional alemão. 
Diante desse impasse, algumas questões surgiram. Inicialmente, o Tribunal 
Constitucional considerou que a atitude de Lüth em face dos filmes de Harlan, qual seja, 
a de conclamação ao boicote, estava protegida pela liberdade de expressão. Em segundo 
lugar, contudo, a Corte Constitucional entendeu que a atitude de Lüth feria, sim, 
dispositivo presente no Código Civil alemão, referente à moral pública. Como, então, 
integrar esses dois elementos (aparentemente) contraditórios e dar uma solução 
satisfatória ao caso concreto? A solução encontrada pelo Tribunal Constitucional 
 
 
12 
alemão foi efetuar um balanceamento dos princípios constitucionais colidentes no caso 
concreto. O resultado encontrado pelos integrantes daquela Corte foi priorizar, no caso 
em questão, o princípio da liberdade de expressão. Neste sentido, a decisão proferida 
pela Corte Constitucional alemã no caso Lüth foi definidora de um novo paradigma no 
Direito no que se refere ao modelo de interpretação das normas jurídicas. Tal inovação, 
desde então, espalhou-se por todo o mundo ocidental em que se adota o modelo de 
Constituição rígida, abrindo possibilidades a um sem número de novas experiências no 
que se refere à efetividade dos direitos e garantias fundamentais, especialmente no 
tocante à sua incidência sobre as relações jurídicas privadas. É o que se convencionou 
chamar de conteúdo objetivo dos direitos fundamentais. 
A finalidade primária dos direitos fundamentais é a de salvaguardar as 
liberdades individuais contra interferência das autoridades públicas. 
Eles são direitos defensivos do indivíduo contra o Estado. Esta é uma 
decorrência do desenvolvimento histórico do conceito de direitos 
fundamentais e também do desenvolvimento histórico que levou à 
inclusão de direitos fundamentais nas constituições de vários países 
[...]. É igualmente verdadeiro, no entanto, que a Lei Fundamental não é 
um documento axiologicamente neutro. Sua seção de direitos 
fundamentais estabelece uma ordem de valores, e esta ordem reforça o 
poder efetivo destes direitos fundamentais. Este sistema de valores, que 
se centra na dignidade da pessoa humana, em livre desenvolvimento 
dentro da comunidade social, deve ser considerado como uma decisão 
constitucional fundamental, que afeta a todas as esferas do direito 
público ou privado. Ele serve de metro para aferição e controle de todas 
as ações estatais nas áreas da legislação, administração e jurisdição. 
Assim é evidente que os direitos fundamentais também influenciam o 
desenvolvimento do direito privado. Cada preceito do direito privado 
deve ser compatível com este sistema de valores e deve ainda ser 
interpretado à luz do seu espírito. O conteúdo legal dos direitos 
fundamentais como normas objetivas é desenvolvido no direito privado 
através dos seus dispositivos diretamente aplicáveis sobre esta área do 
direito. Novos estatutos devem se conformar com o sistema de valores 
dos direitos fundamentais. O conteúdo das normas em vigor também 
deve ser harmonizado com esta ordem de valores. Este sistema infunde 
um conteúdo constitucional específico ao direito privado, orientando a 
sua interpretação. (SARMENTO, Daniel. Os Direitos Fundamentais e 
Relações Privadas. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 112-113). 
O caso Lüth permite, também, analisar outra questão interessante, inserida no contexto 
da proteção à liberdade de expressão: é tutelável, num Estado Democrático de Direito,a 
manifestações de ódio, desprezo ou intolerância contra determinados grupos (também 
conhecidas como hate speech), motivadas por preconceitos, sejam de que tipo for? 
 
 
13 
2 
As Charges de Maomé. Manifestações de revolta e indignação de muçulmanos em 
vários cantos do mundo por causa da charge retratando Maomé, publicada em um jornal 
dinamarquês, trouxeram à tona a discussão sobre os limites da liberdade de expressão e 
sobre a difícil relação entre o Ocidente e mundo islâmico. As charges apareceram 
inicialmente no jornal dinamarquês Jyllands-Posten em setembro e foram 
posteriormente republicadas por jornais de países como Alemanha, Itália, Holanda e 
Espanha – todos dizendo estar exercendo seu direito à livre expressão. Os desenhos 
associam o profeta Maomé ao terrorismo dos extremistas islâmicos. Deve-se observar 
que na cultura muçulmana são proibidas as representações gráficas de Deus ou de 
Maomé e, exatamente por isso, as caricaturas foram consideradas um insulto. Os 
governos dos EUA e da Grã-Bretanha criticaram os jornais europeus que republicaram 
as charges do profeta Maomé, dizendo não ser aceitável insultar grupos ou religiões em 
nome da liberdade de expressão. Outros governos, como o da Alemanha, se recusaram a 
condenar as republicações, defendendo o direito dos veículos e comunicação à livre 
expressão. (BBC.com, acesso em 06 fev. 2006.) 
3 
Saiu no New York Times. O diretor-executivo do jornal americano The New York 
Times, Bill Keller, afirmou que o cancelamento do visto do chefe do escritório da 
publicação no Rio, Larry Rohter, “levanta sérias dúvidas quanto ao tão falado 
comprometimento do país com a liberdade de expressão e de imprensa”. Sobre a 
questão, o Ministério da Justiça anunciou o cancelamento do visto temporário de 
Rohter, que escreveu uma reportagem dizendo que o presidente Luiz Inácio Lula da 
Silva estaria abusando do consumo de bebidas alcoólicas, “em face de reportagem 
leviana, mentirosa e ofensiva à honra do presidente da República Federativa do Brasil, 
com grave prejuízo à imagem do país no exterior [...]”. O presidente negou ter 
problemas com o álcool e disse que a reportagem de Rohter foi sem fundamentos, 
difamatória e um exemplo de mau jornalismo. (BBC.com, acesso em 12 mai. 2004.) 
4 
Defina material obsceno. Redes de televisão americanas podem ser obrigadas a pagar 
multas de cerca de US$ 500 mil por transmitir cenas consideradas obscenas ou 
indecentes caso as recomendações de um comitê do Congresso sejam transformadas em 
lei. As recomendações são uma reação à polêmica causada pelo incidente em que o seio 
da cantora Janet Jackson foi exposto na transmissão ao vivo, em rede nacional, do Super 
Bowl – a partida que decide a temporada do futebol americano. A proposta de lei que 
aumenta o valor das multas foi aprovada por 49 votos a 1, no Comitê de Energia e 
Comércio da Câmara. A divulgação de material considerado obsceno é ilegal em 
qualquer situação nos Estados Unidos. No caso de material indecente, no entanto, a 
proibição só se aplica em horários específicos, nos quais crianças possam estar 
assistindo a TV. Essa diferenciação existe porque o material “indecente” está protegido 
 
 
14 
pela primeira emenda da Constituição americana, que defende a liberdade de expressão. 
É considerado indecente material que contém “referências” a sexo ou a excreções, mas 
não chega “ao nível da obscenidade”. Contudo, argumentou o presidente do Comitê, Joe 
Barton que “a responsabilidade pessoal é uma liberdade tão importante quanto a 
liberdade de expressão, e os pais responsáveis dos Estados Unidos buscam criar os seus 
filhos com um forte senso de responsabilidade por suas ações – por que artistas devem 
ser excluídos disso?” Outras penalidades também estão previstas para redes de televisão 
que violarem a legislação, como revogação da licença, confisco, suspensão de 
autorizações etc. O incidente levou empresas de comunicações americanas a aumentar 
os controles sobre programação potencialmente obscena ou indecente. A MTV 
americana, por exemplo, decidiu transmitir o novo clipe da cantora Britney Spears 
apenas em horários noturnos, alegando que o vídeo é muito “cheio de vida” para ser 
visto durante o dia. Em outro caso, a maior empresa de rádio do país, a Clear Channel, 
demitiu o radialista Howard Stern, por conduzir uma entrevista tida como “vulgar ou 
ofensiva”, e o DJ Bubba The Love Sponge por colocar no ar uma paródia de conteúdo 
explicitamente sexual. Disponível em <http://en.wikipedia.org/wiki/Super_Bowl_ 
XXXVIII_ halftime_show_controversy>, acesso em 4 jan. 2011. 
5 
Arte exemplar ou censura? O governo de Israel pediu que o governo da Suécia 
retirasse uma instalação artística que mostra uma suicida palestina, afirmando que a 
obra incita novos ataques. O embaixador israelense em Estocolmo, Zvi Mazel, foi 
expulso da galeria onde a instalação Snow White and the Madness of Truth (Branca de 
Neve e a Loucura da Verdade) estava exposta, acusado de atos de vandalismo contra a 
obra. A instalação mostra um barco flutuando em um líquido vermelho que tem como 
vela uma foto de Hanadi Jaradat, uma estagiária em advocacia de 29 anos que se matou 
em um ataque suicida em um restaurante em Haifa, Israel. “É impossível justificar a 
incitação e o cultivo ao ódio mostrado nesta exibição em nome da liberdade de 
expressão”, disse o porta-voz do ministério do Exterior israelense, David Saranger. “O 
governo sueco não pode ficar indiferente e deve tomar medidas para retirar a obra”. 
Saranger defendeu o ato do embaixador à instalação, afirmando que “nenhum israelense 
pode ficar indiferente”. Dror Feiler, o artista israelense que colaborou com a obra disse 
que Mazel tentou censurar “a liberdade de expressão e a liberdade artística”. “Sou 
totalmente contra ataques suicidas”, acrescentou Feiler. O diretor do museu, Kristian 
Berg, disse que a instalação vai permanecer onde está. “Pode-se ter uma visão pessoal 
sobre o significado da obra, mas não é permitido usar violência e nunca deve ser 
permitido calar um artista”, afirmou. Disponível em <http://en.wikipedia.org/wiki/ 
Snow_White_and_The_Madness_of_Truth>, acesso em 10 fev. 2011. 
6 
Embalagem opaca. Venda de revista sem embalagem opaca gera condenação da Trip 
Editora e Propaganda por comercializar revista com foto de uma mulher seminua sem a 
 
 
15 
proteção de embalagem. A multa imposta é de 20 salários mínimos. O valor deve ser 
destinado ao fundo do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. A 
editora foi autuada pelo Juizado da Infância e da Juventude em maio de 2001 porque a 
capa da revista Trip, edição 89, além de não estar protegida, não continha advertência 
sobre o conteúdo, o que foi considerado em desacordo com o art. 78 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente (ECA). A questão não foi decidida no mérito ao óbice 
decorrente da Súmula 7 e da vedação ao reexame do contexto fático-probatório nos 
termos seguintes: 
[...] A questão passa a ser o exame da revista considerada pornográfica 
por exibir uma mulher com os seios à mostra, quanto à obrigatoriedade 
de envoltório plástico em seus exemplares. Observe-se que a avaliação 
é eminentemente subjetiva e dependente de posicionamento mais ou 
menos tolerante. (...) Essa visão não pode ter guarida em uma Corte de 
precedentes como o STJ. Não há como ser conhecido este recurso, sem 
análise da prova, para qualificar e valorar a percepção fática: a revista e 
a fotografia, se merecedoras ou não de um plástico leitoso que oculte a 
sua capa. Enfim, merecedora da censura. Diante do óbice da Súmula 7, 
não conheço do Recurso Especial. (STJ, 2ª T., REsp 507.487, Rel. Min. 
Eliana Calmon, julg. em 02.10.2003) 
7 
Médicos querem rever textos jornalísticos. A resolução que determina que médicos 
aprovem textos de jornalistas antes da publicação não contraria a liberdade de 
expressão. A opinião dos médicosestá publicada no site do Conselho Federal de 
Medicina. De acordo com a nota, ao “Conselho Federal de Medicina, que é o órgão 
legalmente supervisor da ética profissional médica, cabe o dever de zelar e trabalhar por 
todos os meios ao seu alcance pelo perfeito desempenho ético da medicina e pelo 
prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exercem legalmente”. A liberdade de 
manifestação de pensamento, de exercício de atividade profissional lícita e de acesso às 
informações são garantias constitucionais erigidas pelos artigos 5º, inciso IV e XIII, 
220, §§ 1º, 5º e 6º da Constituição Federal e reiteradas em suas especificidades no inciso 
IX do mesmo artigo 5º. Assim, diversamente do que vem sendo divulgado, a conduta 
somente será legítima e resguardada pela imperatividade constitucional se estiver 
conforme com os padrões da legalidade, vedada, portanto, a conduta antiética e aquelas 
legalmente condenadas. Portanto, ao Conselho Federal de Medicina, que é o órgão 
legalmente supervisor da ética profissional médica, cabe o dever de zelar e trabalhar por 
todos os meios ao seu alcance pelo perfeito desempenho ético da medicina e pelo 
prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exercem legalmente. A Resolução Nº 
1.701/2003, não tem, assim, caráter repressivo, mas meramente educativo. (Consultor 
Jurídico, <www.conjur.com.br>, publicação em 1 de outubro de 2003). 
 
 
16 
8 
Um tapinha que dói e muito. A produtora da música “Um Tapinha Não Dói” foi 
multada pela justiça gaúcha, ao entender que a letra banaliza a violência e estimula a 
sociedade a inferiorizar a mulher. A decisão foi tomada pelo juiz federal substituto 
Adriano Vitalino dos Santos, da 7ª Vara Federal, em 19.02.2008, e a apelação ainda está 
tramitando no TRF-4ª Região. Segundo afirmou o juiz: “entendo que a fixação da 
indenização em R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) é proporcional ao dano causado e 
suficiente para dissuadir a ré a não praticar novos atos ilícitos, devendo o montante ser 
revertido em favor do Fundo Federal de Defesa dos Direitos, a teor do artigo 13 da Lei 
7.347/85”. A ação foi movida pelo Ministério Público Federal e pela organização não 
governamental Themis Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero, que alegaram que a 
letra justifica a violência masculina a partir do comportamento sexual da mulher. 
Sustentaram ainda que a liberdade de expressão não é direito absoluto e tem limitações 
reconhecidas pela Constituição em face do princípio da dignidade. O juiz entendeu que 
houve dano moral difuso à mulher e estabeleceu a multa, que deverá ser revertida ao 
Fundo Federal de Defesa dos Direitos. (O Estado de São Paulo, de 25 de março de 
2008, acesso em 7 fev. 2011). Veja o inteiro teor da sentença em <http://bit.ly/ehsaMs>, 
acesso em 7 fev. 2011. 
9 
Defensores da legalização da maconha são proibidos de defendê-la. Os defensores 
da legalização da maconha, proibidos de fazer passeata vão protestar em defesa da 
liberdade de expressão. Os organizadores da Marcha da Maconha entenderam que a 
decisão da Justiça de suspender a manifestação foi “um equívoco total”. “Não estamos 
estimulando o uso de drogas, mas debatendo a legislação. E esse direito de debater nos 
foi negado. A polícia sempre acompanhou as passeatas, inclusive com agentes à paisana 
que filmavam a marcha. Nunca houve confronto. Esse ano, eu e outros quatro 
organizadores fomos detidos quando divulgávamos a passeata”. O advogado Gustavo 
Alves, que foi detido, afirmou: “Tive meu direito constitucional de liberdade de 
expressão tolhido”. O sociólogo disse que ficou preocupado ao ver, em um jornal 
carioca, a foto de uma bandeira do integralismo na Marcha Rio em Defesa da Família, 
organizada pela vereadora Sílvia Pontes (DEM) em resposta à Marcha da Maconha. 
“Fiquei preocupado em ver esses elementos do fascismo sendo exibidos. Esse tipo de 
gente é agressiva. Eles já demonstraram historicamente do que são capazes, mas acho 
que não vamos ter problemas. Acho que o confronto não interessa a eles”. Portal G1, 
<g1.globo.com>, acesso em 05 mai. 2008. 
10 
Discurso de intolerância. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília, 
manteve proibida a circulação do livro “Orixás, caboclos e guias – deuses ou 
demônios?”, do bispo Edir Macedo, principal líder da Igreja Universal do Reino de 
Deus. A decisão é do desembargador Souza Prudente, que negou o recurso ajuizado 
 
 
17 
pelo bispo contra determinação da Justiça Federal da Bahia. Segundo alegou o 
Ministério Público Federal, algumas passagens do livro incitam a segregação religiosa e 
a intolerância a crenças afro-brasileiras. Os adeptos dessas religiões foram classificados 
de seguidores do demônio. A obra foi impedida de ser vendida ou distribuída. Todos os 
exemplares existentes em estoque foram retirados das prateleiras. A multa para o 
descumprimento da ordem foi fixada em R$ 50 mil. Em sua decisão, o desembargador 
do TRF afirmou que “as liberdades públicas não são incondicionais e a liberdade de 
expressão especificamente não se revela em termos absolutos, como garantia 
constitucional, mas deve ser exercida, nos limites do princípio da proporcionalidade, 
proibindo os excessos nocivos à salvaguarda do núcleo essencial de outros direitos 
fundamentais, como no caso em exame”. Disponível em 
<www.midiaindependente.org>, acesso em 08 dez 2005. 
11 
A proibição de negar o holocausto. Um homem acusado de negar o Holocausto foi 
detido hoje no aeroporto londrino de Heathrow a pedido das autoridades alemãs. O 
alemão, nascido na Austrália, Gerald Fredrich Toben, de 64 anos, foi detido em 
cumprimento de uma ordem europeia de detenção tramitada pela Alemanha. 
Concretamente, Toben foi acusado de publicar na internet material “de natureza 
antissemita e/ou revisionista”, que nega, aprova ou diminui a importância da morte em 
massa de judeus pelos nazistas. A ordem especifica que o acusado cometeu o crime na 
Austrália, Alemanha e em outros países. O fundador do Instituto de Adelaide, uma 
publicação impressa, com site na internet, que questiona o Holocausto, Gerald é 
acusado de publicar material na Internet “de um antissemita e/ou de natureza 
revisionista”, que “nega, aprova ou minimiza o assassinato em massa de judeus pelos 
nazistas”. The Telegraph <http://bit.ly/g7Ybx6> , acesso em 1º de out. 2008. 
12 
Discurso de ódio (Hate speech). Trata-se de habeas corpus destinado à absolvição de 
Siegfried Ellwanger, editor de vários livros de cunho antissemita, preso no Brasil. O réu 
e seus advogados pretendiam provar que antissemitismo não é racismo, crime que nossa 
Constituição considera inafiançável e imprescritível. Alegou-se, ainda, a livre-
manifestação de pensamento como direito fundamental protegido constitucionalmente. 
Ao final, contudo, a Corte Suprema negou absolvição ao réu. 
Habeas-corpus. Publicação de livros: antissemitismo. Racismo. Crime 
imprescritível. Conceituação. Abrangência constitucional. Liberdade de 
expressão. Limites. Ordem denegada. [...] 11. Explícita conduta do 
agente responsável pelo agravo revelador de manifesto dolo, baseada 
na equivocada premissa de que os judeus não só são uma raça, mas, 
mais do que isso, um segmento racial atávica e geneticamente menor e 
pernicioso. 12. Discriminação que, no caso, se evidencia como 
deliberada e dirigida especificamente aos judeus, que configura ato 
ilícito de prática de racismo, com as consequências gravosas que o 
 
 
18 
acompanham. 13. Liberdade de expressão. Garantia constitucional que 
não se tem como absoluta. Limites morais e jurídicos. O direito à livre 
expressão não pode abrigar, em sua abrangência, manifestações de 
conteúdo imoral que implicam ilicitude penal. 14. As liberdades 
públicas não são incondicionais, por isso devem ser exercidas de 
maneira harmônica, observados os limites definidos na própria 
Constituição Federal (CF, art. 5º, § 2º, primeira parte).O preceito 
fundamental de liberdade de expressão não consagra o “direito à 
incitação ao racismo”, dado que um direito individual não pode 
constituir-se em salvaguarda de condutas ilícitas, como sucede com os 
delitos contra a honra. Prevalência dos princípios da dignidade da 
pessoa humana e da igualdade jurídica. [...] Ordem denegada. (STF, 
Trib. Pleno, HC 82.424, Rel. Min. Moreira Alves, julg. 17.09.2003) 
13 
Discriminação contra nordestinos? O MPF pretendia condenar o jornalista Diogo 
Mainardi a pagar uma indenização por haver violado o direito de não discriminação 
quanto aos nordestinos. No caso, havia uma colisão de direitos fundamentais: de um 
lado a liberdade de expressão jornalística, o direito de crítica e o direito de manifestação 
do pensamento; do outro, o não preconceito e a não discriminação. A atitude, que por 
vezes beira o ato ilícito, demanda um exercício de ponderação para solução do caso. Na 
sentença, o juiz concluiu que, entre tolerar pequenas ofensas e limitar a liberdade de 
expressão, deve preferir-se a tolerância em nome da liberdade. 
Ação civil pública. Ofensas escritas por jornalista contra os 
nordestinos, sergipanos e cuiabanos. Regra de tolerância. Direito à livre 
manifestação. Ausência de dano. 1. A liberdade de expressão talvez 
seja o maior fundamento da democracia. Esta, por sua vez, é muito 
trabalhosa para exercitá-la, mas vale a pena. 2. Entre tolerar pequenas 
ofensas e limitar a liberdade de expressão, prefiro a tolerância em nome 
da liberdade, mormente quando se verifica que o dano inexistiu. 3. 
Improcedência do pedido. [...] se, por um lado, identifico uma ponta de 
preconceito do requerido em algumas das suas manifestações, 
identifico também, por outro, que o seu estilo literário é extremamente 
ácido, inteligente e assim o faz basicamente quando comenta sobre os 
políticos, especialmente os do PT, os que integram o atual governo e 
quando comenta a postura de colegas seus que aplaudem o governo. Há 
uma tênue linha entre uma postura e outra. [...] Portanto, se o Sr. Diogo 
Mainardi disse que não conhece a geografia nordestina, é porque, de 
fato, ele não conhece. Não há nenhum preconceito nisso capaz de 
causar dano. O preconceito, se houve, fica por conta do desinteresse, do 
desprezo de quem se julga superior intelectualmente. O prejuízo é, 
apenas, do dono do preconceito. Não estou dizendo, com isso, que seja 
o caso dele. Ele é quem deve saber. [...] 3. Dispositivo. Com esses 
fundamentos: a) excluo a Globo Comunicação e Participações S/A do 
polo passivo da demanda; b) em relação aos demais Réus, julgo 
improcedente o pedido, nos termos do art. 269, I, do Código de 
 
 
19 
Processo Civil. (TRF-1, 1ª V. F., ACP 2007.85.00.000415-6, Juiz 
Federal Ricardo César Mandarino Barreto, publ. 25.07.2007) 
14 
Censura no MTG. Ao criticar o movimento tradicionalista gaúcho e a diretoria da 
entidade respectiva, um membro da associação foi punido com suspensão de três anos e 
seis meses de atividade no movimento. No caso, além de outras alegações, restou 
configurado que, a atitude do demandante, na qualidade de radialista, ao tecer críticas ao 
movimento e a pessoas a ele relacionadas, está assegurada pela Constituição Federal, 
que garante, entre os direitos fundamentais do cidadão, a liberdade de expressão. 
Anderson Maldonado Vargas, em 29 de março de 2006, durante o programa radiofônico 
Bom Dia Tchê, que apresenta há 23 anos, fez leitura de matéria divulgada no Correio do 
Povo sobre cavalgadas organizadas pela entidade Movimento Tradicionalista Gaúcho 
contra a cobrança de pedágios, emitindo, como cidadão e radialista, críticas sobre este e 
outros fatos. Em decorrência, foi suspenso por três anos e seis meses das atividades 
tradicionalistas, com base no Código de Ética Tradicionalista. Ao final, o radialista teve 
assegurado seu direito de participar das atividades tradicionalistas. 
“(...) Ainda assim, deve-se convir que o autor não praticou qualquer ato 
contra o movimento tradicionalista gaúcho, senão criticou, ainda que 
severamente, a diretoria de uma entidade. Fê-lo na condição de cidadão 
livre, ao utilizar-se de uma estação de rádio cujo programa radiofônico 
apresenta há muitos anos. A liberdade de expressão é fundamento da 
democracia brasileira, estando tal direito consagrado no artigo 5º, IV da 
Constituição Federal. (...) Ora, o autor exerceu o direito de crítica, 
ainda que áspera, ou mesmo injusta, em local público (programa 
radiofônico), fazendo considerações críticas sobre os destinos do 
movimento tradicionalista e os atos de seus dirigentes. Acaso estivesse 
a se comportar de modo inconveniente em uma festividade organizada 
pela ré, ou praticado algum ato reprovável durante atividade organizada 
pelo movimento, outra seria a situação. Mas ter opinião a respeito de 
temas como o movimento tradicionalista e externá-las é direito que a 
cada cidadão é garantido pela lei maior. A suspensão da participação do 
autor, ou sua expulsão, por exemplo, do movimento tradicionalista não 
pode ter por base a sua opinião, a sua crítica, a sua forma de ver as 
coisas, ainda que expressada de forma equivocada, injusta e 
contundente.” (TJRS, 12ª C.C., Ap. Cív. 70023491137, Rel. Des. 
Cláudio Baldino Maciel, julg. 17.04.2008). 
15 
Críticas ao MGCUBNO. O “Movimento Gnóstico Cristão Universal do Brasil na 
Nova Ordem”, unido a outras pessoas, insurgiu-se em relação ao conteúdo do livro “A 
Realidade Gnóstica”. Alegou que a obra é uma forma de difamação do movimento 
gnóstico, estando carregado de termos ofensivos. Sustentou tratar-se de ataque dirigido 
à instituição, uma vez que reproduzida parte de seu logotipo na capa do compêndio e 
 
 
20 
citado explicitamente o “Movimento Gnóstico Cristão Universal”. Com base na 
possibilidade de ‘pessoa jurídica sofrer dano moral’, como determina a Súmula 227 do 
STJ, salientou que o livro violou o nome e a reputação da instituição e de seus 
membros, os quais são reconhecidos por sua cultura, tradição e pela pregação da retidão 
moral. 
(...) Liberdade de expressão e manifestação do pensamento. Publicação 
de livro. Inexistência de abuso. Liberdade de consciência e crença 
religiosa. A publicação de livro que, hostilizando contra determinado 
movimento religioso, fundado em preconceito vigente em uma das 
correntes do cristianismo, com a clara intenção de fomentar o debate 
religioso, não caracteriza abuso da liberdade de expressão nem viola a 
honra da instituição autora. A crítica religiosa se insere entre as 
diversas formas de manifestação de pensamento, sendo assegurada aos 
cidadãos a exposição, debate e exercício de suas crenças (CF, 5º, IV e 
VI). Apelos improvidos. 
“(...) uma breve leitura do livro leva à conclusão de que a intenção dos 
escritores é de fomentar o debate religioso, e não de violar a honra da 
instituição-autora. Trata-se de um preconceito vigente em uma das 
correntes do cristianismo, que considera satânico o gnosticismo. Os 
réus nada mais fizeram do que divulgar a sua visão do movimento 
gnóstico a partir de sua crença religiosa. Saliento que a liberdade de 
crença e de consciência são direitos garantidos pela Constituição de 
1988 (art. 5º, inciso IV). Garantir a liberdade de religiosa do indivíduo 
significa assegurar que ele não será penalizado pela exposição, debate e 
exercício de suas crenças. Por isso, insere-se a crítica religiosa entre as 
diversas formas de manifestação de pensamento, cuja liberdade 
também é assegurada na Constituição, art. 5º, inciso IV. (...) É 
importante ressalvar que não estou apregoando o gozo ilimitado da 
liberdade de manifestação. Há hipóteses de colisão entre o direito de 
manifestação do pensamento com outros direitos fundamentais, como o 
de intimidade da vida privada, honra e imagem. Para esses casos de 
tensão entre os dois princípios, existem os mecanismos constitucionais 
que admitem a restriçãoda liberdade de expressão, por meio do direito 
de resposta proporcional ao agravo, e da indenização por dano material, 
moral ou à imagem (CF, art. 5º, V). Contudo, a aplicação desta reserva 
legal qualificada, depende da verificação de lesão aos direitos de 
personalidade do requerente, que aqui não ocorreu. Não abalam a honra 
de uma instituição da envergadura da autora os termos utilizados no 
texto do livro para definição dos postulados e denominação dos 
fundadores do movimento. A ao fazer referência aos iniciadores 
movimento gnóstico denominando-os de mago Simão e prostituta 
chamada Helena, os escritores não concretizam ataque à pessoa 
jurídica-demandante. Mais uma vez, o que se observa aqui é revelação 
de uma opinião decorrente a orientação religiosa dos réus, mediante 
aplicação de uma alcunha comum (mago) e de uma denominação que, 
embora pejorativa, por repetidas vezes é empregada nos próprios textos 
 
 
21 
do evangelho cristão (prostituta). O mesmo raciocínio serve para as 
demais expressões consideradas ofensivas pelos apelantes. (...) Não 
existe, aqui, qualquer acusação pública infundada, como afirmam os 
autores. Aliás, é evidente que a opinião dos réus dirige-se ao 
movimento gnóstico em geral, não havendo no corpo da obra qualquer 
acusação direta ao Movimento Gnóstico Cristão Universal do Brasil na 
Nova Ordem.” (TJRS, 10ª C.C., Aps. Cívs. nº 70005291349 e nº 
70005291661, Rel. Des. Luiz Lúcio Merg, julg. 11.09.2003) 
16 
Difamação por e-mail. Trata-se de responsabilidade civil por danos materiais e 
extrapatrimoniais, relacionados com exercício da liberdade de manifestação de 
pensamento, por meio de mensagem eletrônica. Constatou-se que pessoa certa e 
determinada teria elaborado e divulgado mensagem eletrônica (e-mail), pela internet, 
com conteúdo depreciativo em relação à qualidade da gasolina vendida em posto em 
que havia abastecido seu veículo, taxando-a de “adulterada”. Em sua defesa, tal pessoa 
limitou-se a invocar excludente de exercício regular de direito, amparada no direito do 
consumidor de reclamar pelos vícios do produto ou do serviço prestado, com base no 
art. 26 do Código de Defesa do Consumidor. Ao final, reconheceu-se que a situação 
narrada caracterizava conflito entre direitos protegidos, por um lado, pela Constituição 
(liberdade de expressão) e pelo Código de Defesa do Consumidor (direito de reclamar 
pelos vícios aparentes ou de fácil constatação perante o fornecedor de produtos e 
serviços) e, de outro, o direito à imagem, também protegido constitucionalmente. 
Destacou-se, entretanto, que nenhum direito é absoluto, nem mesmo o do consumidor, 
no que se refere à reclamação por vícios do produto ou serviço, quando exercidos 
abusivamente, violando direito de terceiro. Verificou-se que, concretamente, desbordou-
se do direito de livre expressão do pensamento, imputando à empresa fatos lesivos ao 
seu conceito no mercado. Também não se ateve ao direito assegurado no CDC. 
Constitucional, Consumidor e Processual Civil. Poderes Instrutórios do 
Juiz. Limites. Gratuidade Judiciária. Pressupostos. Liberdade de 
Expressão e Manifestação de Pensamento. Elaboração e Divulgação de 
Mensagem Eletrônica. E-Mail. Abuso. Dano Moral. Pessoa Jurídica. 
Caracterização. Indenização. Valor. Arbitramento. Critérios. 
Honorários Advocatícios. Compatibilidade com o Trabalho 
Desenvolvido. (...) O direito de reclamar por vícios do produto ou 
serviço, assegurado ao consumidor, caracteriza ilícito, quando exercido 
abusivamente, através de mensagem capaz de abalar o conceito do 
fornecedor, divulgada por meio eletrônico. (...) (TJRS, 9ª C.C., Ap. 
Cív. 70005810296, Rel. Des. Mara Larsen Chechi, julg, 29.09.2004) 
17 
Difamação de criança pela internet. Cuida-se de criança que teve seu nome divulgado 
na internet como a “segunda pior personalidade de 2000 de Passo Fundo” pelo site 
 
 
22 
“passofundo.com.br”. Da mesma forma, sua página virtual recebeu a mesma 
qualificação. Argumentou-se ter havido violação da honra e da imagem, além do ato ter 
sido praticado contra uma criança de onze anos, e que o método de apuração utilizado 
pelos réus foi baseado em votos aleatórios e anônimos. Em sua defesa, os 
desenvolvedores do site em que fora divulgada a pesquisa argumentaram que a criança 
fora indicada pelos internautas como sendo a pior personalidade do ano de 2000, bem 
como o site que a mesma mantinha na Internet. Destacaram, ainda, a natural exposição 
da autora, já que realizava atividades artísticas, sujeitando à apreciação crítica dos 
espectadores. No entanto, o TJRS decidiu que, embora a internet tenha se iniciado na 
década de 1960, ainda não havia, à época do julgado, legislação brasileira específica a 
respeito, sem que tal omissão importasse atribuir liberdade absoluta ao seu uso. Foram 
citados, como exemplos de limites legais a essa liberdade, os enunciados normativos 
aplicáveis que protegem os direitos da personalidade, dentre os quais se incluem a 
imagem, a honra, a dignidade e o respeito dos indivíduos. Por exemplo, têm-se os 
seguintes dispositivos: arts. 5º, V, X e XXXV e 227, caput, da CF; arts. 12, 17 20 e 186 
do CC 2002. 
Responsabilidade civil. Internet. Pesquisa de opinião. Criança apontada 
como a “segunda pior personalidade e primeiro pior site do ano de 
2000 em passo fundo”. Liberdade de expressão. Aparente conflito com 
o que assegura os direito da criança e a intimidade dos indivíduos. 
Danos morais configurados. Quantum indenizatório. Juros. Termo 
inicial. Ilegitimidade passiva. Preliminar afastada. Não se pode negar 
que a divulgação em site da Internet, revelando resultado da pesquisa 
de opinião feita junto aos internautas, apontando a autora, criança de 
onze anos de idade, como a “segunda pior personalidade e primeiro 
pior site do ano de 2000 em Passo Fundo”, causou constrangimentos e 
transtornos, ainda mais que a mesma mantinha grande talento artístico 
e social perante a comunidade, máxime em sendo constatada a 
alteração de seu comportamento e personalidade. Por outro lado, a 
divulgação da referida pesquisa, embora constitua exercício do direito 
constitucional de liberdade de expressão, colide com o também direito 
fundamental de que ninguém terá a imagem e a honra indevidamente 
violada ( art. 5º, X, CF 1988), e à proteção auferida à criança pelo 
ECA. (...) (TJRS, 10ª C.C., Ap. Cív. 70011738846, Rel. Des. Luiz Ary 
Vessini de Lima, julg. 15.12.2005) 
18 
O forró do hino nacional. Trata-se de caso em que se discute se uma banda pode 
gravar o hino nacional em ritmo de forró. A Lei 5.700/1971, que regulamenta a questão, 
determina enfaticamente a forma musical em que o hino nacional poderá ser executado, 
cominando punição pecuniária para o seu descumprimento. Pela leitura da Constituição 
Federal, verifica-se que também os símbolos nacionais são valores de relevância 
constitucional (art. 13 da CF 1988). Por opção do constituinte, os símbolos nacionais 
também são valores fundamentais, ainda que, na prática, a sua importância social esteja 
 
 
23 
talvez pequena. Não obstante, entende-se que se está, no caso narrado, diante de uma 
limitação ao direito fundamental à liberdade de expressão. Desta forma, qualquer 
restrição a direito fundamental, para ser válida, deve passar pelo teste da 
proporcionalidade. Dentro dessa ótica, percebe-se claramente que referida lei restringe 
excessivamente a liberdade artística. Proibir outros arranjos ao hino nacional cria, diga-
se, certa incompatibilidade com a liberdade artística "sem censuras", conforme prevista 
na Constituição Federal. Percebe-se, pois, que certamente não há uma violação ao artigo 
13 da CF 1988, mas sim um conflito entre a Lei 5.700/71 e o direito à liberdade de 
expressão. Neste sentido, tendo em conta a força objetiva dos direitos fundamentais, 
pode-se interpretar a situação no sentido de que norma superior prevalece em relação à 
normainferior. Sendo a liberdade de expressão norma presente na Constituição Federal, 
não poderia lei ordinária restringi-la imotivadamente. 
Ação civil pública. Hino nacional. Gravação em ritmo de forró. 
Disciplina legal dos símbolos nacionais. Liberdade de expressão. 
Limitação pelo estado que depende da realização de um relevante 
interesse governamental. Inexistência de tratamento desonroso ao hino 
nacional. Forró como elemento da cultura brasileira. Forma de 
expressão do amor à pátria que não pode ser imposta pela lei. 
Improcedência dos pedidos. I- A limitação legal da liberdade de 
expressão pelo Estado somente guarda compatibilidade com a 
Constituição quando tiver por objetivo a realização de um relevante 
interesse governamental. II- A liberdade de expressão deve ser 
compatibilizada com as demais normas constitucionais, observando-se 
o fim pretendido pelo agente e mantendo-se a unidade da Constituição. 
III- A gravação do Hino Nacional, em ritmo de forró, que é elemento 
da cultura brasileira, não pode ser considerada, por si só, como conduta 
desrespeitosa ao símbolo nacional. IV- O uso do Hino Nacional, nas 
mais diversas situações e circunstâncias, não o vulgariza ou banaliza de 
forma desrespeitosa, devendo ser estimulado, pois contribui para sua 
sedimentação, no âmago de cada cidadão. V- Não cabe à lei impor à 
sociedade um determinado modo de expressão do amor pela pátria, mas 
sim aceitar as diversas formas de expressão desse amor, quando mais 
quando em consonância com a cultura nacional. (...) 
O direito à liberdade de expressão não é um fim em si mesmo, mas um 
veículo pelo qual são expressas ideias e sensações, de modo que se faz 
necessário verificar a finalidade do agente. No caso, o objetivo do 
agente não era o de atacar o símbolo do Estado Brasileiro e nem o de 
denegri-lo, mas sim o de homenageá-lo. (...) Efetivamente, a disciplina 
do Hino Nacional de forma rigorosa, estabelecida na Lei 5.700/71, não 
pode ser imposta à liberdade de expressão artística, de modo que a 
discussão não deve se focar na dissonância dos padrões musicais da 
gravação efetuada pelos réus para com a Lei 5.700/71, mas sim no fim 
objeto da conduta dos demandados. Não havendo um tratamento 
desonroso do Hino, mas sendo a gravação realizada pelos réus um ato 
de elevação da pátria e do símbolo que a representa, não há de se ter 
por irregular sua conduta; quanto mais quando a restrição à liberdade 
 
 
24 
de expressão imposta pela Lei 5.700/71 não serviria, no caso, a 
qualquer interesse governamental relevante, senão a simples limitação 
da própria liberdade de expressão.Estou convencido de que o uso dos 
símbolos nacionais, nas mais diversas ocasiões e com diferentes 
finalidades, não os vulgariza ou banaliza de forma desrespeitosa. Ao 
contrário, contribui para sua sedimentação, no âmago de cada cidadão, 
de modo que não cabe à lei exigir da sociedade determinada forma de 
expressão do seu amor ao País, mas sim aceitar e reconhecer as 
diversas manifestações desse amor, respeitando-se a diversidade 
cultural. (TRF-5, 6ª V. F., ACP 99.0007308-8, Juiz Federal José 
Eduardo de Melo Vilar Filho, publ. em 21.09.2007). 
 
II. Normativa aplicável 
Constituição Federal de 1988 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se 
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à 
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) 
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; 
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por 
dano material, moral ou à imagem; 
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre 
exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de 
culto e a suas liturgias; (...) 
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, 
independentemente de censura ou licença; (...) 
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, 
quando necessário ao exercício profissional; (...) 
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob 
qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o 
disposto nesta Constituição. 
§ 1º - Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade 
de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o 
disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV. 
§ 2º - É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística. (...) 
 
 
25 
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) 
Art. 18 - Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de 
religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim 
como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto 
em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos. 
Art. 19 - Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que 
implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e 
difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de 
expressão. 
Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1.701/2003 
 (...) Art. 3º - É vedado ao médico: 
a) anunciar que trata de sistemas orgânicos, órgãos ou doenças específicas, por induzir a 
confusão com divulgação de especialidade; 
b) anunciar aparelhagem de forma a que lhe atribua capacidade privilegiada; 
c) participar de anúncios de empresas ou produtos ligados à Medicina; 
d) permitir que seu nome seja incluído em propaganda enganosa de qualquer natureza; 
e) permitir que seu nome circule em qualquer mídia, inclusive na Internet, em matérias 
desprovidas de rigor científico; 
f) fazer propaganda de método ou técnica não aceitos pela comunidade científica; 
g) expor a figura de paciente seu como forma de divulgar técnica, método ou resultado 
de tratamento, ainda que com a autorização expressa deste, ressalvado o disposto no 
artigo 10 desta resolução; 
h) anunciar a utilização de técnicas exclusivas; 
i) oferecer seus serviços através de consórcio ou similares; 
j) garantir, prometer ou insinuar bons resultados do tratamento. (...) 
Art. 8º - O médico pode, usando qualquer meio de divulgação leiga, prestar 
informações, dar entrevistas e publicar artigos versando sobre assuntos médicos de fins 
estritamente educativos. 
Art. 9º - Por ocasião das entrevistas, comunicações, publicações de artigos e 
informações ao público, o médico deve evitar sua autopromoção e sensacionalismo, 
preservando, sempre, o decoro da profissão. (...) 
 
 
 
26 
III. Bibliografia sugerida 
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais (5ª ed. 2006). Trad. de V. Afonso da 
Silva. São Paulo: Malheiros, 2008. 
BARCELLOS, Ana Paula de. Ponderação, racionalidade e atividade jurisdicional. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2005. 
BARROSO, Luís Roberto. Liberdade de expressão versus direitos da personalidade. 
Colisão de direitos fundamentais e critérios de ponderação. In Temas de direito 
constitucional, t. III, Rio de Janeiro: Renovar, 2005. 
BODIN DE MORAES, Maria Celina. O princípio da dignidade da pessoa humana. In_____. 
Princípios do direito civil contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, pp. 57-59 
CANARIS, Claus-Wilhelm. A influência dos direitos fundamentais sobre o direito 
privado na Alemanha. In Ingo W. Sarlet (org.). Constituição, direitos fundamentais e 
direito privado. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, pp. 223-243. 
CASTRO, Carlos Roberto Siqueira. Aplicação dos direitos fundamentais às relações 
privadas. In Antonio Celso Alves Pereira e Celso Renato Duvivier Albuquerque Mello 
(orgs.). Estudos em homenagem a Carlos AlbertoDireito. Rio de Janeiro: Renovar, 
2003, pp. 227-246. 
DIAS, Lucia Ancona Lopez de Magalhães. Publicidade e direito. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2010. 
HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos. Uma história. São Paulo: Cia das 
Letras, 2009. 
MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos fundamentais: eficácia das garantias constitucionais 
nas relações privadas: análise da jurisprudência da Corte Constitucional alemã. Direitos 
fundamentais e controle de constitucionalidade: estudos de direito constitucional. São 
Paulo: IBDC, 1998, pp. 207-225. 
PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Interpretação constitucional e direitos fundamentais. 
Rio de Janeiro: Renovar, 2006. 
_____. Apontamentos sobre a aplicação das normas de direito fundamental nas relações 
jurídicas entre particulares. In Luis Roberto Barroso (org.). A nova interpretação 
constitucional: ponderação, direitos fundamentais e relações privadas. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2003, pp. 119-192. 
SARLET, Ingo Wolfgang. Direitos fundamentais e Direito Privado: algumas notas sobre 
a chamada constitucionalização do direito civil. In Ingo Wolfgang Sarlet (org.). A 
constituição concretizada: construindo pontes com o público e o privado. Porto Alegre: 
Livraria do advogado, 2000, pp. 107-163. 
SARMENTO, Daniel. A liberdade de expressão e o problema do “hate speech”. In _____. 
Livres e iguais: Estudos de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. 
 
 
27 
_____. A vinculação dos particulares aos direitos fundamentais no direito comparado e 
no Brasil. In Luis Roberto Barroso (org.). A nova interpretação constitucional: 
ponderação, direitos fundamentais e relações privadas. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, 
pp. 193-284. 
_____. Direitos fundamentais e relações privadas. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. 
TEPEDINO, Gustavo. Direitos humanos e relações jurídicas privadas . In Temas de 
direito civil, 3. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, pp. 59-78. 
UBILLOS, Juan María Bilbao. ¿En qué medida vinculan a los particulares los derechos 
fundamentales? Ingo Wolgang Sarlet (org.). Constituição, direitos fundamentais e 
direito privado. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, pp. 299-338. 
 
 
28 
 
2. Igualdade racial e direito à livre iniciativa 
A consolidação do princípio da igualdade, mesmo em sua versão mais clássica e formal, 
entendida como igualdade de oportunidades, é processo histórico ainda em curso e fonte 
de diversas controvérsias. A imposição a todos os particulares de que efetuem um 
tratamento igualitário aos demais entra em potencial conflito com a liberdade 
individual. 
Em especial, a discriminação racial, historicamente construída a partir dos modelos 
econômicos escravagistas, persiste mesmo nas atuais sociedades democráticas. Seja de 
forma mais explícita, seja subrepticiamente, formas de tratamento diferenciado em 
virtude da raça ainda são condutas que se encontram em tal frequência que os 
ordenamentos se veem na necessidade de coibi-las juridicamente. 
Isto leva, a depender das formas de coibição de práticas de discriminação racial, a uma 
restrição à livre iniciativa, uma vez que os empreendedores se veem, em maior ou 
menor medida, privados de determinados aspectos de sua autonomia empresarial. 
 
I. Casos e decisões 
1 
Estatística não vale? O Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região negou ao 
Ministério Público do Trabalho pedido para inibir o Banco Real de contratar ou 
promover brancos, homens e jovens em seus quadros de funcionários. Os juízes da 
Segunda Turma do TRT decidiram que a estatística não pode ser usada como prova de 
discriminação. Para o juiz Alexandre Nery de Oliveira, a situação demonstra que apenas 
não houve, nas seleções de pessoal feitas pelo Banco Real, número de eleitos suficientes 
para ampliação do quadro de negros do banco. De acordo com o magistrado, o processo 
seletivo não apresenta vício e está de acordo com o permitido pela Convenção nº 111 da 
Organização Internacional do Trabalho, ratificada pelo Brasil. A Convenção estabelece 
que os procedimentos seletivos por mérito não envolvem discriminação, desde que não 
haja separações por grupos de indivíduos segundo raça, cor, sexo, religião, opinião 
política, ascendência nacional ou origem social. (Portal Última Instância, publicação em 
04 de março de 2008). 
2 
Já na França... A empresa Renault foi condenada ao pagamento de indenizações em 
razão de discriminação praticada contra dois de seus funcionários. Lucien Breleur e 
 
 
29 
Daniel Kotor consideravam que suas carreiras eram sub-remuneradas em relação às de 
seus colegas brancos, em função de serem oriundos do Togo e da Argélia. Depois de ter 
o pedido negado em primeira instância em 2005, os autores obtiveram ganho de causa 
na Corte de Apelação. A condenação referente ao empregado Lucien Breluer, eletricista 
de automóveis de 1971 a 2003, ficou determinada em 80 mil euros de perdas e danos e 8 
mil euros de dano moral, como reparação ao bloqueio de sua carreira e da manutenção 
de sua remuneração em um nível inferior a dos demais trabalhadores. Daniel Kotor, 
operário especializado e agente administrativo de 1983 a 2004, recebeu 60 mil euros de 
perdas e danos e 8 mil euros pelos danos morais. Após a observação de um perfil de 
evolução funcional e salarial, a Corte considerou que “os outros assalariados tiveram 
um evolução mais importante” do que a de Lucien e Daniel. (Le Figaro.fr, publicação 
de 02 de abril de 2008). 
3 
Chineses negros. A Alta Corte da África do Sul, em Pretória, decidiu que os chineses 
que vivem no país devem passar a ser considerados como cidadãos negros. A mudança 
era uma reivindicação dos próprios chineses (cerca de 200 mil), que agora poderão se 
beneficiar das políticas governamentais que procuram acabar com o domínio dos 
brancos no setor privado da economia. A Associação Chinesa da África do Sul decidiu 
apresentar o pedido ao Tribunal dizendo que os membros da comunidade sofriam 
discriminação – tendo dificuldade em se qualificar para contratos comerciais e 
promoções de trabalho porque eram considerados brancos; mas, durante o período do 
apartheid eram classificados como “de cor”. A decisão judicial encerra uma batalha de 
oito anos da comunidade chinesa sul-africana para ter as mesmas vantagens dos negros, 
índios e pardos. (BBCBrasil.com, publicação de 18 de junho de 2008). Disponível em 
<http://news.bbc.co.uk/2/hi/africa/7461099.stm>, acesso em 18 dez. 2010. 
4 
A bordo. A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça negou, por unanimidade, o 
pedido de habeas corpus de dois comissários da American Airlines, acusados de 
racismo, para que fossem interrogados nos Estados Unidos, onde residem. Os 
comissários de bordo norte-americanos Shaw Tipton Scott e Mathew Gonçalves, terão 
que prestar depoimento à Justiça brasileira no processo a que respondem. Os dois 
comissários foram processados por agressão a um passageiro brasileiro em junho de 
1998, durante um voo da Companhia que saía de Nova Iorque com destino ao Rio de 
Janeiro. Depois de um desentendimento com o passageiro por causa de assento, Scott 
teria dito a ele: “Amanhã vou acordar jovem, bonito, orgulhoso, rico e sendo um 
poderoso americano, e você vai acordar como safado, depravado, repulsivo, canalha e 
miserável brasileiro”. Seguindo o voto do relator, ministro Felix Fischer, a Quinta 
Turma decidiu, por maioria, manter a ação penal por entender que a intenção dos 
comissários foi humilhar o passageiro exclusivamente pelo fato de ele ser brasileiro. A 
ideia foi ressaltar a superioridade do povo norte americano e a condição inferior do 
 
 
30 
povo brasileiro. Assim, a maioria dos ministros considerou que houve agressão à 
coletividade brasileira e que suas condutas, em tese, se subsumem ao tipo legal do art. 
20, da Lei nº 7.716/1986. (STJ, 5ª T., RHC 19166/RJ, Recurso Ordinário em Habeas 
Corpus 2006/0049804-8, julg. em 24.10.2006, publ. 20.11.2006).

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