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DIREITO AGRARIO

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DIREITO 
APLICADO AO 
AGRONEGÓCIO
Luiz Fernando Pereira
Desapropriação de terras 
para reforma agrária 
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Apresentar a desapropriação de terras segundo o Estatuto da Terra.
  Entender o processo de desapropriação por reforma agrária.
  Conhecer a fase judicial da desapropriação de imóveis rurais.
Introdução
Durante os séculos que se sucederam ao descobrimento, a ocupação 
do território brasileiro foi definida pelas medidas políticas tomadas pela 
Coroa portuguesa, inicialmente implantando o regime de sesmarias, 
com o objetivo de produzir alimentos e riqueza, proteger o território da 
Coroa frente a nações ou povos estrangeiros e incentivar o povoamento. 
Esse regime consistia na concessão de uma área de terra ao sesmeiro, 
que deveria cultivar o solo sob pena de ter o direito de posse cassado. 
Cumprindo as exigências do estatuto jurídico da sesmaria, o sesmeiro se 
tornava dono da propriedade.
Uma das primeiras leis brasileiras relacionadas ao direito agrário foi 
a de nº. 601, de 18 de setembro de 1850, chamada Lei de Terras. Ela 
estabeleceu a compra como a única forma de acesso à terra, abolindo 
em definitivo o regime de sesmarias, mas também revalidando aquelas 
posses já existentes.
Esse é, portanto, o marco inicial da questão fundiária. Em vista desse 
modelo de ocupação centralizador de terras, os movimentos de campo-
neses e trabalhadores do campo começaram a reivindicar ao governo 
uma distribuição mais justa, culminando com a edição da Lei nº. 4.132, 
de 10 de setembro de 1962, logo sucedida pelo Estatuto da Terra. Essas 
normas regulamentaram a desapropriação para fins de reforma agrária.
A questão da reforma agrária enfrenta problemas históricos, com 
finais trágicos tanto para proprietários quanto para reivindicantes. Mesmo 
em áreas onde os procedimentos de desapropriação são concluídos, o 
governo peca pela carência de apoio técnico e financeiro aos beneficiários 
dos novos lotes. Isso deixa claro que a reforma agrária não é somente um 
processo de distribuição de terras, necessitando também de um projeto 
pós-loteamento.
Com base nesse breve compilado histórico, que possui relação estreita 
com o tema deste capítulo, você vai estudar os procedimentos de desa-
propriação de terras para a reforma agrária, verificando as disposições do 
Estatuto da Terra acerca do tema. Você também vai analisar o processo 
administrativo conduzido pelo Instituto Nacional de Colonização e Re-
forma Agrária (Incra), bem como o processo judicial.
O Estatuto da Terra
Anteriormente ao Estatuto da Terra, a primeira norma a regular a desapropria-
ção no Brasil, de que se tem notícia, é o Decreto de 21 de maio de 1821, que 
estabelecia a proibição de se tomar alguma coisa de qualquer cidadão sem a 
sua vontade. Posteriormente, a Constituição Política do Império do Brasil de 
1824, a primeira Constituição brasileira, garantia a propriedade, mas também 
a possibilidade de desapropriação mediante a prévia indenização do valor 
do imóvel, se o bem público exigisse a propriedade do cidadão, ou seja, se a 
necessidade pública assim exigisse.
No entanto, a lei que definiu os casos em que poderia ser desapropriado o 
imóvel por interesse social e dispôs sobre sua aplicação foi a Lei nº. 4.132/1962, 
logo sucedida pelo Estatuto da Terra — Lei nº. 4.504, de 30 de novembro de 
1964 —, essa última editada durante o governo militar.
Para compreendermos a desapropriação de terras tratada pelo Estatuto 
da Terra, vamos fazer um compilado dos dispositivos mais importantes da 
norma, comentando assim definições, objetivos, características e meios para 
a reforma agrária, segundo a lei em estudo.
É importante lembrarmos aqui que o Estatuto da Terra foi a lei que concebeu 
a função social da propriedade, dispondo que é assegurada a oportunidade de 
acesso à propriedade da terra, contanto que a propriedade desempenhe inte-
gralmente a sua função social. Verificamos então que, excetuadas a pequena 
e média propriedade, conforme disposição da Constituição Federal de 1988, 
caso o proprietário não atenda aos critérios exigidos para o cumprimento da 
função social da propriedade previstos tanto no Estatuto da Terra quanto na 
Constituição, estará sujeito a ter seu imóvel declarado como desapropriável.
Desapropriação de terras para reforma agrária2
Para adentrarmos no tema, é necessário termos uma exata definição do 
que é o programa da reforma agrária, criado pelo governo e implementado 
pela legislação agrária brasileira, como forma de democratização. 
Conforme o art. 1°, § 1°, do Estatuto da Terra (BRASIL, 1964, documento 
on-line), “[...] considera-se reforma agrária o conjunto de medidas que visem a 
promover melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime de 
sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e ao aumento 
de produtividade.” 
O Estatuto Rural dedica um título exclusivo para tratar da reforma agrária, 
estabelecendo o objetivo do acesso à propriedade rural no art. 16, com o 
seguinte texto: 
A Reforma Agrária visa a estabelecer um sistema de relações entre o homem, 
a propriedade rural e o uso da terra, capaz de promover a justiça social, o 
progresso e o bem-estar do trabalhador rural e o desenvolvimento econômico 
do país, com a gradual extinção do minifúndio e do latifúndio” (BRASIL, 
1964, documento on-line). 
Logo no artigo subsequente, fica definido que “O acesso à propriedade 
rural será promovido mediante a distribuição ou a redistribuição de terras, pela 
execução de [...]” (BRASIL, 1964, documento on-line), entre outras medidas, 
a desapropriação por interesse social.
Mesmo parecendo óbvio, surge a necessidade de se conceituar o termo 
interesse social. Veremos que não é tão óbvio assim. Para Gischkow (1988), 
o interesse social se caracteriza quando a desapropriação se destina a so-
lucionar problemas de ordem social, com fins de atender às classes pobres 
da sociedade, aos trabalhadores desamparados e à massa do povo em geral, 
visando à melhoria nas condições de vida desses cidadãos, a uma distribuição 
mais equitativa de riqueza e à atenuação das desigualdades sociais, a partir 
de planos de habitações populares ou de distribuição de terras.
Sabendo o conceito de interesse social, voltamos às disposições do Estatuto 
da Terra, que elencou, em seu art. 18, as finalidades da desapropriação por 
interesse social, discriminando as hipóteses que autorizam essa forma de 
desapropriação: condicionar o uso da terra à sua função social ;
[...] promover a justa e adequada distribuição da propriedade; obrigar a ex-
ploração racional da terra; permitir a recuperação social e econômica de 
regiões; estimular pesquisas pioneiras, experimentação, demonstração e 
assistência técnica; efetuar obras de renovação, melhoria e valorização dos 
3Desapropriação de terras para reforma agrária
recursos naturais; incrementar a eletrificação e a industrialização no meio 
rural; facultar a criação de áreas de proteção à fauna, à flora ou a outros 
recursos naturais, a fim de preservá-los de atividades predatórias (BRASIL, 
1964, documento on-line).
O Estatuto da Terra prevê que a desapropriação poder recair sobre todo o bem ou 
sobre parte dele. No caso de uma desapropriação parcial, poderá ser solicitada pelo 
expropriado a extensão da desapropriação sobre a outra parte, que restou inócua e 
inservível. Esse direito é expressamente reconhecido no artigo 19 do Estatuto da Terra.
É importante agora sabermos qual é a destinação dada pelo governo a essas 
propriedades expropriadas, já que, a partir do momento em que o processo 
expropriatório é concluído, transitando em julgado a ação judicial de desa-
propriação, passa a compor o patrimônio do Instituto Brasileiro da Reforma 
Agrária, autarquia criada pelo Estatuto da Terra, diretamente subordinada à 
Presidência da República.
Já estudamos que a finalidade maior da desapropriação de terras para 
reforma agráriaé a igualitária e justa distribuição de terras, concedendo o 
acesso à terra e seu cultivo aos trabalhadores rurais. No entanto, a Lei que 
estamos estudando estabelece, em seu art. 24, para quem e quais são as formas 
de distribuição das terras desapropriadas, sendo elas:
  sob a forma de propriedade familiar [...];
  a agricultores cujos imóveis rurais sejam comprovadamente insuficientes 
para o sustento próprio e o de sua família;
  para a formação de glebas destinadas à exploração extrativa, agrícola, 
pecuária ou agroindustrial, por associações de agricultores organizadas 
sob regime cooperativo;
  para fins de realização, a cargo do Poder Público, de atividades de 
demonstração educativa, de pesquisa, experimentação, assistência 
técnica e de organização de colônias-escolas;
  para fins de reflorestamento ou de conservação de reservas florestais 
a cargo da União, dos Estados ou dos Municípios (BRASIL, 1964, 
documento on-line).
Desapropriação de terras para reforma agrária4
Veja que, apesar de a lei não dispor sobre ordem de preferência, enumera 
a destinação das terras desapropriadas de forma a priorizar os trabalhadores 
rurais que não possuem imóvel para produzir ou, ainda, aqueles que possuem 
imóvel insuficiente para produção.
De acordo com o Estatuto da Terra, o proprietário do imóvel desapropriado, desde 
que venha a explorar a parcela, diretamente ou por intermédio de sua família, poderá 
adquiri-la novamente, nos moldes estabelecidos pela lei. Não poderá adquirir a pro-
priedade integralmente, mas apenas o lote concedido ao expropriado, investido na 
condição de parceleiro. 
O parceleiro, conforme conceituação dada pelo Estatuto, é “[...] aquele que 
venha a adquirir lotes ou parcelas em área destinada à Reforma Agrária ou 
à colonização pública ou privada” (BRASIL, 1964, documento on-line), ou 
seja, é o beneficiário do programa da reforma agrária.
Para fins de distribuição das terras desapropriadas em forma de lotes, 
poderão adquirir tais parcelas apenas os trabalhadores sem-terra, salvo exce-
ções previstas na própria lei, sendo que terão prioridade os chefes de famílias 
numerosas, cujos membros se proponham a exercer atividade agrícola na área 
a ser distribuída.
Fazendo um compilado dos artigos que tratam das exigências relativas 
aos beneficiários, após receber a área do Incra por meio do título de domínio, 
da concessão de uso ou da concessão de direito real de uso (erga omnes), o 
beneficiário deve cumprir algumas exigências, tais como:
  não vender ou ceder a área pelo período de 10 anos, conforme determina 
o art. 189 da CF/88;
  não ser proprietário de terreno rural, de indústria ou comércio, ou 
funcionário público federal, estadual ou municipal;
  residir com sua família na parcela, explorando-a direta e pessoalmente;
  possuir boa sanidade física e mental e bons antecedentes e demonstrar 
capacidade empresarial para gerência do lote na forma projetada;
5Desapropriação de terras para reforma agrária
  cumprir a legislação ambiental, para também continuar cumprindo a 
função social da propriedade que anteriormente foi desapropriada com 
esse fundamento.
A desapropriação para reforma agrária
Segundo Mello (2001, p. 711):
[...] desapropriação se define como o procedimento através do qual o Poder 
Público, fundado em necessidade pública, utilidade pública ou interesse 
social, compulsoriamente despoja alguém de um bem certo, normalmente 
adquirindo-o para si, em caráter originário, mediante indenização prévia, justa 
e pagável em dinheiro, salvo no caso de certos imóveis urbanos ou rurais, em 
que, por estarem em desacordo com a função social legalmente caracterizada 
para eles, a indenização far-se-á em títulos da dívida pública, resgatáveis em 
parcelas anuais e sucessivas, preservado seu valor real.
Neste estudo, estamos tratando acerca da propriedade rural. Porém, evi-
dentemente, a desapropriação pode ocorrer tanto sobre imóvel rural quanto 
urbano e, até mesmo, recair sobre bens móveis, cabendo frisar aqui que a 
função social da propriedade é aplicável a todos os imóveis.
Pausen (1997) julga ser essencial compreender que a desapropriação é 
apenas um dos instrumentos que a União pode utilizar para promover a reforma 
agrária, não sendo, portanto, um caminho necessário e, muito menos, desejá-
vel, já que existem outros instrumentos mais adequados e menos traumáticos 
para se alcançar uma melhor situação fundiária. Por exemplo: a tributação 
progressiva e efetiva da terra improdutiva, o incentivo à realização de contratos 
de parceria e arrendamento e a utilização de terras públicas, que já são de 
domínio da União.
A Lei nº. 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, chamada Lei Material da Re-
forma Agrária, dispõe sobre a regulamentação dos dispositivos constitucionais 
relativos à reforma agrária, estabelecendo como será feito o procedimento 
administrativo para fins de reforma agrária, desde o momento de notificação 
inicial para ingresso em determinado imóvel para levantamento de dados. Essa 
norma dispõe acerca dos conceitos e das penalidades para certas situações, da 
prévia e justa indenização, dos critérios de aferição da produtividade da pro-
priedade rural, entre outras particularidades que serão estudadas na sequência.
A Lei em estudo repete nos exatos termos do texto constitucional os requi-
sitos para cumprimento da função social da propriedade, estabelecendo que 
Desapropriação de terras para reforma agrária6
“A propriedade rural que não cumprir a função social é passível de desapro-
priação, competindo à União desapropriar por interesse social, para fins de 
reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social” 
(BRASIL, 1993b, documento on-line).
O Incra tem como objetivo prioritário executar a reforma agrária e realizar 
o ordenamento fundiário nacional, utilizando-se de fatores como a localização 
em áreas definidas como prioritárias pelo órgão, a extensão do imóvel e o 
histórico da região. Com base em informações cartorárias, o Incra identifica 
o imóvel rural que esteja efetivamente em desacordo com a função social da 
propriedade, dando, assim, abertura para um processo de desapropriação.
Após tal identificação, no intuito de cientificar acerca da realização da 
vistoria preliminar em breve, o ato que inaugura o procedimento administrativo 
de desapropriação é a notificação prévia encaminhada ao proprietário, preposto 
ou representante, ou, ainda, a publicação por três vezes consecutivas em jornal 
de grande circulação, para o caso de não ser encontrado. Tudo conforme os 
parágrafos do art. 2º da Lei nº. 8.629/1993 (BRASIL, 1993b).
Veja que, desde o início de um procedimento de desapropriação, seja 
em fase administrativa ou judicial, deve haver um estrito cumprimento dos 
princípios constitucionais que garantem a ampla defesa e o contraditório, 
sempre respeitando o devido processo legal, a exemplo da obrigatoriedade de 
notificação prévia do proprietário para realização da vistoria inicial.
Para Pausen (1997, p. 94), a notificação prévia: 
Também serve para que, ciente do procedimento, o proprietário possa acom-
panhá-lo, disponibilizando aos técnicos as informações que possua a respeito 
da produtividade do seu imóvel e verificando, pessoalmente ou mediante 
assistente técnico, os critérios adotados nas medições realizadas (medições 
da área do imóvel, do grau de utilização da propriedade, da intensidade da 
exploração etc.), de forma que, se a conclusão do Incra lhe for desfavorável, 
possa armar-se para combatê-la administrativa ou judicialmente [...].
Nesse momento inicial, o objetivo do órgão responsável é verificar in loco 
a produtividade do imóvel, conforme a previsão do art. 6° da referida Lei, que 
considera produtivo o imóvel que atinge, simultaneamente, o grau de utilização 
da terra e o grau de eficiência na exploração da terra. O grau de utilização deve 
ser igual ou superior a 80%, calculado pela relação percentual entre a área 
efetivamente utilizada e a área aproveitáveltotal do imóvel, enquanto o grau 
de eficiência deverá ser igual ou superior a 100%. Os índices utilizados para 
esses cálculos são fixados pelo Incra, considerando-se as diversas caracterís-
ticas dos imóveis, os tipos de produção e a realidade rural de cada município.
7Desapropriação de terras para reforma agrária
Voltando ao art. 2°, seu § 6° estabelece ainda que:
O imóvel rural de domínio público ou particular objeto de esbulho possessório 
ou invasão motivada por conflito agrário ou fundiário de caráter coletivo 
não será vistoriado, avaliado ou desapropriado nos dois anos seguintes à sua 
desocupação, ou no dobro desse prazo, em caso de reincidência; e deverá 
ser apurada a responsabilidade civil e administrativa de quem concorra com 
qualquer ato omissivo ou comissivo que propicie o descumprimento dessas 
vedações (BRASIL, 1993b, documento on-line).
O pretendente ao benefício de loteamento, cadastrado no Programa de 
Reforma Agrária do Governo Federal, ou o beneficiado que já esteja na posse 
de um lote, que participar direta ou indiretamente em conflito fundiário e for 
efetivamente identificado como invasor ou iminente invasor, será excluído do 
programa. Mais uma vez a lei garante o devido processo legal, repudiando 
ilegalidades nas questões fundiárias e coibindo possíveis invasões, que nor-
malmente são promovidas pelos movimentos sociais pró-reforma agrária.
A Lei em estudo regulamenta também a previsão legal, já estabelecida pela 
CF/88, referente à prévia e justa indenização do expropriado. O pagamento da 
indenização, feito por meio de resgate dos títulos da dívida agrária, é realizado 
no prazo de até 20 anos. Já as benfeitorias úteis e necessárias são indenizadas 
em dinheiro, enquanto as voluptuárias são acrescidas ao montante indenizatório 
fixado para a terra nua, sendo recebido também por meio de resgate de TDAs.
Conhecendo os tipos de benfeitorias, seus conceitos e exemplos:
  Necessárias: são aquelas que se destinam à conservação do imóvel, evitando que 
ele se deteriore. Exemplos: reparo de um mangueiro de gado; reparo de um galpão.
  Úteis: são aquelas que facilitam e otimizam o uso do imóvel para a finalidade a 
que é proposto. Exemplos: construção de tanque para abastecimento de água aos 
animais; construção de mangueiro para o gado.
  Voluptuárias: são aquelas que não possuem uma funcionalidade propriamente 
útil, mas tornam o imóvel mais bonito ou agradável. Exemplo: construção de uma 
piscina, lago ou qualquer tipo de área de lazer na sede de um imóvel rural.
Após a vistoria, o Incra faz uma avaliação da terra nua e das benfeitorias 
do imóvel. As benfeitorias devem ser pagas em dinheiro, à vista, e o valor da 
Desapropriação de terras para reforma agrária8
terra é pago por meio do lançamento de títulos da dívida agrária, pela secretaria 
de Tesouro Nacional, conforme explica Scolese (2005).
Segundo Mello (2009, p. 877):
Indenização justa, prevista no art. 5°, XXIV, da Constituição, é aquele que 
corresponde real e efetivamente ao valor do bem expropriado, ou seja, aquela 
cuja importância deixo o expropriado absolutamente indene, sem prejuízo 
algum ao seu patrimônio. Indenização justa é a que se consubstancia em 
importância que habilita o proprietário a adquirir outro bem perfeitamente 
equivalente e o exime de qualquer detrimento.
Outro ponto importante é o fato de que são igualmente passíveis de inde-
nização os eventuais prejuízos suportados pelo desapropriado no decorrer do 
processo administrativo e judicial, causados por ato do Estado.
Sobre o valor de indenização, cujo pagamento é feito via resgate de TDAs, 
incide correção monetária — já que os títulos conterão cláusula de preservação 
de seu valor real —, mas não incidem juros sobre as parcelas. As exceções 
que garantem a incidência de juros legais são pontualmente previstas pela 
Lei, quando houver atraso no pagamento da indenização e quando houver a 
imissão antecipada do expropriante (Estado) na posse do bem, pelo fato de 
ficar o proprietário privado do uso regular do imóvel antes de efetivamente 
finalizado o processo de desapropriação.
Frequentemente, em processos de desapropriação, a indenização do imóvel 
é a questão mais conflituosa, já que raras são as ocasiões em que o proprietário 
do imóvel declarado como desapropriável não contesta o valor fixado à título 
de indenização. 
Após o regular trâmite do processo administrativo perante o Incra, quando 
verificado e concluído que o imóvel não é produtivo, este concluirá ser o 
imóvel passível de desapropriação por interesse social. Após o processo ser 
analisado por outras divisões dentro do próprio órgão, será encaminhado à 
Procuradoria do Estado que, verificando não haver irregularidades, devolverá 
para apreciação final do Superintendente Regional do Incra, que, aprovando 
a proposta de desapropriação, remeterá o processo aos órgãos federais em 
Brasília.
Devidamente apreciado, realizados os atos administrativos cabíveis e apro-
vado o processo pelo Incra federal e pelo secretário da Agricultura Familiar 
e Desenvolvimento Agrário, finalmente será encaminhado ao presidente da 
República para apreciação pelo executivo, edição e publicação do decreto 
declaratório de desapropriação.
9Desapropriação de terras para reforma agrária
Até esse momento, o imóvel é apenas indicado como uma área possivel-
mente passível de desapropriação por interesse social nos moldes da legislação, 
e ainda poderá o proprietário lançar uso de medidas judiciais para denunciar 
a eventual coação por parte do Estado durante o procedimento.
Publicado o decreto presidencial, terá a União — por meio do Incra — o 
prazo de dois anos para ingressar com a ação de desapropriação perante a 
Justiça Federal da comarca da localização do imóvel, sendo que, decorrido 
esse prazo, somente poderá distribuir nova ação após a publicação de novo 
decreto presidencial, observando-se o lapso temporal mínimo de um ano. 
Fase judicial da desapropriação de imóveis 
rurais
Durante o procedimento de desapropriação para fi ns de reforma agrária, são 
tomadas decisões pelo Poder Público que podem ser contestadas administrativa 
ou judicialmente, podendo surgir, assim, processos judiciais que discutam 
eventuais irregularidades cometidas dentro do processo administrativo con-
duzido pelo Incra.
Além disso, caso haja ameaça, turbação, ou, ainda, esbulho possessório, 
durante a fase administrativa, poderá o proprietário:
  ingressar com a ação de interdito proibitório, quando sentir-se ameaçado 
e na iminência de o seu imóvel ser invadido;
  ingressar com a ação de manutenção de posse, buscando sob a tutela do 
Estado manter-se na posse do imóvel, sem a limitação ilegal imposta 
por terceiros; ou
  ingressar com a ação de reintegração de posse, visando à sua imissão 
na posse do imóvel invadido e tomado integralmente.
Em tais demandas, poderá ser pleiteada a tutela cautelar de caráter antece-
dente, conforme previsão da Lei Processual Civil brasileira, a fim de se obter 
liminarmente o pedido final da ação.
Desapropriação de terras para reforma agrária10
Conheça os conceitos dos institutos que caracterizam a perturbação do sossego 
pessoal, familiar e social, no que tange ao direito de propriedade:
  Ameaça: caracteriza-se pela violência ou, tão somente, sua iminência, podendo 
visar à obstrução da locomoção de pessoas ou promover o ingresso de pessoas 
em propriedade privada.
  Turbação: são sinônimo do termo as palavras perturbação e incômodo, traduzindo 
o instituto a prática de atos abusivos que podem limitar a posse plena da proprie-
dade privada, podendo ser caracterizada pela destruição de cerca limítrofe ou pelo 
trânsito de terceiros em propriedade alheia, entre outros.
  Esbulho: é o ato de terceiro que, de forma ilegítima, toma a posse de coisa alheia 
fazendo uso da violência, impondo a perda do direito da posse da propriedade.
Ainda, outra situação em que o proprietário poderá acionar o judiciário 
é aquela na qual, durante a fase administrativa,logo após a vistoria inicial 
que classifica o imóvel como improdutivo, tal decisão do Incra é atacada 
judicialmente. Nesse caso, o proprietário utiliza-se de argumentos como o fato 
de possuir apenas uma pequena ou média propriedade, encaixando-se como 
insuscetível de desapropriação, conforme exceção conferida pela legislação, 
ou, ainda, sendo proprietário de mais de uma, ou de uma grande propriedade, 
demonstra que ela é produtiva.
Feitas tais considerações iniciais, passemos para o estudo da fase judicial 
da desapropriação propriamente dita. A fase judicial inicia-se logo após a 
publicação do decreto presidencial declaratório de desapropriação do imóvel 
improdutivo, quando da distribuição da competente ação de desapropriação 
pela União, por meio da Procuradoria do Incra regional.
A partir do momento em que é publicado o decreto, como vimos, o órgão 
competente possui o prazo de dois anos para ingressar com a ação de desa-
propriação perante a Justiça Federal, sob pena de decadência do direito, sendo 
que, em caso de perda do prazo, deverá ser respeitado o lapso temporal de um 
ano para que seja publicado novo decreto expropriatório.
A Lei Complementar nº. 76, de 6 de julho de 1993, chamada Lei Proces-
sual da Reforma Agrária, que dispõe sobre o procedimento contraditório 
especial, de rito sumário, para o processo de desapropriação de imóvel rural 
por interesse social, para fins de reforma agrária, alterada parcialmente pela 
11Desapropriação de terras para reforma agrária
Lei Complementar nº. 88, de 23 de dezembro de 1996, estabelece os seguintes 
procedimentos iniciais: 
I. o presidente da República pode declarar o imóvel de interesse social 
para fins de reforma agrária por meio de decreto expropriatório (art. 
2º da LC nº. 76);
II. o Incra deve propor a ação de desapropriação junto ao juiz federal 
competente (§ 1º do art. 2º da mesma Lei), dentro do prazo máximo de 
dois anos, contado da publicação do decreto desapropriatório (art. 3º da 
LC nº. 76), devendo a petição inicial preencher os requisitos processuais 
cíveis, conter a oferta do preço e os documentos probatórios previstos 
no art. 5º da LC nº. 76 e no art. 1º da LC nº. 88, entre eles o decreto 
declaratório de interesse social para fins de reforma agrária, o laudo 
de vistoria e avaliação do imóvel, a relação das benfeitorias, o “com-
provante de lançamento dos Títulos da Dívida Agrária correspondente 
ao valor ofertado para pagamento da terra nua” e o comprovante de 
depósito correspondente ao valor ofertado pelas benfeitorias;
III. o juiz federal competente terá o prazo de 48 horas para despachar a 
petição inicial, “mandará imitir o autor na posse do imóvel” e expedirá 
mandado ordenando a averbação do ajuizamento da ação no registro 
do imóvel expropriado, para conhecimento de terceiros (art. 6°, incisos 
I, II e III da LC nº. 76) (BRASIL, 1993a).
Após esses procedimentos iniciais, devidamente citado o proprietário, 
este poderá contestar o pedido inicial no prazo legal de 15 dias e indicar, caso 
queira, um assistente técnico para acompanhar a futura perícia.
A Lei Processual da Reforma Agrária limita a matéria de defesa quando 
exclui a possibilidade de apreciação do interesse social declarado (art. 9°, da 
LC nº. 76/1993) pelo proprietário, já que na ação de desapropriação, a con-
testação ou a resposta do expropriado deve se restringir à alegação de vício 
do processo ou à impugnação do preço da oferta. Isso se deve ao fato de que, 
se o desapropriado pudesse discutir o mérito na desapropriação, teríamos o 
caos total e ninguém conseguiria desapropriar coisa alguma, não podendo, 
portanto, o demandado discutir o mérito do decreto presidencial, como defende 
Maluf (1999).
No entanto, como a lei exige a juntada de alguns documentos pela União em 
petição inicial, excluindo da contestação o direito de apreciação do interesse 
social declarado, mas permitindo a discussão do mérito quanto aos docu-
mentos, a norma autoriza o Judiciário a entrar no mérito da desapropriação. 
Desapropriação de terras para reforma agrária12
Tal fato abre espaço para minuciosa apreciação do juízo, sendo certo que o 
ideal seria a lei indicar explicitamente os pontos sobre os quais poderia ser 
discutida a contestação.
Após receber a contestação, o juiz determinará a realização de prova 
pericial, designando um perito judicial, formulando os quesitos que entender 
necessários e concedendo às partes a apresentação de seus quesitos (art. 9°, 
§ 1° e incisos da LC nº. 76/1993) (BRASIL, 1993a).
Conforme o art. 10 da referida Lei, concluída a perícia que avalia o imóvel 
e define o seu valor, poderá haver acordo sobre o preço a ser homologado 
por sentença. Porém, não havendo acordo, o valor que vier a ser acrescido ao 
depósito inicial por força de laudo pericial acolhido pelo Juiz será depositado 
em espécie para as benfeitorias, juntado aos autos o comprovante de lançamento 
de títulos da dívida agrária para terra nua, como forma de integralização dos 
valores ofertados.
Importante expor também que o direito de extensão, já conferido pelo Es-
tatuto da Terra, também é estabelecido pelo art. 4° e incisos da Lei Processual 
da Reforma Agrária, permitindo que o proprietário requeira a desapropriação 
de todo o imóvel desapropriado parcialmente, quando a área remanescente 
ficar “[...] reduzida a superfície inferior à da pequena propriedade rural; ou 
prejudicada substancialmente em suas condições de exploração econômica, 
caso seja o seu valor inferior ao da parte desapropriada” (BRASIL, 1993a, 
documento on-line).
Finalmente, será proferida a sentença na audiência de instrução e julgamento 
ou em 30 dias após a fundamentação que motivou seu convencimento, devendo 
o magistrado se ater a pontos relevantes estabelecidos pela lei, cabendo recurso 
de apelação apenas contra a sentença que fixar o preço da indenização (arts. 
12 e 13 da LC nº. 76/1993) (BRASIL, 1993a).
13Desapropriação de terras para reforma agrária
BRASIL. Lei Complementar nº 76, de 6 de julho de 1993a. Dispõe sobre o procedimento 
contraditório especial, de rito sumário, para o processo de desapropriação de imóvel 
rural, por interesse social, para fins de reforma agrária. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp76.htm>. Acesso em: 3 jul. 2018.
BRASIL. Lei Complementar nº 88, de 23 de dezembro de 1996. Altera a redação dos arts. 
5°, 6°, 10 e 17 da Lei Complementar n° 76, de 6 de julho de 1993, que dispõe sobre o 
procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o processo de desapro-
priação de imóvel rural, por interesse social, para fins de reforma agrária. Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp88.htm>. Acesso em: 3 jul. 2018.
BRASIL. Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964. Dispõe sobre o Estatuto da Terra, e 
dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
L4504.htm>. Acesso em: 3 jul. 2018.
BRASIL. Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993b. Dispõe sobre a regulamentação dos 
dispositivos constitucionais relativos à reforma agrária, previstos no Capítulo III, Título 
VII, da Constituição Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/L8629compilado.htm>. Acesso em: 3 jul. 2018.
GISCHKOW, E. A. M. Princípios de direito agrário: desapropriação e reforma agrária. 
São Paulo: Saraiva, 1988. 
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MEIRELLES, H. L. Direito administrativo brasileiro. 33. ed. atual. São Paulo: Malheiros, 2007.
MELLO, C. A. B. de. Curso de direito administrativo. 13. ed. São Paulo: Malheiros, 2001.
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PAULSEN, L. Desapropriação e reforma agrária. Porto Alegre: Livraria do Advogado. 1997. 
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Desapropriação de terras para reforma agrária14
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