Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 DESAPROPRIAÇÃO Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a desapropriação é o procedimento administrativo pelo qual o Poder Público ou seus delegados mediante prévia declaração de necessidade pública, utilidade pública ou interesse social, impõe ao proprietário a perda de um bem, substituindo-o por justa indenização. Entende-se com isso, que a desapropriação é a transferência de uma propriedade particular para o Poder Estatal, mediante um pagamento justo e prévio de indenização. Nesse sentido, prevalece o interesse público sobre o particular, a fim de atender as necessidades coletivas. Para que possa ser realizada a desapropriação, devem ser seguidos alguns requisitos, tendo, primeiramente, que ser fundamentada pelo Poder Público, devendo ser por interesse público, necessidade ou utilidade publica, ou por interesse social, conforme trás a Constituição Federal de 1988 no seu artigo 5º, inciso XXIV. A desapropriação possui duas fases: a declaratória e a executória. A fase declaratória é a etapa administrativa, onde é dada uma declaração pública, a qual individualiza o bem a ser desapropriado, sendo este publicado em Imprensa Oficial, contendo a descrição do bem e a finalidade da desapropriação, para que não haja qualquer dúvida sobre o objeto a ser expropriado. A fase executória corresponde às providências concretas para efetivar a transferência do bem do particular ao Poder Público, consubstanciada na declaração de utilidade pública, a qual se subdivide em executória judicial que se inicia no momento em que a administração arbitra o valor da indenização e a extrajudicial, que ocorre quando o expropriante e expropriado acordam sobre o preço do bem a ser desapropriado compulsoriamente, operando- se, então, sem intervenção do poder judiciário. 2 TIPOS DE DESAPROPRIAÇÃO Existem dois tipos de desapropriação, a primeira, é a desapropriação ordinária, aquela que ocorre quando tem uma necessidade pública, utilidade pública ou interesse social para com o bem, correspondendo aos princípios da precedência, justiça e pecuniariedade, devendo ser previa, justa, e em dinheiro, como por exemplo, no caso onde a prefeitura desapropria um terreno para a construção de um posto de saúde. A segunda será a desapropriação extraordinária, ela ocorrerá quando o bem descumprir a sua função social, seja na área urbana para fim de seguimento ao plano diretor ou para fim de reforma agraria. 3 PARTES Elas serão chamadas de agente expropriante (Poder Público) e de agente expropriado (indivíduo, pessoa física ou jurídica que sofra a desapropriação). Nos casos de desapropriação rural, vale ressaltar, que o expropriante será sempre a União, podendo o mesmo delegar sua função a outro órgão da administração indireta, como o INCRA. 4 CONTESTAÇÃO O artigo 20 do Decreto-Lei nº 3.365/1941 diz que: “a contestação só poderá versar sobre vício do processo judicial ou impugnação do preço; qualquer outra questão deverá ser decidida por ação direta”, em outras palavras, qualquer outra questão que não esteja vinculada com essas duas opções, deverá ser tratada na via ordinária, porém, quase todas as contestações nas ações de desapropriação versam sobre uma impugnação do preço. 5 PROVA Será marcada pelo juiz uma audiência para ouvir as partes e as testemunhas, podendo requerer perícia, inspeção judicial, documentos, além de todos os outros meios lícitos, para formar o seu convencimento, a parte autora deverá comprovar a posse de mais de cinco anos, a quantidade de pessoas favorecidas pela medida, a realização de obras e serviços de relevante valor social e econômico. A parte ré deverá comprovar a má fé dos autores ou o cumprimento da função social de seu imóvel, podendo então desautorizar a decretação da desapropriação. A sentença estará sujeita ao duplo grau de jurisdição, só vindo a servir de título aquisitivo de propriedade, após o seu trânsito em julgado. Será levado em consideração o valor do imóvel, as benfeitorias realizadas, de acordo com avaliação de perícia própria, a fim de identificar o justo valor devido, para só assim determinar a indenização. 6 SENTENÇA Será proferida pelo juiz a sentença e a arbitragem do valor da indenização a ser paga ao expropriado. O processo será despachado a Segunda Instância casa haja recurso, ou seja, para o Tribunal de Justiça onde toda a matéria será reapreciada por Desembargadores. Após o esgotamento dos recursos e transitada em julgada a sentença, ocorrerá o levantamento da diferença dos oitenta por cento, ou seja, vindo por cento do saldo restante da indenização, o que complementará a indenização final. 7 DESISTÊNCIA Haverá um interesse da Administração em determinado momento, podendo então, deixar de existir em outro momento sucessivo, tornando-se desinteressante para ela uma perseguição de sua natureza expropriatória. Veja a Administração Pública na contingência de desistir da desapropriação nessa situação. Desde modo, ajuizada a ação expropriatória, não mais subsistindo os motivos que provocam um processo judicial, poderá o expropriante, requerer sua desistência de forma unilateral, a qualquer momento, enquanto não se faz uma incorporação do bem ao seu patrimônio. Vale registrar que a desistência da desapropriação só não será possível depois de pagar a indenização pelo Poder Público e adjudicado o imóvel ao patrimônio público. No curso da ação de desapropriação, a desistência unilateral não pode ser recusada, devendo ser ressaltada em favor do ressarcimento dos prejuízos de forma acurada com o expropriatório, com o intuito de ressaltar o uso da lei de uso e gozo do proprietário. 8 DA IMISSÃO PROVISÓRIA DA POSSE É instituto pertencente à desapropriação. Consistirá para o titular do domínio, à perda antecipada da posse do bem desapropriado, possível, mediante autorização judicial, quando o poder expropriante declara a urgência da posse e deposita determinada importância em juízo, em favor do proprietário. O artigo 15 da lei de desapropriações (Decreto-lei 3.365/41), parágrafo 1º, definirá a forma de cálculo do valor a ser depositado pelo poder público como requisito para obtenção da imissão provisória na posse. Serão apresentados quatro critérios, onde um será utilizado na falta do anterior, os dois primeiros levam em consideração o valor locativo do bem, o terceiro corresponderá ao valor cadastral para fins de imposto territorial, urbano ou rural, desde que atualizado no ano anterior, e o quarto, é fixado pelo juiz, tendo em vista a época em que houver sido fixado originariamente o valor cadastral e a valorização ou desvalorização posterior do imóvel. Não será admitida em nenhum desses critérios a impugnação pelo expropriado, e em nenhuma das hipóteses será respeitado o princípio do devido processo legal. Embora o proprietário seja titular do direito de propriedade e protegido pela imposição de que a desapropriação se faça mediante prévia e justa indenização, acabará perdendo a posse, logo no início da lide, mediante o levantamento de parte de até oitenta por cento do valor depositado, que muitas vezes é insuficiente para adquirir outro imóvel ou, pelo menos outro imóvel de valor de mercado igual ou aproximado do anterior. 9 DO DIREITO DE EXTENSÃO O direito de extensão é o direito do desapossado de solicitar que a desapropriação e toda a indenização alcance o bem total quando remanescente constar desprovido de conteúdo econômico, ou seja, ocorrerá no caso de desapropriação parcial quando a parte que constar remanescente fica praticamente inútil. O artigo que dispõe sobre este conceito está presente na LC 76/93, que traz em seu Art. 4º: Art. 4º Intentada a desapropriação parcial, o proprietário poderá requerer, na contestação, a desapropriação de todo o imóvel, quando a área remanescente ficar: I - reduzidaa superfície inferior à da pequena propriedade rural; ou II - prejudicada substancialmente em suas condições de exploração econômica, caso seja o seu valor inferior ao da parte desapropriada. (Art. 4º LC 76/93) Quando houver possibilidade de acordo o requerimento deve ser solicitado via processo administrativo, quando não for firmado acordo exige-se a via judicial. 10 DA RETROCESSÃO A doutrina divide-se em três correntes para abarcar completamente a definição do direito, definindo-se como um direito real seguindo todas as regras e consequências de um direito vinculado a esta natureza. Em contrapartida, alguns doutrinadores defendem a natureza do direito pessoal, baseando no Art. 519 do Novo Código Civil que diz: Art. 519. Se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao expropriado direito de preferência, pelo preço atual da coisa. (Art.519, Código Civil) Há também a vertente que define tal direito como sendo de natureza mista, ou seja, em partes direito real e em outras, direito pessoal; sendo assim, cabe ao expropriado escolher entre a ação de preferência de natureza real e ação de perdas e danos. A partir disso, a orientação dos Tribunais Superiores reconhece a natureza de direito real da retrocessão, sendo possível entender que o direito a retrocessão, enquanto direito real, só se caracteriza quando o Estado não der a destinação determinada no ato expropriatório e também quando não atender a outra finalidade pública. Nesse caso, pode o particular solicitar o bem de volta, salvo se ele já estiver vinculado ao patrimônio público, o que o impediria pelo Art. 35 do Decreto-Lei nº 3365/41 resolvendo a situação com a cominação de perdas e danos. 11 DA DESAPROPRIAÇÃO RURAL Tida como desapropriação-sanção, a desapropriação rural é uma espécie de meio punitivo para as terras e/ou propriedades que deixam de cumprir ou não cumprem sua função social, ou seja, terra e/ou propriedades ociosas e/ou não produtivas. Vale ressaltar que a função social da propriedade é um conceito intrínseco à propriedade privada, ao passo que o proprietário deverá cumprir um dever social que, assim como o instituto da desapropriação, é previsto pelo artigo 5° da Constituição Federal de 1988, em seu inciso XXIII que diz que “a propriedade atenderá a sua função social”. De acordo com Soares (2010) o debate sobre a reforma agrária no Brasil busca estabelecer uma relação sadia entre o sujeito, a propriedade e o uso da mesma, buscando promover o desenvolvimento econômico do país, bem como o bem-estar do produtor rural, a fim de extinguir o minifúndio e o latifúndio no país. No que tange a função social, Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. (BRASIL, 1988) Nesse sentido, a desapropriação rural é uma das formas de desapropriação por interesse social e é de competência exclusiva da União. A partir do entendimento da função social da propriedade que é previsto em constituição e também pelo Estatuto da Terra, entende-se que somente as propriedades improdutivas e/ou ociosas estão passíveis de desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária. O Estatuto da Terra (lei n° 4504/64) discrimina também as hipóteses em que a desapropriação está autorizada, ou seja, discrimina os objetivos da desapropriação: Art. 18. À desapropriação por interesse social tem por fim: a) condicionar o uso da terra à sua função social; b) promover a justa e adequada distribuição da propriedade; c) obrigar a exploração racional da terra; d) permitir a recuperação social e econômica de regiões; e) estimular pesquisas pioneiras, experimentação, demonstração e assistência técnica; f) efetuar obras de renovação, melhoria e valorização dos recursos naturais; g) incrementar a eletrificação e a industrialização no meio rural; h) facultar a criação de áreas de proteção à fauna, à flora ou a outros recursos naturais, a fim de preservá-los de atividades predatórias. (BRASIL, 1964) É possível notar que neste tipo de desapropriação, o interesse coletivo está pontuado no fato que a produtividade a fim de reduzir a desigualdade social sobrepõe o direito à propriedade, ao passo que desapropria o bem que se encontra ocioso em mãos privadas para transformá-lo em bem produtivo em mãos públicas. Em suma, somente as grandes propriedades improdutivas estão passíveis de desapropriação rural. A sanção será executada exclusivamente pela União, através de seu órgão executor da reforma agrária, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA. Esta execução se dará a partir da competência da fase declaratória e da fase executória, previstos pela Lei Complementar n° 76/93 que dispões sobre o processo de desapropriação de imóvel rural, por interesse social, para fins de reforma agrária: Art. 2º A desapropriação de que trata esta lei Complementar é de competência privativa da União e será precedida de decreto declarando o imóvel de interesse social, para fins de reforma agrária: § 1º A ação de desapropriação, proposta pelo órgão federal executor da reforma agrária, será processada e julgada pelo juiz federal competente, inclusive durante as férias forenses; § 2º Declarado o interesse social, para fins de reforma agrária, fica o expropriante legitimado a promover a vistoria e a avaliação do imóvel, inclusive com o auxílio de força policial, mediante prévia autorização do juiz, responsabilizando-se por eventuais perdas e danos que seus agentes vierem a causar, sem prejuízo das sanções penais cabíveis. Art. 3º A ação de desapropriação deverá ser proposta dentro do prazo de dois anos, contado da publicação do decreto declaratório. (BRASIL, 1993) No que tange as características deste processo, esta lei complementar trás as seguintes disposições: Art. 18. As ações concernentes à desapropriação de imóvel rural, por interesse social, para fins de reforma agrária, têm caráter preferencial e prejudicial em relação a outras ações referentes ao imóvel expropriando, e independem do pagamento de preparo ou de emolumentos: § 1º Qualquer ação que tenha por objeto o bem expropriando será distribuída, por dependência, à Vara Federal onde tiver curso a ação de desapropriação, determinando-se a pronta intervenção da União; § 2º O Ministério Público Federal intervirá, obrigatoriamente, após a manifestação das partes, antes de cada decisão manifestada no processo, em qualquer instância. (BRASIL, 1993) O processamento desta desapropriação, regido por esta lei complementar, se dará em sete estágios, que são eles a petição inicial, contendo a verificação do cumprimento dos requisitos para desapropriação, uma cópia do decreto de interesse social, as certidões atualizadas da propriedade, do documento cadastral regulamentado pelo INCRA, o laudo de vistoria e avaliação administrativa e o comprovante de lançamento dos Títulos da Dívida Agrária. Art. 5º A petição inicial, além dos requisitos previstos no Código de Processo Civil, conterá a oferta do preço e será instruída com os seguintes documentos: I - texto do decreto declaratório de interesse social para fins de reforma agrária, publicado no Diário Oficial da União; II - certidões atualizadas de domínio e de ônus real do imóvel; III - documento cadastral do imóvel; IV - laudo de vistoria e avaliação administrativa, que conterá, necessariamente: a) descrição do imóvel, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869.htm por meio de suas plantas geral e de situação, e memorial descritivo da área objeto da ação; b) relação das benfeitorias úteis, necessárias e voluptuárias, das culturas e pastos naturais e artificiais, da cobertura florestal, seja natural ou decorrente de florestamento ou reflorestamento, e dos semoventes; c) discriminadamente, os valores de avaliação da terra nua e das benfeitorias indenizáveis. V - comprovante de lançamento dos Títulos da Dívida Agrária correspondente ao valor ofertado para pagamento de terra nua (Incluído pela Lei Complementar nº 88, de 1996); VI - comprovante de depósito em banco oficial, ou outro estabelecimento no caso de inexistência de agência na localidade, à disposição do juízo, correspondente ao valor ofertado para pagamento das benfeitorias úteis e necessárias (Incluído pela Lei Complementar nº 88, de 1996). (BRASIL, 1993) Após a petição inicial, seguirá o despacho do juiz, que de acordo com o art. 6° da lei complementar em questão, “deverá ser feito no prazo máximo de quarenta e oito horas”. Segue o processamento por via da contestação (art. 9°), instrução, acordo sobre o preço (art. 10), audiência de instrução e julgamento e, por fim, apelação e seus efeitos (art. 11, 12 e 13). Observada sua relevância social, a questão da desapropriação de imóvel rural deve ser vigiada também pela sociedade civil, ao passo que está diretamente ligada ao direito à propriedade que está previsto na constituição brasileira e também por se tratar de uma ação Estatal que deve visar majoritariamente o interesse social e o bem-estar coletivo. 12 DA DESAPROPRIAÇÃO URBANA De acordo com Dayrell (2015) o ato de desapropriação está fortemente ligado à noção de supremacia do interesse público sobre o privado, que visa atender ao interesse coletivo. É também um instrumento de política urbana, visto que a propriedade que se localiza em área integrante do processo de urbanização está remissa a cumprir sua função social. A este respeito, é afirmado por Meirelles (2012): A desapropriação é o moderno e eficaz instrumento de que se vale o Estado para remover obstáculos à execução de obras e serviços públicos; para propiciar a implantação de planos de urbanização; para preservar o meio ambiente contra devastações e poluições; e para realizar a justiça social, com a distribuição de bens inadequadamente utilizados pela iniciativa privada. (MEIRELLES, 2012) A função social da propriedade urbana é dada pelo art. 182, Constituição Federal de 1988, que prevê: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp88.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp88.htm#art1 Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes: § 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana; § 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor; § 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro; § 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. (BRASIL, 1988) O Serviço Público também pode ter exigências para alguns de seus edifícios ou terrenos, principalmente em relação à localização, sendo assim, quando as necessidades de serviço obrigam a Administração a se fixar em determinado imóvel, pode-se abrir mão da locação ou compra e se valer da desapropriação. Em seu artigo 5°, a lei da desapropriação prevê as hipóteses de desapropriação para fins urbanísticos nos seguintes termos: Art. 5 o Consideram-se casos de utilidade pública: [...] e) a criação e melhoramento de centros de população, seu abastecimento regular de meios de subsistência; [...] i) a abertura, conservação e melhoramento de vias ou logradouros públicos; a execução de planos de urbanização; o parcelamento do solo, com ou sem edificação, para sua melhor utilização econômica, higiênica ou estética; a construção ou ampliação de distritos industriais; [...] j) o funcionamento dos meios de transporte coletivo; k) a preservação e conservação dos monumentos históricos e artísticos, isolados ou integrados em conjuntos urbanos ou rurais, bem como as medidas necessárias a manter-lhes e realçar-lhes os aspectos mais valiosos ou característicos e, ainda, a proteção de paisagens e locais particularmente dotados pela natureza; [...] m) a construção de edifícios públicos, monumentos comemorativos e cemitérios; n) a criação de estádios, aeródromos ou campos de pouso para aeronaves; [...] (BRASIL, 1941) Nesse sentido, encontra-se na doutrina duas formas de desapropriação para imóveis urbanos: ordinária e sancionadora. A desapropriação ordinária se dá sempre em razão de necessidade ou utilidade pública, ou perante interesse social, a ser declarada em ato próprio e precedida de justa indenização em dinheiro. A desapropriação sancionadora para fins urbanísticos recai, como forma de repressão, sobre aqueles proprietários que não cumprem o ônus urbanístico, ou seja, que descumprem a função social da propriedade urbana. Esta somente pode ser aplicada pelo Poder Público municipal e incide apenas em área urbana delimitada por lei específica e contida no plano diretor. Conforme o art. 182, §4º da Constituição Federal, esta forma de desapropriação só pode ser aplicada após prévias tentativas de parcelamento ou edificação compulsórias, aplicação do imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo, e o pagamento é feito mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. Os bens expropriados têm o Poder Público e seus delegados como destinatários, por estes serem os detentores do interesse público. Mas há casos em que esses bens podem ainda ser repassados a particulares, quando esta é, precisamente, a finalidade da desapropriação. Pode ocorrer, por exemplo, desapropriação por zona, na desapropriação para urbanização e nas desapropriações por interesse social, que visem a distribuição da propriedade com o adequado condicionamento, para que ocorra um melhor desempenho de sua função social, garantida em princípio constitucional propulsor da ordem econômica, do desenvolvimento nacional e da justiça social (CF, arts. 5º, XXIII, e 170, III). Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXII - é garantido o direito de propriedade; XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; [...] Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiçasocial, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas brasileiras de capital nacional de pequeno porte. Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei. (BRASIL, 1988) A fim de promover o ordenamento social e um bom planejamento urbanístico, a desapropriação urbana se difere das demais no sentido de se caracterizar como uma política social urbana, não sendo apenas uma ação de transferência de propriedade do privado para o público, mas também cumprindo o papel de atendimento da função social no meio urbano, para promover o desenvolvimento deste meio. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo bibliográfico foi baseado pelas legislações vigentes, doutrinas e jurisprudências acerca da desapropriação e seus desdobramentos, possibilitando compreender o instituto da desapropriação desde seus conceitos até seus tipos requisitos e execuções, explicitando a importância deste instituto no tocante ao bem- estar coletivo, tanto no que diz respeito à reforma agrária quanto na execução enquanto política pública urbanística. Ficou clara relevância da função social das propriedades dentro do ordenamento social e como ele influencia diretamente na ordem coletiva, bem como as consequências do seu não cumprimento. É possível notar também, de modo subentendido, que até mesmo ações em prol do coletivo estão passíveis de corrupção ou má administração, como é o caso da desapropriação indireta. Por esse motivo, é indispensável que se faça vigia dessas ações a fim de suprimir a má administração, bem como fortalecer a fiscalização legal e social, por parte do Judiciário e por parte da sociedade civil, a real execução do Poder Público. REFERÊNCIAS BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal. Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641516/artigo-5-da-constituicao-federal-de- 988>. Acesso em: 28 nov. 2017. _______. Decreto lei n° 3.365, de 21 de Junho de 1941. Lei geral da Desapropriação no Brasil. Brasília, DF: Senado Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3365compilado.htm>. Acesso em: 28 nov. 2017. _______. Decreto lei n° 4.132, de 10 de Setembro de 1962. Desapropriação por interesse social. Brasília, DF: Senado Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4132.htm>. Acesso em: 28 nov. 2017. _______. Decreto lei n° 4.504, de 30 de Novembro de 1964. Estatuto da Terra. Brasília, DF: Senado Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4504.htm>. Acesso em: 28 nov. 2017. _______. Lei complementar n° 76, de 06 de Julho de 1993. Processo de desapropriação de imóvel rural, por interesse social, para fins de reforma agrária. Brasília, DF: Senado Federal. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp76.htm>. Acesso em: 28 nov. 2017. DAYRELL, Gabriela. A desapropriação como instrumento de política urbana. In: Jusbrasil, 2015. Disponível em: <https://gabrieladayrell.jusbrasil.com.br/artigos/343495644/a-desapropriacao-como- instrumento-da-politica-urbana>. Acesso em: 02 dez. 2017. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. Ed. 35. São Paulo: Malheiros, 2009 ___________. Direito Administrativo Brasileiro. Ed. 41. São Paulo: Malheiros, 2012.
Compartilhar