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SEMINÁRIO EM SERVIÇO SOCIAL AULA 1 – SEMINÁRIO EM SERVIÇO SOCIAL Movimento Social: o pensar e o agir sobre o mundo Podemos afirmar que uma das principais diferenças entre o homem e os outros animais é sua capacidade de pensar e agir sobre o mundo em que vive. Desta forma, a sociedade é essencialmente resultado da vontade humana. O homem, em suas relações sociais, constrói e reconstrói a sua sociedade. Essa complexa rede de interações sociais não está livre das relações de poder e opressão. Isso quer dizer que a vida em sociedade é marcada por contradições internas, em que determinadas ideias ou interesses são sufocados por outros. Neste sentido surgem os conflitos sociais, que podem se desdobrar em movimentos de contestação ou preservação do status quo. Atualmente, merecem destaques os chamados Novos Movimentos Sociais, que transcendem a ideia da divisão da sociedade em classes, como exemplos: os movimentos ambientais e os pacifistas. Massa e Multidão versus Movimentos Sociais Sabemos que os movimentos sociais são formas de ação coletiva diante da realidade social desfavorável. Entretanto, nem todas as manifestações coletivas são movimentos sociais. Vamos compreender melhor a ação humana no mundo. Ação Humana no Mundo Social De modo geral, agimos, pensamos e sentimos coisas conforme a sociedade à qual pertencemos e que nos formou como ser social. Desde a infância aprendemos normas de conduta que são transmitidas pelo processo de socialização. Muitas dessas regras e valores são interiorizadas por nós e tidas como espontâneas ou naturais, como a língua, o patriotismo, a religião e o trabalho. Assim, apresentamos em sociedade comportamentos sociais padronizados, que podem conduzir para o engajamento em determinadas manifestações coletivas. Isso irá depender do grau de afinidade ou vínculo social preestabelecido. Excepcionalmente, a vida social apresenta algumas situações que fogem do nosso comportamento social típico. Nesses casos, somos tomados por emoções coletivas abruptas que subtraem nossa capacidade de racionalização individual ou de classe no momento em que agimos. Quando isso ocorre, chamamos de comportamento coletivo. São os casos em que nos encontramos em uma situação de massa e em uma situação de multidão. Conheça a seguir um pouco mais sobre as duas situações. Situação de massa Refere-se à influência exercida pelos meios de comunicação de massa sobre comportamento dos indivíduos, como no caso da televisão, dos jornais e revistas. Normalmente associada à sociedade de consumo e à cultura de massa, os indivíduos apresentam um comportamento passivo e acrítico. Em uma situação de massa, os indivíduos agem orientados pela força midiática, que subtrai ou diminui a capacidade de racionalidade individual crítica. Podemos dizer que enquanto a massa sofre uma determinação externa, o movimento social se autodetermina. Trecho da música 3ª do Plural, dos Engenheiros do Hawaii (...) Corrida pra vender os carros Pneu, cerveja e gasolina Cabeça pra usar boné E professar a fé de quem patrocina Eles querem te vender, Eles querem te comprar, Querem te matar (de rir), Querem te fazer chorar Quem são eles? Quem eles pensam que são? (...) Fonte: <http://letras.mus.br/engenheiros-do-hawaii/747530/>. A música 3ª do Plural, da banda Engenheiros do Hawaii, faz uma abordagem crítica à sociedade de massa, na qual comportamentos coletivos são criados para a cultura do consumo no modelo capitalista. Situação de multidão Está relacionada a um aglomerado desorganizado de indivíduos, que estão fisicamente próximos, por um breve período de tempo. Nessa situação, o estado emocional de um influencia o do outro, levando à determinada conduta que não fariam se estivessem sozinhos. Outra característica típica da multidão é o anonimato. O indivíduo perde sua identidade pessoal ou social, sendo absorvido pela multidão. Ao contrário dos movimentos sociais que são organizados e críticos em sua intervenção sobre a realidade, a multidão é desorganizada e acrítica. Características e Abordagens Teóricas sobre os Movimentos Sociais Todas essas pessoas estavam reunidas e ORGANIZADAS em prol do mesmo PROJETO: impedir o aumento da tarifa cobrada para travessia de barcas. Elas se reconheciam entre si como possuindo a mesma IDENTIDADE SOCIAL, porque estavam defendendo o mesmo interesse. Por sua vez, existe claro um CONFLITO entre os interesses dos empresários das barcas e os passageiros. Isso se dá pela forma diferente como pensam a realidade. É o que sociologicamente podemos chamar de IDEOLOGIA ou VISÃO DE MUNDO. Em meio a esse confronto, o Estado aparece tentando controlar o movimento social. Podemos perceber que o conflito de interesses é uma característica básica dos movimentos sociais. Como o caso dos passageiros das barcas, que não querem o aumento da tarifa de passagem ou como relatado no filme “Coração Valente”, em que os camponeses lutam contra o domínio dos ingleses. Sobre esse aspecto, podemos fazer algumas observações a partir das ideias de Karl Marx, Emile Durkheim e Max Weber. Para a teoria marxista, o conflito é inerente a todo movimento social. De acordo com sua abordagem histórico-estrutural, os movimentos sociais constituem uma resposta legítima às contradições de uma sociedade dividida em classes. Assim, como ação coletiva, o movimento social expressa, acima de tudo, o grau de desenvolvimento da consciência de classe. Busca-se a emancipação e construção de uma nova sociedade. É o que se pode chamar de Ação coletiva de classe. Já a abordagem neopositivista, de fundamentação durkheimiana, nega a existência de conflito em sociedade. Segundo essa abordagem, é a sociedade que determina os indivíduos e não o contrário. Por isso, não existe conflito, pois a sociedade não se contradiz. Existem sim, desequilíbrios transitórios e momentâneos entre uma condição social e outra. Tais desequilíbrios são expressos pelos movimentos sociais, que são considerados como naturais no processo de autoajuste social. Por sua vez, a teoria weberiana enfatiza que não basta haver conflito para que se caracterize o movimento social. O conflito evidencia contradições, mas é preciso identificar a proposição de um sentido da vida social dos sujeitos envolvidos. Segundo essa abordagem chamada também de culturalista, a ação coletiva precisa ser subjetivamente significada pelos participantes. É o que se pode chamar ação coletiva dos indivíduos. Independente do tipo de abordagem preferida, podemos dizer que todo movimento social atua em prol da realização de algum projeto. Isso não significa que sempre consiga realizá-lo. Esse objetivo projetado pode ser de base Histórico-estrutural, como expressão da luta de classes na relação com o poder político do Estado. Ou ainda, numa visão mais culturalista, expressar necessidades de existência social que vão além da esfera de política estatal. Também podemos afirmar que para se caracterizar um movimento social é necessário algum grau de organização, pois ele surge a partir da conscientização de um fato adverso, que precisa ser superado. Por isso, é importante estabelecer estratégias para realização do projeto em questão. Outra característica dos movimentos sociais é a caracterização de uma identidade comum entre os participantes, que se reconhecem como compartilhando a mesma situação de opressão. Esta pode ser estrutural, quando está relacionada à forma como a sociedade está organizada. Pode ser conjuntural, quando se refere a uma situação problemática momentânea. Por fim, podemos observar a presença de alguma ideologia ou visão de mundo como norteadora do movimento social. Os participantes do movimento compartilham um conjunto de valores e crenças sociais que os motivam a agir. É o èlan propulsor da ação coletiva de classe ou dos indivíduos. Em uma abordagem marxista,a ideologia pode significar uma falsa percepção da realidade ou o conjunto de ideias de uma classe, seja ela revolucionária ou conservadora. Isso irá depender do grau de consciência da classe em tese. Para evitar essa dicotomia conceitual sobre ideologia, preferimos o conceito de visão de mundo, que contempla as diversas formas de pensar e interpretar o mundo em que se vive. Esse conceito é mais amplo do que o de ideologia, pois supera o sentido estritamente político e econômico de classe. Também é importante observar que os indivíduos podem possuir diversas visões de mundo, e por isso podem participar de diversos movimentos sociais. Tipos de Movimentos Sociais e os seus Objetivos De modo geral, os movimentos sociais podem tanto buscar a transformação como a preservação das condições de opressão. Vejamos um pouco melhor como tipificar os movimentos sociais quanto aos seus objetivos: Movimento Social Conservador: é o movimento que busca preservar ou restaurar o status quo de opressão, que significa a forma como a sociedade está organizada. Isso porque os seus integrantes são por ele favorecidos. Assim, a desigualdade de classes, a subordinação da mulher ao homem ou a discriminação social e racial devem ser preservados ou reestabelecidos. Um exemplo desse tipo de movimento foi a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em que setores conservadores brasileiros ligados ao clero, à família e à política se organizaram contra o presidente João Goulart. O motivo seria a aproximação do presidente com a política e ideologia comunista, explicitada pelo programa de governo de Reformas de Base. Foram várias manifestações em todo o país com mais de um milhão de pessoas participando. Esses movimentos encontram suas bases nas tradições e valores patrimonialistas, sexistas e racistas. Normalmente são chamados de reacionários quando buscam realizar seus objetivos de modo radical. Movimento Social Reformista: constitui o movimento que busca alteração de algum aspecto opressor em sociedade sem atacar diretamente a estrutura social. O projeto é pontual e não radical. Acredita-se que mudanças gradativas na legislação e administração pública são suficientes para superar a situação de opressão em debate. Um bom exemplo são os abaixo- assinados que visam pressionar alguma decisão das autoridades públicas. Movimento Social Revolucionário: constitui o movimento que busca a construção de uma nova sociedade, por isso ataca diretamente os fundamentos preestabelecidos da estrutura social. O projeto é radical e exige o fim do status quo de opressão. Podemos lembrar aqui a Revolução Russa de 1917, em que integrantes do proletariado russo tomam o poder destruindo o regime czarista, considerado opressor. Os revolucionários atacam radicalmente a estrutura social e instauram o socialismo, considerado por eles como emancipador. Conclusão De modo geral, considerando as diversas perspectivas teóricas, podemos definir o conceito de movimento social como sendo a ação coletiva consciente e organizada sobre a realidade em conflito, com o objetivo de influenciá-la, a partir de uma determinada visão de mundo e de identidade sociocultural comum. Nesta aula, você: • Constatou que os movimentos sociais não são novidades no processo histórico; • compreendeu que os movimentos sociais são formas de ação coletiva diante da realidade social desfavorável; • verificou que nem todas as manifestações coletivas são movimentos sociais, como a massa e a multidão; • aprendeu que os movimentos sociais tem como características a organização, o projeto, a identidade social comum e a ideologia ou visão de mundo; • identificou as abordagens teóricas histórico-estrutural, neopositivista e culturalista sobre os movimentos sociais; • compreendeu que os movimentos sociais podem ser conservadores, reformistas ou revolucionários. AULA 2 – MOVIMENTOS SOCIAIS CLÁSSICOS – UMA BREVE RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA Nesta aula, estudaremos a caracterização dos movimentos sociais a partir da abordagem histórica-estruturalista, em que os movimentos operários europeus merecem destaque. De acordo com essa abordagem, esses movimentos apresentam-se como contestadores do modelo social vigente e propõem a construção de uma nova sociedade, justa e igualitária. Essa postura crítica irá influenciar outros movimentos sociais ao longo do processo histórico. Vamos ver?! A Construção da Categoria Teórica Movimento Social Vimos, na aula passada, que os movimentos sociais podem ser entendidos como expressão das contradições existentes dentro da sociedade. São formas de pensar e agir coletivamente sobre a realidade em que se vive. Eles representam a possibilidade de intervenção crítica do sujeito na preservação ou mudança do status quo, conforme sua visão de mundo. A análise dessas manifestações coletivas contribui para o entendimento e a reflexão sobre a relação entre o indivíduo, a sociedade e o Estado. Esses movimentos são considerados importantes no estudo das Ciências Sociais, como a Sociologia, a Ciência Política e a História. Para essas áreas do conhecimento, eles são formas legítimas de expressão da sociedade civil organizada, em defesa de seus interesses diante de uma situação desfavorável. Seja em uma abordagem histórico-estruturalista ou em uma culturalista, ou ainda em uma com a denominação de movimento social clássico ou novo, o fato é que essa categoria teórica caracteriza todo o processo histórico da humanidade, desde a idade antiga até os dias de hoje. Mas foi na emergência da sociedade industrial capitalista que tais movimentos ganham destaque e passam a receber um olhar científico próprio. Movimentos Sociais De acordo com a abordagem histórico-estruturalista, os movimentos sociais são resultados das contradições inerentes à estrutura social, ou seja, a forma como a própria sociedade está organizada. No caso do modelo capitalista, sua principal contradição está no fato da riqueza ser socialmente produzida pelo trabalho, mas sua apropriação ser privada. Isso quer dizer que os operários produzem a riqueza, mas quem usufrui é a burguesia, por ser esta a dona dos meios de produção. A Origem dos Movimentos Sociais Europeus do Século XIX Vamos compreender melhor de que forma os movimentos sociais europeus no século XIX se constituem como símbolos da luta de classes histórico-estruturalistas. Dois acontecimentos em especial marcam a França de 1815: a derrota de Napoleão Bonaparte, em sua guerra de conquista da Europa, e o consequente Congresso de Viena. Este último restaurou a monarquia e impôs uma série de subordinações aos franceses, como a perda de parte do território e a obrigação de indenizar as forças aliadas. Evidentemente, o cenário político, econômico e social francês não era dos melhores. A relação entre o povo e o governo francês entrou em colapso com a reaproximação entre o Estado e a Igreja Católica, devolvendo a esta o controle sobre a educação. Soma-se a isso o autoritarismo do Rei Carlos X, o aumento dos impostos e o fim da liberdade de imprensa em 1830. Diante desse quadro terrível, o povo se rebela contra o Rei e toma as ruas de Paris nos dias 27, 28 e 29 de julho daquele ano. São os Três dias gloriosos. Apesar da fuga do monarca, o movimento republicano não obteve êxito na transformação da estrutura política, devido às forças conservadoras ligadas à burguesia. De todo modo, a revolta de 1830 serviu de inspiração para vários outros movimentos liberais na Holanda, Itália, Portugal, Espanha e Polônia. Em 1848, a França vive novamente uma forte crise econômica, em que republicanos e socialistas fazem oposição ao Governo de Luís Felipe. Em uma dessas manifestações, 16 mil pessoas são mortas e 4 mil exiladas. A França volta a ser berço de revoluções, semeando pela Europa o espírito revolucionário. O nacionalismo aparece como uma das principais bandeiras de luta dos movimentos sociaisdaquele período. Podemos citar, como exemplo, a luta do povo polonês contra a dominação russa, austríaca e prussiana e a luta dos irlandeses contra os ingleses. Essa época de ebulições sociais e políticas ficou conhecida como a Primavera dos povos. Aromas da Primavera Liberalismo: defendia o constitucionalismo político e era contrário aos regimes monárquicos absolutistas. Nacionalismo: afirmava a soberania do Estado e fundamentava-se na identidade nacional. Socialismo: preocupava-se com a questão social e a superação dos problemas oriundos do capitalismo. Essas três correntes não se apresentaram de forma uniforme ou pura em toda a Europa. Ao contrário, elas se mesclavam e assumiam diversas expressões em cada país. A Inglaterra do Século XIX O Ludismo A reação do governo inglês foi dura e em 1768 foi instituída a pena de morte para quem destruísse maquinários fabris. O ludismo teve seu clímax em 1811 quando operários invadiram e destruíram a oficina William Cartwright. Treze pessoas foram condenadas à morte e o ludismo perdeu força sem obter conquistas significativas. O Cartismo Inspiração Socialista Vejamos as principais teorias que floresceram naquela época e como contribuíram para o desenvolvimento dos movimentos sociais. Em 1848, o movimento operário francês sofreu forte influência das ideias socialistas. De um lado, o Socialismo Reformista de Louis Blanc. Do outro, o Socialismo Revolucionário de Auguste Blanqui. O Socialismo Reformista defendia a transformação social gradativa e pregava a reforma da sociedade capitalista, por meio das eleições e do processo legislativo, até a implementação total do modelo socialista. Já o Socialismo Revolucionário proclamava a libertação imediata da classe operária da exploração burguesa, por meio da revolução armada como forma de transformar radicalmente a estrutura social. Utopia versus Ciência Essa concepção consistia em uma crítica radical ao capitalismo e pregava a revolução social do proletariado (classe operária) para tomada do poder. Seria instaurado um Estado Socialista com objetivo de por fim à propriedade privada dos meios de produção e redistribuir a riqueza socialmente produzida. Então, uma vez transformada a estrutura social, estariam criadas as condições ideais para uma sociedade sem Estado e sem classes, denominada de Comunismo. Outras Contribuições Filosóficas Por sua vez, o anarquismo propunha o fim imediato do Estado e da propriedade privada. Segundo eles, todas as formas de governo são perversas, por isso defendiam uma sociedade organizada na participação política direta dos cidadãos. Sua ideologia libertária foi difundida primeiramente pelo francês Joseph Proudhon e, em seguida, pelos russos Mikhail Bakunim e Peter Kropotkin. Os movimentos operários europeus do século XIX marcaram a construção da categoria teórica denominada movimento social. De acordo com a abordagem histórico--estruturalista, os movimentos sociais são considerados contestadores da estrutura social historicamente opressora. Eles propõem a construção de uma nova sociedade, justa e igualitária. O socialismo e o anarquismo foram fundamentos teóricos importantes na crítica desses movimentos ao capitalismo. Nesta aula, você: • Percebeu a relação entre o surgimento dos movimentos operários europeus e a construção da categoria teórica denominada movimento social; • compreendeu como diversas situações de opressão conduziram o povo europeu à ação coletiva na defesa dos seus direitos; • aprendeu sobre o desenvolvimento do espírito crítico necessário a eclosão de manifestações coletivas transformadoras da realidade social; • compreendeu a importância das teorias socialistas e anarquistas na sofisticação e conscientização dos movimentos operários em sua luta AULA 3 – OS MOVIMENTOS SOCIAIS COMO MOTOR DA VIDA – A CONTRIBUIÇÃO DE KARL MARX Segundo Karl Marx, “A luta de classes é o motor da história”. Essa afirmativa deixa claro que a teoria marxista é a principal fundamentação teórica da abordagem histórica- estruturalista. Desta forma, os movimentos sociais expressam a luta de classes de modo consciente e organizado, dentro de um processo histórico no qual a estrutura social serve para assegurar a dominação de classes. Podemos observar que a Síntese é a superação dialética da realidade anteriormente contraditória. Tese X Antítese = Síntese Ocorre que uma vez estabelecida, a Síntese se constitui como nova Tese. Caso possua uma contradição interna, surgirá sua Antítese. Assim, novamente o conflito dialético se instaura, sendo necessária uma nova Síntese. E assim, de forma sucessiva, a história movimenta-se dialeticamente. Síntese = Nova Tese X Nova Antítese = Nova Síntese... Assim, os movimentos sociais podem ser compreendidos como expressão do processo dialético, pois traduzem a luta de classes como motor da história. É nesse sentido que Marx afirma o papel revolucionário dos movimentos operários na transformação da estrutura social, em que o comunismo acabaria com a contradição na estrutura social. Materialismo Histórico Trata-se do método marxista de explicação da realidade social, em que dois fatores são importantes: as forças produtivas e as relações de produção. As Forças Produtivas constituem as condições materiais de toda produção. Elas são a capacidade de produzir relacionada às técnicas, instrumentos, matérias-primas e trabalho humano. As relações de produção constituem as formas pelas quais os homens se organizam para executar a atividade produtiva. Elas são o modo como as forças produtivas estão organizadas e como o resultado final é distribuído ou concentrado. Como exemplos, podemos citar o cooperativismo, o escravismo, o feudalismo e o capitalismo. Sobre o materialismo histórico ainda é importante destacar a relação entre infraestrutura e superestrutura como determinantes do status quo. Podemos entender que existe uma determinação da Estrutura sobre a Superestrutura. Assim, se o sistema econômico é capitalista e atende aos interesses da burguesia, logo o sistema político, jurídico e ideológico também são. Isso quer dizer que as relações de produção capitalistas fundamentam a dominação de classes, ao mesmo tempo em que as relações políticas, jurídicas e ideológicas asseguram essa dominação, por meio de um Estado, um Direito e um conjunto de ideais burguesas que dominam a sociedade. Para Marx, o papel revolucionário do proletariado consiste em destruir as bases da estrutura de dominação de classe, sob a qual estão estabelecidas as relações de produção capitalista: a propriedade privada dos meios de produção. Uma vez instituída as novas relações de produção do socialismo ou comunismo, a Superestrutura também seria alterada. Assim, o Estado, o direito e a ideologia dominantes seriam a do proletariado. Práxis Outro conceito marxista importante para a compreensão da categoria movimento social é o de práxis. Segundo Marx, uma diferença essencial do homem para os outros animais é a capacidade teleológica, ou seja, a capacidade humana em idealizar algo e realizá-lo por meio de sua ação. Assim, a práxis consiste na expressão dessa capacidade de pensar, projetar e agir sobre si e o mundo em que vive. A partir do processo de conhecimento, o homem age criticamente na criação e transformação de si e do mundo. (...) práxis, a atividade do sujeito que de algum modo aproveita algum conhecimento ao interferir no mundo, transformando-o e se transformando a si mesmo. (...) Na práxis, o sujeito age conforme pensa, a prática “pede” teoria, as decisões precisam ter algum fundamento consciente, as escolhas devem poder ser justificadas. Na práxis, o sujeito projeta seus objetivos, assume seus riscos, carece de conhecimentos. (...) Podemos perceber claramente a relação entre práxis e movimentos sociais. Estes expressam a capacidade de pensar, projetar e agir sobre a realidade opressora na construçãode uma nova sociedade. A Teoria Marxista e a Revolução Russa Sabemos que para os marxistas, o socialismo é uma etapa de transição para o comunismo. Neste sentido, Marx acredita no desenvolvimento da consciência, união e organização do proletariado em seu papel histórico revolucionário. Após a destruição da estrutura capitalista, fundamentada na propriedade privada e na dominação de classes, o socialismo instituiria a propriedade pública dos modos de produção. Em seguida, o comunismo criaria uma sociedade sem classes, em que todos participariam das decisões e os modos de produção seriam coletivos. Em 1847, Marx e Friedrich Engels instituem a Liga dos Comunistas, reformulando a antiga Liga dos Justos, e publicam em 1848 o Manifesto Comunista. A partir de então, as críticas marxistas à sociedade de classes e a propriedade privada se espalham pela Europa, servindo de inspiração e fundamento para diversos movimentos operários no mundo. A proposta de Marx consistia em um movimento de união mundial dos operários que, conscientes e organizados, lutariam pelo fim da estrutura de dominação de classes. Trata-se de típico movimento social clássico, muito bem ilustrado no lema: Essa práxis revolucionária pôde ser observada nas chamadas Associações Internacionais dos Trabalhadores. Vejamos a seguir. Associação Internacional dos Trabalhadores REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917 A Rússia apresentava-se com uma Dinastia Romanov desde 1613, um gigantesco império dominado por latifundiários, pelo alto clero da Igreja Ortodoxa e nobres oficiais do Exército. As ideias marxistas são disseminadas pela Europa e chegam à Rússia influenciando jovens como Vladimir Ilitch Ulianov, conhecido como Lenin, que em 1898 fundou o POSDR Partido Operário Social-Democrata Russo. O Partido era dividido entre os Bolcheviques, liderados por Lênin, que defendiam uma revolução imediata, e os Mencheviques, que defendiam uma passagem lenta e democrática para o Comunismo, por meio de eleições. Diante do descontentamento popular com as péssimas condições de trabalho e os prejuízos com a guerra contra o Japão, é deflagrada uma greve geral em 1905, em que 13 mil trabalhadores enviam um petição reivindicando ao czar melhores condições de trabalho. Domínio sangrento Diante da petição popular, o governo do czar Nicolau II reage de forma extremamente violenta e mais de mil manifestantes são assassinados pelas forças do governo. Paz, Pão e Terra Com ajuda de Trotsky, Lênim organiza a queda do governo burguês menchevique. Assim, os sovietes, como eram conhecidos os bolcheviques, tomam o poder e criam o Conselho de Comissários do Povo (CCP). Estava instituído o governo do proletariado político. O Governo Comunista eliminou a existência da Igreja, expandiu as artes à população e perseguiu, expulsou ou executou a alta burocracia latifundiária e liberal. As ideias de Karl Marx representam fundamentos teóricos importantes para abordagem histórica-estruturalista sobre os Movimentos Sociais Clássicos. Segundo esta perspectiva, a contradição da estrutura social gera o confronto dialético entre as classes, em que o proletariado cumpre um papel histórico de transformação da realidade opressora. A Revolução Russa de 1917 constitui exemplo emblemático da práxis marxista na construção de uma sociedade justa e igualitária nos moldes do socialismo e do comunismo. 1. Explique o lema bolchevique da revolução russa de 1917, "Paz, Pão e Terra"? A Rússia vinha de guerras malsucedidas contra o Japão e a 1ª Grande Guerra Mundial, com grande perda de vidas e prejuízos econômicos. Além disso, os sistemas monárquico absolutista e latifundiário impunham fome e miséria à população pobre. Por isso, os bolcheviques pregavam o fim das guerras externas, a redistribuição da renda e reforma agrária, como formas de acabar com a miséria e fome do povo. AULA 4 – MOVIMENTOS SOCIAIS CLÁSSICOS NO BRASIL: À REPÚBLICA VELHA A crise do feudalismo e a emergência da burguesia conduziram ao desenvolvimento da primeira fase do capitalismo, chamada de mercantilismo. Entre outros fatores, a necessidade de produtos a serem comercializados levou à expansão marítima e comercial do século XVI. Portugal e Espanha foram pioneiros neste empreendimento, que reconfigurou o mapa geopolítico mundial. Podemos dizer que o Brasil é resultado desse processo, denominado mundialização da civilização europeia. Deixando de lado a controvérsia sobre o acaso ou intencionalidade do evento de 21 de abril de 1500, o fato é que a chegada do europeu neste território chamado Brasil marca o nascimento de uma nova sociedade e suas contradições. A diversidade étnica, o escravismo, o pacto colonial, o absolutismo monárquico e a intensa desigualdade social, ilustram alguns problemas daquela época. Então, em uma abordagem Histórica-Estruturalista, vamos verificar a emergência das primeiras manifestações coletivas brasileiras a este respeito. Iremos perceber que a história do povo brasileiro é uma história de opressão, resistência e revolta contra as injustiças presentes na estrutura social. Se do ponto de vista cultural, a cordialidade do povo brasileiro sugere uma essência pacífica, do ponto de vista histórico- político, isso está longe de significar um comportamento passivo. Os movimentos sociais brasileiros, com suas derrotas e vitórias, ajudam a desconstruir esse mito de passividade e revelam um povo oprimido, mas que jamais fugiu à luta. História e Ideologia: Fatos e Versões Como já estudamos, no conceito de Materialismo Histórico, que a dominação de classes se apresenta em dois aspectos: Material: O primeiro é o material, que consiste na infraestrutura ou estrutura econômica. Imaterial: O segundo é o imaterial, que consiste na superestrutura política, jurídica e ideológica. Vimos que a infraestrutura determina a forma da superestrutura, logo o sistema econômico determina os sistemas político, jurídico e ideológico. Para Karl Marx, se o sistema econômico favorece a classe dominante, os sistemas políticos, jurídico e ideológico também. Assim, o Estado, o Direito e as ideias dominantes em uma dada sociedade e época são aquelas que interessam à classe dominante. É nesse sentido que o marxismo entende a ideologia como dissimulação da realidade e instrumento de dominação de classes. A luta de classes que ocorre na realidade material também ocorre no plano imaterial da vida. Existe um conflito ideológico, que se divide em ideias ou crenças que interessam à classe dominante e outras que interessam à classe dominada. Daí, podemos dizer que a história contada é, antes de tudo, uma ideia ou uma crença sobre a história vivida. Então, algumas questões se colocam: quem conta a história, como conta e com qual intenção? Mas o que isso significa? Significa que a história, ou melhor, as versões dos fatos históricos dependem das relações de poder em cena. Em que determinado grupo consegue assegurar o seu ponto de vista em detrimento de outros. No caso acima tratado, a ideologia do descobrimento do Brasil serviu para legitimar a posse e a dominação do grupo dominante sobre as terras do grupo dominado ontem e hoje. Esse é apenas um dos exemplos possíveis das implicações ideológicas no imaginário histórico e social. Ideologia e Imaginário Coletivo: a Desconstrução do Mito da Passividade Vimos que a história é feita de fatos e versões. De acordo com a abordagem histórico- estruturalista, é importante compreendermos que as versões dominantes são apenas o ponto de vista do grupo vencedor na relação de conflito. Assim, a história oficial é sempre relativa, porque tende a expressar uma leitura parcial do fato ocorrido. Ela é a versão dos vencedores, preterindo ou negando o ponto de vista dos vencidos. Como dizem, a história é contada pela primeira vez pelos vencedores, cabe aos vencidos tentar recontá-la. No Brasil, isso é facilmente constatado pelas versões ou ênfases dominantes da nossa história,que contribuem para criar no imaginário coletivo uma falsa ideia de um povo passivo e submisso. Estamos acostumados em olhar para os fatos históricos nacionais e nos depararmos com heróis oriundos das elites, nobres e militares. Personagens e ações populares são quase sempre preteridas ou tratadas de modo superficial. O povo aparece ideologicamente como expectador da própria história, incapaz e desinteressado de lutar por seus direitos. Deste modo, caberia ao homem comum aceitar resignadamente o status quo de opressão, como se fosse uma missão divina e esperar pelo “Salvador da Pátria”. Podemos constatar que a história é contada sempre a partir de grandes feitos e grandes personagens. No Brasil, quase todos os feitos são oficialmente omissos ou superficiais em relação à participação popular. Pouco se estimula a memória coletiva em exaltar os movimentos populares de luta por direitos e transformações sociais. A Independência do Brasil é tratada como se fosse obra de um único homem, D. Pedro I. A Abolição da escravatura é consagrada a uma Princesa branca. Da mesma forma, a proclamação da República é consagrada à ação de um Marechal. Os movimentos sociais do Brasil Colônia até os dias de hoje contam outra história, em que o povo é o protagonista. Com muitas derrotas, mas com algumas vitórias que valem muito, pois são a prova de que é possível agir historicamente e representam a esperança de construção de uma nova realidade social. Assim, resgatar a memória de luta e heroísmo do povo pode contribuir para o desenvolvimento da autoestima e da cidadania ativa. Enfim, a luta dos nativos na defesa de seu território e de sua liberdade, posteriormente a luta dos africanos e seus descendentes, a luta dos colonos pobres brancos ou mestiços contra a exploração da metrópole, todos esses exemplos marcam o começo da história de lutas do povo brasileiro e negam a falsa ideologia de que é passivo e desinteressado. Movimentos Sociais Brasileiros A formação histórica da sociedade brasileira é marcada pelas contradições estruturais, que geraram opressão sobre os povos nativos, africanos, brancos pobres e mestiços. Em todo tempo houve luta e resistência por uma sociedade justa e igualitária, pela transformação do status quo. Ao invés de passivos, o povo brasileiro sempre foi bravo e heroico dentro de suas possibilidades. Diversos movimentos ilustram a mobilização da sociedade civil brasileira em seu processo histórico. Rebeliões Pró Independência Podemos destacar a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana como dois dos principais movimentos históricos brasileiros. Embora não tenham obtido êxito em suas propostas, ambos os movimentos retratam a insatisfação social presente na estrutura da colônia e representam as bases dos movimentos sociais clássicos no Brasil. A Inconfidência Mineira A Inconfidência Mineira foi um movimento mais restrito às elites locais. Deflagrada em Minas Gerais no ano de 1789, em pleno ciclo do ouro, a insatisfação se dirige contra a forma de administração da Metrópole sobre a economia da colônia. Os altos impostos, como o quinto e a derrama, levaram à insatisfação generalizada entre o povo e as elites. Influenciados pelas ideias liberais do Iluminismo europeu e pelo modelo constitucional democrático norte- americano, os inconfidentes se organizaram para proclamar a independência e a república. Entretanto, o movimento foi abortado devido à delação de um dos seus membros, o português Joaquim Silvério dos Reis. Os inconfidentes foram presos e o alferes Joaquim José da Silva Xavier, conhecido por Tiradentes, foi considerado seu líder, sendo o único executado no dia 21 de abril de 1792, na cidade do Rio de Janeiro. A Conjuração Baiana Ao contrário da Inconfidência Mineira, a Conjuração Baiana de 1798 foi um movimento essencialmente popular com objetivos sociais mais profundos. O movimento contou com ampla participação de negros livres, alfaiates, artesãos, sapateiros, mestiços e escravos. Inspirados na Revolução Francesa e na Revolta dos Escravos no Haiti, os revoltosos baianos eram mais radicais em seus objetivos. Além da independência e República, pretendiam o fim da escravidão e da estrutura latifundiária opressora. Temendo a ameaça de uma mobilização popular revolucionária, a reação da Coroa portuguesa foi rápida e conseguiu prender a maioria dos revoltosos. Aqueles de origem mais humilde foram condenados à morte, como o alfaiate João de Deus Nascimento. Os de origem intelectual foram presos e absolvidos, como o médico Cipriano Barata. A Revolta dos Alfaiates ou Revolta dos Búzios, como também ficou conhecida a Conjuração Baiana, foi um importante movimento popular, que lançou as bases de diversos movimentos abolicionistas no século XIX. Além disso, ela é a prova da capacidade de ação crítica do povo na luta por seus direitos. Revolução de Pernambuco Em 1817 a difusão de ideais iluministas, liberais e republicanos entre as elites, somada à insatisfação popular com a elevada taxa de impostos, criou o contexto propício para a eclosão de um movimento revolucionário em Pernambuco. Apesar de liderada por militares e comerciantes, a revolta encontrou amplo apoio do povo de Recife. Um governo provisório foi instituído após a fuga do governador. Inspirada na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da Revolução Francesa. Entretanto, o governo revoltoso durou apenas 74 dias, quando a forte reação de tropas governamentais do Rio de Janeiro restitui o status quo ante. Rebeliões Regenciais Mesmo após a independência do Brasil, os problemas políticos, econômicos e sociais continuaram. Isso se devia ao fato de que a independência foi muito mais uma mudança de forma do que de conteúdo. Formalmente, o Brasil era um país livre, mas na prática a sua estrutura econômica e social estava aprisionada ao passado, continuava sendo uma sociedade escravocrata e latifundiária, de uma população do interior abandonada e com profunda desigualdade social. As intensas contradições históricas na estrutura da sociedade brasileira resultaram em uma série de revoltas a partir de 1835. Algumas de caráter essencialmente popular como a Cabanagem e a Revolta dos Malês. Outras, nem tanto, como Farrapos e Sabinada. De qualquer modo, todas denunciavam a insatisfação da sociedade com o status quo vigente e o desejo de sua transformação. Após a independência, D. Pedro I outorgou uma Constituição para o Brasil, na qual o conteúdo contraditório presente na estrutura social, política e econômica da colônia permanecia em coexistência com a nova forma assumida no Império. Um bom exemplo disso foi a adoção do sistema censitário para as eleições, em que o exercício da cidadania política era limitado por critérios econômicos. Rebeliões Regenciais A Constituição brasileira de 1824 ficou conhecida como a Constituição da Mandioca, pois o sistema censitário de votos favorecia os grandes proprietários de terras e excluía a população pobre. Ela criou restrições à participação de diversos grupos sociais na organização política do Estado. Isso fez com que esses grupos, excluídos do exercício de cidadania, rebelassem-se contra a ordem estabelecida, como foi o caso da Cabanagem e da Revolta dos Malês. Conheça a seguir alguns tipos de movimentos sociais. Cabanagem (1835-1840) Foi um movimento social deflagrado por trabalhadores rurais que habitavam cabanas nas margens dos rios do Pará. Os cabanos, como ficaram conhecidos, reagiram à tentativa de repressão do governador em Belém no ano de 1835. Os revoltosos tomaram o poder e executaram o governador. Foi instituído um governo cabano, tendo como chefe Felix Antônio Malcher, representante dos fazendeiros que defendia a permanência do Pará como província do Império. Entretanto, Eduardo Angelim e Antônio Vinagre, mais associados às camadas populares, destituíram Felix Malcher e proclamaram a República do Pará. O governo central conseguiu combater a rebelião, queresistiu até 1840. Cerca de 40 mil pessoas foram mortas durante a Revolta dos Cabanos. Revolta dos Malês (1835) A Revolta dos Malês foi um movimento popular que contou com a participação de 1500 negros de origem mulçumana. Eles eram livres e exerciam diversos ofícios. Eram alfaiates, pequenos comerciantes, artesãos e carpinteiros. Além de defenderem o fim da escravidão, rebelaram-se contra o preconceito ao islamismo e a imposição da religião católica. Foram violentamente reprimidos e os seus líderes condenados à morte. Balaiada (1838-1841) Movimento ocorrido no Maranhão entre 1838 e 1841, teve como líderes grandes fazendeiros e comerciantes, mas contou com grande apoio da população. Principalmente quando o vaqueiro Raimundo Gomes, em resposta à humilhação sofrida por autoridades conservadoras, atacou uma cadeia e fugiu para o sertão, encontrando apoio da população pobre. O seu exemplo serviu de impulso a grupos de sertanejos que atacaram fazendas. Por sua vez, a rebelião sertaneja inspirou a fuga de escravos, dando origem a muitos quilombos na região. Um dos principais quilombos foi chefiado por Cosme Bento das Chagas. As rebeliões se espalharam pelo Ceara e Piauí. Tropas do exército enviadas do Rio de Janeiro conseguiram desarticular o movimento, que carecia de maior organização e objetivos claros. Apesar disso, o negro Cosme conseguiu resistir até 1841, quando foi condenado à morte e enforcado. A balaiada representou a vontade do povo de protestar contra as condições de desigualdade da estrutura social em que viviam no Maranhão. Sabinada (1837-1838) Ente os anos de 1837 e 1838 ocorreu na Bahia mais uma rebelião chamada de Sabinada. Este nome se refere ao seu líder do movimento, o jornalista e médico Francisco Sabino Álvares da Rocha. Foi uma revolta feita por militares, integrantes da classe média (profissionais liberais, comerciantes etc.) e rica da Bahia. Eles defendiam maior autonomia política e um estado federal republicano. Conseguiram proclamar a república em 7 de novembro de 1837, mas o governo central reprimiu o movimento e retomou o controle sobre Salvador em março de 1838. O saldo dessa rebelião foi mais de 3 mil pessoas presas e mais de 2 mil mortas. Farrapos (1835-1845) A Revolução Farroupilha foi um dos mais importantes conflitos regionais contra o Império. De caráter republicano e separatista, a guerra dos farrapos ocorreu entre os anos de 1835 e 1845 no Rio Grande do Sul. Os rebeldes eram contra os altos impostos no comércio do couro e do charque na região, exigiam protecionismo econômico frente a esses produtos vindos do estrangeiro e maior autonomia para as províncias. Em 1836 foi proclamada a República Rio- Grandense e em 1839 proclamaram a República Juliana, na região de Santa Catarina. Entretanto, após diversos enfrentamentos com os militares, em 1845 os farrapos estavam enfraquecidos e aceitaram a rendição proposta pelo governo central. Revolução Praieira (1848-1850) O quadro político do Brasil Imperial era ilustrado pelo rodízio do poder nos ministérios entre os partidos liberal e conservador. A perda de poder dos liberais no ano de 1848 levou a mais uma rebelião em Pernambuco. Chamada de praieira, pois a sede do jornal liberal era na rua da praia, a revolta criticava a falta de autonomia política das províncias e absolutismo monárquico. Tinha como inspiração os ideais liberais franceses que se espalhavam pela Europa na denominada Primavera dos Povos. Em 1º de janeiro de 1849, os revoltosos divulgaram o seu Manifesto ao Mundo, em que exigiam, entre outras coisas: Rebeliões na República Velha As contradições históricas na estrutura econômica e social brasileira se revelam insustentáveis no início do século XX. O autoritarismo, a desigualdade social e abandono da população no campo e na cidade fazem eclodir diversas revoltas populares que marcam a República Velha. No Rio de Janeiro, duas revoltas se destacam: a Revolta da Vacina e a Revolta da Chibata. Revolta da Vacina (1904) No início do século XX, as condições sanitárias no Rio de Janeiro eram precárias. Diversas epidemias atingiam a população pobre, como a febre amarela, peste bubônica e varíola. Diante desse quadro terrível, o governo federal determinou a obrigatoriedade da vacinação contra varíola em 1904. A imposição desta medida gerou uma insatisfação generalizada nas camadas populares, que se sentiu invadida em sua privacidade e direito de autodeterminação. Além disso, os revoltosos temiam estarem sendo utilizados como cobaias dos medicamentos. Em 10 de novembro de 1904 eclodiu a chamada Revolta da Vacina, que foi sufocada em 17 de novembro do mesmo ano. Revolta da Chibata (1910) Em novembro de 1910, mais uma revolta popular ocorre na cidade do Rio de Janeiro: a Revolta da Chibata. Naquela época, castigos corporais eram utilizados como forma de disciplina na marinha armada. Na verdade, esses castigos físicos representavam a permanência de heranças escravistas. Além disso, revelavam a limitação dos direitos de cidadania garantidos pela Constituição da República de 1891 às classes baixas, uma vez que a maioria dos marinheiros eram afrodescendentes, mestiços e pobres. Liderados por João Cândido, o Almirante Negro, a rebelião exigia o fim da chibata e melhores condições de trabalho, como aumento do soldo pago. Os revoltosos tomaram o controle de navios no porto da Guanabara e ameaçaram bombardear a cidade caso suas reivindicações não fossem atendidas. O governo aceitou as exigências, mas em seguida determinou a prisão de João Cândido e outros participantes. Podemos concluir que a história do povo brasileiro é uma história de opressão e luta. Ao contrário da ideia falsa de passividade, difundida no imaginário coletivo, podemos comprovar nos fatos históricos uma postura crítica e ativa. A partir de uma leitura histórico-estruturalista, compreendemos que o povo brasileiro sempre assumiu seu papel de agente transformador. Diversos movimentos sociais clássicos, de inspiração liberal e social europeia, ilustram a trajetória de luta do povo contra as contradições históricas que integram a sua estrutura socioeconômica. O mais importante não é contabilizar as vitórias ou lamentar as derrotas, mas sim reconhecer a capacidade de intervenção popular sobre a realidade social opressora ontem e hoje. Enfim, reconhecer a incessante luta do povo na construção de uma sociedade justa e igualitária. AULA 5 – REVOLTAS, MESSIANISMOS E BANDITISMO SOCIAL NO BRASIL O período de transição do Brasil monárquico para o republicano é marcado pelo continuísmo das contradições na estrutura social. A intensa desigualdade e o abandono das populações do campo pelo novo modelo político agravam mais ainda o quadro de miséria e desesperança. Soma-se a isso a violência dos senhores patrimonialistas sobre os trabalhadores rurais. Chamados de coronéis, esses senhores proprietários de grandes latifúndios dominavam e exploravam os homens pobres do campo. É nesse contexto de fome, violência e desesperança que surgem expressões populares de ação coletiva, como o messianismo e o banditismo social. Vamos compreender melhor algumas dessas categorias sociológicas. CONTEXTO SOCIOPOLÍTICO DOS MOVIMENTOS MESSIÂNICOS Política e Modernidade: a Distinção entre o Público e o Privado. Um dos princípios mais importantes da ordem política moderna é a clara distinção entre o interesse público e o interesse privado, ao contrário do que ocorria no modelo patrimonialista medieval em que esses interesses se confundiam com a vontade do próprio governante. O Estado deve se orientar pela prevalência do interesse público, sem necessariamente impedir a realização do interesse privado. Esta difícil equação é a síntese do modelo político moderno. Neste aspecto encontramos doutrinas mais liberais, em que se enfatizam as liberdades individuais e a realização do bem particular, e outras mais socialistas, emque se enfatizam as questões sociais e a realização do bem comum. O debate político sobre as funções do Estado consiste justamente em encontrar o equilíbrio entre essas duas esferas da vida social: a privada e a pública. Coronelismo: a Confusão entre o Interesse Público e o Privado no Brasil Após a independência do Brasil em 1822, D. Pedro I outorgou a primeira Constituição do país (1824), em que consagrava o seu absolutismo por meio do Poder Moderador. Diante da oposição das elites patrimoniais e da sucessão do trono português, D. Pedro abdica do trono brasileiro em favor de seu filho Pedro de Alcântara. De acordo com a Constituição de 1824, foi instaurado um governo com três regentes escolhidos em Assembleia, pois o herdeiro contava com apenas 5 anos de idade. A Regência Trina teve início em 1831 e terminou em 1834, quando foi instituída uma regência una com eleições a cada quatro anos. Entretanto, o período regencial terminou em 23 de junho de 1840 com o golpe da maioridade, em que D. Pedro II assume o poder antes de completar 14 anos de idade. Um dos motivos desse golpe foi a tentativa de estabilizar a política nacional em meio a tanta revoltas regenciais, como as que estudamos anteriormente: a Cabanagem, a Balaiada, a Sabinada, a Farroupilha e etc. Ainda durante o período regencial, em 1831, a Guarda Nacional foi instituída com objetivo de conter as revoltas no país. Inspirada no modelo francês de milícia cidadã, a Guarda era composta por cidadãos com renda mínima entre cem e duzentos mil réis, dependendo da região. O comando era atribuído ao chefe político local sob a denominação de coronel. A princípio o objetivo da Guarda era defender o interesse público nacional contra as tentativas de separação das províncias, mas na prática a Guarda atuou mais como forma de assegurar o interesse privado das elites políticas e econômicas. Enfim, o interesse público nacional era confundido e superado pelo interesse privado das elites. O governo central não possuía uma estrutura de poder local capaz de garantir e organizar os municípios, por isso passou a utilizar a capacidade de controle social dos chefes patrimonialistas locais. Estes senhores de terras dominavam a população rural e garantiam os votos necessários para as eleições de governadores e senadores. Isto ocorria graças à formação de “currais eleitorais” e do “voto de cabresto”, que em regra decorriam do poder econômico ou ao uso sistemático da violência. Assim, o coronel passou a representar poder e prestígio político, enquanto a população do campo continuava na miséria e explorada pelas elites. Com o passar do tempo, pouco importava se o chefe político local era nomeado ou se autonomeava coronel, pois, na prática, exercia grande poder sobre a população pobre. Assim teve origem o Coronelismo, que mesmo com o fim da Guarda Nacional em 1922, ainda continuou determinando as práticas políticas patrimonialistas em grande parte do Brasil. O coronelismo consistia em um sistema político baseado na troca de favores entre os chefes locais e a República Velha, em uma clara confusão entre o interesse público e privado. Este sistema estava fundamentado no tipo de dominação social tradicional weberiana, mas podia apresentar algumas características de dominação carismática. Infelizmente, esta prática patrimonialista ainda pode ser observada nos dias de hoje com algumas metamorfoses e dissimulações em todo território brasileiro. Tipos de Dominação Social – Max Weber Os Fenômenos Sociais no Campo: Messianismo e Banditismo Mesmo com o fim da Monarquia e a proclamação da República o abismo social continuou entre os pobres e os ricos no Brasil. No nordeste, a seca e a fome eram desoladoras e resultavam em muitas mortes. Desesperançosos, desamparados na República e cansados dos jugos dos coronéis, a população do campo tinha apenas duas escolhas: aceitar resignadamente o status quo de desigualdade ou rebelar-se. Parte da população miserável do campo optou por responder de alguma forma às péssimas condições de vida que lhe eram impostas. É neste contexto que nascem os fenômenos sociais no campo: o messianismo e o banditismo. O primeiro, de caráter religioso, encontrava seu fundamento no catolicismo popular ou religiosidade rústica. O segundo, de cunho marginal, utilizava a violência do cangaço como forma de ação. Messianismos, Movimentos Messiânicos e Milenarismo. Diversos movimentos relacionados ao catolicismo popular ocorreram no Brasil durante a transição da Monarquia para a República. Todos eles expressavam os impactos das contradições históricas da estrutura social brasileira sob a população miserável do campo. Dentre tantos movimentos, podemos destacar Canudos, Contestado e Juazeiro. Vamos conhecer um pouco melhor as contribuições teóricas a respeito de cada um deles. Canudos Marcha e Resistência em Canudos Contestado Em 1912, Miguel Lucena de Boaventura, conhecido como “Monge” José Maria, fundou o arraial do Contestado, em que pregava a justiça divina e a volta de D. Sebastião (rei português desaparecido na guerra de Alcácer-Quibir em 1578). Com uma doutrina de religiosidade rústica e antirrepublicana, o “monge” José Maria prometia um reino de paz e prosperidade, no que ele chamava de “monarquia celeste”. Assim, milhares de pessoas foram atraídas para o arraial como fuga da miséria e desesperança em que viviam. Já em novembro de 1912, o Contestado sofreu o primeiro ataque militar e o “monge” José Maria foi morto. Ao contrário do que se acreditava, o movimento não se dispersou e a crença no reino prometido permaneceu com seus fiéis. O arraial continuou resistindo bravamente aos ataques das forças federais até 1914, quando foi destruído. Porém, cerca de cinco mil sobreviventes formaram pequenas guerrilhas que se espalharam pela região do Contestado, ocupando cerca de 25 mil km2. Diante disso, o governo federal decidiu agir radicalmente e enviou uma tropa com seis mil soldados e mil jagunços, que em 1916 conseguiram aniquilar o movimento. Juazeiro No Ceará, em Juazeiro do Norte, sertão do Cariri, surgiu um novo líder popular, o Padre Cícero Romão Batista. Em 1889, quando celebrava uma missa, no momento da comunhão, uma hóstia teria se tingido de sangue. Considerado como milagre pela população pobre do lugar, o ocorrido transformou Juazeiro em centro de romarias de todo nordeste. Era o alívio e a esperança daquele povo tão sofrido e abandonado pelas autoridades públicas. A religiosidade rústica do fenômeno em Juazeiro encontrava fundamento nas mesmas condições socioculturais dos eventos de Canudos e Contestado. Entretanto, os desdobramentos foram diferentes. Enquanto em Canudos e Contestado as camadas populares se mobilizaram em uma rebeldia contra o status quo, em Juazeiro a fé do povo é controlada e manipulada pelos interesses elitistas. O próprio “Padin Ciço”, como ficou conhecido o Padre Cícero, tornou-se uma espécie de coronel. Foi eleito prefeito de Juazeiro e utilizava de seu carisma sobre o povo para garantir seu prestígio junto às elites latifundiárias. Assim, esse fenômeno em Juazeiro não foi de contestação ao status quo, mas uma forma de escamoteamento da tensão social existente por meio da religiosidade rústica. Outros exemplos messiânicos rurais no Brasil Podemos citar como exemplos de outros movimentos de religiosidade rústica no campo: o Reino Encantado, o Povo do Velho Pedro e o Beato do Caldeirão. Novos movimentos messiânicos brasileiros Embora os movimentos messiânicos de religiosidade rústica encontrem as condições próprias para sua eclosão no contexto patrimonialista do campo e seus adeptos nas populações de índios destribalizados, mestiços e trabalhadores rurais, não é excludente sua ocorrência no contexto urbano. Segundo o professor Lísias Nogueira Negrão, em seu artigo “Sobre os Messianismo e MilenarismosBrasileiros”, podemos citar como exemplos urbanos desses movimentos: a Fraternidade Eclética Espiritualista Universal, liderada por Yokaanam, surgida no final dos anos 40 no Rio de Janeiro, o Movimento Terrorista e Ufologista de Aldino Félix, na década de 60 em São Paulo e os Borboletas Azuis de Campina Grande na Paraíba, liderado por Roldão Mangueira, na década de 70. Conclusão Os movimentos messiânicos e o banditismo social no campo apresentam-se como respostas coletivas das camadas populares diante das contradições estruturais vivenciadas pela miséria, exploração e abandono. Talvez, inconscientemente, o cangaço tenha expressado a indignação de um povo excluído e marginalizado, que assume e usa sua marginalidade como forma de se rebelar contra ou de afirmar uma dignidade negada pela estrutura social. Por sua vez, os movimentos de religiosidade rústica encontram fundamentos em sentimentos tradicionais, que se colocam em choque com as transformações modernas ameaçadoras. Seus líderes desenvolvem o tipo puro de denominação carismática weberiana em contraste com a dominação do tipo tradicional. Possuem uma lógica interna adequada ao contexto sociocultural dos seus integrantes, por isso não devem ser compreendidos apenas como manifestações de um fanatismo ou loucura coletiva, nem como expoentes de uma nova ordem socialista. Apesar do processo de urbanização e industrialização tornar mais raro, o contexto urbano não exclui o aparecimento desses movimentos. Enfim, tais fenômenos não devem ser reduzidos ao olhar preconceituoso das elites, nem tampouco à utópica visão ficcionista. AULA 6 – PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES: O RURAL E O URBANO EM MOVIMENTO A Primeira República: República da Espada (1889 a 1894) e a República Oligárquica (1894 a 1930) A construção da República no Brasil é marcada pela contradição entre o velho e o novo. O antigo modelo patriarcal, assentado na Monarquia, cede lugar ao moderno modelo democrático, fundamentado na República. Entretanto, a nova forma não traduz fielmente o seu conteúdo. Na prática, a primeira República brasileira, também chamada de República Velha, preserva valores e costumes típicos da sociedade tradicional, como o autoritarismo ou o mandonismo das elites militares ou oligárquicas. A primeira fase da República Velha ficou conhecida como República da Espada e teve um curto período de vigência que foi entre 1889 até 1894. A segunda fase da República Velha ficou conhecida como República das Oligarquias e teve um período mais longo de duração, entre 1894, com a eleição de Prudente de Morais, e 1930, com a chegada ao poder de Getúlio Vargas. O Nascimento do Movimento Operário Brasileiro As péssimas condições de vida e de trabalho são o retrato das contradições entre o tradicional e o moderno no Brasil. O mandonismo patriarcal do passado permanece no tratamento ao operariado em formação. Entretanto, este quadro de opressão é contrastado com a formação das primeiras Ligas Operárias. Em 1906, sob a influência de ideias anarquistas e anarco-sindicalistas trazidas pelos imigrantes italianos, é realizado o I Congresso Operário brasileiro. Dois anos depois, é fundada a Confederação Operária Brasileira (COB) e o jornal “A Voz do Trabalhador” que reivindica direitos trabalhistas como a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias e o seguro contra acidentes. O movimento dos trabalhadores cresce e em 1912 é realizado o II Congresso Operário que ratifica as reivindicações anteriores e elege a greve como instrumento legítimo de luta contra a opressão do Capital. Apesar disso, as condições de trabalho e vida continuam péssimas para o operariado que sobrevive com baixos salários, intensa exploração do trabalho infantil e feminino, falta de higiene nas vilas operárias, mortalidade infantil e inúmeras epidemias. Dados sobre o desenvolvimento da indústria e do operariado brasileiro: - Em 1889, o Brasil já possuía cerca de 636 indústrias e 54 mil operários. - Em 1907, esse número subiu para 3.258 indústrias e 149.018 operários. - Em 1920, o Brasil chegou a 13.336 indústrias e 275.512 operários. Primeira Greve Geral do Brasil – 14 de junho de 1917 Diante do quadro de miséria e degradação, os trabalhadores de São Paulo se mobilizam e deflagram diversas greves. A reação do governo foi violenta e o operário José Martinez é assassinado pelos soldados que atiraram contra os manifestantes. Este foi o estopim para que em 14 de julho de 1917 fosse deflagrada a Primeira Greve Geral do Brasil. Cerca de 70 mil trabalhadores participaram da greve que colocou definitivamente o Movimento Operário Brasileiro no contexto da luta de classes. O Tenentismo Os 18 do Forte Em 5 de julho de 1922, no forte de Copacabana no Rio de Janeiro, jovens tenentes iniciam o levante que contou com cerca de 300 tenentes. Entretanto, diante da violenta repressão federal, apenas 17 rebeldes continuaram. Eles saíram à rua e com o apoio de um civil (Octávio Correa) enfrentaram as tropas federais. Apenas dois rebeldes sobreviveram: Siqueira Campos e Eduardo Gomes. Este episódio ficou conhecido como “Os 18 do Forte”. Outros regimentos em todo país também se articularam, mas foram rapidamente contidos. A Coluna Prestes-Miguel Costa O clima de insatisfação persistiu e em 1924 outros oficiais do Exército protestaram em São Paulo contra o mandonismo oligárquico. A Revolução de 1930: o fim da República Velha Em 1930, o presidente Washington Luís, representante dos fazendeiros de São Paulo, rompe com a política do Café-com-Leite ao indicar o paulista Júlio Prestes para sua sucessão. A reação dos políticos mineiros veio com a formação da Aliança Liberal, em que Minas Gerais apoia a candidatura do gaúcho Getúlio Vargas à presidência e a do paraibano João Pessoa à vice naquela eleição. Contudo, o sistema de fraudes eleitorais garantiu a vitória de Júlio Prestes. Quando tudo parecia definido, João Pessoa é assassinado na Paraíba devido a disputas políticas locais. Este foi o estopim para a revolução. O general Gois Monteiro e Getúlio Vargas marcham do Rio Grande do Sul para o Rio de Janeiro e destituem o presidente Washington Luis. Era o fim da República Velha. A Revolução Constitucionalista de 1932 Getúlio Vargas centralizou o poder no Executivo Federal, fechando o Congresso nacional e as Assembleias Estaduais. Além disso, reduziu as forças policiais e indicou interventores nos Estados da Federação. - A nomeação de um interventor federal em São Paulo foi a gota d’água para uma série de manifestações populares contra o autoritarismo de Vargas e a favor de uma nova Constituição Federal. O conflito piora com a morte de quatro jovens pela polícia em um desses protestos. - Apesar da derrota, a Revolução Constitucionalista de 1932 em São Paulo obteve a maior parte de suas reivindicações. Em 1933, foi eleita a Assembleia Constituinte. Em 1934, Vargas foi indiretamente eleito presidente para um mandato de quatro anos. - Na Era Vargas, Getúlio Vargas instituiu diversos direitos trabalhistas que perduram até os dias de hoje. Dentre eles, podemos citar: - jornada de trabalho de oito horas diárias; - descanso semanal remunerado; - férias anuais remuneradas; - indenização por demissão sem justa causa; - proibiu o trabalho de menores de 14 anos; - proibiu o trabalho noturno e insalubre para menores de 16 anos e mulheres. - Durante o primeiro governo de Vargas, o cenário mundial viveu grande ebulição política com a consolidação do comunismo na Rússia, o surgimento do nazismo na Alemanha e do fascismo na Itália. No Brasil, surgiram grupos políticos inspirados nessas ideologias. Foi o caso da Ação Integralista Brasileira (AIB) e da Aliança Nacional Libertadora. - Fundada em 1932, pelo jornalista Plínio Salgado, a AIB tinha forte inspiração fascista e nacionalista. Sob o lema “Deus, Pátriae Família”, os integralistas eram a favor de um Regime Político Totalitário capaz de garantir a supremacia absoluta do Estado sobre a sociedade. - Em resposta ao avanço do fascismo no Brasil, os comunistas brasileiros fundaram a ANL, em 1935, sob a liderança de Luís Carlos Prestes. Com o apoio da União Soviética, os aliancistas propunham: - o não pagamento da dívida externa; - a nacionalização das empresas estrangeiras; - a reforma agrária; - a formação de um governo popular. A intentona comunista Em 5 de junho de 1935, Prestes lançou um manifesto em favor de uma revolução socialista no Brasil. Imediatamente, Vargas determinou o fechamento da ANL. O Partido Comunista do Brasil respondeu a esta medida com levantes militares em Natal, Recife e Rio de Janeiro. Entretanto, a revolução foi vencida pelas forças federais e ficou conhecida como a Intentona Comunista. O Estado Novo Sob o pretexto de combater os comunistas, Getúlio assume uma postura totalitária e realiza o seu golpe de Estado em 10 de novembro de 1937. Ele determina o fechamento do Congresso Nacional e outorga uma Constituição inspirada no fascismo polonês que ficou conhecida como “A Polaca”. Apoiado pela AIB, Vargas instaura o Estado Novo, cuja denominação é uma referência à ditadura portuguesa de Antônio Salazar. Durante o Estado Novo, Vargas adotou uma postura de autoritarismo e populismo sustentado por um forte aparato repressivo e midiático. Ele extinguiu os partidos políticos, inclusive a AIB e criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), responsável pela censura e criação da ideologia patriótica e populista. Em 1943 Getúlio ratifica seu golpe ideológico sob as camadas populares ao instituir a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Na verdade, os direitos trabalhistas conquistados pelos operários em suas lutas sangrentas foram reunidos na CLT sob a ideia de concessão do presidente. Assim ele, que muitas vezes reprimiu violentamente o movimento sindical, assume miticamente a imagem do “Pai dos Pobres”. Movimento Queremista Aos poucos o autoritarismo de Vargas o isolou no poder e as pressões políticas ficaram insustentáveis. O seu nacionalismo desagradava à burguesia internacional e o seu populismo gerava crítica da burguesia nacional. Pressionado, ele tenta encontrar apoio nas camadas populares. Temendo a volta das oligarquias e a perda de conquistas trabalhistas, Luís Carlos Prestes e o PCB defendem sua permanência com o Movimento Queremista: “Queremos Getúlio!”. No entanto, o presidente estava enfraquecido e movimento popular, que ele próprio desarticulou outrora, não tinha forças suficientes para sustentá-lo. Assim, Getúlio é forçado a renunciar em 1945. Volta ao poder nas eleições de 1951, mas ainda sem sustentação política e sob intensa pressão, ele se suicida, colocando fim à Era Vargas. Movimento Social no Campo: as Ligas Camponesas A crise social e econômica brasileira em meados do século XX nunca foi exclusividade dos centros urbanos. Desde o período colonial, a produção agrária sempre foi importante para a economia do Brasil. Entretanto, os trabalhadores rurais jamais receberam amparo das autoridades públicas. Monarquia para República: Na transição da Monarquia para República, o poder das oligarquias rurais contaminou a estrutura moderna do Estado brasileiro com o coronelismo e a política dos governadores. Assim, o quadro de exploração, o abandono e a miséria caracterizam a história sofrida da população do campo. Aproximação da burguesia industrial: Em meados do século XX, a aproximação da burguesia industrial emergente com os senhores de terras tradicionais produziu um processo singular nas áreas rurais brasileiras. Chamado de Modernização Conservadora, esse processo gerou mudanças no cenário das relações sociais e econômicas do campo. Dentre elas, a expropriação de terras dos camponeses e sua proletarização. Trabalhadores rurais: Diante dessa intensa exploração, os trabalhadores rurais se mobilizaram e criaram as Ligas Camponesas e os Sindicatos Rurais como formas de luta contra a opressão do Capital no campo. Diferentemente dos movimentos messiânicos ou do banditismo social, as Ligas Camponesas apresentaram uma forte politização e objetivos claros contra a exploração dos coronéis, a reivindicação de direitos trabalhistas, a reforma agrária, entre outros. Outros movimentos sociais: Atualmente, outros movimentos sociais desempenham papéis importantes no campo, como o Movimento dos Sem-Terra (MST). Contudo, foram as Ligas Camponesas que, durante as décadas de 50 e 60, organizaram e politizaram os trabalhadores rurais na luta por seus direitos. O principal líder desse movimento foi o advogado Francisco Julião que sempre defendeu a construção de uma sociedade justa e igualitária. Atualmente, outros movimentos sociais desempenham papéis importantes no campo, como o Movimento dos Sem-Terra (MST). Contudo, foram as Ligas Camponesas que, durante as décadas de 50 e 60, organizaram e politizaram os trabalhadores rurais na luta por seus direitos. O principal líder desse movimento foi o advogado Francisco Julião que sempre defendeu a construção de uma sociedade justa e igualitária. O golpe militar de 1964 e os movimentos sociais por democracia Em 1960, Jânio Quadros foi eleito presidente pela União Democrática Nacional (UDN), mas a herança política de Getúlio Vargas conseguiu eleger João Goulart (Jango) como vice-presidente. O Brasil vivia um quadro econômico frágil, com alta de infração e pressões sociais. Jânio não conseguia superar esses problemas e desagradava todas as correntes políticas. Até que em 25 de agosto de 1961, ele renunciou à presidência e deu início a mais um período de violência na história do Brasil. Pela ordem constitucional João Goulart deveria assumir a presidência, mas estava em uma missão diplomática na China. Talvez Jânio acreditasse que sua renúncia não fosse ser aceita pelo Congresso nacional nem pelos militares por causa da simpatia de Jango pelos comunistas. Entretanto, a renúncia de Jânio foi aceita, mas a posse de Jango teve que ser negociada com os militares que o ameaçaram de prisão, caso retornasse ao Brasil. Movimento de Resistência Democrática Diversas manifestações passaram a exigir o cumprimento da Constituição. Este movimento ficou conhecido como a Campanha Legalista ou Movimento da Resistência Democrática que teve como governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola, seu principal defensor. A inflação aumentou ainda mais, e as pressões populares forçaram a antecipação do Plebiscito para o dia 6 de janeiro de 1963, consagrando o presidencialismo com mais de 80% dos votos. Finalmente, João Goulart poderia colocar em prática seu plano de governo, que previa entre outras medidas: corte dos gastos públicos; reformas de base (agrária, bancária, tributária, eleitoral e educacional); redução da inflação; combate à desigualdade social. Reação Conservadora: em 13 de março de 1964, Jango anunciou a nacionalização das refinarias de petróleo e a expropriação de terras para a reforma agrária, além de uma nova Constituinte. A reação conservadora veio com a “Marcha da família com Deus pela Liberdade” que reuniu mais de 300 mil pessoas contra o governo. 1º de Abril: o Dia da Mentira: apesar de contar com certo apoio popular, o presidente João Goulart não tinha sustentação política suficiente e foi destituído pelos militares. Isso revelou como o contexto social brasileiro é complexo e contraditório em suas redes de relações conservadoras e transformadoras do status quo. Assim, no dia 1º de abril de 1964, Dia da Mentira, os valores democráticos e republicanos foram violentados em nome de Deus, da Pátria e da Família. Os Atos Institucionais: a violência constitucional O golpe militar extinguiu diversas garantias e liberdades individuais sob o pretexto de combater a ameaça comunista e superar a crise econômica.Anunciada como temporária, a ditadura militar permaneceu até 1984. O principal instrumento de governo foram os Atos Institucionais que tinham força de Emendas Constitucionais do Poder Executivo. Assim, os oficiais militares tinham poderes arbitrários sobre a sociedade. AI I – 1964: - poder de alterar a Constituição; - cassar mandatos políticos; - suspender direitos e garantias individuais; - decretar estado de sítio. AI 2 – 1964: - extinguiu todos os partidos políticos; - criou dois partidos políticos (Arena e MDB); - determinou eleições indiretas para Presidência da República. AI 3 – 1966: - determinou eleições indiretas para os estados da federação; - os prefeitos passaram a ser escolhidos pelos governadores estaduais; - endureceu ainda mais o regime. AI 4 – 1966: - estabeleceu uma eleição presidencial; - elaboração de uma nova Constituição. AI 5 – 1968: - fechamento do Congresso Nacional; - possibilidade de prisão de qualquer pessoa pelo Executivo; - possibilidade de perda dos direitos políticos de qualquer pessoa pelo Executivo; - censura prévia dos meios de comunicação; - o controle do Judiciário pelo Executivo; - extinção do Mandado de Segurança e do Habeas Corpus. Movimentos Sociais Maio de 1968: “Sejamos realistas. Exijamos o impossível!” Enquanto isso na França, em maio de 1968, estudantes protestam contra o sistema de ensino. O movimento ganhou força e se tornou uma revolta contra o status quo de conservadorismo político. Paris foi tomada por diversas manifestações. Mesmo sofrendo violência policial, os estudantes ofereciam flores aos soldados. Inspirados no movimento hippie, o principal modo de ação coletiva era o pacifismo em defesa da liberdade. Sob lemas como “Sejamos realistas. Exijamos o impossível!” ou “É proibido proibir!”, o movimento jovem logo recebeu apoio de intelectuais e trabalhadores que aderiram à luta pela transformação social. Uma greve geral mobilizou cerca de 10 milhões de operários. Apesar da repressão, o movimento deixou como herança ideológica a esperança de que é possível mudar. A Passeata dos Cem Mil No Brasil, o movimento estudantil também cresceu e, ao lado de intelectuais, camponeses e operários, combateu diretamente a Ditadura Militar. O governo reagiu invadindo escolas, universidades e teatros. As diversas passeatas realizadas pelos estudantes foram reprimidas com grande violência e prisões. Até que em uma delas, o jovem estudante secundarista, Edson Luís foi morto pelos soldados no Rio de Janeiro. O seu enterro se transformou em uma passeata com mais de 100 mil participantes. Guerrilhas Contra a Ditadura O AI- 5 aniquilou qualquer possibilidade de oposição legal ao regime militar no Brasil. Isso fez com que os movimentos sociais em favor da volta da democracia fossem considerados clandestinos e marginais pelo governo. Assim, grupos armados paramilitares se formaram para lutar contra a ditadura militar. Eram as chamadas Guerrilhas Urbanas e Rurais. As suas principais formas de resistência eram assaltos a banco, ataques ao Exército, roubos de armas e libertação de companheiros presos. A reação militar veio com a criação de um sistema integrado de repressão. Foram criados o Serviço Nacional de Informação (SNI) e as Secretarias Estaduais de Segurança (SES) e seus Departamentos de Ordem Política e Social (DOPS). O Exército criou ainda o Destacamento de Operações e Informações (DOI) e o Centro de Operações de Defesa Interna (CODI). Todo esse aparato técnico-científico militar tinha como objetivos identificar, capturar, torturar e eliminar opositores ao regime. O ato de guerrilha de maior repercussão internacional foi sem dúvida o sequestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick. As duas guerrilhas que mais se destacaram foram as lideradas por Carlos Lamarca, ex-capitão do Exército, morto em 1971, e por Carlos Marighela, ex-deputado do PCB morto em 1969. A última a sucumbir foi a Guerrilha do Araguaia, entre o Pará, Maranhão e Goiás, que lutou de 1967 até 1975, quando 69 guerrilheiros foram mortos pelo exército. Movimento de Resistência Artística: pra não dizer que não falei de flores Diversos segmentos artísticos passaram a demonstrar insatisfação com o regime militar. O chamado Cinema Novo abandonou a alienação do modelo estético estrangeiro e passou a abordar a cruel realidade nacional. Movimento “Diretas Já!” Movimento “Diretas Já!” AULA 7: A CONSTITUIÇÃO CIDADÃ E OS MOVIMENTOS SOCIAIS O que é uma Constituição Política e Jurídica? O fundamento normativo de um país é sua Constituição. Por meio dela são reconhecidos os princípios e os objetivos que norteiam o projeto de construção nacional. Ela serve como parâmetro de validade para todo o ordenamento jurídico infraconstitucional. Assim, todas as leis inferiores à Constituição devem estar em consonância com a mesma, sob pena de serem consideradas inconstitucionais. Trata-se do arcabouço político-jurídico e ideológico sob o qual se funda a “Relação Estado e a sociedade”. Ela é responsável pela organização e regulamentação dos elementos essenciais do Estado, bem como expressa as tensões presentes na estrutura. Toda Constituição nasce de seu contexto histórico-político, por isso ela não é neutra. Ao contrário, ela é o resultado do processo democrático ou autoritário vivido por uma nação. Nesse sentido, o Brasil apresenta uma dinâmica bastante turbulenta e contraditória em seu processo constitucional. Partindo de um absolutismo monárquico no início do século XIX, o Brasil chega no final do século XX com uma Constituição chamada de Cidadã, pela sua ênfase nos direitos e deveres individuais e coletivos. Ilustram esse processo histórico-político brasileiro sete Constituições diferentes: Aspectos Teóricos Fundamentais – o Poder Constituinte Inicialmente precisamos entender que o processo constitucional decorre da manifestação de um poder social denominado Poder Constituinte (PC). Este é o poder de elaborar ou reformular uma Constituição. No primeiro caso é chamado de Poder Constituinte Originário (PCO), porque cria a nova ordem constitucional. Trata-se de um poder incondicionado, pois não possui nenhuma limitação em seu exercício. Já o segundo caso é chamado de Poder Constituinte Derivado (PCD), porque a sua possibilidade de alterar a Constituição encontra fundamento e limite na própria, por isso é condicionado por ela. Este último é subdividido em Poderes Reformador, Decorrente e Revisor. Entenda o Poder Constituinte: Poder Constituinte Derivado Reformador (PCDR): é o poder de alterar a Constituição dentro dos limites impostos pelo Poder Constituinte Originário (PCO). Ex.: emendas constitucionais (artigos 59, I e 60 da Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) de 1988. Poder Constituinte Derivado Decorrente (PCDD): é o poder conferido aos Estados-membros de se estruturarem conforme a Constituição Nacional. Ex.: a capacidade de auto-organização (art. 25, caput CRFB/88), autogoverno (art. 27,28 e 125 CRFB/88) e autoadministração (art. 18 e 25 a 28 CRFB/88) conferida pelo PCO aos estados. Poder Constituinte Derivado Revisor: trata-se de um processo de revisão previsto pelo PCO, em que toda Constituição pode ser reformulada de uma só vez. Ex.: o artigo 3º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da CRFB/88 (ADCT) determinou uma única revisão constitucional. Titularidade do Poder Constituinte Diferentemente do modelo teocêntrico medieval, em que a origem do poder político era a vontade de Deus, o modelo moderno afirma que sua origem é a vontade do homem (antropocentrismo). Logo, a legitimidade de uma Constituição está na premissa de que o povo é o titular do Poder Constituinte. A Dinâmica Constitucional Brasileira A Constituição de 1824 A independência do Brasil em 1822 trouxe a necessidade de construção de uma ordem política e
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