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DISCIPLINA: ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA AULA 5 Prof. Ernani João Silva 2 CONVERSA INICIAL Neste encontro, estudaremos a importância da Engenharia econômica no processo da Análise de Viabilidade Econômico-Financeira (AVEF) por meio de cinco temas principais: AVEF e os fundamentos da Engenharia Econômica; regime de capitalização simples; regime de capitalização composta; taxas de juros (nominais, efetivas, equivalentes, reais etc.); sistemas financeiros de amortização. Com base nesses temas, você será capaz de entender como o fluxo de caixa pode ser utilizado para a AVEF, segundo seus fundamentos básicos. Boa Aula! CONTEXTUALIZANDO O tempo interfere no valor do capital, seja em um cenário econômico inflacionário ou não. O que acontece é que, quando em um projeto se faz a injeção de capital, o investidor que o fez exige retorno sobre este. O que significa retorno para o investidor? Basicamente, uma remuneração que cubra tanto as oportunidades que foram perdidas quando da escolha desse projeto quanto os riscos que a operação em específico tem. Em conjunto, esses dois elementos formam Taxa Mínima de Atratividade (TMA) do investidor. E é a partir daqui que entra em cena a Engenharia Econômica, pois é ela que, resumidamente, fornece o instrumental que nos permite entender, em um processo de AVEF, quanto um projeto é favorável ou não ao longo do tempo para atender aos anseios dos investidores. Nesta aula, vamos refletir sobre alguns elementos básicos para que a AVEF possa utilizar a Engenharia Econômica com sucesso. PESQUISE O diretor da “Nós vamos ter sucesso Ltda.” recebeu um relatório do departamento financeiro dizendo que o novo projeto da empresa teria um retorno nominal aparente ao ano de 15% em relação ao valor a ser investido. Após refletir sobre o número, o diretor perguntou sobre o valor qual era a inflação prevista para o período, escutando de um de seus gerentes: “Segundo minhas 3 pesquisas, será de 10%, então nosso ganho real será de apenas 5%”. Ao escutar isso, o diretor balançou a cabeça e disse: “Sinto em dizer, meu caro colaborador, que o senhor está equivocado”. E agora? Quem é que está correto, o diretor ou o gerente? Reflita sobre isso, no final da aula, voltaremos a esta questão. TEMA 01: "ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICO- FINANCEIRA" (AVEF) E OS FUNDAMENTOS DA ENG. ECONÔMICA Neste tema, abordaremos os elementos fundamentais que constituem o arcabouço da Engenharia Econômica. Para tanto, será explicado o que é um fluxo de caixa no processo analítico e como a taxa de juro representa o custo do capital na AVEF. Também teremos noções preliminares sobre capitalização (tempo e regime), bem como as modificações do capital ao longo do tempo (VP, VF etc.). Segundo Hirschfeld (2000, p. 21), o fluxo de caixa pode ser definido como “[...] a apreciação das contribuições monetárias (entradas e saídas de dinheiro) ao longo do tempo [...] representado de forma analítica ou gráfica”. A representação gráfica citada por Hirschfeld é o “diagrama do fluxo de caixa”, um eixo horizontal que representa o tempo, onde, por meio de duas áreas distintas, ocorrem as análises. A região superior desse eixo é área positiva do diagrama (encaixes) e a inferior, a área negativa (desencaixe), onde esses movimentos podem ocorrer de forma uniforme (valores sequenciais iguais) ou não. O diagrama é uma imagem que demonstra como ocorreu ou ocorrerá o movimento dos recursos de uma entidade ao longo de um dado período de tempo. Na figura abaixo, temos a visualização dessa explicação do fluxo de caixa. Observe que seu início é no valor zero (denominado de VP: Valor Presente) e o término na enésima posição, isto é, no momento “n” (denominado de VF: Valor Futuro): 4 Assim, o fluxo é construído dentro do limite a ser definido pelo valor dado em “n” – por exemplo: de 0 a 15 dias, de 0 a 12 meses, de 0 a 10 anos. Essa forma gráfica de representação pode ser usada de diversas maneiras, como para saber se o saldo final da conta disponível (Caixa, banco, aplicações) em um dado tempo futuro será suficiente para honrar o volume de saídas que é esperado – seja esta definida por provisões ou previsões. Ou, ainda, qual é o valor do fluxo de recursos dentro de um período, por meio de uma análise econômica, considerando, para tanto, o valor presente, uniforme ou futuro do capital. Quanto ao valor da taxa de juro, essa, como demonstra o diagrama, é o custo do capital da empresa. Isso nos leva às nossas aulas anteriores, onde vimos que o capital de um investimento tem duas fontes possíveis: capital próprio (Patrimônio Líquido: PL) e capital de terceiros (Passivos: P). Assim, o capital cuja origem seja do PL tem um custo de capital igual a “kp” valor; já o capital de origem no P, um custo de capital igual a “kt” valor – ambos na forma percentual. Desse fato, o custo do capital, isto é, a taxa de juro de uma empresa é igual ao custo de oportunidade e o prêmio de risco que os terceiros e os donos têm em relação ao investimento a ser feito (Ficou um tanto confuso? Dê uma olhada no tema 2 trabalhado na aula 1). Agora que já sabemos o que é um fluxo de caixa e quais elementos encontramos como variáveis nele, vamos entender o que devemos identificar para realizarmos cálculos e análises sobre seus dados: 1º. Taxa de juro 2º. Período do tempo 3º. Regime de capitalização O primeiro item é aquele que acabamos de estudar (custo de oportunidade + prêmio de risco); o segundo é o valor do “n”, isto é, o tempo que a aplicação ocorrerá. Por fim, o terceiro indica como ocorrerá o processo de formação do juro e sua acumulação sobre o capital – por exemplo, juros simples exatos, juros compostos lineares, postecipado, antecipado etc. Enfim, se 5 tivermos esses dados em mãos, poderemos gerar importantes indicadores para um procedimento de AVEF, entre outros: VPL e VPLa; IBC e ROIA; Payback e TIR. Se você não entendeu as siglas, não se desespere, todas elas serão trabalhadas nesta e na próxima aula. Antes de encerrarmos, vamos entender que também existe na Contabilidade um instrumento analítico que trabalha o fluxo de caixa. Essa outra forma citada para a análise do fluxo de caixa é a da representação analítica, a qual, dentro de um contexto histórico, nos fornece a “Demonstração do Fluxo de Caixa” (DFC). Segundo Marion (2002, p. 64), este relatório contábil “[...] indica, no mínimo, as alterações ocorridas nos exercícios no saldo de caixa e equivalente de caixa, segregadas em fluxos das operações, dos financiamentos e dos investimentos”. Ou seja, ele apresenta sinteticamente o comportamento dos recursos em um dado período, conforme a qualidade das injeções e vazamentos de numerários. O “DFC” pode ser gerado por duas formas: direta e indireta. A primeira ocorre pela análise direta do movimento do caixa e das contas equivalente ao caixa, já a indireta, ocorre pela reconstrução do movimento dos recursos com base no resultado final apurado, seja este lucro ou prejuízo. A importância do DFC pode ser percebida na afirmação feita por Padoveze e Benedicto (2004, p. 49) de que, para o “[...] gerenciamento da tesouraria, assim como para a avaliação da movimentação financeira pela controladoria, o fluxo de caixa [demonstrativo] considerando a acumulação dos dados da movimentação financeira é fundamental [...]”. Portanto, o fluxo de caixa é uma análise que pode ser abordada tanto pela ótica contábil retrospectiva (Demonstrativo) quanto pelo caráter prospectivo da Engenharia Econômica (Diagrama), pois o foco de ambos os métodos não é apenas realizar um registro do passado recente, e sim servir de orientação sobre as decisões a serem tomadas. TEMA 02: ALGUNS CUIDADOS NO USO DA ENG. ECONÔMICA NA AVEF: REGIMEDE CAPITALIZAÇÃO SIMPLES Neste tema, nosso foco é o regime de capitalização simples. Aqui, serão explicados os conceitos lógicos que sustentam uma análise sobre o fluxo de caixa pela ótica do “capital /valor presente” original e a formas possíveis para seu cálculo (por exemplo, ano civil e comercial). 6 Nesta forma de cálculo do valor do capital ao longo do tempo, temos que entender que nele a formação do valor do juro se dá sempre em relação ao valor original, isto é, em relação ao VP. Assim, sua fórmula é definida pela seguinte forma: VF = VP + J VF = VP + Σ J parciais Onde: VF = Valor futuro VP = Valor presente J = Valor monetário total do Juro no período Σ J parciais = somatória do juros parciais Sendo “J” o somatório dos juros parciais do período, temos aqui, onde os juros parciais são todos iguais (pois o cálculo será sempre em relação ao valor do VP), que a fórmula do juro total pode ser obtida multiplicando o valor de juro parcial pela “n” quantidade de vezes que ele aparece no período: VF = VP + Σ J parciais VF = VP + J parcial . n Por fim, como o valor “J parcial”, no juro simples, é o resultado do VP · a taxa de juro “i”, temos, portanto, que a fórmula dos juros simples é: VF = VP + J parcial . n VF = VP + VP . i . n VF = VP . ( 1 + i . n) => fórmula-base do VF no regime de juro simples J = VP . i . n => fórmula-base do valor do juro total no período Agora que já sabemos as fórmulas-base, vamos ver quais são e como podemos utilizá-las. Neste sentido, temos três possibilidades: regime de juros exatos, ordinários e pela regra do banqueiro. Qual é a diferença? Na fórmula, nenhuma mudança ocorre nos três tipos, o que muda, na verdade, é como vamos preparar os dados que serão usados. Acontece que, para fazer o cálculo, os valores de “i” e “n” precisam estar na mesma unidade de tempo, por exemplo: 7 taxa de juro “i” ao dia e “n” tempo em dias; “i” ao ano e “n” em anos; “i” ao mês e “n” em meses etc. Na forma de cálculo exato, o tempo é contado “exatamente” com ele ocorre, por exemplo, uma taxa de juro de 36% ao ano, em cálculo em dias vira 36% / 365 dias = 0,0986%, na mesma forma, janeiro/2015 e fevereiro/2015 são dois meses que, juntos, somam 59 dias (31 + 28). Já no cálculo do juro simples ordinal, a história é outra: neste, as conversões são feitas por padronizações comerciais e, assim, todos os meses têm 30 dias e qualquer ano escolhido terá 360 dias. Vamos rever o exemplo: uma taxa de juro de 36% ao ano, em cálculo em dias, a taxa vira 36%/360 dias = 0,01%, na mesma forma, janeiro/2015 e fevereiro/2015 são dois meses que, juntos, somam 60 dias (30 + 30). Bem simples, não acha? Por fim, temos a regra do banqueiro, aqui a conversão do período “n” segue a regra do cálculo exato, já a conversão dos anos é pela regra ordinal, vamos retornar no exemplo: uma taxa de juro de 36% ao ano, em cálculo em dias, vira 36%/360 dias = 0,01%, na mesma forma, janeiro/2015 e fevereiro/2015 são dois meses com 59 dias (31 + 28). Vamos fazer um exercício com as três formas de cálculo... a) Contexto No ano de 2016, você emprestou, no dia 30 de março, a um amigo o valor de R$ 150,00 para ser devolvido no dia 30 de junho na seguinte condição: taxa de 21,6% ao ano e regime de capitalização por juro simples. Qual é o valor “total” e do “juro” que você vai receber? Dados brutos: PV: R$ 150 ; i : 21,6% ao ano ; n: 3 meses (abr., maio, jun.). Obs.: vamos usar PV e FV no lugar de VP e VF para ficar igual a nomenclatura da HP 12c. b) Cálculo pelo regime ordinal FV = PV . ( 1 + i . n ) FV = 150 . ( 1 + 21,6% /360 dias . 3 . 30 dias) FV = 150 . ( 1 + 0,06% ao dia . 90 dias) 8 FV = 150 . ( 1 + 5,4 % no período) FV = 150 . ( 1,054 ) = R$ 158,10 (resposta valor total) J = FV – PV J= 158,10 – 150 = 8,10 ou J = PV . i . n J = 150 . 0,06% . 90 J = 150 . 0,054 => R$ 8,10 (resposta Juro) Na HP 12c 150 CHS PV (saiu do seu bolso) 21,6 i (na HP, taxa é anual no juro simples) 90 n (na HP, prazo é sempre em dias no juros simples) F INT (comando para acionar o cálculo do juro simples ordinal)... Aparece na tela o valor do juro do período: R$ 8,10 (resposta juro) + Aparece na tela o valor montante (FV) : R$ 158,10 (resposta total) c) Cálculo pelo regime exato Primeiramente, precisamos achar o valor exato do “n”: 1 dia em março + 30 em abril + 31 em maio + 30 em junho = 92 dias Agora, vamos para o cálculo dos valores solicitados: FV = PV . ( 1 + i . n ) FV = 150 . ( 1 + 21,6% /365 dias . 92 dias) FV = 150 . ( 1 + 0,0592% ao dia . 92 dias) FV = 150 . ( 1 + 5,4464 % no período) 9 FV = 150 . ( 1,054464 ) = R$ 158,17 (resposta valor total) J = FV – PV => 158,17 – 150 => R$ 8,17 (resposta Juro) Na HP 12c g D.MY (este comando ativa o formato: Dia. Mês Ano) 30.032016 Enter (informamos a data inicial do cálculo) 30.062016 (informamos a data final do cálculo) g ΔDYS (variação da data) Aparece na tela: 92 dias 150 CHS PV (saiu do seu bolso) 21,6 i (na HP, taxa é anual no juro simples) 92 n (na HP, prazo é sempre em dias no juros simples) F INT R (comando para acionar o cálculo do juro simples exato)... Aparece na tela o valor original (PV): R$150 + Aparece na tela o valor montante (FV) : R$158,17 (resposta total) RCL PV + Aparece na tela o valor do juro do período: R$ 8,17 (resposta juro) d) Cálculo pela regra do banqueiro FV = PV . ( 1 + i . n ) FV = 150 . ( 1 + 21,6% /360 dias . 92 dias) FV = 150 . ( 1 + 0,06% ao dia . 92 dias) FV = 150 . ( 1 + 5,52 % no período) FV = 150 . ( 1,0552 ) = R$ 158,28 (resposta valor total) J = FV – PV = 158,28 – 150 = 8,28 Na HP 12c 150 CHS PV (saiu do seu bolso) 21,6 i (na HP, taxa é anual no juro simples) 92 n (na HP, prazo é sempre em dias no juros simples) F INT (comando para acionar o cálculo do juro simples ordinal)... 10 Aparece na tela o valor do juro do período: R$ 8,28 (resposta juro) + Aparece na tela o valor montante (FV) : R$158,28 (resposta total). Essas são as formas de cálculo do valor do tempo segundo o regime de juro simples. TEMA 03: ALGUNS CUIDADOS NO USO DA ENG. ECONÔMICA NA AVEF: REGIME DE CAPITALIZAÇÃO COMPOSTA Neste tema, nosso foco é o regime de capitalização composta. Aqui, serão explicados os conceitos lógicos que sustentam uma análise sobre o fluxo de caixa pela ótica dos “montantes/valores futuros” intermediários e as formas possíveis para seu cálculo (por exemplo, métodos exponencial e linear). Vamos começar nossa conversa respondendo à questão: O que são juros compostos? Basicamente, a taxa de juros incide nos saldos futuros parciais... é aquela velha história de juro sobre juro. Mas qual será sua lógica econômica? Muitas pessoas dizem que essa forma de cálculo é injusta, pois cobra, como já dito, juros sobre os juros anteriores calculados, não vamos entrar no mérito se isso está certo ou errado, mas, sim, entender o porquê disso ser feito. Imagine que você sobrevive comprando canetas a R$ 1,00 e as revendendo com 10% de ganho. Assim, com R$ 100,00 de capital, você compra 100 canetas e tem um lucro R$ 10,00. Certo dia, um amigo lhe pede R$ 100,00 emprestado, então você explica que, se der esse dinheiro para ele, deixará de ganhar 10% por mês, por isso, para dar o empréstimo, vai precisar cobrar esta taxa dele. Ele concorda. Ao término de três meses depois, ele volta e lhe entrega R$ 130,00 [ = VP . (1+ i . n) = 100 . (1 + 10%.3) ] e agradece o favor prestado. Você recebe o dinheiro e diz que ele não está certo, pois, se o empréstimo não tivesse sido feito, você teria com R$ 100,00 comprado 100 canetas, com a venda teria gerado no primeiro mês R$ 110,00[ = 100 . (1 + 10%) ], com este novo valor teria comprado 110 canetas e com elas feito R$ 121,00 [ = 110 . (1+10%) ] e, por fim, com este capital você compraria 121 canetas e conseguiria ter, após a venda, R$ 133,10 de capital, ou seja, o amigo lhe devia ainda R$ 3,10. O amigo fica bravo com você e diz que isso não está certo, que os R$ 130,00 era o valor 11 pelo cálculo do juro simples e que R$133,10 era conta de juro sobre juro. Assim, você perde o amigo e, também, deixa de ganhar R$ 3,10. Bem, esta é a lógica do juro composto, ele é um cálculo que considera as oportunidades perdidas por não estarmos de posse dos juros intermediários para realizarmos novas operações. Não estou dizendo que ele é mais justo ou menos justo, somente como é sua lógica econômica. Agora, vamos entender a conta, usando o exemplo da caneta: R$ 100,00 . ( 1 + 10%) => R$ 100 . ( 1 + 10/100) = R$ 110,00 R$ 110,00 . ( 1 + 10%) = R$ 121,00 R$ 121,00 . ( 1 + 10%) = R$ 133,10 Como todas as contas foram multiplicadas por (1+10%), podemos reescrever assim: R$ 133,10 = R$ 100 . (1+10%)3 => VF = VP . ( 1 + i )n Ou seja, ele equivale a: VP + J1 + J2 + J3 = VF R$ 100 + R$ 10 + R$ 11 + R$ 21,1 = R$ 133,10 R$ 100 + R$ 100.10% + R$ 110 . 10% + R$ 121 . 10% = R$ 133,10 Agora que você entendeu a lógica prática do cálculo, vamos ver essa questão por meio de expressões matemáticas: VF = VP + J VF = VP + Σ J parciais Onde: VF = Valor futuro VP = Valor presente J = Valor monetário total do Juro no período Σ J parciais = somatória do juros parciais Sendo “J” o somatório dos juros parciais do período, aqui, onde os juros parciais são todos diferentes (pois o cálculo será sempre em relação ao valor do 12 VF parcial), a fórmula do juro total pode ser obtida elevando os valores de cálculo do juro parcial em “n” quantidades vezes que ele aparece no período: VF = VP + Σ J parciais VF = VP + J 1 + J 2 + ... + J n Onde: Se for considerado que o VP original é o zero (VP0) e os VF parciais (VF1, VF2, etc.) são os novos VP dos cálculos, temos que: J 1 = VP0 . i => VF1 = VP0 + VP0 . i => VF1 = VP0 . (1+ i) => VF1 = VP1 J 2 = VP1 . i => VF2 = VP1 + VP1 . i => VF2 = VP1 . (1+ i) => VF2 = VP0 . (1+ i) . (1+i) Ou seja, VF2 = VP0 . (1+ i) . (1+i) => VF2 = VP0 . (1+i)2, o que significa que VF2 = VP . (1+i)2 Então: J n = VPn-1 . i => VFn = VPn-1 + VPn-1 . i => VFn = VP0 . (1+i)n, Por fim, sendo “VP0” o valor presente original e “VFn” o valor futuro final, temos que: VF = VP + J VF = VP + Σ J parciais VF = VP + J 1 + J 2 + ... + J n VF = VP . (1+i)n => fórmula-base do valor total no período J = VF – VP => fórmula-base do juro total no período Como podemos ver no cálculo do juro composto, assim como no juro simples, a taxa de juro (i) também é constante. Todavia, agora a base de cálculo sobre a qual incide a taxa de juro é variável, pois se trata do valor montante intermediário (= parciais). Ou seja, a base de cálculo agora não é mais o Valor Presente original (= capital), mas o capital atualizado (= montante) até o 13 momento anterior ao da próxima capitalização. Com base nessa constatação, isto é, partindo da fórmula básica “VF = VP . (1+i)n “foi possível derivar várias outras igualmente importantes, tanto para fluxos com pagamentos ou recebimentos constantes quanto para fluxos não constantes (= não uniformes). Neste tema, vamos abordar apenas o fluxo de caixa uniforme, sobre o não uniforme conversaremos na aula 6. Assim, a fórmula básica do pagamento uniforme é: PMT = VP . (1+i) 𝑛 . i (1+i) 𝑛 − 1 Onde: PMT = Parcelas uniformes ( U ) = Pagamentos constantes (PGTO) Essa fórmula nos permite estabelecer o valor constante de pagamento que atenda à lógica do juro composto. Vejamos como ela funciona no caso das canetas, isto é, vamos ver como seu amigo poderia ter pago a divida em três prestações uniformes: PMT = R$ 1000 . (1+10%) 3 . 10% (1+10%) 3 − 1 PMT = R$ 1000 . (1+0,10) 3 . 0,10 (1+0,10) 3 − 1 PMT = R$ 1000 . 0,1331 0,3310 PMT = R$ 1000 . 0,402115 => PMT = R$ 402,11 por mês n Juros Deve Pagou Saldo 0 R$ - R$ 1.000,00 R$ - R$ 1.000,00 1 R$ 100,00 R$ 1.100,00 R$ 402,11 R$ 697,89 2 R$ 69,79 R$ 767,67 R$ 402,11 R$ 365,56 3 R$ 36,56 R$ 402,11 R$ 402,11 R$ 0,00 . Ou seja, no ato do empréstimo (momento zero), seu amigo devia R$ 1 000, um mês depois, com o juro de 10%, ele devia R$ 1.100, mas, como pagou 14 R$ 402,11, ficou devendo apenas R$ 697,89. O saldo da dívida do mês 1 com os juros de 10% virou R$ 767,67, mas, como ele pagou R$ 402,11, ficou devendo ainda R$ 365,56, que, com 10% de juros, tornaram-se R$ 402,11, que foi liquidada com a última parcela. Bem legal! Não acha? Essa forma de cálculo é chamada de “postecipada”, isto é, a primeira parcela é posterior ao mês do empréstimo. Todavia, existe outra forma de fazer a conta, a “antecipada: Se ................ : PMT = VP . (1+i) 𝑛 . i (1+i) 𝑛 − 1 . 1 (1+i) 1 Então ........... : PMT = VP . (1+i) 𝑛 . i (1+i) 𝑛 − 1 . (1+i) −1 1 Portanto ....... : PMT = VP . (1+i) (𝑛−1) . i (1+i) 𝑛 − 1 Vejamos como ela funciona no caso das canetas: PMT = R$ 1 000 . (1+10%) (3−1) . 10% (1+10%) 3 − 1 PMT = R$ 1 000 . (1+0,10) (3−1) . 0,10 (1+0,10) 3 − 1 PMT = R$ 1 000 . 0,1210 0,3310 PMT = R$ 1 000 . 0,36556 => PMT = R$ 365,56 por mês n Juros Deve Pagou Saldo 0 R$ - R$ 1.000,00 R$ 365,56 R$ 634,44 1 R$ 63,44 R$ 697,89 R$ 365,56 R$ 332,33 2 R$ 33,23 R$ 365,56 R$ 365,56 R$ - 3 -x-x-x- -x-x-x- -x-x-x- -x-x-x- Como é possível perceber pela tabela, a forma antecipada também tem três pagamentos, todavia o primeiro é no ato, como entrada. Essa forma de 15 cálculo é muito comum em compras parcelas que dizem: uma entrada + n vezes, onde todos os valores são iguais. Para encerrarmos nossa conversa, falta apenas apresentarmos as formas de cálculo linear e exponencial para a obtenção do valor futuro. A primeira coisa que você precisa saber sobre isso é que somente existe diferença entre essas duas formas se o valor do “n” (isto é, o tempo) for um número quebrado, por exemplo: 3,5 meses. Vamos ver as diferenças nas fórmulas usando o exemplo das canetas, todavia mudando o n = 3 para n = 3,5: a) Convenção exponencial : FV = PV . ( 1 + i ) n FV = R$1.000 . (1 + 10%) 3,5 => FV = R$1.395,96 b) Convenção linear: FV = PV . (1 + i ) “n” parte inteira . (1 + i .“n” parte fracionária) FV = R$ 1.000 . (1 + 10%) 3 . ( 1 + 10% . 0,5 ) FV = R$ 1.331 . ( 1 + 10% . 0,5 ) FV = R$ 1.397,55 Resumindo, na forma exponencial, todo o valor do “n” é usado como uma potencial (100% juro composto). Na forma linear, a parte inteira do “n” é para juro composto e a parte fracionária (a parte quebrada) é utilizada na forma de juro simples. Talvez, você esteja pensando: “Engraçado, se o linear faz uso do juro simples, então por que ele dá um resultado maior?”. Bem, a resposta está na Matemática. Quando a gente faz o cálculo de uma potência com a parte quebrada de um número, estamos tirando uma raiz, veja o exemplo: √16 2 = 4; na verdade, essa expressão tem a seguinte fórmula=> 161/2 => 16 0,5 = 4. Entendeu? Quando usamos o “n” fracionário no cálculo exponencial, aquela parte é uma raiz. Todavia,quando usamos a parte fracionária no juro simples, ela é uma percentagem. Veja este exemplo: 16 . 0,5 = 8. Preste atenção: 16 0,5 =4 ( 4 x 4 =16), agora 16 x 0,5 = 8 (8 é 50% do valor de 16). Ou seja, quando usamos partes fracionárias em cálculos de potência, o resultado obtido 16 é menor se comparado com seu uso em cálculo de multiplicação. Assim, o uso do valor fracionado de “n” na forma linear, por causa dessa lógica, é que torna seu resultado maior. Obs.: Antecipado e postecipado somente têm diferença em cálculo de parcelas (PMT). Linear e exponencial somente têm diferença em cálculo de Valor Futuro (VF). Para deixar você feliz, veja essas situações resolvidas na HP12c. Para tanto, vamos voltar para nosso exemplo das canetas: a) Valor Futuro Exponencial Vamos usar o exemplo com n = 3,5 nos itens a) e b) (assim, você pode comparar com os exercícios feitos anteriormente). Primeiro passo: vamos ativar a forma exponencial da HP12c “STO ” + “ EEX ” = Ativa/Desativa o “c” Forma exponencial ativada: Aparece no visor um “c” no lado direito. Juro composto da parte fracionária de “n”. Segundo passo: com “c” na tela, vamos calcular. 1000 CHS PV (saiu do nosso bolso o dinheiro, pois usamos o CHS) 3,5 n 10% i FV => aparece na tela o valor a ser pago pelo amigo => R$ 1.395,96 b) Valor Futuro Linear Primeiro passo: vamos ativar a forma exponencial da HP12c. “ STO ” + “ EEX ” = Ativa/Desativa o “c” Forma linear ativada: O visor não tem o “c” no lado direito. 17 Juro é simples na parte fracionária de “n”. Segundo passo: sem “c” na tela vamos calcular. 1000 CHS PV (saiu do nosso bolso o dinheiro, pois usamos o CHS) 3,5 n 10% i FV => aparece na tela o valor a ser pago pelo amigo =>R$ 1.397,55 c) Valores Constantes Postecipados Vamos agora usar o exemplo com n = 3 nos itens c) e d) (assim, você pode comparar com os exercícios feitos anteriormente). Primeiro passo: vamos ativar a forma postecipada da HP12c. “g” + “end” (o “end” é a função azul que está abaixo da tecla 8). Forma exponencial ativada: “NÃO” aparece “Begin” na tela. Segundo passo: sem “begin” na tela, vamos calcular. 1000 CHS PV (saiu do nosso bolso o dinheiro, pois usamos o CHS) 3 n 10% i PMT => aparece na tela o valor das parcelas => R$ 402,11 d) Valores Constantes Antecipados Primeiro passo: vamos ativar a forma postecipada da HP12c. “g” + “begin” (o “begin” é a função azul que está abaixo da tecla 7). Forma exponencial ativada: APARECE “Begin” na tela. Segundo passo: com “begin” na tela, vamos calcular. 1000 CHS PV (saiu do nosso bolso o dinheiro, pois usamos o CHS) 3 n 10% i 18 FV => aparece na tela o valor a ser pago pelo amigo => R$ 365,56 TEMA 04: ALGUNS CUIDADOS NO USO DA ENGENHARIA ECONÔMICA NA AVEF: TAXAS DE JUROS (NOMINAL, EFETIVA ETC.) Neste tema, nossa pauta são as possíveis formas de apresentação analítica da taxa de juro: nominal, proporcional, efetiva, equivalente, aparente e real. Aqui, serão abordados os elementos teóricos e cálculos tidos como relevantes para o processo da análise de viabilidade econômico-financeira (AVEF). Então, vamos começar pela taxa nominal. Quando vamos ao banco para fazer uma aplicação ou em uma loja para comprar um bem na condição a prazo, geralmente recebemos dos representantes dessas entidades que a taxa anual da operação será de “x”% ao ano. Todavia, também costumamos receber, em seguida, que a forma de cálculo será mensal. Como isso é possível? Eles podem fazer isso? Se você acredita que isso é apenas uma forma usada por eles para enganar o cliente, pense nisso: se o banco usa esse artifício para vender um título que vai lhe pagar juros, e a loja usa o mesmo modelo de exposição para lhe cobrar juro, será que esta sua suspeita faz sentido? Claro que não, e o motivo disso ser feito assim é, simplesmente, porque não está errado. Eles estão usando uma forma de linguagem que é aderente com nossa base cultural, ou seja, estão nos fornecendo a taxa nominal do juro. A taxa nominal é o nome da taxa, o valor que a identifica em um dado tempo, sem considerar a forma como ela será utilizada efetivamente nos cálculos. Por exemplo: uma taxa nominal anual pode ser usada na condição ao dia, ao mês, ao trimestre, ao semestre, e, sim, também, ao ano. Quando a taxa nominal é convertida em uma taxa de uso, este valor convertido é denominado ou de taxa proporcional (regime de capitalização simples) ou de taxa efetiva (regime de capitalização composto). No caso do juro simples, precisamos homogeneizar a referência temporal entre a taxa “i” e o período “n”. Quando o ajuste é feito na taxa, dizemos que estamos convertendo a taxa nominal em taxa proporcional, por exemplo: uma taxa nominal de 24% ao ano, em um processo de capitalização simples, considerando 3 meses de aplicação precisa ser ajustada para sua forma proporcional aos meses, ou seja, precisa ser dividida por 12 meses => 24% ao ano / 12 meses = 2% ao mês (taxa proporcional). 19 O mesmo procedimento é adotado na taxa efetiva, ou seja, quando vamos usar a taxa nominal, precisamos primeiro ajustá-la para ficar em homogeneidade com o período “n”. Por exemplo: uma taxa nominal de 24% ao ano em um processo de capitalização composta, considerando 3 meses de aplicação, precisa ser ajustada para sua forma proporcional a dos meses, ou seja, precisa ser dividida por 12 meses => 24% ao ano / 12 meses = 2% ao mês (taxa proporcional). Se a forma de conversão é igual, por que os nomes são diferentes, taxa proporcional para juro simples e taxa efetiva para juro composto? Antes de responder a essa questão, veja esta passagem de Vieira Sobrinho (1981, p. 80): O conceito de taxas proporcionais é utilizado somente para capitalização simples, no sentido de que o valor dos juros é linearmente proporcional ao tempo. [...] A proporcionalidade linear é uma característica da capitalização simples. O que a citação nos apresenta é que, por mais que a conta seja a mesma entre a taxa efetiva e a taxa proporcional, o uso delas apresenta resultados distintos. No caso do juro simples, as taxas proporcionais não alteram, dentro de um mesmo período, o resultado do VF, não importa a forma de capitalização (diária, mensal, anual). No juro composto, a taxa efetiva não ocorre. Vamos entender isso com dois exemplos com os mesmos dados: Dados: Valor presente .... : R$ 1000 Período “n” ......... : 12 meses (= 360 dias; = 1 ano) Taxa nominal ..... : 24 % ao ano 1º Exemplo: Regime de juro simples => VF = VP . ( 1 + i . n ) a) Taxa proporcional anual: 24% ao ano VF = R$ 1 000 . (1 + 24% ao ano . 1 ano) VF = R$ 1 240,00 b) Taxa proporcional mensal: 24% / 12 meses=> 2% ao mês VF = R$ 1 000 . (1 + 2% ao mês . 12 meses) VF = R$ 1 240,00 20 c) Taxa proporcional diária: 24% / 360 dias=> 0,06667% ao dia VF = R$ 1 000 . (1 + 0,6667% ao dia . 360 dias) VF = R$ 1 240,00 Como demonstram os três itens do primeiro exemplo, o VF não se altera com uso das taxas proporcionais. Agora, vamos replicar o teste com a capitalização composta: 2º Exemplo: Regime de juro compostos => VF = VP . ( 1 + i )n a) Taxa efetiva anual: 24% ao ano VF = R$ 1 000 . (1 + 24% ao ano) 1 ano VF = R$ 1 240 b) Taxa efetiva mensal: 24% / 12 meses=> 2% ao mês VF = R$ 1 000 . (1 + 2% ao mês) 12 meses VF = R$ 1 268,24 c) Taxa proporcional diária: 24% / 360 dias=> 0,06667% ao dia VF = R$ 1 000 . (1 + 0,0667% ao ano) 360 dias VF = R$ 1 271,15 Como demonstram os três itens do segundo exemplo, o VF se altera com uso das taxas efetivas, uma vez que elas não apresentam a citada proporcionalidade linear. Agora que já sabemos o que são taxas de juros nominais, proporcionais e efetivas, vamos ver o que são taxas equivalentes. A palavra equivalente, em nossa língua portuguesa,apresenta, entre outros sinônimos, os termos igual e idêntico. Partindo desse gancho, duas taxas são equivalentes, se as usarmos em nossos cálculos, elas produziram o mesmo resultado final ao término de certo período, apesar de apresentarem valores de capitalizações diferentes. Veja os exemplos anteriores de juro simples, 24% ao ano em capitalização anual é uma taxa equivalente de 2% ao mês em capitalização mensal, pois dentro do período de um ano (= 12 meses) as duas apresentam o mesmo VF, isto é, R$1 240. E sempre será assim nos regimes de juro simples, é por esse motivo que a expressão “taxas equivalentes” não é muito 21 usada nestes casos de juros simples, pois trata-se de algo que é inerente ao cálculo. É como se uma empresa de água mineral colocasse no rótulo: esta água mineral não tem colesterol, isso é verdade... mas nenhuma água mineral tem colesterol, então isso não é especial para ser divulgado. Agora, usar o termo “taxas equivalentes” no regime de juros compostos já faz sentido, pois as taxas equivalentes não apresentam a mesma característica das “taxas proporcionais”, voltemos aos exemplos, agora dos juros compostos: Taxa nominal: 24% ao ano Taxa efetiva: 2% ao mês Período do cálculo 1 ano = 12 meses VF = R$ 1 000 . (1 + 2% ao mês) 12 meses VF = R$ 1 268,24 A “taxa equivalente anual” da “taxa equivalente mensal” será “taxa efetiva anual” que dê R$ 1 268,24 (VF), partindo do R$ 100 (VP), dentro do mesmo horizonte de tempo (1 ano = 12 meses): VF = R$ 1000 . (1 + i ao ano) 1 ano R$ 1 268,24 = R$ 1 000 . (1 + i ao ano) 1 ano R$ 1 268,24 / R$ 1 000 = 1 + i ao ano 1,26824 = 1 + i ao ano 0,26824 = i ao ano i ao ano = 0,26824 = 26,824% Nesse exemplo de juros compostos, vimos que 24% é a taxa nominal, 2% ao mês é a taxa efetiva do cálculo de capitalização mensal, e, por fim, descobrimos que para 1 ano de aplicação, em regime de capitalização anual, a taxa equivalente é de 26,8240% ao ano. Resumindo, se tivéssemos que escolher entre dois projetos para aplicar nossos recursos durante 1 ano, um pagando uma taxa efetiva de 2% ao mês e outro uma taxa efetiva de 26,8240% ao ano, para nós, seria indiferente, qualquer um desses investimentos estaria bom, pois, olhando este horizonte de 1 ano de aplicação, as taxas são equivalentes entre 22 si. Agora, vamos ver uma fórmula que nos dá facilmente esse valor de equivalência: i q = (1 + i t) q / t ̶ 1 Onde; i q : taxa que eu quero i t : taxa que eu tenho q : tempo da taxa que eu quero t : tempo da taxa que eu tenho Vamos aplicar essa fórmula em nosso exemplo de taxa de equivalência anual: Obs.: antes de começar, precisamos transformar 1 ano em meses, pois a taxa que temos é “ao mês” (lembre-se de sempre homogeneizar unidade da taxa e do período), então => q = 1 ano = 12 meses. i q = (1 + i t) q / t ̶ 1 i anual = (1 + 2% ao mês) 12 meses / 1 mês ̶ 1 i anual = 1,26824 ̶ 1 => 0,26824 => 26,824% Ficou na dúvida como usar a fórmula? Então, veja este outro exemplo: Qual é a taxa equivalente trimestral para uma taxa efetiva de 2% ao mês, considerando um ano de aplicação? Obs.: antes de começar, precisamos transformar 1 trimestre em meses, pois a taxa que temos é “ao mês” (lembre-se de sempre homogeneizar unidade da taxa e do período), então => q = 1 trimestre = 3 meses. i q = (1 + i t) q / t ̶ 1 i trimestral = (1 + 2% ao mês) 3 meses / 1 mês ̶ 1 i trimestrall = 1,061208 ̶ 1 => 0,061208 => 6,1208% Vamos testar olhando um horizonte de tempo de 1 ano (= 4 trimestre): VF = R$ 1000 . (1 + 6,1208 % ao trimestre) 4 trimestre VF = R$ 1000 . 1,26824 VF = R$ 1268,24 23 Ou seja, as taxas efetivas 2% ao mês; 6,1208% ao trimestre; 26,824% ao ano são taxas equivalentes, pois, quando comparamos seus VF em um mesmo prazo de aplicação, eles são iguais. Agora, só nos falta ver o que é uma taxa aparente e o que é uma taxa real. Taxa aparente é aquela que “aparentemente” é aquele valor. Segundo Vieira Sobrinho (1981), a taxa nominal é uma taxa aparente. Por exemplo, quando falamos que uma taxa nominal é de 24% ao ano, aparentemente esse é o valor que receberemos (ou pagaremos), todavia, como foi visto no exemplo do juro composto, somente depois dos cálculos realizados é que realmente poderemos ver qual será o valor gerado pela capitalização usada. Bem, o citado autor está coerente em sua lógica, porém isso é tão óbvio que aqui nessas páginas vamos usar outro conceito. Vamos seguir a linha de raciocínio dos professores Castanheira e Macedo (2010), os quais distinguem taxa aparente (= taxa efetiva) e taxa real (valor sem impacto inflacionário). Essa lógica é mais ou menos a seguinte: quando descobrimos lá nos exemplos anteriores um valor de taxa efetiva anual de 26,824% ao ano, ela “aparentemente” significava que, se aplicássemos nosso capital nesse investimento, aumentaríamos nossa riqueza após um ano em 26,824%. Todavia, não podemos ter certeza disso, pois precisamos verificar se teve inflação no período, é por isso que ela é chamada de “taxa aparente”. Então, se olharmos que durante aquele ano não teve inflação, então a taxa aparente é também a “taxa real”. Mas se teve inflação? O que fazemos? A inflação é um aumento generalizado de preço que ocorre em uma economia em um dado período de tempo. Seu valor é obtido comparando o custo de uma cesta de produtos em uma determinada data preterida (data de partida) em relação ao seu novo custo em outra data futura (data de término da variação). Dentro da cesta, há produtos que ficaram mais caros; outros, mais baratos; outros que não se alteraram. Todavia, o que importa para nós é quanto variou o custo total da cesta: se ela ficou mais cara, temos inflação; se ela ficou mais barata, temos deflação. Resumindo: com a inflação, o valor do dinheiro cai, pois precisamos dar mais dinheiro para comprar a mesma cesta de bens e serviços. Então, seguindo esta lógica, se falamos que em um ano a inflação foi de 10%, então é claro que nossa taxa efetiva de 26,824% é apenas aparente, ela não representa nosso real ganho, pois não significa que podemos comprar 26,824% a mais de cesta. 24 Então, qual foi nosso ganho real, ou seja, qual é a nossa taxa real? Muito provavelmente você pensou em fazer: 26,824% – 10% = 16,824%. Se fez isso, sinto dizer que errou. A taxa real representa quanto foi “realmente” a variação do capital em certo período (aumento ou perda do poder aquisitivo). Assim, precisamos primeiro reajustar o capital original com a inflação, a fim de manter seu valor original de compra e, depois, comparar esse valor ajustado com o aparente da aplicação. Vamos ver isso no exemplo a seguir (na fórmula, vai aparecer o símbolo “”, ele representa a taxa da inflação): Valor original ajustado com a inflação (VP ajustado) = VP original . (1 + ) Valor original ajustado com a inflação: VP ajustado = R$ 1000 . (1 + 10% ao ano) = R$ 1.100 Valor futuro obtido com a taxa aparente sobre o valor original sem ajuste: VF = R$ 1000 . (1 + 26,824% ao ano)1 ano = R$ 1.268,24 Por fim, vamos achar a taxa real “r” da aplicação: VF = VP ajustado . ( 1 + r ) 1268,24 = 1100 . ( 1 + r) 1268,24 / 1100 = 1 + r 1,152945 = 1 + r 0,152945 = r r = 15,2945% (esta é a taxa real da aplicação, considerando o impacto inflacionário) Agora, para encerramos o tema, vamos ver como é a fórmula simplificada da taxa aparente: r = ( 1+i ) (1+ ) ̶ 1 Onde; r: taxa real i: taxa aparente = taxa efetiva : taxa de inflação Aplicando a fórmula em nosso exemplo, temos: 25 r = ( 1+i ) (1+ ) ̶ 1 => ( 1+26,824% ) (1+10% ) ̶ 1 => 1,152945 ̶ 1 => 0,152945 => 15,2945% Com esse último cálculo, encerramos nosso tema 4, o qual nos deu uma noçãosobre alguns cuidados que temos que ter ao usarmos as taxas em nossas análises de viabilidade. Espero que você tenha gostado dessa revisão da matemática financeira, pois ela será muito útil no seu dia a dia. TEMA 05: ALGUNS CUIDADOS NO USO DA ENGENHARIA ECONÔMICA NA AVEF: SISTEMAS FINANCEIROS DE AMORTIZAÇÃO Neste tema, nossa pauta será sobre as diferentes formas de apresentação dos sistemas financeiros de amortização: Sistema de amortização americano (SAA), Sistema de amortização constante (SAC), Sistema [de amortização] por preço constante (SPC ou Price) – neste último, o Price, serão abordadas as condições de cálculo: postecipado e antecipado. Para este tema, vamos trabalhar utilizando como exemplo um empréstimo de R$ 150,00 que será pago em 5 meses, mediante uma taxa de juro efetiva de 10% ao mês, com capitalização mensal por regime de juros compostos. Com esses dados, vamos explicar qual é o valor total de juros que a operação gerará e, por consequência, qual o valor total que foi pago pelo empréstimo recebido. a) SAA: (Amortização Americano) O “SAA” utiliza a seguinte lógica financeira: as parcelas que serão pagas no período do empréstimo se referem unicamente ao valor do juro do capital emprestado. Assim, as parcelas são constantes, pois os juros são constantes. O motivo? Ora, se todo mês pagamos o juro que é gerado, o saldo devedor não se altera, por isso, taxa efetiva sempre incide sobre o mesmo valor. Até parece juros simples, porém não é! No caso dos Juros simples, a gente paga tudo ao término do empréstimo, aqui nós temos pagamentos parciais, caso eles não sejam feitos, os saldos intermediários são alterados e, sendo assim, o valor das parcelas também. Vejamos como fica nosso exemplo neste sistema: 26 Como é possível perceber na última prestação, tivemos que pagar o valor principal (R$ 150) mais a parcela do quinto mês (R$ 15). Por fim, ao somarmos todas as parcelas, foi pago R$ 75 de juros. Esse sistema é o que os americanos chamam de hipoteca. b) SAC: Sistema de Amortização constante Aqui, temos a seguinte lógica: se na capitalização composta a taxa de juro incide sobre os saldo intermediários, se a gente pegar o valor original do capital e dividi-lo em partes iguais no período do empréstimo, então, em cada parcela, reduziremos o saldo devedor de igual maneira – ou seja, amortizaremos constantemente o débito. Vejamos como fica esse sistema em nosso exemplo: A cada mês nossa divida reduziu R$ 30 (= amortização constante), por esse motivo, o valor dos juros que tivemos que pagar foi caindo gradativamente, acompanhando a queda do saldo devedor. No final, quando somamos o total pago de juros, o valor obtido foi de R$ 45,00. Ou seja, o SAC cobra menos juros que o SAA, todavia, ele exige pagamento de parcelas maiores no início do pagamento. 27 c) SPC Postecipado: Sistema de Pagamento Constante Postecipado O “SPC/Postecipado” (ou Price/Postecipado) é a forma o pagamento de parcelas constante que foi visto no tema três. Ou seja, é aquela história de juros sobre juros considerando que todas as parcelas terão o mesmo valor durante o período do empréstimo. Então, vamos ao exemplo: Pela tabela, fica claro qual é a lógica do sistema. Para que as parcelas sejam constantes, precisamos ter amortizações diferentes para compensar as diferenças dos juros de cada período. Como os juros iniciais são altos, então as amortizações iniciais são baixas. Em poucas palavras, nesse sistema, a amortização da dívida é pequena no começo. Você já deve ter ouvido ou passou por uma situação na qual, depois de uma série de pagamento nesse sistema, percebeu que ainda faltava muito para ser pago... pois é, este é o motivo! Pouca amortização no início. Aqui no exemplo, em dois meses foi pago em parcelas R$ 79,14 (R$ 39,57 + R$ 39,57), mas a dívida só caiu R$ 51,60 (R$ 24,57 + R$ 27,03). Agora, não podemos dizer que esse sistema é aquele que mais cobra juros (R$ 47,85) ou, ainda, que ele é o que tem a menor parcela para o bolso (R$ 39,57). O “SAA” cobrou mais juros (R$ 75,00) e teve as menores parcelas (R$ 15,00). O “SAC” pode até, no início, ter parcelas um tanto amargas para o bolso, porém, depois, elas caem abaixo do “SPC” (nos exemplos, foi a partir do 3º mês). d) SPC Antecipado: Sistema de Pagamento Constante Antecipado Aqui, tudo é igual a lógica do postecipado, a única coisa que muda é que vamos fazer uso de uma entrada. O que acontece é que, por esse sistema, na 28 prática, não estamos financiando 100% de um bem. No nosso exemplo, ao comprarmos um bem que custava R$ 150 pelos sistemas “SAA”, “SAC” e “SPC/Postecipado”, nós estávamos financiando todos os R$ 150. Aqui não, pois no SPC/Antecipado será feita uma entrada. No caso do exemplo, vamos dar uma entrada de R$ 35,97 no ato da compra, portanto, o valor do saldo inicial devedor não será de R$ 150, mas R$ 114,03. Por causa disso, os juros serão todos mais baixos dos que os dos sistemas anteriores. Entendeu? Você pagará menos juros, porque emprestou menos dinheiro. Durante este tema, usamos os conceitos dos temas anteriores para entender a lógica dos sistemas financeiros de amortização: SAA, SAC, SPC (postecipado e antecipado). Agora, vamos ver como a Hp 12c nos ajuda a resolver o SPC postecipado (o qual, por sinal, é o mais comumente encontrado no mercado). Para tanto, vamos buscar nossa tabela para entendermos o que está sendo feito na calculadora: Primeiro passo: vamos calcular as parcelas constantes 29 g END (porque é postecipado) 150 PV (o valor emprestado entrou em nosso bolso, por isso é positivo) 10 i PMT => Aparece na tela menos R$ 39,57 (= parcela que teremos que pagar) Segundo passo: vamos calcular saldos e o total dos juros Com o valor de “-39,57” na tela da HP12c, vamos digitar que momento queremos analisar, vamos começar com o 1º mês. 1 F (o nº 1 é o primeiro mês e o “F” é para ativar as funções laranjas) Amort (comando laranja que indica a amortização do SPC postecipado): Na tela, vai aparecer o valor total de juro pago até o mês 1: – R$ 15,00. X >< Y (comando para trocar o registo “x” com o registro “y) Na tela, vai aparecer o valor total amortizado: – R$ 24,57. RCL PV (comando para recuperar o valor presente): Na tela, vai aparecer o saldo atual da dívida: R$ 125,43. Pode conferir na tela, você verá que os valores que a HP 12c forneceu são idênticos ao que foi calculado e demonstrado na tabela. Vamos fazer mais um exemplo, agora com o segundo mês, por isso não limpe os registros da calculadora: Obs.: Antes de tudo, porém, precisamos adicionar novamente o valor presente original, pois, caso contrário, a Hp 12c vai fazer os cálculos a partir do saldo da última operação, aqui no exemplo foi o R$ 125,43. 150 PV (alimentamos novamente o valor do empréstimo) 2 F ( o nº 2 é o segundo mês e o “F” é para ativar as funções laranjas) Amort (comando laranja que indica a amortização do SPC postecipado): Na tela, vai aparecer o valor total de juro pago até o mês 2: – R$ 27,54 (= 15 + 12,54). X >< Y (comando para trocar o registo “x” com o registro “y) Na tela, vai aparecer o valor total amortizado: – R$ 51,60 (= 24,57 + 27,03) 30 RCL PV (comando para recuperar o valor presente): Na tela, vai aparecer o saldo atual da dívida: R$ 98,40. Leitura Obrigatória Livro Engenharia Econômica: Para aprofundar seus estudos sobre a matemática financeira, leia o capítulo 1 dessa obra, páginas de 15 a 44 (disponível em nossa biblioteca virtual). TROCANDO IDEIAS Durante temas trabalhados nesta aula, vimos alguns cuidados que devemos ter para o uso da Engenharia Econômica nos cálculos de Análise de Viabilidade Econômico-Financeira. Agora, acesse o fórum da disciplinae, com base no que estudou, reflita com seus pares a situação a seguir: Você acredita que o todo esse conhecimento que foi visto é aplicado corretamente no dia a dia das empresas, como o uso da taxa real? Se sua resposta for “não”, isso é um problema sério? Se sua resposta for sim, então o que poderia ser feito para corrigir este fato? NA PRÁTICA Leitura do caso Uma empresa comprou uma máquina na seguinte condição: Valor da máquina: R$ 250 mil Financiamento: 100% o valor da máquina Número de prestações: 120 meses Taxa de juro nominal: 36% ao ano Regime de capitalização: juros compostos mensais postecipados Quanto ela pagou de juro até a 100ª parcela e qual será o saldo devedor depois de pagar essa parcela? 31 Identificação do que deve ser feito e teoria/conteúdo que resolve o problema Use os conhecimentos vistos nos temas 3, 4 e 5 Use a HP 12c ou a fórmula vista Apresentação da solução do problema Resolução pela HP 12c 1º Passo: ajustar dados informados para o uso do instrumento da Engenharia Econômica. VP: 250.000,00 ; n: 120 meses ; i : 36% / 12 meses = 3 % ao mês 2º Passo: obter o valor constante das prestações g End (postecipado) 250 000 PV 120 n 3 i PMT => R$ 7.722,48 (é negativo porque vamos ter que pagar) 3º Passo: obter os dados solicitados 100 F ( o nº 100 é a 100ª parcela paga e o “F” é para ativar as funções laranjas) Amort (comando laranja que indica a amortização do SPC postecipado): Na tela, vai aparecer o valor total de juro pago até a parcela 100: – R$ 637.138,91. X >< Y (comando para trocar o registo “x” com o registro “y) Na tela, vai aparecer o valor total amortizado: – R$ 135.1091,09 RCL PV (comando para recuperar o valor presente): Na tela, vai aparecer o saldo atual da dívida: R$114.890,91 Resposta: 32 O total pago de juros até 100ª parcela: R$ 637.138,91 Saldo que ainda tem que pagar: R$ 114.890,91 Obs.: Olhe o perigo do juro! A máquina custava à vista R$ 250 mil. Após pagar 100 prestações fixas de R$ 7.722,48 = R$ 772.224,80 (pagos), a empresa ainda deve R$ 114.890,91. Resolução pela fórmula: PMT = VP . (1+i) 𝑛 . i (1+i) 𝑛 − 1 PMT = 250 000 . (1+3%) 120 . 3% (1+3%) 120 − 1 PMT = 250 000 . (1+0,03) 120 . 0,03 (1+0,03) 120 − 1 PMT = 250 000 . 1,04133 33,71099 PMT = 250 000 . 0,03089 PMT = R$ 7.722,48 SÍNTESE Neste encontro, abordamos alguns dos elementos-chave para o uso da Engenharia Econômica nos processos de AVEF, sendo estes: a) os elementos fundamentais do fluxo de caixa (VP, VF, i , n, série uniforme e não uniforme); b) as formas de regime de capitalização: simples e composta; c) as diferentes formas de apresentação da taxa de juro (nominal, efetiva, equivalente e real); d) os sistemas financeiros de amortização (SAA, SAC,SPC – postecipado e antecipado). 33 Esta aula se fez necessária porque, a partir destes citados pressupostos, torna-se possível o desenvolvimento de análises mais avançadas, tais como: VPL, Payback descontado, TIR, ROIA, entre outras tantas possíveis com base em um fluxo de caixa. Bem, vamos resolver o problema do diretor, aquele visto lá no início da aula sobre a inflação. Durante o quarto tema, vimos que a taxa real é obtida pela fórmula: r = [ (1+i) / (1+π) ] – 1. Assim, o retorno real do novo projeto da empresa seria, segundo os dados informados: r = [ (1+ 15%) / (1+10%) ] – 1 => r = [ 1,15 / 1,10 ] – 1 => r = 1,04555 – 1 r = 0,04555 => transformando em taxas => r = 0,04555 . 100 => r = 4,55 % Assim, o diretor estava correto ao dizer que o gerente errou quando simplesmente fez “15% – 10%”. Até logo, nos vemos na aula 6! REFERÊNCIAS ANDRICH, E. G.; CRUZ, J. A. W. Gestão financeira: uma abordagem prática. Curitiba: Intersaberes, 2013. CASTANHEIRA, N. P.; MACEDO, L. R. D. Matemática financeira aplicada. Curitiba: Ibpex, 2010. RYBA, A.; LENZI, E. K.; LENZI, M. K. Elementos da Engenharia Econômica. Curitiba: Ibpex, 2011. VIEIRA SOBRINHO, José Dutra. Taxa de juros: nominal, efetiva ou real? Revista administração de empresas. São Paulo, v. 21, n. 1, p. 77- 82, mar. 1981. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rae/v21n1/v21n1a08.pdf>. Acesso em: 2 set. 2016.
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