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DIREITO CONSTITUCIONAL AULA 5 Prof. Silvano Alves Alcantara 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula falaremos sobre os entes que compõem a República Federativa do Brasil. Estudaremos as particularidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Munícipios, trazendo principalmente sobre cada um desses entes o que a Constituição Federal de 1988 determina em matéria de competência. Ainda abordaremos a Administração Pública, estudando os princípios que a norteiam e lhe dão suporte para a prática de seus atos. Para entendermos a organização dos poderes constituídos da República, trataremos das peculiaridades dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. TEMA 1 – UNIÃO Ao deliberar a organização político-administrativa do Brasil, a Constituição Federal de 1988 (Brasil, 1988) define seus entes como a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, informando ao mesmo tempo que todos são autônomos e que a capital da República é Brasília. Particularmente sobre a União, as disposições estão no Capítulo II, da Organização do Estado, na Carta de 1988 (Brasil, 1988). Primeiramente é importante falarmos sobre os bens da União, elencados no art. 20 (Brasil, 1988): Art. 20. São bens da União: I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos; II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei; III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais; IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II; V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva; VI - o mar territorial; VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos; VIII - os potenciais de energia hidráulica; IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo; X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré- históricos; XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. 3 Destacamos entre esses bens os lagos e rios, as ilhas, os recursos naturais e minerais, além do inciso II (CF; Brasil, 1988), que fala das terras devolutas, trazendo o pensamento de Celso Antônio Bandeira de Mello (2016, p. 910): Com a descoberta do país, todo o território passou a integrar o domínio da Coroa portuguesa. Destas terras, largos tratos foram trespassados aos colonizadores, mediante as chamadas concessões de sesmarias e cartas de data, com a obrigação de medi-las, demarcá-las e cultivá- las (quando então lhes adviria a confirmação, o que, aliás, raras vezes sucedeu), sob pena de “comisso”, isto é, de reversão delas à Coroa, caso fossem descumpridas as sobreditas obrigações. Tanto as terras que jamais foram trespassadas, como as que caíram em comisso, se não ingressaram no domínio privado por algum título legítimo e não receberam destinação pública, constituem as terras devolutas. Entendemos, assim, que as terras devolutas nunca pertenceram ao particular, por não terem cumprido com as obrigações que lhes foram impostas quando de seus repasses ou mesmo porque nunca tiveram seu domínio. Importante também salientar a competência atribuída pela Constituição de 1988 à União em seu art. 21 (Brasil, 1988), que declara como manter relações com Estados estrangeiros, declarar a guerra e celebrar a paz e emitir moeda. No mesmo rol de competência, está a exploração de determinados tipos de serviços, como os de telecomunicações, de radiodifusão, de energia elétrica, entre outros, podendo autorizar, permitir ou conceder a particular a execução desses serviços, de acordo com a lei. Ainda em relação à competência, encontramos a competência legislativa, que é a atribuição para a criação de leis, cabendo privativamente à União legislar, entre outros, sobre o direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho. TEMA 2 – ESTADOS FEDERADOS Os estados também devem obediência à Constituição Federal, mas possuem suas próprias constituições. Porém, por simetria, dentro de suas competências, devem adotar as mesmas premissas que a Constituição da República determina à União no que for possível. Os estados também possuem bens que lhes são atribuídos pela Constituição (Brasil, 1988): 4 Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados: I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União; II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros; III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União; IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União. É também permitido aos estados a exploração de serviços locais de gás canalizado, podendo concedê-los a particular se quiserem, na forma da lei. TEMA 3 – MUNICÍPIOS E DISTRITO FEDERAL Os Munícipios e o Distrito Federal não possuem uma Constituição propriamente dita, são regidos por suas Leis Orgânicas, que por analogia são como suas “Constituições”. Estas Leis Orgânicas devem obediência às constituições estaduais e à Constituição Federal. Dentre as atribuições dos Municípios está a competência para legislar sobre assuntos de interesse local e a de instituir e arrecadar os tributos de sua competência, como o Imposto sobre Serviços (ISS) e o Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU). O Distrito Federal não é estado, nem Município, mas a ele são atribuídas as competências legislativas reservadas a estes. TEMA 4 – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Ao iniciarmos o estudo da Administração Pública é importante salientar que ela é composta por todos os órgãos públicos, sejam eles da administração direta e indireta, bem como das empresas públicas, das sociedades de economia mista e das fundações públicas. A Constituição Federal (1988) determina que o atuar da administração pública deve estar embasado em alguns princípios, assim dispondo em seu art. 37 (Brasil, 1988): “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...]”. 5 Vamos, pois, estudar um pouco mais desses princípios, sob a ótica de Alcantara e Veneral (2014, p. 61-70), trazendo primeiramente um supra princípio, que sustenta todos os demais: Princípio da supremacia do interesse público: Por este princípio, fica clara a posição de superioridade jurídica da Administração Pública, visto que deve existir uma supremacia do interesse público em relação ao interesse dos particulares. Princípio da legalidade: [...] a Administração Pública encontra-se em posição de completa submissão legal significa afirmar que, além de obedecer aos ditames legais, ela somente pode praticar os seus atos com a devida autorização expressa em lei. Princípio da impessoalidade: [...] a Administração Pública deve tratar a todos indistintamente, sem privilégios ou discriminações. Princípio da moralidade: Para a Administração Pública, trabalhar com moralidade significa desempenhar sua função dentro dos padrões de comportamento estabelecidos pela coletividade, a quem deve atender. Por mais que esses padrões sejam, de certa forma, abstratos – compreendidosem função da ética, do decoro e da boa- -fé, a Administração deve fazer o que for melhor e mais útil para o bem comum. Princípio da publicidade: [...] todos os atos praticados pela Administração devem, salvo em algumas situações peculiares, ser publicados, pois a coletividade tem o direito de saber o que os agentes públicos estão fazendo, até mesmo para poder contestá-los, se entender que algo não está correto. Princípio da eficiência: [...] aplicar o princípio da eficiência na Administração Pública consiste em fazer com que o agente público faça o mais com o menos. (grifos nossos). Assim, todos os atos praticados pelos agentes públicos devem ser respaldados nesses princípios. TEMA 5 – ORGANIZAÇÃO DOS PODERES Já sabemos que o poder do Estado é uno, mas a Constituição de 1988 afirma em seu art. 2º (Brasil, 1988) que “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”, sendo que tal divisão é conhecida como tripartição dos poderes, já estudada em nossas aulas. Vamos aqui tratar das características de cada um desses poderes. O Poder Legislativo Federal é exercido pelo Congresso Nacional, que por sua vez é composto pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados e, por simetria, nos estados, no Distrito Federal e nos Municípios, são as Assembleias Legislativas, a Câmara Legislativa e as Câmaras de Vereadores, respectivamente. No âmbito do Poder Legislativo Federal, objeto de nosso estudo, a Câmara dos Deputados é composta por representantes do povo, eleitos nos estados e no Distrito Federal, de maneira proporcional à população de cada ente 6 federado, num total de 513 membros. Já o Senado Federal é composto por representantes dos estados e do Distrito Federal, também eleitos, mas em número de três para cada ente federado, num total de 81 membros. A Carta de 1988 determina competências tanto para o Congresso Nacional como um todo, como particularmente a cada uma de suas casas. Genericamente, para o Congresso Nacional, as atribuições são as disposições relativas à competência da União, como o sistema tributário, a arrecadação e distribuição de rendas, o plano plurianual e o orçamento anual, entre outras. Particularmente, para a Câmara dos Deputados, dentre outras atribuições, cabe a competência de autorizar, desde que por pelo menos dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado. Já para o Senado Federal cabe privativamente processar e julgar as maiores autoridades do país por crime de responsabilidade, tais como o Presidente e o Vice-Presidente da República, os Ministros de Estados, os comandantes das forças armadas e os ministros do Supremo Tribunal Federal. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, eleito majoritariamente para um mandato de quatro anos, em eleições que devem ocorre a cada quatro anos “[...] no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato presidencial vigente”, é a letra do art. 77 da Constituição Federal (Brasil, 1988). Entre as atribuições do Presidente da República está a de manter relações com Estados estrangeiros e a de celebrar tratados internacionais, estes sujeitos a referendo do Congresso Nacional. Por simetria, os chefes do Poder Executivo nos estados e Municípios são, respectivamente, os Governadores e os Prefeitos. E, por fim, mas não menos importante, está o Poder Judiciário, que segundo Hack (2012, p. 150), “tem a função de dirimir os litígios que lhe são apresentados pela aplicação da lei ao caso concreto”, e é assim composto: Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: I - o Supremo Tribunal Federal; I-A - o Conselho Nacional de Justiça; II - o Superior Tribunal de Justiça; II-A - o Tribunal Superior do Trabalho; III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; 7 IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; VI - os Tribunais e Juízes Militares; VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. Cada um dos órgãos que compõem o Poder Judiciário possui competências distintas, atribuídas pela Constituição Federal. NA PRÁTICA O Poder Judiciário de determinada comarca brasileira determinou, em caráter liminar, em primeira instância, o afastamento do prefeito da cidade e mais dois servidores. Trata-se de uma Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público, por ato de improbidade administrativa, contra o atual prefeito e dois servidores públicos municipais. De acordo com a decisão, há suficientes indícios quanto à veracidade da ilegalidade praticada pelos requeridos, pois os fatos descritos não se tratam de meras irregularidades, e sim de supostos atos ilegais que encontram na má-fé a sua essência, todos provavelmente imbuídos de interesses pessoais e particulares, pois os informativos apresentados não se exaurem em questões ou notícias de interesse público, mas vão além, alcançando o âmbito da promoção da pessoalidade e da moralidade. Sobre o suposto caso, pedimos que reflita sobre possíveis afrontas aos princípios da Administração Pública. FINALIZANDO Nesta aula estudamos os entes da Federação. Vimos distintamente as composições da União, dos estados, do Distrito Federal e dos Munícipios, e a maneira como a Constituição da República atribui suas competências. Esmiuçamos os princípios da Administração Pública, que sustenta toda a atuação dos órgãos públicos que a compõem, sendo da administração direta ou da indireta. Tratamos também da organização dos poderes da República, sendo eles o Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, detalhando suas composições. 8 REFERÊNCIAS ALCANTARA, S. A. Legislação trabalhista e rotinas trabalhistas. Curitiba: InterSaberes, 2016. ALCANTARA, S. A.; VENERAL, D. Direito aplicado. Curitiba: InterSaberes, 2014. BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. HACK, É. Direito constitucional: conceito, fundamentos e princípios básicos. Curitiba: InterSaberes, 2012. MELLO, C. A. B. de. Curso de direito administrativo. 33. ed. São Paulo: Malheiros, 2016. SILVA, J. A. da. Curso de direito constitucional positivo. 40. ed. São Paulo: Malheiros, 2017.
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