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Livro - Geografia Politica Economica e Indutrial

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GEOGRAFIA POLÍTICA,
ECONÔMICA E INDUSTRIAL
Jaime Sergio Frajuca Lopes
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Este livro norteia os conceitos da geografia econômica e política mundial, ba-
seado principalmente nos elementos conceituais da construção do espaço por 
meio dos sistemas políticos e sua influência nas economias, sobretudo na atual 
sociedade de consumo, pautada no capitalismo. Do mesmo modo, discute a 
transformação industrial do Brasil e do mundo em uma economia globalizada.
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6359-8
CAPA_Geografia Política, Econômica e Industrial.indd 1 17/11/2017 15:06:59
Jaime Sergio Frajuca Lopes
IESDE BRASIL S/A
Curitiba
2017
Geografia política, 
econ mica 
e industrial
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
L853g Lopes, Jaime Sergio Frajuca
Geografia política, econômica e industrial / Jaime Sergio Frajuca 
Lopes. - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2017. 
184 p. : il. ; 21 cm.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6359-8
1. Geografia. I. Título.
17-45466 CDD: 910
CDU: 910
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
© 2017 – IESDE Brasil S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer 
processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais.
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Produção
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão IESDE
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Capa Vitor Bernardo Backes Lopes
Imagem Capa SukanPhoto/Shutterstock.com
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Sumário
Carta ao Aluno | 5
1. Geografia política x geopolítica | 7
2. Concepção de Estado no idealismo e no materialismo | 23
3. O Estado como entidade representativa
da centralidade mundial | 39
4. O papel político do Estado na periferia do
sistema capitalista mundial | 55
5. A democracia liberal e a nova ordem econômica mundial | 71
6. Produção e consumo a nível mundial e nacional | 87
7. Sistemas econômicos e a produção do espaço geográfico | 103
8. Teoria e método em geografia industrial | 119
9. Estrutura do espaço industrial | 133
10. A atividade industrial no Brasil e no mundo | 149 
Gabarito | 163
Referências | 173 
Carta ao aluno
O livro GeoGrafia Política, Econômica e Industrial norteia os 
conceitos da geografia econômica e política mundial, baseado prin-
cipalmente nos elementos conceituais da construção do espaço por 
meio dos sistemas políticos e sua influência nas economias, sobre-
tudo na atual sociedade de consumo, pautada no capitalismo. Do 
mesmo modo, discute a transformação industrial do Brasil e do 
mundo em uma economia globalizada.
Iniciando o livro, o capítulo 1 aborda conceitos inerentes 
à organização do território, tanto político quanto administrativo, 
distinguindo estudos da geografia política e da geopolítica. No capí-
tulo 2, é discutido o conceito e a organização do Estado, bem como 
as práticas e os fenômenos sociais e materiais humanos.
– 6 –
Geografia política econômica e industrial
O capítulo 3 compreende a importância do conjunto de leis que per-
meiam as formas de organização das nações e que podem evitar conflitos, 
enquanto o capítulo 4 apresenta o papel do capitalismo mundial e sua evolu-
ção, que justifica o comércio internacional produtivo e especulativo.
No capítulo 5, a democracia liberal é tratada sob o viés das concepções 
geoeconômicas que explicam a economia global, incluindo a atuação dos 
povos no estabelecimento da organização dos Estados como força representa-
tiva, no que tange aos modelos produtivos das nações. Já o capítulo 6 identi-
fica as formas de produção e o setor industrial, os mercados consumidores e 
as necessidades e aspectos inerentes ao consumo.
O capítulo 7 discute os sistemas econômicos – capitalismo, socialismo e 
economia mistas – como formas de transformação, estruturação e construção 
do espaço geográfico, bem como apresenta a evolução do capitalismo nas 
sociedades. Por sua vez, o capítulo 8 compreende as necessidades industriais 
e a forma de alocação das indústrias no espaço geográfico, demonstrando sua 
influência socioeconômica na atualidade. 
O capítulo 9 demonstra como a produção industrial se consolidou no 
mundo, identificando fatores históricos dessa evolução e a transformação do 
espaço geográfico, além da associação entre a indústria e a demanda ambien-
tal e de matérias-primas. Finalizando a obra, no capítulo 10 são identificadas 
as formas de consolidação da indústria no Brasil, bem como a relação entre a 
economia e a geração de riquezas no mercado mundial.
Boa leitura!
Geografia política 
x geopolítica
Introdução
Desde o período colonial, as divergências entre as nações 
fizeram aparecer conflitos territoriais e econômicos, transfor-
mando as relações entres os povos, o desenvolvimento social e o 
processo evolutivo.
No século XV, com advento das grandes navegações, Portugal 
e Espanha travaram uma disputa pelas novas descobertas no Mundo 
Novo, em um primeiro momento, por terras das quais na época não 
se sabia a dimensão. Na sequência, a luta foi pelas riquezas dos ter-
ritórios, o que perdurou por três séculos, ou, dependendo da óptica, 
permanece até os dias atuais.
O caminho das Índias deixou de ser objeto de desejo e os 
conflitos geopolíticos começaram, transformando então o processo 
de leitura e registro do mundo conhecido na época. Os primeiros 
1
Geografia Política, Econômica e Industrial
– 8 –
escribas, na sua maioria ligados à Igreja Católica, tiveram de rever seus con-
ceitos e redesenhar a Terra, suas formas e os novos territórios.
Neste capítulo, desvendaremos esse universo conceitual, apresentando 
os elementos epistemológicos presentes nas rupturas entre a geografia, a geo-
política e a geografia política.
Devemos entender que alguns autores as tratam como homônimas, 
no entanto, diferenças básicas dão cabo da confusão conceitual, necessária 
à ciência geográfica. Cabe aqui desmembrarmos os elementos conceituais, 
próprios do processo de ensino e aprendizagem da área.
Outrossim, a geografia tem suas bases físicas consolidadas, mas a geo-
grafia política e das nações está em constante evolução, dadas as complexas 
relações do comércio internacional, os conflitos religiosos, territoriais e arma-
dos. Cabe ressaltar que essas relações são e sempre foram influenciadas pelas 
potências imperialistas.
1.1 Conceituando a geografia política 
Desde que a humanidade se sedentarizou, passando a ocupar espaços e 
transformar a paisagem, logo surgiram conflitos por territórios de caça e áreas de 
plantio, estabelecendo os primeiros dissabores entre os indivíduos socializados.
No mundo moderno, houve, principalmente na França, a dicotomia 
entre geografia política e geopolítica. A primeira estava cerceada pelo ensino 
acadêmico, sendo que “as concepções da geograficidade1 se ampliaram, e 
os geógrafos universitários levam em consideração problemas urbanos, e 
industriais, evocando as estruturas econômicas e sociais” (LACOSTE, 
2005, p. 131).
O que se pode notar nesse contexto é que os geógrafos queriam se afastar 
dos campos conflitantes e não tomar partido nas questões de Estado e terri-
tórios de guerra, assim focados em assuntos de desenvolvimento econômico e 
questões sociais, que lhes pareciam prioridade, em detrimento das geopolíti-
cas, que seriam problema do Estado.
1 Geograficidade: estudos próprios da geografia ou conceitos formulados na epistemologia da 
ciência geográfica.
– 9 –
Geografia política x geopolítica
A dinâmica dos espaços econômicos nas regiões em processo de indus-
trialização e o crescimento das cidades tomarammais tempo de estudo do 
que os princípios da “geopolítica”. Entretanto, “o repúdio político provocou 
uma considerável redução do campo da geograficidade, uma vez que o econô-
mico e o social foram esquecidos” (LACOSTE, 2005, p. 132).
Assim, os elementos norteadores da “mesma ciência”, em um primeiro 
momento, tiveram caráter de interesse pessoal dos profissionais do ensino uni-
versitário, já que priorizavam temas que lhes pareciam corretos para a época.
Como elemento conceitual, a geografia foi e continuará tendo o papel 
de compreender as inter-relações do ser humano com o meio ambiente; 
entretanto, todo desenvolvimento econômico atual tem sido garantido com 
uso intensivo dos recursos naturais.
Porém, como formação de conceito, a geografia política, de cunho 
epistemológico, teve como base de suas primeiras divergências a “grande 
preocupação com a desigual distribuição da população sobre a superfície da 
terra. Preocupou-se então com o estudo das relações entre homem e meio” 
(SANTOS; BOVO, 2011, p. 5).
Nessa proposição, os estudiosos tinham em mente que as guerras e/ou os 
acordos entre governos não mereciam destaque, haja vista a demanda concei-
tual que lhes parecia lógica e com mais mérito. Nesse sentido, 
a geografia política deve encontrar o seu lugar entre as ciências geo-
gráficas, atentando para o fato de que os fenômenos de que trata estão 
sujeitos às influências do meio físico e das formas de vida, aos homens 
cabem as escolhas diante do que o meio lhe oferece, cabe as observa-
ções que a própria natureza nos apresentam como fatos que estão em 
constante movimento. (SANTOS; BOVO, 2011, p. 6) 
Nesse contexto, houve a instrumentalização da ciência para ser estática 
na avaliação dos elementos.
Desde o princípio, foi complicado verificar as diferenças entre os dois 
conceitos, sobretudo quando um deles trata de questões próprias da ciência 
em uma época na qual os cientistas tinham uma visão, em termos de pes-
quisa, muito mais restrita que a atual e com outros interesses políticos.
Geografia Política, Econômica e Industrial
– 10 –
Então, para fins conceituais, e no arcabouço dos elementos históricos, 
a geografia política é uma raiz da geografia, enquanto a geopolítica é nor-
teada pela política e pelos interesses geoeconômicos. 
Na prática, os fundamentos físicos, tais como linhas de relevo, funda-
mentais para os estudos que nortearam a construção dos saberes geográficos, 
ou tudo aquilo que poderia ser cartografado, como espacialização territorial 
nas fronteiras, seriam diretamente ligados à geografia política. 
Porém, as demandas estratégicas de território, como áreas de interes-
ses comuns, energias, água e/ou reservas minerais com potencial econômicos 
estariam dentro da geopolítica. 
Ou seja, a geografia política, ligada aos elementos estáticos estudados no 
início do século XIX, condicionou os governantes a refletir e traçar estratégias 
de uso e exploração dos recursos naturais, demanda criada pela geografia que 
dá ênfase aos interesses geopolíticos.
Surgem então, intuitiva e conceitualmente, demandas de interesses políti-
cos, já que, agora com o conhecimento dos elementos estratégicos de território 
(clima, relevo e vegetação), os estudos que norteavam os interesses estatutários – 
ou seja, leis ou o conjunto de normas a serem seguidas – foram “condicionantes/
condicionadas de práticas reguladas e estimuladas pela conjuntura e a disputa 
pela autoridade e legitimidade configura[ram] um jogo e luta concorrencial pelo 
monopólio, tanto interna como externamente” (KAROL, 2013, p. 47).
Os interesses são diversos, tanto para a epistemologia da ciência geográfica 
– pois todas as práxis são norteadas por um contexto histórico – quanto para 
autores que discutem o tema e também na concepção da política como interesse 
dos mandatários.
Se um governante tem interesse em uma área em específico, busca 
demandas legais para ter acesso a um bem, às vezes como subterfúgio por ser 
essencial ao desenvolvimento social. Então, o investigador (cientista) tenta 
explicar as necessidades de aquele bem ser essencial para a sociedade, dada sua 
importância econômica à população.
Surge então um panorama no qual as políticas estatais transformam a geo-
grafia em geopolítica, que passa a ser vislumbrada na ciência geográfica, pois, ao 
– 11 –
Geografia política x geopolítica
aceitarmos tal conceito, o Estado passa a ser o feitor das formas organizacionais 
no cotidiano dos indivíduos e da organização da sociedade (KAROL, 2013).
Na Alemanha do século XIX, os interesses geopolíticos eram intensos, 
como retrato da intervenção do Estado nas políticas públicas e econômicas. 
Cabe ressaltar que, após o fim da Primeira Guerra Mundial, alguns líderes como 
Adolf Hitler buscaram subterfúgio no armistício promovido pela Inglaterra. 
Essa liderança política consolidada como hegemonia local trouxe à tona ques-
tões geopolíticas que se sobrepuseram aos interesses naturais e humanos. 
Revigorado como líder, Hitler trouxe uma profunda transformação 
geopolítica com a Segunda Guerra Mundial. Entretanto, esse redesenho da 
Europa ocidental com a derrota para os aliados trouxe uma nova configuração 
geopolítica, com supremacia das potências imperialistas no lado ocidental, 
que se impuseram econômica e militarmente, baseadas no modo capitalista, 
com forte influência da sociedade de consumo. Do outro lado, estava a União 
Soviética (URSS), baseada em uma economia planificada com forte interven-
ção do Estado, em um modelo econômico estatal que durou até 1989.
Figura 1 – Bunker alemão da Segunda Guerra Mundial, na Normandia (França). 
Fonte: okfoto/iStockphoto
Geografia Política, Econômica e Industrial
– 12 –
Assim, podemos observar a geopolítica em ação, sem atenuação do con-
ceito, pois a Guerra marcou profundamente a Europa e o mundo, transfor-
mando territórios e os modelos sociais que existiam há séculos nessas regiões.
A influência americana, com o fortalecimento das economias capi-
talistas, pautadas no modelo industrial, ganha vulto em todo o mundo. 
Principalmente na reconstrução do Japão e em alguns países da Europa, 
renasce uma nova ordem mundial baseada na produção industrial, com 
acesso a novos tipos de produtos e mercadorias, que circulavam de um ponto 
a outro do globo com mais velocidade, como podemos observar:
O desenvolvimento industrial criou novos meios de transporte e de 
circulação, que substituem relações aleatórias por meios de comuni-
cação cada vez mais regulares e mais numerosos. Não se trata mais 
de jogar com dificuldade, mas de explorar a facilidade de transporte 
entre os continentes. (GEORGE, 1976, p. 52)
Atualmente, dispomos de tecnologia e agilidade para, por exemplo, 
comprar em sites especializados da internet. No século XIX, porém, nem 
todos tinham acesso às tecnologias da época, por isso, países inteiros ficavam 
isolados por conta dessas restrições. Com isso, podemos mostrar a sutil dife-
rença da ciência que tem o papel de demostrar essa fluidez entre o processo 
de desenvolvimento dos produtos, com sua fabricação, transporte e variação 
de preço: a geografia política.
Ao optarmos por uma configuração espacial dos elementos da interação 
da sociedade com a natureza, que é objeto de estudo da geografia, e a trans-
formação do espaço geográfico, cabe aqui uma definição:
A Geografia estuda os lugares, não os homens. O estudo das paisa-
gens (que formam uma região) é feito pelo método descritivo, em 
que se define, se classifica e se deduz. Falar em homem significa falar 
em população em movimento (já que o homem não age sozinho no 
meio), indicando uma divisão do trabalho. O homem transforma o 
meio através da técnica que tende a fixá-lo ou enraizá-lo no ambiente. 
A cultura (modo de vida) é vista como enraizamento ambiental que 
forma um território. (BRAGA, 2007, p. 66)
Nesse sentido, nossa reflexão se dá na forma de pensamento sobre o 
“espaço”, já que a sociedade e a natureza coexistem retratando um momento 
histórico, e esseseria o espaço geográfico da geografia política. 
– 13 –
Geografia política x geopolítica
Outrossim, vislumbramos compreender essa inter-relação e suas nuances, 
já que elas evoluem em função do modelo de desenvolvimento econômico, da 
exploração dos recursos naturais, associados aos interesses de desenvolvimento, 
ou ainda de equilíbrio entre as forças atuantes, fornecendo mais subsídios con-
ceituais à geografia política.
Com essa reflexão, podemos perceber a “geografia política que considera 
a organização dos estados como imutáveis, e/ou estáticas, fundamentadas 
sobre alicerces mais ou menos fixos, por estarem com bases físicas consolida-
das” (KAROL, 2013, p. 50).
Esses elementos físicos, que dão parâmetros de estudo à ciência geográ-
fica, não podem ser confundidos com a “geografia física”, que estuda outras 
dimensões do espaço geográfico, como solos, relevo, vegetação e clima.
Um escorregamento de uma encosta, uma enchente repentina ou 
ainda uma forma de exploração florestal são próprios da compreensão da 
geografia física, que pode dar sustentação às políticas públicas, que é objeto 
da geografia política.
Assim, a geografia política está relacionada às questões de ordem do estudo 
em si, como forma de epistemologia da ciência geográfica. “Paradoxalmente é fre-
quente que a geografia, a mais “tradicional” que se concilia entre muitas ciências, 
juntando e elaborando conceitos próprios e associando economistas, ecologistas 
e fazem a propósito de espaço e sempre insinuando a forma de descrever e ver as 
questões mundiais” (LACOSTE, 2005, p. 186).
Podemos perceber que os pontos estratégicos de uma configuração geo-
gráfica são consolidados pela geopolítica, que reverencia acordos entre as 
nações, dilemas ou crises sociais, econômicas e energéticas, que na maioria 
das vezes resultam em emprego de forças ou restrições econômicas – especifi-
camente por parte das economias imperialistas. 
Vejamos essa proposição de Lacoste (2005):
[...] descobre-se agora é o confronto dos “blocos” econômico-ideo-
lógicos de envergadura planetária não explicam tudo, que povos 
oprimidos se batem com ferocidade uns contra os outros, nos dife-
rentes “pontos quentes”2, que se podem recensear a superfície do 
globo, a situação é muito complicada por causa da confusão de velhos 
2 Áreas de conflitos entre nações, por interesses territoriais, étnicos, religiosos e econômicos.
Geografia Política, Econômica e Industrial
– 14 –
antagonismos locais , rivalidades “regionais” e do papel mais ou menos 
contraditório das grandes potências. (LACOSTE, 2005, p. 258)
O autor salienta ainda que “as reflexões geopolíticas não se situam 
somente em nível planetário ou em função de vastíssimos conjuntos terri-
toriais ou oceânicos, mas também no quadro de cada Estado” (LACOSTE, 
2005, p. 258).
Os problemas dos conceitos, tanto da geopolítica quanto da geografia 
política, é que eles são empregados dentro de um tempo histórico, tendo sido 
aprimorados de acordo com os estudiosos e em uma evolução conceitual. Um 
termo era empregado para descrever situações regionais de identificação ou 
configuração, e outro, para conceituar as necessidades das demandas políticas.
1.2 Desmitificando a geopolítica 
A geopolítica é aplicada, na maioria das vezes, de modo geral para expli-
car elementos políticos, acordos e interferências regionais das potências impe-
rialistas. “Apoiando-se na geopolítica, muitos Estados buscavam definir sua 
estruturação nacional, quais [eram] seus objetivos centrais e onde se localizam 
no ‘concerto das nações’” (CARMONA, 2012, p. 7). 
Nesse sentido, a geopolítica é resultado de fatos e acontecimentos políti-
cos, como questões de ordem econômica, conflitos de comércio entre nações, ou 
mesmo religiosos, e os descreve, mas também busca fornecer e fomentar o debate 
a respeito dos elementos políticos, sobretudo a ciência da geografia do Estado.
A geopolítica considera que o estado supera as condições e leis do 
espaço e faz com que essa sirva a seu propósito, a geografia política 
encara o estado do ponto de vista do espaço, a geopolítica encara do 
ponto de vista do Estado, esta deseja fornecer elementos à ação polí-
tica e quer ser um guia pra a vida prática, fornecendo saber ao poder, 
é o planejamento da política. (VESENTINI, 1986, p. 77)
A geopolítica está a serviço do Estado, na configuração de elementos que 
os geógrafos dominam, sejam de origem conceitual, sejam aqueles que dão 
suporte aos elementos de interesse do Estado, como políticas públicas, e de 
interesse comerciais, energéticos ou fronteiriços.
– 15 –
Geografia política x geopolítica
Essas são variantes necessárias aos modelos de apresentação conceitual 
para a compreensão dos elementos geográficos que são objeto de estudo da 
geografia, mas também são motivos de dicotomia conceitual por parte da 
literatura. A geopolítica é base para a tomada de decisões políticas; já serviu 
para a guerra, mas substancialmente para a paz. Ela é motivo de compreensão 
dos países em conflitos e nações com grandes reservas estratégicas de recursos 
naturais, ou de grande quantidade de petróleo. No âmago das discussões, o 
geógrafo está dos dois lados, descrevendo e informando aqueles que estiverem 
dispostos a compreender e/ou usar os conhecimentos geográficos.
Esse assunto não se esgota simplesmente, pois acordos, leis e manifesta-
ções comerciais estão em constante evolução.
Consideremos, por exemplo, o caso da China, uma das potências mun-
diais que mais tem influenciado a economia global, a qual se inseriu no 
cenário internacional com todas as “garras” que lhe concederam, desde que 
abriu sua economia aos investimentos externos diretos, expandindo fronteiras 
comerciais por todo o mundo.
Sobre a influência das economias em ascensão, vejamos:
Reconhecer o caráter de vanguarda ou de progresso de uma dada civi-
lização não é o mesmo que falar em ascensão de um Estado como 
“potência” ou como “grande potência”. Tais conceitos parecem mais 
comodamente aplicáveis às relações internacionais pós-Westphalia3, 
com a consolidação dos estados-nacionais modernos, mas há evidentes 
paralelos entre o grau de desenvolvimento de uma nação e a sua capa-
cidade de exercer poder com relação às demais. (LYRIO, 2010, p. 15)
Nesse sentido, podemos observar que, na geopolítica, do ponto de vista 
mundial, é notório que nos últimos três milênios a China esteve na liderança 
das grandes economias. Podemos reconhecer o vanguardismo dessa civiliza-
ção como “potência ou demonstração de poder econômico, sua história e 
o pensamento oriental resguarda esse caráter empreendedor, próprios dessa 
região” (LYRIO, 2010, p. 15). 
3 “Os princípios de Westfália – não intervenção e soberania – forneceram a base da ordem 
internacional dos últimos séculos, prevalecendo em todo o direito internacional e nos docu-
mentos das Nações Unidas” (MELLO, 1999).
Geografia Política, Econômica e Industrial
– 16 –
Figura 2 – Navios de carga no Porto de Hong Kong (China). 
Fonte: Only5/iStockphoto
Nas políticas mundiais de expansão comercial, sempre estiveram 
envoltas as economias desenvolvidas. Eis que surgem, nesse entrevero, paí-
ses emergentes, como a China. Entretanto, as economias de cunho capi-
talista e desenvolvidas continuam em expansão, mas não encontram um 
rumo. Vejamos o que diz o relatório da UNCTAD (2013):
A economia mundial ainda não pôde encontrar o seu caminho, polí-
ticas monetárias expansionistas agressivas que levaram a cabo gran-
des economias desenvolvidas não conseguiram promover a geração 
de crédito ou fortalecer a demanda agregada. A austeridade fiscal e 
a compressão (compactando, diminuindo) salarial de muitos países 
desenvolvidos, perspectivas ainda mais obscuras, não só a curto mas 
também a médio prazo. A carga do ajustamento dos desequilíbrios 
mundiais que contribuíram para eclosão da crise financeira perma-
nece com os países deficitários, alimentando assim forças deflacioná-
rias na economia mundial. (p. 1)
Nesse gargalo daseconomias desenvolvidas, a China aparece na con-
tramão, agressiva em comércio internacional. Esse país apresenta um gran-
dioso patrimônio como recursos territoriais – sua vastidão garante o 3° maior 
– 17 –
Geografia política x geopolítica
território do globo –, o maior contingente populacional, uma acelerada difu-
são do sistema produtivo, principalmente na área industrial, que lhe garante 
o notório reconhecimento de potência mundial na atualidade.
Em 2010, a China se tornou a segunda potência econômica mun-
dial, deslocando o Japão do lugar que ocupava havia 45 anos. No 
ritmo de crescimento atual, superará a primeira colocação dos Estados 
Unidos por volta de 2020. A ofensiva é primordialmente comercial. 
O crescimento do poderio chinês no comércio mundial é notável. 
(BENACHENHOU, 2013, p. 18)
Nesse sentido, a geopolítica têm um caráter desmitificador e esclarecedor 
de modelos econômicos, supremacia bélica das nações, estudos populacionais 
que influenciam demandas de mão de obra e uso do solo.
Esse ramo da geografia, além de buscar a compreensão dos fenômenos 
políticos mundiais, garante uma literatura vasta de elementos de construção 
do espaço geográfico, que está em constante evolução. Nas últimas décadas, 
o modelo econômico, as demandas por uso de energias, os conflitos étnicos 
e religiosos vêm trazendo uma nova configuração geoespacial na Europa e na 
África, mas a China continua tendo recordes de crescimento na economia.
1.3 As inter-relações entre 
economia e geopolítica 
As transformações recentes no mundo e o domínio do capitalismo têm 
influenciado a economia global. Isso é verificado, sobretudo, em mudanças 
cambiais, juros de dívidas públicas e ajustes na economia de mercado, crises 
sucessivas em que países com histórico de produção industrial e com moeda 
forte sofrem para se reerguer, às vezes a custo de retirada de direitos sociais, 
a fim de se garantir o fortalecimento econômico. É o caso, por exemplo, da 
Argentina nas últimas décadas – após a dolarização da economia – e do Brasil, 
a partir de 2017, com o governo de Michel Temer.
A predominância de finanças sobre as atividades da economia real 
persiste e pode ter aumentado. No entanto, as reformas financeiras 
nacionais têm sido tímidas na melhor das hipóteses e mal avançaram. 
Em 2008 e 2009, as autoridades de vários países com poder econômico 
pediram reformas urgentes do sistema monetário e financeiro inter-
nacional, mas desde então, o impulso reformista quase desapareceu 
Geografia Política, Econômica e Industrial
– 18 –
da agenda internacional. Consequentemente, as perspectivas para a 
economia global e o meio ambiente global para o desenvolvimento 
permanecem muito incertas. (UNCTAD, 2013, p. 1)
Esses fatores transformam o cenário econômico, já que países em pro-
cesso de expansão imperialista dependentes ainda das grandes economias para 
se estabelecer, exportar e importar sofrem diretamente os efeitos de crises 
econômicas globais.
Assim, as grandes economias de cunho capitalista baseadas na sociedade 
de consumo, influenciam tanto países desenvolvidos quanto emergentes, 
mas cabe aqui apresentar alguns elementos que conceituam e diferenciam 
esses países.
Os países desenvolvidos tiveram seu processo de industrialização muito 
antes que os emergentes. Os EUA, por exemplo, considerada a maior eco-
nomia global, já possuíam refinarias e siderúrgicas no fim do século XVIII, 
e suas minas de carvão deram suporte ao modelo industrial e de crescimento 
das cidades com base no aço, no século XIX.
Atualmente, os países desenvolvidos têm alto padrão de industriali-
zação de atuação variada, com siderúrgicas, petroquímicas, indústrias de 
metalmecânica, eletrônica, microeletrônica e têxtil, além de diversificado 
parque automobilístico, o que lhes garante uma economia pujante. Cabe 
aqui lembrar do constante desenvolvimento do Vale do Silício, nos EUA, 
que tem contribuído no processo de transformação das tecnologias de 
informação e comunicação.
Desse modo, os emergentes sofrem para poder se estabelecer no comér-
cio mundial ou não conseguem novos mercados, haja vista a superioridade 
das potências imperialistas. Como afirma Benachenhou (2013),
O atual momento de crise econômica na comunidade europeia e 
nos Estados Unidos levanta novos questionamentos quanto à atua-
ção concertada dos países emergentes e sua capacidade de assumir 
um papel de destaque na conformação de uma nova ordem mun-
dial. Os desafios que se apresentam põem à prova a solidariedade 
econômica e financeira, intensificando a instabilidade interna e por 
vezes estimulando atritos entre eles. Mas abrem também oportuni-
dades consideráveis, desde que as estratégias corretas sejam escolhi-
das e os benefícios da ação solidária triunfem. A cooperação entre 
os países emergentes é, sem dúvida, um caminho necessário para 
– 19 –
Geografia política x geopolítica
navegar os [sic] tempos de transição e incerteza e atingir o porto 
seguro do desenvolvimento sustentável. (p. 8)
Os países emergentes têm economias baseadas, na maioria dos casos, na 
agricultura ou na exploração mineral, o que lhes assegura seu local na divisão 
internacional do trabalho como fornecedores de matérias-primas.
Outrossim, a geografia econômica com cunho social nesses países se 
esboça com novo olhar. Essas nações visam estar inseridas de maneira cada 
vez mais ofensiva nas trocas internacionais de tecnologias, capitais, bens e 
serviços, pois tentam moldar em suas economias grandes reestruturações. 
Pretendem, assim, aumentar os investimentos e todo modo de fortalecer 
o comércio, como foi o caso do Brasil entre 2002 e 2014, incentivando o 
comércio interno e melhorando o desempenho econômico.
Então, os países emergentes são aqueles que só vieram a se inserir na 
economia global após a Segunda Guerra Mundial, pois as potências imperia-
listas, na época focadas nos conflitos na Europa e no Pacífico, centraram suas 
indústrias no fornecimento de alimentos e materiais bélicos.
Nesse contexto, os países emergentes viram-se obrigados a desenvolver 
a indústria interna, com economias baseadas em sistemas agrícolas rudimen-
tares. Atendiam apenas a demandas internas de consumo e tiveram na guerra 
a oportunidade de reestruturar sua planta produtiva, tanto na agricultura 
quanto no modelo industrial, mas ficaram carentes nas áreas de tecnologias e 
em pensadores/cientistas.
Assim, podemos compreender que as demandas econômicas são influen-
ciadas por políticas, muitas vezes norteadas pela demanda crescente de capital 
e suas nuances. Vamos agora verificar alguns pontos importantes sobre for-
mas econômicas que atingem o mundo constantemente (Quadro 1).
Quadro 1 – Modelos econômicos de influência. 
Economia de 
aglomeração
Vantagens de custo de produção, garantidas por 
empreendimentos, sendo beneficiadas pelo conjunto de ganhos 
(conjunto de obras em um município, estado ou país).
Economia 
de escala
Diminuição do custo do produto com base na diminuição do custo 
unitário; quanto maior a produção, menor o custo do produto.
Geografia Política, Econômica e Industrial
– 20 –
Economia de 
mercado
Baseada na demanda de compra do consumidor, ou 
oferta sazonal, tendo em vista o período de produtividade 
(agrícola), com oscilação de preços. Quando o produto tem 
muita ou baixa procura, existe a oscilação do preço.
Economia 
informal
Ocorre quando o montante não passa pelo conjunto de normas 
legais de mercado, sem que haja conhecimento oficial.
Fonte: GARRIDO; COSTA, 2006, p. 60. Adaptado.
Conforme estudado, a economia é influenciada por processos transi-
cionais, sejam eles elementos políticos, crises ambientais, guerras, adversi-
dades políticas institucionalizadas e/ou, ainda, elementos internos de uma 
nação gerados por um avanço muito grande da economia informal, sem o 
domínio dos governantes.
Conclusão 
Neste capítulo, pudemos evidenciar a dicotomia entre a forma de com-
preensão da geografia política e a da geopolítica. As duas são ramosda mesma 
ciência, pautadas na compreensão do universo racionalista das economias e 
suas políticas inerentes à organização dos territórios. Assim, a ciência da geo-
grafia tem como base a análise e a interpretação de fatos e momentos histó-
ricos do espaço humano e a conjuntura que os influencia – o modo de vida 
das pessoas e seu cotidiano –, pois nele a sociedade é constituída e formada. A 
geografia política é caracterizada pela apresentação de elementos geográficos, 
com análise de reservas de petróleo, minerais etc., enquanto a geopolítica 
enfoca aspectos como a qual nação estes pertencem e como será a partilha da 
exploração, bem como a divisão de lucros.
As vivências políticas, o trabalho gerador de riquezas, o universo de con-
tradições existentes na economia globalizada, os conflitos mundiais advindos 
de interesses difusos que influenciam novas demandas, como diferentes for-
mas de energia e reservas estratégicas de petróleo (na Venezuela, no Oriente 
Médio e na Crimeia) são exemplos de influências geopolíticas mundiais, ou, 
ainda, grandes áreas ambientais de preservação, como a Amazônia brasileira.
– 21 –
Geografia política x geopolítica
Nesse sentido, os modelos econômicos são pautados em instrumentos da 
geografia política, nas orientações geopolíticas que respondem aos interesses 
geoeconômicos mundiais, com fortalecimento das economias capitalistas, uso 
irrestrito dos países subdesenvolvidos e emprego direto das economias emer-
gentes, com base no conceito da clássica divisão internacional do trabalho.
Ampliando seus conhecimentos
No período atual, em que os conflitos estão longe das nossas 
casas, como podemos imaginar um mundo sem uma ordem 
política, sem um pensamento estratégico? No passado, 
quando as tensões tinham origem no território, vislumbrava-se 
uma organização do pensamento que se segue, para compre-
ender a geografia política e a geopolítica.
Origens e fundamentos da geopolítica
(BONFIM, 2005, p. 18)
[...]
Rudolf Kjëllén (1846-1922), natural da Suécia, professor na 
Universidade de Gotemburgo, foi, além do criador do termo 
geopolítica, o responsável pelo reconhecimento da autono-
mia do seu estudo, elevando-a à categoria de ciência aplicada 
e continuada por seus seguidores. Impressionado pelas teorias 
de Ratzel, sobre a natureza orgânica dos Estados, abandonou 
a orientação jurídico-filosófica que até então predominava no 
estudo da Ciência Política, passando a analisar o fenômeno 
do Estado por processos rigorosamente científicos, nos mol-
des usados pelas ciências físicas, naturais e sociais. Passou a 
analisar o Estado em sua estrutura mais íntima, sob o ponto de 
Geografia Política, Econômica e Industrial
– 22 –
vista jurídico, social e econômico, procurando em aspectos 
tangíveis as bases em que o mesmo se fundamenta.
Para Kjëllén, não é possível analisar o Estado somente sob 
o aspecto jurídico e subsidiariamente enriquecido das contri-
buições da sociologia e da economia. Era necessário analisá-
-lo com visão global, investigando com igual ênfase todos os 
fatores que o compõem. Dentro desse raciocínio, adotou 
um novo método de estudo da Política, analisando-a sob os 
seguintes aspectos:
 2 Geopolítica: determina a influência do solo (situação, 
valor do território ocupado) nos fenômenos políticos;
 2 Ecopolítica (atualmente Geoeconomia): influência dos 
fatores econômicos nos fenômenos políticos;
 2 Demopolítica: estudo do Estado como nação (povo);
 2 Cratopolítica: estuda a política do governo como poder. 
Atividades
1. Qual é a diferenciação entre o conceito de geografia política e o de 
geopolítica com base na vivência dos geógrafos?
2. A geografia política teve influência nas guerras, já que ela tinha o pa-
pel de desmitificar o território e as suas riquezas estrátégicas?
3. Qual é o papel e a realidade dos países emergentes na geopolítica 
mundial?
4. Como a globalização pode influenciar no modelo das economias 
emergentes?
Concepção de Estado 
no idealismo e no 
materialismo
Introdução
O mundo é repleto de contradições. Desde os primórdios da 
humanidade, o ser social vive e é organizado sob lideranças. Neste 
capítulo, vislumbraremos a organização social, tanto dos indivíduos 
em comunidade quanto aquela baseada em um conjunto de leis 
advindas do Estado.
O Estado tem base legal constitucional com os três poderes 
(Legislativo, Executivo e Judiciário) constituídos e norteadores das 
políticas para o cidadão e a sociedade em geral.
2
Geografia Política, Econômica e Industrial
– 24 –
Nós, como seres sociais e sociáveis, vivemos em uma organização de 
Estado paradigmática1 e, sobretudo, em processo contínuo de construção, 
pois os elementos econômicos e sua dinâmica obrigam as pessoas a evoluir 
diante dessas transformações.
Nossas vivências têm base globalizante, pautadas no idealismo da socie-
dade ocidental, de cunho capitalista e baseada no consumo.
Em nosso imaginário, somos propositalmente condicionados a uma 
forma de idealismo, de acordo com uma lógica que nos faz querer ser donos 
dos meios de produção. Esse é um erro grande do ponto de vista conceitual, 
pois compreendemos a sociedade com uma visão materialista.
Nesse sentido, averiguaremos a seguir, de maneira conceitual, essa temá-
tica e desmembrá-la.
2.1 O papel do Estado e suas nuances 
Nos estudos de geografia, a transformação do espaço geográfico é 
inerente a seu tempo histórico, fruto de rupturas temporais, haja vista a 
influência social, econômica e cultural de cada época. A construção do 
espaço geográfico, no século XXI, é norteada pelos agentes globalizantes, 
mas o Estado e o capitalismo são fundamentais nesse processo de ocupação 
e transformação.
A produção do espaço é consequência das atividades de cunho sociopo-
lítico; assim, a organização espacial é resultado do trabalho humano acumu-
lado ao longo do tempo (CORRÊA, 1998).
Nesse sentido, veremos o conceito de Estado e sua influência no pro-
cesso de transformação do espaço geográfico, que é resultado dessas ações de 
maneira direta ou indireta.
Na concepção histórica, a forma de configuração do Estado como ele-
mento regente da vida das pessoas e da sociedade nasce de uma evolução 
que é resultado de intensas lutas políticas. No caso específico do Brasil, para 
1 Modelo ou padrão a ser seguido ou sucessão de resultados controversos em função da orga-
nização social na qual estamos inseridos.
– 25 –
Concepção de Estado no idealismo e no materialismo
compreendermos esse conceito, esse processo ocorre desde a proclamação da 
República, em 1989. 
Como afirma Bresser-Pereira, “a história do surgimento do Estado 
moderno e da formação do Estado-nação é uma história de grandes lutas 
políticas que deixam claro como as nações veem seu Estado – como seu ins-
trumento fundamental de defesa de seus próprios interesses” (2017, p. 156). 
Nesse sentido, o Estado como o percebemos é fruto de disputas históricas, 
e os que o construíram buscam subterfúgios legais para atender a interesses 
próprios, muitas vezes deixando questões sociais em segundo plano. 
Assim, o processo histórico de conquistas sociais e econômicas vem há 
muito tempo sendo construído com a intervenção estatal. As Constituições 
brasileiras que se sucederam desde a primeira, de 1934, vêm garantindo um 
Estado democrático regido por um conjunto de leis, que deram oportunidade 
a profundas transformações no país.
Assim, temos que o Estado é um sistema baseado em leis de natureza 
política e pode exercer influência sobre determinado território, sendo soberano.
A teoria política e a lei constitucional ainda conhecem somente o 
Estado como soberano. E nos últimos 200 anos esse Estado tem 
ficado cada vez mais forte e dominante, transformando-se em um 
“mega-estado”2 [...] até agora é a única estrutura política que com-
preendemos, com a qual estamos familiarizados e que sabemos 
construir a partir de partes pré-fabricadas e padronizadas, um poder 
executivo, um legislativo, tribunais, serviços diplomáticos e asforças 
armadas. (DRUCKER, 1993, p. 81)
Nesse sentido, toda nossa organização social, pautada em um modelo 
histórico e/ou sociocultural, está a serviço do Estado. Nossa configuração 
territorial, as cidades, os estados, as formas de uso dos recursos minerais e 
energéticos são gerenciados pelas forças impositivas do Estado.
Vejamos o que diz a Constituição Federal de 1988 (art. 1º) a respeito 
dos princípios fundamentais que regem a República Federativa brasileira 
(Quadro 1), com base em direitos indissolúveis aplicáveis a todo território 
nacional e em todas as esferas de governo:
2 “Os cidadãos possuem somente aquilo que o Estado expressa ou tacitamente lhes permite 
possuir” (DRUCKER, 1993, p. 88).
Geografia Política, Econômica e Industrial
– 26 –
Quadro 1 – Constituição Federal: princípios fundamentais. 
Soberania Todo o território nacional está protegido de qualquer invasão ou ocupação de estrangeiros.
Cidadania Todos têm direito ao livre arbítrio, garantidos os direitos ao trabalho, à justiça social e à empregabilidade, a votar e ser votado.
Dignidade da 
pessoa humana
É dever da nação garantir a seguridade social para que 
seus cidadãos tenham assegurados o princípio à vida.
Valores sociais 
do trabalho e da 
livre iniciativa
Estão assegurados um processo de formação, capacitação 
técnica, moradia digna, emprego, de modo que cada indivíduo 
possa estar inserido de maneira íntegra na sociedade.
Pluralismo 
político
A diversidade de ideias é importante num regime democrático, 
garantindo os direitos da multiplicidade social de conceitos que 
sejam de interesse da sociedade e para o desenvolvimento.
Fonte: BRASIL, 1988. 
Nesse sentido, nossas vidas são regidas pelo Estado em todas as suas 
formas, desde os produtos que consumimos até a velocidade com que transi-
tamos em locais públicos, além do modelo econômico de cunho capitalista.
Podemos entender, assim, que a formação social é baseada em um con-
junto de regras, mesmo que norteada por demandas capitalistas, pois dá con-
dições à construção territorial de cada sociedade. Nesse contexto, o território 
pode apresentar intensos contrastes geográficos, havendo uma coalizão na 
forma de se pensar essa estrutura do ponto de vista socioeconômico, mas 
dentro de uma lógica organizacional. Vejamos o seguinte:
Estado e estado-nação, sociedade civil e nação, classes e as coalizões 
de classe são conceitos políticos situados no quadro da revolução capi-
talista que tende a acontecer em cada país, ou seja, da formação do 
estado-nação e da revolução industrial nesse país. Cada povo que par-
tilha uma etnia e uma história comum busca se constituir em nação, 
controlar um território e construir seu próprio Estado, dessa forma se 
constituindo em estado-nação. (BRESSER-PEREIRA, 2017, p. 156)
Essa configuração de regência é permitida porque em muitos países, 
como no caso do Brasil, o Estado-nação tem uma organização oligárquica 
histórica. Desde as capitanias hereditárias, as regiões geográficas da nação 
– 27 –
Concepção de Estado no idealismo e no materialismo
estão sob o domínio de grupos familiares muito arraigados, ou seja, as mes-
mas famílias detêm a maior parte do capital, semeiam indústrias a seu bel pra-
zer e se fortalecem, muitas vezes favorecendo a formação de cartéis3 ligados a 
grupos políticos com interesses próprios.
Devemos ter clareza: nos estudos geográficos, compreender a impor-
tância do Estado na organização sociocultural e histórica faz-se necessário, 
pois são as políticas econômicas que podem dar suporte ao desenvolvimento, 
desde que sejam utilizadas com base em critérios determinados e em áreas 
específicas de crescimento.
Outrossim, o Estado é responsável pelo saneamento das finanças públi-
cas, que devem ser administradas com padrões de razoabilidade às necessi-
dades do território. Por exemplo, uma grande área de proteção ambiental 
não deve (e nunca deveria) ser liberada para outros fins sem um estudo 
prévio dos impactos inerentes ao uso e conservação da área, além das obri-
gações de seguir os acordos nacionais e internacionais. Essas áreas de pre-
servação permanente têm como principal objetivo conservar os processos 
ecológicos e garantir a qualidade ambiental.
Nesse sentido, o Estado atua na gestão pública, na organização, na 
formulação e reformulação de leis, de acordo com a necessidade social das 
localidades. Mas, em muitos casos, ele atua também como um empresário, 
diversificando investimentos. 
O Estado age, então, na construção dos espaços, respondendo a interes-
ses socioeconômicos, mas reconfigurando o que for necessário ou atendendo 
às formas de desenvolvimento econômico. Isso possibilita a modificação do 
espaço de vivência, de acordo com as especificidades locais. As sociedades 
coletoras, por exemplo, nunca extrapolam o limite de suas demandas alimen-
tares e, por vezes, modificam esse conjunto espacial para garantir a sobrevi-
vência do grupo. Já nos centros urbanos contemporâneos, as condições de 
estrutura são muito diferentes e complexas, exigindo uma demanda muito 
maior de recursos e novas ordenações. Vejamos: 
Enquanto antigamente cada homem, vivendo em autossubsistência, 
podia conscientizar outro (e se fazer conscientizar) da maioria das suas 
3 Acordos comerciais entre empresas para formação de preços de forma coordenada, a fim de 
eliminar a concorrência.
Geografia Política, Econômica e Industrial
– 28 –
práticas referindo-se a um pequeníssimo número de conjuntos espaciais 
(para o essencial, o território, de sua comunidade), hoje é preciso, para 
viver em sociedade, utilizar um grande número de conjuntos espaciais, 
mais ou menos bem construídos. (LACOSTE, 2005, p. 190)
Atualmente, as organizações sociais dos centros urbanos, com seu orde-
namento, suas formas e funções específicas, devem obrigatoriamente ser fis-
calizadas, gerenciadas pela ação do Estado, o que em outros tempos não se 
fazia necessário.
Nesse contexto, à medida que as sociedades vão se estruturando, surgem 
novos postos de trabalho, novas demandas comerciais e industriais e há então 
a necessidade de replanejamento territorial e gestão da vida social por parte 
do Estado. Isso porque
Em cada Estado-nação existe uma “sociedade nacional ampla”, ou 
seja, uma sociedade no sentido mais amplo do termo, incluindo 
as relações de família, afetivas, profissionais e culturais, além das 
mais especificamente políticas, existe um sistema de intermedia-
ção política entre o Estado e essa sociedade, que é constituído de 
instituições formais como os partidos políticos, os sindicatos e as 
associações de classe, e de associações políticas informais, que pro-
pomos serem a nação, a sociedade civil e as coalizões de classe. 
(BRESSER-PEREIRA, 2017, p. 156)
Esse agrupamento de pessoas de certa forma é indissociável, já que, 
mesmo estando sob a organização do Estado, pertencemos a um grupo de 
indivíduos, na nossa família, no nosso bairro, na nossa classe de trabalho. 
Nesse contexto, muitas vezes esquecemos de nosso papel social, priorizando 
nossas individualidades e, quando isso ocorre, comprometemos um número 
substancial de pessoas.
Um exemplo claro de negligência social ocorreu em novembro de 2015, 
com o rompimento da barragem de Fundão, no município de Mariana, no 
estado de Minas Gerais. A falta de fiscalização do Estado, ou a ingerência 
de uma grande empresa colocou em risco a vida de pessoas e ocasionou 
grandes perdas ambientais, comprometendo a biota4 local. Outrossim, essa 
inadimplência, tanto do Estado quanto da multinacional responsável, afe-
tou diretamente a vida de muitos por um longo período de tempo, cujos 
resultados ainda não são inteiramente conhecidos.
4 Trata-se do conjunto de seres vivos que compõem ou habitam determinada região.
– 29 –
Concepção de Estado no idealismo e no materialismo
O desastre de Mariana afetou um grande rio brasileiro, o Rio Doce, e 
prejudicou as condições sanitárias e ecológicas ao longo de sua extensão. 
O Estado não deve ser omisso diantedos interesses sociais. É necessário 
imputar as responsabilidades à empresa, nesse caso, pelas causas e consequên-
cias da transformação do espaço geográfico. Cabe a ele tomar as medidas 
cabíveis para que sejam recuperadas tanto a qualidade ambiental quanto a 
qualidade socieconômica.
2.2 A intervenção do Estado 
nas relações econômicas 
Ao observamos o crescimento econômico de alguns países nas últimas 
décadas, percebemos que a intervenção do Estado é inerente às demandas 
industriais de exploração mineral e de energia.
Um exemplo foi o caso da construção da usina de Três Gargantas, na 
China, o maior lago artificial já erigido, que atendeu a uma demanda espe-
cífica da economia. O Estado chinês, como gestor social, usou argumentos 
ambientais – como o controle da vazão de cheias dos três maiores rios desse 
país – para justificar a construção de uma usina hidrelétrica. Isso permitiu dar 
continuidade ao crescimento industrial necessário.
Nesse sentido, as demandas sociais e históricas foram levadas em consi-
deração como consequência do desenvolvimento, com a realocação de pes-
soas e parques arqueológicos em outras áreas e vilas construídas. As demandas 
ambientais foram compreendidas e estudadas, mas a construção da usina não 
foi interrompida.
Podemos perceber, assim, que as demandas econômicas são maiores e 
norteiam o processo de desenvolvimento. Na estrutura do Estado, são neces-
sários órgãos de fomento aos investimentos financeiros, possibilitando a apli-
cação deles em infraestruturas e serviços. 
Atualmente, vivemos em uma sociedade constituída e formulada no 
contexto capitalista, modelo liberal com desoneração das responsabilidades 
do Estado. Entretanto, a fórmula do progresso é baseada na supervalorização 
do capital sobre as demandas sociais.
Geografia Política, Econômica e Industrial
– 30 –
As demandas de território e o saneamento global dos recursos financeiros 
apresentam-se como um conjunto de normas que regem as economias capi-
talistas, muitas vezes diminuindo investimentos em serviços públicos básicos, 
como hospitais e escolas, e modificando, assim, as necessidades da estrutura 
social ou as que vigoram em determinado tempo histórico (SANTOS, 2008). 
Nesse contexto, o emprego do “capital homogeneizador agrava hete-
rogeneidades e aprofunda as dependências. É assim que ele contribui para 
quebrar a solidariedade nacional, criando ou aumentando as fraturas sociais e 
territoriais e ameaçando a unidade nacional” (SANTOS, 2008, p. 56).
O mesmo capital que gera emprego, transforma a configuração espa-
cial e promove as disparidades sociais, muitas vezes aprofundando-as. Resta 
ao Estado fazer o saneamento das finanças ou aplicar políticas econômicas 
que minimizem os efeitos sobre a fome, a seguridade social etc. Isso já foi 
realizado por meio do New Deal5, nos EUA, e pelas forças de coalizão no 
pós-Guerra para a reconstrução do Japão e na Alemanha, fortalecendo ainda 
mais as potências imperialistas e os grandes grupos oligárquicos.
A Segunda Guerra, por mais cruel que tenha se apresentado, com 
consequências sociais jamais imaginadas, não foi muito diferente de outros 
períodos de crises mundiais. Nela apenas se configurou avanços primor-
diais nas tecnologias bélicas, que se fortalecem no atual modelo industrial 
e econômico. No seu âmago, a guerra teve e tem os mesmos interesses dos 
períodos das monarquias absolutistas. Vejamos: “os Estados-nação nascerão 
mais tarde, na França e na Inglaterra, em torno das monarquias absolutas, 
que se constituem na Europa depois da revolução comercial, da emergência 
de uma burguesia associada ao monarca absoluto, e das lutas fratricidas que 
se sucederam à Reforma” (BRESSER-PEREIRA, 2017, p. 158).
Mesmo com necessidade de lucro incessante, poder e glória, os Estados 
têm caráteres mais ou menos difusos, interesses comuns e, na maioria das vezes, 
relegam a devida proteção aos que podem lhe dar mais poder: os cidadãos. Do 
ponto de vista da gestão macro da sociedade, é do Estado a responsabilidade de 
garantir o acesso à saúde, à educação e à formação técnica em todos os níveis.
5 Com o objetivo de sanar as consequências da Crise de 1929, o governo americano criou, por 
meio de políticas socioeconômicas, novas áreas de investimento, gerando empregos em massa.
– 31 –
Concepção de Estado no idealismo e no materialismo
Além disso, o Estado tem seu papel de representação, com fundamentos 
próprios de regulação do modelo econômico, porém isso não pode tirar do 
cidadão seus benefícios em uma democracia social. 
No Brasil, o emprego do capital “vadio” – capital de exploração, garan-
tido por meio de investimentos em juros e busca de dividendos – tem como 
subterfúgio a geração de emprego por meio das plantas produtivas industriais, 
com o argumento de que novos postos de trabalho são ofertados e impostos 
são arrecadados. Enquanto os governos usam dessa falácia, as empresas con-
seguem anos de isenções de impostos e toda estrutura para instalação de suas 
unidades de produção. Com casos absurdos de concorrência fiscal, os Estados 
oferecem subsídios às empresas, não levando em consideração as necessidades 
da população. Considerando isso, vejamos o seguinte:
A revisão de alguns registros históricos e da mídia aponta que [...] as 
guerras fiscais teriam ocorrido tipicamente em apenas dois momen-
tos históricos: na segunda metade dos anos [19]60, quando se ini-
ciam os conflitos decorrentes dos incentivos fiscais e na década dos 
[19]90, principalmente a partir de 93/94, quando se generaliza a 
concessão de incentivos estaduais, envolvendo principalmente as 
regiões Sul e Sudeste em torno dos grandes projetos do setor auto-
motivo. (ALVES, 2001, p. 5)
Podemos então observar as distorções entre o entendimento do justo e 
do manter. Ao conceder garantias às empresas, as questões sociais são detur-
padas em benefício do capital.
Vale lembrar que nos dias atuais estamos vivenciando uma época de 
transição. Muitas políticas sociais foram transformadas em políticas neoli-
berais, com intensa abertura econômica, privatizações e concessões de recur-
sos minerais e energéticos aos interesses internacionais. As consequências, a 
longo prazo, ainda parecem um tanto quanto duvidosas.
2.3 Uma visão da dialética do materialismo 
Quando éramos crianças, a percepção que tínhamos das coisas, dos obje-
tos e das pessoas eram instigantes e misteriosas; o mundo era visto como um 
elemento sobrenatural, e as forças da natureza como destrutivas. Qual criança 
não olhou para o céu e se imaginou comendo algodão-doce ou pensou quão 
catastrófico seria se uma nuvem caísse sobre nossas cabeças?
Geografia Política, Econômica e Industrial
– 32 –
A ânsia por descobertas do ponto de vista da ciência é mais ou menos 
igual à das crianças, pois a curiosidade própria delas é também a dos cientis-
tas. Assim, tanto as crianças quanto os cientistas buscam novas experiências e, 
por meio delas, suas hipóteses podem ou não ser comprovadas e vivenciadas. 
Por um longo período, por exemplo, a Terra foi tida como plana, e todos 
aqueles que discordavam dessa ideia eram punidos por grupos que utiliza-
vam suas crenças como forma de comprovação dos elementos de formação do 
Universo. Portanto, o mundo sempre foi estudado por inúmeros cientistas com 
enfoques diferentes, e a isso damos o nome de dialética do conhecimento6. Desse 
modo, a ciência busca amplo aprofundamento conceitual, discutindo for-
mas e conceitos próprios para aplicá-los quando for o caso. Porém, em alguns 
momentos, os aplicam com finalidades difusas, como as invenções durante a 
Segunda Guerra Mundial.
As ciências tomam vulto no idealismo do imaginário humano, tentando 
compreender e dar sentido ao universo do desconhecido: a botânica, no 
conhecimento das plantas; a biologia, na compreensão dos animais; a física 
na concepção dos materiais e de tudo que eles possam representar, incluindo 
a composição da Terra e do sistema solar.
Outro elemento que impulsionou o avanço da ciênciafoi a religiosidade. 
O medo do desconhecido levou a humanidade à intenção de compreender o 
imaterial, algo de que as ciências, até o presente momento, não deram conta, 
por terem clareza de que os elementos “palpáveis”, mensuráveis, ou cartesia-
nos, são os que podem ser comprovados. Em outras palavras, a ciência trata 
da negação de uma energia desconhecida, ainda envolta em paradigmas, pois 
não há como medi-la e comprová-la cientificamente. 
Desse modo, a ciência busca configurar-se nos elementos matemáticos 
conceituais na forma de construir o mundo, enquanto as populações têm 
buscado “força” em uma energia própria, que não pode ser representada pelos 
estudos sistemáticos da ciência. “Não existe uma concepção do mundo admi-
tida por todos, como existe uma Física, uma Química, uma Botânica. Pelo 
contrário, existem numerosas concepções de mundo, opostas umas às outras 
6 Buscar a comprovação da verdade com base na ciência e na ampla discussão, verificando 
hipóteses com base em processos teóricos e experimentação.
– 33 –
Concepção de Estado no idealismo e no materialismo
e que se combatem reciprocamente. O que para um é verdade, para outro é 
falso e vice-versa” (THALHEIMER, 2014, p. 3).
As observações anteriores nos apresentam uma ampla discussão de pos-
tulados, já que as ciências tratam de explicar modelos ou formulações teóricas 
próprias a cada área do conhecimento e sua dialética, enquanto as religiões 
dão conta do universo espiritual do ser humano.
As convivências sociais e econômicas não são e nunca serão harmonio-
sas, pois a sociedade vive em intensas contradições e em função de muitos 
elementos paradigmáticos. Assim, o materialismo dialético nasceu “de uma 
ou de várias concepções do mundo que lhe eram diametralmente opostas, 
chegando, assim, à aplicação dessa outra característica fundamental: a ideia 
de que o desenvolvimento se processa por meio das contradições e que uma 
coisa se desenvolve sempre partindo de sua contrária” (THALHEIMER, 
2014, p. 3). Isso porque nossas crenças e valores são próprios do nosso modo 
de vida e de nossa cultura. 
No quadro a seguir, apresentamos uma dialética de classes do materialismo.
Quadro 2 – Dialética do materialismo histórico.
Proletariado
A classe dos trabalhadores assalariados modernos que, 
não tendo meios próprios de produção, são obrigados a 
vender sua força de trabalho para sobreviverem.
Burguesia Classe dos capitalistas modernos, proprietários dos meios de produção social, que empregam o trabalho assalariado.
Fonte: RODRIGUEZ, 2013, p. 59. Adaptado. 
Nesse contexto de contraste social, os trabalhadores, com o fruto da sua 
mão de obra, dão base a uma sociedade burguesa, produzem para o capita-
lismo e ele continua seu ciclo de acúmulo de riquezas, explorando o proletá-
rio e os meios de produção.
Em épocas conflituosas, no Brasil e no mundo, com influência da glo-
balização, construindo uma sociedade cada vez mais consumista, o papel do 
capitalismo é pujante. Sobretudo há, no contexto da dialética do materialismo, 
o casamento entre a técnica e a ciência, compreendendo que essa relação no 
período da história moderna é condicionada pelos contrastes mercadológicos.
Geografia Política, Econômica e Industrial
– 34 –
Como afirma Milton Santos, “a produção de uma materialidade dá con-
dição à produção econômica” (2008, p. 52), fortemente arraigada nas potên-
cias imperialistas que fomentam o American way of life7. Ou seja, estamos nos 
habituando a viver do jeito ocidental, consumindo massivamente, alimentan-
do-nos rapidamente, sobrepondo o trabalho à qualidade de vida.
Atributos conceituais na forma de exploração do trabalho sempre 
foram e sempre serão motivos conflitantes do ponto de vista epistemoló-
gico. No Brasil, estamos passando por um período intrigante, já que classes 
sociais – como a classe C – ascenderam, em função das melhorias eco-
nômicas do país entre 2002 e 2014. Esses novos consumidores da classe 
C, agora com poder de compra e ascensão salarial, influenciados por um 
movimento internacional, buscam melhores condições de vida, tendo como 
base o combate à corrupção. Do ponto de vista econômico, tal atitude é 
importante para um país que chegou a ser a 6° economia mundial em 2013 
e continua entre as dez maiores do mundo.
A classe trabalhadora sempre esteve envolta em conflitos, sendo histori-
camente explorada, pois não lhe foram proporcionadas as prerrogativas das 
classes dominantes. Podemos observar, assim, que:
O fenômeno aqui descrito é claro: o proletariado surge como classe 
antagônica da burguesia. A construção da classe operária acontece em 
decorrência da constante e crescente exploração por parte da burgue-
sia de uma massa de pessoas que, aos poucos, vai tomando a forma 
de uma classe. O proletariado surge, então, na medida em que passa a 
possuir interesses de classes opostos aos da burguesia. É esse enfrenta-
mento de interesses que acaba fazendo com que vários trabalhadores 
separados formem uma verdadeira classe social, unida na luta teó-
rica e prática contra os interesses de uma burguesia que os explora. 
(RODRIGUEZ, 2013, p. 60)
Na dialética materialista, as lutas de classes sempre estiveram presentes, 
ora influenciadas pelos sistemas político-econômicos, ora pelas religiões. As 
diferenças entre as classes sociais são um dos problemas enfrentados pelos 
7 No atual processo de globalização, as pessoas têm absorvido o estilo estadunidense de viver, 
comprar e se alimentar; somos uma sociedade de consumo baseada no estilo e na cultura dos 
norte-americanos.
– 35 –
Concepção de Estado no idealismo e no materialismo
governantes, mas é papel primordial do Estado contribuir com políticas 
públicas para diminuir esses contrastes históricos.
Vejamos mais uma vez o caso da China. O camponês, em um modelo 
econômico que passou por profundas transformações políticas, foi “esque-
cido” no campo por duas ou três décadas. No entanto, com a mudança do 
modelo educacional e econômico do país, surge uma configuração nacional 
diferente, impulsionada pela revolução cultural8. A exigência da sociedade 
pela modernização do sistema e valorização do ser humano resultou em uma 
transformação econômica. Assim, temos uma população ativa e participativa 
no processo:
A revolução cultural buscou incisivamente estimular a iniciativa das 
massas populares, principalmente àqueles que não pertenciam for-
malmente ao Partido [Comunista], por meio da queda das barreiras 
burocráticas, que era o grande obstáculo à participação política. O 
fervor revolucionário também foi estimulado, pois os dirigentes do 
Partido acreditavam que era a melhor forma de aumentar a produti-
vidade. (OLIVEIRA, 2008, p. 4)
Com esse exemplo, podemos perceber que as sociedades, de tempos em 
tempos, emergem como força maior do Estado. Esse “gestor-mediador”, de 
modo mais ou menos conflituoso, acaba tendo de escutar as necessidades 
sociais, já que coibir violentamente não cabe bem aos olhos do capital inter-
nacional, que necessita da exploração da mão de obra para se perpetuar.
Conclusão 
Conforme estudamos, a história do homem moderno é pautada na cons-
trução de dissabores entre ciência e técnica mercantilista, pois a sociedade, 
dicotômica por si só, tem buscado favorecimentos econômicos em detri-
mento das garantias sociais. O capitalismo, que é baseado na sociedade de 
consumo, tem modificado os hábitos das pessoas em um mundo globalizado, 
8 “O governo promoveu uma campanha para persuadir camponeses e operários a se agruparem 
em torno do Partido Comunista Chinês, perseguindo todos aqueles que se opunham a seus 
ideais” (OLIVEIRA, 2008, p. 6).
Geografia Política, Econômica e Industrial
– 36 –
em que se vive em função do trabalho e de melhores salários – seguindo uma 
forma de pensamento liberal clássica. 
Para essa condição mudar, são necessárias políticas de valorização do 
trabalhador em detrimento do capital. A melhoria da qualidade de vida é 
intrínseca à redução das jornadas de trabalho, commelhores salários e mais 
tempo para a família e para o lazer.
No Brasil, a atual liberalização da economia ocorre de modo contur-
bado, pois as crises sucessivas no modelo econômico do país resultam em 
demandas sociais que acabam por ser consideradas como de responsabilidade 
do Estado. 
Nesse sentido, essas transformações econômicas, como a privatização gene-
ralizada, devem transfigurar o modelo econômico, principalmente de nações 
como o Brasil, que têm um resgate social baseado em um Estado assistencialista.
Outrossim, a economia mundial, principalmente nos países emergentes, 
passa por um período de complexas relações políticas, que em médio prazo 
podem se configurar em um estado geral de recessão, reforçando ainda mais a 
luta de classes histórica entre trabalhadores proletários e detentores dos meios 
de produção, aprofundando as desigualdades.
Ampliando seus conhecimentos
Todos os dias nos deparamos com um conjunto de regras 
sociais. A lombada eletrônica, o radar, o voto obrigatório 
etc. são parâmetros norteadores da nossa organização em 
sociedade. Essas regras são determinadas e garantidas por lei 
e resultam de contextos históricos e culturais, haja vista que os 
“seres sociais” são ordenados, seguem princípios normativos 
de comando e organizacionais. 
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 prevê direi-
tos e garantias fundamentais válidos a todos os cidadãos. 
– 37 –
Concepção de Estado no idealismo e no materialismo
Especificamente no artigo 5° da Carta Magna, são apresenta-
dos alguns fundamentos importantes relacionados à liberdade, 
à igualdade e à segurança dos brasileiros, conforme destaca-
mos no trecho citado a seguir. 
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS 
E COLETIVOS
(BRASIL, 1988) 
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual-
quer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, 
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, 
nos termos desta Constituição;
II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma 
coisa senão em virtude de lei;
III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento 
desumano ou degradante;
IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado 
o anonimato;
V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao 
agravo, além da indenização por dano material, moral ou 
à imagem;
VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, 
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e 
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e 
a suas liturgias;
[...]
Geografia Política, Econômica e Industrial
– 38 –
Atividades
1. Construa um quadro comparativo da dialética de classes do materia-
lismo histórico.
2. Como podemos compreender a evolução do pensamento científico 
nas sociedades e o papel das religiões do ponto de vista econômico?
3. Explique o American way of life e cite situações que poderão envolver 
o brasileiro nas próximas décadas no tocante a esse conceito.
4. No seu cotidiano, você observa a dialética entre proletários e capita-
listas? Explique.
O Estado como entidade 
representativa da 
centralidade mundial
Introdução
A convivência das pessoas, no trabalho, em casa, na facul-
dade etc. é baseada em um conjunto de regras. Na sociedade, de 
maneira geral, o Estado é elemento fundamental como gestor, pois 
ele cria e remodela o conjunto de leis que regem a vida das pessoas 
e das empresas.
Então, toda a conjuntura de nossas necessidades, nossos 
sonhos e vivências tem como base o Estado na sua representação. 
Isso reflete um conjunto de elementos que norteiam as atividades 
comerciais e reguladoras urbanas e as necessidades dos municípios.
Sabemos que todas as nossas rotinas sociais, desde a compra 
da passagem de ônibus até a observação de limite de velocidade, são 
baseadas no conjunto de normas da constituição estadual e federal. 
Muitas vezes, somos obrigados a enfrentar condições adversas na sua 
implementação, mas elas são regras sociais.
3
Geografia Política, Econômica e Industrial
– 40 –
Isso pode ser extrapolado a outras instâncias, que também seguem um 
conjunto de leis e podem influenciar nossa rotina. Um conflito armado pela 
questão de energias (petróleo) é regulado pela “mão grande” dos gestores; essa 
representação é papel do Estado como gestor dos conflitos mundiais.
Assim, neste capítulo, conceituaremos as contradições do Estado na 
regulamentação e de nossas vidas.
3.1 Estado como gestor
Vamos elencar neste capítulo a importância do planejamento das ações 
do Estado no gerenciamento das atividades que são de primeira ordem e 
resultam da necessidade primeira, no contexto social e econômico de um 
município, estado e nação.
É da natureza do Estado a responsabilidade para com seus cidadãos, 
gerindo o que for necessário para garantir a plenitude de ascensão social eco-
nômica e de qualidade de vida. Assim, “o Estado é o responsável pelas con-
dições para o desenvolvimento da pessoa humana de forma digna, e cabe a 
ele oferecer os meios necessários para o pleno desenvolvimento da pessoa 
humana” (SOARES, 2010, p. 13). 
A evolução histórica do Estado e suas contradições, incluindo as lutas de 
classe, nunca foram e nunca serão homogêneas. Nesse sentido,
O Estado, suas leis e suas políticas, são sempre a expressão do poder 
presente nas formas sociais de intermediação política entre a sociedade 
e o Estado, mas o poder que encontramos na nação, na sociedade civil 
e nas coalizões de classe está longe de ser o poder do conjunto dos 
cidadãos iguais perante a lei. (BRESSER-PEREIRA, 2017, p. 155)
O cidadão, que historicamente foi explorado pelo capital, vê-se agora 
na mão do gestor macro, o Estado e as desigualdades entre as classes foram 
implementadas em um sistema oligárquico perverso em tempo histórico. 
Muitas nações desenvolvidas vêm tentando mitigar essas distorções ao longo 
das décadas, entretanto, o efusivo sistema econômico, quando não explora, 
aprofunda as desigualdades.
– 41 –
O Estado como entidade representativa da centralidade mundial
É necessário compreendermos que o Estado é, como gestor, responsável 
pela organização e ordenamento territorial, formulando e modificando as leis, 
atendendo aos anseios e as necessidades sociais econômicas e ambientais, com 
propósito de desenvolvimento.
A evolução do Estado e da pessoa humana, que têm sido por séculos 
objeto de legitimidade da criação ou modificação de alguns Estados, 
que surgiram com o objetivo de desenvolver a pessoa humana, para 
que, com isso, a existência desse modelo de Estado seja totalmente 
voltada às necessidades de sua população, através da efetivação das 
políticas públicas, principalmente a de saúde e de educação, de forma 
legítima e responsável, promovendo um desenvolvimento real e sus-
tentável de toda a sociedade. (SOARES, 2010, p. 11)
O Estado então surge como conceito, criador das leis que regem a vida 
dos cidadãos, da economia e regulador do uso integrado das energias e do 
meio ambiente.
Diante disso, agora o Estado está organizado, pois foram evidenciados os 
elementos mais importantes e de primeira necessidade. Vamos elencar pon-
tualmente elementos de gerenciamento do Estado com fiscalização do cidadão:
1. Educação, em todos os níveis.
2. Segurança e soberania nacional.
3. Saúde, com prioridade a crianças e adolescentes, atendendo ainda 
o Estatuto do Idoso.
Diante disso, em um Estado com políticas neoliberais intensas – como é 
o caso do Brasil atual –, esses são os três e mais importantes eixos, pois atual-
mente existem instituições reguladoras com interesse nacional, mas que não 
estão mais sob o domínio estatal. É o caso de rodovias, portos, aeroportos, 
sistemas de telefonia e produção e distribuição de energias.
Cabe aqui lembrar que o neoliberalismo é focado em “fundamentar a 
estrutura de mercado, no qual o indivíduo, enquanto proprietário, devese 
encontrar livre” (HOLANDA, 2004, p. 58).
No Brasil, essas evidências têm se tornado incisivas nas políticas do 
Estado como gestor, pois fomentam a economia de mercado. Entretanto, o 
Geografia Política, Econômica e Industrial
– 42 –
capital especulativo está sendo valorizado em detrimento do capital produ-
tivo, sobrepondo-se às políticas de Estado.
Na função do Estado brasileiro, como sistema organizacional, as polí-
ticas de favorecimento do capital têm histórico que remonta a 1994, com a 
abertura dos portos ao interesse internacional e, na sequência, a telefonia e as 
empresas de mineração.
Um dos elementos que deve ser prioridade do Estado como gestor é 
a formação incondicional do indivíduo, já que a economia “liberal” carece 
cada vez mais de mão de obra qualificada, a fim de aumentar seu potencial 
produtivo. Os Estados-nação “[...] promovem essa integração cultural e polí-
tica através da educação pública, transferindo para todos os conceitos e a 
prática da produtividade, que é essencial para o desenvolvimento econômico” 
(BRESSER-PEREIRA, 2017, p. 159).
Nesse sentido, em uma economia na qual o povo foi esquecido do ponto 
de vista da educação sofre em termos absolutos na produção, sobretudo nas 
áreas que demandam maior formação técnica e científica, como tecnologia, 
robótica, microeletrônica e computacional.
Outro vislumbre sobre isso é que, no Brasil, o Estado tem feito divisões 
nas áreas educacionais, promovendo o flagelo das universidades públicas e a 
fragilização do Ensino Médio, com caráter técnico formador de mão de obra.
Cabe ressaltar, ainda, que o cerceamento das atividades produtivas de 
tecnologia no Brasil faz parte de um contexto único. Em Campinas, no estado 
de São Paulo, está localizado nosso único tecnopolo, local onde se exige a 
disseminação do desenvolvimento de técnicas e tecnologias para atender às 
demandas econômicas e à evolução das indústrias e entidades que utilizam 
tecnologia em suas atividades, sobretudo para as áreas aeronáutica e espacial.
Por exemplo, o avião Tucano desenvolvido no Brasil pela Embraer para 
fins militares, possui aviônica estadunidense, pois só poderia ser exportado 
se tivesse em seu pacote a tecnologia de localização americana. Essas polí-
ticas de gestão de Estado comprometem, na maioria das vezes, a indústria 
interna, pois fabricamos com interesses internacionais, favorecendo o mer-
cado externo em detrimento da população local.
– 43 –
O Estado como entidade representativa da centralidade mundial
Com demandas externas, a economia sempre estará à mercê dos inte-
resses do “debate liberal, que é a base do Estado Liberal, no qual o interesse 
social é sobreposto pela liberdade individual, criando um conflito de interes-
ses entre o bem de um sobre o bem de todos” (SOARES, 2010, p. 17).
Nessa lógica, geradora de novas demandas à sociedade, a responsabili-
dade por garantir questões sociais, como segurança, saúde e educação, sempre 
foi do Estado. A iniciativa privada ainda não conseguiu supri-las de modo 
integral, mesmo em economias imperialistas. Da forma com que se apre-
sentam no modelo econômico, essas questões nos parecem muito recentes 
na história da gestão do Estado brasileiro, por isso, não há interesse em seu 
suprimento, mesmo que seja um processo lento e de profunda transformação 
nos ideais da sociedade.
Existe um vislumbre nas políticas públicas do povo brasileiro, que está 
focado em uma economia liberalizante como sonho. Entretanto, em um país 
de mais de 207 milhões de habitantes, com contrastes sociais intensos e mui-
tas regiões ainda carentes de investimentos nas áreas de infraestrutura, educa-
ção, industrialização, no qual o primeiro setor da economia é regra, ou seja, a 
base da organização econômica ainda é extrativista e agrícola, como acreditar 
que a população investirá em um plano de saúde, em uma previdência pri-
vada ou em um curso superior, se seus ganhos econômicos mal dão conta do 
sustento familiar? Para agravar esse quadro, a aposentadoria também se torna 
incerta, em um contexto de garantias sociais que o Estado deveria suprir.
Vejamos o seguinte:
Isso pode ser facilmente observado no dualismo que se demonstra entre 
o mercado e as necessidades sociais, onde [sic] as teorias contratua-
listas (com ênfase na sociedade), e as teorias coletivistas (com ênfase 
no Estado) são base para o aparecimento de outro dualismo que trata 
da concepção moral (idealismo e universalidade) e a concepção social 
(materialismo e historicidade) do Estado. Desta forma, o Estado se 
caracteriza pela razão e o bem comum. (SOARES, 2010, p. 17)
O Estado tem o papel de zelar pelo bem comum em detrimento do 
individualismo de mercado. As questões sociais são mais importantes se 
pensarmos do ponto de vista do coletivismo, pois ter uma população com 
melhores níveis de educação é fundamental, inclusive para o mercado capi-
talista. No entanto, conforme as teorias liberais clássicas, isso só é possível se 
Geografia Política, Econômica e Industrial
– 44 –
os próprios indivíduos tiverem condições de pagar seu curso superior. Apenas 
depois dessa formação, eles estarão disponíveis para o mercado de trabalho. 
Assim, alcançarão o mérito necessário para o mercado, adquirindo uma base 
de conhecimentos suficientes para a sociedade de consumo ou sendo capazes 
de usar do próprio esforço para se inserirem nessa lógica econômica.
3.2 O Estado e sua representação 
A figura paterna do Estado, que supre todas as demandas sociais, sem-
pre foi uma falácia e sempre será. De acordo com um pensamento marxista 
incutido na sociedade, as pessoas acreditam que tudo é dever e responsabi-
lidade do Estado, imaginando-o como “Estado supridor”. No entanto, isso 
deve deixar de existir em breve, pois a tendência neoliberal de reorganização 
das políticas econômicas surgiu, em nosso país, com raízes no imperialismo 
oligárquico, no qual grandes famílias comandam historicamente grupos polí-
ticos, e esse contexto se reflete nas políticas sociais.
Apesar de uma transformação constitucional intensa não ter sido efe-
tuada, as pequenas mudanças vão, em curto prazo, fazer uma profunda alte-
ração nas relações de trabalho, dando à sociedade mais responsabilidades.
Após a Segunda Guerra Mundial, o Estado passou a fixar políticas sociais 
a fim de melhorar as condições gerais da população. O governo era visto 
como um agente político ou uma agência social, transformando suas políticas 
em medidas de bem-estar, com a implementação de seguro saúde, contagem 
de acidentes de trabalho, pensão e aposentadoria.
Em 1960, todos os países desenvolvidos ocidentais haviam aceitado a 
doutrina pela qual o governo é o agente adequado para todos os pro-
blemas sociais e todas as tarefas sociais. Na verdade, a atividade pri-
vada na esfera social tornou-se suspeita dos assim chamados liberais, 
que a consideravam reacionária ou discriminatória. (DRUCKER, 
1993, p. 89)
As transformações sociais assistencialistas tiveram seu tempo, e a economia 
liberal, baseada no capitalismo, ganhou vulto. Assim, a sociedade de consumo 
almejada pela política norte-americana aflora na América Latina como postu-
lado de ocupação, sem precisar gastar milhões em tecnologias armamentistas.
– 45 –
O Estado como entidade representativa da centralidade mundial
De acordo com essa concepção, uma democracia com poderes limitan-
tes e limitados deve ter a atuação de um gestor de Estado que:
Mantenha a lei e a ordem, defina o direito de propriedade, sirva de 
meios para modificação dos direitos de propriedade e outras regras 
do jogo econômico e julgue disputas sobre a interpretação das regras, 
reforce contratos, promova a competição, forneça uma estrutura 
monetária, envolva-se em atividades para evitar monopólios técni-
cos e evite os efeitos colaterais considerados como suficientemente 
importantes para justificar as intervenções do governo, suplemente a 
caridade privada. (FRIEDMAN, 1998, p. 39)
Assim, o Estado com funções múltiplas é agora um mediador

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