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Caderno de Pesquisas: Psicologia do Cotidiano - V.2, ano. 14. n. 1 - Mai./Jun. 2018 ISSN 1984-6762

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@ Universidade Presbiteriana Mackei\zle 
Caderno de Pesquisas: 
Psicologia do Cotidiano 
V.2, ano. 14. n. 1- Mai./Jun. 2018 
ISSN 1984-6762 
XXII Mostra de Psicologia do Cotidiano 
Grupo de Estudos e Pesquisas Psicossociais 
do ·Cotidiano 
CNPq/Mackenzie 
CENTRO DE CIENCIAS BIOLOGICAS E DA SAUDE 
PROFA. DRA. BERENICE CARPIGIANI 
Diretora 
PROF. DR. ERICH MONTANAR FRANCO 
Coordenador do Carso de Psicologia 
PROF. DR. MARCOS VINICIUS DE ARAUJO 
Coordenador de TCC e Pesquisa do CCBS 
PROFa. DRA. MARIL! MOREIRA DA SILVA VIEIRA 
Pr6-Reitoria de Graduafiio e Assuntos Academicos 
PROF. DR. JORGE ALEXANDRE ONODA PESSANHA 
Pr6-Reitoria de Extensiio e Educafiio Continuada 
PROF. DR. PAULO BATISTA LOPES 
Pr6-Reitoria de Pesquisa e P6s-Graduafiio 
Organizafiio 
Grupo de Estudos e Pesquisas Psicossociais do Cotidiano 
CNPq/Mackenzie 
Prof. Dr. Alex Moreira Carvalho 
Prof.a Dra. Bruna Suruagy do Amaral Dantas 
Prof. Dr. Fabiano Fonseca da Silva 
1 
2 
suMARio 
MiDIAS 
Orientadora: Prof Dra. Bruna Suruagy do Amaral Dantas. 
A INFLUENCIA DA MiDIA NA CONSTRU<;AO DA IMAGEM SOCIAL DO 
PSI CO LOGO 
Aufores: Debora Anger; Giovana Micalli; Jhonny Sampaio; Juliana Gimenez; Isadora Sandeville; 
Maria Antonietta Netto; Michelle Atomiya Shin; Nathalia Zabini; PedroHenrique e Sara Portes. 
DRAG QUEEN E MiDIA: A padronizas;ao da arte que desconstroi 
Autores: Ana Catarina de Mattos Assumpc;:ao Silva Machado; Gabriela Menezes Rodrigues; 
Gabriela Pinto Lima; Giovanna Ferezin Catapano; Guilherme Affiune Barbosa de Oliveira;Juliana 
Borges Alves da Mota; Leticia Esthefania Halluli Menneh; Luis Fellipe Ribeiro Barbosa de Campos 
Figueiredo; Nathalia Yreijo Viana 
MiDIA: espetaculo, medo e violencia 
Au tores: Ana Carolina Ramos Padilha; Gabriela Duarte Iema, Isabella Marina Silva Lopes, Jessica 
Caires Seixas Flaitt de Almeida, Mariana Marques Miachon, Mayara Lopes da Cunha Lima, Vitoria 
de Queiroz Pasciano. 
FAKE NEWS EA ERA DA POS VERDADE 
Autores: Anna Victoria Ferreira, Camila Vieira Martins, Giulia Boyago Priore, Gustavo 
Bromberg de Queiroz, Karen Alessandra de Castro Ruiz e Thiago Schmidt Stolf. 
OS IMPACTOS DA POS-VERDADE NA SOCIEDADE MEDIATIZADA 
Autores: Lucas Pereira Zacardi j Freitas; Luiz Fernando Dantas ~otges; Tiago Mencaroni de 
Camargo. -
RELEV AR E REVELAR: AS IMAGENS COMO FORMA DE APREENSAO DA 
REALIDADE INTERNA E EXTERNA 
Autores: Aline Marques; Catarina Viegas;Julia Benvenutti Gerotto; Rafael Croquet; Rafaela 
N osche; Ruth Luz Santos. 
A ESPETACUL\RIZAc_;AO E ROMANTIZAc;AO DOS TRANSTORNOS MENTAIS 
NAMiDIA 
Autores: Bianca Montanari, Eduarda Aranha, Maria Luiza Pinsdorf, Mariana Andrade, Vitoria 
Andrade M.F. Guimaraes. 
3 
TECNOLOGIAS 
Orientador: Prof. Dr. Fabiano Fonseca da Silva 
A INFLUENCIA DAS MiDIAS DIGITAIS NA AUTOPERCEP<;AO CORPORAL 
FEMININA 
A1:1tores: Danielle Fonseca Urbano, Estela Beltrame De Oliveira, Fernanda, Mayra Silva Palmieri, 
Giovanna De Paula Taboas, Isabela Ignacio, Isabella De Godoy,Julia Riela, Mariana Bedicks 
0 FENOMENO DAS MiDIAS DIGITAIS NAS GERA<_;OES Z E ALFA 
Autores: Bianca Bonucci Pahna, Bruno Sabion Ricci, Carolina Gomes Branco, Giovanna Figueira 
Tavares, Helena Rangel Rossi, Larissa Souza Mora, Laura Tuma Martins Bertolin, Maria Helena 
R~drigues Ass_is da Silva, Mari? a Maniscalco Medeiros da Silva, Milla Peres Rego Santos, Nathali 
Miramontes L1ma Moraes, Nathalia Costa Silva Lafuente 
TECNOLOGIA E VIDA COTIDIANA: A INFLUENCIA DOS JOGOS ELETRONICOS 
NO COMPORTAMENTO VIOLENTO DOS JOVENS 
Autores: Andre Dos Santos Reis, Bruna Brito Finardi, Fabio Piacente Talarico, Fernanda Emi 
Yoshioka, Fernanda Izidoro Fernandes, Gabriela Soares De Lima, Leticia Celli Miglioli De Godoy 
Moreira, Mariana Terribas Lopes, Milena Camara Correia, Melissa Mendes De Souza, Paula Carstens, 
Paula Fulks 
4 
5 
MIDIAS 
A INFLUENCIA DA MiDIA NA 
CONSTRU(,;A.O DA IMAGEM SOCIAL 
DO PSICOLOGO 
Autores: Debora Anger; Giovana Micalli; 
Jhonny Sampaio; Juliana Gimenez; Isadora 
Sandeville; Maria Antonietta Netto; Michelle 
Atomiya Shin; Nathalia Zabini; 
PedroHenrique e Sara Portes. 
Orientadora: Prof Dra. Bruna Suruagy do 
Amaral Dantas. 
INTRODU(,;A.O 
A midia e um sistema de comunica<;ao e 
inforrna<;ao primordial a constru<;ao de 
modos de subjetiva<;ao e ao desenvolvimento 
da percep<;ao do sujeito. E a partir dela que o 
individuo se toma capaz de produzir o modo 
como se ve e percebe os outros a sua volta 
(pessoas que -o cercam e ate -•mesmo o 
ambiente) . 
As forrnas de ser, existir e viver nao se forjam 
mais somente por meio de institui<;oes sociais 
e culturais como a familia, a escola e o 
trabalho, mas tambem a partir de dispositivos 
simb6licos e lingufsticos como os meios de 
comunica<;ao: televisao, radio, jornais, 
revistas, cinema e, em especial, a internet. De 
acordo com Hennigen (2006), existe uma 
articula<;ao entre o discurso, a cultura e a 
produ<;ao de subjetividades. Para a autora, a 
cultura corresponde: • 
( ... ) a pratica de significa<;ao e ao m~do 
social concebido como constrw.do 
discursivamente. Os discursos 
constituem-se como redes de 
significa<;oes e sao tomados ~elo sujeito 
para se auto-interpretar, e assun, acabam 
por produzi-los. A interpela<;ao aconte~e 
quando o sujeito se reconhece a parttr 
dos discursos. Ele os toma como algo 
que lhe diz respeito, identifica-se e 
produz-se como um sujeito daquele 
modo, compreende e explica a si e ao 
mundo a partir daquele regime de 
verdade (p. 47). 
Para outros autores como Fischer (2001) e 
Kellner (2001), a midia e um importante 
marco para a constru<;ao da subjetividade 
contemporanea, especialmente por se tratar 
de um lugar de produ<;ao e circula<;~o. de 
discursos em massa e por suas caractensttcas 
de formata<;ao, extensao e penetra<;ao. 
A imagem social, o papel e o tr~balho ~o 
profissional da psicologia tern s1do mmto 
abordados e representados nos ultimos anos 
pela industria midiatica. 0 forrnato de 
produtos como novelas, filme~, _series e 
programas de audit6rio, produz a 1de1a de que 
os meios de comunica<;ao falam e possuem 
autoridade para falar sobre tudo, inclusive 
sobre o tempo e os modos de ser e agir dos 
sujeitos (incluindo o psic6logo). Assim, ao 
consumir seus produtos, o individuo aprende 
"a ser", a agir, a conhecer o mundo e, ate 
mesmo, a atribuir juizo a ele e ao outro. 
· Aprende a pensar e a sentir de maneira 
homogenea, uniforrne e padronizada, uma 
vez que a midia nao mostra o mundo por 
todos OS angulos. 
A psicologia nao esci mais restrita ao 
ambiente academico. 0 cinema e a televisao 
tern divulgado e propagado conceitos e 
retratos do psic6logo, retirando-o da 
invisibilidade, proporcionando maior 
conhecimento e instigando curiosidade sobre 
o tema por parte do publico. Por meio de 
uma anilise da serie de televisao "Em 
tratamento", que discute os conceitos da 
psicologia por interrnedio de personagens, 
pacientes e terapeuta ficticios, percebemos a 
possibilidade de uma transferencia primaria 
do espectador com a arte. Embora Freud 
tenha resistido a ideia de filmar a psicanilise, 
alegando a impossibilidade de uma 
representa<;ao fidedigna do setting clinico, a 
exposi<;ao midiatica da psicologia contribui 
para fomentar pesquisas sobre o tema, 
colaborando com difusao do objeto de 
estudo (TRINDADE e DIAMANTINO, 
2013). 
6 
No Brasil tivemos recentemente um 
epis6dio qu~ trouxe a tona a discussao sobre 
a influencia da midia no campo de atua<;ao da 
Psicologia. Uma novela da Rede Globo, 0 
outro lado do Paraiso (2018), exibiu a cena de 
uma advogada e coach, que nao possufa 
forma<;ao no campo da Psicologia ou da 
Saude Mental, tratando um individuo por 
meio da tecnica de hipnose a fun de amenizar 
o sofrimento psiquico decorrente de um 
abuso sexual sofrido na infancia. 0 CFP, 
Conselho Federal de Psicologia, pronunciou-
se em comunicado afirmando que: 
( ... ) a telenovela, por se tratar_ de obra 
capaz de formar opiniao, presta um 
desservi<;o a popula<;ao brasileira ao 
tratar com simplismoe interesses 
mercadol6gicos um tema tao grave 
como o sofrimento psiquico de 
personagem cuja origem e o abuso 
sexual sofrido na infancia. 
0 incidente causou grande como<;ao nos 
conselhos regionais e nos profissionais de 
Psicologia. Muitas criticas foram formuladas, 
especialmente a respeito da superficialidade 
do tratamento dado a tematica e do papel da 
midia na banaliza<;ao dos tratamentos 
psicol6gicos e da pr6pria profissao do 
psic6logo, que nas programa<;oes midiaticas 
ou e substituido por profissionais sem 
adequada forma<;ao ou e apresentado como 
uma especie de "guru" que, da posse de 
metodos mais "rapidos" e formulas prontas, 
e capaz de elaborar pareceres, fazer 
diagn6sticos e obter resultados eficazes, 
como foi sugerido na cena. Certamente, uma 
visao utilitarista e pragmatica da Psicologia. 
De modo geral, tal superficialidade na 
abordagem de questoes psicol6gicas acaba 
por refletir-se na imagem atribuida ao 
profissional da Psicologia, uma vez que a 
midia por diversas vezes se encarrega de 
perpetuar uma ideia simplista deste campo de 
conhecimento e atua<;ao. Nao · obstante a 
presen<;a do psic6logo nos meios de 
comunica<;ao popularize a Psicologia e 
favore<;a sua inser<;ao em outros segmentos 
sociais, a representa<;ao construida e uma 
especie de caricatura da area, uma vez que 
seus papeis reduzem-~e _a cl~ss~c,a<;ao, 
patologiza<;ao e estigmattza<;ao de .tndividuos 
em estado de sofrimento, com a apresenta<;ao 
de laudos e pareceres apressados. Um 
espetaculo que transforma a ~sic~logia em 
um receituario de solu<;oes sunplistas para 
questoes complexas. A Psicologia termina 
sendo convidada a dizer o que se pretende 
ouvir e o que se espera dela. 
Assim sendo, tem-se observado pouca 
preocupa<;ao da midia em rela<;ao aos 
aspectos eticos de determinados assuntos, em 
seu processo de busca desenfreada por 
audiencia. 
Em meio a tantas controversias, o Conselho 
Federal de Psicologia tern se manifestado e 
promovido debates para definir resolu<;oes 
que regulem a rela<;ao entre a Psicologia e a 
Midia. A presidente do CFP nas gestoes de 
97 /98 e 98/2001, Ana Merce Bahia Bock, 
pronunciou-se acerca da tematica: "a midia 
mantem certa distancia em rela<;ao ao 
individuo, exigindo do profissional da 
Psicologia cuidado em suas expressoes. Ele 
nao pode se apresentar academicamente; 
deve traduzir os significados de forma a ser 
compreendido por toda a popula<;ao". Essa 
tradu<;ao, no entanto, embora necessaria, 
pode produzir reducionismos, simplifica<;oes 
e incompreensoes acerca das atribui<;oes da 
Psicologia e sua responsabilidade etica com o 
cuidado. 
0 chefe do Departamento de Reportagens 
Especiais do J omal da Record, Leandro 
Cipoloni, expressa que em sua opiniao alguns 
psic6logos se submetem a reportagens com 
conteudo "sensacional", na busca por 
reconhecimento, e que os jornais e redes 
televisivas falham ao abordar este campo, 
pois segundo ele "o papel do psic6logo e 
muito mais abrangente e nao se limita a 
explicar questoes comportamentais. E um 
personagem que deveria ser provocado mais 
para se posicionar sobre diversos outros 
momentos" (PSI- Jomal, ed.150). 
Por fun, a reflexao de Ricardo Moretzsohn 
' representante do CFP em · 2004 na 
coordena<;ao da campanha "Quern Financia a 
Baixaria e contra a Cidadania" da Comissao 
' 
7 
de Direitos Humanos da Camara dos 
Deputados, merece destaque no intuito de 
despertar senso critico na populac;:ao, que 
diariamente se "alimenta" do que e 
propagado nos veiculos midiaticos: 
A midia, ao oferecer modos para a 
apresentac;:ao da subjetividade nas 
relac;:6es sociais, transmite um discurso 
hegem6nico sobre a realidade, impondo 
valores e ideais as pessoas. Em torno de 
90% de tudo que a populac;:ao ve, ouve e 
le no pais, esta nas maos de meia duzia 
de grupos empresariais de comunicac;:ao. 
Que em vez de se ocuparem em veicular, 
prioritariamente, programas educativos, 
culturais e artisticos, conforme previsto 
na nossa Constituic;:ao Federal, tratam o 
Brasil como se contivesse uma 
monocultura (PSI- Jornal, ed.150). 
0 estagio em grupo teve como finalidade a 
utilizac;:ao dos conceitos apresentados em 
classe para a compreensao de uma 
experiencia real que se realizou na interface 
entre Psicologia e Comunicac;:ao Social. 
Procuramos estabelecer um dialogo entre as 
teorias de autores como Heller, Kehl e 
Thompson e as manifestac;:6es midiaticas da 
atualidade, proporcionando a partir da 
vivencia uma visao mais ampla da pratica da 
Psicologia do Cotidiano. Na a~ilise dos 
conteudos de midia e das entrevistas com 
profissionais de Jornalismo e Psic~~ogia, f~i 
possivel observarmos de fo~a c~~ca quais 
sao as representac;:6es s1mbolicas do 
psic6logo pres~nte,s n_o ~a~ario social e 
veiculadas pela 1ndustr1a nudiat1ca. 
Dessa forma, pudemos contribuir com a 
discussao das responsabilidades eticas da 
profissao, assim como colaborar , c?m a 
reflexao acerca do papel da nudia na 
construc;:ao de discursos e imagens sociais no 
cotidiano. 
FUNDAMENTA<_;:A.O TE6RICA 
A vida cotidiana contempla o homem como 
um todo, uma vez que e heterogenea e 
abrange uma pluralidade de dimens6es da 
realidade do individuo, que e produto e 
expressao das relac;:6es sociais. A 
cotidianidade abarca desde a organizac;:ao do 
trabalho e da vida privada ate a maneira de 
atuar no meio social, sendo cada uma destas 
camadas carregada de significado. (HELLER, 
2000) . 
Uma vez que a vida cotidiana e a pr6pria 
substancia da hist6ria da humanidade, pode-
se dizer que nao e possivel a nenhum 
individuo viver totalmente fora dela, e ao agir 
nessa esfera do real, manifestara sua 
individualidade por meio de sentimentos, 
habilidades e ideologias. 
Segundo Heller (2000), as dimensoe_s . do 
particular-individual (EU) e do genenco-
humano (NOS) constituem toda e qualquer 
individualidade inserida no cotidiano, 
embora a consciencia do 'EU' ganhe maior 
destaque e importancia em detrimento da 
consciencia do 'NOS'. Em sua concepc;:ao, "a 
moderna estrutura da vida cotidiana aumenta 
as possibilidades da particularidade submeter 
o humano-generico e de colocar as 
necessidades e interesses da integrac;:ao social 
a servic;:o dos afetos, dos desejos e do 
egoismo do individuo" (p.23). Ou seja, na 
cotidianidade do mundo moderno, o 
'particular' prevalece em razao da dissoluc;:ao 
do 'generico'. 
Especificamente em relac;:ao ao contexto 
brasileiro, Costa (1997) adverte que os 
interesses privados se sobrep6em as 
necessidades coletivas, suplantando-as: "Nao 
e preciso muito esforc;:o para notar de que e 
feito o cotidiano de um individuo brasileiro 
socioeconomicamente privilegiado. Os 
assuntos da vida privada sao, de longe, os que 
dominam qualquer outro tipo de 
preocupac;:ao" (p.83). 
Conforme Heller (2000), em virtude da 
supremacia do EU, o individuo no cotidiano 
nao apresenta um compromisso etico com o 
outro e, por isso, pode defender crenc;:as 
permanentes impregnadas de preconceito. 
No processo de constituic;:ao das ideias e 
crenc;:as, o individuo e "bombardeado" desde 
8 
a infancia por infonnac,:oes carregadas de 
valores, provenientes dos diversos contextos 
sociais dos quais faz parte, como a familia, a 
escola, o trabalho e a cultura. As instituic,:oes 
midiaticas e OS meios de comunicac,:ao 
tambem transmitem constantemente ideias 
que fonnam padroes de pensamento e 
orientam de fonna pragmatica as ac,:oes 
cotidianas. Os juizos que circulam na 
cotidianidade sao acompanhados por dois 
afetos distintos: a confianc,:a e a fe. 
A fe nasce a partir das motivac,:oes do 
particular-individual, ao passo que a 
confianc,:a estabelece uma relac,:ao mais 
consciente com o humano-generico e, por 
esta razao, se baseia num conhecimento que 
eventualmente podera ser refutado pelas 
experiencias, ao contrario da fe que 
permanece inabalavel. A fe, em decorrencia 
de sua condic,:ao inflexivel e impermeavel, e o 
afeto do preconceito, pois os Jlllzos 
permanentes por ela sustentados e reforc,:adossao irremoviveis, ainda que explicac,:oes 
racionais, experiencias empmcas e 
argumentac,:oes filos6ficas a refutem. Os 
canais midiaticos acabam sendo formadores 
de opiniao mediante a mobilizac,:ao da fe, o 
que contribui para formar e sedimentar 
preconceitos. A confianc,:a, por sua vez, gera 
uma disposic,:ao para reconsiderar os sistemas 
explicativos do cotidiano, caso a razao, a 
etica, a filosofia e a experiencia comprovem 
sua incoerencia e implausibilidade 
(HELLER, 2000) . 
A vida cotiqiana funciona com base em juizos 
provis6rios ultrageneralizadores, o que em 
certa medida se faz necessario, uma vez que a 
cotidianidade exige dos individuos decisoes 
rapidas e ac,:oes imediatas, nao dispondo de 
tempo suficiente para refletir com precisao 
sobre as circunstancias que antecedem a ac,:ao. 
Os juizos provis6rios e as vivencias 
cotidianas costumam reproduzir-se, 
desencadeando certa conformidade, que 
pode evoluir para o conformismo, no qual o 
sujeito assume uma postura rigida e nao se 
dispoe a aceitar mudanc,:a de ideias e 
pensamentos, muitas das vezes com base em 
estere6tipos e conhecimentos superficiais 
acerca do 'real'. Nesse caso, a fe se estabelece 
e tem-se, aqui, a raiz do preconceito e do 
"dogmatismo cego". De acordo com Heller 
(2000), "os juizos provis6rios refutados pela 
ciencia e pela experiencia, que se tnantern 
inabalados contra todos os argumentos da 
razao, sao preconceitos"(p.35). 
Seguindo este raciodnio e caminhando para 
o tema espedfico sabre o qual este artigo ira 
se debruc,:ar, a imagem do psic6logo na tnidia, 
pode-se dizer que os aspectos citados acirna 
contribuem fortemente para formar os 
pensamentos acerca das categorias de papeis 
sociais, sejam profissionais ou nao, mas que 
comumente criam caricaturas estereotipadas 
de determinadas classes, com diversas 
caracteristicas que nao condizem com a 
realidade daquele grupo, como acontece com 
a representac,:ao social do psic6logo retratada 
nos meios de comunicac,:ao. 
Em um mundo que se caracteriza pela 
onipresenc,:a da televisao e pela expansao das 
tnidias digitais (KEHL, 2004), pode-se 
afirmar que a produc,:ao cultural integrada ao 
cotidiano e mercantilizada e constituida de 
preconceitos, uma vez que a tnidia nao e 
regulada e tern em suas maos o poder de 
definir como a sociedade deve pensar e 
enxergar a vida (formac,:ao do pensamento 
social). Criam-se espectadores passivos, que 
absorvem o conteudo de forma automatica. 
Ha aqui o que Thompson (1998) chamou de 
mundanidade mediada: a compreensao do 
mundo por meio da tnidia. 
METODOLOGIA 
A experiencia de estagio cons1sttu na 
realizac,:ao de entrevistas semiestruturadas 
com profissionais da tnidia e da psicologia. 
Foram entrevistados dois psic6logos que ja 
haviam dado entrevistas em meios de 
comunicac,:ao e redes televisivas: Aurelio 
Melo, psic6logo clinico e Renata Maransaldi, 
psic6loga clinica e integrante do Centro de 
Controle de Impulsos do Hospital das 
Clinicas de Sao Paulo. Participaram desse 
trabalho tres jornalistas: Amanda Veloso, que 
9 
alem de jornalismo se fonnou em psicanilise 
e atualmente possui um canal no youtube; 
Ardilhes Moreira, editor no G 1 (portal de 
noticias da Globo) e Marina Novaes, que 
trabalha no El Pais. 
As entrevistas possibilitaram a coleta de 
dados posterionnente analisados e foram 
orientadas por um roteiro fonnulado antes 
dos encontros, o qual nao impediu que os 
participantes tivessem abertura e liberdade 
para fazer comentarios alem do que havia 
sido questionado. Ou seja, mesmo que a 
entrevista fosse direcionada por um foco, ela 
possuia flexibilidade. 
Agendamos as conversas em dias distintos, 
sem tempo estipulado de durai;:ao. Os 
participantes foram fi.lmados e os discursos 
gravados mediante expressa autorizai;:ao. No 
inicio de cada encontro, foi solicitado que o 
convidado lesse um tenno de consentimento 
e, caso estivesse plenamente de acordo com 
os requisitos, deveria assina-lo para que se 
desse continuidade ao processo. 
A anilise dos conteudos coletados baseou-se 
na obra "O cotidiano e a Hist6ria" de Agnes 
Heller (2000), alem de teorias e conceitos 
desenvolvidos por autores coma Maria Rita 
Kehl (2004) e John Thompson (1998) . 
Tambem foram utilizados, para 
tf 'li t aJ.S complementar a ana se, ma en 
audiovisuais extraidos de programas de 
audit6rio, telejornais e telenovelas assim 
coma documentos oficiais produzidos pelos 
Conselhos Federal e Regional de Psicologia. 
De maneira
0 
geral, a experiencia apoiou-se em 
metodologias qualitativas para a apura<;ao e o 
aprofundamento dos dados. Como produto 
final alem do trabalho escrito, foi 
confeccionado um video com as entrevistas 
realizadas. 
ANALISE DA EXPERIENCIA 
De acordo com Aurelio Melo, psic6logo 
entrevistado, os meios de comunicai;:ao 
tratam os profissionais coma especialistas 
para, desse modo, a1~uirir credibilidade_ e 
inibir qualquer possibilidade de contestai;:ao. 
"A midia, ela passa a imagem de um 
especialista". Chaui (1994) argumenta que a 
figura do especialista surgiu para definir 
quern esta autorizado a falar, quern tern 
legitimidade para pronunciar o discurso da 
competencia. Desse modo, aqueles que nao 
tern competencia para fonnular explicai;:oes 
sabre os fen6menos humanos devem ouvir e 
absorver o pensamento disseminado pela 
midia por meio dos espedalistas de plantao. 
Aurelio Melo afinna ainda que "o psic6logo 
e vista um pouco coma um bombeiro que vai 
apagar um incendio, um~ situa<;ao d~ 
emergencia, que vai poder .. . E aquele que vai 
efetivamente resolver o prob.lema". 0 
entrevistado sugere que a midia utiliza o 
psic6logo para fazer va.ler suas posii;:oes e 
validar suas creni;:as sob o discurso 
competente do especialista, apresentando-se 
coma a unica fonte de sabedoria, o .lugar de 
manifestai;:ao da verdade e de expressao 
fidedigna do real. Sendo assim, ignora-se ou 
relega-se a segundo piano o que efetivamente 
o psic6logo faz, quais sao suas atividades e 
responsabilidades eticas. 
A midia, ao revestir suas creni;:as com a 
roupagem do discurso competente do 
especialista, produz no espectador/.leitor o 
que Heller (2000) denomina de 
"conformismo cego", levando-o a assimilar 
tudo que lhe e transmitido, sem conseguir por 
si s6 desenvolver uma reflexao mais 
elaborada. 0 individuo nao consegue e nao 
aceita mais uma mudani;:a de pensamento e 
ai;:ao, adotando coma referencia 
pensamentos superficiais e assumindo uma 
especie de "dogmatismo cego" (HELLER, 
2000) . 
A imagem social do profissional da psicologia 
baseia-se em juizos provis6rios 
ultragenera.lizadores. Ou seja, e muito 
comum que no meio social o psic6logo seja 
vista coma aquele que "aconselha" ou "leva 
esperani;:a" em momentos dificeis 
(bombeiro), o que certamente e refori;:ado 
pelos canais midiaticos que rea.lizam 
entrevistas com psic6logos, com vieses pre-
determinados. 
10 
, ham saberes A fe e a confianc;a acompan , . 
. . dignos de credito. cotidianos e os tomam 
£, . . t em reforrar Entretanto, apenas a e 1ns1s e :! 
. d de questoes pensamentos eqU1voca os acerca . , 
sociais a despeito das refutac;oes evidentes. E 
' . , 1 o que acontece com a imagem do psico 0?0 ' 
que predominantemente se mostra di5torcid~ 
no senso comum uma vez que o individuo e 
a todo instante bombardeado com padr6es 
de pensamento elaborados pelos canais 
midiaticos. 
0 jomalista Ardilhes Moreira questiona o 
suposto poder dos meios de comunicac;ao de 
assumir a condic;ao de porta-voz da 
coletividade: "mas acho que no geral a gente 
da muito mais peso pra midia do que ela tern, 
de achar que ela consegue construir, constr6i 
visoes, enfim, que ela tern esse papel de tutora 
na sociedade". Em contraposic;ao ao exposto, 
Renata Maransaldi (Psic6loga 
clinica)argumenta a favor do poder cultural 
da midia e sua consideravel influencia na 
determinac;ao de comportamentos e 
formac;ao de opini6es: "Quando o tema e 
abordado principalmente nas novelas, a gente 
costuma receber mais pacientes em buscadaquele tratamento. ( .. . )Recentemente 
aconteceu isso numa novela, que tern um 
impacto grande na sociedade, que colocaram 
uma advogada sendo coach e fazendo 
hipnose. Entao, isso acaba confundindo, eu 
acho, a populac;ao". 
Marina Novaes, jomalista, destacou os 
ef eitos desse epis6dio da novela, 
demonstrando a forc;a simb6lica das redes 
televisivas: "Foram dois ou tres capitulos, 
mas s6 a aparic;ao destas personagens 
trabalhando o tema fizeram com que esse 
tema tivesse um "boom" de buscas no 
Google semelhantes a, por exemplo, quando 
buscam por resultado de final de libertadores, 
final de Big Brother Brasil ou a prisao do Lula 
( ... )A televisao nao perdeu nem um pouco a 
importancia dela entre a populac;ao, pelo 
contrario, porque todo mundo fala muito 
"ah, redes sociais", mas nao, as pessoas 
assistem muita TV ainda. Entao, tudo o que 
acontece na televisao tern um impacto muito 
dir to tanto sobre a midia, quanta sobre e ,, o 
Ortamento humano . comp 
Segundo Thompson (199~, na sociedade da 
. £ rmarao, a compreensao do mundo 
0
, 
10 o -:r •• • .di ao 
d orre das expenenc1as con anas, tnas d ec . b 'li a 
mediac;ao das formas snn o cas. No entanto, 
0 autor opoe-se a tese de que o espectador e 
absolutamente passivo e, por isso, nao 
consegue interpretar as formas simb6Iicas. 
Em sua concep<;ao, ele nao absorve as 
narrativas midiaticas de forma imediata e 
automatica, mas as processa, traduzindo-as a 
partir das suas ref ere_ncias_ parti:ulares. Elll 
oposi<_;:ao a essa acep<;ao, a Jornalista Amanda 
v eloso acredita que o receptor da mensagelll 
midiatica e alguem com disposis:ao para 
acreditar no que esta sendo veiculado: "nossa 
sociedade valoriza muito a resposta fume e 
pronta, mesmo que ela seja mentirosa ou 
mesmo que nao contemple toda a 
complexidade da situa<_;:ao". Nesse sentido, a 
'fe' e mobilizada para refor<_;:ar crenc;as 
inexoraveis, resultando na elaborac;ao de 
preconceitos, contra os quais nem a razao 
nem a experiencia sao capazes de atuar 
(HELLER, 2000). 
Para decodificar os estereotipos relacionados 
as praticas psicol6gicas, e imprescindivel 
"questionar criticamente o que me e 
apresentado". E fundamental que se ensinem 
os individuos a filtrar os conteudos que lhes 
sao transmitidos, pois em muitos momentos 
estao carregados de preconceitos. "E preciso 
saber ler.. . 0 observatorio da imprensa fala 
muito, e preciso saber ler a midia e a gente 
nao esta educado para isso, para desconstruir 
0 que a gente esta vendo ali na narrativa" 
(Ardilhes Moreira). 
Em fun<;ao da mercantiliza<_;:ao e dos 
in~e~esses ideol6gicos que estao em jogo, a 
midia pauta as entrevistas e orienta os 
espec~alistas a defender suas posic;oes, co?:0 
se estivessem ali para representa-la. Aurelio 
Melo relatou que, antes de conceder a 
entrevista, o canal de televisao o procurou 
~ara "induzir" seu parecer conforme _05 
lnteresses dos proprietarios da organizac;ao: 
"mas eu ja esperava, como de fato aconteceu, 
11 
que a equipe vinha com um pedido, nao e? 
Antes de gravarmos a entrevista, a equipe 
tinha um pedido, no sentido de eu poder dar 
alguma coisa para as pessoas". A cultura da 
tragedia termina sendo um recurso utilizado 
para comercializar o conteudo e o psic6logo 
e convocado para responder a essa demanda: 
"Se tudo vai hem, o jornalista nao tern muito 
o que escrever, a audiencia dele e baixa. 
Agora, se existe uma tragedia, uma catastrofe, 
entao a audiencia e muito grande, ne?". 
De maneira geral, a audiencia e o lucro sao o 
grande objetivo dos meios de comunicac;:ao, 
mesmo que para alcanc;:ar este fim tenham 
que comprometer a imagem de algum grupo 
ou institui<;ao, como ocorre em muitos 
momentos com o profissional da psicologia. 
Contudo, segundo o jornalista Ardilhes 
Moreira, a midia deveria comprometer-se 
com a verdade factual, deixando claro que 
para alem dos fatos ha interpretac;:oes. Trata-
se, portanto, de um recorte e nao da 
totalidade do fenomeno, de uma 
representa<;ao da realidade e nao do reflexo 
do real. "Precisao, fidelidade, acho que esse e 
o papel da midia, ser fiel naquilo que cada 
categoria profissional, cada especialista pode 
contribuir para o debate publico, acho que 
essa e a principal questao, desafio, ser 
fidedigno ... Qualquer formato de midia, seja 
ela noticiosa, filme. Ela fala de uma 
representa<;ao, vai ser um recorte sempre de 
uma realidade que interessa para aquela 
narrativa" (Ardilhes Moreira) . 
CONSIDERA<,;:OES SOCIAIS 
A midia, como um dos principais reguladores 
sociais, tern suas preferencias e atua de forma 
a prospectar seus interesses, sejam de cunho 
ideol6gico ou mercadol6gico de modo a 
construir a forma de mediac;:ao pela qual 
enxergamos a figura do psic6logo, 
deturpando a imagem (ou representa<;ao) da 
profissao e prestando, por vezes, desservi<;o 
a populac;:ao. 0 psic6logo midiatizado e 
transformado em sabio, vidente e 
conselheiro, que se utiliza de forma 
inapropriada de teorias para fazer 
diagn6sticos rapidos, com uma forte 
conota<;ao psicopatol6gica, favorecendo, 
assim, o espetaculo da midia, com o 
enriquecimento fantasioso da produc;:ao de 
entretenimento. 
E importante ressaltar que muitas vezes 
psic6logos sensacionalistas reforc;:am o cliche 
e os preconceitos em torno da profissao, 
"vendendo" soluc;:oes simplistas e rapidas 
para questoes complexas, sem 
fundamenta<;ao te6rica, mais parecendo uma 
"opiniao trivial" para assuntos que requerem 
uma analise cuidadosa.Por isso, o profissional 
deve assumir uma postura seria, responsavel, 
ponderada e cautelosa nas aparic;:oes 
midiaticas, nao se deixando conduzir pelas 
ambic;:oes das empresas de comunicac;:ao, que 
comumente tratam de temas complexos e 
multifatoriais de modo simplificado e parcial, 
banalizando o exerdcio da profissao. 
Dessa forma, cabe ao psic6logo atentar-se 
para as orientac;:oes do C6digo de Erica da 
Psicologia, que veda o discurso 
sensacionalista acerca das patologias 
psiquicas e a autopromoc;:ao abusiva em 
detrimento do zelo pela profissao. E sua 
func;:ao como psic6logo prezar pela 
constru<;ao de uma imagem coerente da 
profissao, tratando de modo profundo e etico 
os assuntos humanos, reconhecendo os 
limites e possibilidades da Psicologia e 
combatendo qualquer forma de utilitarismo 
profissional. 
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' 
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competente e outras falas. Sao Paulo: Editora 
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12 
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baseado em In Treatment. Cogito, Salvador, v. 
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JORNAL PSI. Edi<;:ao 150.Conversando com o 
psicrflogo. Psicologia e midia: universos 
paralelos em rota de intersec<;:ao. Disponivel 
em: 
http:/ /www.crpsp.org.br/portal/ comunicac 
ao/jornal_crp/150/frames/fr_conversando 
_psicologo.aspx 
13 
DRAG QUEEN E MiDIA: A 
paclroniza~ao da arte que desconstroi 
Autores: Ana Catarina de Mattos 
Assumpc;:ao Silva Machado; Gabriela 
Menezes Rodrigues; Gabriela Pinto Lima; 
Giovanna Ferezin Catapano;Guilherme 
Affiune Barbosa de Oliveira; Juliana Borges 
Alves da Mota; Leticia Esthefania Halluli 
Menneh; Luis Fellipe Ribeiro Barbosa de 
Campos Figueiredo; Nathalia Yreijo Viana 
Orientadora: Prof:"' Dr" Bruna Suruagy do 
Amaral Dantas 
INTRODUc_;Ao 
Atualmente, o Brasil e o mundo estao sendo 
arrebatados pelo fen6meno das drag 
queens/transformistas, homens que se 
vestem de mulheres de maneira, quase 
sempre, exagerada e estereotipada, a fim de 
realizar performances artisticas. Porem, 
historicamente, montar-se em drag nao foi 
apenas um ato artistico, representando 
tambem um posicionamento politico e uma 
necessidade cenica imposta pela moral 
(AMANAJAS, 2015) . 
Desde a Grecia Antiga, por nao haver espac;:o 
para a mulher no teatro, homens interpretam 
papeis femininos, caracterizando-se com 
mascaras, roupas especiais e enchimentos. 
Assim, surgiu o ator drag queen que, no 
decorrer da hist6ria, foi apresentado de 
forma mais ou menos comica (AMANAJAS, 
2015) . 
No comec;:o do seculo XX, apareceu o teatro 
musical, que substituiu os elementos 
grotescos pelo glamour. Alem disso, o 
cinema estadunidense exerceu grande 
influencia em um ideal de beleza tanto 
masculino quanto feminino. Isso acabou 
influenciando o ator drag e as drags que 
perambulavam por pequenos 
estabelecimentos a se vestirem de forma 
glamourosa, represen!ando lindas e atraentes 
mulheres (AMANAJAS, 2015) . 
Durante as decadas de 1970 e 1980, as drag 
queens alcanc;:aram O radio, a televisao, a 
Broadway e o mundo do cinema. Em meados 
dos anos 1970, ser gay se tornou um ato 
politico e, uma vez que ser artista e, em si, um 
ato politico e social, mesmo que nao 
intencional, a drag queen despontou como 
um dos maiores simbolos da luta pelos 
direitos gays. No Brasil, no entanto, por 
conta da ditadura militar, esse aparecimento 
s6 foi acontecer na decada de 1990 
(AMANAJAS, 2015). 
No ambito mundial, a virada do milenio foi 
marcada por um globo totalmente conectado, 
promovendo enxurradas de informac;:oes por 
minuto. 0 pop se enraizou e novas popstars 
foram coroadas, cada vez mais ousadas e 
inventivas, o que conferiu liberdade de 
expressao e reinvenc;:ao a cultura gay e jovem 
(AMANAJAS, 2015). 
Por vezes, a globalizac;:ao e comumente 
retratada apenas como fen6meno econ6mico 
quando, na verdade, afeta tambem a esfera 
privada e, mais que isso, modifica e redefine 
identidades pessoais e sexualidades 
(GIDDENS, 2012). Com isso, por meio do 
desenvolvimento midiatico, especialmente 
do alargamento dos sites de 
compartilhamento de videos, do fluxo de 
imagens e de informac;:oes, popstars, generos, 
etnias e rac;:as encontram espac;:o para a 
construc;:ao de suas identidades, 
nacionalidades e imagens a nivel global. 
Dessa forma, a globalizac;:ao das sexualidades 
contribuiu nao somente para a 
reconfigurac;:ao das relac;:oes entre paises, em 
que tais artistas servem de referencia para 
outras culturas, mas tambem para a pr6pria 
noc;:ao de individuo e corporalidade. 
Assim, uma vez impastos os estigmas de rac;:a, 
genera e corpo a esses individuos, tidos como 
"abjetos", eles promovem impacto e 
mudanc;:a nas esferas publica e privada 
(BUTLER, 1993). Isto por meio da 
subversao dos estere6tipos de genero e de 
identidades nacionais (sexuais e etnicas), o 
que gera repercussao sobre as politicas 
sexuais no interior de seus paises assim como 
no exterior. 
As drag queens podem representar uma 
ruptura do conceito de identidade como um 
fen6meno naturalizado e imutavel hem como 
uma superac;:ao da dicotomia de genero 
masculino/feminino. Os sujeitos, quando 
montados de drag, unem, em um unico 
14 
, · £' · e ps1· col6o-icas de corpo caractensticas 1sicas o~ 
' • d e estando ambos os generos, sen o 
masculinos e femininos ao mesmo tempo, em 
um jogo de composi<;:ao de ge~eros_ que 
questiona a rigidez do conceito de identidade 
(CHIDIAC e OLTRAMARl, 201 4)- Dessa 
forma, o termo queens (estranho, raro), que 
anteriormente significava um xingamento 
homof6bico, ressurgiu como uma teoria que 
contesta esse ideal regulado pela cultura e 
pelas rela<;:oes sociais da identidade de genero. 
Na constitui<;:ao da personagem, virios 
aspectos do sujeito sao transformados, como 
o modo de andar, os gestos, as posturas, a voz 
e a pr6pria linguagem (CHIDIAC e 
OLTRAMARI, 2014). Ou seja, ser drag esti 
relacionado ao meio artistico, a elabora<;:ao de 
uma personagem feminina de forma caricata 
e exagerada que possui nome e caracteristicas 
pr6prias, por um sujeito que vive 
cotidianamente como homem, com o 
objetivo exclusivamente performitico. Esse 
fato permitiu que as drags queens 
conseguissem ocupar espa<;:os alem dos 
unicamente LGBTQI+ (Lesbicas, Gays, 
Bissexuais, Transexuais, Transgeneros, 
Queers e Intersexuais) e, com isso, ganharam 
maior visibilidade nos meios midiaticos. 
No que diz respeito a beleza feminina, por 
exemplo, ela e apresentada na rnidia coma 
um atributo essencial a vida de todas as 
mulheres, o que, de certa forma, reduz a 
mulher a uma dimensao superficial, limitada 
pela explora<;:ao do corpo. As drag queens, 
por meio de um corpo performitico, sao 
responsiveis por ressignifi.car essa 
padroniza<;:ao do modelo midiatizado de 
mulher. Na reconfigur~<;:ao do corpo, elas 
reproduzem tais modelos e possibilitam uma 
nova visao acerca dos valores que sao 
responsaveis pelo corpo estetizado nos meios 
de comunica<;:ao (SANTOS e VELOSO 
2010). Dessa forma, sao questionados 0 ~ 
valores que orientam a superficializa<;:ao do 
corpo e a valoriza<;:ao excessiva da aparencia 
e, no caso da 6.gura feminina, e desconstruida 
a padroniza<;:ao dos modelos ideais 
apresentados pelas diversas rnidias em 
dialogo com a sociedade. 
A utiliza<;:ao de roupas e um construto de 
identidade de individuos, de forma<;:ao de 
Sociais e de adequas:ao ambient.al grupos A . 
(BARBOSA, 2005). ssun, as drags 
simbolizam a presens:a, em um 1:1esmo corpo, 
de tres dimensoes contlngentes da 
idade sigru· ficante: sexo anat6tnico corpore , 
·d tidade de genero e performance de 1 en . £ . . 
• ro Ao 1·ustapor s1gnos errurunos a Utn gene . , . d d 
corpo masculino, a estetlca a . rag passa ser 
referenciada pelo corpo . lub~do, ou seia, a 
possibilidade deter uma 1dent1dade ambigua, 
· definida, uma demonstras:ao do cariter 
~rtificialmente' imposto das identidades fixas 
(SANTOS e VELOSO, 2010). 
Portanto, o corpo hibrido funciona como 
uma estrategia discursiva de questionamentos 
da ordem politica e social, no qual sao 
abordados os valores que orientam a 
distin<;:ao entre masculino e feminino pela 
16gica do sexo anat6mico. 
Segundo Oliveira (2016), a cultura drag 
ganhou uma nova vida com a chegada do 
Rupaul's Drag Race (RPDR), um reality show 
norteamericano que promove uma 
competi<;:ao entre drag queens que se 
submetem a desafios semanais para 
conquistar a coroa e o titulo de "American's 
Next Drag Superstar". 0 apresentador e 
idealizador do programa e RuPaul Andre 
Charles, um dos artistas mais ic6nicos da 
cena LGBTQI + norteamericana, que surgiu 
coma drag queen, em meados da decada de 
1980, nos meios de comunica<;:ao dos 
~stado_s Unidos. Ele foi responsive! por 
unpuls1onar o imaginirio estetico e a 
su~)Cultura drag queen nao s6 em seu pais de 
ongem, mas em diversas partes do mundo. 
A for<;:a e a repercussao da competis:ao Drag 
Race mobilizam cotidianamente uma 
verdadeira red d . _ 
1 e e comurucas:ao que envo ve 0 
compartilhamento e debate d~s conteudos 
do programa, fazendo com que ele se 
popularize e a s ~ • d . ua repercussao seia ca a vez maior A e ·b· ~ 
um · , . X1 l<;:ao do programa resultou em 
a sene de prod t .di, . u os rm atlcos com a 
tnesrna ternatica, nao s6 nos Estados Unidos, 
mas tambem B . 
r d . . no rasil; piginas em sites de e es soc1ais d di d ev . e ca os ao programa e entos direcion d , 
a com _ a os a arte drag, favorecem preensao e . d reality . 0 consume continuado o 
drag q'u:ssimbcomo divulgam e incentivam 
ens rasileiras. 0 numero de festas 
15 
dedicadasa art d b, e rag tam em cresceu 
exponenciahnente pelo pais, movimentando 
~a engrenagem econ6mica pr6pria, ao 
Jun~ar no mesmo palco ex-participantes do 
reality norteamericano que realizam turnes 
por algumas cidades brasileiras, divulgando 
nao s6 o programa e o seu trabalho, mas as 
drags locais com decadas de carreira e outras 
que comec;:aram a se montar, incentivadas 
pelo . programa. Estas ex-participantes, 
inclusive, aconselharam o publico a valorizar 
as drag queens de seu pais. No Brasil foi 
re~ad~ ,um workshop de montagem p~a as 
artlstas, Ja que o programa facilitou a criac;:ao 
?o ato_ de se ~ontar coma uma arte, o que 
impuls1onou diversas pessoas a assumirem 
seu lado performatico (CASTELLANO e 
MACHADO, 2017). Portanto, o programa 
vem crescendo e ganhando popularidade, 
criando uma nova cena drag brasileira, 
influenciada pela midia (OLIVEIRA, 2016) . 
Mesmo no atual cenario social brasileiro de , 
avanc;:os e retrocessos, em relac;:ao as questoes 
LGBTQI +, os produtos da industria cultural 
sao capazes de alterar estilos de vida, produzir 
linguagens, construir identidades e modificar 
o pr6prio contexto social. Ao mesmo tempo 
que o programa RPDR influenciou 
positivamente a cultura drag brasileira e 
aumentou sua popularizac;:ao, ele tambem e 
passive! de algumas criticas negativas no que 
diz respeito a sua forc;:a politica 
(CASTELLANO e MACHADO, 2017) . 
Tudo isso nao exclui o sadico campo do 
programa RPDR, ou seja, a supervalorizac;:ao 
do exagero, reforc;:ando papeis de genera e 
capitalizando causas politicas, em vez de_ 
questionar valores da sociedade. A noc;:ao · 
binaria de genero nao e posta em pauta de 
discussao, principalmente quando e exigido 
das drag queens uma maior feminilidade, 
enquanto as drags mais andr6genas vao 
sendo eliminadas do programa. Verifica-se, 
pois, certo esvaziamento politico, alem de um 
preenchimento consumista, no qual s6 e 
reforc;:ado o privilegio de quern esta fazendo 
a performance, e nao dos grupos 
minoritarios. Ainda assim, pelo menos, algum 
assunto inovador surge no publico mainstream 
e . pode se alastrar e transformar a sociedade 
coma um todo (CASTELLANO e 
MACHADO, 2017). 
As midias nao sao apenas uma alternativa 
para a realidade, mas sim uma parte 
importante dela. Ao mostrar as mais variadas 
questoes subjetivas de um individuo 
(sexualidade, identificac;:ao, constituic;:ao de 
vinculos e vivencia dos afetos), acaba-se 
estabelecendo uma relac;:ao comunicacional 
de massa, abrangendo e expondo inumeras 
subjetividades diferentes ao publico 
(SHIRKY, 2011). 
No cenano brasileiro atual, ganhou 
notoriedade Phabullo Rodrigues da Silva 
(nome de batismo de Pabllo Vittar), a drag 
queen mais influente da internet, a nivel 
mundial, tendo mais de 6.8 milhoes de 
seguidores em sua con ta do Instagram. Nesta 
plataforma, a artista posta fotos que exibem 
o seu cotidiano, em momentos em que esci 
montada como drag queen, que e quando 
suas postagens atingem uma maior 
quantidade de pessoas, mas tambem nas 
ocasioes nas quais nao esta performando 
(BRAGANc;:A, COSTAe GOVEIA,2017). 
A cantora propoe um ti.po de dinamica 
desestabilizadora, uma vez que escolheu um 
nome masculino para se representar, 
diferentemente da maioria das outras drags, 
que optam pot um nome feminino. Dessa 
forma, ha uma contraposic;:ao com a 
aparencia e dinamica mais pr6ximas do 
universo feminino, adotadas pelo artista. Em 
entrevistas, Pabllo deixa claro que nao se 
importa em ser chamada de artigos femininos 
ou masculinos, reforc;:ando a fluidez de 
genero (BRAGANc;:A, COSTA e GOVEIA, 
2017). 
Como visto, atuahnente a cena drag vem 
ganhando especial destaque na cultura 
nacional e internacional. Este trabalho tern 
como objetivo, portanto, analisar a 
representac;:ao midiatica da cultura e arte drag 
queen, considerando-a uma posic;:ao politica 
importante no meio LGBTQI+. 
FUNDAMENTAy\OTE6RICA 
Segundo Debord (1967), na vida das 
sociedades constituidas pelas modernas 
condic;:oes de produc;:ao, tudo o que, antes, era 
16 
vivido de verdade acabou se tornando apenas 
uma representa<;ao. Em outtas palavras, o 
que e considerado importante hoje nao e o 
set, o ter ou o viver mas sim o mosttar que 
se e, se tern ou se vive, mesmo que nao seja 
real. Debord (1967) ainda afirma que o 
espetaculo nao e apenas um conjunto de 
imagens, mas uma rela<;ao social entte as 
pessoas, manifestada de diferentes formas, 
coma a propaganda e o enttetenimento. 
Conforme Kehl (2000), a presen<;a expansiva 
da televisao no cotidiano da modernidade 
gera a ilusao de tudo mosttar e tudo vet, em 
razao de seu poder imaginario. Assim, este 
simulacro, ou seja, a encena<;ao do real, nos 
da a falsa consciencia de que o que nos e 
mosttado, e veridico, que podemos vet o 
mundo exatamente do jeito que e pot meio 
das telas televisivas, mas na realidade, 
esconde-se o essencial, devido a grande 
profusao de imagens. Dessa forma, ha a 
banaliza<;ao da cultura e a ttansforma<;ao de 
noticias em puro enttetenimento; o conteudo 
midiatico ttansforma-se em mercadoria e 
destina-se ao consumo. 
Chaui (2006) argumenta que as empresas 
midiaticas acabaram espetacularizando a 
cultuta de tal forma que ela se tomou mero 
enttetenimento e mercadoria para consumo 
das massas. A industtia midiatica vende 
cultuta. Para vende-la, deve seduzit e agradar 
o consumidor. Para seduzi-lo e agrada-lo, nao 
pode choca-lo, provoca-lo, faze-lo pensar, 
ttazer-lhe informa<;oes novas que o 
perturbem, mas deve devolver-lhe, com nova 
aparencia, o que ele ja sabe, ja viu, ja fez. Isso 
contribui para a cria<;ao de cidadaos cada vez 
mais alienados e para o esvaziamento da 
politica, deslegitimando o objetivo dos meios 
de comunica<;ao de garantit um conteudo 
plural e programas educativos, culturais e 
locais. Ademais, a midia cria categorias 
estigmatizantes. 
Conforme Heller (2008) o fenomeno do 
preconceito se perpetua pela ausencia de 
consciencia do humano-generico 
(consciencia do n6s) e pelo enraizamento do 
set no particular-individual (consciencia do 
eu). O individuo preconceituoso seria aquele 
que se prende a uma determinada opiniao, 
assumindo uma posi<;ao dogmatica que 0 
un. pede de ter acesso a um conheci ..... .... ,iento 
mais fundamenta~o da questao, 0 qUal 
certamente o levarta uma no~a avalias:ao d 
suas opinioes. Assun, o lndividuo fi e 
. ca fechado em suas parttcularidad 
. ali d es necessidades e mteresses, ena o no eu s ' . ' em compromettmento com o outro. Beller 
(2008) compreende o pre~~nceito como "urn 
tipo particular de )UlZo ptovis6rio" 
classificando-o, en~a~, com~ ~a categoti~ 
do pensamento cotldi~no cuio alicerce e a fe. 
Confian<;a e fe sao ~ensoes afetivas que 
sustentam o conhecunento ptovis6tio 
presente na cotidianidade. 0 carater 
provis6rio, baseado na confians:a do 
individuo em sua opiniao, possibilita que 0 
juizo se altere a partir da experiencia. J a 0 
preconceito e o pensamento baseado na fe, 
nos juizos ulttageneralizadores que com 0 
tempo se tornam permanentes, ou seja, uma 
forma de pensar cuja dimensao afetiva (a fe) 
a impede de ttansformar-se mesmo que a 
razao se interponha e refute as bases da 
cren<;a. Os juizos proporcionam certa 
conformidade, uma vez que sao resultantes 
do carater imediatista da vida cotidiana, que 
exige a tomada rapida de decisoes. 
No Brasil, o monop6lio midiatico e a 
ausencia de regula<;ao dos meios de 
comunica<;ao (BORGES, 2009) refor<;am os 
mecanismos da fe, explorando-a para 
cristalizar cren<;as e evitar qualquer tipo de 
reflexao. De acordo com Kehl (2004), o 
desenvolvimento tecnol6gico e a expansao da 
internet favoreceram as alteras:oes que ja 
vinham ocorrendo na rela<;ao entte o publico 
e o privado. Diferentemente da sociedade 
burguesa, em que aspectos da vida cotidiana 
pertenciam ao ambito privado, a sociedade 
contemporanea e baseada na 6tica da 
publicidade e do capital, da centtalidade das 
imagens, tornando o que outtora era privado 
em publico, cujo valor se concentra na 
visibilidade.Segundo Debord (1967), tal inversao en_tre 0 
que e publico e privado, e consequenoa de 
~a nova perspectiva que vern se 
lnstaurando ha meio seculo, em que 
sociedade nao vive mais em fun<;ao e nao e 
· da mats tegulada pot assuntos advindos 
17 
politica e da religiao, e sim pelo prisma do 
espetaculo. 
Dessa maneira, a visibilidade e a publicidade 
do espetaculo tornam-se mais importantes e 
tomam o lugar dos assuntos do mundo 
politico, gerando maior atribui<;ao de 
significado a todo e qualquer aspecto da vida 
cotidiana privada, dotado de insignificancia e 
desproposito (KEHL, 2004) . Assim, a 
participa<;ao ativa dos individuos em assuntos 
relacionados a cidadania e a esfera publica 
esvazia-se, prevalecendo o desinteresse pelas 
coisas publicas, que sao o que efetivamente 
tern relevancia para a vida coletiva. 
Entretanto, de acordo com Arendt (2014), a 
modernidade tern um fasdnio pelas questoes 
irrelevantes e banais do espa<;o privado. 
METODO 
0 presente estudo tern como base entrevistas 
com quatro colaboradores: tres drag queens e 
uma estudante de Radio e TV engajada com 
a arte abordada neste trabalho. A escolha dos 
tres primeiros entrevistados deve-se a 
tentativa de investigar a tematica da maneira 
mais direta possivel, isto e, por meio da 
experiencia das drags. Alem disso, foi 
escolhida uma estudante engajada na midia, 
com a finalidade de explorar as repercussoes 
do universo drag queen nesse setor. 
As entrevistas foram executadas a partir de 
um roteiro serniestruturado com nove 
perguntas, elaborado pelos pesquisadores. 
Como os colaboradores eram de areas 
diferentes, decidiu-se elaborar perguntas 
espedficas para contemplar as diferens:as. As 
narrativas foram interpretadas sob o metodo 
da Analise de Conteudo e a luz das teorias 
desenvolvidas na disciplina. 
ANALISE DA EXPERIENCIA 
Relacionando as reflexoes advindas de 
Debord (1967) e as falas dos entrevistados, 
verifica-se que a arte drag e retratada na midia 
majoritariamente coma uma forma de 
entretenimento. 
"Na maioria das vezes, a midia retrata a 
drag queen, se a gente precisar achar um 
ponto de confluencia, a midia retrata a 
drag queen coma entretenimento." -
G.R. 
Des ta maneira, a realidade que esta arte busca 
retratar e delimitar apresenta-se de forma 
distorcida na esfera publica em fun<;ao dos 
apelos midiaticos, no momenta em que , 
somente uma parte deste universo e 
explicitada, universo este que e encoberto e 
moldado de acordo com o que mais convem 
ser mostrado e/ ou ocultado pela midia 
'espetacularizadora'. Tal reflexao pode ser 
constatada nos seguintes trechos das 
narrativas dos entrevistados: 
"A midia da TV vende de uma forma 
e ... quer . .. usa as drags pra audiencia, 
pra trazer retorno, entao des vendem o 
que a populas:ao geral vai gostar mais." -
V.E. 
"O que ta sendo mostrado como drag 
pras pessoas nao e nem 1 % do que e 
drag". - A.D. 
E possivel perceber que tais situa<;oes 
refors:am o dialogo entre a realidade pratica 
dos individuos e as no<;oes de 
espetaculariza<;ao e visibilidade rnidiaticas 
discutidas por Kehl (2004) e Debord (1967), 
uma vez que estas exercem suas fun<;oes no 
sentido de ocultar e minimizar o espectro 
politico e engajado do ser drag. Deixa-se a 
mostra para a sociedade somente a imagem 
de drag mais atrativa para o comercio de hens 
simbolicos, a mais apelativa e caricata, a 
menos impactante, menos real e mais pronta 
para o consumo do ser drag. Os seguintes 
discursos demonstram o que essa arte deveria 
ser e a ocorrencia desse esvaziamento 
politico: 
"Ser drag queen pra mim e uma 
expressao artistica, e uma forma de arte, 
mas coma todas as artes e um ato 
politico" - G .R 
"( ... ) a Pabllo nao faz musica de gay para 
gay, de LGBT para LGBT, ela faz 
musica de LGBT para mainstream. Entao, 
se voce pegar a letra das musicas dela, 
poderia ser cantada, sei la, pela Anitta, sei 
la, por qualquer pessoa. Nao e uma 
musica que ela fala sabre ser gay, sabre 
ser drag" - A.D. 
18 
"As pessoas, elas nao valorizam a arte 
drag, muito por ser do meio LGBT. Se 
fosse uma coisa como pessoas hetero 
fazerem uma coisa diferente na cara, 
colocar uma peruca, mudar de aparencia, 
talvez nao seria tao dificil das drags 
atingirem o "mainstream'' coma esta 
sendo dificil." - A.D. 
Como apresentado anteriormente, Kehl 
(2004) discute a espetaculariza<;:ao das formas 
simb6licas. A banalidade, trivialidade e 
futilidade da vida cotidiana sao responsaveis 
por transformar em espetaculo tudo aquilo 
que e essencial, devido a um excesso de 
imagens e informa<;:6es expostas, nem sempre 
veridicas. As drag queens que, por meio de 
sua performance, objetivam transmitir ao 
publico uma mensagem de carater s6cio-
politico, acabam sendo vistas apenas como 
entretenimento. Sendo assim, seu conteudo 
vira mera mercadoria destinada ao consumo, 
como e retratado pelos entrevistados nos 
trechos abaixo: 
"Eu acho que e isso que mudou, a 
quantidade, o tipo de servi<;:o que a gente 
entrega, porque a gente, antigamente, s6 
tinha oportunidade de ser hostess numa 
balada, de fazer uma performance; hoje 
em dia, as manas estao cantando na TV, 
cantando na radio, dan<;:ando, indo pra 
pe<;:as de teatro, estao fazendo varias 
coisas." - V.E 
"Entao, eu acho que e esse estilo que 
domina, as que parecem mais femininas, 
mais bonitas, mais com o concreto de 
bonito que e comprado pelas pessoas, 
que vendido pela midia e tal." - V.E. 
"( .. . ) a gente ve essa_s par6dias na Pra<;:a 
E Nossa, no Zorra Total, essas formas 
mais caricatas e usadas pra uma forma 
meio que pejorativa." - V. E. 
"Eu posso ver assim que ela [a midia] ta 
se aproveitando, mas ela, ao mesmo 
tempo que esta se aproveitando disso 
pra criar assunto, ela esta mostrando isso 
pras pessoas" - G .R. 
Chaui (2006) tambe_~ P:oblematiza essa 
questao da mercantiliza<;:~o , do. conteudo 
midiatico ao pontuar que a mdustna tnidiatica 
vende cultura, provocando um esvaziarnento 
da politica, ou seja, o que a midia veicula nao 
faz refletir, pois ela reproduz com nova 
roupagem informa<;:6es , . antigas, 
impossibilitando o pensa~ento _c~t:J.co. Hoje, 
embora a drag queen esteJa mats lnserida no 
meio social, sua apari<;:ao nas grandes midias 
acontece de forma padronizada, com a qual 
as pessoas ja estao acostumadas, nao havendo 
um choque ou um estranhamento, 
revalidando, assim, categorias 
estigmatizantes. 0 padrao socialmente aceito, 
impasto a arte drag queen, repete o padrao de 
feminilidade e beleza estabelecido para as 
mulheres, representando-as, muitas vezes, 
apenas como objetos sexuais, o que pode ser 
identificado nestes trechos das falas dos 
entrevistados: 
"A midia, eu acho que ela quer um 
padrao de drag queen. Entao, ela te 
entrega uma coisa que ja ta pronta, que 
ja ta . . . uma coisa comercial, coisa 
vendivel. Ela fala 'O, isso aqui e ser drag 
queen'. E voce chega no role e nao e 
nada daquilo. Tern uma ou outra que e 
daquele modelo que a midia te entrega e 
tern milhares que fazem uma coisa 
totalmente diferente, totalmente voltada 
pra outro lado artfstico, que e drag, 
continua sendo drag" - V. E. 
"Essa e uma questiio de tipo assim, agora 
as drags que conseguem mais valor sao 
as drags que tern uma caracteristica 
especifica. Sao aquelas que tipo 
aparentam ao maxima uma mulher. Bern 
menininha, cabelo liso, peruca lisa, uma 
make basica. Essas siio as drags que a 
midia aceita." - A. D . 
"Quando a gente fala da drag, ela 
trabalha a forma da mulher, e 0 
conteudo socio hist6rico brasileiro 
decantado de mulher e objeto sexual." -
G. R. 
A impossibilidade de pensamento critico, 
gerada pelo consumo consecutivo de 
19 
diferentes formas da mesma informac;:ao 
propagada pelas rnidias, concretiza no 
individuo a sua fe em juizos 
ultrageneralizadores. Estes sao essenc1a.ts 
para as respostas imediatas exigidas na vida 
cotidiana; porem, quando cristalizados, sao 
os geradores do preconceito. 0 individuo e, 
entao, incentivado, segundo Heller (2008), a 
se prenderno particular-individual, em suas 
necessidades e interesses, eximindo-se do 
compromisso com o outro, contato 
impedido que o levaria, talvez, a uma nova 
avaliac;:ao de suas opinioes. Portanto, ainda 
que essencialmente a arte drag queen seja 
contraria a dicotomia de genero, quando 
padronizada e transformada em mero 
entretenimento para consumo das massas, 
nao gera possibilidade de reflexao e acaba 
funcionando como agente reforc;:ador de 
preconceitos, perdendo sua importancia 
politica. Posto isso, aqui constam relatos mais 
diretamente relacionados ao preconceito 
vivido pelas drag queens e sua representac;:ao 
midiitica: 
"Eu acho que a rnidia influencia na 
produc;:ao do preconceito sim, porque 
preconceito tem a ver com 
desinformac;:ao e as pessoas se informam 
pela rnidia ... qualquer coisa que voce nao 
mostrar com respeito pela rnidia, que a 
rnidia nao mostra com respeito, as 
pessoas nao vao enxergar com respeito. 
A gente e muito influenciado pela rnidia 
e todo mundo e, nao tem como voce sair 
disso." A. D. 
"E as vezes as drag queens nao tao 
fazendo nada demais, elas estao 
cantando, es tao fazendo uma 
performance e e mostrar que e uma arte, 
que a gente esti legal. E eu acho que 
rnidia, a TV possibilita isso, ela ti 
mostrando, ela ti vendendo como 
entretenimento e e O que a gente e, eu 
acho incrivel" - V. E . 
"Eu acho que sempre haveri 
preconceito, pois, a fonte do preconceito 
e a falta de instruc;:ao, e como a gente 
mora em um lugar onde existe 
pouquissima instruc;:ao e a instruc;:ao fica 
sempre restrita aos mesmos lugares, 
sempre vai haver preconceito fora desses 
lugares" - G. R. 
"( ... ) a drag rompe com o conceito 
confortivel de genero, entao, a drag, ela 
e um corpo nao habitual ocupando um 
lugar nao habitual. Essa e a primeira 
visao, nos moramos num pais, o 
segundo que mais mata pessoas LGBT 
no mundo" - G. R. 
"( ... ) ninguem enxerga como trabalho, 
ninguem enxerga como uma coisa vilida 
que uma pessoa faz. Entao, a falta de 
informac;:ao na verdade e o maior 
problema." -A. D. 
"Se voce for olhar as drags que tao com 
mais sucesso agora, 90% comec;:ou a 
fazer drag por causa de RuPaul's Drag 
Race (RPDR). Entao, assim foi uma 
coisa que ajudou muito na cena drag, 
demais, demais, demais. Por mais que 
tenha colocado na cabec;:a alguma 
limitac;:ao do que e ser drag, o programa 
RPDR, pra quern quis se montar, foi 
perfeito" -A. D. 
CONSIDERA<_;OES FINAIS 
Observando as articulac;:oes presentes no 
texto, e possivel perceber como a arte drag 
queen e retratada na rnidia. Ao mesmo tempo 
que a expressao e visibilidade do universo 
drag aumentou, a forma como esta arte e 
exibida nos veiculos de comunicac;:ao nao 
corresponde a realidade plural da cultura drag 
no Brasil. Com isso, a pretensao de que o 
preconceito poderia ser combatido pela 
expansao da visibilidade midiitica, nao 
condiz com a pritica. 
0 aumento da visibilidade nao deixa de 
colaborar pos1t1vamente com o 
estabelecimento do espac;:o do ser drag. No 
entanto, a partir do momento que a arte nao 
pode expressar-se adequadamente e e 
impossibilitada de ser reconhecida 
integralmente, tal considerac;:ao apresenta 
limitac;:oes e exige uma reflexao acerca dos 
metodos de combate ao preconceito. 
20 
Apenas uma pequena parcela da sociedade 
entende de fato o que ea arte drag queen. Na 
midia, ambiente que poderia divulgar esse 
conhecimento, as drags que estao em 
destaque sao as que seguem um padrao de 
beleza feminino. Isso pode acarretar maior 
preconceito e estigmatizac;:ao contra as drags 
que se encontram fora desse padrao. A 
linguagem midiatica comumente elimina as 
pluralidades, constr6i categorias 
homogeneas, anula a dimensao politica e 
coletiva dos fenomenos e comercializa os 
conteudos culturais e simb6licos. E valido 
ressaltar que o aumento da visibilidade da arte 
em questao influenciou diversas drag queens 
atuais a comec;:arem a se montar, porem, ate 
que ponto elas estao livres e seguras para 
faze-lo? 
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22 
MiDIA: espetaculo, medo e violencia 
Autores: Ana Carolina Ramos Padillia; 
Gabriela Duarte Iema, Isabella Marina Silva 
Lopes, Jessica Caires Seixas Flaitt de 
Almeida, Mariana Marques Miachon, Mayara 
Lopes da Cunha Lima, Vitoria de Queiroz 
Pasciano. 
Orientadora:Prof Dra Bruna Suruagy do 
Amaral Dantas 
INTRODU<;AO 
Os fen6menos da violencia recebem um 
grande enfoque da midia, cujo conteudo 
costuma ser repetitivo, mas;ante, reducionista 
e categorizante. Ela banaliza tais fen6menos 
e gera uma especie de espetaculo, no qual o 
espectador sedistancia da versao do fato e 
apenas a consome, diante do apelo emocional 
produzido pela tecnologia midiatica. 0 
espetaculo e criado para vender o produto, o 
que leva a transformas;ao da violencia em 
barbarie e tragedia a partir de um discurso 
apelativo e fetichizado. "Consiste no 
empobrecimento, na sujeis;ao e na negas;ao da 
vida real, sobressaindo-se a aparencia ( ... ) 
Caracteriza-se pela generalizac;o do 
fetichismo da mercadoria que invade a vida 
cotidiana" (PATIAS, 2005, p.13). 
N esse contexto em que as experiencias sao 
moldadas pelos diferentes ti.pas de 
espetaculo, as pessoas nao sao mais agentes 
de sua pr6pria hist6ria, mas submetidos aos 
espetaculos consumidos. Como 
consequencia disso, criam-se conteudos no 
imaginario social denominado por Porto 
(2009) de "a lei do mais forte", que consistem 
na crens;a de intranquilidade e caos, e de que 
cada um deve pensar e agir por si pr6prio. Na 
divulgas;ao de tais fen6menos pela midia, nao 
se fazem necessarias evidencias, OS fatos sao 
menos importantes que sua versao, a qual 
serve de bussola para orientar os atores 
sociais. Conforme Porto (2009), violencia e 
medo sao conceitos hom6logos e suas 
realidades sao inseparaveis no contexto 
brasileiro. 
A cultura do medo, de acordo com Pastana 
(2005), corresponde a todos os valores e 
comportamentos do senso comum que 
d m a ideia de insegurans;a quando repro uze d . . lid d · dos a questao a cruruna a e. o assoc1a 
medo sempre acompan~ou o hom~m e, por 
. , recorrente senttr a necess1dade de eso, e _ 
c grupos visando a protes;ao e 0 1ormar 
fortalecimento para enfrent~r as c,:ms~s do 
do. No entanto, nessas c1rcunstanc1as de 
:~eas;a, nao raro se utiliza de estrategias de 
dominas:ao politica. 
c da vez mais, a midia assume a funs;ao de 
e:plicar O mundo e produzir significados para 
os fatos sob a forma de representas;ao social, 
0 que lhe confere poder pa~a apresentar a 
populas;ao sob c~rta perspectlva o qua~o da 
violencia, determmando em alguma medida o 
pensamento e comportame~to das massas. O 
noticiario provoca sensas:ao de medo e 
refors;a o sentimento de impotencia do ser 
humano diante do mal; as noticias de crime 
influenciam a perceps:ao de segurans;a, 
gerando insegurans:a e ate mesmo panico. 
A midia, ao fazer uma cobertura do 
cotidiano, acaba por transmitir noticias de 
crimes e violencia, que acarretam o aumento 
da ansiedade, do medo e da sensas;ao de 
incerteza. E possivel reconhecer que a midia 
e tendenciosa, podendo difundir 
preconceitos, estigmas e opinioes ja 
formadas, alem de induzir a realizas:ao de 
novas delitos (AGUIAR, 2008). 
No entanto, ao mesmo tempo que a midia 
propaga a insegurans:a, suscita a busca pela 
segur~s;a. Uma suposta vida segura e 
oferec1da e prometida pela mercantilizas:ao da 
se~ans;a a partir da compra de quaisquer 
me10s que protejam tanto a vida do individuo 
qu~t~ se~s ~e~s (AGUIAR, 2008). 
A ~dia nao e 1mparcial, pois faz uma leitura 
enviesada e descontextualizada dos 
chamados indices de violencia de forma a 
apresenta-los sempre em' expansao 
(ADORNO,l99S). E como resposta a 
?0 ~ulas;ao tern uma reas;ao exagerada a esses 
~dices fugindo da normalidade do dia a dia. 
medo exacerbado se incorporou a rotina 
das , pessoas que vivem em grandes 
~e~opoles como Sao Paulo. A cultura do 
paru~o altera comportamentos interfere na 
arquite~a da cidade (muros 'mais altos e 
construs;ao de co d , . 
lucr n °nuruos) e ate fomenta o 0 eocres · cimento de empresas de 
23 
seguram;:a, que faz com que individuos se 
protejam ao maximo com tecnologias e 
evitem sair de casa (CALDEIRA,1997). 
Em nome da seguram;:a, consumem-se 
produtos para se sentir mais protegido e 
modifica-se o desenho arquitetonico da 
cidade, gerando novas formas de segrega<;:ao 
espacial, desapropriando os espa<;:os publico~ 
e enfraquecendo a cidadania da popula<;:ao. 
Quando se trata de uma classe social 
dominante, adota-se como estrategia o 
distanciamento da cidade, a cria<;:ao de 
espa<;:os distantes de controle restrito, 
ocupado pelo mesmo publico elitizado, 
homogeneo (mesmo poder aquisitivo e 
gostos pessoais). Surge, assim, a figura dos 
condominios fechados, caracterizados pela 
ausencia de diversidade social. Segundo 
Caldeira (2000) "a elite paulistana tern usado 
o medo da violencia e do crime para justificar 
tanto as novas tecnologias de exclusao social 
quanto sua retirada dos bairros tradicionais 
de Sao Paulo" (p.12). 
Em rela<;:ao as classes mais pobres, e possivel 
observar que a popula<;:ao deixa de frequentar 
os espa<;:os publicos, permanecendo em suas 
residencias e evitando sair desse ambiente. 
(PASTANA, 2006). As diversas formas de 
manipula<;:ao midiatica mesmo em um 
contexto de democracia transformam a 
cultura do medo em uma grande aliada no 
controle da popula<;:ao. De acordo com 
Pastana (2005), e 
( ... ) oportuno visualizar o medo inserido 
nas transforma<;:oes politicas e sociais 
mais recentes da nossa hist6ria, para 
relaciona-lo com suas justificativas e, a 
partir dai verificar em que momento 
come<;:ou a se formar, no Brasil, uma 
verdadeira cultura do medo, no caso 
relacionada a violencia criminal. (p.184) 
Toda cultura do medo visa, em alguma 
medida, distanciar o povo de sua cidadania, 
os distraindo de suas reais necessidades, 
inibindo poss1ve1s reivindica<;:oes e 
legitimando politicas autoritarias. 0 espa<;:o 
publico se toma desocupado, desapropriad_o 
e vazio, apenas um lugar de passagem no dia 
a dia. A domina<;:ao institucionalizada conta 
com o apoio da midia, que constr6i uma 
atmosfera de panico generalizado por meio 
de noticias sensacionalistas, tao uteis aqueles 
que estao no poder. Para Pastana (2005), 
"neste contexto paradoxal entre liberdades 
civis e repressao arbitraria da criminalidade, 
manifesta-se a domina<;:ao atraves do medo 
que da legitimidade a atos e discursos 
politicos contrarios a pr6pria democracia" (p. 
193). 
Sao criados mecanismos ideol6gicos 
destinados a justificar politicas autoritarias: a 
dicotomia entre o bem e o mau, o Estado 
contra os bandidos, e uma popula<;:ao 
espectadora, exigindo puni<;:oes severas para 
aqueles que transgridem a lei. Nesse 
contexto, tais praticas autoritarias sao 
consideradas emergenciais para proteger o 
povo, diluindo a opressao que vem com elas 
e criando pretextos para legitima-las. 
As midias desempenham a fun<;:ao de dar 
cobertura "a luta contra o crime", "a guerra 
as drogas", como estrategias para alastrar o 
panico na sociedade e difundir a cren<;:a de 
que e necessario e inevitavel que o govemo 
assuma um papel autoritario para conter o 
caos e instaurar a ordem. 
Tudo isso deve ser entendido considerando o 
processo de redemocratiza<;:ao p6s-ditadura 
militar brasileira, cuja constru<;:ao nao contou 
com a participa<;:ao direta e efetiva da 
popula<;:ao brasileira, permitindo, assim, que a 
elite permanecesse no poder, disseminando 
suas ideologias para favorecer seus interesses. 
Nesse momento, ocorre o distanciamento da 
popula<;:ao de suas reais necessidades e a 
fragiliza<;:ao de um govemo verdadeiramente 
democratico, tudo por meio da cortina de 
fuma<;:a do panico frente a violencia criada 
com o auxilio da midia. 
Por fim, cabe salientar que a elimina<;:ao de 
meios que conectam o individuo ao Estado, 
desencadeando crises politicas e desajustes 
sociais, atribuindo a culpa a um grupo 
espedfi.co, e uma estrategia utilizada para a 
manuten<;:ao da 16gica da domina<;:ao 
(PASTANA. 2005). 
Este estudo resultou da realiza<;:ao de um 
estagio basico que teve como objetivo 
investigar a rela<;:ao da midia com a cultura do 
medo, utilizando como principal mecanismo 
0 USO da violencia para manipula<;:ao das 
24 
informac;:6es, o que pode consequenteme~te 
gerar preconceitos e fragilizar a democracia. 
FUNDAMENTA<;AO TEORICA 
Segundo Heller (2008), o homem nasce 
inserido em sua cotidianidade, nao sendo 
possivel dela escapar completamente. A vida 
cotidiana e a vida de todo individuo, que e 
sempre ser particulare ser generico. 0 ser 
generico constitui todo homem e determina 
toda atividade que tenha uma dimensao 
generica, embora suas motivac;:oes sejam 
particulares. Na modema estrutura cotidiana, 
na particularidade submeteu humano 
generico, as necessidades e interesses da 
integrac;:ao social. 
Agnes Heller (2008) define a vida cotidiana 
segundo as seguintes caracteristicas: e 
espont:anea (ac;:6es nao refletidas e 
repetiti.vas); pragmatica (as relac;:6es entre as 
atividades realizadas e suas consequencias sao 
medidas em termos de funcionalidade e 
probabilidade); economicista (mais rapidez 
com menor esforc;:o das ac;:6es e dos 
pensamentos); imediatista (as atividades 
diarias sao realizadas de forma instantanea, 
sem recorrer a reflexao); baseada mais na fee 
na confianc;:a do que em experiencias 
empmcas ou sistemas argumentativos; 
imitativa (aprende-se a agir no cotidiano por 
mimese) e, por fim, em juizos provis6rios 
ultra generalizadores. 
A midia exerce influencia na sociedade, vista 
que as noticias abordam exatamente a vida 
cotidiana das pessoas. A cada programa 
transmitido pela TV, novas tendencias de 
beleza, moda e comportame~to surgem e sao 
inseridas no cotidiano dos individuos 
estimulando seu aspecto imitativo. Alem d; 
impor padr6es a serem seguidos, a midia 
tambem define quais assuntos serao pauta 
para a populac;:ao, bem coma, estipula qual 
posicionamento o individuo deve tomar em 
relac;:ao a situac;:ao exposta. 0 poder da midia 
regula e seleciona o que e mais importante e 
o que deve ser pauta das conversas informais 
que caracterizam a vida diaria; o emissor da 
noticia oferece informac;:6es, interpretac;:6es e 
explicac;:6es. 0 espectador aceita e repass . a 
para outros, mmtas vezes sem questionar 
' 0 
rna esse processo continua que to ' 
demonstrando, dessa forma, duas 
t risticas citadas anteriormente: a carac e . . di 'd 
espontaneidade, pois o 1n V1 uo. reproduz 
uma noticia sem ao menos entende-la, antes 
meio da mimese pelo fato de que repete por . 
1 
• . 
aquilo que foi dito. S1mu taneo a 1s~o'. pode-
se identificar a natureza economic1sta da 
cotidianidade (HELLER, 2008), pois 0 
objetivo de ler a noticia se da de forma mais 
rapida e com o menor esf~rc;:o possivel para 
gerar certa praticidade _na vida. . . 
Ao associar o conce1to de economic1smo 
com a midia na modernidade, e possivel 
afirmar que, alem da tendencia a uma leitura 
mais rapida e menos aprofundada, os meios 
eletronicos e digitais tendem, tambem, a 
apresentar as noticias de forma inexata e 
minima. 
Segundo Heller (2008), a vida cotidiana 
elabora formas de conhecimento, baseadas 
em juizos provis6rios e ultra generalizadores, 
ou seja, apenas em experiencias praticas. 
Desse modo, generalizando quern sao os 
agentes causadores da violencia, a midia pode 
beneficiar-se, pois fica mais facil propagar a 
inseguranc;:a nos cidadaos e influencia-los em 
favor de seus interesses, ja que a populac;:ao 
com medo e vulneravel a manipulac;:ao. Essa 
situac;:ao gera preconceito depositado em 
det~rminados grupos sociais, pois a 
soc1edade acreditara, baseada na fe mais do 
que ~m evidencias empiricas, que 
determinados grupos (principalmente negros, 
pobres, perifericos e jovens) sao os maiores 
ca~sadores do perigo, os quais se tornam, 
assim, · bode expiat6rio da classe 
economicamente privilegiada. 
? fen6meno da sociedade do especiculo infl . . 
uencia diretamente a construc;:ao de 
crenc;:as e, consequentemente a gerac;:ao de 
preconceitos - rnantidos pela' fe (HELLER, 
2008) cu1·a · · · , ua ' principal caracterist1ca e s 
condirao de d d , 1 a .,. ver a e absoluta impermeave 
qualquer tipo de questionam:nto. Assim, urn 
argurnento · ....,, 
difi racional e empirico encoolJ. .. 
n 
1
£';11dade ern rnudar urna reflexao baseada a e. 
!eguudo Kehl (2004), a etica da visibilidade 
ecorre da · d s 
ca..... orupresenc;:a da televisao e a ..... ,.eras q 'd 
' ue ocuparn o centro da V1 a 
25 
domestica dos brasileiros, dando a ilusoria 
impressao de tudo mostrar e tudo ver. As 
esferas publica e privada sofrem alterac;:oes e 
deslocamentos de modo que se verifica um 
alargamento da vida privada, invadindo e 
fragilizando , o . mund~ publico. A politica 
(~sp~~o pu~lico) e substituida pela 
v1S1bilidade mstantanea do show e da 
publicidade, caracteristica da sociedade do 
~spetaculo. Nessa sociedade, prevalecem as 
una~ens . adequadas ao espetaculo dos 
teleJo~ais, confeccionadas com apelo 
emoc1onal e incitac;:ao da fe. O individuo 
generaliza o que foi passado na midia, 
transformando uma versao da realidade na 
unica forma de compreende-la, reduzindo a 
representac;:ao ao real. 
Chaui (2006) concebe o espetaculo como 
uma especie de simulacro, simulac;:ao do 
cotidiano, despertando na audiencia crenc;:a 
em parte do que esta sendo mostrado. Em 
sua concepc;:ao, para obter a fe dos 
espectadores, a midia substitui as definic;:oes 
de verdade e f alsidade pelas noc;:oes de 
credibilidade, plausibilidade e confiabilidade. 
0 real passa a ser aquilo que e plausivel ou 
acreditavel. Nao ha uma preocupac;:ao em 
revelar a realidade e transmitir o mais 
fidedignamente possivel os fatos, mas em 
parecer crivel e fi.el aos acontecimentos. 
Nesse processo, oculta-se tudo que nao e 
possivel compreender a partir da linguagem 
das imagens, esconde-se o essencial (segredo 
generalizado) e suprime-se a dimensao 
hist6rica dos eventos, favorecendo a 
operac;:ao do esquec~ento. 
A industria midiatica, pois, nao informa o 
publico dos fatos em si, mas explora 
sentimentos e opini6es pr6prias sobre o que 
e apresentado, colaborando para provocar 
falta de conhecimento sobre os 
acontecimentos, pois o que passa a ser 
conhecido, na verdade, sao as impressoes do 
locutor. Privilegiam-se sentimentos e 
emoc;:oes, abandonando-se o com~r~misso 
da comunicac;:ao com a transm1ssao da 
verdade factual que, certamen~e, possib~t~a 
ao espectador/ leitor conStrul! suas propnas 
versoes da realidade. 
Arendt (2007) afirma que existir e fazer-se 
visivel no espac;:o publico, e fazer-se visivel 
depende da conjunc;:ao entre o discurso e a 
ac;:ao. Podemos, desta forma, tambem citar o 
argumento de Kehl (2004), segundo o qual a 
expansao da televisao foi desenvolvendo, aos 
poucos, um espac;:o de visibilidade paralelo ao 
da arena politica. Adaptou-se, entao, a 
substituic;:ao do espac;:o publico pelo espac;:o 
da visibilidade televisiva. Assim, se a televisao 
ocupa hoje a esfera publica, o espac;:o 
privilegiado do encontro virtual entre 
membros da sociedade do espet:iculo e o 
espac;:o domestico. 
E justamente por existir a aproximac;:ao do 
espet:iculo com o espac;:o domestico 
(privado), que o simulacro se torna um 
entretenimento, ou seja, aquilo que e 
transmitido pelos meios de comunicac;:ao de 
massa nao e o fato, o ocorrido em si, e sim 
sua encenac;:ao, a fim de entreter o 
telespectador. 
METODOLOGIA 
Para analisar a relac;:ao da midia com a 
violencia e a cultura do medo, realizaram-se 
tres entrevistas semiestruturadas registradas 
em video. Os entrevistados foram os 
jornalistas Cesar Foffa (Folha de Alphaville), 
Luis Samartino (Faculdade Casper Ll'bero) e 
Rodrigo Ratier (Faculdade Casper Ll'bero). 
Foi elaborado um roteiro contendo dez 
perguntas relacionadas ao tema a serem 
respondidas pelos entrevistados. Com base 
nas entrevistas, foram selecionados os 
trechos mais importantes, realizada a 
minutagem, a transcric;:ao e a posterior edic;:ao 
do video. Por fun, foi feita a articulac;:ao dos 
trechos das entrevistas com a fundamentac;:ao 
te6rica. 
ANALISE DA EXPERIENCIA 
Os encontros com os entrevistados 
possibilitaram a an:ilise da tematica da cultura 
do medo e do discurso da violencia no 
contexto da sociedade midiatizada, por meio 
das teorias e conceitos de Heller (2008), 
Arendt (2007), Kehl (2004) e Chaui (2006). 
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Os trechos abaixo explicitam diversos 
conceitos das autoras discucidos na 
fundamenta<;ao te6rica. Chaui (2006) 
discorre sobre a manipula<;ao da midia de

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