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A VIDA BEM CUIDADA EM SÃO BERNARDO GOVERNO DA INCLUSÃO 1. APRESENTAÇAO 2. INTRODUÇAO 2.1. POLÍTICA DE SAÚDE DO MUNICÍPIO 2.2. AS REDES DE ATENÇÃO E A PRODUÇÃO DO CUIDADO 2.3. LINHA DE CUIDADO E A REDE CEGONHA 2.4. REDE CEGONHA: A VIDA BEM CUIDADA EM SÃO BERNANDO DO CAMPO 2.5. A CONSTRUÇÃO DA REDE CEGONHA NO COTIDIANO 3. ATENÇAO AO PRÉ-NATAL 3.1. DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ 3.2. CLASSIFICAÇÃO DE RISCO GESTACIONAL 3.3. PRÉ-NATAL DE BAIXO RISCO OU RISCO HABITUAL 3.3.1. 1° TRIMESTRE (ATÉ 11° SEMANA COMPLETA) 3.3.1.1. ATENDIMENTO INDIVIDUAL COM ENFERMEIRO 3.3.1.2. 1ª CONSULTA MÉDICA 3.3.1.3. ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR 3.3.2. 2° TRIMESTRE (12° ATÉ 27° SEMANA COMPLETA) 3.3.2.1. ATENDIMENTO INDIVIDUAL DO ENFERMEIRO E DO MÉDICO. 3.3.3. 3° TRIMESTRE (28° SEMANA AO FINAL DA GESTAÇÃO) 3.3.3.1. ATENDIMENTO INDIVIDUAL DO ENFERMEIRO E DO MÉDICO. 3.4. ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO 3.4.1. GRUPOS DE GESTANTES: 3.4.2. ATENDIMENTO INDIVIDUAL NO MESMO DIA DO GRUPO 3.4.3. 1ª CONSULTA 3.4.4. 2ª CONSULTA 3.5. AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL (EN) E DO GANHO DE PESO GESTACIONAL 3.5.1. ORIENTAÇÕES PARA O DIAGNÓSTICO E O ACOMPANHAMENTO DO ESTADO NUTRICIONAL DA GESTANTE 3.6. PREVENÇÃO DO TÉTANO NEONATAL – IMUNIZAÇÃO ANTITETÂNICA 3.7. INTERCORRÊNCIAS NO PRÉ-NATAL 3.7.1. ANEMIA CARENCIAL 3.7.1.1. ANEMIA FALCIFORME E OUTRAS ANEMIAS: 3.7.2. PARASITOSES 3.7.3. ÊMESE E HIPERÊMESE GRAVÍDICA 3.7.4. SÍNDROMES HEMORRÁGICAS 3.7.4.1. ABORTAMENTO 3.7.4.2. GRAVIDEZ ECTÓPICA 3.7.4.3. MOLA HIDATIFORME 3.7.4.4. PLACENTA PRÉVIA 3.7.4.5. DESCOLAMENTO PREMATURO DA PLACENTA 3.8. INFECÇOES NA GESTAÇAO 3.8.1. SÍFILIS NA GESTAÇÃO 3.8.2. INFECCÇÃO PELO HIV NA GESTAÇÃO 3.8.3. HEPATITE B NA GESTAÇAO 3.8.4. TOXOPLASMOSE NA GESTAÇAO 3.8.5. HEPATITE C Sumário 3.9. PREVENÇAO E TRATAMENTO DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS À PREMATURIDADE 3.9.1. O TRABALHO DE PARTO PREMATURO 3.9.1.1. ESCOLHA DAS DROGAS PARA TOCÓLISE 3.9.1.2. IDADE GESTACIONAL LIMITE PARA SE TENTAR A INIBIÇÃO 3.9.1.3. USO DE CORTICÓIDES 3.9.2. INFECÇAO DO TATO URINÁRIO (ITU) 3.9.2.1. BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA 3.9.2.2. INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO BAIXO 3.9.2.3. PIELONEFRITE AGUDA 3.9.3. DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS 3.9.3.1. SÍNDROME DE ÚLCERA GENITAL 3.9.3.2. SÍNDROME DE CORRIMENTO VAGINAL 3.9.3.3. SÍNDROME DE CORRIMENTO CERVICAL 3.9.3.4. SÍNDROME DO CORRIMENTO URETRAL 3.9.3.5. CONDILOMA ACUMINADO 3.9.4. INFECÇAO PELO STREPTOCOCO Β HEMOLÍTICO DO GRUPO B 3.9.5. ROTURA PREMATURA DE MEMBRANAS E CORIOAMNIONITE 3.9.6. PREVENÇÃO DA DOENÇA HEMOLÍTICA PERINATAL 3.9.7. HIPERTENSÃO GESTACIONAL 3.9.7.1. PRÉ-ECLÂMPSIA 3.9.7.2. HIPERTENSÃO ARTERIAL CRÔNICA 3.9.7.3. HIPERTENSÃO ARTERIAL DURANTE A LACTAÇÃO 3.9.8. DIABETES GESTACIONAL 3.9.9. RESTRIÇÃO DO CRESCIMENTO FETAL 3.10. PÓS-DATISMO 3.11. MONITORAMENTO 4. ATENÇAO AO PARTO 4.1. ATENDIMENTO NO PRONTO SOCORRO GINECOLÓGICO E OBSTÉTRICO DO HMU E ADMISSAO HOSPITALAR 4.2. MONITORAMENTO DO TRABALHO DE PARTO E DO PARTO 4.3. RECEPÇAO DO RN EM SALA DE PARTO 4.4. MONITORAMENTO 5. ATENÇÃO AO PUERPÉRIO E PRIMEIROS DIAS DE VIDA DO RECÉM-NASCIDO 5.1. NA MATERNIDADE: 5.1.1. CUIDADOS À PUÉRPERA 5.1.2. CUIDADOS AO RN 5.2. NA UBS 5.2.1. PRIMEIRA CONSULTA DA PUÉRPERA 5.2.1.1. AVALIAÇÃO CLÍNICO-GINECOLÓGICA: 5.2.1.2. CONDUTAS 5.2.2. ASSISTÊNCIA AO RECÉM-NASCIDO NA PRIMEIRA CONSULTA 5.2.2.1. CRITÉRIOS PRINCIPAIS 5.2.3. CONSULTA PUERPERAL (EM TORNO DE 40 DIAS) 5.2.4. USO DE MÉTODO ANTICONCEPCIONAL DURANTE O ALEITAMENTO 5.2.5. ATIVIDADE SEXUAL NO PUERPÉRIO 5.2.6. CONTRAINDICAÇÕES DA AMAMENTAÇÃO 5.3. MONITORAMENTO 1. APRESENTAÇAO Na busca de consolidar uma rede de atenção integral à população, a Secretaria de Saúde de São Bernardo do Campo aposta na centralidade que a gestão do cuidado deve ter para cada gestor, trabalhador e equipe de saúde que constroem esta rede no cotidiano dos vários territórios da cidade. A implantação das linhas de cuidado, a partir de prioridades definidas junto ao Conselho Municipal de Saúde e expressas no Plano Municipal, é um dispositivo estratégico na condução dos processos de organização dos serviços de saúde e a relação entre esses serviços. A centralidade do usuário, com a garantia do acesso, da qualidade do cuidado ofertado aos usuários e o compromisso intransigente com a defesa da vida orientam a construção das diretrizes, estratégias, protocolos clínicos e de acesso que compõem cada linha de cuidado. A REDE CEGONHA: A VIDA BEM CUIDADA EM SÃO BERNARDO DO CAMPO será trabalhada em três blocos: um que trata do pré-natal, parto e assistência ao RN nos primeiros dias de vida, o segundo que focará o cuidado dirigido às crianças até dois anos e a garantia dos direitos sexuais e reprodutivos e o terceiro que tratará sobre saúde suplementar e os processos de educação permanente, ensino e pesquisa da política em questão. Este primeiro caderno tratará do primeiro bloco e é voltado ao trabalhador que atua nos diversos pontos desta rede de atenção à saúde e traça as principais diretrizes e acordos técnicos sobre a produção do cuidado a esta população e reflete a discussão realizada com profissionais de toda a rede. É um convite para que cada um de nós assuma com radicalidade compromissos e compreenda a importância do nosso trabalho, garantindo assim uma atenção humanizada e garanta saúde de qualidade para todos! Vamos fazer valer nossa aposta de que cada vida vale a pena, a partir deste compromisso com cada uma de nossas gestantes e bebês! Arthur Chioro Secretário de Saúde de SBC 2. INTRODUÇAO 2.1. POLÍTICA DE SAÚDE DO MUNICÍPIO O município de São Bernardo vem implementando a partir de janeiro de 2009 grande mudança na área da saúde visando à implementação de um sistema de saúde que permita atingir sua missão que é a de organizar o sistema de saúde municipal a partir dos princípios e diretrizes do SUS, prestando ações e serviços humanizados e de qualidade, de acordo com as necessidades da população, inserindo-se de forma articulada nas políticas sociais do governo, em busca da promoção da equidade social e garantindo o direito à saúde com controle social. O princípio de defesa intransigente da vida é uma direção política que orienta todas as nossas ações e estratégias a serem implementadas em todo o território municipal. O Plano Municipal de Saúde foi construído de forma participativa, a partir de diretrizes do governo municipal do PPA Participativo 2009-2013, com discussões com os conselheiros e trabalhadores, aprovação das diretrizes na Conferência Municipal de Saúde. Este Plano explicita o nosso compromisso em buscar construir uma rede de serviços de saúde que, de forma intersetorial, garanta a integralidade da atenção à saúde da população em São Bernardo do Campo. Neste sentido é necessário destacar que assumimos a Atenção Básica-AB como orientadora do cuidado, devendo construir e fortalecer em cada equipe, em cada Unidade Básica de Saúde, o vínculo dos trabalhadores com a população em cada território. Esta responsabilidade sanitária deve ser exercida por cada profissional que está em contato com a população, buscando cuidar das suas necessidades de saúde de forma integral e participativa, envolvendo os usuários na construção de seus projetos terapêuticos singulares. Para potencializar esta aposta, ampliamos a cobertura de Agentes Comunitários de Saúde em 100% da cidade, expandimos a Estratégia de Saúde da Família, com um modelo ampliado de equipe que conta com o médico generalista e as especialidades médicas básicas que passam a ter um papel matricial para todo o território, ampliamos a atenção em saúde bucal e saúde mental na Atenção Básica, reestruturamos rede física da rede básica com intenso investimento, com construção de novas unidades, reforma e alocação dos equipamentos necessários em todas as UBS e articulação de ações intersetoriaispermanentes com programas como o “De Bem com Vida”, “leitura”, cidade da paz, etc. A porta de entrada na rede de urgência emergência se constitui como ponto estratégico na rede básica, que conta com a rede de UPAS, SAMU e Pronto Socorro Central como hospital de referência. Esta rede de urgência assumiu que estas unidades devem funcionar a partir da priorização dada pela classificação de risco, pois acolher de forma humanizada cada necessidade produz forte impacto na qualidade da produção do cuidado em saúde. A reorganização do cuidado hospitalar tem sido fundamental, garantindo uma assistência humanizada, com estratégias como hospital aberto, equipes horizontais de cuidado, valorização da integração ensino-assistência, instalação de uma ouvidoria interna (Soluções e Orientações aos Usuários), colocando os 3 Hospitais em rede, a partir dos mesmos princípios organizativos e priorizando mecanismos de comunicação permanente entre eles e os outros pontos da rede. A construção do Hospital de Clínicas, com 240 leitos, a ser entregue em março de 2012 será um passo fundamental na complementação de nossa rede hospitalar, permitindo que o HMU e Hospital Anchieta assumam a missão prevista dentro dessa rede como hospital da mulher e hospital oncológico respectivamente. Na perspectiva de humanizar a atenção à saúde, implantamos o PID – Programa de Internação Domiciliar, contando com 4 equipes que atendem 120 pessoas, em casa, numa estreita relação com os cuidadores familiares, avançando num processo de aposta na autonomia dos usuários e na possi- bilidade de humanizar o cuidado em momentos difíceis e onde o ambiente familiar pode ser um importante diferencial. A reorganização da rede de saúde mental está pautada pelos princípios da Política Nacional, que pressupõe o cuidado em liberdade, numa rede inserida nos territórios e articulando de forma intersetorial o investimento em moradia e geração de renda. Uma rede que também tem um ponto importante na atenção básica e já conta com um CAPS III 24 horas para atender transtorno psíquico grave (de 5 previstos), 2 Residências Terapêuticas (mais 3 em implantação) para moradores de Hospital Psiquiátrico que tinham tido sua condição mínima de cidadania: morar em uma casa, ir e vir, negado pelos anos de confinamento. Contamos com um CAPS III 24 horas adulto para álcool e drogas (o segundo em implantação) e um CAPS III ad infanto-juvenil, uma Republica Terapêutica, que funciona como um centro de acolhimento transitório para aqueles que precisam ficar um tempo fora de seu ambiente familiar e comunitário (e 5 destes sendo montados para adultos). O PS psiquiátrico e os leitos em hospitais gerais para desintoxicação complementam esta rede, que tem na articulação intersetorial um grande desafio. A posse em outubro do Conselho Municipal Intersetorial de Atenção às pessoas em uso abusivo de Álcool e outras drogas será um grande passo para qualificar esta rede. A rede de proteção à saúde implementada pelas vigilâncias é um complemento fundamental a esta rede atuando na área epidemiológica, sanitária, ambiental, na zoonoses e saúde do trabalhador, com ações que são transversais a toda a rede e nos ajudam a assumir coletivamente nossa responsabilidade sanitária. A construção de um Código de Saúde municipal é um desafio que esperamos nos ajude a qualificar ainda mais nossa atuação. A estruturação da assistência farmacêutica como parte constituinte da rede de cuidados, com grande investimento no processo de dispensação como integrante dos dispositivos de cuidar em cada unidade de saúde e revisão dos processos de gestão, compra e distribuição, com a construção da RENAME, qualificando uma área fundamental para a completa reorganização da nossa rede. As várias áreas de apoio à gestão têm sido valorizadas como estratégicas para a qualificação do nosso sistema, com a integração das várias redes numa rede integral de atenção à saúde. A valorização do processo de planejamento, gestão da informação e monitoramento, a montagem do Complexo Regulador, o desenvolvimento de um processo de Educação Permanente tem sido centrais na aposta de construção de um sistema municipal comprometido com a vida. Uma questão central neste esforço de reorganização do sistema de saúde é o desafio de desenvolver uma gestão participativa, trazendo a população e os trabalhadores para dentro do processo de gestão. A renovação dos ins- trumentos legais, a realização bianual da Conferência Municipal de Saúde, a renovação do Conselho Municipal e a criação dos Conselhos Gestores em cada unidade de saúde, a realização de Encontro Popular anual, são inicia- tivas que tem feito avançar a possibilidade de uma gestão compartilhada e qualificada em nosso município. 2.2. AS REDES DE ATENÇÃO E A PRODUÇÃO DO CUIDADO Atualmente devemos reconhecer que diversos são os problemas enfrentados para produzir impacto no modo como se realizam os atos de saúde e para o funcionamento dos serviços segundo o interesse público. Esses problemas não se resolvem somente pelo acesso e não estão relacionados apenas às questões de mudanças e de reformas macroestruturais, mas se referem à micropolítica do processo de trabalho, ou seja, como os trabalhadores produzem a sua prática no cotidiano. Um grande desafio para as equipes de gestão e de produção do cuidado do SUS, portanto, é alterar o padrão hegemônico de gestão e de produção das práticas de saúde cada vez mais fragmentadas e centradas em equipamentos, procedimentos e medicamentos, na perspectiva de construir um desenho tecno assistencial mais cuidador, baseado nas necessidades de saúde do usuário. A grande possibilidade de quebra da lógica predominante é sua desconstrução no espaço da micropolítica, ou seja, no espaço da organização do trabalho e das práticas de saúde. Por isso é tão importante transformar a gestão e criar a possibilidade de que, no espaço coletivo, as pessoas descubram que têm o poder de mudar, que os desconfortos possam ser trabalhados na direção da construção de outras interpretações, outras práticas e outros compromissos com o público. Sendo assim, é necessário reconhecer que todos governam e que, em especial, na saúde, em que predomina o trabalho vivo em ato, todos governam e são autores do modelo tecno-assistencial. Por isso, governar em saúde é complexo, implica efetivamente abrir novos canais de diálogo e aproximação entre gestão e trabalhadores, aproximar a gestão do cotidiano do trabalho, criando a oportunidade de construir novos pactos entre os trabalhadores. Só se pode imaginar a produção da integralidade, de continuidade da atenção e de ampliação da r esolubilidade por meio da construção de novos espaços de conversa, pactuação e cooperação técnica entre os trabalhadores dos diferentes tipos de serviço de saúde, tendo as necessidades dos usuários como referência para essas pactuações. Mas o grande desafio dos gestores de saúde é o de conseguirem impactar os modos como são construídas as contratualidades entre trabalhadores e usuários, no dia a dia dos serviços e assim orientar a capacidade tecnológica de ação dos trabalhadores para a defesa da vida individual e coletiva e para estar e ser rede de serviços de saúde. 2.3. LINHA DE CUIDADO E A REDE CEGONHA Esta intensa reorganização do sistema municipal de saúde foca em fortes movimentos de mudança que almeja resultados a partir das contínuas transformações que se dão nos campos da política, da cultura e da filosofia. Neste sentido é necessário destacar que para mudar é importante reconhecer que a forma como está sendo desenvolvidas as ações de saúde não estão sendo suficientes para produzir melhoria nos ndicadores de saúde, na qualidade nas práticas de saúde e consequentemente na resolubilidade dos problemas de saúde e no impacto nos indicadores epidemiológicos. A proposta pensada para vencer os desafios na produção do cuidado em saúde, a partir do princípio da integralidade, começa pela reorganização dos processosde trabalho na rede básica e vai somando-se a todas outras ações assistenciais, seguindo a complexa articulação de trama de atos, de ações, de procedimentos, de fluxos, de rotinas, de protocolos e de saberes em uma construção multiprofissional, operando através de diretrizes como a do acolhimento e vinculação com usuários, onde a equipe se responsabiliza pelo seu cuidado. A produção do cuidado deve ser constituída de forma articulada e integrada aos demais tipos de serviços de saúde que compõe a rede, atenção especializada, hospitalar e de urgência e emergência. Assim todos os recursos disponíveis, devem ser integrados por fluxos que são direcionados de forma singular, guiado pelo projeto terapêutico do usuário. Estes fluxos devem ser capazes de garantir o acesso seguro às tecnologias necessárias para produção do cuidado em saúde. Trabalhamos com a imagem de uma linha de produção do cuidado, que parte da rede básica, ou qualquer outro lugar de entrada no sistema de saúde. Este movimento dá sentido para a ideia de que, a linha do cuidado é resultado de um grande pacto que deve ser realizado entre todos os gestores, trabalhadores e usuários. E neste caso, o usuário é o elemento estruturante de todo processo de produção do cuidado de saúde, rompendo com o tradicional modo de intervir sobre o campo das necessidades, de forma fragmentada. Neste caso, o trabalho é integrado e não partilhado, reunindo na cadeia produtiva do cuidado um saber-fazer cada vez mais múltiplo. Então, Linha do cuidado é a imagem pensada para expressar os fluxos de produção do cuidado em saúde ao usuário, no sentido de atender às suas necessidades de saúde. É como se ela desenhasse o itinerário que o usuário faz por dentro de uma rede de saúde incluindo segmentos não necessaria- mente inseridos somente no sistema de saúde, mas que participam de alguma forma da rede, tal como entidades comunitárias e de desenvolvimento social e intensamente na rede de cuidado a saúde. A Linha do cuidado é diferente dos processos de referência e contra referência, apesar de incluí-los também. Ela difere, pois não funciona apenas por protocolos estabelecidos, mas pelo reconhecimento de que os gestores dos serviços podem pactuar fluxos, reorganizando o processo de trabalho, a fim de facilitar o acesso do usuário às Unidades e erviços aos quais necessita. Linha do Cuidado incorpora uma diretriz importante do SUS, a integralidade na produção de cuidados á saúde, o que significa integrar e articular ações preventivas, curativas e de reabilitação; proporcionar o acesso a todos os recursos tecnológicos que o usuário necessita desde visitas domiciliares realizadas pelas Equipes Ampliadas Saúde da Família e outros dispositi- vos como o Programa de Atenção Domiciliar, até atenção hospitalar e de urgência e emergência. O cuidado integral deve ser produzido com base no acolhimento do profissional de saúde, no estabelecimento de vínculo e na responsabilização diante do seu problema de saúde. Nesta perspectiva, A Rede Cegonha é uma estratégia do Ministério da Saúde, operacionalizada pelo SUS, fundamentada nos princípios da huma- nização e assistência, onde mulheres, recém-nascidos e crianças têm direito a: ampliação do acesso, acolhimento e melhoria da qualidade do pré-natal; transporte tanto para o pré-natal quanto para o parto; vinculação da gestante à unidade de referência para assistência ao parto - “Gestante não peregrina!” e “Vaga sempre para gestantes e bebês!”; realização de parto e nascimento seguros, através de boas práticas de atenção; acompanhante no parto, de livre escolha da gestante; atenção à saúde da criança de 0 a 24 meses com qualidade e resolutividade; acesso ao planejamento reprodutivo. É uma Rede de cuidados que assegura às MULHERES: o direito ao planeja- mento reprodutivo, à atenção humanizada à gravidez, parto e puerpério. As CRIANÇAS: direito ao nascimento seguro, crescimento e desenvolvimento saudáveis e tem como objetivos: constituir um novo modelo de atenção ao parto, nascimento e à saúde da criança, uma rede de atenção que garanta acesso, acolhimento e resolutividade e consequentemente a redução da mortalidade materna e neonatal, e será implantada em todo o território Nacional. 2.4. REDE CEGONHA: A VIDA BEM CUIDADA EM SÃO BERNANDO DO CAMPO A REDE CEGONHA: A VIDA BEM CUIDADA EM SÃO BERNANDO DO CAMPO é uma importante estratégia para construção de cuidados progressivos a saúde em São Bernardo do Campo e envolve toda a rede de serviços de saúde como as unidades de atenção básica, atenção especializada, saúde mental e atenção hospitalar e de urgência e emergência. Esta rede está baseada na integração, articulação e organização do processo de t rabalho entre as equipes de saúde e tem como objetivos: • Garantir um modelo de atenção integral e humanizado a todas as mulheres de SBC durante seu período reprodutivo, incluindo as dimensões da sexualidade, planejamento e aconselhamento pré-gestacional, pré-natal, parto e puerpério. • Garantir um modelo de atenção integral e humanizado a todas as crianças de SBC, com foco naquelas menores de 2 anos. • Redução da mortalidade materna, fetal e infantil. O desafio na construção da Rede Cegonha é a mudança do modelo de produção do cuidado que assegure às mulheres atenção integral, humanizada e de qualidade para sua saúde e de seu bebê. A Rede Cegonha articula ações nas três esferas de gestão do SUS de modo a garantir a melhoria da qualidade dos diversos serviços de saúde que compõem esta rede. Seus princípios são a defesa dos direitos humanos de mulheres e crianças, o respeito à diversidade cultural, étnica e racial, as diferenças regionais, a equidade, o enfoque de gênero e dos direitos sexuais e direitos reprodutivos de mulheres e homens, jovens e adolescentes e a participação social. 2.5. A CONSTRUÇÃO DA REDE CEGONHA NO COTIDIANO Como forma de organizar e propor ações que abarcassem todas as propostas já feitas pela Política Municipal de Saúde e Rede Cegonha, foi constituído um Grupo Operativo que conta com representantes dos diversos departamentos que compõem a Secretaria de Saúde e do Complexo Hospitalar de São Bernardo do Campo. Os materiais informativos, fluxos estabelecidos e indicadores de acompanhamento foram organizados de acordo com as práticas desenvolvidas atualmente na Rede de Serviços de Saúde e têm como principal objetivo gerar pontos de coesão e de compartilhamento para a Gestão do Cuidado, entretanto a gestão da Rede Cegonha ultrapassa este documento e caminha para a construção em e spaços coletivos de gestão, que são: Reuniões de Equipe, Geral e Conselho Gestor Local. Nível local Espaços de discussões territoriais. Nível territorial Colegiados de Departamento, Colegiado Pleno, Colegiado de Diretores, Educação Permanente dos Apoiadores em Saúde, Educação Permanente dos trabalhadores da rede da Atenção Básica e Conselho Municipal de Saúde. Nível municipal Colegiado de Gestão Regional e Câmaras técnicas. Nível regional Para sistematização das diversas propostas o Grupo Operativo estruturou nove diretrizes que se desdobram em objetivos, planos, ações, responsáveis, prazos, metas e formas de monitoramento. Tais diretrizes são apresentadas abaixo: 1. Produzir ampla mobilização de gestores, trabalhadores, usuários, conselhos de saúde, organizações sociais, etc. para o debate e enfrentamento dos propósitos desta política. 2. Garantia dos direitos reprodutivos e sexuais a mulheres e homens levando-se em conta as desigualdades de gênero, raça, classe e expressão sexual. 3. Garantia de acesso a um pré-natal de qualidade, seja ele habitual ou de alto risco, para todas as gestantes. 4. Garantia de acesso ao parto seguro e humanizado. 5. Garantia do acompanhamento de qualidade para a mãe durante todo o puerpério. 6. Garantia do acompanhamento de qualidade ao bebê até 2 anos de vida. 7. Abordagem integral às vítimas de violência sexual e garantia do aborto legal. 8. Articulaçãocom o Setor Suplementar para desenvolvimento de ações qualificadoras do cuidado à gestante e criança. 9. Fortalecimento dos processos de Educação Permanente, Ensino e Pesquisa. A primeira diretriz perpassa toda a estratégia e é fundamental para o bom andamento das ações propostas e atingimento dos objetivos da Rede Cegonha em São Bernardo do Campo. Neste primeiro volume abordamos as diretrizes 3, 4 e 5, que estão em itens de descrição, protocolos e fluxos específicos. 3. ATENÇAO AO PRÉ-NATAL Garantia de acesso a um pré-natal de qualidade, seja ele de baixo ou de alto risco, para todas as gestantes. 3.1. DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ Nesse momento, o principal objetivo da Rede Cegonha é reconhecer as gestantes do território e vinculá-las, o mais breve possível, ao pré-natal. Esta atitude deve estar presente nas equipes de toda a rede de saúde e o processo de trabalho estar organizado para fazer este acolhimento e encaminhamento para a atenção básica de forma responsabilizada. Os agentes comunitários de saúde (ACSs), por seu papel estratégico no território, devem ser responsáveis pela busca ativa de gestantes e atuar de forma articulada com os demais membros da equipe na vinculação precoce e acompanhamento da gestante no pré-natal. Todas as gestantes do território do ACS devem ser visitadas mensalmente, mesmo as acompanhadas pela saúde suplementar ou encaminhadas para o pré-natal de alto risco do CAISM. O ACS deve preencher a ficha B do SIAB para cada gestante e discutir cada caso periodicamente em sua equipe de referência. As Unidades Básicas de Saúde são os pontos da Rede Cegonha, onde o TIG – teste imunológico de gravidez estará disponível. Serviços como o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM), Pronto Socorro (PS), Pronto Socorro Ginecológico e Obstétrico (PSGO), Unidades de Pronto Atendimento (UPA), Consultório de Rua, Programas de DST/HIV-Aids/Hepatites virais, tuberculose e hanseníase, também terão o exame disponível, mas com prioridade para uso nos diagnósticos diferenciais. IMPORTANTE NESSE MOMENTO: IDENTIFICAR SITUAÇÃO QUE GERA ABORTO LEGAL IDENTIFICAR MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA SEXUAL No caso de resultado negativo, a mulher deve ser orientada a repetir o teste em sete dias e para isso deve procurar a UBS de referência do seu bairro, além de receber aconselhamento e oferta de sorologias (HIV, VDRL, hepatite), insumos de prevenção (preservativo) e ser encaminhada para o planejamento familiar se desejado. No caso de resultado positivo, orienta-se o começo do PRÉ-NATAL na ATENÇÃO BÁSICA. Nesse caso, quando o teste foi realizado no CAISM, PS, PSGO, UPA, programas ou consultório de rua a mulher é encaminhada para o acolhimento da UBS de referência do seu bairro. IMPORTANTE: Quando o diagnóstico de gestação for realizado fora da atenção básica, deve-se operar o sistema de informação e vigilância para que a UBS de referência possa fazer a busca ativa da gestante caso ela não compareça à unidade. Já quando o teste foi realizado na UBS, é ofertado um atendi- mento individual com enfermeiro no mesmo momento. 3.2. CLASSIFICAÇÃO DE RISCO GESTACIONAL Após a confirmação da gravidez, uma importante ação da equipe de saúde é a classificação de risco gestacional. Na nossa população, pelas diferenças sócio-econômico- culturais, evidenciam-se inúmeros fatores de risco, de variadas montas e etiologias diversas. Partindo-se desta constatação, parece ser de maior interesse listar os fatores mais comuns na população em geral, não se utilizando escores. Assim, os fatores geradores de risco podem ser agrupados em quatro grandes grupos, que são: 1. Características individuais e condições sócio wdemográficas desfavoráveis; 2. História reprodutiva anterior à gestação atual; 3. Doenças obstétricas na gestação atual; 4. Intercorrências clínicas. 1. Características individuais e condições sócio demográficas desfavoráveis: • Idade menor que 18 e maior que 35 anos. • Riscos ocupacionais (esforço físico, carga horária, rotatividade de horário, exposição a agentes físicos, químicos e biológicos nocivos e estresse). • Situação conjugal insegura. • Baixa escolaridade. • Condições ambientais desfavoráveis. • Altura menor que 1,45 m. • Peso menor que 45 kg e maior que 75 kg. • Dependência de drogas lícitas ou ilícitas. 2. História reprodutiva anterior: • Morte perinatal explicada ou inexplicada. • Recém-nascido com crescimento restrito. • Recém-nascido pré-termo • Recém-nascido malformado. • Abortamento habitual (mais que um). • Esterilidade/infertilidade. • Intervalo interpartal menor que 2 anos ou maior que 5 anos. • Síndrome hemorrágica ou hipertensiva. • Cirurgia uterina anterior. As situações listadas acima, embora de risco, devem ser acompanhadas, na própria unidade básica de saúde, com apoio da equipe multiprofissional. Tendo em vista a complexidade de alguns destes casos, se necessário, a paciente poderá ser encaminhada para avaliação e/ou acompanhamento conjunto com o pré-natal de alto risco no CAISM. Nestes casos, sugere- se contato direto entre as equipes para discussão do caso e construção de um projeto terapêutico para a paciente. Nas UBS com ESF ampliada, as gestantes que apresentarem fatores de risco associados ao grupo 2 (história reprodutiva an- terior) devem ser acompanhadas pelo ginecologista, alternan- do com a enfermagem, conforme será descrito posteriormente. Portanto, a enfermeira, na primeira consulta do pré-natal, deve pesquisar estes fatores e se positivos, agendar consulta médica com o ginecologista. 3. Doença obstétrica na gravidez atual: • Crescimento fetal restrito • Gemelidade • Polidrâmnio • Oligoâmnio. • Trabalho de parto prematuro. • Ganho ponderal inadequado. • Pré-eclâmpsia e eclampsia. • Diabetes gestacional • Amniorrexe prematura. • Hemorragias da gestação. • Aloimunização. • Isoimunização. • Gravidez pós-data. 4. Intercorrências clínicas: • Hipertensão arterial. • Cardiopatias. • Pneumopatias. • Nefropatias. • Endrocrinopatias (diabetes e tireoidopatias). • Hemopatias (anemia falciforme). • Epilepsia. • Doenças infecciosas (Toxoplasmose, sífilis, Hepatite B, Hepatite C e HIV). • Doenças autoimunes (lúpus eritematoso sistêmico). • Ginecopatias. As gestantes que apresentarem algumas das situações listadas nos grupos três ou quatro serão classificadas como PRÉ-NATAL de ALTO RISCO e referenciadas ao CAISM, com exceção da sífilis que será acompanhada na UBS e os casos de hepatite B, C e HIV ao ambulatório de especialidades I (infectologia), o qual fará acompanhamento conjunto com a UBS. O agendamento da 1°consulta no CAISM será feito pela própria UBS via sistema informação e nosso objetivo é que o tempo de espera para esse atendimento não exceda sete dias. Embora essas gestantes tenham o seu pré-natal realizado principalmente no CAISM, é fundamental que a equipe de saúde da atenção básica também tenha informações sobre o plano de cuidados proposto. Para garantir essa comunicação entre as equipes, a linha do cuidado prevê: a utilização do instrumento de contra referência para 100% dos casos novos no CAISM e a construção de PTS (CAISM e UBS) nos casos mais complexos. Para o encaminhamento a infectologia (Programa DST/HIV/ AIDS e Hepatites virais), não há necessidade de agendamento, a gestante deverá comparecer na unidade das 8 ás 16 horas de segunda a sexta feira e a unidade que encaminhou devera comunicar a infectologia. 3.3. PRÉ-NATAL DE BAIXO RISCO OU RISCO HABITUAL 3.3.1. 1° TRIMESTRE (ATÉ 11° SEMANA COMPLETA) 3.3.1.1. ATENDIMENTO INDIVIDUAL COM ENFERMEIRO Esse atendimento deve ocorrer imediatamente após a confirmação do diagnóstico de gestação (não deve ser agendado) OBJETIVOS: • Verificar a aceitação da gestação e avaliar a necessidade de apoio adicional à grávida; • Orientar sobre o acompanhamento pré-natal; • Anamnese e exame físico (utilizar o SAE para assistência obstétrica); • Avaliar o Risco Gestacional (anexo A); • Coletar material para citologia oncótica,conforme protocolo estabelecido; • Fornecer suplemento com ácido fólico (sob prescrição médica); • Iniciar o PRÉ-NATAL DO HOMEM – orientando que o parceiro esteja presente na próxima consulta; • Preencher e fornecer a caderneta da gestante; • Abrir o SISPRENATAL; • Agendar grupo de pré-natal; • Agendar primeira consulta médica de acordo com o risco (sem presença de risco agendar consulta médica em no máximo 21 dias, com presença de risco agendar consulta médica em no máximo 10 dias); • Solicitar os exames do primeiro trimestre (independente da idade gestacional) e agendar coleta em no máximo três dias. O objetivo de agendar a coleta é a pactuação com a gestante de uma data breve para a coleta do exame, de forma que tenhamos garantido o resultado na consulta médica. A UBS deve se organizar para avaliar e anotar no prontuário os resultados dos exames antes que os mesmos sejam entregues à gestante. EXAMES SOLICITADOS NO 1° TRIMESTRE Hemograma Tipagem Sanguínea (Grupo ABO e Fator RH) Glicemia de Jejum Sorologia para Sífilis – VDRL * Sorologia para Hepatite B - HBs Ag e anti- HBs Sorologia para Hepatite C - Anti- HCV Sorologia anti-HIV ** Sorologia para Toxoplasmose (IgG e IgM), Sorologia para Rubéola Urina tipo I Urocultura com antibiograma Protoparasitológico de fezes Eletroforese de Hemoglobina USG obstétrico * No caso VDRL positivo, o laboratório realizará FTa Abs automaticamente. ** O fluxo confirmatório de HIV e entrega dos resultados será em no máximo 15 dias. 3.3.1.2. 1ª. CONSULTA MÉDICA A primeira consulta médica, nas UBS tradicionais e nas UBS com ESF tradicional, deve ser agendada com o ginecologista e o generalista, respectivamente. Nas UBS com ESF ampliada, as gestantes de baixo risco (sem risco ou com fatores de risco do grupo 1 devem ser agendadas com o generalista. As demais gestantes deverão ser agendadas e acompanhadas durante todo o pré-natal pelo ginecologista. Caso, durante o pré-natal o generalista identifique algum risco, deve discutir o caso com o GO, definindo se a mesma será encaminhada para o pré-natal de alto risco ou será a companhada na unidade de saúde de referência. Isto deve ocorrer em qualquer momento que for identificado algum risco. Importante lembrar que, mesmo quando a gestante é encaminhada para o pré-natal de alto risco, deverá continuar seu acompanhamento também na UBS. OBJETIVOS: • Anamnese e exame físico da mulher; • Avaliação dos resultados dos exames do 1º trimestre e caso algum exame estiver alterado, tomar as condutas indicadas neste protocolo para cada situação; • Reavaliação de risco da paciente e encaminhamento para pré-natal de alto risco se necessário (Anexo A); • Realizar aconselhamento e Solicitar os exames do parceiro (Tipagem sanguínea, sorologia para sífilis, sorologias para hepatite B e C e sorologia anti-HIV). O médico poderá acrescentar outros exames de acordo com o risco do paciente. 3.3.1.3. ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR Os grupos tradicionalmente oferecidos às gestantes durante o pré-natal devem, em suas estratégias, privilegiar a ampliação da autonomia da gestante no seu cuidado, a construção do vínculo com a equipe e a troca de experiência entre as pacientes, através de estratégias participativas. Cada gestante deve participar aproximadamente de 4 grupos durante a gestação, sendo sugerido os seguintes temas: Temas para abordagem em grupo • Valorização da importância do pré-natal; • Sintomas gerais do início da gestação e situações de risco; • Odontologia: fatores associados a doenças periodontais: hábitos de higiene, alimentação, erosão ácida; desmitificar o atendimento odontológico na gestação. A triagem por risco para o atendimento odontológico da gestante deverá acontecer na data do grupo. É fundamental que este tema esteja inserido no primeiro grupo realizado pela UBS; • Dúvidas em relação a aspectos nutricionais; • Direitos da gestante / mãe, do pai e da criança; • Orientações sobre adaptações fisiológicas; • Adequações, prevenção e tratamento das lombalgias; • Sexualidade; • Orientações sobre atividades físicas, nutricional, controle do peso. • Aleitamento Materno: manejo do aleitamento, (vantagens, dificuldades, resultados), hábitos de sucção sem fins nutricionais (chupeta), tipos de parto e suas vantagens, contato pele a pele e aleitamento na primeira meia hora de vida. Gestante HIV não pode amamentar e receberão fórmula láctea no Programa de DST/HIV/AIDS. • Estimulação e Desenvolvimento infantil (fornecer informações e dicas simples – que não necessitem de recurso financeiro- de como estimular à criança para um desenvolvimento afetivo e psicomotor saudável). Para apoiar a discussão nos grupos e tendo em vista a grande quantidade de informações relevantes para as gestantes, deverá ser utilizada a “CADERNETA DA GESTANTE”. Para além das ações em grupo e da entrega da caderneta da gestante, deve ser realizada visita domiciliar mensal do ACS. 3.3.2. 2° TRIMESTRE (12° até 27° semana completa) 3.3.2.1. ATENDIMENTO INDIVIDUAL DO ENFERMEIRO E DO MÉDICO. Os atendimentos realizados pela equipe de enfermagem e médica devem ocorrer de maneira alternada mensalmente. Considerando a Saúde Bucal da gestante, sempre que necessário, deve-se iniciar o atendimento odontológico a partir da 12ªsemana até no máximo 19ª semana (conforme protocolo de avaliação de risco odontológico). Seguir com observação do vínculo e ter claro que nem sempre a gestante se sente à vontade para falar do seu descontentamento com a gravidez de maneira clara e objetiva. Isto muitas vezes aparece de maneira velada. Por isso é mportante questionar sobre a movimentação do bebê entender como ela percebe esta movimentação (se uma forma de contato, de comunicação, de sinal de vida ou se é um incômodo, causa mal estar ou indiferença), perguntar sobre preferência do sexo (algumas vezes a rejeição pode ocorrer em função do bebê não ser do sexo desejado pelos pais), se já escolheu nome (é uma forma de entender sobre aceitação e inclusão deste bebê na família). Esta conversa “informal” pode gerar mais informações acerca do vínculo e aceitação da gestação do que abordar este assunto diretamente. Ações específicas para o cuidado: • Na 16ª semana: solicitar USG morfológica (realizar entre 20ª e 22ª semanas de gestação). • A partir da 24ª semana: todas as gestantes com história de prematuridade em gestação anterior deverão ser encaminha- das para o PSGO no HMU. Para estas gestantes será realizado teste da fibronectina. (ver justificativa no capítulo sobre trabalho de parto prematuro). • Na 26ª semana: solicitar exames do 3º trimestre: glicemia de jejum, VDRL, anti-HIV, CMV (IgG e IgM), toxoplasmose (IgG e IgM) se suscetível, Urina I, urocultura e USG obstétrica. Caso patrícia Realce o profissional avalie necessário, o exame de urina deve ser pedido de urgência e terá seu resultado disponibilizado pelo laboratório em no máximo 24 horas (este resultado é disponibilizado no sistema do laboratório, nas unidades que não tenham sistema pode ser solicitado o resultado via fax). • Entre 26ª semana e 28ª semana: imunização com imunoglobulina anti-D para gestante RH negativo, Coombs indireto negativo e parceiro RH positivo ou parceiro não testado (ver capítulo específico sobre este tema). • Em todos os atendimentos, reavaliar risco gestacional para, se necessário, encaminhar ao pré-natal de alto risco. 3.3.3. 3° TRIMESTRE (28ª semana ao final da gestação) 3.3.3.1. ATENDIMENTO INDIVIDUAL DO ENFERMEIRO E DO MÉDICO. Entre a 28ª e a 32ª semana o atendimento deverá ocorrer mensalmente, alternando consulta médica e consulta de enfermagem. Entre 32ª e a 36ª semana as consultas permanecem alternadas obrigatoriamente a cada 15 dias. A partir da 36ª semana as consultas passam a ser semanais, exclusivamente realizadas pelo médico. Ações específicas para o cuidado: • Orientar sobre sinais de alerta para procurar o serviço de saúde (perda de líquido, sangramento, diminuição da movimentaçãofetal e contrações a cada cinco minutos). Enfatizar a importância de sempre portar a caderneta da gestante. • Orientar a gestante sobre o controle dos movimentos fetais e do registro do mesmo no cartão da gestante a partir da 34ª Semana de gestação. • Coleta de pesquisa de estreptococos do grupo B anal e vaginal entre 35ª e 37ª semana (se exame positivo, anotar na caderne- ta da gestante para que seja feito profilaxia com antibioticote- rapia no trabalho de parto). • A partir da 36ª semana realizar consultas médicas semanais ou a critério médico. • USG obstétrica em torno de 32 semanas. • § A partir da 38ª semana de gestação, a critério médico, as gestantes que necessitarem realizar cardiotocografia basal anteparto para avaliação do bem-estar fetal, devem ter seu exame agendado pela equipe, via telefone, na UBS Vila Dayse. Os exames são realizados de segunda a sexta-feira das 8:00 as 17:00 horas. • Na 40ª semana, caso não tenha nascido, encaminhar para o ambulatório de pós-datismo no HMU, sendo que o agendamento deve ser imediato. • IMPORTANTE: Agendar visita da gestante e acompanhante ao HMU para conhecer a maternidade 3.4. ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO 3.4.1. GRUPOS DE GESTANTES: • Desmistificar o atendimento odontológico; • Alterações bucais na gravidez; • Orientações sobre a prevenção da cárie e doenças periodontais; • Orientação sobre higiene bucal e hábitos alimentares. Ações educativo-preventivas com gestantes qualificam sua saúde e tornam-se fundamentais para introduzir bons hábitos desde o início da vida da criança. A participação da equipe de saúde bucal no grupo com gestantes deve ser inserida pelo menos no primeiro trimestre da gestação. Neste momento, o intuito do grupo é proporcionar ações educativas que visem o cuidado com a cavidade bucal orientações sobre hábitos alimentares, higiene bucal), de forma objetiva, com metodologias participativas, numa r elação acolhedora e humanizada, criando um vínculo entre a equipe e a população assistida com uma visão do cuidado de forma integral. O pré-natal odontológico inclui ações como a de desmistificar crenças e valores sobre a gravidez e o tratamento odontológico propriamente dito; conscientizar a respeito das doenças bucais decorrentes das náuseas e os vômitos, a hiperacidez do meio bucal, as quais precisam ser controladas para evitar a desmineralização do esmalte e dentina (perimólise ou erosão ácida). 3.4.2. ATENDIMENTO INDIVIDUAL NO MESMO DIA DO GRUPO • Anamnese • Assinar Consentimento • Exame físico: Avaliar o Risco • Encaminhar o fluxo Médico-Cirurgião Dentista - Rotina UBS • Agendamento 2º trimestre para atendimento 3.4.3.1ª CONSULTA CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DO RISCO Patologias periodontais atuais e também lesões orais, bem como antecedentes de problemas periodontais em outras gestações e/ou doenças sistêmicas gestacionais. Critério de risco de cárie: classificadas de Alto Risco, segundo o Grupo D, E e F; de acordo com as recomendações da SES-SP. O ideal é realizar o atendimento odontológico no segundo trimestre da gestação. 3.4.4. 2ª CONSULTA Realizar a raspagem e alisamento corono-radicular; com avaliação do Índice Periodontal Comunitário, CPI; ou seja, um tratamento periodontal básico, PARA TODAS AS GESTANTES. Se necessário, agendar para outros procedimentos de assistên- cia em saúde bucal, somente as gestantes que apresentarem risco, segundo os critérios avaliados. As seguintes condutas são indicadas: 1º - é fundamental iniciar com a raspagem e alisamento corono-radicular; e avaliação do Índice Periodontal Simplificado, CPI; ou seja, um tratamento periodontal básico, para todas as gestantes; 2º - tratamento restaurador atraumático, ART; s/n; 3º - eliminação de focos dentários; exodontias simples; s/n; 4º - encaminhamento para CEO; s/n; 5º- postergar procedimentos eletivos para serem realizados após o nascimento do bebê; s/n. Encaminhamentos para o Centro de Especialidades Odontoló- gicas – CEO: • PERIODONTIA: os critérios do encaminhamento é a presença de periodontopatias. • ESTOMATOLOGIA: quando apresentar lesões de tecido mole, como granuloma piogênico; e outros. • ENDODONTIA: realizar curativo de demora; encaminhar para tratamento endodôntico, e informar à mãe que este será agendado para atendimento após o nascimento do bebê. Em alguns casos excepcionais poderá ser avaliado o tratamento endodôntico com a utilização do localizador apical, se este aparelho estiver disponível. • CIRURGIA: serão avaliados; sendo o ideal serem programa- das para realização no período pós-parto. CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DE RISCO PARA CÁRIE DENTÁRIA Classes de risco de cárie dentária e critérios para inclusão segundo a situação individual. Classificação Grupo Situação Individual Baixo risco A Ausência de lesão de cárie, sem placa, sem gengivite e/ou sem mancha branca ativa Risco Moderado B C História de dente restaurado, sem placa, sem gengivite e/ou sem mancha branca ativa Uma ou mais cavidades em situação de lesão de cárie crônica sem placa, sem gengivite e/ou sem mancha branca ativa Alto Risco D E F Ausência de lesão de cárie e/ou dente restaurado, mas com presença de placa, de gengivite e/ou de mancha branca ativa Uma ou mais cavidades em situação de lesão de cárie aguda Presença de dor e/ouabscesso AVALIAÇÃO PERIODONTAL: ÍNDICE PERIODONTAL COMUNITÁRIO - CPI Dividir a boca em sextantes: Dentes índices: Até 19 anos: 16, 11, 26, 36, 31 e 46. 20 anos ou mais: 17, 16, 11, 26, 27, 37, 36, 31, 46 e 47. Códigos - São os seguintes os códigos utilizados no CPI 0 - sextante hígido; 1 - sextante com sangramento (observado diretamente ou com espelho, após sondagem); 2 - cálculo (qualquer quantidade, mas com toda a área preta da sonda visível); 3 - bolsa de 4 mm a 5 mm (margem gengival na área preta da sonda); 4 - bolsa de 6 mm ou mais (área preta da sonda não está visível); X - sextante excluído (menos de 2 dentes presentes); 9 - sextante não examinado. 3.5. AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL (EN) E DO GANHO DE PESO GESTACIONAL Objetivo: avaliar e acompanhar o estado nutricional da gestante e o ganho de peso durante a gestação para: • Identifi car, a partir de diagnóstico oportuno, as gestantes em risco nutricional (baixo peso, sobrepeso ou obesidade) no início da gestação; • Detectar as gestantes com ganho de peso baixo ou excessivo para a idade gestacional; • Realizar orientação adequada para cada caso, visando à promoção do estado nutricional materno, condições para o parto e peso do recém-nascido. 3.5.1. ORIENTAÇÕES PARA O DIAGNÓSTICO E O ACOMPANHAMENTO DO ESTADO NUTRICIONAL DA GESTANTE NA PRIMEIRA CONSULTA DE PRÉ-NATAL Na primeira consulta de pré-natal, a avaliação nutricional da gestante com base em seu peso e sua estatura permite conhecer seu estado nutricional atual e subsidia a previsão de ganho de peso até o fi m da gestação. Essa avaliação deve ser feita conforme descrito a seguir: I. Calcule o IMC e a idade gestacional: Índice de Massa Corporal (IMC): Peso (kg) / altura2 (m) Calcule a idade gestacional: Obs.: quando necessário, arredonde a semana gestacional da seguinte forma: 1, 2, 3 dias considere o número de semanas completas; e 4, 5, 6 dias considere a semana seguinte. Exemplo: • Gestante com 12 semanas e 2 dias = 12 semanas • Gestante com 12 semanas e 5 dias = 13 semanas II. Realize o diagnóstico nutricional, utilizando o gráfi co: • Realize o diagnóstico e o acompanhamento do estado nutricional, utilizando o gráfi co de IMC por semana gestacional. O gráfi co é composto por eixo horizontal com valores de semana gestacional e por eixo vertical com valores de IMC [peso (kg) /altura2 (m)]. O interior do gráfi co apresenta o desenho de três curvas, que delimitam as quatro faixas para classifi cação do EN: Baixo peso (BP), adequado (A), sobrepeso (S) e obesidade (O). • Localize, no eixo horizontal, a semana gestacional calculada e identifi que, no eixo vertical, o IMC da gestante; • Marque um ponto na interseçãodos valores de IMC e da semana gestacional; • Classifi que o EN da gestante, segundo IMC por semana gestacional, conforme legenda do gráfi co: BP, A, S, O; Obs.: o ideal é que o IMC considerado no diagnóstico inicial da gestante seja o IMC pré-gestacional referido ou o IMC calculado a partir de medição realizada até a 13ª semana gestacional. Caso isso não seja possível, inicie a avaliação da gestante com os dados da primeira consulta de pré-natal, mesmo que esta ocorra após a 13ª semana gestacional. III. Condutas segundo a avaliação do estado nutricional encontrado: • Baixo peso (BP): investigar história alimentar, hiperêmese gravídica, infecções, parasitoses, anemias e doenças debilitantes; dar orientação nutricional, visando à promoção do peso adequado e de hábitos alimentares saudáveis; remarcar consulta em intervalo menor que o fi xado no calendário habitual; • Adequado (A): seguir calendário habitual, explicar à gestante que seu peso está adequado para a idade gestacional, dar orientação nutricional, visando à manutenção do peso adequado e à promoção de hábitos alimentares saudáveis; • Sobrepeso e obesidade (S e O): investigar obesidade pré-gestacional, edema, polidrâmnio, macrossomia, gravidez múltipla; dar orientação nutricional, visando à promoção do peso adequado e de hábitos alimentares saudáveis, ressaltando que, no período gestacional, não se deve perder peso; remarcar consulta em intervalo menor que o fi xado no calendário habitual. GANHO DE PESO ESPERADO DE ACORDO COM O ESTADO NUTRICIONAL INICIAL Estado nutricio- nal (IMC) Ganho de peso total no 1º Trimestre (kg) Ganho de peso semanal médio (kg) no 2º E 3º Trimestres Ganho de peso total (kg) Baixo peso 2,3 0,5 12,5 – 18 Adequado 1,6 0,4 11,5 – 16 Sobrepeso 0,9 0,3 7 – 11,5 Obesidade - 0,3 7 Em função do estado nutricional pré-gestacional ou no início do pré-natal, estime o ganho de peso total até o fi m da gestação. Para cada situação nutricional inicial (baixo peso, adequado, sobrepeso ou obesidade), há uma faixa de ganho de peso recomendada. Portanto, já na primeira consulta, devem-se estimar quantos gramas a gestante deverá ganhar no primeiro trimestre, assim como o ganho por semana até o fi m da gestação. Essa informação deve ser anotada na carteira da gestante. Observe que as gestantes deverão ter ganho de peso distintos, de acordo com seu IMC inicial. Essa variabilidade de ganho recomendado deve-se ao entendimento de que gestantes com BP acentuado, ou seja, aquelas muito distantes da faixa de normalidade devem ganhar mais peso do que aquelas classifi cadas como peso adequado, sobrepeso ou obesidade. NAS CONSULTAS SUBSEQUENTES Nas consultas subsequentes, a avaliação nutricional deve ser feita da seguinte maneira: • A marcação de dois ou mais pontos no gráfi co (primeira con- sulta e subsequentes) possibilita construir o traçado da curva por semana gestacional. • Ligue os pontos obtidos e observe o traçado resultante. • De acordo com o estado nutricional da primeira consulta, a curva deve apresentar inclinação conforme descrito abaixo: Estado nu- tricional na 1ª consulta Inclinação da curva Baixo peso (BP) Curva de ganho de peso deve apresentar inclinação maior que a da curva que delimita a parte inferior da faixa de estado nutricional adequado. Adequado (A) Deve apresentar inclinação paralela às curvas que delimitam a área de estado nutricional adequado no gráfico. Sobrepeso (S) Deve apresentar inclinação ascendente semelhante à da curva que delimita a parte inferior da faixa de sobrepeso ou à curva que delimita a parte superior dessa faixa, a depender do seu estado nutricional inicial. Por exemplo: se uma gestante de sobrepe- so inicia a gestação com IMC próximo ao limite inferior dessa faixa, sua curva de ga- nho de peso deve ter inclinação ascendente semelhante à curva que delimita a parte inferior dessa faixa no gráfico. Obesidade (O) Deve apresentar inclinação semelhante ou inferior (desde que ascendente) à curva que delimita a parte inferior da faixa de obesidade. É de extrema importância o registro do estado nutricional tanto no prontuário quanto no cartão da gestante. A avaliação do estado nutricional é capaz de fornecer informações importantes para a prevenção e o controle de agravos à saúde e nutrição, contudo vale ressaltar a importância da realização de outros procedimentos que possam complementar o diagnóstico nutricional ou alterar a interpretação deste, conforme a necessidade de cada gestante. Assim, destaca-se a avaliação clínica para detecção de doenças associadas à nutrição (ex.: diabetes), a observação da presença de edema, que acarreta aumento de peso e confunde o diagnóstico do estado nutricional, a avaliação laboratorial, para diagnóstico de anemia e outras doenças de interesse clínico, conforme as normas deste manual. GESTANTE ADOLESCENTE – OBSERVAÇÕES Deve-se observar que a classificação do estado nutricional na gestação aqui proposta não é específica para gestantes adolescentes, devido ao crescimento e à imaturidade biológica nessa fase do ciclo de vida. No entanto, essa classificação pode ser usada, desde que a interpretação dos achados seja flexível e considere a especificidade desse grupo. Para adolescentes que engravidaram dois ou mais anos depois da menarca (em geral maiores de 15 anos), a interpretação dos achados é equivalente à das adultas. Para gestantes que engravidaram menos de dois anos após a menarca, é provável que se observe que muitas serão classificadas como de baixo peso. Nesses casos, o mais importante é acompanhar o traçado, que deverá ser ascendente; tratar a gestante adolescente como de risco nutricional; reforçar a abordagem nutricional e aumentar o número de visitas à unidade de saúde. 3.6. PREVENÇÃO DO TÉTANO NEONATAL IMUNIZAÇÃO ANTITETÂNICA Vacinação da gestante: a vacinação das mulheres em idade fértil (10 a 49 anos), gestantes e não gestantes, é medida essencial para a prevenção do tétano neonatal. Deve ser reali- zada com a vacina dupla tipo adulto (dT – contra a difteria e o tétano) nas mulheres que não têm vacinação prévia ou têm es- quema vacinal incompleto. De acordo com protocolo do PHPN, a gestante pode ser considerada imunizada com, no mínimo, duas doses da vacina antitetânica, sendo que a segunda dose deve ser realizada até 20 dias antes da data provável do parto. Observar história de imuni- zação antitetânica compro- vada pelo cartão de vacina Conduta Sem nenhuma dose registrada Iniciar o esquema vacinal o mais precocemente possível, independentemente da idade gestacional, com três doses, com intervalo de 60 dias ou, no mínimo, 30 dias Menos de três doses Completar as três doses o mais recocemente possível, com intervalo de 60 dias ou, no mínimo, 30 dias Três doses ou mais, sendo a última dose há menos de cinco anos Não é necessário vacinar Três doses ou mais, sendo a última dose há mais de cinco anos Uma dose de reforço A imunização somente deverá ser considerada com a apresentação do comprovante – cartão de vacina. Fora da gravidez, a dose de reforço deve ser administrada a cada dez anos. Em caso de nova gestação, deverá ser observado o esquema acima. O objetivo a ser atingido é a vacinação de 100% das mulheres em idade fértil (gestantes e não gestantes). Eventos adversos Caso ocorram eventos adversos à vacina, estes podem manifestar-se na forma de dor, calor, vermelhidão, edema ou enduração local, ou febrícula de duração passageira, odendo ocasionar mal-estar geral. A continuidade do esquema de vacinação está contraindicada quando houver reação de hipersensibilidade (reação anafi lática) após a administração de qualquer dose. UBS REPETIR TESTE DE GRAVIDEZ EM 7DIAS fLUXO GERAL DO PRÉ-NATAL DE RISCO HABITUAL OU BAIXO RISCO SAÚDE DA MULHER ATENÇÃO GINECOLÓGICA ASSISTÊNCIA GERAL GINECOLÓGICA DESEJO DE ENGRAVIDAR ACONSELHAMENTO PRÉ-GESTACIONAL GESTANTE Importante: Identifi car situaçãoque gera aborto legal Identifi car mulheres em situação de violência sexual PLANEJAMENTO FAMILIAR SUSPEITA DE GRAVIDEZ UBS ACOLHIMENTO TESTE DE GRAVIDEZ UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE ACOLHIMENTO DO PRÉ-NATAL 1° CONSULTA MÉDICA DO PRÉ-NATAL EM 10 DIAS NO MÁXIMO TESTE POSITIVO? TESTE POSITIVO? PRÉ-NATAL DE ALTO RISCO? ATENDIMENTO INDIVIDUAL ENFERMEIRO • Orientar sobre acompanha- mento Pré-natal • Anamnese e exame físico (usar SAE assistência obstétrica) • Avaliar o risco gestacional • Coletar material para o Papanicolau s/n • Iniciar pré-natal do homem • Fornecer ácido fólico • Solicitação de exames do 1° trimestre • Agendar grupo do 1° trimestre • Agendar consulta médica • Abertura do Sispré-natal • Fornecer caderneta da gestante EXAMES DO 1° TRIMESTRE • Hemograma completo • Tipagem sanguínea • Glicemia de jejum • Sorologia para Sífi lis • Sorologia para Hepatite B e C • Sorologia para Toxoplasmose • Sorologia anti-HIV • Sorologia Rubéola • Sorologia CMV • Urina tipo 1 • Urocultura e Antibiograma • Protoparasitológico de Fezes • USG obstétrico (com avalia- ção da translucência nucal) CRITÉRIOS DE RISCO • Características individu- ais e sociodemográfi cas • História reprodutiva anterior a gestação atual • Doenças obstétricas da gestação atual • Intercorrências clínicas PERSISTÊNCIA DA AMENORRÉIA? SIM SIM SIM NÃO NÃO SIM NÃO NÃO ATENÇÃO OBSTÉTRICA 1° CONSULTA MÉDICA DO PRÉ-NATAL EM 21 DIAS NO MÁXIMO PSGO CAISM CMEM +UBS • AMBULATÓRIO DE PÓS-DATISMO • HMU PRESENÇA DE INTERCORRÊNCIA AGUDA? PRÉ-NATAL DE RISCO? PERÍODO DE GESTAÇÃO > 40 SEMANAS? 1° CONSULTA MÉDICA DO PRÉ-NATAL • Anamnese e exame físico da mulher • Avaliação dos exames do 1° trimestre • Solicitar exames do parceiro • Reavaliar o risco gestacional PRÉ-NATAL 2°TRIMESTRE 12a até 27a semana completa • Intercalar mensalmente consulta médica e de enfermeira • Incentivar participação no grupo do 2°trimestre • Avaliar exames solicitados para o parceiro • Se necessário, iniciar tratamento odontológico na 12° semana • Solicitar USG morfológica na 16° semana (realizar entre a 20° e 22° semana) • Solicitar os exames do 3° trimestre na 26° semana • Realizar imunização com Imuno- globulina anti-D (se gestante RH Negativo, COOMBS Negativo ou parceiro não testado PRÉ-NATAL 3°TRIMESTRE 28a semana até parto • Entre 28° e 36° semanas – consultas médicas quinzenais • A partir da 36° semana – consultas semanais • Incentivar a participação no grupo do 3° trimestre • Coleta de material para pesquisa de Strepto. B anal e vaginal entre 35° e 37° semanas • Solicitar USG obstétrico, caso necessário EXAMES PRÉ-NATAL DO HOMEM • Tipagem sanguínea • Sorologia para Sífilis • Sorologia anti-HIV • Sorologia Hepatite virais EXAMES DO 3° TRIMESTRE • Hemograma completo Glicemia de jejum Sorologia para Sífilis Sorologia anti-HIV Sorologia para Toxoplasmose (se suscetível) Sorologia CMV Urina tipo 1 Urocultura e Antibiograma USG obstétrico SIM NÃO NÃO SIM SIM PARTO HMU ou HOSPITAL DE REFERÊNCIA 3.7. INTERCORRÊNCIAS NO PRÉ-NATAL 3.7.1. ANEMIA CARENCIAL As anemias carenciais são muito frequentes em nosso meio, principalmente a ferropriva e a megaloblástica. Na gestação, a ocorrência de anemia é aumentada, devido às alterações hemodinâmicas características do período gestacional. Devem-se considerar os seguintes parâmetros para o diagnóstico e acompanhamento da anemia ferropriva nas gestantes: Hemoglobina ≥11 g/dl: ausência de anemia. Manter a suplementação de 40 mg/dia de ferro elementar e 5 mg de ácido fólico, a partir da 20ª semana, devido à maior intolerância digestiva no início da gravidez. Recomenda-se ingestão uma hora antes das refeições. Hemoglobina < 11 g/dl e > 8 g/dl: diagnóstico de anemia leve a modera- da. Prescrever sulfato ferroso em dose de tratamento de anemia ferropriva (120 a 240 mg de ferro elementar/dia), de três a seis drágeas de sulfato ferroso/dia, via oral, uma hora antes das principais refeições. Repetir o exame em 60 dias. Se os níveis estiverem subindo, manter o tratamento até a hemoglobina atingir 11 g/dl, quando deverá ser mantida a dose de suplementação (40 mg ao dia), e repetir o exame em torno da 30ª semana. Se os níveis de hemoglobina permanecerem estacionários ou em queda, referir a gestante ao pré-natal de alto risco. Hemoglobina < 8 g/dl: diagnóstico de anemia grave. A gestante deve ser referida imediatamente ao pré-natal de alto risco. SULFATO FERROSO: 1 comprimido = 200 mg, o que corresponde a 40 mg de ferro elementar 3.6.1.1 Anemia falciforme e outras anemias: A anemia falciforme, predominante entre afrodescendentes, é a doença hereditária mais comum no Brasil. A gravidez é uma situação potencialmente grave para as pacientes com doença falciforme, assim como para o feto e para o recém-nascido. Os efeitos na gravidez podem ser aumento das crises doloro- sas, piora do quadro de anemia, abortamento, crescimento intrauterino retardado, trabalho de parto prematuro e toxemia gravídica. O diagnóstico de anemia falciforme é comprovado com o exame de eletroforese de hemoglobina, que deve ser solicitado para todas as gestantes no primeiro trimestre. São também relativamente comuns a talassemia e a anemia micro angiopática. nos casos de anemia falciforme e talassemia major encaminhar para pré-natal de alto risco. 3.7.2. PARASITOSES Embora nenhuma das parasitoses, habitualmente, constitua-se em situação de grande importância clínica durante a gestação, é importante lembrar que a anemia delas decorrente pode agravar a anemia, tão comum na gravidez. Assim, recomenda-se a realização de exame protoparasitológico de fezes em todas as mulheres grávidas, sobretudo naquelas de nível socioeconômico mais desfavorecido, para o adequado tratamento ainda na vigência da gestação. O momento oportuno para o tratamento é o mais precoce possível para evitar os potenciais riscos teratogênicos das drogas e a somatória de seu efeito emético à emese da gravidez. Medicamentos indicados na terapêutica das parasitoses intestinais durante a gestação: PARASITOSE MEDICAMENTO POSOLOGIA Ancilostomíase Albendazol 1 cp dose única Ascaridíase Albendazol 1 cp dose única Enterobíase Albendazol 1 cp dose única Esquistossomose Oxaminiquine Praziquantel Ditioletiona CONTRAINDICADOS: TRATAR NO PUERPÉ- RIO (após término da amamentação) Estrongiloidíase Tiabendazol 50mg/kg/dias, em duas tomadas, por 2 dias Himenolepíase Praziquantel Niclosamida CONTRAINDICADOS: TRATAR NO PUERPÉ- RIO (após término da amamentação) Teníase Albendazol 1 cp dose única Tricuríase Albendazol 1 cp dose única Amebíase Metronidazol 250mg, 3 vezes ao dia, por 10 dias Giardíase Metronidazol 250mg, 3 vezes ao dia, por 10 dias 3.7.3. ÊMESE E HIPERÊMESE GRAVÍDICA A hiperêmese gravídica caracteriza-se por vômitos contínuos e intensos que impedem a alimentação da gestante, ocasionando desde a desidratação e oligúria até perda de peso (acima de 5%) e transtornos metabólicos. Nos casos graves, pode chegar à insuficiência hepática, renal e neurológica. Fatores etiológicos: aspectos emocionais e adaptações hormonais são os mais comuns. Atenção: pode estar associada à gestação múltipla, mola hidatiforme, pré-eclâmpsia, diabetes e aloimunização Rh. Outros fatores que devem ser afastados são úlcera gástrica, cisto torcido de ovário, gravidez ectópica, insuficiência renal, infecções intestinais, etc. Os vômitos tardios da gravidez não devem ser confundidos com hiperêmese gravídica. Conduta: Todos os casos de hiperêmese devem ser referenciados para o PSGO do HMU. Os casos de emese gravídica deverão receber apoio psicológico, ações educativas desde o início da gravidez e reorientação alimentar. Nas situações de emese persistente, o profissional de saúde deve prescrever drogas antieméticas, por via oral ou intravenosa, além de hidratação e reposição eletrolítica, quando necessária. Antieméticosorais • Metoclopramida – 10 mg de 4 em 4 horas. Antieméticos injetáveis • Metoclopramida – 10 mg (uma ampola = 10 ml) de 4 em 4 horas. • Dimenidrato – 50 mg (uma ampola = 1 ml) de 6 em 6 horas. Indicações de internação: quando o tratamento inicialmente instituído com hidratação e antieméticos não apresentar a resposta esperada ou quando a gestante já apresentar complicações do equilíbrio eletrolítico e ácido básico. (PS) 3.7.4. SÍNDROMES HEMORRÁGICAS As situações hemorrágicas mais importantes durante a gravidez são: • Primeira metade - abortamento, gravidez ectópica, neoplasia trofoblástica gestacional. • Segunda metade - placenta prévia (PP), descolamento prematuro da placenta (DPP). É importante ressaltar que, considerando as alterações volêmicas fisiológicas do ciclo gravídico-puerperal, a paciente frequentemente demora em exibir repercussões hemodinâmicas. Quando elas aparecem, a descompensação circulatória já está instalada. Nas mulheres identificadas como Rh negativo, valorizar a necessidade de imunoprofilaxia Rh quando o parceiro for Rh positivo ou desconhecido. 3.7.4.1. ABORTAMENTO Definição: é a morte ou expulsão ovular ocorrida antes de 22 semanas, ou quando o concepto pesa menos de 500 g. O abortamento é dito precoce quando ocorre até a 13ª semana e tardio quando ocorre entre a 13ª e 22ª semanas. É dividido em evitável (quando não há modificação do colo, presença de saco embrionário íntegro e/ou concepto vivo), incompleto (quando há modificação do colo e restos ovulares) ou retido (presença de concepto morto ou ausência de saco embrionário). O diagnóstico é clínico e ultrassonográfico. A ameaça de abortamento pode evoluir para gestação normal ou para abortamento inevitável. O uso de tocolíticos não é eficiente, uma vez que, nessa ase da gestação, os beta-receptores uterinos não estão adequadamente sensibilizados. Tranquilizantes e/ou sedativos, em doses pequenas, podem ser administrados. Entre os achados ultrassonográficos, pode ser descrita a área que sugere descolamento corioamniótico, que geralmente cursa com evolução favorável para a mulher e o embrião. O aspecto ultrassonográfico do saco gestacional (se regular ou não), seu local de implantação (se próximo ao canal cervical) e ocorrência de hidropisia da vesícula vitelínica podem servir, além de outros, como parâmetros para o curso de evolução. 3.7.4.2. GRAVIDEZ ECTÓPICA Definição: corresponde à nidação do ovo fora da cavidade uterina. Quando suspeitar: história de atraso menstrual, teste positivo para gravidez, perda sanguínea uterina e dores no baixo ventre. Diagnóstico: avaliar condições gerais, sinais de irritação peritoneal, entre outros. O exame especular pode mostrar a presença do sangramento. Pelo toque vaginal, verifica-se amolecimento do colo e presença ou não de aumento uterino e a palpação das regiões anexiais pode provocar dor e demonstrar presença de tumor. O diagnóstico de certeza é ultrassonográfico. Conduta: na suspeita diagnóstica, encaminhar a mulher ao PSGO para exame ultrassonográfico, definição e tratamento. 3.7.4.3. MOLA HIDATIFORME Quando suspeitar: • Presença de sangramento vaginal intermitente, geralmente de pequena intensidade, indolor e, por vezes, acompanhado da eliminação de vesículas (sinal patognomônico); • Altura uterina ou o volume uterino incompatíveis com o esperado para a idade gestacional, sendo maiores previamente a um episódio de sangramento e menores após (útero em sanfona). • Presença de hiperêmese mais acentuada, podendo levar a mulher a estados de desidratação e distúrbios hidroeletrolíticos. • Presença de hipertensão arterial precoce, já que essa é uma das poucas condições de pré-eclâmpsia previamente à 20ª semana de gestação. Diagnóstico: ultrassonográfico. Conduta: na suspeita clínica de mola hidatiforme, os casos devem ser encaminhados para o PSGO. 3.7.4.4. PLACENTA PRÉVIA Definição: corresponde a um processo patológico em que a implantação da placenta, inteira ou parcialmente, ocorre no segmento inferior do útero. Fatores de risco: • Multiparidade; • Antecedentes de cesáreas e outras manipulações cirúrgicas uterinas; • Endometrites anteriores; • Gestantes em idade avançada. Quando suspeitar: • Perda sanguínea por via vaginal, súbita, de cor vermelha viva, de quantidade variável, não acompanhada de dor, episódica, recorrente e progressiva; • Frequentemente ocorre na 30ª semana (sangramento sentinela); • Exame obstétrico revela volume e tono uterinos normais; • Frequentemente com apresentação fetal anômala; • De maneira habitual, os batimentos cardíacos fetais estão mantidos; • Exame especular revela presença de sangramento proveniente da cavidade uterina. Importante: na suspeita clínica, deve-se evitar a realização de toque vaginal. Diagnóstico de certeza: ultrassonográfico. Conduta: encaminhar para o PSGO que definirá se o seguimento posterior será no CAISM ou na UBS. 3.7.4.5. DESCOLAMENTO PREMATURO DA PLACENTA Definição: é a separação abrupta da placenta antes do nascimento do feto, sendo responsável por altos índices de mortalidade perinatal e materna. Fatores de risco: • Hipertensão arterial; • Tabagismo; • Esvaziamento rápido do polidrâmnio; • Idade materna avançada; • Multiparidade; • Antecedente de descolamento prematuro da placenta; • Uso de drogas ilícitas, notadamente a cocaína e o crack. Quando suspeitar: • Aparecimento de dor abdominal súbita, com intensidade variável; • Perda sanguínea de cor vermelha escura e às vezes em quantidade pequena, que pode ser incompatível com quadro materno de hipotensão ou de choque. Em alguns casos, o sangramento pode ser oculto (20%); • O útero, em geral, encontra-se hipertônico, doloroso, sensível às manobras palpatórias; • Os batimentos cardíacos fetais podem estar alterados ou ausentes; • Comprometimento variável das condições gerais maternas, desde palidez de pele e mucosas até choque e distúrbios da coagulação sanguínea. Conduta: na suspeita diagnóstica, encaminhar, como emergência, ao PSGO (acionar o SAMU). Conduta na UBS: suporte até o transporte para o PSGO (vias aéreas, acesso venoso). 3.8. INFECÇOES NA GESTAÇAO 3.8.1. SÍFILIS NA GESTAÇÃO A sífilis é uma doença infecciosa, de caráter sistêmico e de evolução crônica, sujeita a surtos de agudização e períodos de latência. A transmissão é predominantemente sexual ou materno-fetal (vertical), podendo produzir, respectivamente, a forma adquirida ou congênita da doença. A sífilis na gestação é um agravo de notificação compulsória e requer intervenção imediata para que se reduza ao máximo a possibilidade de transmissão vertical e a ocorrência de sífilis congênita. Esta também é de notificação compulsória e é evento marcador da qualidade da assistência à saúde materno-fetal em razão da efetiva redução do risco de transmissão transplacentária, sendo uma entidade de simplicidade diagnóstica e fácil manejo clínico/terapêutico. A infecção do feto depende do estágio da doença na gestante, ou seja, quanto mais recente a infecção materna, mais treponemas estão circulantes e, portanto, mais grave e frequente será o comprometimento fetal. Nesse caso, o risco de acometimento fetal varia de 70% a 100%. CLASSIfICAçãO DA SífILIS: Sífilis Tempo de Evolução fase Adquirida recente < 1 ano Primária, secundária e latente recente Adquirida tardia > 1 ano Latente tardia e terciária Congênita recente Diagnóstico até o 2º. Ano de vida Congênita tardia Diagnóstico após o 2º. Ano de vida O diagnóstico clínico, na fase primária, é dado pela identificação do cancro duro, uma úlcera indolor, única, com bordos sobrelevados duros e fundo limpo, podendo se acompanhar de linfoadenopatia satélite e tende a desaparecer em 2 a 6 semanas. Esse sinal, quando localizado internamente (vagina, colo uterino), pode passar despercebido na mulher. Na fase secundária, o diagnóstico clínico é dado por erupções cutâneas generalizadas (roséolas sifilíticas), em especial quando se observam lesões palmoplantares,além de queda de cabelo (alopecia) e placas úmidas na região vulvar e perineal (condiloma plano). Na fase terciária, a lesão característica é a goma sifilítica, que pode ocorrer em pele, ossos, cérebro etc. Existe uma fase chamada de latente, entre a secundária e terciária, podendo ser latente recente (inferior a 1 ano) e latente tardia (superior a 1 ano), cursando sem manifestação clínica, porém permanece o risco de transmissão vertical. O diagnóstico na fase primária e secundária é clínico e sorológico; nas formas latentes e terciária é sorológico. Havendo sintomas neurológicos deve-se pesquisar no líquor. Consequências e Diagnóstico da Sífilis Gestacional Pode ser causa de abortamento tardio (a partir do quarto mês), natimortos, hidropsia fetal e parto prematuro. Estudos mostram fetos abortados com nove semanas de gestação que apresentavam o treponema ao exame histopatológico, indicando que abortamentos precoces também podem ser causados por sífilis. No RN, as manifestações clínicas podem variar do nascimento de crianças assintomáticas (o mais comum) aos quadros sintomáticos extremamente graves e potencialmente fatais. O diagnóstico sorológico é feito pelo VDRL (teste não-treponêmico) e confirmado pelo FTA-abs ou TPHA (testes treponêmicos). No município de São Bernardo do Campo, se VDRL positivo o laboratório imediatamente realizará o FTA-abs para confirmação, conforme recomendação de nota técnica do Ministério da Saúde. O VDRL torna-se reativo a partir da segunda semana depois do aparecimento do cancro (sífilis primária) e, em geral, está mais elevado na fase secundária da doença. Os títulos tendem a decrescer gradativamente até a negativação com a instituição do tratamento a partir do primeiro ano de evolução da doença, podendo permanecer baixos por longos períodos. TRATAMENTO DA GESTANTE E DO PARCEIRO: Sífilis primária penicilina benzatina 2,4 milhões UI, via IM, em dose única (1,2 milhões em cada glúteo) Sífilis secundária e latente recente penicilina benzatina 2,4 milhões UI (1,2 milhões IM em cada glúteo), repetida após uma semana. Sífilis latente tar- dia, terciária ou com evolução por tempo indeterminado penicilina benzatina 2,4 milhões UI (1,2 milhões, IM, em cada glúteo), semanal, por três semanas. Dose total de 7,2 milhões UI. fLUXO DA SOROLOGIA PARA SífILIS NA PRIMEIRA CONSULTA Realiza sorologia para Sífilis na primeira consulta Repetir com 28 semanas e orientar uso de preservativo Tratamento da gestante e do parceiro Considerar cicatriz sorológica e repetir teste em 28 semanas VDRL reagente? FTA-Abs reagente? Realizou tratamento adequado do casal? NÃO SIM SIM SIM NÃO NÃO As gestantes tratadas requerem seguimento sorológico quantitativo mensal durante a gestação, devendo ser novamente tratadas, mesmo na ausência de sintomas, se ão houver resposta ou se houver aumento de, pelo menos, duas diluições em relação ao último título de VDRL (ex.: de ½ para 1/8); Importante: o tratamento materno deve ser instituído e finalizado até 30 dias antes do parto, intervalo mínimo necessário para que o recém-nascido seja considerado tratado intra-útero e o parceiro deve ser tratado. Se algum destes fatos não ocorrer o tratamento da criança deve ser instituído precocemente. Após o parto a puérpera deve ser encaminhada e acompanhada no Ambulatório de Especialidades Médicas para repetição do VDRL a cada 3 meses por 1 ano. Recomendações: • O(s) parceiro(s) deve(m) SEMPRE ser testado(s) e tratado(s); • As gestantes que referenciarem alergia à penicilina devem ser encaminhadas ao PSGO no HMU em data agendada com a coordenação da obstetrícia ou gerência de enfermagem para dessensibilização segundo protocolo específico. • Portadoras de HIV podem ter a história natural da sífilis modificada, desenvolvendo neurossífilis mais precoce e facilmente, devendo casos ser encaminhados para CMEM. • A Notificação da Sífilis materna e de sua forma congênita é OBRIGATÓRIA e responsabilidade de toda a equipe de saúde, independente de profissão ou tipo de serviço, sendo ele público ou privado. Devem-se utilizar as fichas de notificação próprias do SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação). • Orientar o uso de preservativo em todas as relações sexuais. 3.8.2. INFECCÇÃO PELO HIV NA GESTAÇÃO O diagnóstico da infecção pelo HIV durante a gestação, ou ainda no momento do trabalho de parto, com instituição de medidas apropriadas, pode reduzir significativamente a transmissão vertical (da mãe para o filho). Na maioria dos casos, o diagnóstico é facilmente elucidado por meio da realização de uma única amostra (em caso de resultado negativo), ou duas amostras (nos casos de resultado positivo na primeira amostra). Amostra de soro realizar teste não-treponêmico realizar teste não-treponêmico Amostra não-reagente (1) Amostra não-reagente (2) Tratamento Legenda: NEG: negativo POS: positivo IND: indeterminado Resultado do teste? Resultado do teste? NEG POS POS / IND* NEG A transmissão do HIV por via intra-útero é maior no 3º trimestre da gestação, o que justifica que toda gestante esteja em tratamento nesse período. A realização de procedimentos invasivos durante a gestação tais como amniocentese e cordocentese, podem acarretar maior risco de TV, devido à lesão placentária. O tempo de ruptura das membranas amnióticas também está associado ao risco de transmissão vertical: quanto maior o tempo de ruptura, maior será o risco de transmissão do HIV, particularmente quando superior a 4 horas. Fatores associados ao trabalho de parto interferem diretamente no risco de transmissão. A presença de contratilidade uterina desencadeia microtransfusões placentárias, levando ao maior contato do feto com o sangue materno. Em decorrência disso, a maior duração do trabalho de parto está associada a maior risco de transmissão vertical do HIV. Na assistência ao trabalho de parto e no parto, manobras invasivas como amniotomia, episiotomia e uso de fórceps aumentam o risco de exposição a maior volume de sangue materno, elevando o risco de transmissão vertical. Em relação à via de parto, a cesárea eletiva reduz o risco de transmissão vertical do HIV. A definição da via de parto deverá ser baseada no resultado da carga viral materna, realizada a partir da 34ª semana, em associação com a avaliação obstétrica. Em mulheres com carga viral menor que 1.000 cópias/ml, essa definição poderá ser discutida entre a gestante e seu obstetra, em razão da observação de que o tipo de parto nessas condições, seja normal ou operatório, não altera o risco de transmissão vertical do HIV, resguardadas as recomendações quanto ao manejo do parto, detalhadas a seguir. A cesariana eletiva, com o fim de reduzir a transmissão vertical do HIV, está indicada para as gestantes que, no final da gestação (após 33- 34 semanas) apresentem carga viral desconhecida ou superior a 1.000 cópias/ml. Quando a carga viral for inferior a 1.000 cópias/ml, a via de parto será definida por critérios exclusivamente obstétricos. Para as gestantes que chegam à maternidade em trabalho de parto e que não fize- ram profilaxia antirretroviral durante a gestação, a indicação da via de parto deve levar em consideração a fase do trabalho de parto em que se encontra a parturiente e o prognóstico do tempo de evolução para parto, assim como a probabilidade de intercorrências no parto. Quando o trabalho de parto está em franca evolução, com prognóstico de nascimento rápido, deve ser indicado parto vaginal, empregando-se todos os cuidados para redução do risco de transmissão do HIV. Se o trabalho de parto estiver em sua fase inicial, com 3-4cm de dilatação do colo uterino e a bolsa amniótica íntegra ou com ruptura de menos de 2 horas, a cesariana deve ser indicada imediatamente, para reduzir o risco de TV durante o trabalho de parto. Condutas frente o diagnóstico de infecção por HIV na gestação: • Encaminhar a gestante para o Ambulatório
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