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HORADE VOLTAR O QUE JÁ SE SABE QUE FUNCIONA E O QUE DEVE SER EVITADO NO RETORNO DOS ALUNOS À ESCOLA porUllissesCampbell, Ana Letícia Leão e Bruno Alfano EPOCA _ MENOS IGREJA, MAIS BOLSONARO O PARTIDO DA UNIVERSAL SE TRAVESTE PARA CRESCER por Gustavo Schmitt e Bernardo Mello UM GIGANTE EM BAIXA A PETROBRAS ENCOLHE, INVESTE MENOS E PERDE ESPAÇO por Ramona Ordoñez e Bruno Rosa STREAMING OU CINEMA ESTREIAS DE MULAN E TENET INDICAM O CAMINHO PÓS-COVID por Pedro Willmersdorf 21.09.20 EPOCA.GLOBO.COM Nº1158 CARGATRIBUTÁRIAFEDERAL APROXIMADAMENTE4,65% EXEMPLARDOASSINANTE VENDAPROIBIDA Exclu sivo!! partic ipante s Prim e Select ! CONTRAQUEIMADAS, MAISPASTO Que coincidência macabra vive o Brasil,que, num intervalo de um ano, assistiu a dois de seus principais biomas serem atingi- dos por queimadas em proporções jamais vis- tas — e que transcorreram ao longo de uma gestão do Executivo que prega sem qualquer recato o afrouxamento de regras ambientais, a exploração das terras protegidas e o abandono das populações nativas. Segundo o MapBiomas, uma parceria en- tre universidades, ONGs e institutos de pes- quisa, os alertas de desmatamento no Panta- nal quadruplicaram em um ano. Em 2020, fo- ram61 emuma área de 11mil hectares. Apenas um era autorizado pelo Ibama. O restante, ile- gal. Com maior área desmatada, multiplica- ram-se as queimadas propositais, feitas para “limpar” a terra para o plantio— omesmo re- ceituário visto na Amazônia no último ano. Com o desmatamento como política de governo, desmatadores se sentem cada vez mais convidados a se apropriar de terras das quais não têm necessariamente a posse e pro- mover queimadas para torná-las aptas ao plantio. Antes comum para a pecuária, a terra pantaneira tem sido usadamais recentemente para o cultivo da soja, o que implica o uso de mecanismos de “limpeza” da vegetação nati- va. Na segunda-feira, a Polícia Federal defla- grou uma operação que investiga cinco fazen- deiros suspeitos de terem ateado fogo no Pan- tanal, num movimento orquestrado similar ao chamado “Dia do Fogo”, registrado na Amazônia no ano passado e cujas imagens correram e chocaram o mundo. O descaso ganhou contornos desmorali- zantes quando, só depois de quase 20% do ter- ritório do Pantanal esvair-se em cinzas, o go- verno federal finalmente reconheceu se tratar de uma emergência, na tarde da segunda-fei- ra — mesma data em que o governo do pró- prio estado de Mato Grosso do Sul declarou estado emergencial. Enquanto a polícia vas- culhava endereços de pecuaristas em Campo Grande, o texto redigido pelo governador Reinaldo Azambuja apontava uma “grave es- tiagem” somada a “outros fatores” para justi- ficar as queimadas, sem fazer qualquer refe- rência a suspeitas de ações criminosas. O Pantanal é o maior bioma úmido do mundo. Tão inédita é a tragédia que se abate sobre a região que o Ministério do Meio Ambiente não dispunha de mecanismos pa- ra dar conta do estrago: não há técnicos, equipamentos nem logística suficientes para cuidar dos animais feridos, resultando nas cenas chocantes exibidas nas últimas sema- nas na TV e em redes sociais, em que volun- tários tiveram de cumprir o papel que seria dos órgãos ambientais. Por respeito a um patrimônio único dos brasileiros, o Ministério do Meio Ambiente teria de, por obrigação, expor um plano de combate ao desastre. Em vez disso, o minis- tro Ricardo Salles postou um vídeo com con- teúdo de desinformação negando queima- das na Amazônia e depois disse que, por “ra- zões ideológicas”, o manejo do fogo não foi feito corretamente no Pantanal. Salles suge- riu que, se os pecuaristas tivessemmais espa- ço para pasto, o gado comeria a matéria orgânica acumulada no solo— que, segundo ele, é a principal causa do alastramento do fo- go. A conclusão do ministro é estarrecedora: contra queimadas que destroem os biomas brasileiros, a solução é mais pasto. doseditores 6 ORLANDODINIZ Em nova fase da Operação Lava Jato, o Ministério Público Federal aponta o envolvimento de advogados renomados em um esquema de tráfico de influência que desviou R$ 151 milhões para manter o empresário no comando do Sistema S do Rio Nessa milionária história do empre- sárioOrlandoDiniz, no comando do surrupiado Sistema S do Rio de Ja- neiro, sigla famosa por abrigar várias instituições de vital importância pa- ra o desenvolvimento do estado, o “S” parece representar muito mais “subor- no” a tribunais superiores, paramanter Diniz à frente do sistema, que “servi- ços”, para treinamento demão de obra, mantidos por federações da Indústria e Comércio. Foi necessária a intervenção daOperação Lava Jato, sempre ela, para mostrar que advogados ligados a pes- soas públicas— entre eles FredericWa- seff, que defendia Fabrício Queiroz e Flávio Bolsonaro — advogavam para facilitar as traficâncias do empresário. Talvez esse seja o motivo de o ministro Paulo Guedes nunca ter passado a te- soura no sistema, prometida desde o começo do governo Bolsonaro. Abel Pires Rodrigues, Rio de Janeiro, RJ A FÓRMULA ERRADA O quemotiva a subida de preço dos alimentos e o que a história mostra que não se deve fazer para tentar contê-la A questão que ora levanto não tem nada a ver com a lei da oferta e procu- ra; diz respeito aos diversos indexado- res da inflação, que servirão de base para o aumento dos salários e dos contratos, principalmente o reajuste dos aluguéis e das tarifas públicas. Há umadiscrepância gritante entre o IPCA, do IBGE e o IGP-M e o IGP-DI da FGV. De janeiro a agosto, o acumula- do do IPCA é 0,70%, enquanto o IGP-M atinge 9,64% e o IGP-DI 11,13%. Os índices da FGV sempre fo- ram, ao longo dos anos de inflação, os balizadoresmais confiáveis domerca- do. Costumam ser mais elevados por capturarem os aumentos ocorridos no atacado, porém, numperíodomais longo, costumam se ajustar aos de- mais. No caso em questão, há uma di- ferença considerável, que, se não for reduzida drasticamente, punirá indis- tintamente os assalariados, principal- mente os mais pobres. Dirceu Luiz Natal, Rio de Janeiro, RJ PENSAMENTOCRÍTICO Monica de Bolle escreve que a economia está ideologizada há tempos, sobretudo no Brasil Monica de Bolle levanta mais um te- ma interessantíssimo para nossas re- flexões: pensamento crítico. Nestes tempos de debates com o fígado, é de suma importância pensar antes de verbalizar ou postar. Ciência é inques- tionável por obviedade. Economia é pensar “fora da caixa” às vezes, para saber se adaptar aos imprevistos que nos são impostos. Referências antes ti- das como inquestionáveis precisam ampliar o leque de possibilidades sem- pre. Novas janelas sempre se abrem emmeio ao caos reinante. O ambiente precisa sempre estar arejado. Ainda mais em tempos de pandemia. Márcio Barbosa, Rio de Janeiro, RJ do leitor escrevapara epoca@edglobo.com.br ÉPOCA1157 8 EDITORA-CHEFE Ana Clara Costa epocadir@edglobo.com.br EDITORES EXECUTIVOS – INTEGRADAMaria Fernanda Delmas (coordenadora), Alessandro Alvim, André Miranda e Flávia Barbosa EDITOR Eduardo Salgado COLUNISTAS Guilherme Amado, Helio Gurovitz, Larry Rohter e Monica de Bolle ÉPOCA ON-LINE Fábio Brisolla (editor), Paolla Serra e Rodrigo Castro EDITOR DE ARTE Mateus Valadares DESIGNERS Daniel Vides Veras e Gustavo Amaral SECRETARIA EDITORIALMarco Antonio Rangel FOTOGRAFIA | EDITOR André Sarmento REVISÃOAraci dos Reis Galvão de França (coordenadora), Kátia Regina de Almeida Silva e Mariana Rimoli Dumans CARTAS À REDAÇÃO | EPOCA@EDGLOBO.COM.BR ASSISTENTE EXECUTIVA Jaqueline Damasceno REDAÇÃO | RIO DE JANEIRO | EPOCA@EDGLOBO.COM.BR Rua Marquês de Pombal, 25, 3º andar, Cidade Nova, CEP 20.230-240 – Rio de Janeiro – RJ SUCURSAIS | BRASÍLIA | EPOCASUC_BSB@EDGLOBO.COM.BR DIRETOR Paulo Celso Pereira SCN, Quadra 5 – Bloco A, nº 50, s. 301 Brasília Shopping and Towers CEP 70.715-900 – Brasília – DF SÃO PAULO | SUCURSALSP@EDGLOBO.COM.BR DIRETORA Letícia Sander Avenida Nove de Julho, 5229, 9º andar, CEP 01407-907 Itaim Bibi – São Paulo – SP ÉPOCA É UMA PUBLICAÇÃO SEMANAL DA EDITORA GLOBO S.A. Avenida 9 deJulho, 5229 01407-907 São Paulo SP Distribuidor exclusivo para todo o Brasil Dinap — Distribuidora Nacional de Publicações GRÁFICA Plural Indústria Gráfica Ltda. Av. Marcos Penteado de Ulhoa Rodrigues, 700 06543-001 Tamboré, São Paulo, SP O Bureau Veritas Certification, com base nos processos e procedimentos descritos no seu Relatório de Verificação, adotando um nível de confiança razoável, declara que o Inventário de Gases de Efeito Estufa — no 2012, da Editora Globo S.A., é preciso, confiável e livre de erro ou distorção e é uma representação equitativa dos dados e informações de GEE sobre o período de referência, para o escopo definido; foi elaborado em conformidade com a NBR ISO 14064-1:2007 e Especificações do Programa Brasileiro GHG Protocol. VENDAS CORPORATIVAS E PARCERIAS 11 3767-7226 parcerias@edglobo.com.br PARA ANUNCIAR SÃO PAULO (11) 3736-7128 / 3767-7447 3767-7942 / 3767-7889 3736-7205 / 3767-7557 RIO DE JANEIRO (21) 3380-5930 / 3380-5923 BRASÍLIA (61) 3410-8953 NA INTERNET www.assineglobo.com.br/sac 4003-9393 ASSINATURAS 4003-9393 www.sacglobo.com.br EDIÇÕES ANTERIORES O pedido será atendido através do jornaleiro ao preço da edição atual, desde que haja disponibilidade de estoque. Faça seu pedido na banca mais próxima. LICENCIAMENTO DE CONTEÚDO (21) 2534-5777 / 2534-5526 / 2534-5595 venda_conteudo@edglobo.com.br Deseja falar com a Editora Globo? Para se corresponder com a Redação: Endereçar cartas ao Diretor de Redação. ÉPOCA. Caixa Postal 66260, CEP 05315-999, São Paulo, SP Fax: (11) 3767-7003 E-mail: epoca@edglobo.com.br As cartas devem ser encaminhadas com assinatura, endereço e telefone do remetente. ÉPOCA reserva-se o direito de selecioná-las e resumi-las para publicação. Só podem ser incluídas na edição da mesma semana as cartas que chegarem à Redação até as 12 horas da quarta-feira. PARA SE CORRESPONDER COM A REDAÇÃO Endereçar cartas ao Diretor de Redação, Época. Caixa Postal 66260, CEP 05315-999 – São Paulo, SP. Fax: 11 3767-7003 – E-mail: epoca@edglobo.com.br As cartas devem ser encaminhadas com assinatura, endereço e telefone do remetente. ÉPOCA reserva-se o direito de selecioná-las e resumi-las para publicação. Só podem ser incluídas na edição da mesma semana as cartas que chegarem à Redação até as 12 horas da quarta-feira. DIRETOR-GERAL Frederic Zoghaib Kachar DIRETOR DE NEGÓCIOSRicardo Rodrigues DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO COMERCIALTiago Afonso DIREÇÃO DE AUDIÊNCIA Ricardo Fiorotto e Silvio Dias DIREÇÃO EDITORIAL Daniela Tófoli e Sandra Boccia MERCADO ANUNCIANTE | SEGMENTOS — FINANCEIRO, IMOBILIÁRIO, INFRA/LOG, INDÚSTRIA/ENERGIA | DIRETOR DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Emiliano Morad Hansenn | GERENTE DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA João Carlos Meyer EXECUTIVOS MULTIPLATAFORMA Catarina Augusta Pedroso dos Santos, Edvaldo da Silva, Fábio Bastos Ferreira de Andrade, Francimaria Pacheco Santos, José Carlos Brandão, Milton Luiz Abrantes, Selma Teixeira da Costa | SEGMENTOS — VAREJO, TELECOM, TECNOLOGIA, MÍDIA, ELETRÔNICOS, GOVERNO SP, SERVIÇOS PÚBLICOS SOCIAIS | DIRETOR DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Ciro Horta Hashimoto | GERENTE DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Lilian Cassamassimo Baima EXECUTIVOS MULTIPLATAFORMA Christian Lopes Hamburg, Roberto Loz Junior, Priscila Ferreira da Silva, Karina Penachio Primon | SEGMENTOS — MODA, BELEZA, HIGIENE DOMÉSTICA E PESSOAL, SHOPPING, DECORAÇÃO, SAÚDE, CIAS AÉREAS, TURISMO, AGRONEGÓCIO | DIRETORA DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMASandra Regina de Melo Pepe | GERENTE DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Olívia Cipolla Bolonha (Moda, Beleza, Higiene Doméstica e Pessoal) | COORDENADORA DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Fátima Regina Ottaviani (Decoração)| EXECUTIVOS DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Caio Caprioli, Eliana Lima Fagundes, Karina Zuccaro, Lilian de Marche Noffs, Marcelo Malzoni Barreto | SEGMENTOS – EDUCAÇÃO, ALIMENTOS E BEBIDAS, PUERICULTURA, ENTRETENIMENTO, OUTROS – DIRETOR DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Lucio Miguel Del Ciello | EXECUTIVOS DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Cesar Augusto Picchi Daltozo, Marco Guidi, Nara Moinho | RIO DE JANEIRO — DIRETOR DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMAMarcelo Lima da Cunha Mattos | GERENTE DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Darlene Bastos Campos Machado (Varejo) e Monica Monnerat Silva (Beleza, Moda, Shopping) | EXECUTIVOS DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Alessandra Fernandes, Beatriz Alves, Claudia Coutinho, Daniela Chahim, Kalinka Araújo, Marley Trindade | GERENTES DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA (GOVERNO, SERVIÇOS PÚBLICOS SOCIAIS, ENERGIA: Luiz Manso | EXECUTIVOS DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA Robert Correa (Energia), Claudia dos Santos e Marcelo Agueda Valentin (Governo) | COORDENADOR DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA (PEQUENOS E MÉDIOS ANUNCIANTES): Rubens Guedes | COORDENADOR DE NOVOS NEGÓCIOS: Fabio Paz Lago | BRASÍLIA — GERENTE DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA: Luiz Manso | EXECUTIVA DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA: Luciana Gomes Burnett | CONTATO PUBLICIDADECandida Ana Vieira | ESCRITÓRIOS REGIONAIS — DIRETOR DE NEGÓCIOS MULTIPLATAFORMA: Lucio Miguel del Ciello | GERENTE MULTIPLATAFORMA Thais Éboli Haddad | DESENVOLVIMENTO COMERCIAL | G.LAB Edward Pimenta | PROJETOS ESPECIAIS SP/RJ:Leonardo André | EVENTOS SP:Daniela Valente | EVENTOS RJ:Claudia Lobo | OPERAÇÕES ESPECIAIS:Anderson Góes (gerente) DEONDE VEMA RESISTÊNCIA ÀS VACINAS? Helio Gurovitz afirma que quem não toma se beneficia dela sem arcar com nenhum ônus e que vacinar envolve responsabilidade diante dos outros Acho que a resistência a vacinas vem de uma errada interpretação do que é liber- dade. Podemos dizer que liberdade é se- melhante ao amor, ou seja, não prejudi- ca, não machuca, não põe o outro em risco. Quando você prejudica o outro de qualquer maneira que seja, mesmo que minimamente, você não está usufruindo de sua liberdade. No mínimo você está confundindo direito pessoal com dever de cidadão. Mesmo que a maioria esteja vacinada, muitos dos vacinados podem ter suas imunidades estremecidas por várias situações, facilitando assim pe- gar as doenças que já são protegidas por vacinas. Assim, se todos estão vacina- dos, a chance de isso acontecer com quemestámais fragilizado,mesmo vaci- nado, diminui demais. As vacinas que são oferecidas para a população têm comprovação de qualidade e eficácia científica. Governo nenhum vai querer aplicar vacina para botar a população doente e ele mesmo ter de pagar para curá-la. Portanto, sejamos sensatos, as vacinas devem ser sempre muito bem- vindas, aceitas e tomadas por todos. Mônica Delfraro David, Campinas, SP 9 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CADA VEZ MAIS REVENDEDORES ESCOLHEM SER BANDEIRA BRANCA. E A GENTE TEM A CERTEZA QUE ESTAMOS NO CAMINHO CERTO. COMBUSTÍVEIS COMBUSTÍVEIS COMBUSTÍVEIS COMBUSTÍVEIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 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RECUPERAÇÃO PRECISAMOS FALAR SOBRE EDUCAÇÃO Mesmo com o comércio reabrindo, as escolas seguem fechadas em quase todo o país. O que a experiência internacional e a deManaus ensinam sobre a retomada das aulas presenciais 28. DIREITA UNIVERSAL SUBMISSÃO REPUBLICANA A estratégia do partido da igreja de Edir Macedo de se distanciar da religião e se aproximar cada vez mais de Jair Bolsonaro 36. CONCORDAMOS EMDISCORDAR IRAPUÃ SANTANA × FERNANDOHOLIDAY O advogado e o vereador discordam sobre a divisão proporcional de recursos do fundão para candidaturas negras 40. TANQUE BAIXO UMNOVO INFERNOASTRAL Afetada pela crise e pelos males do passado, a Petrobras encolhe e perde protagonismo entre as petrolíferas mundiais AMANDAPEROBELLI/REUTERS 46. VIVI PARACONTAR HÁDOIS VÍRUS: MADURO EO CORONAVÍRUS Refugiado na embaixada do Chile, líder opositor venezuelano conta como foiganhar a liberdade depois de acordo costurado por Henrique Capriles 50. PANDEMIA DIGITAL INFLUENCERS IMUNIZADOS O avanço dos testes da vacina contra a Covid-19 no país faz aumentar o debate sobre a eficácia do tratamento e voluntários se tornam influenciadores nas redes 54. LONGE DO PÓDIO UMMALOLÍMPICO Um documentário e o movimento de atletas acendem debate sobre assédio moral na ginástica e os limites da relação entre professores e ginastas 58. 7 PERGUNTAS PARA... REGINA NAVARRO LINS A psicanalista diz que a busca da individualidade é o grande componente das relações contemporâneas— e que se tornou ainda mais importante com a pandemia 62. TESTE DE AUDIÊNCIA DE VOLTA À SALA ESCURA A chegada de Tenet e Mulan às telas indicará se os lançamentos de filmes terão melhor desempenho no cinema ou em streaming após a pandemia COLUNISTAS 39. MONICADE BOLLE O espectro do populismo na América Latina 49. HELIOGUROVITZ A importância do racismo nas eleições americanas 61. ALLAN SIEBER 66. LARRY ROHTER Sobre provar o próprio veneno GUILHERME AMADO O colunista está de férias sumário21.09.20 capa: Raphael Alves DIVULGAÇÃO F UT U R A I N T E R M E D I A Ç Ã O : R E A L I Z A Ç Ã O : Nosso stand de vendas conta com a consultoria técnica da BP – Beneficência Portuguesa de S CONHEÇA DE PERTO ESSA REALIDADE E FAÇA DELA SEU NOVO SONHO. A O MUNDO SE ENCONTRA AQUI. O empreendimento imobiliário residencial foi aprovado pela Prefeitura do Município de São Paulo sob o no 2013/27407-01, publicado em 22/10/2013, com projeto modificativo aprovado sob o P.A. 201 será comercializado após o registro da rerratificação do Memorial de Incorporação no referido cartório de registro de imóveis, nos termos da Lei no 4.591/64. O empreendimento Shopping Center será objeto de Registro de Imóveis da Comarca de São Paulo – SP. O empreendimento somente será comercializado após o registro da Memorial de Incorporação no referido cartório de registro de imóveis, nos termos da Lei n a incorporadora promoverá o registro da incorporação imobiliária no 15o Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de São Paulo – SP. O empreendimento somente será comercializado após o regis e poderão sofrer alterações, inclusive quanto a forma, cor, textura, posição e tamanho. As unidades autônomas e áreas comuns do empreendimento serão entregues conforme Projeto Legal, Memorial de Incorpor Perspectiva ilustrada da praça central Beneficência Portuguesa de São Paulo, baseada em boas práticas preventivas para o enfrentamento da Covid-19. DE E FAÇA DELA SEU NOVO SONHO. AGENDE SUA VISITA AO SHOWROOM E DECORADOS. O QUE VOCÊ NUNCA OUSOU SONHAR, NÓS OUSAMOS REALIZAR. 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Todas as imagens e perspectivas contidas nestematerial sãomeramente ilustrativas o Legal, Memorial de Incorporação eMemorial Descritivo deAcabamento do empreendimento, que prevalecerão emcasode conflito comqualquer outromaterial ou informação relativa ao empreendimento. WWW.PARQUEGLOBAL .COM.BR 11 5199 1919 Ma rg i na l do R i o P i nhe i ro s , 14 . 500 E i xo Ma rg i na l P i nhe i ro s Su l En t r e o Shopp i ng C i dade Ja rd im e Pa rque Bu r l e Ma r x 142 A330 M 2 552 M 2 RESIDÊNCIAS INTERNACIONAIS UNIDADES DUPLEX. DE ATÉ PERSONAGEMDASEMANA por LeandroPrazeres PANTANAL Na manhã de quarta-feira, a procuradorada República Samara Dalloul e o dele- gado da Polícia Federal Alan Givigi acorda- ram cedo e preparavam o espírito para um dia que prometia ser agitado. Pelos planos feitos havia algumas semanas, os dois deve- riam se dirigir ao aeroporto de Corumbá, em pleno Pantanal sul-mato-grossense, e embarcar em um helicóptero para deflagrar a Operação Matáá, que investiga incêndios criminosos em fazendas da região. O voo, porém, nunca aconteceu. Foram paralisados pelo que combateriam. “A fumaça das quei- madas não deixou. Os pilotos não tinham visibilidade para decolar. Em vez do heli- cóptero, usamos um barco”, contou Dalloul. A ação contra fazendeiros foi a primeira resposta na esfera criminal contra uma tra- gédia de proporções sem precedentes que se abateu sobre a maior planície alagada do mundo e uma das regiões mais ricas em bio- diversidade do planeta. Há semanas, o fogo consome o bioma a ta- xas avassaladoras sem que as autoridades con- sigam dar mostras de reação à altura. De acor- do com o Instituto Nacional de Pesquisas Es- paciais (Inpe), entre 1º de janeiro e 15 de se- tembro, o Pantanal registrou 15.477 focos de incêndio. Isso representa um aumento de 213% em relação ao mesmo período de 2019, que já havia registrado números extremamente altos em comparação aos anos anteriores. Além da quantidade, o que assombra é o apetite do fogo. No dia 3 de agosto, os in- cêndios haviam destruído 1,2 milhão de hectares da área. Pouco mais de um mês depois, a estimativa do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Re- nováveis (Ibama) é que a destruição tenha chegado a 2,9 milhões de hectares, equiva- lente a 19% de todo o bioma. É como se uma área do tamanho de cinco Distritos Federais pegasse fogo destruindo a vegeta- ção nativa, matando ou afugentando milha- res de animais como a onça-pintada e crian- do uma nuvem de fumaça tóxica que amea- ça chegar nos próximos dias a centros ur- banos como São Paulo. Diante de tamanha catástrofe, a primeira pergunta óbvia é: como isso pôde acontecer? Para o pesquisador Antônio Nobre, do Cen- tro de Ciência do Sistema Terrestre do Inpe, a tragédia no Pantanal pode ser comparada a um acidente aéreo. “Quando um avião cai, nunca é por um único motivo. O Pantanal está queimando por conta de uma conjun- ção de fatores”, afirmou Nobre, que fez par- te do Painel Intergovernamental de Mudan- ças Climáticas (IPCC). Para o cientista, esses incêndios são re- sultado de alterações no clima e na geografia da região causadas pelo homem. Por um la- do, o aquecimento global vem aumentando as temperaturas no planeta, e no Pantanal não é diferente. Por outro, o desmatamento desenfreado da Amazônia e do Cerrado nos últimos anos fez diminuir a capacidade de produção de chuva que abastece os rios que alagam o bioma. Com temperaturas altas e chuvas mais escassas, disse Nobre, as condi- ções para o fogo estão dadas. Bastou mais um “empurrãozinho” humano: as queima- das feitas por fazendeiros da região. “Não pode ser acidente”, disse o delega- do Alan Givigi ao comentar as queimadas na região. As suspeitas da PF são de que fa- zendeiros estejam aproveitando a temporada seca para queimar a vegetação nativa e abrir mais espaço às criações de gado. Em alguns casos, os investigadores constataram que, lo- go depois de uma área ter sido destruída pe- lo fogo, já era possível ver gado pastando no local. “O Brasil se dedicou muito para che- gar a esse ponto. Chegamos à distopia cli- mática”, lamentou Antônio Nobre. Mas como em quase toda catástrofe, as proporções do desastre não se explicam ape- nas pelos fatores externos. O tamanho da Inoperância do governo, ação criminosa de fazendeiros e uma das mais graves secas dos últimos anos foram o combustível perfeito para uma das maiores tragédias ambientais do país Uma área equivalente ao tamanho de cinco Distritos Federais queimou só neste ano no bioma. É um aumento de 213% em relação ao mesmo período de 2019 FOTO:MAUROPIMENTEL/AFP PERSONAGEM DA SEMANA 17 tragédia também pode depender da perícia (ou imperícia) da “tripulação”. E não é possível dizer que os “tripulantes”não podiam imaginar que algo assim pu- desse acontecer. ÉPOCA analisou notas téc- nicas e boletins meteorológicos produzidos pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Inpe (CPTEC) ao longo deste ano e constatou que, pelo menos desde abril, os dois órgãos federais já haviam produzido dados que indicavam que a estiagem e as temperaturas no Pantanal poderiam ser seve- ras no trimestre entre junho, julho e agosto, início da temporada de fogo na região. Mesmo com todas essas informações à disposição, o Ibama só lançou o edital para contratar brigadistas em junho e só termi- nou o processo seletivo no final de julho, quando os incêndios já haviam destruído centenas de milhares de hectares e estavam praticamente fora de controle. “Quando você tem os brigadistas mais cedo, eles conseguem fazer ações preventi- vas. Neste ano, não tivemos tempo para fa- zer isso”, afirmou o analista ambiental do Ibama em Mato Grosso do Sul Alexandre Pereira. A região de Corumbá conta com apenas 30 homens do instituto. Em nota, o Ibama disse que o servidor responsável pe- lo atraso foi substituído. O governo ainda cortou parte das verbas destinadas ao combate a incêndios flores- tais. Os orçamentos das duas principais ações caíram 30% — de R$ 83 milhões em 2019 para R$ 57 milhões em 2020. Além disso, técnicos com décadas de experiên- cia foram afastados de postos-chaves, dan- do lugar a militares e civis com pouca ou nenhuma experiência nessa área. Mesmo sabendo da crise em potencial, o Ibama atrasou-se na contratação de brigadistas que poderiam ter minimizado os impactos das queimadas na região PERSONAGEM DA SEMANA A Polícia Federal suspeita que as queimadas foram impulsionadas por ações criminosas de fazendeiros MANDAPEROBELLI/REUTERS 18 Já começaram as vendas para a edição 2020 do Vinhos de Portugal. Em versão online, o evento vai levar até você todo o universo dos vinhos portugueses, além de oferecer a mais completa plataforma digital sobre a produção vinícola de um país. Não perca! Embarquenessaexperiência. Apoio Parceria Realização Apoio InstitucionalParticipação Rádio OficialProjeto BE BA CO M MO DE RA ÇÃ O SaladeProvas Lives de provas guiadas pelos nossos críticos e grandes nomes como Luís Pato, Jorge e Sandra Serôdio, João Portugal Ramos, entre outros, com a possibilidade de adquirir e receber em casa uma gift box com brindes e os vinhos da prova. SalãodeDegustação Acesso a 3 dias de lives com os 62 produtores portugueses participantes, das mais diversas regiões vinícolas do país, com a possibilidade de adquirir e receber em casa uma gift box com brindes e um vinho surpresa. De23a25deOutubro vinhosdeportugal vinhosdeportugalbr_ Saibamais em vinhosdeportugal2020.com.br FOTO:RAPHAELALVES RECUPERAÇÃO PRECISAMOS FALAR SOBRE EDUCAÇÃO 20 As escolas particulares de Manaus, com protocolos sanitários mais exigentes, também têm observado a resistência dos pais em mandar os filhos para o colégio por medo de contágio por UllissesCampbell, deManaus, Ana Letícia Leão, deSãoPaulo, e BrunoAlfano, doRiode Janeiro Mesmo com o comércio reabrindo, as escolas seguem fechadas em quase todo o país. O que a experiência internacional e a deManaus ensinam sobre a retomada das aulas presenciais RECUPERAÇÃO Passados seis meses desde a suspensão das aulas em todo o Brasilpor causa da pandemia do novo coronavírus, pais, alunos, profes- sores, governos estaduais e municipais, especialistas em educação, médi- cos e, em alguns casos, até juízes se perguntam se é hora de voltar às escolas e como esse processo deve se dar. Uma boa medida do interesse por essa discussão é o gráfico que registra a procura no Google usando as palavras “retorno aulas presenciais”. Desde o final de agosto, o núme- ro de buscas por esses termos só faz crescer. Com bares e shopping cen- ters abertos em várias cidades, a pergunta em quase todo o país é: quan- do as escolas voltarão a funcionar presencialmente? 21 No Rio de Janeiro, o governo estadual marcou o retorno para o dia 5 de outubro, mas a batalha judicial em que se transformou a reabertura das escolas privadas em meados de setembro colocou em dúvida se a data será mantida. Em São Paulo, 20% dos municípios retomaram as aulas nas escolas para reforço e acolhimento de alunos. A volta definitiva de- verá ocorrer em 7 de outubro, segundo o go- verno estadual. Como datas já foram anuncia- das antes e depois adiadas, muitos duvidam que desta vez as escolas vão reabrir. Outros nove estados estão realizando planos de reto- mada, segundo o Conselho Nacional de Se- cretários de Educação. Apenas o Rio Grande do Norte comunicou que o ensino presencial está suspenso até o ano que vem. Na discussão que tomou conta do país, há geralmente dois lados digladiando. Os que defendem o adiamento por acreditarem que retomada é obrigatoriamente sinônimo de aumento do contágio e os que querem uma volta total para estancar os enormes prejuízos educacionais. No meio dessa guer- ra, existem grupos de especialistas em saúde e também em educação tentando promover um debate que analise caso a caso. “A ideia de que o retorno será possível apenas depois da vacina é inviável, já que a previsão de imunização é incerta”, disse Lígia Bahia, professora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Priscila Cruz, presidente da ONG Todos pela Educação, com sede em São Paulo, é outra que argumenta em favor de um plano de ação. “Por mais difícil que seja, essa é uma discussão que precisamos ter. O calendário eleitoral não ajuda. Com Manaus foi a primeira cidade a reabrir escolas públicas e privadas. O número de contágios e de mortes não subiu, mas o desleixo na aplicação de protocolos sanitários assustou parte dos pais e enfraqueceu a adesão às aulas presenciais Em Manaus, as escolas particulares (acima) foram reabertas em julho e as públicas em agosto, apenas para alunos do ensino médio. O governo do Amazonas agora planeja liberar o ensino básico FOTOS:RAPHAELALVES RECUPERAÇÃO22 medo de desagradar a parte do eleitorado, po- líticos têm optado por adiar, em vez de fazer uma análise mais realista da situação”, disse. De todas as cidades do país, Manaus é oúnico laboratório a céu aberto. Ao todo, são 123 colégios públicos estaduais já funcio- nando há mais de um mês para atender 106 mil estudantes de ensino médio e um núme- ro menor de escolas privadas abertas desde o começo de julho. Nenhuma outra cidade rea- briu nessa escala e há tanto tempo. Na avalia- ção das primeiras cinco semanas desde o rei- nício da rede pública, houve um ou outro ponto positivo, como a decisão de dividir turmas em grupos menores. Mas se a cidade fosse receber uma nota pelo processo de rea- bertura, ela muito provavelmente seria baixa. Usando como parâmetro os protocolos de- fendidos pela Organização Mundial da Saúde e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), re- ferência no Brasil, a conclusão, até o momen- to, é que Manaus cometeu muitos erros. As aulas nas escolas públicas foram reini- ciadas em 10 de agosto sem previsão de testes para professores que eventualmente apresen- tassem sintomas do vírus. Por pressão do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Amazonas, o governo estadual começou a oferecer esse serviço, mas com testes rápidos, não com o exame conhecido por RT-PCR, o melhor disponível. Feitos os testes, o governo estadual contou 361 professores com corona- vírus. Esses profissionais acabaram sendo afastados, mas os alunos que tiveram contato com eles não foram testados nem obrigados a ficar em quarentena, como preconizam os protocolos. Na terceira semana de setembro, ÉPOCA visitou oito escolas públicas de Ma- naus. Nas duas indicadas pela Secretaria de Educação do Amazonas, todos os alunos usa- vam máscaras, havia álcool em gel àdisposi- ção e distanciamento social. Nos seis colégios a que a reportagem teve acesso sem acompa- nhamento das autoridades locais, o quadro era bem distante do ideal, com estudantes com máscaras no queixo, aglomerações e fal- ta de álcool em gel na entrada dos prédios. A seu favor, a Secretaria de Educação ar- gumenta que o número de casos confirmados de Covid-19 na cidade caiu desde o início das aulas e o de óbitos tem se mantido numa mesma média diária. Não há consenso sobre o que tem feito esses indicadores apresenta- rem esse viés, mesmo com tanto descuido nas escolas. Manaus foi uma das cidades que mais sofreram com a pandemia e é possível que te- nha atingido um certo grau de imunidade. “Estamos fazendo monitoramento detalhado desses dados diariamente no município”, dis- se Luis Fabian Pereira, secretário estadual da Educação, que pretende reiniciar as aulas do ensino básico antes do final de setembro. O placar geral da evolução do coronaví- rus em Manaus pode ser favorável à política de reabertura do governo, mas não tem sido RECUPERAÇÃO 23 suficiente para conquistar a confiança de boa parte dos pais. Pelas contas do sindicato dos professores, que faz campanha contra a volta às aulas presenciais, somente 30% dos alunos têm frequentado as escolas. Já a Secretaria de Educação afirma que o percentual é de 70%. Sem um levantamento independente, é difí- cil saber quem está mais perto da realidade. Mas o que os números das duas entidades mostram é que o estado tem falhado na campanha de convencimento dos pais para que mandem os filhos para o colégio. Quando ÉPOCA visitou a Escola Estadual Vasco Vasquez, na Zona Leste de Manaus, ha- via salas de aulas com apenas seis alunos, quando deveriam ter pelo menos 20. “Profes- sores da Vasco Vasques pegaram Covid-19 e os alunos correram de medo”, relatou Ana Cristina Pereira Rodrigues, presidente do sin- dicato dos professores do estado. Nas escolas particulares, os cuidados com prevenção são, em geral, maiores. Na Martha Falcão, uma das mais caras e tradicionais de Manaus, os alunos entram separadamente e deixam os sa- patos do lado de fora das salas. Entre as ca- deiras há lâminas de plástico. Mesmo com in- vestimentos em prevenção como esses, cerca de 27 mil alunos da rede privada preferiram continuar apenas com o ensino remoto. “As pessoas estão inseguras, e com razão. A incer- teza é enorme. Para haver adesão, as escolas precisam mostrar aos pais que seguem à risca os protocolos”, disse Ricardo Henriques, supe- rintendente executivo do Instituto Unibanco, entidade voltada à educação. Há um mês, uma consulta do instituto de pesquisa Datafolha re- velou que 78% dos brasileiros acreditavam que a volta às aulas agravaria a pandemia. MARIANAGREIF/REUTERS RECUPERAÇÃO O Uruguai é reconhecido como um modelo a ser seguido pelos municípios brasileiros (acima). No país vizinho, foi dada prioridade às populações mais vulneráveis e sem acesso à internet A lessandra Cristina Araújo, de 44 anos,ainda não permitiu que seu filho de 15 anos volte a frequentar a Escola Estadual Ruy Araújo, no bairro Cachoeirinha, em Manaus. “Em casa, todo mundo se abraça e se beija o tempo todo. Acho que ainda não é o momento de voltar para a escola”, disse. Ela contou que visitou o colégio do filho pa- ra ver como estava o “novo normal”, mas não gostou do que viu. Em sua opinião, to- dos agiam como se não houvesse pandemia. Os dados gerais de contágio em Manaus po- dem mostrar uma realidade positiva, mas ela não pretende mandar o filho para o que vê como um foco de coronavírus. Admite que o rapaz não se concentra nas aulas re- motas e provavelmente perderá o ano. “Pre- firo que reprove a alguém de minha família morrer com Covid 19”, afirmou. No plano individual, a decisão de Araújo de manter o filho em casa e cogitar que repi- ta o ano pode até ter um final feliz. Com o apoio da mãe, ele provavelmente continuará seus estudos. Numa escala maior, o déficit de aprendizagem provocado pelo fechamento das escolas como um todo é gigante. Não es- tá descartada a hipótese de que governos op- tem por aprovar todos os alunos, indepen- dentemente de terem tido aulas pela internet ou um bom aproveitamento nas atividades on-line. Com a crise econômica, ainda existe o temor de que muitos desistam de estudar. Se o que deixou de ser ensinado aos alu- nos não for compensado, os efeitos serão duradouros, acredita o Banco Mundial. A perda de renda para cada um dos jovens e crianças da América Latina ao longo da vida como trabalhadores é estimada em US$ 10 Para Priscila Cruz, presidente da ONG Todos pela Educação, o calendário eleitoral está atrapalhando o debate sobre a volta às aulas. Commedo de sofrer nas urnas, prefeitos candidatos à reeleição estão empurrando o assunto com a barriga O Rio de Janeiro se tornou um ringue judicial sobre a reabertura das escolas (acima) DIVULGAÇÃO/CPII RECUPERAÇÃO 25 mil, medida por uma paridade que leva em conta o poder de compra. “A geração Covid tem seu futuro colocado em perigo. Deve- mos fazer todo o possível para reduzir as perdas de aprendizado, com ações concretas para mitigá-las enquanto as escolas estejam fechadas, e remediá-las uma vez que rea- bram”, disse João Pedro Azevedo, econo- mista líder da área de educação do Banco Mundial e um dos principais autores do es- tudo sobre queda futura de renda. Uma ou- tra projeção, feita pelo Insper, uma institui- ção de ensino de São Paulo, e pela Fundação Roberto Marinho, estima que cada jovem brasileiro que não concluir o ensino básico gerará uma perda de R$ 372 mil. A experiência internacional mostra queexiste um caminho a ser seguido. Um levantamento realizado pela Vozes da Edu- cação, uma consultoria técnica, analisou o processo de retomada das aulas em 20 paí- ses. Foram escolhidos lugares com diferen- tes realidades, como África do Sul e Alema- nha. Em comum, os casos de reabertura de sucesso contaram com queda na curva de casos do vírus, rígido cumprimento dos pro- tocolos sanitários e comunicação eficiente e transparente dos governos para ganhar o apoio da opinião pública. “A redução da ta- xa de transmissão comunitária é o primeiro parâmetro que precisa ser considerado. Só quando isso estiver controlado é que se po- de garantir a segurança para professores, funcionários e alunos”, disse Natalia Pas- ternak, presidente do Instituto Questão de Ciência e colunista de O GLOBO. Quando se fala no que aconteceu em ou- tros países, o caso de Israel costuma ser mui- to citado. As aulas foram retomadas em maio, houve aumento do contágio em ques- tão de dias e o governo teve de voltar atrás. O problema lá foi que várias questões hoje defendidas em protocolos foram negligencia- das. O uso da máscara, por exemplo, foi displi- cente, toda a rede foi chamada de uma vez e não foram feitos grupos menores de alunos com horários de chegada e saída diferentes. Parte dos estados brasileiros que estão prepa- rando a volta tem levado em conta os erros dessas experiências malogradas. “Não estamos falando de uma volta com 30, 40 alunos por sala, mas oito. Sem dúvida, o ensino híbrido — meio presencial, meio à distância — veio para ficar”, disse Rossieli Soares, secretário es- tadual de Educação de São Paulo. Outro ponto que costuma ser lembrado nas discussões sobre a volta às aulas é que o Brasil nunca vai ter a organização da Ale- manha ou da Dinamarca. Felizmente, não se precisa ir tão longe em busca de uma referên- cia bem-sucedida. “O modelo de abertura das escolas seguido pelo Uruguai, mundialmente elogiado, pode ser algo para o Brasil se espe- lhar”, disse Carolina Campos, fundadora do Pelos cálculos do BancoMundial, cada estudante da “geração Covid” perderá US$ 10 mil ao longo da vida ativa se as lacunas provocadas pelo cancelamento de aulas presenciais não forem preenchidas Videoconferência da Organização Mundial da Saúde, órgão que tem ajudado os países-membros com conselhos sobre a retomada das aulas presenciais OMS/AFP RECUPERAÇÃO26 Vozes da Educação. “É verdade que o Uru- guai é um paíspequeno, mas ainda assim pode nos ajudar a pensar sobre nossos mu- nicípios”, completou. Os uruguaios, por exemplo, iniciaram o processo de reabertura com os estudantes de populações vulnerá- veis e sem conexão com a internet. Entre os especialistas da área médica, exis-te o entendimento de que os parâmetros para a tomada de decisões precisam ser pen- sados da forma mais territorial possível. “Ci- dades grandes como Rio e São Paulo têm in- dicadores diferentes em diferentes bairros ou regiões. Por isso, esses indicadores de- vem ser pensados, de preferência, escola por escola”, disse Patrícia Canto, pneumologista da Fiocruz que coordenou o estudo sobre o retorno às aulas presenciais. Foi pensando numa análise focada em cada colégio que a ONG Impulso, de São Paulo, criou uma ferramenta digital, dispo- nível no site Coronacidades.org, que reúne materiais e ferramentas para apoiar gestores públicos. Foram montados questionários pa- ra entender a realidade de cada escola, abor- dando assuntos como gestão escolar, distan- ciamento social e limpeza. Depois de res- ponder “sim” ou “não” a 74 tópicos, o gestor pode avaliar o que precisa ser feito para ga- rantir segurança na retomada. “Sem um pla- nejamento adequado, é muito difícil que uma escola tenha 100% de aprovação, até mesmo na rede privada. O questionário dá um norte dos protocolos necessários”, res- saltou João Abreu, que antes de fundar a Impulso fez parte da consultoria em gestão pública da Universidade Harvard. Infectologistas fazem coro em favor da reabertura apenas em cidades com índices decrescentes da taxa de transmissão do novo coronavírus. Tudo para evitar a lotação de UTIs BRUNOROCHA/FOTOARENA RECUPERAÇÃO 27 28 BUDAMENDES/GETTY IMAGES SUBMISSÃO 29 No último dia 7 de setembro, data daconvenção que oficializou a candida- tura à reeleição do prefeito do Rio, Marce- lo Crivella, o auditório reservado pelo Re- publicanos em um shopping da Zona Nor- te da cidade, a cerca de 500 metros da sede da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), estava lotado. Respeitando parcial- mente os protocolos sanitários de distancia- mento, os membros do partido de Crivella e de sete outras legendas que lhe davam apoio ficaram aglomerados de pé. Presidente esta- dual do PP e político acostumado a falar com diferentes públicos, o deputado Dioni- sio Lins se empolgou com as analogias reli- giosas e afirmou que considerava Crivella “um homem tocado pelo Espírito Santo”, representando uma suposta “luta do Bem contra o Mal” nesta eleição municipal. Con- vidado a falar em seguida, o deputado fede- ral Jorge Braz (Republicanos-RJ) — ele, sim, pastor da Universal — abriu seu dis- curso, religiosamente comedido, com iro- nia: “Parece que o deputado Dionisio está mais pastor do que eu”. Apesar de a proximidade com a igreja render créditos num período de ascensão das denominações neopentecostais na polí- tica, o Republicanos (antigo PRB), criado em 2005 sob forte influência da Igreja Uni- versal, quer agora desvencilhar-se da ima- gem de partido a serviço de Edir Macedo para tentar postular-se como conservador. O objetivo é atrair um leque mais diverso de candidatos não necessariamente associa- dos à igreja e aumentar seu protagonismo político. E Crivella, único prefeito que a si- gla já elegeu numa capital, é hoje o princi- pal símbolo desse grande mosaico identitá- rio. A vitória do bispo e sobrinho de Mace- do entusiasmou os evangélicos em 2016, quando o presidente da sigla, Marcos Perei- ra, afirmou a ÉPOCA que, um dia, um evangélico seria presidente do Brasil. A previsão não se concretizou, mas a chegada de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto Jair Bolsonaro recebe de Marcelo Crivella a Medalha Marechal Zenóbio da Costa. O presidente tem evitado associar seu nome às eleições municipais, mas deu apoio à reeleição de Crivella no Rio A estratégia do partido da igreja de Edir Macedo em se distanciar da religião e se aproximar cada vez mais de Jair Bolsonaro por GustavoSchmitt e BernardoMello DIREITA UNIVERSAL REPUBLICANA 30 deu uma guinada na legenda. Com isso, a sigla hoje busca se apresentar como um partido conservador de direita, colado à imagem de Bolsonaro e com o discurso neutro em relação à igreja. Em abril, foram filiados os filhos do presidente Carlos e o senador Flávio, além da ex-mulher Rogéria Bolsonaro. O zero quatro, Jair Renan, tam- bém já ouviu que, caso decida entrar para a política, será bem-vindo na sigla. Mas a transformação moralizante busca- da pelos caciques do partido, expoentes do centrão e aliados de todos os governos, en- frenta alguns desafios práticos: as acusações de corrupção que se empilham nos tribunais envolvendo alguns de seus representantes. Tais suspeitas de irregularidades atingem o presidente Marcos Pereira e principalmente o prefeito Marcelo Crivella, cuja administra- ção enfrenta uma série de denúncias. Pereira foi acusado na delação da JBS de acertar um pagamento de R$ 6 milhões, a título de pro- pina, quando era ministro da Indústria e Comércio Exterior do presidente Michel Te- mer. Ele também foi acusado por recebi- mento ilegal de dinheiro da Construtora Odebrecht. Ele nega irregularidades Crivella, por sua vez, esteve em foco nas últimas semanas em razão de investigações do Ministério Público (MP) sobre o chama- do “QG da Propina”. Trata-se de um supos- to esquema de corrupção em que credores da prefeitura do Rio pagariam propina para receber por serviços não prestados. O caso mostra o empresário Rafael Alves, filiado ao Republicanos e ligado a contraventores, co- mo um dos nomes de maior influência no governo Crivella. Segundo os investigadores, Alves cuidava de pagamentos e nomeações em um cardápio variado de serviços, desde a iluminação pública até o turismo. Um de seus principais aliados nessa atividade transversal na máquina pública era, ainda segundo o MP, Mauro Macedo, tesoureiro ADRIANOMACHADO/REUTERS DIREITA UNIVERSAL O bispo da Universal, Edir Macedo (abaixo). A cúpula quer que o partido se distancie da igreja para atrair candidatos e eleitores de outras denominações evangélicas e até mesmo católicos Flávio e Carlos Bolsonaro se filiaram ao Republicanos no Rio de Janeiro, assim como sua mãe, Rogéria 31 de Crivella nas últimas campanhas eleitorais e primo de Edir Macedo. O envolvimento de Mauro Macedo, mais do que Rafael Alves, empurra o prefeito para o olho do furacão. Apelidado de Mestre dos Magos por sua onipotência na campanha vi- toriosa à prefeitura, em 2016, Mauro Macedo é um dos aliados mais antigos e próximos a Crivella justamente pela relação que antece- de a política. “O Mauro é a família. É por isso que o Rafael Alves fala que poderia derrubar não só o Crivella, mas a igreja, se falasse o que sabe”, disse um ex-funcionário do pre- feito, referindo-se a mensagens obtidas pelos investigadores no celular de Alves. Até agora, o principal problema que Cri- vella havia arrumado pela atenção dedicada às igrejas foi um pedido de impeachment, que virou também investigação do Ministé- rio Público, motivada pelo evento Café da Comunhão, realizado em julho de 2018, na sede da prefeitura. Nele, Crivella prometeu vantagens na fila de hospitais públicos a pessoas indicadas por pastores de diferentes denominações, cunhando o famoso bordão “fala com a Márcia”, assessora do prefeito à época. A investigação pode até deixar Cri- vella inelegível, mas o prefeito já conseguiu arquivar pedidos de afastamento e a abertu- ra de uma CPI sobre o assunto. Há quatro anos, a força da Universal nasurnas do Rio de Janeiro se traduziu na eleição de apenas três vereadores ligados à igreja: João Mendes de Jesus, Bispo Inaldo Silva e Tânia Bastos. Neste ano, a aproxima- ção de Crivella com o presidente Jair Bolso- naro poderá se traduzir numa ampliação sem precedentes da base parlamentar do Re- publicanos. Enquanto os três vereadores eleitos em 2016 deverão concentrar os votos da igreja na busca por mais um mandato, a nova leva de candidatos do partido terá no- mes que vão desde o ator Paulo Cinturaao DJ Tubarão, conhecido no funk carioca. Na esteira do alinhamento a Bolsonaro, o Repu- blicanos terá ainda ao menos meia dúzia de candidatos ligados à área de segurança, sen- do três egressos da Polícia Militar, um da Marinha, um inspetor penitenciário e a ins- petora-geral da Guarda Municipal, Tatiana Mendes. A pedido de Carlos, o partido abra- çou também seu principal colega na Câmara Municipal, o vereador Leandro Lyra, eleito pelo partido Novo. Luis Carlos Gomes da Silva, bispo da Universal e presidente esta- dual do Republicanos, enxergou a onda Bol- sonaro como chance de estimular mais membros da igreja a também tentarem a sorte de ser “puxados” nesta eleição. “A po- lítica só chegou a esse ponto porque ficamos de fora dela. Agora, o partido vai fazer mais de dez vereadores”, calculou Silva. Nesta eleição, o Republicanos lançará ca- beças de chapa em capitais de nove estados (RJ, SP, AM, PA, RO, MA, MG, ES e RS). A maioria deles se esforça para associar suas A nova leva de candidatos do partido nas eleições municipais será ummosaico identitário, com nomes que vão do ator Paulo Cintura ao DJ Tubarão, conhecido no funk carioca CHIQUITOCHAVES/AGÊNCIAOGLOBO DIREITA UNIVERSAL 32 propostas ao presidente — e aguarda retri- buição. Embora tenha dito que não se en- volveria no pleito, Bolsonaro tem deixado sua participação mais evidente nas disputas nas duas principais capitais do país. Em São Paulo, em sua primeira entrevista como can- didato, o deputado Celso Russomanno deu logo o recado de que é “alinhado” a Bolso- naro. Sua fala buscava contrapor o PSDB, que domina a prefeitura e o governo estadual e vive às turras com o presidente. Bolsonaro chegou a tentar, sem sucesso, interferir no PSL — partido que o levou ao Planalto e com o qual rompeu logo depois — para tro- car a deputada Joice Hasselmann por um vi- ce na chapa do Republicanos, na capital paulista. No Rio, o candidato do PSL à pre- feitura, Luiz Lima, não terá o apoio da famí- lia presidencial, aliada de Crivella. Ao oficializar a candidatura de Celso Russomanno à prefeitura de São Paulo num pequeno auditório de um antigo casarão na Avenida Indianópolis na última quarta-feira, na Zona Sul de São Paulo, Marcos Pereira buscou explicar a recente proximidade com o presidente. Trata-se de uma mudança e tanto para um político que, apesar de ocu- par o posto de vice-presidente da Câmara dos Deputados, não era sequer recebido por Bolsonaro no Palácio do Planalto até poucos meses atrás. Pereira jura não se tratar de oportunismo. “O Republicanos não se decla- ra conservador para se aproveitar da ascen- ção do presidente. Essa nossa mudança veio ao encontro do que a sociedade brasileira e paulistana querem”, disse. Mas, a exemplo do que ocorre em todo o centrão, o conser- vadorismo é um conceito bem mais elástico do que se imagina. Na eleição municipal, a legenda terá coligações com partidos de to- do o espectro político, inclusive da esquer- da: DEM, PROS, PSDB, Progressistas, MDB, PSD, PSB e PDT. No Recife, o socialista João Campos, filho do ex-governador Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo em 2014, contará com o apoio do Republicanos. Em Aracaju, será Edvaldo Nogueira, do PDT, o depositário dos votos da Universal. Em sua estratégia de diversificação, o Re-publicanos tem aberto as portas a mem- bros das mais variadas denominações cris- tãs e até a políticos de outras religiões. Em março, já havia filiado o também deputado Marco Feliciano, aliado de primeira hora de Bolsonaro, que é de uma igreja evangéli- ca ligada à Assembleia de Deus, concorren- te da Universal. Diante dos novos quadros, o presidente Marcos Pereira refuta a tese de influência da igreja, afirma que há indepen- dência no partido e cita dados de que, dos 34 deputados da bancada federal, só 14 são da igreja. “A maioria são pessoas de outras denominações religiosas ou de outras áreas”, disse Pereira. Mas há dúvidas sobre tal inde- pendência ser colocada em prática. O depu- tado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) afirmou O presidente Marcos Pereira refutou a tese de influência da igreja nas decisões internas, afirmou que há independência no partido e disse que, dos 34 deputados da bancada federal, só 14 são da Universal DIREITA UNIVERSAL JORGEWILLIAM/AGÊNCIAOGLOBO 33 que já foi convidado para migrar para o Re- publicanos, mas explicou que nos momen- tos decisivos a palavra final sempre é da Igreja Universal. “Vejo a Igreja Universal muito exclusivista no segmento evangélico. Só querem misturar-se quando tem conve- niência pra eles. Tenho meus dois pés atrás. No fundo, os nomes da Universal sempre prevalecem”, disse. Sob o comando de Pereira desde 2011, quando tinha oito deputados federais elei- tos, a sigla mais que quadruplicou a bancada na Câmara dos Deputados, ultrapassando partidos tradicionais como PSDB, PDT e DEM. Os planos para o futuro são ambicio- sos. Nesta eleição, a “meta” é triplicar o nú- mero de prefeitos, que hoje são cerca de 100, e também de vereadores nas Câmaras — eles somam 1.200 cadeiras pelo país. Marcos Pereira reforçou que a guinada conservadora começou antes do fenômeno do bolsonarismo, quando uma pesquisa en- comendada pelo partido nos idos de 2017 mostrava certa simpatia do eleitorado às ideias defendidas pela direita, sobretudo no campo econômico. Em maio de 2019, quan- do o nome PRB foi abandonado em detri- mento de Republicanos, houve até mesmo a adoção de um pensador para lastrear a nova fase da legenda: o filósofo político america- no Russell Kirk (1918-1944), amplamente ci- tado por Olavo de Carvalho em suas “aulas”. Os novos tempos de proximidade com o poder trouxeram também uma boa dose de autoestima para os integrantes do partido, com destaque para o próprio Marcos Perei- ra, que não esconde a vaidade ao ver seu no- me hoje na bolsa de apostas para a vaga “terrivelmente evangélica” que poderá vir a surgir no STF com a aposentadoria de Cel- so de Mello. “Eu me sinto honrado, mas meu foco é o Legislativo”, disse ele. A mo- déstia é colocada à parte, porém, quando Pereira é confrontado sobre as articulações que conduz para a substituição de Rodrigo Maia na presidência da Câmara dos Deputa- dos. Aí, com voz entusiasmada, não esconde a empolgação. “Estamos trabalhando.” CLAUDIOBELLI/AGÊNCIAOGLOBO DIREITA UNIVERSAL O presidente do Republicanos, Marcos Pereira (à esq.), comanda o partido desde 2011. No período, a bancada na Câmara dos Deputados saltou de oito para 34 parlamentares Celso Russomanno (abaixo) selou sua candidatura à prefeitura de São Paulo pelo partido com o aval de Jair Bolsonaro APRESENTADO POR Quem diria que o vinho e a internet se tornariam uma dupla tão perfeita? Durante a quarentena, as conversas on-line, acompanhadas de brindes à distância, ajudaram a amenizar a saudade e se tornaram a marca de um tempo. Por isto, nadamais natural que omaior evento de vinhos portugueses do Brasil ganhar uma edição digital em 2020. Os ingressos para a 7ª Edição do Vinhos de Portugal já estão à venda e várias atrações já podem ser acompanhadas pelo site. Do dia 23 ao dia 25 de outubro serão realizadas lives para todo o país, com 62 produtores e 15 provas com críticos brasileiros e portugueses. Quemmora no Grande Rio e na Grande São Paulo tem a opção de adquirir ingresso e receber vinhos em casa. Mas, mesmo quemmora em outras cidades pode comprar as lives, as provas e os vinhos. O evento será pela primeira vez reali- zado no país inteiro. Qualquer pessoa em qualquer lugar do Brasil pode comprar os ingressos, já que a plataforma do evento tem a lista de importadoras de cada cidade, onde pode-se encontrar os vinhos. O participante que adquirir o ingresso com a gift box receberá em casa um rótulo surpresa de umdos produtores presentes, a revista do evento e brindes como o guia de enoturismo do Centro de Portugal. Das 15 provas, quatro serão inéditas com a presença do produtor e duração de uma hora. Os participantes terão a opor- tunidade de sorver até quatro vinhos premium,muitos dos quais não são vendi- dos no Brasil.Será uma ótima oportuni- dade de compartilhar este momento com a família, o companheiro ou aquele amigo querido, mesmo à distância. SALÃODEDEGUSTAÇÃO Nesta 7ª Edição do Vinhos de Portugal, cinco críticos do evento conduzem o Vinhos de Portugal se torna on-line em 2020, com provas de rótulos inéditos, envio de garrafas aos participantes e passeio virtual Para degustar em casa Maior evento de vinhos portugueses do Brasil ganha edição digital em 2020 23 a 25 de outubro Ingressos: vinhosdeportugal2020.com.br VINHOS PREMIUM EM CASA PROVAS ESPECIAIS GIFT BOX Os participantes das provas que moram no Grande Rio e na Grande São Paulo recebem de 3 a 4 garrafas de vinhos premium, muitos dos quais não são vendidos no Brasil. Das 15 provas, quatro serão especiais, com a presença dos produtores: Luís Pato, João Portugal Ramos, Pedro Baptista e o casal Jorge Serôdio Borges e Sandra Tavares. Moradores do Grande Rio e da Grande São Paulo podem receber em casa uma gift box com um rótulo surpresa de um dos produtores presentes, a revista do evento e outros brindes. 62 PRODUTORES O evento reúne 62 produtores de nove regiões: Alentejo, Bairrada, Beira Interior, Dão, Lisboa, Porto e Douro, Tejo, Vinhos Verdes e Península de Setúbal. UM ENCONTRO DE SABORES E APRENDIZADO CONTEÚDO PUBLICITÁRIO PRODUZIDO POR Evento serápela primeira vez realizado simultaneamenteno Brasil e emPortugal Salão de Degustação. Estarão presentes o único Master of Wine de língua portu- guesa, Dirceu Vianna Junior; o crítico brasileiro do Valor Econômico, Jorge Lucki; o diretor do jornal Público,Manuel Carvalho; e os críticos portugueses Luís Lopes e Rui Falcão. Outra novidade é que, pela primeira vez, haverá uma prova especial de azei- tes com Ana Carrilho, do Esporão; e as jornalistas Luciana Fróes, de O Globo, e Alexandra Prado Coelho, do jornal Público. A prova é gratuita para os cem primeiros consumidores que compra- rem ingressos. Vinhos de Portugal é uma realização dos jornais O Globo, Valor Econômico e Público, com parceria de ViniPortugal, apoio do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), Comissão Vitivinícola do Alentejo, Agência Regional de Promoção Turística do Centro de Portugal, Associação Portuguesa de Cortiça (APCOR), Mozak e AGO, participa- ção da Comissão Vitivinícola do Dão e Azeites Esporão, projeto da Out of Paper, rádio oficial CBN e apoio institucional do SindRio. PASSEIOVIRTUALNASVINÍCOLAS Uma plataforma digital leva o consumi- dor a uma viagem pelomundo dos vinhos portugueses das oito regiões vinícolas, de norte a sul do país. Nos meses de julho e agosto, uma equipe viajou pelas quintas de 62 produtores para fazer vídeos e fotogra- fias que ilustram o passeio virtual. Com acesso gratuito, a plataforma já pode ser acessada para esta incrível viagem virtual! Trata-se do único conte- údo digital que revela ao consumidor o mundo dos produtores de vinho, com histórias e imagens inéditas das quintas e informações sobre os vinhos que vão desde as fichas técnicas até onde comprá- -los no Brasil. Cada produtor terá uma página exclusiva. TOMARUMCOPO Uma das mais populares das edições anteriores, a sessão “Tomar um Copo” também terá formato digital. Vinte e dois produtores, a maioria do Alentejo, do Porto e Douro recriaram a atividade em vídeos onde degustam vinhos e falam sobre cultura. Nenhum país do mundo reúne informações de produtores agre- gadas em um só espaço e com este forte apelo visual. A cantora e compositora Adriana Calcanhotto, que há quatro anos é presença garantida no evento, também viajou pelas regiões do Douro e Dão e encabeça uma série de três vídeos inéditos. VINHOSCOM Em2020, haverá tambémo “VinhosCom”, com viagens que unem a enologia com a sustentabilidade. Umdos principais desti- nos desta incursão em vídeo é o centro de Portugal, onde o passeio começa na Serra da Estrela, na praia fluvial mais alta do país, atravessa uma vila e termina em um hotel, campeão de sustentabilidade e para- íso dos surfistas de todo omundo. Vinícolas portuguesas poderão ser visitadas em passeio virtual Foto FernandoDonasci/Divulgação FERNANDOHOLIDAY, 23 anos, paulista O que faz e o que fez: vereador de São Paulo pelo Patriota. Foi eleito em 2016 com48mil votos, depois de ganhar projeção noMovimento Brasil Livre (MBL), uma das organizações responsáveis por convocar protestos de rua pelo impeachment da ex-presidenteDilmaRousseff SANTANA×HOLIDAY porMarlenCouto IRAPUÃSANTANA, 33 anos, fluminense O que faz e o que fez: advogado e consultor jurídico da Educafro e do Livres. Deu suporte à consulta feita ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que levou aCorte a decidir pela divisão de recursos do fundo eleitoral para candidatos negros. É doutor emDireito pela Universidade do Estado doRio de Janeiro (Uerj) Oadvogado e o vereador discordam sobre divisão proporcional de recursos do fundão para candidaturas negras MONTAGEMSOBREFOTOS:KARIMEXAVIER/FOLHAPRESS | ROBERTOCASIMIRO/FOTOARENA CONCORDAMOS EM DISCORDAR36 A distribuição proporcional de recursos do fundo eleitoral e do tempo de rádio e TV para candidaturas negras, como deci- diu o TSE, é necessária? O que explica o baixo número de candidatos negros eleitos no Brasil? IRAPUÃ SANTANA Historicamente, os partidos políticos investem me- nos tempo e dinheiro nas candidaturas de pessoas negras. Em 2016, dos 5.500 municípios, em mais de 2.500 não existia sequer um candi- dato a prefeito negro. Fui pesquisar o porquê disso e a primeira hipótese em que pensei foi a distribuição demográfica de brancos e negros no Bra- sil. Achei que boa parte desses casos de cidades sem candidatos negros estaria na Região Sul, por ter proporcionalmente menos negros em sua população. Mas verifiquei que havia discrepância em todas as regiões do país. A partir disso, comecei a observar como se deram as eleições an- teriores e vi que, quanto maior o cargo disputado, menor o número de negros candidatos. Além disso, em algumas cidades, os candidatos brancos chegavam a ter três vezes mais investimento de verba pública do que os candidatos negros. Entendi que o que efetivamente modifica esse panorama é o dinheiro investido. Se estamos falando de dinheiro público, temos de nos perguntar por que esse dinheiro não está che- gando às pessoas negras. A Constituição veta esse tipo de discrimina- ção, afinal de contas todos são iguais perante a lei. Todos têm de ter a mesma chance de concorrer. FERNANDO HOLIDAY Sou contra essa medida. Acredito que, para que os negros alcancem posições de destaque, especialmente nas eleições, eles precisam ter um caminho respeitável até a vitória. E, para ter um caminho respeitável, eles não podem ter uma ajuda que os outros não tiveram, porque acabam não sendo dignos dos votos das pessoas. Isso está relacionado a um problema mais grave no país, que é o racismo enraizado. Para que o racismo seja vencido, os negros precisam ser respeitados. A meu ver, essa política instituída pelo TSE, de garantir verbas para candidaturas negras somente por conta da cor da pele, não ajuda na superação desse preconceito e não ajuda a alcançar esse res- peito que todos nós queremos. O plenário do TSE decidiu que a mudança deveria valer ape- nas em 2022, mas o ministro Ricardo Lewandowski, do Supre- mo Tribunal Federal (STF), determinou em decisão liminar que a divisão proporcional comece a valer a partir deste ano. Em sua avaliação, a regra deve valer já para esta eleição? IS O que ficou decidido por uma votação apertada no TSE é que valeria só a partir de 2022, por conta do artigo 16 da Constituição. Entretanto, existem precedentes no Supremo Tribunal Federal. O próprio artigo 16 fala especificamente de casos em que a lei eleitoral venha a ser modifi- cada, para os quais se aplicaria o princípio da anterioridade, o que exige que a mudança ocorra um ano antes da eleição. Mas a gente não está falando de lei, e sim de uma interpretação dentro de um procedimento. E houve precedente justamente nas cotas femininas em relação a isso, que foram aplicadas no mesmo ano também.FH A decisão do plenário do TSE era muito clara em relação à validade a partir da próxima eleição. Uma decisão monocrática como essa, de um único ministro, acaba desrespeitando a própria Corte. Apesar de discordar da política como um todo, acho pior ainda o fato de a decisão de um mi- nistro prevalecer sobre um plenário. É evidente que isso vai interferir nas eleições de forma que nenhum candidato esperava. Vai bagunçar o jogo. CONCORDAMOS EM DISCORDAR 37 Que impacto as mudanças terão nas eleições? IS Deverão ter impacto positivo nas eleições e na sociedade brasilei- ra. Com mais representantes negros em cargos públicos, teremos um olhar mais acurado para as populações marginalizadas das cidades. Saneamento, assistência de saúde e outros assuntos ficam mais evi- dentes na atuação de pessoas mais periféricas, por exemplo, nas câ- maras municipais e prefeituras. Um exemplo: existe um plano nacio- nal para saúde integral da população negra no SUS, mas ele foi im- plantado em apenas 57 municípios. Esse tipo de política poderá ser reavaliado a partir do momento em que mais candidaturas negras sejam efetivamente eleitas. FH Possivelmente, teremos mais candidatos negros, mas no fim do dia não teremos muitos mais políticos negros eleitos, porque as pes- soas não vão votar por conta da cor da pele do candidato, mas pelas ideias que defendem. Se as ideias da maioria dos candidatos negros não condisserem com os desejos da sociedade, de nada vai adiantar, a não ser para aumentar a tensão racial no Brasil. Há risco de os partidos deixarem de lançar candidatos ne- gros para não terem de destinar mais recursos para essas candidaturas? IS As pessoas mal-intencionadas sempre vão tentar burlar regras fei- tas para o bem. A partir do momento em que se observar má-fé dos partidos, existem duas consequências possíveis. A primeira é o julga- mento das contas eleitorais ser rejeitado. A segunda é a reação da pró- pria sociedade. Vai pegar muito mal para o partido se ela verificar que a sigla está impedindo candidaturas negras. FH É possível. Na prática, acredito que alguns partidos vão manter os candidatos negros que avaliam ter potencial e eliminar os que não tenham. Dessa forma, vão evitar dar uma porção grande do fundo eleitoral para candidatos negros. De todo modo, os candidatos que forem eleitos e que usarem essa verba vão ser desrespeitados de algu- ma maneira por isso, por terem tido acesso a um tipo de privilégio. Além das mudanças definidas pelo TSE, que medidas po- dem ser tomadas para que o país tenha mais candidatos ne- gros eleitos? IS O principal é o financiamento das campanhas, o dinheiro e o tempo de rádio e TV, que significam a possibilidade de chegar ao eleitor. Entendo que as cotas para as candidaturas negras são impor- tantes também, mas isso vai ficar para o debate no Legislativo. FH Existe um problema. Claro que as pessoas não estão votando em candidatos negros. A gente vê isso pelo retrato do Congresso e da Câmara dos Vereadores. Só que a cota racial não resolve o pro- blema. O problema está na educação. Os negros, de uma forma ge- ral, precisam ascender socialmente para que tenham condições de se candidatar e ter meios de divulgar suas ideias. Alguns poucos conseguem, como eu consegui por meio das redes sociais. O me- lhor meio para isso acontecer, a opção mais imediata que nós te- mos, é uma ampliação de cotas sociais nas universidades em detri- mento das cotas raciais, e haver uma conscientização para que mais pessoas privadas doem para candidaturas negras, mas não porque são negros, e sim porque verdadeiramente representam causas demandadas pela sociedade. CONCORDAMOS EM DISCORDAR38 JairBolsonaro eAndrésManuel LópezObrador (AMLO)pareciam, no ano longínquo de 2018, duas figuras políti- cas diametralmente opostas. De um lado, um ex-deputado candidato à Presidência nitidamente reacionário — extre- ma-direita passou a ser o termo para designar aqueles que antes eram mais diretamente identificados. Bolsonaro é não apenas reacionário, mas abertamente refratário às ins- tituições que compõem a democracia brasileira. Do outro lado, tínhamos um político de esquerda, com experiência em gestão — havia sido prefeito da Cidade do México —, defensor da democracia e dos direitos dos mais pobres. Ambos demonstravam inclinações populistas, é verdade, mas em todo o resto as diferenças erambrutais. Veio a pan- demia. Veio a pandemia e a resposta de um e de outro foi praticamente a mesma. Ignoraram a gravidade do quadro, não adotarammedidas para frear a disseminação do vírus, não fizeram políticas adequadas para resgatar suas econo- mias do desastre. Contudo, gozamde índices de aprovação razoáveis, e, de ummodo geral, o povo nas ruas os enxerga com bons olhos. Notem: falei do povo nas ruas. Tanto AMLO quanto Bolsonaro foram às ruas dizer a ambulantes e outros trabalhadores que essa história de quarentena não fazia sentido pois perderiam seus meios de sobrevivência. Ambos usam um linguajar simples e não escondem seu ladomais rude. Não têm diplomas para ostentar, tampou- co acreditamnesses diplomas. Pelopoder da retórica junto ao povo, pela essência de seu populismo desvelado, impu- seram suas próprias narrativas sobre o que está acontecen- do em seus países. Conseguiram, cada um a seu modo, calar a oposição e não lhe oferecer qualquer alternativa de engajamento com o povo que eles agora chamam de seu. Dói constatar isso? Claro. Mas é essa a realidade das duas maiores economias da América Latina. O que se passa nas outras? No Chile e na Colômbia, dois países sempre elogiadospela boa conduçãodapolítica econô- mica, pelo respeito às instituições, pelas difíceis transforma- ções pelas quais passaram esses países, estão à beira do caos social. Na recente reunião anual da Corporação Andina de Fomento(CAF) tiveaoportunidadededividirumpainel com cientistas políticos desses dois países. A avaliação que fizeram foidura.Disseramque tantoSebastiánPiñeranoChile, quan- to IvánDuque na Colômbia estão extremamente frágeis ante a frustração da população. Os problemas econômicos e de saúdepúblicadesses países estão sendoatribuídos às falhas de seus respectivos governos. Há risco de revoltas sociais, quiçá piores do que as que testemunhamos em outro ano longín- quo, a segunda metade de 2019. Detalhe mais do que impor- tante: Piñera e Duque são de centro-direita, tecnocráticos, com currículos para esbanjar. O que lhes falta? A capacidade deconectar-secomopovo.MartínVizcarra,doPeru, também se enquadra nesse critério de falta incapacitante. Haverá eleições presidenciais no Peru em 2021. Haverá eleições presidenciais noChile em 2021. O desfecho desses pleitosmuito dirá sobre os rumosdaAmérica Latina.Com eleitores frustrados vítimas da pandemia, da crise e da de- sigualdade, não é irrazoável supor que haja uma guinada para o populismo. Nesse caso, a Colômbia será a próxima —por lá, hámuitos arrependidos de terem votado no cen- trista Duque e não nos candidatos dos polos. A pandemia tem oferecido múltiplas oportunidades para que os populistas façam aquilo que sabem fazer me- lhor: encantadores de serpentes, prometem para o povo uma vida melhor enquanto garantem seu próprio futuro político aniquilando a oposição. Se os demais países da região olharem não para as péssimas lições evidentes nas ações do México e do Brasil, mas em como esses líderes foram capazes de superar desafios que pareciam insuplan- táveis, poderemos vir a testemunhar algo que não é nada raro na América Latina: o retorno dos populistas. Não da- quelesde traçosmais leves, comovimosnosanos2000,mas daqueles que sempre foram responsáveis, no decorrer da história, pelos piores desastres dessa pobre regiãomarcada por oportunidades perdidas e desperdiçadas. M.B. mbolle@edglobo.com.br MONICA DE BOLLE É PESQUISADORA SÊNIOR DO PETERSON INSTITUTE FOR INTERNATIONAL ECONOMICS E PROFESSORA DA UNIVERSIDADE JOHNS HOPKINS O ESPECTRO DO POPULISMO NA AMÉRICA LATINA 39 TANQUE BAIXO40 Terminal da Transpetro em São Sebastião. A estratégia de Roberto Castello Branco é
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