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Propriedade fiduciária

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Trabalho sobre Direitos Reais de Garantias.
Propriedade Fiduciária
 A alienação fiduciária em garantia de bens móveis, introduzida no ordenamento jurídico brasileiro pela Lei 4.728/65, conforme alterada pelo Decreto-lei 911/69, tem sido largamente utilizada como instrumento de garantia de financiamentos bancários, acentuadamente no financiamento de automóveis. Nosso CC/02 absorveu tal lei. Sendo utilizado o decreto como dispositivo processual.
 A regulamentação da propriedade fiduciária pelo Novo Código Civil oferece uma modalidade de garantia vantajosa e interessante, cuja utilização não é limitada apenas às instituições financeiras nacionais, podendo ser utilizada em quaisquer operações financeiras, inclusive em operações com credores estrangeiros.
· Art. 1361. 
Considera-se fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel infungível que o devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor.
§ 1º Constitui-se a propriedade fiduciária com o registro do contrato, celebrado por instrumento público ou particular, que lhe serve de título, no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor, ou, em se tratando de veículos, na repartição competente para o licenciamento, fazendo-se a anotação no certificado de registro.
§ 2º Com a constituição da propriedade fiduciária, dá-se o desdobramento da posse, tornando-se o devedor possuidor direto da coisa.
§ 3º A propriedade superveniente, adquirida pelo devedor, torna eficaz, desde o arquivamento, a transferência da propriedade fiduciária.
· Art. 1362.
Contrato, que serve de título à propriedade fiduciária, conterá:
I - o total da dívida, ou sua estimativa;
II - o prazo, ou a época do pagamento;
III - a taxa de juros, se houver;
IV - a descrição da coisa objeto da transferência, com os elementos indispensáveis à sua identificação.
 Conforme se extrai do artigo 1361 da aludida Lei, para constituição da propriedade fiduciária é necessário, primeiro, o registro do contrato junto ao Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor, ou, em caso de veículos, na repartição competente para o licenciamento, sendo que deverá ser anotada no registro do veículo a constituição da garantia, prática, aliás, acertadamente já adotada por inúmeras instituições financeiras. 
 Além disso, o contrato deve, ainda, conter (ii) o total da dívida ou sua estimativa; (iii) o prazo ou a época do pagamento; (iv) a taxa de juros, se houver e (v) a descrição da coisa objeto da transferência, com os elementos indispensáveis à sua identificação, conforme preleciona o artigo 1362.
· JURISPRUDÊNCIA 
TRIBUTÁRIO - EXECUÇÃO FISCAL - EMBARGOS DO DEVEDOR - IPVA - SUJEITO PASSIVO - PROPRIETÁRIO DE VEÍCULO AUTOMOTOR - ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA - PROPRIEDADE SOB CLÁSULA RESOLUTIVA - ART. 1361 DO CÓDIGO CIVIL - LEGITIMIDADE PASSIVA DO CREDOR FIDUCIÁRIO - ART. 4 C/C ART. 5º DA LEI ESTADUAL Nº 14.937/2003 - RECUSO DESPROVIDO. - O fato de o bem ser objeto de contrato de alienação fiduciária em nada interfere na obrigação tributária do apelante, já que, inquestionavelmente, o credor fiduciário é quem detém a propriedade do veículo, ainda que mediante condição resolutiva, conforme se extrai do art. 1361 do Código Civil: "Art. 1.361. Considera-se fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel infungível que o devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor". - Em se tratando de alienação fiduciária, a Lei Estadual nº 14.937/2003, que dispõe sobre o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores - IPVA, em seu artigo 5º, I, preceitua que o credor e o devedor fiduciários são solidariamente responsáveis pelo pagamento do IPVA, donde se extrai a legitimidade passiva do apelante para figurar do polo passivo da execução, não havendo que se falar em carência de ação. - Recurso desprovido.
(TJ-MG - AC: 10210110071979001 MG, Relator: Eduardo Andrade, Data de Julgamento: 02/09/2014, Câmaras Cíveis / 1ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 10/09/2014);
 IMPUGNAÇÃO DE CRÉDITO JULGADA PROCEDENTE – CONTRATOS COM CLÁUSULA DE CESSÃO FIDUCIÁRIA DE CRÉDITO – Pretensão recursal da recuperanda à inclusão desse montante na classe quirografária – Créditos garantidos por cessão fiduciária – Alegação de que o perito contador, no parecer apresentado, desconsiderou em seu cálculo os valores garantidos com duplicatas por não atenderem à formalidade prevista no inciso inciso IV do art. 1362 do Código Civil – Impropriedade – Jurisprudência atual vem entendendo que integram o rol previsto no art. 49, § 3º os contratos financeiros realizados antes do pedido recuperacional em cessão fiduciária – Análise das cláusulas contratuais – Inexistência de dúvida quanto à "detida especificação do crédito (e não do título que o representa), nos moldes exigidos pelo art. 18, IV, da Lei n. 9.514/1997" (Resp n. 1.797.196 - SP) – Recurso não provido. Dispositivo: negaram provimento ao recurso.
(TJ-SP - AI: 20250994020208260000 SP 2025099-40.2020.8.26.0000, Relator: Ricardo Negrão, Data de Julgamento: 01/06/2020, 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, Data de Publicação: 01/06/2020).
· Art. 1.363:
Antes de vencida a dívida, o devedor, a suas expensas e risco, pode usar a coisa segundo sua destinação, sendo obrigado, como depositário:
I - a empregar na guarda da coisa a diligência exigida por sua natureza;
II - a entregá-la ao credor, se a dívida não for paga no vencimento. 
 Dessa forma, como possuidor direto, tem tutela possessória para defender a posse dos ataques injustos de terceiros e mesmo do credor-fiduciário. Sua posse é justa, enquanto não houver quebra do dever de restituição, em razão do inadimplemento. Se a posse é justa – e, portanto, de boa-fé – tem direito também à percepção dos frutos, embora não o diga expressamente a lei, enquanto perdurar a boa-fé. Mais ainda, tem direito a expectativa de recuperar a propriedade da coisa alienada em garantia, tão logo pague a obrigação garantida. Desse modo, tem propriedade sob condição suspensiva, subordinada ao fato futuro do adimplemento da obrigação.
 O artigo diz que o devedor arca com custos e riscos da utilização da coisa, ou seja, o devedor paga todo o custeio de manutenção da coisa, inclusive impostos e taxas sobre ela incidentes. Além disso, há deslocamento legal dos riscos de perecimento e deterioração da coisa transferida em garantia, não se aplicando a regra res perit domino do direito das obrigações. A coisa se perde e se deteriora para o devedor não proprietário, com ou sem culpa, não ficando ele desonerado do pagamento da dívida em tais hipóteses.
Há entendimento iterativo do STJ no sentido de que “furtado o bem, prossegue a ação de depósito, afastada a decretação da prisão, processando-se a execução nos próprios autos pelo equivalente em dinheiro, valendo a sentença como título judicial” (REsp n. 510.999/SP, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, j. 21.10.2003).
 A mesma posição adota o STF, afirmando que roubo ou furto do bem objeto de alienação fiduciária exonera o devedor de responder como depositário infiel, mas prossegue a ação de depósito como execução por quantia certa (RTJ 124/966 e 172/540). 
 O devedor, na qualidade de possuidor direto, detém exclusivamente o direito de usar e gozar da coisa e o de conservar em seu poder, antes do vencimento do débito, desde que observada a sua destinação, agindo na qualidade de depositário, estando sujeito às obrigações dispostas nos incisos I e II deste artigo. 
 A empregar na guarda da coisa a diligência exigida por sua natureza; O devedor, como depositário, deverá empregar toda cautela na conservação e guarda da coisa como se fosse sua, podendo e devendo utilizar-se dos interditos possessórios contra os que turbarem ou esbulharem sua posse. E a entregá-la ao credor, se a dívida não for paga no vencimento. Em caso de não pagamento da dívida, o fiduciante estará sujeito à obrigação de restituir a coisa ao adquirente (fiduciário). O devedor configura-se como depositário infiel,mas, não estará sujeito à pena de prisão civil, pois, o STF, na Súmula vinculante n. 25, declarou a inconstitucionalidade da mesma em qualquer modalidade de depósito. 
É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito. Súmula vinculante n.25.
 Desse modo, com o inadimplemento da obrigação, fica o devedor obrigado a entregar a coisa ao credor, possibilitando a este o ingresso da ação de busca e apreensão a fim de apreendê-la. Negada a restituição ou não sendo o bem encontrado, a ação de busca e apreensão poderá ser convertida em ação de depósito ou poderá se valer da execução do contrato para receber o valor referente ao bem, caso não seja encontrado.
· JURISPRUDÊNCIA 
RECURSO ESPECIAL Nº 1.627.621 - PR (2016/0249351-0) RELATOR : MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA RECORRENTE : FORMAPLAN FORMAS PLANEJADAS INDUSTRIA E COMERCIO LTDA - EPP - EMPRESA DE PEQUENO PORTE ADVOGADOS : DALTRO DE CAMPOS BORGES FILHO - RJ036910 ROBERTO MACHADO FILHO - PR008115 SIMONE RODRIGUES ALVES ROCHA DE BARROS - SP182603 RODRIGO BARRETO COGO - SP164620 TIAGO DE CASTILHO MUÑOZ - SP331672 RECORRIDO : ITAU UNIBANCO S.A ADVOGADOS : GILMA MARCIA MARTINS C DE ARAUJO - SP068261 LUIZ RODRIGUES WAMBIER - PR007295 EVARISTO ARAGÃO FERREIRA DOS SANTOS - PR024498 FABRÍCIO KAVA - PR032308 DECISÃO Trata-se de recurso especial interposto contra acórdão assim ementado (e-STJ fls. 329/339): AGRAVO DE INSTRUMENTO - BUSCA E APREENSÃO. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA SUSCITADA PELO DEVEDOR - PRETENSÃO DE OBSERVÂNCIA DA CLÁUSULA DE ELEIÇÃO DE FORO - REJEIÇÃO - PREJUÍZO À ATUAÇÃO JURISDICIONAL - PRINCÍPIOS DO ACESSO À JUSTIÇA E CELERIDADE PROCESSUAL - MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA QUE PREVALECE EM DETRIMENTO DA CONVENÇÃO PARTICULAR - INADIMPLEMENTO DO DEVEDOR FIDUCIANTE - AJUIZAMENTO NO LOCAL ONDE SE ENCONTRA A COISA A SER DEVOLVIDA - OBRIGAÇÃO DECORRENTE DO ARTIGO 1.363, II, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. RECURSO PROVIDO. 1. A cláusula de eleição de foro, assim como toda e qualquer disposição contratual, pode ser afastada pelo Magistrado quando impuser prejuízo à ordem pública. 2. O processamento da Busca e Apreensão em comarca distante do local onde se encontra o bem a ser apreendido implica na realização de diligências que apenas retardam a entrega da prestação jurisdicional, num evidente desperdício da movimentação da máquina judiciária, em detrimento da efetivação do direito postulado. Os embargos declaratórios opostos foram rejeitados (e-STJ fls. 350/356). O recurso especial (e-STJ fls. 361/382), fundamentado no art. 105, III, alíneas a e c, da CF, aponta, de início, ofensa ao art. 535, II, do CPC, sob o argumento de negativa de prestação jurisdicional. Anota contrariedade, negativa de vigência e dissídio jurisprudencial em relação aos arts. 78 do CC/2002, 111, 112 e 114 do CPC/1973, alegando que o foro de eleição não poderia ser afastado sob o fundamento de "prejuízo da efetividade da jurisdição e celeridade do processamento da causa" (e-STJ fl. 371). Suscita violação do art. 100, IV, a, b e d, do CPC/1973 afirmando que, mesmo que afastado o foro de eleição, o juízo competente não seria o da localização do seu maquinário (União da Vitória PR), mas o da sede da sociedade empresária (São Paulo SP) ou o local do pagamento da obrigação (Barueri SP). Não foram apresentadas contrarrazões (e-STJ fls. 398/422). É o relatório. Decido. O recurso não merece provimento. O Tribunal a quo decidiu a matéria controvertida de forma fundamentada, ainda que contrariamente aos interesses da parte. Assim, não incorreu em omissão, contradição ou obscuridade. Desse modo, quanto à alegada afronta ao art. 535 do CPC/1973, não assiste razão à parte recorrente. A propósito: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE LOCAÇÃO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC/1973. INOCORRÊNCIA. REEXAME DE FATOS E PROVAS E INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 5 E 7 DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. Não configura ofensa ao art. 535 do Código de Processo Civil o fato de o Tribunal de origem, embora sem examinar individualmente cada um dos argumentos suscitados pela parte, adotar fundamentação contrária à pretensão da recorrente, suficiente para decidir integralmente a controvérsia. 2. O acórdão tratou de forma clara a controvérsia apresentada, lançando fundamentação jurídica sólida, mediante convicção formada do exame feito aos elementos fático-probatórios dos autos, para a solução adotada para o desfecho da lide. Apenas não foi ao encontro da pretensão do recorrente, o que está longe de significar negativa de prestação jurisdicional. (...) 4. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 535.761/MG, Relator Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 8/3/2016, DJe 15/3/2016.) Sobre a cláusula de eleição de foro, a conclusão da Justiça de origem está em sintonia com a jurisprudência desta Corte Superior, que admite sua anulação nas hipóteses em que o foro contratual se revelar abusivo por dificultar o acesso ao Judiciário, o que ocorreu no caso. Nesse sentido: CONFLITO DE COMPETÊNCIA - FORO DE ELEIÇÃO - CLÁUSULA VÁLIDA - EXPRESSIVO VALOR ECONÔMICO DO CONTRATO - LITIGANTES DETENTORAS DE CONDIÇÕES PARA DEMANDAR EM COMARCA DIVERSA DE SUAS SEDES - PRECEDENTES DA SEGUNDA SEÇÃO DO STJ. 1. A cláusula do foro de eleição é eficaz e somente pode ser afastada quando for reconhecida a sua abusividade, resultar na inviabilidade ou especial dificuldade de acesso ao Poder Judiciário. Precedentes da Segunda Seção. 2. O elevado valor do negócio realizado entre as partes autoriza presumir o conhecimento técnico da cláusula de eleição do foro, a qual, ausente qualquer vício de validade, deve prevalecer e ser respeitada pelas contratantes. 3. Existindo, na hipótese, identidade da causa de pedir entre as ações e decisões liminares com efeitos colidentes, faz-se necessária a reunião das demandas, sobretudo por conexão probatória, junto ao foro contratual. 4. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da 1.ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro/RJ."(CC 142.750/RJ, Relator Ministro MARCO BUZZI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 11/5/2016, DJe 25/5/2016.) AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. FORO DE ELEIÇÃO. DIFICULDADE DE DEFESA. FALTA DE DEMONSTRAÇÃO. REVISÃO. SÚMULA 7/STJ. 1. De acordo com o entendimento desta Corte, a cláusula de eleição de foro em contrato de adesão pode ser reputada inválida, quando demonstrada a hipossuficiência da parte ou a dificuldade de acesso à Justiça. Precedentes. 2. É inviável rever em sede de recurso especial a conclusão das instâncias ordinárias acerca da falta de comprovação da dificuldade de defesa, pois demandaria reexame de provas, o que é vedado em sede de recurso especial (Súmula 7/STJ). 3. Agravo interno não provido. (AgInt no AREsp 983.281/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 21/2/2017, DJe 1º/3/2017.) Quanto aos demais foros competentes apontados no recurso especial, sua análise dependeria de exame das cláusulas contratuais e das provas produzidas nos autos, o que é inviável, nos termos das Súmulas n. 5 e 7 do STJ. Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso especial. Publique-se e intimem-se. Brasília-DF, 1º de agosto de 2018. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA Relator (STJ - REsp: 1627621 PR 2016/0249351-0, Relator: Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, Data de Publicação: DJ 09/08/2018).
· Art. 1.364. 
Vencida a dívida, e não paga, fica o credor obrigado a vender, judicial ou extrajudicialmente, a coisa a terceiros, a aplicar o preço no pagamento de seu crédito e das despesas de cobrança, e a entregar o saldo, se houver, ao devedor.
 Vencida a dívida, e não paga, fica o credor obrigado a vender, judicial ou extrajudicialmente, a coisa a terceiros, a aplicar o preço no pagamento de seu crédito e das despesas de cobrança, e a entregar o saldo, se houver, ao devedor. O inadimplemento contratual do fiduciante, isto é, o vencimento da dívida sem que ocorra qualquer pagamento, não autoriza o credor apermanecer com o bem em seu poder como meio de cumprir a obrigação. 
 O presente dispositivo obriga o credor a vender a coisa a fim de se pagar. Essa venda se faz judicial ou extrajudicialmente a terceiros, não se exigindo que se realize mediante hasta pública, o que não impede que seja convencionado pelas partes. Se da venda da coisa houver saldo remanescente, a diferença será entregue ao devedor. Se o saldo for negativo, poderá o credor executar seu crédito. Pela norma é possível a venda da coisa pelo credor fiduciário justamente porque é ele o proprietário da coisa. Além disso, cabe a ação de busca e apreensão pelo credor fiduciário em face do devedor fiduciante, nos termos do Decreto-lei 911/1969.
· JURISPRUDÊNCIA
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.288.829 - RS (2018/0105269-4) RELATOR : MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA AGRAVANTE : ODANIR BRUNO SARTORI ADVOGADOS : CÉSAR CAUÊ SCHAEFFER ONGARATTO E OUTRO (S) - RS053943 ROSANA MARIA NICOLINI CHESINI - RS054228 FILIPE BALBINOT - RS070264 ANDERSON MATTUELLA - RS075999 AGRAVADO : BANCO BRADESCO S/A ADVOGADOS : FLÁVIO CÉSAR INNOCENTI E OUTRO (S) - RS059964 GILSON KLEBES GUGLIELMI - RS045592 DECISÃO Trata-se de agravo nos próprios autos (CPC/2015, art. 1.042) interposto contra decisão (e-STJ fls. 204/212) que inadmitiu o recurso especial em virtude de inexistência de violação dos arts. 489, § 1º, IV, e 1.022 do CPC/2015. O acórdão recorrido está assim ementado (e-STJ fl. 154): APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. DANOS MORAIS. INSCRIÇÃO NOS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. Comprovada a existência da dívida enquanto o autor, avalista, esteve inscrito nos cadastros de devedores, não há falar em ato ilícito ou dano moral indenizável, pois se trata de exercício regular de direito do credor. DERAM PROVIMENTO AO APELO. Os embargos de declaração opostos foram rejeitados (e-STJ fls. 168/172). Nas razões do recurso especial (e-STJ fls. 175/185), interposto com fundamento no art. 105, III, a, da CF, o recorrente alegou violação dos arts. 489, § 1º, IV, e 1.022 do CPC/2015, afirmando omissão quanto à aplicação do art. 1.364 do CC/2002 (e-STJ fl. 181): Consoante expressamente estabelecido no art. 1.364 do CC, ocorrendo o inadimplemento dos contratos GARANTIDOS POR ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA (como no caso dos autos), O ENTÃO CREDOR, AFIM DE APURAR SEU DÉBITO, FICA OBRIGADO A PROMOVER A VENDA DO BEM ALIENADO e aplicar o preço obtido no pagamento de seu crédito. Resta evidente que a CONSTATAÇÃO DE QUALQUER DÉBITO, seja do devedor principal, seja do "coobrigado", SÓ PODE SER APURADO, CASO O PRODUTO DA VENDA DO BEM ALIENADO NÃO SE MOSTRE SUFICIENTE PARA O ADIMPLEMENTO DO DÉBITO, sendo que, ANTES DE TAL PROCEDIMENTO RESTA IMPOSSÍVEL A AFERIÇÃO DE QUALQUER SALDO DEVEDOR A LEGITIMAR A INSCRIÇÃO NOS ÓRGÃOS DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO. No agravo (e-STJ fls. 214/227), afirma a presença de todos os requisitos de admissibilidade do especial. O recorrido não apresentou contraminuta (e-STJ fl. 229). É o relatório. Decido. Cuida-se de ação declaratória em que o Recorrente requer seja "declarado o direito [...] de não ter seu nome inserido em qualquer cadastro de restrição ao crédito no tocante as cédulas de crédito de na 0766623-3, 0766616-0 e 0847702-7 antes de observada as exigências dispostas no art. 1.364 e seguintes do código civil" (e-STJ fl. 8). O magistrado julgou procedente o pedido nos seguintes termos (e-STJ fl. 117): ISSO POSTO, julgo procedente o pedido e declaro o direito da parte autora de não ter o seu nome incluído no rol de inadimplentes antes de observada as exigências dispostas no artigo 1.364 e seguintes do Código Civil, consolidando-se assim a medida antecipatória. Condeno a parte ré ao pagamento das custas processuais e honorários de advogado da parte adversa, os quais arbitro, com fundamento no artigo 85, parágrafo 8o, do CPC, em R$ 1.500,00. O TJRS deu provimento à apelação asseverando que "não houve a prática de ilícito algum a embasar o pleito indenizatório" (e-STJ fl. 156), nos seguintes termos: O autor alega que sofreu danos morais porque seu nome foi incluído nos cadastros de proteção ao crédito indevidamente. Compulsando os autos, constato ser incontroverso que o apelante figurava como avalista da empresa da qual era sócio em contratos de financiamento com pacto adjeto de alienação fiduciária e que restou configurada a inadimplência. Destaco que não há notícia do ingresso de qualquer ação, proposta pelo devedor principal, que tenha afastado a possibilidade de inscrição dos devedores nos cadastros negativos. Dessa forma, o encaminhamento da pendência de pagamento para a inscrição junto aos órgãos de proteção ao crédito decorreu de exercício regular de direito. Via de consequência, não enseja dano moral indenizável. Nesse sentido, importante recordar que apenas a configuração de prática de ato ilícito é capaz de dar ensejo ao dano moral. Além disso, para tanto, imperiosa a prova do alegado dano, uma vez que não se reconhece o dano in re ipsa. Assim sendo, não houve a prática de ilícito algum a embasar o pleito indenizatório. Destarte, estou reformando integralmente a sentença, pois reconhecido o exercício regular de direito exercido pelo Banco. O recorrente interpôs recurso especial alegando violação dos arts. 489, § 1º, IV, e 1.022 do CPC/2015, afirmando omissão quanto à aplicação do art. 1.364 do CC/2002 (e-STJ fl. 181). A irresignação referente à afronta aos arts. 489 e 1.022 do CPC/2015 merece prosperar. Os embargos de declaração somente são cabíveis quando houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade, contradição, omissão ou erro material. Extraem-se as seguintes razões de decidir do aresto impugnado (e-STJ fls. 155/156): O recurso deve ser conhecido, porquanto preenchidos os requisitos de admissibilidade. O autor alega que sofreu danos morais porque seu nome foi incluído nos cadastros de proteção ao crédito indevidamente. Compulsando os autos, constato ser incontroverso que o apelante figurava como avalista da empresa da qual era sócio em contratos de financiamento com pacto adjeto de alienação fiduciária e que restou configurada a inadimplência. Destaco que não há notícia do ingresso de qualquer ação, proposta pelo devedor principal, que tenha afastado a possibilidade de inscrição dos devedores nos cadastros negativos. Dessa forma, o encaminhamento da pendência de pagamento para a inscrição junto aos órgãos de proteção ao crédito decorreu de exercício regular de direito. Via de consequência, não enseja dano moral indenizável. Nesse sentido, importante recordar que apenas a configuração de prática de ato ilícito é capaz de dar ensejo ao dano moral. Além disso, para tanto, imperiosa a prova do alegado dano, uma vez que não se reconhece o dano in re ipsa. Assim sendo, não houve a prática de ilícito algum a embasar o pleito indenizatório. Destarte, estou reformando integralmente a sentença, pois reconhecido o exercício regular de direito exercido pelo Banco. O argumento de que "a constatação de qualquer débito, seja do devedor principal, seja do 'coobrigado', só pode ser apurado, caso o produto da venda do bem alienado não se mostre suficiente para o adimplemento do débito, sendo que, antes de tal procedimento resta impossível a aferição de qualquer saldo devedor a legitimar a inscrição nos órgãos de restrição ao crédito"(e-STJ fl. 181), nos termos do art. 1.364 do CC/2002, não foi analisado pela Corte local, mesmo após os declaratórios. Nesse contexto, diante da omissão no acórdão recorrido, impõe-se o provimento do recurso especial, para que o Tribunal a quo se pronuncie sobre a questão, sanando assim o vício apontado. Nesse sentido é a firme jurisprudência desta Corte, como se depreende, por exemplo, do seguinte julgado: PROCESSO CIVIL. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES. NOVAÇÃO. POSSIBILIDADE DE ANÁLISE DO NEGÓCIO JURÍDICO ANTECEDENTE. MITIGAÇÃO DO PRINCÍPIO PACTA SUNT SERVANDA. SÚMULA 286 DO STJ. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC CONFIGURADA. RETORNO DOS AUTOS AO TRIBUNAL DE ORIGEM. 1. A violação do art. 535 do CPC configurou-se, no casodos autos, uma vez que, a despeito da oposição de embargos de declaração, nos quais os recorrentes apontam a existência de omissões, mormente no tocante à possibilidade de exame judicial de supostas ilegalidades substanciais nos contratos celebrados anteriormente à alegada novação com a instituição financeira (fls. 1.052-1.053), o Tribunal não se manifestou de forma satisfatória sobre o apontado vício, consoante se infere do voto condutor às fls. 1.061-1.066. 2. A novação, conquanto modalidade de extinção de obrigação em virtude da constituição de nova obrigação substitutiva da originária, não tem o condão de impedir a revisão dos negócios jurídicos antecedentes, máxime diante da relativização do princípio do pacta sunt servanda, engendrada pela nova concepção do Direito Civil, que impõe o diálogo entre a autonomia privada, a boa-fé e a função social do contrato. Inteligência da Súmula 286 do STJ. 3. Recurso especial provido para determinar o retorno dos autos ao Tribunal de origem. (REsp n. 866.343/MT, Relator Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 2/6/2011, DJe 14/6/2011.) Diante do exposto, CONHEÇO do agravo e DOU PROVIMENTO ao recurso especial, para determinar a remessa dos autos ao Tribunal de origem a fim de sanar a omissão apontada. Publique-se e intimem-se. Brasília-DF, 19 de junho de 2018. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA Relator
(STJ - AREsp: 1288829 RS 2018/0105269-4, Relator: Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, Data de Publicação: DJ 25/06/2018).
· Art. 1.365. 
É nula a cláusula que autoriza o proprietário fiduciário a ficar com a coisa alienada em garantia, se a dívida não for paga no vencimento.
Parágrafo único. O devedor pode, com a anuência do credor, dar seu direito eventual à coisa em pagamento da dívida, após o vencimento desta.
 Para o doutrinador Sílvio de Salvo Venosa, a alienação fiduciária, tanto para móveis como para imóveis, a causa da extinção é o pagamento integral da dívida. 
 Embora o credor mantenha a propriedade do bem, fiel à linha assumida nos princípios gerais dos direitos reais de garantia, a lei mobiliária proíbe a cláusula comissória: 
“É nula a cláusula que autoriza o proprietário fiduciário a ficar com a coisa alienada em garantia, se a dívida não for paga no vencimento”( § 6º do art. 66). 
 Com a mesma redação se coloca o art. 1365 do Código Civil, o qual acrescenta, no entanto, no parágrafo único, que:
 “O devedor pode, com a anuência do credor, dar direito eventual à coisa em pagamento da dívida, após o vencimento desta”. 
 É discutível se essa cláusula pode operar quando presente, a priori, em contrato de adesão, mormente sob o prisma do Código de Defesa do Consumidor. É livre, no entanto, o devedor para aquiescer com essa cláusula após o vencimento da dívida. Aliás, sempre há que se levar em conta que, presente uma relação de consumo no negócio, os princípios consumeristas devem ser chamados à aplicação. 
 De certa forma, há incongruência entre o fato de o credor torna-se proprietário pleno do bem pelo não pagamento da dívida e a impossibilidade de ficar com a coisa.
Contudo, a construção legal visou impedir abusos, pois a finalidade é eminentemente garantidora da obrigação, não se tratando de contrato de alienação de bens. A finalidade quanto aos móveis é o crédito ao consumidor, e não a aquisição. Sistema semelhante foi estabelecido para a alienação fiduciária de bem imóvel dirigida para imóveis construídos ou em construção. A Lei nº 9.514/97 estabelece procedimento simples para a propriedade consolidar-se em nome do fiduciário em caso de inadimplemento (art.26). Dispõe o art. 27 dessa lei que o bem assim consolidado deve ser levado a leilão público. 
· Art. 1.366. 
Quando, vendida a coisa, o produto não bastar para o pagamento da dívida e das despesas de cobrança, continuará o devedor obrigado pelo restante.
 E caso o saldo apurado com a venda for insuficiente, o devedor continuará obrigado pelo restante da dívida. 
· Jurisprudência 
Agravo de instrumento - Alienação fiduciária. Busca e apreensão. Liminar. Posse absoluta e plena do bem ao credor fiduciário. Decorrido o prazo legal de 5 dias sem que o autor exercite a faculdade apontada no § 1º do art. 3º da Decreto-lei n. 911/69, a qualquer momento o proprietário, credor fiduciário, poderá vender o bem litigioso, em atenção ao disposto no art. 1.364/1.366 do Código Civil.
(Agravo de Instrumento 0011403-31.2010.822.0000, Rel. Des. Alexandre Miguel, Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia: 2ª Câmara Cível, julgado em 10/11/2010. Publicado no Diário Oficial em 17/11/2010.) Agravo de Instrumento - São Paulo - Agravante: Banco Santander (Brasil) S/A - Agravado: Prefeitura Municipal de São Paulo - Agravo de Instrumento nº 2099239-45.2020.8.26.0000 Agravante: BANCO SANTANDER BRASIL S/A Agravado: MUNICÍPIO DE SÃO PAULO Interessada: SIMONE CRISTINA SILVA SABOIA Vara das Execuções Fiscais Municipais da Comarca de São Paulo Magistrada: Dra. Ana Cecilia Marques Faria Trata-se de agravo de instrumento interposto por Banco Santander Brasil S/A contra a r. decisão (fls. 54/57), proferida nos autos da AÇÃO DE EXECUÇÃO FISCAL, ajuizada pelo Município de São Paulo em face do agravante e de Simone Cristina Silva Saboia, que rejeitou a exceção de pré-executividade oposta pelo agravante, para alegar sua ilegitimidade de parte passiva por ser mero credor fiduciário. Alega o agravante no presente recurso (fls. 01/17), em síntese e em preliminar, que é parte passiva ilegítima para figurar como demandado na ação de execução fiscal movida pelo agravado. Aduz que a jurisprudência sobre a qual se baseou a decisão foi firmada antes da inclusão dos artigos 1.367 e 1.368-B ao Código Civil em 2014, segundo os quais o credor fiduciário só será responsável pelo pagamento de tributos sobre a propriedade quando e no momento em que retomar o bem. Defende que a matéria não está pacificada, especialmente em razão de Recurso Extraordinário com repercussão geral pendente de julgamento (Recurso Extraordinário nº 727.851). Assevera que o domínio meramente resolúvel não configura propriedade ou posse a qualquer título. Complementa apontando os artigos 1.364 e 1.365 do Código Civil, que nem sequer permitem que o credor fiduciário permaneça com o bem em caso de inadimplemento do devedor fiduciante, podendo apenas se apropriar do valor correspondente ao seu crédito após a venda do bem. Salienta que, portanto, em nenhum momento o credor fiduciário pode ter a propriedade plena do bem, razão pela qual também nunca se configura o “animus domini” necessário à verificação da posse. Destaca também o artigo 27, parágrafo 8º, da Lei Federal nº 9.514, de 20/11/1.997, que impõe exclusivamente ao fiduciante o dever de pagar os tributos incidentes sobre a coisa. Alega que a lei municipal pode atribuir responsabilidade solidária a terceiros, com esteio no artigo 124, inciso II, do Código Tributário Nacional (Lei Federal nº 5.172, de 25/10/1.966), desde que observada a diretriz emergente do artigo 128 desse diploma, que exige que o terceiro seja pessoa vinculada ao fato gerador, uma vez que a própria Constituição Federal, em seu artigo 146, inciso III, determina a observância da Lei Complementar que estabelece normas de caráter geral, “in casu”, justamente os mencionados artigos 124, inciso II, e 128 do Código Tributário Nacional (Lei Federal nº 5.172, de 25/10/1.966). Com tais argumentos, pede a concessão de antecipação da tutela recursal para que seja determinada a suspensão da execução fiscal até o julgamento deste recurso a fim de que, ao final, seja dado provimento ao presente agravo de instrumento para a reforma da decisão atacada (fl. 16). Recurso tempestivo. Relatado de forma sintética, passo a fundamentar e decidir. Cabível o presente recurso, por se enquadrar na hipótese do artigo 1.015, parágrafo único, do Código de Processo Civil. Foram atendidos os requisitos do artigo 1.016, estando dispensada a juntada das peças obrigatórias, nos termos do dispostono artigo 1.017, parágrafo 5º, ambos artigos do referido código. Não sendo o caso de aplicação do artigo 932, incisos III e IV, do Código de Processo Civil, passo a apreciar o presente agravo de instrumento. Para a atribuição do “efeito suspensivo” ou o “deferimento, em antecipação de tutela, da pretensão recursal”, será necessário que haja elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, ou seja, embora modificados os termos, são os conhecidos “fumus boni iuris” e “periculum in mora”, que de uma forma mais sintética expressam o que deve ser avaliado neste momento recursal (artigos 300 e 1.019, inciso I, ambos do Código de Processo Civil). No caso em tela, os requisitos legais acima referidos não estão presentes. Não se discute que o agravante detém a propriedade resolúvel do bem, cuja posse está desdobrada entre a interessada, na condição de devedora fiduciante e possuidora direta, e o agravante, na condição de credor fiduciário e possuidor indireto do bem. Considerado que o agravante detém a propriedade resolúvel do imóvel, ao menos em uma análise perfunctória, é possível reconhecê-lo como contribuinte do imposto, nos termos do artigo 34 do Código Tributário Nacional (Lei Federal nº 5.172, de 25/10/1.966). Portanto, ausente a “fumaça do bom direito” ou a “probabilidade do direito”, o que é o bastante para o indeferimento da antecipação da tutela recursal pedida. Assim sendo, INDEFIRO a ANTECIPAÇÃO DA TUTELA RECURSAL pleiteada. Nos termos do artigo 1.019, inciso II, do Código de Processo Civil, intime-se o agravado para responder ao recurso no prazo de 15 (quinze) dias úteis, sendo-lhe facultada a juntada de cópias das peças que entender necessárias. Após, voltem-me conclusos. São Paulo, 8 de junho de 2020. 
KLEBER LEYSER DE AQUINO DESEMBARGADOR - RELATOR (Assinatura Eletrônica) - Magistrado (a) Kleber Leyser de Aquino - Advs: Tatiana Carvalho Seda (OAB: 148415/SP) - Eduardo Andre Souza de Melo (OAB: 130762/MG) - Av. Brigadeiro Luiz Antônio, 849, sala 405.
· Art. 1.367. 
À legislação especial pertinente, não se equiparando, para quaisquer efeitos, à propriedade plena de que trata o art. 1.231. 
· Art. 1.368-A. 
As demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade fiduciária submetem-se à disciplina específica das respectivas leis especiais, somente se aplicando as disposições deste código naquilo que não for incompatível com legislação especial. 
 A alienação fiduciária de bem imóvel é o negócio jurídico pelo qual o devedor (fiduciante), com escopo de garantia, contrata a transferência ao credor (fiduciário) da propriedade resolúvel de coisa imóvel. A propriedade fiduciária de coisa imóvel constitui-se mediante o registro do contrato que lhe de serve título, no respectivo Registro de imóveis. O operado, a partir daí o desdobramento da posse: o fiduciante torna-se possuidor indireto da coisa imóvel. Por fim, uma interessante questão convido nos à reflexão. O devedor fiduciante, como vimos, aliena, em caráter resolúvel, a propriedade de um imóvel, em favor do credor fiduciário, visando à garantia de uma obrigação contraída. Não se deve confundir a aquisição da propriedade com o seu título legitimador. 
 Outro aspecto importante diz respeito à aquisição originária ou derivada da propriedade. Na originária, tem -se forma de aquisição decorrente de um fato jurídico stricto sensu, como, por exemplo, o decurso do tempo fenômenos da natureza. Trata-se de uma modalidade de aquisição que não comporta ônus ou gravame. Já aquisição derivada decorre de um negócio jurídico. Ou seja, é fruto é exercício da autonomia das partes envolvidas, em que se estabelece a transferência da propriedade, podendo a legislação exigir o cumprimento de determinadas formalidades. É caso do registro da compra e venda, que permite transferência da propriedade imóvel, ou mesmo a tradição para a aquisição da propriedade móvel. 
· Jurisprudência que cita Art. 1.367 e 1368 
APELAÇÃO. COTAS CONDOMINIAIS. CREDOR FIDUCIÁRIO. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DO IMÓVEL COM CONCOMITANTE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA AO FUNDO DE ARRENDAMENTO RESIDENCIAL - FAR. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA CEF.1. Tratando-se de imóvel vendido com concomitante alienação fiduciária ao Fundo de Arrendamento Residencial - FAR - e não de contrato de arrendamento residencial previsto no Capítulo II da Lei nº 10.188/2001 -, o FAR/ Caixa Econômica Federal não detém a propriedade plena do imóvel.2. Caso de constituição de uma propriedade fiduciária que, por sua natureza e definição legal, é constituída com o escopo da garantia (art. 1361 do CC), sujeitando-se ao mesmo conjunto de normas que regem os direitos reais de garantia (penhor, hipoteca e anticrese), não se equiparando, para quaisquer efeitos, à propriedade plena (art. 1367 do CC).3. Ausente a consolidação da propriedade plena em nome do FAR/CEF, essa não possui qualquer responsabilidade com as despesas de condomínio.4. É do devedor fiduciante, que mora no bem e detém o direito à propriedade futura, o dever de pagamento das cotas condominiais.5. Apelação improvida. 
(TRF-4, AC 5008145-43.2017.4.04.7201, Relator(a): MARCOS JOSEGREI DA SILVA, QUARTA TURMA, Julgado em: 31/07/2019, Publicado em: 05/08/2019).
EMENTA:  
APELAÇÃO - BUSCA E APREENSÃO - EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO - FALTA DE DESCRIÇÃO DO BEM ALIENADO FIDUCIARIAMENTE - ART. 66, DA LEI 4.728/65 - APLICAÇÃO DOS ARTS. 1361 A 1368, DO CC - SUFICIENTE DESCRIÇÃO DO VEÍCULO NO CONTRATO DE FINANCIAMENTO - REQUISITOS LEGAIS SATISFEITOS - APELO PROVIDO - SENTENÇA CASSADO - DECISÃO UNÂNIME. (TJPE, Apelação 50003955-04.2013.8.17.1370, Relator(a): José Carlos Patriota Malta, 6ª Câmara Cível, Julgado em 12/02/2019, publicado em 07/03/2019). 
· Art. 1.368-A. 
As demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade fiduciária submetem-se à disciplina específica das respectivas leis especiais, somente se aplicando as disposições deste Código naquilo que não for incompatível com a legislação especial.
 O dispositivo trata da aplicação da regra dada a todo o ordenamento jurídico do Princípio da Especialidade, usado muitas vezes como critério para solução de conflitos de normas. Assim, usa-se a aplicação de legislação específica existente das demais espécies de propriedade fiduciária, sendo aplicada de forma subsidiária o Código Civil de 2002. É uma inspiração ao princípio da operabilidade, dado pela Lei 10.931/04.
· Jurisprudência
DIREITO FALIMENTAR. RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CESSÃO FIDUCIÁRIA DE CRÉDITOS. NÃO SUJEIÇÃO AOS EFEITOS DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL DO DEVEDOR-CEDENTE. REGISTRO NO CARTÓRIO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS. DESNECESSIDADE. 1 - Impugnação de crédito apresentada em 20/8/2013. Recurso especial interposto em 2/2/2015 e atribuído à Relatora em 25/8/2016. 2-O propósito recursal é definir se os créditos cedidos fiduciariamente ao recorrente necessitam de prévio registro no Cartório de Títulos e Documentos competente para serem excluídos dos efeitos da recuperação judicial da devedora-cedente. 3-A alienação fiduciária de coisa fungível e a cessão fiduciária de direitos sobre coisas móveis ou títulos de créditos não estão submetidas aos efeitos da recuperação judicial (inteligência do art. 49, § 3º, da Lei 11.101/05). Precedentes. 4- Ao sistema especial que engloba o instituto da alienação fiduciária de coisa fungível e a cessão fiduciária de direitos sobre coisas móveis ou títulos de créditos - hipótese dos autos - não se aplica a norma do art. 1.361, § 1º, do CC, pois esta incide somente sobre propriedade fiduciária de coisa móvel infungível. 5 - A sujeição da propriedade fiduciária, conforme sua natureza, à respectiva disciplina legal é determinação expressa do próprio Código Civil, segundo o qual "as demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade fiduciária" (vale dizer, quando não se tratar de negócio fiduciário envolvendo bem móvel infungível) "submetem-se à disciplina específica das respectivas leis especiais,somente se aplicando as disposições deste Código naquilo que não for incompatível com a legislação especial" (art. 1.368-A). 6-À espécie, portanto, incide a disciplina normativa especial da Lei 4.728/65, que não exige o registro em cartório como elemento constitutivo da propriedade ou titularidade fiduciária. 7-De fato, tratando-se de titularidade derivada de cessão fiduciária, a condição de proprietário é alcançada desde a contratação da garantia. Nessas hipóteses, uma vez preenchidos os requisitos exigidos pelo arts. 66-B da Lei do Mercado de Capitais e 18 da Lei 9.514/97, opera-se a transferência plena da titularidade dos créditos para o cessionário, haja vista a própria natureza do objeto da garantia, fato que o torna o verdadeiro proprietário dos bens, em substituição ao credor da relação jurídica originária. 8 - Essas circunstâncias são suficientes para exclusão dos créditos em questão dos efeitos da recuperação judicial do devedor-cedente, pois o art. 49, § 3º, da LFRE exige, apenas e tão somente, que o respectivo credor figure como titular da posição de proprietário fiduciário, condição que, como visto, independe do registro do contrato no Cartório de Títulos e Documentos. 9 - Os créditos cedidos em garantia, na medida em que deixam de integrar o patrimônio do cedente, não podem ser alcançados por eventuais pretensões de outros de seus credores, sujeitos cujas esferas jurídicas não sofrerão, como corolário - em razão da ausência de justa expectativa sobre aqueles créditos -, repercussão negativa decorrente de sua exclusão dos efeitos da recuperação judicial do devedor. 10 - Não havendo quebra de confiança ou frustração de legítima expectativa dos demais credores da recuperanda, não há que se cogitar de violação ao princípio da boa-fé. 11 - Recurso especial provido. 
(STJ - REsp: 1592647 SP 2016/0072649-5, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 24/10/2017, T3 -TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 28/11/2017).
· Art. 1.368-B.  
A alienação fiduciária em garantia de bem móvel ou imóvel confere direito real de aquisição ao fiduciante, seu cessionário ou sucessor. 
PARÁGRAFO ÚNICO:  O credor fiduciário que se tornar proprietário pleno do bem, por efeito de realização da garantia, mediante consolidação da propriedade, adjudicação, dação ou outra forma pela qual lhe tenha sido transmitida a propriedade plena, passa a responder pelo pagamento dos tributos sobre a propriedade e a posse, taxas, despesas condominiais e quaisquer outros encargos, tributários ou não, incidentes sobre o bem objeto da garantia, a partir da data em que vier a ser imitido na posse direta do bem. 
 O artigo em questão trata da regra de que, uma vez realizada a alienação fiduciária, o credor fiduciante passará a ter o direito real sobre o bem móvel ou imóvel dada em garantia, poderá se tornar o titular pleno da coisa. Isso quer dizer que obterá as obrigações propter rem (como por exemplo, IPTU, despesas condominiais, etc), a partir do momento que passa a obter a propriedade.
· Jurisprudência
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. RETIRADA DE VEÍCULO APREENDIDO PELO DETRAN. CUSTOS ADVINDOS DE INFRAÇÕES DE TRÂNSITO E TAXAS ADMINISTRATIVAS DELAS DECORRENTES. RESPONSABILIDADE DO CONDUTOR DO VEÍCULO. RESPONSABILIDADE DO CREDOR FIDUCIÁRIO APÓS SER IMITIDO NA POSSE DIRETA DO BEM. INTELIGÊNCIA DO ART. 1368-B DO CÓDIGO CIVIL. RECURSO REPETITIVO (RESP Nº 1114406/SP). RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. Cuida-se de agravo de instrumento, com pedido de concessão de efeito suspensivo, interposto em face de decisão que, nos autos da ação de reintegração de posse, indeferiu pedido de retirada de veículo do pátio do DETRAN/DF sem o pagamento dos débitos pela arrendante, ora agravante. 2. O art. 1.368-B, parágrafo único, do Código Civil é claro ao dispor que ?[O] credor fiduciário que se tornar proprietário pleno do bem, por efeito de realização da garantia, mediante consolidação da propriedade, adjudicação, dação ou outra forma pela qual lhe tenha sido transmitida a propriedade plena, passa a responder pelo pagamento dos tributos sobre a propriedade e a posse, taxas, despesas condominiais e quaisquer outros encargos, tributários ou não, incidentes sobre o bem objeto da garantia, a partir da data em que vier a ser imitido na posse direta do bem?. 3. A imposição de multas de trânsito e taxas relativas à apreensão e remoção de veículo está completamente vinculada à prática de infrações capituladas no Código de Trânsito Brasileiro, cuja responsabilidade só pode ser atribuída ao condutor do veículo, não havendo relação jurídica entre o DETRAN e a instituição financeira, no que diz respeito a infrações de trânsito e taxas administrativas delas decorrentes, como é o caso dos autos. 4. Em sede de recurso repetitivo (REsp 1114406/SP), o colendo STJ definiu a tese de que as despesas relativas à remoção, guarda e conservação de veículo apreendido no caso de arrendamento mercantil, independentemente da natureza da infração, são de responsabilidade do arrendatário, que se equipara ao proprietário enquanto em vigor o contrato de arrendamento. 5. Recurso conhecido e provido, à unanimidade.
(TJ-DF 07021216120188070000 DF 0702121-61.2018.8.07.0000, Relator: SILVA LEMOS, Data de Julgamento: 13/06/2018, 5ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 02/07/2018 . Pág.: Sem Página Cadastrada.)

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