Buscar

Modelo - Caso concreto Semana 3 (Gerson x Janaína)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA _____ VARA CÍVEL DA COMARCA DE MACAÉ-RJ
AÇÃO PAULIANA COM TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA
GERSON DOS SANTOS VIANA, brasileiro, solteiro, médico, Inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF – Sob o Nº. 987.543.145-56, endereço eletrônico – drgersonsantos@gmailcom, residente e domiciliado à Rua das Araras, 328 – Centro –– CEP 58.657-020 - Vitória-ES, neste ato representado por seu Advogado – ANTONIO CÉSAR FREIRE ESPÍNDOLA, endereço eletrônico – cesar.espindola.adv@gmail.com, com endereço profissional à Avenida Estados Unidos, 1600 – CEP 58.968-110 – Vitória-ES, vem perante a este Juízo propor a competente AÇÃO PAULIANA COM TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA em desfavor de BERNARDO DA COSTA SIQUEIRA, viúvo, engenheiro civil, inscrito do Cadastro de Pessoas Físicas – CPF – Sob o Nº 785.365.123-87 - endereço eletrônico – bernardocosta@gmail.com – residente e domiciliado à Rua das Carnaúbas, 476 – CEP 58.654-365-781 – Vitória-ES – JANAÍNA DE ARRUDA VIANA – menor impúbere, representada por sua avó materna – MARIA ARRUDA VIANA, brasileira, viúva, aposentada, inscrita no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF – sob o Nº 475.698.125-89, sem endereço eletrônico, residente e domiciliada à Rua dos Palmares, 324 – CEP 62.564-590 – Macaé-RJ, com base nos fatos e fundamentos que passa a expor para, ao final, postular: 
1. DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA
Requer a concessão da gratuidade processual (Justiça Gratuita) por ser o requerente pessoa pobre na acepção jurídica do termo, portanto, sem condições de arcar com o pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios, com fulcro nos arts. 98 e seguintes do Código de Processo Civil (Lei 13.105/15) e no art. 5º, XXXV, LV, LXXIV do Texto Maior. Em anexo (01) declaração de hipossuficiência. 
2. DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO
Nos termos do art. 319, inciso VII, do Código de Processo Civil, a requerente manifesta o interesse na realização da audiência de conciliação ou mediação.
3. DOS FATOS
A Ação Pauliana com Tutela Provisória de Urgência, patrocinada pelo requerente em face do Senhor BERNARDO DA COSTA SIQUEIRA, da menor impúbere, JANAÍNA ARRUDA VIEIRA e de sua representante legal, MARIA ARRUDA VIANA, tem por objetivo a anulação de negócio jurídico configurado como doação pura de dois (02) bens imóveis de propriedade do requerido. 
O senhor BERNARDO DA COSTA SIQUEIRA contraiu dívida no valor de R$ 80.000,00 (Oitenta Mil Reais), em 15 de setembro de 2016, referente à compra de um automóvel de propriedade do requerente – marca Ford – modelo – Fusion – ano 2019 – placa – HUB 9825 – tendo assinado, - o requerido - como garantia do negócio jurídico, Nota Promissória N º 1247 (anexo 2), com vencimento em 10 de outubro de 2016. 
Ocorre Exa. que na data de vencimento aprazada, o requerido, de forma injustificada, não cumpriu a obrigação de liquidar o referido Título Executivo Extrajudicial, como deveria tê-lo feito, em cumprimento à obrigação líquida e certa, e ainda para atender ao princípio da boa fé contratual. 
Além de não cumprir a obrigação de liquidar a Nota Promissória N º 1247 (anexo 2), emitida contra si, o requerido ainda fez uso de estratagema abjeta e ilegal, com o objetivo nefando de ocultar o seu patrimônio e imiscuir-se do pagamento da obrigação contraída junto ao requerente. 
A atitude causou enorme prejuízo ao credor, tendo em vista estar desempregado e utilizaria os recursos oriundos da alienação do automóvel para fazer frente as despesas pessoais e da família. 
O requerido Exa. é proprietário de dois imóveis, o primeiro localizado no município de Aracruz-ES, conforme registro - Nº 125014 - e matrícula - Nº 09847- (anexo 3) e o segundo está assentado no município de Linhares-ES, conforme registro - Nº 362544 - e matrícula - Nº 10458 – (anexo 4). De acordo com laudo de avaliador imobiliário credenciado (anexo 5), os dois imóveis juntos valem R$ 300.000,00 (Trezentos Mil Reais). 
Em atitude reprovável e ilegal, no dia 19 de outubro de 2016, mesmo já tendo sido cobrado pelo requerente, o requerido praticou o ato de doação pura dos dois imóveis que lhe pertenciam em favor de JANAÍNA DE ARRUDA VIANA, filha impúbere, residente em Macaé-RJ, cuja guarda está sob responsabilidade de MARIA ARRUDA VIANA genitora do requerido e responsável legal pela menor. 
As doações estão devidamente comprovadas, conforme constam nos registros das respectivas alterações das escrituras, nos Cartórios de Aracruz-ES (anexo 5) e ainda no Cartório de Linhares-ES (anexo 6), respectivamente. 
Resta claríssimo, Exa. de que a conduta do requerido fora dolosa no sentido de prejudicar o requerente, ocultando o patrimônio que poderia ser utilizado para fazer face ao débito contraído. Invés de honrar com a obrigação de pagar o débito contraído, buscou ainda dificultar a recuperação do crédito por parte do requerente. 
Para agravar a má fé (consilium fraudis), o requerido apôs ao contrato de doação firmado em favor de filha menor impúbere, Cláusula de Usufruto Vitalício dos imóveis em benefício próprio, além de Cláusula de incomunicabilidade, conforme Certidão de Ônus Reais (anexo 7). 
É sabido que o requerido contraiu dívidas, além da supracitada, que chegam ao montante de R$ 400.000,00 (Quatrocentos Mil Reais), valores que demonstram seu estado de insolvência, mas que não autorizam o requerido a lançar mão de artifícios ilegais para fugir das obrigações por ele celebradas. 
Após tentativas sucessivas de resolver amigavelmente o negócio jurídico, sem sucesso, não restou outra alternativa ao requerido que não buscar o Poder Judiciário para ver declarada a nulidade do negócio jurídico, configurado como doação pura. 
4. DO DIREITO
Diante dos fatos sobejamente declarados, ficou provada a conduta dolosa do requerido (eventus damni) por ter praticado Fraude Contra Credor e agido contra o princípio da boa fé objetiva que rege os contratos, ao ocultar patrimônio por meio de uma doação pura em favor de filha impúbere. 
A respeito da transmissão gratuita de bens, a própria transferência patrimonial unilateral por doação considera-se presunção absoluta de fraude, pois não é razoável que, havendo patrimônio passivo superior ao ativo, tenha cabimento a doação de parte deste ativo a terceiros, sendo este mecanismo frequentemente utilizado para afastar de credores o patrimônio ativo remanescente quanto às dívidas existentes.
O Código Civil, no art. 158 assim tipifica a Fraude Contra Credores:
Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos.
§ 1 o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.
§ 2 o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles.
		O art. 158 do CC não deixa qualquer dúvida de que a conduta do requerido constitui-se em Fraude Contra Credores. A ocultação do patrimônio por meio de doação pura à filha menor impúbere caracterizou-se em transmissão gratuita de bens, tendo praticado pelo requerido (devedor) e encontrando-se em estado de insolvência. 
		Os negócios jurídicos de transmissão gratuita são, portanto, plenamente anuláveis, conforme a inteligência do art. 158 do Código Civil Brasileiro. O caso em tela molda-se perfeitamente ao exposto, cabendo a anulação total da adoção pura com o fito de resguardar o direito do requerente de recuperar o seu crédito não honrado pelo requerido. 
		Nesse sentido é o entendimento de José Arnaldo Vitagliano:
“No sistema do nosso Direito Civil, a ação pauliana é inquestionavelmente uma ação de anulação; destina-se a revogar o ato lesivo aos interesses dos credores, tem por efeito restituir ao patrimônio do devedor insolvente o bem subtraído, para que sobre o acervo assim integralizado recaia a ação dos credores e obtenham estes a satisfação de seus créditos; em suma, a ação pauliana tende a anulação do ato fraudulento,fazendo reincorporar ao patrimônio do devedor o bem alienado”.
Jurisprudência do STJ também ataca a questão:
DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.603.903 - RS (2019/0311287-4)
RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO
AGRAVANTE : EDGAR INACIO SODER
AGRAVANTE : LEOCI SODER
AGRAVANTE : PAULO ALBINO KRUG
ADVOGADOS : NORBERTO LUIZ NARDI - RS016947
VINICIUS POSSENATO NARDI - RS071782
MARÍLIA POSSENATTO NARDI - RS089883
AGRAVADO : ADRIANA VIER BALBINOT
ADVOGADO : RICARDO MIERS - RS052403
AGRAVADO : VALDERES GROFF
AGRAVADO : ROGER IOCHIMS
ADVOGADO : CIRO ALBERTO BAY - RS0037248
DECISÃO
Vistos etc.
Trata-se agravo em recurso especial interposto por EDGAR INACIO SODER, e, OUTROS, contra decisão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, que não admitiu recurso especial manejado contra acórdão assim ementado (e-STJ Fl. 172):
APELAÇÃO CÍVEL. REGIME DE EXCEÇÃO. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO.
OPOSIÇÃO EM AÇÃO PAULIANA. ALIENAÇÃO DO ÚNICO IMÓVEL DISPONÍVEL.
FRAUDE CONTRA CREDORES. ANULAÇÃO DA VENDA 1) Trata-se de oposição interposta incidentalmente na ação pauliana proposta por adquirentes do imóvel, que alegam que compraram de boa -fé, a despeito de qualquer nulidade na avença originária, julgada procedente a ação pauliana e improcedente a oposição 2) Fraude contra credores - Constitui fraude contra credores todo o ato de disposição e oneração de bens, créditos e direitos, a título gratuito ou oneroso, praticado por devedor insolvente, ou por ele tornado insolvente, que acarrete redução em seu patrimônio, em prejuízo de credor preexistente. (grifo nosso)
3) No caso telado os opoentes pretendem resguardar a compra que fizeram de imóvel que é objeto de ação pauliana, em face de que o adquirente e vendedor estariam conluiado para lesar credores. Na ação pauliana consta que a autora daquela demanda é credora do devedor -demandado pela importância de R$664.954,68(...), representada por nota promissória vencida em 09/12/2011 e impaga, situação que fomentou o ajuizamento da ação de execução (Proc.n.
11200079420), ajuizada em 31/10/2011. O comprador, por sua vez, é empregado do vendedor, situação que evidencia e potencializa o liame subjetivo de esvaziamento patrimonial em detrimento do credor.
Fraude contra credores materializada e comprovada.
4) Oposição -A ação de oposição, em apenso, julgada improcedente, pois decorreu da revenda do imóvel à terceiro, cuja fé não se discute, haja vista que a aquisição pelo comprador ocorreu sob o signo da fraude contra credores.
APELAÇÃO DESPROVIDA Nas razões do recurso especial a parte alega ofensa aos seguintes dispositivos legais: 113, 161, e, 182 do Código Civil, e, 2º, caput, da Lei 9.784/99, além de divergência jurisprudencial.
Defendem, em síntese, que a "ação pauliana não pode atingir negócio jurídico celebrado com terceiros de boa-fé, como é a hipótese retratada nos autos" (e-STJ Fl. 227). "ASSIM, CONSIDERANDO QUE OS ADQUIRENTES DE BOA- FÉ NÃO PODERIAM SER PREJUDICADOS, DEVERIA SER CONFIRMADA A VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO COM ELES REALIZADO, condenando-se os alienantes que agiram de má-fé, em prejuízo do credor, a indenizá-lo em quantia equivalente à dos bens transmitidos em fraude contra credor e não como decidiu o acórdão guerreado, em evidente contradição ao STJ" (e-STJ Fls. 227/228).
Pedem o provimento do recurso.
É o relatório.
Passo a decidir.
Primeiramente, é importante esclarecer que o juízo de admissibilidade do presente recurso será realizado com base nas normas do CPC/1973 e com as interpretações dadas, até então, pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, conforme disposto no Enunciado Administrativo n. 2/STJ.
Com efeito, em relação à suposta violação aos artigos tidos por violados, a Corte Estadual asseverou que (e-STJ Fl. 185):
A cadeia de transmissão do imóvel VALDERES para ROGER e desde que para EGAR LEOCI E PAULO está radicalmente contaminada pela fraude contra credores reconhecida na alienação originária de VALDERES para ROGER em fraude contra a autora.
A boa fé dos adquirentes EDGAR, LEOCI e PAULO lhes garante o ressarcimento do que tiverem pago do vendedor ROGER, mas pode ser obstáculo ao reconhecimento da fraude originária que fica na base do negócio contaminado. Todas as relações ulteriores, se outras houvessem, estariam igualmente contaminadas pela anulação do negócio de compra e venda de VALDERES para ROGER.
Assim, temos que a Corte a quo decidiu a controvérsia posta em conformidade com a jurisprudência do STJ no sentido de que "O acórdão reconhece que há terceiros de boa-fé, todavia, consigna que, reconhecida a fraude contra credores, aos terceiros de boa-fé, ainda que se trate de aquisição onerosa, incumbe buscar indenização por perdas e danos em ação própria".
À propósito:
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO PAULIANA. SUCESSIVAS ALIENAÇÕES DE VEÍCULO QUE PERTENCIA AO DEVEDOR. ANULAÇÃO QUE NÃO ALCANÇA OS TERCEIROS DE BOA-FÉ.
1.- Em consonância com o art. 109 do CC/1916 (com redação correspondente no art. 161 do CC/2002), tendo havido sucessivos negócios fraudulentos, cabe resguardar os interesses dos terceiros de boa-fé e condenar tão somente os réus que agiram de má-fé, em prejuízo do autor, a indenizar-lhe pelo valor equivalente ao do bem transmitido em fraude contra o credor. (grifo nosso)
2.- Recursos Especiais providos.
(REsp 1145542/RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 11/03/2014, DJe 19/03/2014). OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. AÇÃO PAULIANA. SUCESSIVAS ALIENAÇÕES DE IMÓVEIS QUE PERTENCIAM AOS DEVEDORES. ANULAÇÃO DE COMPRA DE IMÓVEL POR TERCEIROS DE BOA-FÉ.
IMPOSSIBILIDADE. LIMITAÇÃO DA PROCEDÊNCIA AOS QUE AGIRAM DE MÁ-FÉ, QUE DEVERÃO INDENIZAR O CREDOR PELA QUANTIA EQUIVALENTE AO FRAUDULENTO DESFALQUE DO PATRIMÔNIO DO DEVEDOR. PEDIDO QUE ENTENDE-SE IMPLÍCITO NO PLEITO EXORDIAL.
1. A ação pauliana cabe ser ajuizada pelo credor lesado (eventus damni) por alienação fraudulenta, remissão de dívida ou pagamento de dívida não vencida a credor quirografário, em face do devedor insolvente e terceiros adquirentes ou beneficiados, com o objetivo de que seja reconhecida a ineficácia (relativa) do ato jurídico - nos limites do débito do devedor para com o autor -, incumbindo ao requerente demonstrar que seu crédito antecede ao ato fraudulento, que o devedor estava ou, por decorrência do ato, veio a ficar em estado de insolvência e, cuidando-se de ato oneroso - se não se tratar de hipótese em que a própria lei dispõe haver presunção de fraude -, a ciência da fraude (scientia fraudis) por parte do adquirente, beneficiado, sub-adquirentes ou sub-beneficiados.
2. O acórdão reconhece que há terceiros de boa-fé, todavia, consigna que, reconhecida a fraude contra credores, aos terceiros de boa-fé, ainda que se trate de aquisição onerosa, incumbe buscar indenização por perdas e danos em ação própria. Com efeito, a solução adotada pelo Tribunal de origem contraria o artigo 109 do Código Civil de 1916 - correspondente ao artigo 161 do Código Civil de 2002 - e também afronta a inteligência do artigo 158 do mesmo Diploma - que tem redação similar à do artigo 182 do Código Civil de 2002 -, que dispunha que, anulado o ato, restituir-se-ão as partes ao estado, em que antes dele se achavam, e não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente.
3. 'Quanto ao direito material, a lei não tem dispositivo expresso sobre os efeitos do reconhecimento da fraude, quando a ineficácia dela decorrente não pode atingir um resultado útil, por encontrar-se o bem em poder de terceiro de boa-fé. Cumpre, então, dar aplicação analógica ao artigo 158 do CCivil [similar ao artigo 182 do Código Civil de 2002], que prevê, para os casos de nulidade, não sendo possível a restituição das partes ao estado em que se achavam antes do ato, a indenização com o equivalente. Inalcançável o bem em mãos de terceiro de boa-fé, cabe ao alienante, que adquiriu de má fé, indenizar o credor.' (REsp 28.521/RJ, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 18/10/1994, DJ 21/11/1994, p.
31769) 4. Recurso especialparcialmente provido.
(REsp 1100525/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 16/04/2013, DJe 23/04/2013) Considerando que o presente recurso foi interposto na vigência do Novo Código de Processo Civil (Enunciado administrativo n.º 07/STJ), impõe-se a majoração dos honorários inicialmente fixados, em atenção ao art. 85, § 11, do CPC/2015.
O referido dispositivo legal tem dupla funcionalidade, devendo atender à justa remuneração do patrono pelo trabalho adicional na fase recursal e inibir recursos cuja matéria já tenha sido exaustivamente tratada.
Assim, com base em tais premissas e considerando que o Tribunal de origem majorou a verba honorária para R$ 2.500,00 (e-STJ fl. 187), em benefício do patrono da parte recorrida, a majoração dos honorários devidos pela parte ora recorrente para R$ 3.500,00 é medida adequada ao caso, observada a eventual concessão da assistência judiciária gratuita.
Ante o exposto, CONHEÇO DO AGRAVO para CONHECER DO RECURSO ESPECIAL, e, nesta extensão, NEGAR-LHE PROVIMENTO.
Intimem-se.
EMENTA AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.
OPOSIÇÃO EM AÇÃO PAULIANA. ALIENAÇÃO DO ÚNICO IMÓVEL DISPONÍVEL.
FRAUDE CONTRA CREDORES. ANULAÇÃO DA VENDA. ANULAÇÃO DE COMPRA DE IMÓVEL POR TERCEIROS DE BOA-FÉ. POSSIBILIDADE. ACÓRDÃO RECORRIDO EM CONFORMIDADE COM O ENTENDIMENTO DO STJ SOBRE O TEMA.
AGRAVO CONHECIDO PARA CONHECER DO RECURSO ESPECIAL, E, NESTA EXTENSÃO, NEGAR-LHE PROVIMENTO.
Brasília (DF), 31 de março de 2020.
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Relator
Cabe ressaltar que a Fraude Contra Credores perpetrada pelo requerido ao doar gratuitamente seus dois imóveis à filha menor impúbere, logo após o vencimento de Título Executivo Extrajudicial de sua responsabilidade, também feriu o princípio da boa fé objetiva que deve reger os negócios jurídicos.
		A inteligência do art. 113 do CC estabelece as regras para a aplicação do princípio da boa fé objetiva:
 Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
§ 1º A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
I - for confirmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do negócio; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
II - corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo de negócio; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
III - corresponder à boa-fé; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se identificável; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
V - corresponder a qual seria a razoável negociação das partes sobre a questão discutida, inferida das demais disposições do negócio e da racionalidade econômica das partes, consideradas as informações disponíveis no momento de sua celebração. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 2º As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de preenchimento de lacunas e de integração dos negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
	Em face dos argumentos e documentos acostados nesta Exordial, revelou-se clara a Fraude Contra Credor, plenamente anulável, praticada pelo requerido ao doar dois imóveis de sua propriedade visando ocultar o patrimônio para fugir ao pagamento de Título Executivo Extrajudicial.
	Sendo assim, merece prosperar a Ação Pauliana com Tutela Provisória de Urgência. 
5.	 DA CONCESSÃO DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA 
Diante dos fatos narrados ficam demonstrados o fumus boni iuris o periculum in mora. O evidente percurso temporal suficiente até o desfecho do processo, há a ameaça de ser inócua a prestação jurisdicional ao final deferida. 
	Conforme dispõe o art. 300 do Código de Processo Civil:
Art. 300. Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
§ 1 o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.
§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.
§ 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.
	Estão presentes no art. 300 do CPC dois requisitos que, cumulativamente observados, reforçam a aplicação da Tutela Provisória de Urgência: a) a probabilidade do Direito, consiste no forte indício da razoabilidade do Direito invocado (fumus boni juris); e b) o perigo de dano, consistente no perigo da demora na prestação jurisdicional, segundo o qual a o adiamento da concessão da Tutela até o momento da sentença é capaz de gerar danos de natureza irreparável à parte (Periculum in mora). 
	Em se tratando de probabilidade de Direito restou incontroverso que o requerente foi lesado pela prática de Fraude Contra Credor, com a ação dolosa do requerido em transferir gratuitamente dois imóveis de sua propriedade com a finalidade de esconder o patrimônio e fugir da obrigação de liquidar Nota Promissória emitida em seu desfavor. 
Portanto, o negócio jurídico configurado por doação pura é plenamente anulável como estatui o art. 158 do CC. Por meio dos documentos apresentados e anexados evidenciou-se claro o prejuízo econômico causado pelo requerido ao requerente, ao deixar de cumprir com a prestação obrigacional de liquidar no prazo acordado o Título Executivo Extrajudicial emitido em seu nome no valor de R$ 80.000,00 (Oitenta Mil Reais). 
	Com o fito de resguardar o Direito do requerente, requer-se que seja realizado o desfazimento integral da doação pura, bem como bloqueio total dos dois imóveis doados ilegalmente com referidas averbações de intransferibilidade, a incomunicabilidade e a impenhorabilidade até o desfecho final da presente demanda. 
6. DOS PEDIDOS
	Diante do exposto e com base na legislação vigente, requer, de V.Exª:
a)	A CONCESSÃO dos benefícios da assistência judiciária gratuita, preceituados no art.5º, LXXIV, da Carta Magna, na Lei n° 1.060/50 e no artigo 98 do Código de Processo Civil, por ser os autores pobres, na acepção jurídica do termo, não reunindo condições de arcar com os encargos decorrentes do processo, sem prejuízo se seu sustento e de sua família;
b) Designação de audiência preliminar de conciliação e mediação, com fulcro no art. 319,VII, do CPC;
c) A citação do requerido para que compareça a audiência de conciliação e medicação e ser designada pelo Juízo e, não havendo autocomposição, que se intimem os réus para apresentarem contestação. 
d) A CONCESSÃO da Tutela de Urgência Liminar, fundada no art. 300 do Código de Processo Civil, determinando a imediata anulação da doação pura perpetrada pelo requerido que deu causa à Fraude Contra Credor, conforme relatado nesta Petição Inicial, bem como o bloqueio dos dois bens imóveis e as respectivas averbações de intransferibilidade, incomunicabilidade e impenhorabilidade até o deslinde final da presente demanda;
e) Citação do requerido, na pessoa de seu representante legal, para, querendo apresentar defesa no prazo legal;
f) Intervenção do Ministério Público;
g) O JULGAMENTO TOTALMENTE PROCEDENTE dos pedidos, para declarar a anulação do negócio jurídico configurado como doação pura;
h) Condenar o réu ao pagamento de custas e honorários advocatícios, conforme art. 85 do CPC;
i) Pugna para que as publicações sejam feitas exclusivamente em nome do patrono XXXX, OAB/CE. Nº XXXX;
Requer a produção de todas as provas admitidas em Direito, na amplitude dos artigos 369 e seguintes do Código de Processo Civil/2015. 
	Dá-se à causa o valor de R$ 300.000,00 (Trezentos Mil Reais)
Nestes Termos
Pede deferimento
Fortaleza, Ceará, 02 de Setembro de 2020.
XXXX
Advogado
OAB-CE – Nº XXXX

Outros materiais