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Urbanidades Urbanismo, Planejamento Urbano e Planos Diretores Procurar… Segurança é fator essencial para vitali- dade, e olhos da rua são essenciais para a segurança Condições para a Vitalidade Urbana #4 – Permeabilidade visual 23 junho, 2013 Renato Saboya 2 Comentários Este post faz parte de uma série sobre as condições para a Vitalidade Urbana. Leia também os outros posts: Condições para a vitalidade Urbana #1 – densidade Condições para a Vitalidade Urbana #2 – Proximidades e distâncias na malha de ruas Condições para a Vitalidade Urbana #3 – Características da relação edificação x espaço público Interface entre espaço edificado e espaço aberto público: permeabilida- de visual Apenas a proximidade física pode não ser eficaz na promoção da vitalidade caso não seja reforçada por conexões visuais: O contato através da experiência entre o que está acontecendo no ambiente público e o que está acontecendo nas residências, lojas, fábricas, oficinas e edifícios coletivos adjacentes pode promo- ver uma extensão e enriquecimento das possibilidades de experiências, em ambas as direções. (GEHL, 2011, p. 121) Podemos identificar três maneiras pelas quais a visibilidade pode ajudar a promover a apropriação dos espaços públicos. A primeira delas, levantada por Jacobs (2001), diz respeito à segurança. O conceito de “olhos da rua” descreve a combinação de fachadas visualmente permeáveis, próximas à rua e com mo- radores que se preocupam com o que acontece na sua vizinhança, e funciona no sentido de promover uma maior sensação de segurança para quem caminha ou desenvolve outro tipo de atividade nas ruas. Isso acontece porque “Um pedestre sente o olhar coletivo, mesmo que ninguém esteja realmente olhan- do para a rua.” (HANSON; ZAKO 2007, p. 021-19). Embora não haja garantias, quem caminha por uma rua para a qual muitas janelas se abrem tem a sensação de que, se algum problema acontecer, alguma pessoa dentro de uma das edificações será capaz de ver o que está acontecendo e intervir. Para enten- der melhor, basta imaginar a situação oposta: uma rua com alta proporção de muros e fachadas cegas gera uma intensa sensação de insegurança, fragilidade e desconfiança. As chances de ser “salvo” por um vizinho ou morador são praticamente nulas. Newman (1996), em seu conceito de espaços defensáveis, argumenta nesse mesmo sentido. Segundo ele, é necessário que os residentes sin- tam-se responsáveis pelos espaços públicos adjacentes às suas habita- ções, o que só é possível se houver proximidade e conexão visual. Por esse motivo, sugere como uma das diretrizes para o projeto de edifica- ções que “Vegetação não deve ser posicionado de modo a bloquear a visualização das portas e janelas das unidades habitacionais para a rua ou para os caminhos que levam da rua às entradas das unidades. ” (NEWMAN, 1996, p. 117). O autor explora vários tipos arquitetônicos e mostra que, mesmo com densi- dades populacionais e construtivas diferentes, os efeitos que eles têm sobre essa capacidade de sentir- se responsável pelos espaços coletivos é muito diferente. A figura abaixo mostra um exemplo disso: o tipo mais vertical, isolado e sem entradas voltadas para a rua tem maior probabilidade de ser alvo de depredação e outras formas de violência. Resultados semelhantes foram obtidos por Vivan e Saboya para o caso de Florianópolis, como pode ser conferido no post Arquitetura, espaço urbano e criminalida- de. Sobre o site Espaço para discussões, reflexões e notícias sobre a teoria e a prática do Urbanismo, Planejamento Urbano e Planos Diretores. Contribuições são sempre bem-vindas, especialmente na forma de comentários nos posts. Editor responsável: Renato T. de Saboya Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC - Graduação, Mestrado e Doutorado Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Últimos posts Livro “Efeitos da Arquitetura” Usos do solo: uma introdução à localização dos usos comerciais Fatores Morfológicos da Vitalidade no ArchDaily Novo site + livro “The Social Fabric of Cities” Lançamento de vídeos Ministério das Cidades e Instituto Lincoln Flávio Villaça e a segregação urbana Tutorial – mapa sintáticos no Depthmap Cidades invisíveis – Ítalo Calvino para download Rio, por que fazes assim? Chamada de Trabalhos: Revista Políticas Públicas & Cidades “ Home Sobre Contribuições + Recursos FAQ Urbanidades Contato http://urbanidades.arq.br/ http://urbanidades.arq.br/ http://urbanidades.arq.br/2013/06/condicoes-para-a-vitalidade-urbana-4-permeabilidade-visual/ http://urbanidades.arq.br/author/renato-saboya/ http://urbanidades.arq.br/2012/11/condicoes-para-a-vitalidade-urbana-1-densidade/ http://urbanidades.arq.br/2012/12/condicoes-para-a-vitalidade-urbana-2-proximidades-e-distancias-na-malha-de-ruas/ http://urbanidades.arq.br/2013/03/condicoes-para-a-vitalidade-urbana-3-caracteristicas-da-relacao-edificacao-x-espaco-publico/ http://urbanidades.arq.br/2012/09/arquitetura-espaco-urbano-e-criminalidade/ http://creativecommons.org/licenses/by-nd/2.5/br/ http://urbanidades.arq.br/2017/04/livro-efeitos-da-arquitetura/ http://urbanidades.arq.br/2017/02/usos-do-solo-uma-introducao-a-localizacao-dos-usos-comerciais/ http://urbanidades.arq.br/2017/02/fatores-morfologicos-da-vitalidade-no-archdaily/ http://urbanidades.arq.br/2016/12/novo-site-livro-the-social-fabric-of-cities/ http://urbanidades.arq.br/2016/07/lancamento-de-videos-ministerio-das-cidades-e-instituto-lincoln/ http://urbanidades.arq.br/2016/07/flavio-villaca-e-a-segregacao-urbana/ http://urbanidades.arq.br/2016/05/tutorial-mapa-sintaticos-no-depthmap/ http://urbanidades.arq.br/2016/02/cidades-invisiveis-italo-calvino-para-download/ http://urbanidades.arq.br/2015/11/rio-por-que-fazes-assim/ http://urbanidades.arq.br/2015/11/chamada-de-trabalhos-revista-politicas-publicas-cidades/ http://urbanidades.arq.br/ http://urbanidades.arq.br/sobre/ http://urbanidades.arq.br/contribuicoes/ http://urbanidades.arq.br/banco-de-planos-diretores/ http://urbanidades.arq.br/faq-urbanidades/ http://urbanidades.arq.br/contato/ Mais importante que a distância real é a distância percebida O reforço da presen- ça e a constante lembrança das pos- sibilidades de inte- ração podem ser importantes Tipologias com densidades semelhantes e diferentes relações com a rua e consequentes efeitos sobre a segurança. (NEWMAN, 1996, p. 21) A segunda maneira pela qual a visibilidade reforça a proximidade física é através da possibilidade de algum tipo de interação concreta entre es- paço edificado e aberto, mesmo que à distância. Alexander et al (1977) argumentam que até o 4º andar de uma edificação é possível interagir com alguém no térreo (o que só seria possível se houvesse alguma co- nexão visual). Gehl (2011, p. 137 – grifo no original) ressalta que “Crucial para determinar a distância aceitável em uma determinada circunstância é não apenas a distância física real, mas em grande medida a distância percebida.” Nesse sentido, alguém que está dentro de uma edificação com contato visual direto sobre o espaço público sente-se mais pró- ximo a este, e desfruta da possibilidade de interagir passivamente ou ativamente com ele. Passivamen- te, através dos sons e cheiros, e ativamente através de uma conversa com alguém, da intervenção em alguma situação problemática como no caso da segurança delineado acima, do cuidado com os filhos que brincam na rua, e assim por diante. Santos e Vogel (1985) descrevem belissimamente a riqueza de experiências e estímulos mútuos entre os residentes e quem passa ou utiliza a rua para outros motivos no livro “Quando a rua vira casa”. Jacobs e Gehl, entre muitos outros autores, defendem que a própria animação de uma rua ou espaço público atua como atrator de maior animação. Isso acontece porque as pessoas gostam de observar ou- tras pessoas, assim como gostam de estar em lugares onde haja animação e diversidade de pessoas e atividade: “Nas cidades, a animação e a variedade atraem mais animação; a apatia e a monotonia repe- lem a vida.” (JACOBS, 2000, p.108). Gehl (2011) cita o exemplo das crianças, que são atraídas de forma muito mais espontânea para lugares onde outras crianças já estejam brincando. Caso isso possa aconte- cer entre edificação e espaço público, a vitalidade urbana tende a ser reforçada. Todos esses estímulos (sonoros, visuais, etc.) podem atuar como incen- tivadores à vivência do espaço público, através do que pode ser consi- derada a terceira maneira de reforçar a proximidade física: promover a lembrança constante de que o espaço está ali, próximo, com todos os seus atrativos. É um aspecto bem aceito nas ciências cognitivas que aquilo que está ao alcance da experiência e dos sentidos afeta profun- damente os julgamentos e inferências que fazemos sobre o mundo, ao ponto de Kahneman (2011) cunhar a expressão “what you see is all the- re is”. Ele mostra que aquilo com que nos deparamos e interagimos pas- sa a assumir uma proporção em nossa visão de mundo que é incoerente à sua frequência “real”, quan- do medida por meios objetivos. O mesmo princípio pode ser estendido ao papel que a visibilidade tem sobre nossa consciência acerca dos espaços públicos e as decisões que tomamos quanto à frequência com que o vivenciamos: se ele está presente em nossa consciência (e os estímulos visuais são importan- tes nesse sentido), é maior a probabilidade de que nossas decisões os incluam. Se ele, ao contrário, está ausente, é menor a probabilidade de que o consideremos em nossas ponderações e escolhas. Referências ALEXANDER, C. A pattern language: towns, buildings, construction. New York: Oxford University Press, 1977. GEHL, J. Life between buildings: using public space. Washington, DC: Island Press, 2011. http://urbanidades.arq.br/wp-content/uploads/2009/10/Newman-1996-01.jpg ← Anterior Solução de transportes – China Próximo → Semana de Urbanismo – SEMUR 2013: “Cidade para Todos” HANSON, J.; ZAKO, R. Communities of co-presence and surveillance: how public open space shapes awa- reness and behaviour in residential developments. Proceedings of the 6th International Space Syn- tax Symposium, 2007. Istambul. JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000. KAHNEMAN, D. Thinking, fast and slow. New York: Farrar, Straus and Giroux, 2011. NEWMAN, O. Creating defensible spaces. Washington, DC: U.S. Department of Housing and Urban De- velopment, 1996. SANTOS, C. N.; VOGEL, A. Quando a rua vira casa. São Paulo: Projeto, 1985. urbanismo calçadas, Christopher Alexander, desenho urbano, espaço defensável, espaços públicos, fachadas ce- gas, Jane Jacobs, olhos da rua, Oscar Newman, pedestres, permeabilidade, urbanismo, vitalidade 2 comentários sobre “Condições para a Vitalidade Urbana #4 – Permeabilidade visual” Lucas Mura disse: 16 outubro, 2013 às 10:49 Por gentileza estou usando o artigo como parte da minha monografia, gostaria da referência completa do Jan Gehl, pois nao encontro na internet. Assim como a referência do Hanson (2007). Agradeço desde já, Obrigado Responder Renato Saboya disse: 16 outubro, 2013 às 11:13 Ok, feito. Atualizei o próprio corpo do post. Responder Deixe uma resposta O seu endereço de e-mail não será publicado. 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