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Metabolismo dos carboidratos Os carboidratos são a nossa principal fonte de energia. Alguns tecidos, como o cérebro, apresentam uma considerável dependência de glicose como substra- to energético. As hemácias são completamente dependentes de glicose. Há duas maneiras de obter energia a partir da glicose, na presença ou na ausência de oxigênio, com diferenças notáveis no rendimento em ATP. Na glicó- lise aeróbia 38 ATPs e na glicólise anaeróbia, apenas dois ATPs são formados. O processamento por via aeróbia envolve o ciclo de Krebs e a cadeia respiratória, que ocorrem no interior das mitocôndrias. Já a via anaeróbia é apenas citosólica. O excesso de glicose é estocável na forma de glicogênio. O glicogênio, como um polímero de glicose, apresenta vantagens, como a otimização do espaço re- querido para seu armazenamento e seu reduzido efeito osmótico e redutor. Em situações de elevada demanda, ele pode ser rapidamente mobilizado, regulan- do a oferta de glicose para os tecidos. Além da quebra do glicogênio, o fígado apresenta a capacidade de converter compostos não carboidratados, como os aminoácidos, em glicose, pela neoglicogênese. A glicólise é regulada em diversos níveis, especialmente por retroalimen- tação negativa, em que os produtos de algumas reações se ligam em sítios alostéricos de enzimas de passos anteriores, sinalizando o cumprimento da demanda metabólica celular. Além do controle por retroalimentação, desta- ca-se o papel dos hormônios, especialmente a insulina e o glucagon, que irão modular a atividade da via, dependendo do estado alimentado ou de jejum do indivíduo. Digestão e absorção O principal carboidrato da dieta é o amido, o polissacarídeo de reserva das plantas. Além dele, temos os dissacarídeos lactose, presente no leite, sacarose, o açúcar das frutas, e a maltose, encontrada nos vegetais. O amido é apenas parcialmente digerido na boca, pela ação da amilase sali- var, não só pelo tempo reduzido da presença do alimento na boca, como tam- bém pela rápida inativação enzimática quando o bolo alimentar é deglutido e alcança o ambiente ácido do estômago. BIOQUÍMICA HUMANA 86 SER_FARMA_BIOQUIMI_UNID3.indd 86 10/07/2020 12:58:10 O suco pancreático contém amilase pancreática, responsável pela hidrólise do amido em maltose no duodeno. A maltose é o primeiro produto da digestão do amido. A digestão da maltose, da lactose e da sacarose se dá pela ação de enzimas secretadas diretamente por células do epitélio intestinal, que com- põem o suco intestinal. A maltose é digerida pela maltase em duas moléculas de glicose. A lactose é digerida em galactose e glicose pela ação da enzima lac- tase. A sacarose é digerida em frutose e glicose pela ação da enzima sacarase. CURIOSIDADE A lactase tem sua síntese diminuída com a idade, iniciando o declínio de sua produção logo após o desmame. Assim, é natural certo grau de into- lerância à lactose em adultos. Entretanto, há a deficiência congênita de lactase, o que interfere na digestão do leite e, no próprio desenvolvimento do lactente. A lactose não digerida causa diarreia, cólicas e formação de gases, com grande desconforto gastrointestinal. Bactérias do intestino grosso podem fermentá-la criando um ambiente ácido. A absorção de glicose e galactose difere da absorção da frutose. Tanto a glicose quanto a galactose ligam-se a uma proteína transportadora chamada SGLT-1 presente na borda em escova do epitélio intestinal. A SGLT-1 realiza o cotransporte de uma molécula de glicose ou galactose acoplada ao sódio. O cotransporte não gasta energia diretamente, porém está favorecido por um transporte ativo gerado pela bomba Na+/K+ na membrana basolateral do en- terócito. Assim, o bombeamento de sódio para fora da célula na membrana basolateral cria um gradiente de concentração para o sódio, que promove o carreamento acoplado de glicose e galactose para o interior do enterócito. Dentro da célula, permeiam canais GLUT-2 membrana basal do enterócito e assim, atingem os capilares sanguíneos. Além deste tipo de transporte, a glicose e a galactose, e exclusivamente a frutose, po- dem ser absorvidas segundo seu gradien- te de concentração por canais GLUT-5, presentes na borda em escova. Assim que esses monossacarídeos se acumulam no interior do enterócito, permeiam por ca- nais GLUT-2 para alcançarem a circulação. BIOQUÍMICA HUMANA 87 SER_FARMA_BIOQUIMI_UNID3.indd 87 10/07/2020 12:58:10 Glicogênese A glicose eleva-se no sangue após a alimentação. Nestas condições de eleva- da glicemia, está favorecida a atividade da glicoquinase hepática, uma enzima de elevado Km, que só trabalha em situações de elevada disponibilidade de glicose. Esta glicose será acumulada na forma de glicogênio, no fígado e nos músculos. A glicose atravessa canais GLUT-2 na superfície do hepatócito e, rapidamen- te, é fosforilada no carbono 6, pela ação da enzima glicoquinase hepática, im- pedindo que retorne ao ambiente extracelular. A glicose-6P muda a posição do grupo fosfato para o carbono 1, formando a glicose-1P, pela ação da enzima fosfoglicomutase. A razão para tal, é que no passo seguinte será acoplado um radical uridina-difosfato (UDP) ao carbono 1: Glicose Glicose - 6P Hexoquinase fosfoglicomutase Glicose - 1P A uridina-trifosfato (UTP) se une ao grupo fosfato da glicose, liberando dois fosfatos inorgânicos e resultado na glicose-UDP. Esta reação é catalisada pela UDP-glicose pirofosforilase: Glicose - 1P + UTP Glicose - UDP UDP - glicose pirofosforilase O próximo passo é retirar o radical UDP, criando unidades intermediárias de glicosil (1→4) que reconhecem o iniciador primer do glicogênio, a proteína gli- cogenina, formando uma ligação glicosídica α(1→4), alongando a estrutura do glicogênio. A enzima que catalisa esta reação é a glicogênio sintase. A insulina ativa a glicogênio sintase, sinalizando o estado alimentado. Já o glucagon inibe a atividade enzimática, sinalizando que não ocorrerá síntese de glicogênio du- rante baixa oferta de glicose. O UDP recuperado é, então, reconvertido em UTP, pela ação da enzima nucleosídeo difosfoquinase, com gasto de ATP: Glicose-UDP + Glicogenina Glicogênio + UDP glicogênio sintase A glicogênio sintase alonga a cadeia de glicose em no máximo 11 resíduos com ligações glicosídicas α(1→4), depois disso uma enzima ramifi cadora trans- fere uma parte da cadeia com pelo menor seis resíduos de glicose, formando uma ligação α(1→6). BIOQUÍMICA HUMANA 88 SER_FARMA_BIOQUIMI_UNID3.indd 88 10/07/2020 12:58:10 Glicogenólise O glicogênio hepático e muscular podem ser mobilizados em situações de demanda metabólica. Entretanto, apresentam diferenças importantes, pois a glicogenólise hepática libera glicose na circulação, e a glicogenólise muscular provê glicose apenas para uso próprio. A glicogenólise ocorre em três etapas. Inicialmente a enzima glicogênio fos- forilase inclui um grupo fosfato em uma unidade glicosil (1→4) do glicogênio, levando à liberação da glicose-1P. Para as ramifi cações, deve ocorrer ação si- multânea da enzima desramifi cadora glicano-transferase. Depois de formado a glicose-1P, ocorre formação da glicose-6P, pela ação da enzima bidirecional fosfoglicomutase. Na terceira e última etapa, a enzima gli- cose-6-fosfatase retira o grupo fosfato e reconfi gura a hidroxila no carbono 6, devido ao consumo de moléculas de água. O produto é a glicose, que permeia canais GLUT-2 para fora do hepatócito. A razão pela qual o músculo não contribui para a glicose circulatória, pela glicogenólise, reside na ausência da glicose-6-fosfatase, pois, como se sabe, a glicose 6-P não é capaz de atravessar canais GLUT: Glicogênio Glicose 1 - P glicogênio fosforilase fosfoglicomutase Glicose 6 - P Glicose 6 - P glicose 6 - fosfatase Glicose A enzima glicogênio fosforilase é ativada pelo glucagon, portanto, a glico- genólise está favorecida em estados de jejum. Ainsulina tem efeito oposto, inibindo a ação da enzima glicogênio fosforilase. Gliconeogênese Em situações de jejum, a quebra do glicogênio hepático é um importante recurso a ser utilizado para suprir os tecidos de glicose, especialmente aqueles com limitada capacidade de metabolizar outros substratos energéticos como o cérebro. Entretanto, a quantidade disponível de glicose via hepática é de cerca de 190 gramas/dia, e o cérebro consome 120 gramas/dia, afora todos os outros BIOQUÍMICA HUMANA 89 SER_FARMA_BIOQUIMI_UNID3.indd 89 10/07/2020 12:58:10 órgãos. Assim, o corpo necessita de novas fontes de carboidratos, especial- mente durante o jejum. A forma que o organismo encontrou para disponibilizar glicose é sintetizá- -la a partir de compostos não-carboidratos, o que chamamos de neoglicogê- nese. Portanto, um importante papel da gliconeogênese é suprir de glicose o cérebro em estados de jejum. Caso ocorra falha na neoglicogênese, o resul- tado é fatal, pois a hipoglicemia leva a hipofunção cerebral, podendo levar ao coma e a morte. São três substratos possíveis de serem convertidos em glicose: o glicerol, o lactato e os aminoácidos glicogênicos. A neoglicogênese ocorre no fígado, mas também pode ser realizada pelos rins. O glicerol é resultado da hidrólise dos triacilgliceróis, e é captado pelo fí- gado. No fígado, sofre ação da enzima glicerol quinase, com resultante fosfo- rilação no carbono 3, consumindo ATP. O glicerol 3-P, por sua vez, sofre ação enzima glicerol-3P desidrogenase, convertendo-se em diidroxiacetona fosfato, liberando hidrogênio. Os hidrogênios são captados pelo NAD. A diidroxiaceto- na-P é um substrato da via glicolítica: Glicerol + ATP Glicerol - 3P + ADP glicerol quinase Glicerol - 3P + NAD diidroxiacetona - P + NADH glicerol 3 - P desidrogenase O lactato e os aminoácidos glicogênicos seguem caminhos semelhantes, pois acabam por sintetizar oxaloacetato, um substrato do ciclo do ácido cítrico. O oxaloacetato é o substrato comum da neoglicogênese e é pro- cessado até pertencer à via glicolítica. O lactato é produto da glicólise anaeróbia, so- bretudo pelos músculos. O lactato é lançado pela circulação e captado pelo fígado. No fígado, é metabolizado pela enzima lactato desidrogenase em piruvato, liberando hidrogênio. Os hidrogênios são captados pelo NAD. O piruvato será convertido em oxaloacetato: Lactato + NAD diidroxiacetona - P + NADH lactato desidrogenase BIOQUÍMICA HUMANA 90 SER_FARMA_BIOQUIMI_UNID3.indd 90 10/07/2020 12:58:10 CURIOSIDADE A determinação sérica do lactato é uma medida útil para se avaliar o limiar aeróbio de um atleta. O teste é realizado a intensidades ou cargas cres- centes de exercício, e quando o lactato ultrapassar 4,0 mmol/L, temos a carga ou intensidade imediatamente anterior como limiar aeróbio. Níveis elevados de lactato significam um desbalanço entre a oferta e a demanda dos tecidos por oxigênio, e consequente ativação da fermentação lática nos músculos, com menor rendimento de ATP. Quase todos os aminoácidos podem ser convertidos em glicose (exceto a lisina e a leucina), sendo o principal a alanina. Na proteólise muscular, os gru- pos amina dos aminoácidos são transferidos para o piruvato, convertendo-o em alanina. A reação é catalisada por aminotransferases, que possuem como cofator a piridoxal fosfato, derivada da vitamina B6. A alanina é lançada na circulação e captada pelo fígado: aminoáacidos + piruvato alanina aminotransferases No fígado, dentro das mitocôndrias, o grupo amina é transferido para o α-cetoglutarato, pela ação de aminotransferases, convertendo-o em gluta- mato. O esqueleto carbônico da alanina forma o piruvato. O glutamato será recuperado em α-cetoglutarato no ciclo da ureia: alanina + α-cetoglutarato glutamato + piruvato aminotransferases Dentro da mitocôndria, na neoglicogênese, o piruvato não será convertido em acetil-CoA, mas sim em oxaloacetato. Desta for- ma, um desvio se faz necessário e é catalisado pela enzima piruvato descarboxilase. Essa enzima é in- duzida pelo glucagon, epinefrina e cortisol, sendo inibida pela insulina, como ocorre com todas as enzimas de desvio. O oxaloacetato é, então, conver- tido em malato pela enzima malato desidrogenase, consumindo NADH: piruvato oxaloacetato piruvato descarboxilase Oxaloacetato + NADH malato + NAD malato desidrogenase mitocondrial BIOQUÍMICA HUMANA 91 SER_FARMA_BIOQUIMI_UNID3.indd 91 10/07/2020 12:58:10 O malato sai da mitocôndria, e pela malato desidrogenase citosó- lica, é reconvertido em oxaloacetato, liberando hidrogênio captado pelo NAD. O oxaloacetato sofre, então, ação da enzima fos- foenolpiruvato carboxiquinase, convertendo-o em fos- foenolpiruvato. Essa enzima é induzida pelo glucagon, epinefrina e cortisol, sendo inibida pela insulina, como ocorre com todas as enzimas de desvio. O fosfoenolpiruva- to segue as reações reversíveis da via glicolítica, passando pelos dois desvios fi- nais, da frutose 1,6 difosfatase e glicose-6 fosfatase, até a formação de glicose. malato + NAD oxaloacetato + NADH malato descarboxilase citossólica Oxaloacetato fosfoenolpiruvato fosfoenolpiruvato carboxiquinase O fosfoenolpiruvato segue as reações reversíveis da via glicolítica até que a frutose-1,6 difosfato não pode ser convertida em frutose-6P, pela ação da fosfo- frutoquinase, pois esta enzima é irreversível, portanto, pertence exclusivamente à glicólise. Aqui há um desvio com a ação de uma enzima alternativa própria da gliconeogênese, a frutose 1,6-difosfatase. Esta enzima produz a frutose-6P: frutose 1,6-difosfato + NAD Frutose - 6P + Pi frutose 1,6-difosfatase O próximo passo é a conversão de frutose-6P em glicose 6-P. Agora, temos o segundo desvio, pois glicoquinase também é uma enzima irreversível e exclusiva da via glicolítica. O desvio é feito pela ação da enzima fosfofrutoisomerase. A enzima glicose-6-fosfatase completa este duplo desvio para a formação de gli- cose a partir de lactato ou glicerol. A glicose formada permeia por canais GLUT-2 alcançando a circulação: frutose-6P glicose-6P fosfofrutoisomerase glicose - 6P glicose glicose - 6 - fosfatase As enzimas do duplo desvio, frutose-1,6-difosfatase e a glicose-6-fosfatase, são induzidas pelo glucagon, epinefrina e cortisol. Assim, respondem aos esta- dos de jejum, estresse e atividade física. Já a insulina, tem influência inibitória sobre a enzimas. BIOQUÍMICA HUMANA 92 SER_FARMA_BIOQUIMI_UNID3.indd 92 10/07/2020 12:58:10 Glicólise A glicose circulante é captada pelos tecidos para ser utilizada como fonte energética. A captação de glicose pelos músculos e tecido adiposo é realizada por canais GLUT-4, que são dependentes de insulina. No cérebro, o transporte se dá por canais GLUT-3 e não depende da insulina. Assim que a glicose alcança o citosol, é rapidamente fosforilada pela ação da enzima hexoquinase, formando a glicose-6P, que não é capaz de refl uir pelos canais para fora da célula. A fosfohexose-isomerase converte a glicose-6P em frutose-6P. Um segundo fosfato é adicionado à molécula, pela ação da fosfofrutoquinase, resul- tando na frutose-1,6 difosfato. A frutose-1,6 difosfato é estruturalmente simétrica, sendo clivada pela ação da aldolase em dois compostos intercambiáveis: a diidro- xiacetona fosfato e a gliceraldeído-3P, com formação fi nal de duas moléculas de gliceraldeído-3P. Observe que, até aqui, foram consumidas duas moléculas de ATP, por isso dá-se o nome de fase de investimento. Duas enzimas, nesta etapa, são irre- versíveis: a hexoquinase e a fosfofrutoquinase, ambas são induzidas pela insulina. DIAGRAMA 5. NEOGLICOGÊNESE O Diagrama 5, mostra os três desvios. O primeiro desvio é longo, e converte piruvato em oxaloacetato. O segundo desvio se dá pela enzima frutose 1,6-bifos- fatase, e o terceiro desvio se dá pela glicose 6-fosfatase. Glicose Glicose GlicoquinaseGl iso se -6 fo sfa ta se Fr ut os e 1, 6- bi fo sfa ta se Glucagon Epinefrina Glucagon Epinefrina NAD NAD NADH NADH Desidrogenase 1,3-bifosfoglicerato 3-fosfoglicerato 2-fosfoglicerato Fosfoenolpiruvato Piruvato Piruvato carboxilase Lactato desidrogenase Lactato Piruvato quinase Quinase Mutase EnolaseH2O Glucagon Epinefrina x2 Isomerase Isomerase Fosfofrutoquinase Frutose-6P Frutose-1,6BP Aldolase Diidroxiacetona-P Oxaloacetati Oxaloacetati Mitocôndria Malato Malato M al at o de sid ro ge na se Malato desidrogenase Gliceraldeído-3P Fosfoenolpiruvato carboxiquinase Glucagon/Epinefrina Critrato Critrato sintase Glicose-6P ATP ATP ATP ATP ADP ADP ADP ADP GLUT-2 Fígado BIOQUÍMICA HUMANA 93 SER_FARMA_BIOQUIMI_UNID3.indd 93 10/07/2020 12:58:10 DIAGRAMA 6. FASE INVESTIDORA DA GLICÓLISE A gliceraldeído-3P sofre ação da enzima gliceraldeído-3P desidrogenase, for- mando 1,3-bifosfoglicerato e liberando hidrogênios, que são captados pelo NAD, formando NADH. O grupo fosfato será retirado da 1,3-bifosfoglicerato pela enzima fosfoglice- rato quinase, formando 3-fosfoglicerato e uma molécula de ATP. A 3-fosfoglice- rato será convertida em 2-fosfoglicerato pela enzima 2-fosfoglicerato mutase. Um enolase retirará uma molécula de H2O, formado agora o fosfoenolpiruvato. O fosfoenolpiruvato sofre ação da enzima piruvato quinase, formando piruva- to e uma molécula de ATP. Note que foram sintetizadas duas moléculas de ATP e uma molécula de NADH, por isso, essa etapa da glicólise é chamada de pagadora. De fato, a fase pagadora deve ser multiplicada por dois, devido a geração duplicada de glice- raldeído. Assim, além de compensar a etapa investidora, ela apresenta um sal- do de dois ATP e dois NADH. A piruvato quinase é a única enzima irreversível, nesta etapa, e é induzida pela insulina. Glicose Glicose Glicose-6P Hexoquinase (baixo Km) Isomerase Isomerase Insulina Aldolase Insulina Frutose-6P Frutose-1,6BP GLUT-4 MM Tec. adiposo ATP ATP ADP ADP Diidroxiacetona-P Gliceraldeído-3P Fosfofrutoquinase BIOQUÍMICA HUMANA 94 SER_FARMA_BIOQUIMI_UNID3.indd 94 10/07/2020 12:58:10 DIAGRAMA 7. FASE PAGADORA DA GLICÓLISE O piruvato poderá seguir por dois caminhos, dependendo da oferta de oxi- gênio. Em condições aeróbias, sofrerá oxidação. Em condições anaeróbias, será convertido em lactato. O piruvato, na ausência do oxigênio, sofre ação da lactato desidrogenase, convertendo-o em ácido lático. Nesta conversão, o NADH doa seu hidrogênio, que será consumido na formação do ácido lático. Desta forma, o NADH é reo- xidado à NAD. A recuperação do NAD é fundamental para reiniciar a fase paga- dora da glicólise. Assim, podemos concluir que a glicólise anaeróbia depende, não só da presença de substrato, como também de NAD para seguir com a produção de ATP. Gliceraldeído-3P Desidrogenase 1,3-bifosfoglicerato 3-fosfoglicerato H2O 2-fosfoglicerato Fosfoenolpiruvato Insulina Piruvato Piruvato quinase Enolase Quinase Mutase ATP ATP ADP ADP x2 NAD NADH BIOQUÍMICA HUMANA 95 SER_FARMA_BIOQUIMI_UNID3.indd 95 10/07/2020 12:58:10 DIAGRAMA 8. GLICÓLISE ANAERÓBIA Na presença de oxigênio, o piruvato é oxidado à acetil-CoA no interior das mitocôndrias, pelo complexo enzimático piruvato desidrogenase, formando pela ação combinada de três enzimas: a piruvato descarboxilase, a di-hidroli- poil transacetilase e a di-hidrolipoil desidrogenase. Inicialmente, o piruvato sofre descarboxilação pela ação da enzima piruvato descarboxilase, eliminando CO2 e formando o grupo hidroxietil, que é captura- do pela tiamina-pirofosfato, um cofator da enzima: Piruvato hidroxietil + CO2 piruvato descarboxilase O hidroxietil é transferido para a enzima di-hidrolipoil transacetilase, ligan- do-se ao seu grupo prostético lipoamida, em sua forma oxidada, formando a acetil-lipoamida. No passo seguinte, a enzima acopla o grupo hidroxietil à coenzima A, formando a acetil-CoA e lipoamida reduzida. A lipoamida reduzi- da transfere seus hidrogênios para o FAD, formando FADH2, recuperando sua Gliceraldeído-3P Insulina Piruvato quinase Fosfoenolpiruvato 2-fosfoglicerato 3-fosfoglicerato 1,3-bifosfoglicerato enolase mutase quinase H2O Piruvato ATP ATP ADP ADP x2 Lactato NADH NADH desidrogenase NAD NAD Lactato desidrogenase BIOQUÍMICA HUMANA 96 SER_FARMA_BIOQUIMI_UNID3.indd 96 10/07/2020 12:58:10 forma oxidada, pela ação da enzima di-hidrolipoil desidrogenase. O FADH2, por sua vez, é reoxidado a FAD pela transferência dos hidrogênios para o NAD: hidroxietil + lipoamida oxidada acetil - lipoamida di-hidrolipoil transacetilase acetil-lipoamida + Coenzima A acetil - CoA + lipoamida reduzida di-hidrolipoil transacetilase lipoamida reduzida + FAD lipoamida oxidada + FADH2 di-hidrolipoil desidrogenase NAD + FADH2 FAD + NADH + H+ di-hidrolipoil desidrogenase O complexo piruvato desidrogenase é inibido pelos seus produtos finais, Acetil-CoA e NADH, sinalizando que a oferta de substratos energéticos é ex- cessiva. Ciclo do ácido cítrico O ciclo do ácido cítrico, também chamado de ciclo de Krebs, é um circui- to fechado de reações que ocorre exclusivamente no interior das mitocôn- drias. Sua função primária é oxidar a fração acetil do acetil- -CoA e reduzir as coenzimas NAD e FAD em NADH e FADH2, que serão novamente oxidadas na cadeira respiratória, em NAD e FAD, resultando na formação do ATP. Todos os substratos energéticos, sob condições aeróbias, entram no ciclo do ácido cítrico. Os carboidratos são metabolizados até piruvato no cito- sol quando passam para o interior das mi- tocôndrias, onde são oxidados à acetil-CoA. Os ácidos graxos sofrem oxidação dentro das mitocôndrias, formando mo- léculas de acetil-CoA. A maior parte dos aminoácidos também é oxidada em acetil-CoA. BIOQUÍMICA HUMANA 97 SER_FARMA_BIOQUIMI_UNID3.indd 97 10/07/2020 12:58:10
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