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FACULDADE CATÓLICA RAINHA DA PAZ CURSO DE DIREITO RESPONABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO NA PERDA DE UMA CHANCE Keyla Rafaela Pedrosa e Michelli Prado Araputanga/MT 2019 2 KEYLA RAFAELA PEDROSA e MICHELLI PRADO RESPONABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO NA PERDA DE UMA CHANCE Artigo apresentado como requisito parcial à avaliação na disciplina de Direito Civil V – Responsabilidade Civil, sob a orientação do professor André Luiz P. Herrera, 6º semestre do curso de Direito da Faculdade Católica Rainha da Paz (FCARP). Araputanga/MT 2019 3 RESPONSABLIDADE CIVIL DOS ADVOGADOS NA PERDA DE UMA CHANCE. Keyla Rafaela Pedrosa, Michelli Prado. 1 Prof. André Luiz P. Herrera. ² RESUMO A atividade advocatícia, assim como em outras profissões liberais, demanda de uma responsabilidade civil subjetiva, pois se consolida contratualmente, no caso do processo judicial, por mandato. O objetivo desta pesquisa é analisar a hipótese de responsabilização por danos causados a clientes na situação de perda de uma chance por culpa de seu patrono. Para que pudéssemos apreciar essa temática, utilizamos da pesquisa bibliográfica, dano preferência a doutrinas mais atuais e utilizadas na esfera civil da academia. Os principais resultados obtidos referem-se à indenização mediante análise onde se completam: a demonstração do nexo causal e a real perspectiva favorável da chance perdida. PALAVRAS-CHAVE: Responsabilidade Civil. Responsabilidade dos advogados. Perda de uma chance. 1. INTRODUÇÃO A atuação do advogado perante o seu cliente se dá por meio de uma relação contratual, o mandado. Mas, assim como um médico, suas obrigações são, em grande maioria, obrigações de meio e não de resultado, a responsabilidade civil, portanto, é subjetiva. O advogado deve de modo geral, defender seus clientes em juízo e dar-lhes conselhos profissionais. É função dele, empregar diligentemente as melhores técnicas e meios para executar sua atividade defendendo os interesses de seus clientes. Contudo, se provado dolo ou culpa por parte do profissional e o cliente vier a sofrer o dano o art. 186 do CC, garante que a responsabilidade civil deve ser satisfeita. Mas, e se o dano causado estiver relacionado com a perda de uma chance? É o que iremos responder no decorrer desta pesquisa. 1 Acadêmicas do 6° semestre do Curso de Direito da Faculdade Católica Rainha da Paz (FCARP), Araputanga, Mato Grosso. Artigo apresentado à disciplina de Direito Civil: Responsabilidade Civil. ² Bacharel em Direito, pós-graduado em Direito Notarial e Registral, Direito Processual Civil e Direito Eleitoral, Mestrando em Educação pela Universidade do Estado de Mato Grosso- UNEMAT. Professor da FCARP. 4 2. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO A natureza jurídica da obrigação de serviços advocatícios está relacionada a prestação de serviços, que em regra é uma obrigação de meio. Onde o advogado não garante a vitória processual, mas sim a atuação no decorrer do processo. Como sabemos a responsabilidade civil surge ao existir o nexo entre a causa e o efeito, a conduta e o dano. Negligenciar prazos, não orientar ou mau aconselhar e utilizar de recursos que não procedem no tipo de ação processual, são falhas que um profissional não deve cometer no exercício da advocacia. Por ferir o próprio código profissional (Lei. 8.906/94), código de defesa do consumidor (art.14, §4.º) e o código civil (art. 186), a má atuação, comprovada culpa, acarreta o direito de o cliente/ ofendido pleitear judicialmente pelo dano sofrido. 2.1 TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE As demandas acerca dos danos referentes a perda de uma chance têm sido progressivamente adotadas, assim como cresce os julgados nesse sentido. A perda de uma chance se caracteriza “quando a pessoa vê frustrada uma expectativa, uma oportunidade futura, que, dentro da lógica razoável, ocorreria se as coisas seguissem o seu curso normal” (TARTUCE, 2019, p. 482). Não se trata de uma mera expectativa, mas se de uma chance séria e real. Observemos o seguinte julgado acerca da exposição a cerca dessa teoria: RECURSO ESPECIAL. AÇÕES EM BOLSA DE VALORES. VENDA PROMOVIDA SEM AUTORIZAÇÃO DO TITULAR. RESPONSABILIDADE CIVIL. PERDA DE UMA CHANCE. DANO CONSISTENTE NA IMPOSSIBILIDADE DE NEGOCIAÇÃO DAS AÇÕES COM MELHOR VALOR, EM MOMENTO FUTURO. INDENIZAÇÃO PELA PERDA DA OPORTUNIDADE. 1. "A perda de uma chance é técnica decisória, criada pela jurisprudência francesa, para superar as insuficiências da responsabilidade civil diante das lesões a interesses aleatórios. Essa técnica trabalha com o deslocamento da reparação: a responsabilidade retira sua mira da vantagem aleatória e, naturalmente, intangível, e elege a chance como objeto a ser reparado" (CARNAÚBA, Daniel Amaral. A responsabilidade civil pela perda de uma chance: a técnica na jurisprudência francesa. In: Revista dos Tribunais, São Paulo, n. 922, ago, 2012). 2. Na configuração da responsabilidade pela perda de uma chance não se vislumbrará o dano efetivo mencionado, sequer se responsabilizará o agente causador por um dano emergente, ou por eventuais lucros cessantes, mas por algo intermediário entre um e outro, precisamente a perda da possibilidade de se buscar posição mais vantajosa, que muito provavelmente se alcançaria, não fosse o ato ilícito praticado. 3. No lugar de reparar aquilo que teria sido (providência impossível), a reparação de chances se volta ao passado, buscando a reposição do que foi. É nesse momento pretérito que se verifica se a vítima possuía uma chance. É essa chance, portanto, que lhe será devolvida sob a forma de reparação. 4. A teoria da perda de uma chance não se presta a reparar danos fantasiosos, não servindo ao acolhimento de meras expectativas, que pertencem tão somente ao campo do íntimo desejo, cuja indenização é vedada pelo ordenamento jurídico, mas sim um dano concreto (perda de probabilidade). A indenização será devida, quando constatada a privação real e séria de chances, quando detectado que, sem a conduta do réu, a 5 vítima teria obtido o resultado desejado. 5. No caso concreto, houve venda de ações sem a autorização do titular, configurando o ato ilícito. O dano suportado consistiu exatamente na perda da chance de obter uma vantagem, qual seja a venda daquelas ações por melhor valor. Presente, também, o nexo de causalidade entre o ato ilícito (venda antecipada não autorizada) e o dano (perda da chance de venda valorizada), já que a venda pelo titular das ações, em momento futuro, por melhor preço, não pode ocorrer justamente porque os papéis já não estavam disponíveis para serem colocados em negociação. 6. Recurso especial a que se nega provimento. (STJ - REsp: 1540153 RS 2015/0082053-9, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento: 17/04/2018, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 06/06/2018) A teoria da perda de uma chance só será aplicada dentro de um juízo de probabilidade onde encontra o dano como certo, real e atual. A qualificação do dano será avaliada e proporcionalmente aplicado o percentual da obtenção da vantagem esperada (GONÇALVES. 2017, p. 286). 2.2 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO NA PERDA DE UMA CHANCE Trazendo a para aspecto da prestação de serviços advocatícios, a aplicação da teoria da perda de uma chance se dá quando o profissional omite de realizar sua obrigação ou ao fazê-la, realiza de forma desastrada. Na perda de prazo por exemplo o cliente se vê lesado por não ter sido ingressado a tempo a sua ação ou até mesmo sua defesa ou direito de recorrer algum processo. Vale salientar que o nexo causal está diretamente ligado a ação ou omissão culposa por parte do profissional e a real possibilidade de sucesso da ação proposta. Ou seja, precisahaver o dano, certo e real. Como não podemos aferir se a ação proposta poderia de fato ser favorável ao cliente, quando o juiz avalia a extensão do dano ele prepondera acerca do percentual e se este for maior que 50%, ou seja de chances reais, a indenização pleiteada pelo cliente será referente a esse percentual. Para que se aplique a teoria da perda de uma chance, há indispensabilidade na prova da culpa do profissional da advocacia, assim como da real probabilidade de êxito na ação pela qual demandava o cliente. Observemos também esse julgado: RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DE ADVOGADO. TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE. AUSÊNCIA DE PROBABILIDADE DE SUCESSO NO RECURSO CONSIDERADO INTEMPESTIVO. 1. Controvérsia em torno da responsabilidade civil de advogados, que patrocinaram determinada demanda em nome da parte ora recorrente, pelo não conhecimento do seu recurso especial e do agravo de instrumento consequentemente interposto, ocasionando a "perda da chance" de ver reconhecido o seu direito ao recebimento de benefício acidentário, postulando, assim, indenização por danos materiais e 6 morais. 2. Possibilidade, em tese, de reconhecimento da responsabilidade civil do advogado pelo não conhecimento do recurso especial interposto intempestivamente e, ainda, sem ter sido instruído, o agravo de instrumento manejado contra a sua inadmissão, com os necessários documentos obrigatórios. 3. Os advogados, atuando em nome do seu cliente e representando-a judicialmente, comprometem-se, quando da celebração do mandato judicial, a observar a técnica ínsita ao exercício da advocacia e, ainda, a articular a melhor defesa dos interesses da mandante, embora sem a garantia do resultado final favorável (obrigação de meio), mas adstritos à uma atuação dentro do rigor profissional exigido, nisso incluindo-se a utilização dos recursos legalmente estabelecidos, dentro dos prazos legalmente previstos. 4. A responsabilidade civil subjetiva do advogado, por inadimplemento de suas obrigações de meio, depende da demonstração de ato culposo ou doloso, do nexo causal e do dano causado a seu cliente. 5. Tonalizado pela perda de uma chance, o elemento "dano" se consubstancia na frustração da probabilidade de alcançar um resultado muito provável. 6. Nessa conjuntura, necessário perpassar pela efetiva probabilidade de sucesso da parte em obter o provimento do recurso especial intempestivamente interposto. 7. Na origem, com base na análise da fundamentação do acórdão recorrido e, ainda, das razões do referido apelo excepcional, a conclusão foi de que o recurso estava fadado ao insucesso em face do enunciado 7/STJ. Insindicabilidade. 8. Doutrina e jurisprudência do STJ acerca do tema. 9. Pretensão indenizatória improcedente. 10. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.(STJ - REsp: 1758767 SP 2014/0290383-5, Relator: Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Data de Julgamento: 09/10/2018, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 15/10/2018) Além de provar o dano e o nexo de causalidade, quando se demanda uma ação de “perda da chance” é mister observar que o arbitramento será realizado mediante a análise do juiz que poderá levar e considerações inúmeras vertentes e poderá ou não julgar que de fato houve uma chance perdida, ou que a ação estava fadada ao insucesso. CONSIDERAÇÕES FINAIS Portanto, para que haja a reparação civil por conta de um resultado prejudicial a culpa precisa estar presente. Assim, como na tese de “perda de uma chance”, o elemento casuístico está associado a possibilidade real de favorecimento do resultado da ação e a conduta culposa do profissional. Identificados os elementos de conduta culposa e dano, o magistrado é que arbitrará a porcentagem do ressarcimento levando em considerações a probabilidade do sucesso processual caso não houvesse o erro ou omissão por culpa do profissional. 7 REFERÊNCIAS FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. NETTO, Felipe Peixoto Braga. Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil. 4ª ed. Salvador: JusPodivm, 2017. GAGLIANO, Pablo Stolze. FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil, volume 3: Responsabilidade Civil. 15ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017. GOLÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 4: responsabilidade civil. 12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017. TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil, volume único. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense. São Paulo: Método, 2019.
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