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CENTRO UNIVERSITÁRIO ANTÔNIO EUFRÁSIO DE TOLEDO DE PRESIDENTE PRUDENTE CURSO DE DIREITO PENSÃO ALIMENTÍCIA E SEUS EFEITOS LEGAIS COM A POSSIBILIDADE DE ALIMENTOS AVOENGOS Ana Laura de Moraes Vilela Presidente Prudente/SP 2023 CENTRO UNIVERSITÁRIO ANTÔNIO EUFRÁSIO DE TOLEDO DE PRESIDENTE PRUDENTE CURSO DE DIREITO PENSÃO ALIMENTÍCIA E SEUS EFEITOS LEGAIS COM A POSSIBILIDADE DE ALIMENTOS AVOENGOS Ana Laura de Moraes Vilela Monografia apresentada como requisito parcial de conclusão do curso e obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob a orientação da Professora Gisele Caversan Beltrami Marcato. Presidente Prudente/SP 2023 10 PENSÃO ALIMENTÍCIA E SEUS EFEITOS LEGAIS COM A POSSIBILIDADE DE ALIMENTOS AVOENGOS Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito. ________________________________ Gisele Caversan Beltrami Marcato ________________________________ Carla Destro ________________________________ Matheus Henrique de Almeida Ribeiro Presidente Prudente, ____________. 11 DEDICATÓRIA E/OU EPÍGRAFE Dedico este trabalho primeiramente a Deus, por ser essencial em minha vida e por não ter me deixado desistir até mesmo quando achei que não era capaz de continuar. Por conseguinte, dedico também a minha família que é meu porto seguro e o maior bem que tenho, pois sempre confiaram no meu desempenho e na minha capacidade. Ao fim, e não menos importante, venho a dedicar a presente monografia ao meu Pai, que hoje não se encontra mais presente no mundo real, mas viverá eternamente em mim. 12 AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a Deus, o maior orientador da minha vida, pois sempre me manteve de pé, me ajudando a vencer todas as batalhas que surgiram no decorrer deste processo. Agradeço a minha avó Terezinha, a qual nunca mediu esforços para que eu pudesse chegar onde estou. Desde o começo do meu curso até hoje, sempre me motivou, sempre me fez acreditar que eu era capaz, permanecendo em todas as circunstancias ao meu lado. Devo a ela todas as minhas vitórias e conquistas adquiridas em minha vida. Agradeço a minha mãe Claudia por todo esforço investido em mim e em minha educação, bem como todo o apoio, carinho, confiança e amor que sempre teve por mim, sempre mostrando para todos o orgulho que sente por me ter como filha. Agradeço ao meu irmão Leonardo por ser meu espelho, inspiração, porto seguro e o maior orgulho da minha vida. Sempre me inspirei no meu irmão, pela sua dedicação em tudo que faz e pela força de vontade que tem de vencer. Obrigada por sempre ter me motivado e permanecido ao meu lado quando mais precisei. Agradeço ao meu tio Roberto Cezar por ter me dado força para iniciar o meu tão sonhado curso de direito. Agradeço ao meu namorado Marco e sua família que sempre se fizeram presentes em minha vida me acompanhando nesta linda trajetória que venho traçando a cada dia, torcendo muito pelo meu sucesso. Agradeço também a minha amiga Isabele que foi um presente que este curso me deu, sem a amizade dela, seu apoio e sua ajuda seria muito difícil concluir este ciclo. Quero agradecer também a minha orientadora e professora Gisele, por toda orientação dada e por ter confiado em mim e no meu projeto desde o início, bem como a instituição Toledo Prudente e todo seu corpo docente responsáveis pelos conhecimentos que adquiri ao longo destes anos. 13 Agradeço aos examinadores da minha banca que se fizeram presente neste momento especial e a todas as outras pessoas que não foram mencionadas aqui, mas que fizeram parte da minha trajetória. Por fim, agradeço a mim mesma pela perseverança e força de vontade que tive durante esses quatros anos, superando todos os obstáculos que me ocorreram. Lutei, superei e venci. Agora estou pronta para viver o futuro que Deus reservou para mim. 14 RESUMO A presente monografia tem por objetivo analisar a origem e evolução histórica no tocante aos alimentos, evidenciando pontos fundamentais sobre a obrigação de alimentar a vista do entendimento de alguns operadores do Direito. Para tanto, serão estudados os aspectos constitucionais do Direito de Família, esclarecendo sua evolução. Do mesmo modo, será observado a responsabilidade alimentar perante os genitores e os progenitores, evidenciando a possibilidade da prisão civil dos mesmos. Posto isto, o método utilizado no desenvolvimento da presente pesquisa, foi o dedutivo, partindo da análise geral da origem e da evolução dos alimentos, constatando quais os pontos fundamentais sobre a obrigação alimentar e as medidas coercitivas aplicadas aos responsáveis da obrigação em caso de descumprimento. Palavras-chave: Alimentos. Dignidade Humana. Alimentos Avoengos. Obrigação de alimentar. Prisão Civil. 15 ABSTRACT The present monograph aims to analyze the origin and historical evolution of alimony, highlighting fundamental points about the obligation to feed in view of the understanding of some legal practitioners. To this end, the constitutional aspects of Family Law will be studied, clarifying its evolution. In the same way, the maintenance liability towards the parents will be observed, highlighting the possibility of their civil imprisonment. That said, the method used in the development of this research was deductive, starting from the general analysis of the origin and evolution of food, verifying the fundamental points about the maintenance obligation and the coercive measures applied to those responsible for the obligation in case of non-compliance. Keywords: Food. Human Dignity. Foods Avoengos. Obligation to feed. Civil Imprisonment. 16 SÚMARIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 17 2 ANÁLISE HISTÓRICA DOS ALIMENTOS ............................................................. 21 2.1 Evolução Histórica dos Alimentos ....................................................................... 21 2.2 Origem e Evolução da Família ............................................................................ 24 2.3 Natureza Jurídica ................................................................................................ 26 3 CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS ALIMENTOS ................................................. 28 3.1 Direito Personalíssimo......................................................................................... 28 3.2 Irrenunciabilidade ................................................................................................ 28 3.3 Inalienabilidade ................................................................................................... 29 4 FINALIDADE DOS ALIMENTOS ............................................................................ 32 5 PRESSUPOSTOS PARA O DEFERIMENTO ........................................................ 34 6 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ......................................................................... 36 6.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ........................................................ 36 6.2 Princípio da Solidariedade Familiar ..................................................................... 37 6.3 Princípio do Melhor Interesse da Criança............................................................ 38 6.4 Princípioda Reciprocidade .................................................................................. 40 7 DOS ALIMENTOS .................................................................................................. 43 7.1 Pressupostos da Obrigação Alimentar ................................................................ 43 7.2 Sujeitos do Dever de Alimentar ........................................................................... 46 7.3 Obrigação de Alimentar e Dever de Prestar Alimentos ....................................... 47 7.4 Extinção da Obrigação Alimentar ........................................................................ 47 8. ALIMENTOS AVOENGOS .................................................................................... 51 8.1 Caráter Subsidiário e Complementar dos Avós ................................................... 53 8.2 Inadimplemento da Responsabilidade Alimentar dos Avós ................................. 54 8.3 Prisão Civil do Devedor de Alimentos ................................................................. 56 8. 4 (In) Viabilidade da Prisão Civil dos Avós ............................................................ 58 9. EXECUÇÃO DOS ALIMENTOS ............................................................................ 64 9.1 A Execução de Alimentos Sob a Luz da Lei 13.105/2015 ................................... 64 9.2 Outras Medidas Coercitivas ................................................................................ 66 9.3 O Direito de Visitas e os Alimentos ..................................................................... 69 10 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 75 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 79 17 1 INTRODUÇÃO A presente monografia buscou abordar questões de grande importância social, analisando a complexidade histórica no decorrer dos anos para se obter a pensão alimentícia, bem como evidenciou os pressupostos para o deferimento e a transferência de responsabilidade da obrigação aos avós. Os alimentos são espécies advindos do direito de família, encontrando seu principal fundamento na Constituição Federal, prevalecendo o princípio da Dignidade da Pessoa Humana. O tema aqui presente, busca debater as questões sociais e jurídicas sobre os alimentos, por ser um assunto de extrema relevância em nosso ordenamento jurídico, uma vez que se encontra presente os direitos de subsistência dos filhos e os deveres dos pais de garantir esta subsistência aos filhos. Posto isto, existe uma valoração a ser realizada em ordem hierárquica sobre os bens tutelados pelo nosso ordenamento jurídico, uma vez que, a vida e a dignidade da pessoa humana se sobressai sobre os demais bens tutelados, tendo em vista que são bens maiores e merecem proteção. Inexistindo ambos, os demais não fariam sentido. O tema desenvolvido é pertinente ao direito fundamental a vida, pois o direito aos alimentos assegura o direito supracitado promovendo sua dignidade. A princípio evidenciou-se que a pensão alimentícia é o meio mais adequado para se buscar os recursos necessários para a manutenção da vida e a subsistência do necessitando, que por si só não consegue promover tais necessidades. Diante disto, no decorrer do tempo houve inúmeras tentativas em conceituar família, fato este que foi se modificando com o tempo e prevalecendo a ideia de que família deve ser vista como um grupo social que possuem laços afetivos, promovendo a dignidade humana, de modo que cada pessoa possa ter a felicidade da maneira que lhe for melhor, possuindo respaldo com nosso ordenamento jurídico, reconhecendo a família contemporânea. Em continuidade, demonstrou-se a natureza jurídica de alimentar, visto que ela está umbilicalmente ligada a origem de obrigação, a qual esta decorre do poder familiar ou de um vínculo de parentesco, visando a solidariedade familiar, para tal entendimento existe três correntes dissertantes sobre o assunto. 18 Desse modo, demonstrou-se as características gerais dos alimentos, entendendo-se que os alimentos são configurados como direito personalíssimo, irrenunciáveis e inalienáveis, características fundamentais para o estudo dos alimentos. No que diz respeito a finalidade que os alimentos possuem trata-se de uma finalidade especifica, podendo ser de caráter definitivos, provisórios, provisionais, transitórios e compensatórios, a depender do caso em concreto. Diante disto, a pesquisa demonstrou também, demonstra os pressupostos básicos para se obter a concessão dos alimentos devendo ser analisado incialmente três pressupostos, sendo eles o de necessidade, possibilidade e proporcionalidade, inexistindo um dos pressupostos cessa a obrigação, uma vez que a concessão do benefício não é gerar enriquecimento ao alimentado e sim dar a ele uma vida dignada, desde que não comprometa a manutenção da vida do alimentando. Além disso, uma retratação histórica enfatizou uma análise comparando o sistema atual, baseando-se no método dedutivo, a luz do entendimento doutrinário de Yuseff Said Cahali. Ademais, é de grande relevância foi a abordagem sobre os princípios constitucionais que regem a obrigação alimentar, pois resguardam direitos inalienáveis do alimentado. O princípio da dignidade da pessoa humana, trata-se do bem mais amplo dentro do nosso ordenamento jurídico, pois engloba todos os elementos sociais presentes em nossa sociedade. Os pais necessitam proporcionar vida digna aos seus filhos. No tocante ao princípio da solidariedade familiar, existe-se o núcleo familiar no tocante aos filhos, impetrando deveres a cada um dos indivíduos responsáveis, para que não haja violação aos direitos dos filhos. O princípio do melhor interesse da criança abarca a ideia na qual estamos diante de crianças que exercem direitos especiais tendo em vista a sua vulnerabilidade frente aos responsáveis, devendo sempre prevalecer o interesse da criança, para evitar que o bem estar dela seja lesado. No que se refere o princípio da reciprocidade, destacou-se que todos os responsáveis pelo necessitado, detêm a obrigação de ampará-lo, existindo a reciprocidade alimentar, na medida da sua obrigação. 19 Para que possamos compreender melhor o assunto abordado nesta pesquisa, foi necessário evidenciar quais são os pressupostos da obrigação alimentar, sendo eles: o caráter parental, a necessidade do alimentado, possibilidade de prestar alimentos, bem como a proporcionalidade da obrigação. Desse modo, o Código Civil em seu artigo 1.694 aponta quem são os sujeitos do dever de alimentar, retirando aquela ideia de que somente os genitores seriam responsáveis pela obrigação. Quando se tratamos de obrigação alimentar, devemos ressaltar que não se trata de uma obrigação perpetua, existindo um início e um fim, havendo o entendimento que o encerramento desta obrigação se dá com a o término da necessidade do alimentado, mas que tal obrigação deve permanecer o tempo necessário para que o necessitado se desenvolva. Sob o viés dos alimentos avoengos, esta é uma obrigação que necessita do preenchimento de requisitos necessários e específicos, pois a obrigação primordial advém dos genitores responsáveis, e quando os mesmo não puderem arcar com a obrigação, a mesma poderá ser transferida aos avós. Desse modo, os alimentos avoengos mencionados, possuem caráter subsidiário pois quando comprovada a insuficiência dos genitores em cumprir com a obrigação, seja por falta de recursos financeiros ou por morte transferirá para os avós, e ainda, caráter complementar, que quando o genitor responsável não conseguir arcar com a obrigação total, poderá chamar os avós para complementar o restante. Com a obrigação interposta para os avós,os mesmos poderão se tornar inadimplentes, e para tal acontecimento a legislação interpôs medidas executórias para os avós, afim de realizarem o cumprimento desta obrigação. O devedor de alimentos seja os genitores ou progenitores, em hipóteses especificas poderão ser submetidos a prisão civil por falta de pagamento da pensão alimentícia, pois envolve o direito de subsistência do alimentado, pois a falta dos alimentos poderá trazer prejuízos até mesmo irreparáveis ao necessitado, e como medida coercitiva, utiliza-se da prisão civil ao devedor de alimentos. A execução de alimentos é meio hábil para satisfazer a obrigação alimentar quando houver o inadimplemento da obrigação, buscando ser um mecanismo célere para obter o cumprimento da obrigação. Diante da execução, o magistrado pode se valer de medidas coercitivas atípicas, analisando sempre o caso 20 em concreto e buscando alternativas suficientes para que a quitação do débito alimentar seja efetivada. Por fim, a presente monografia através do método dedutivo contribuiu para um debate sobre a obrigação da pensão alimentícia em nosso ordenamento, bem como a transferência da sua responsabilidade, e as consequências pelo descumprimento desta obrigação, esclarecendo pontos importantes baseando-se em material doutrinário, jurisprudência e legislação específica. 21 2 ANÁLISE HISTÓRICA DOS ALIMENTOS Primeiramente abordaremos a análise histórica juntamente com a evolução legislativa dos alimentos, bem como a origem e a evolução da família, levando em consideração a sua natureza jurídica. 2.1 Evolução Histórica dos Alimentos O primeiro direito fundamental de toda pessoa se dá com seu nascimento, ou seja, a vida. Todos os seres humanos possuem o direito imprescindível a vida, devendo ser assegurado a sua dignidade. Nosso ordenamento brasileiro, traz consigo a proteção aos direitos fundamentais em ordem hierárquica, podendo ser analisado desde o princípio, que a vida e a dignidade da pessoa humana prevalece sobre os demais direitos, visto que são considerados o maior bem jurídico tutelado no ordenamento, de modo que, qual outros direitos se tornariam ineficazes. Partindo desta premissa, o instituto dos alimentos deriva do direito à vida, pois todo ser humano necessita de subsídios para sua sobrevivência, assegurando, assim o princípio da dignidade da pessoa humana. O direito obrigacional aos alimentos, perdura-se por séculos, tornando- se um conceito social importantíssimo e avançando ao longo do tempo. Alguns autores clássicos do direito, não traz esta obrigação como somente uma responsabilidade imposta, mas como um dever moral e social, conferindo uma vida digna aquele que necessita. Conforme o entendimento por Yuseff Said Cahali (2002,p.45-46): [...] os alimentos constituíam dever moral, sendo concedidos sem regra jurídica. Entre os romanos, os alimentos concedidos pelo marido a sua esposa diziam-se prestados a título de inferioridade, restrição de direitos e discriminação, em que então vivia a mulher a exemplo dos filhos e dos escravos, submetidas a autoridade do pater famílias que concentrava em suas mãos todos os direitos sem que qualquer obrigação se vinculasse aos seus dependentes, onde estes não poderiam exercitar contra o titular nenhuma pretensão de caráter patrimonial. 22 A Constituição Federal é quem deu origem aos alimentos, através do princípio da dignidade da pessoa humana, em seu artigo 1º, inciso III, atendendo as necessidades de uma pessoa que não possui condições plenas de manter sua subsistência. O entendimento sobre alimentos, é amplo, uma vez que a obrigação imposta deriva de tudo aquilo que a criança necessita para seu bem-estar, desde a sua concepção, retirando a ideia de que alimentos seria somente no âmbito de alimentação propriamente dita. Nas falácias de Cristiano Chaves Farias e Rosenvald: [...] é possível entender-se por alimentos o conjunto de meios materiais necessários para a existência das pessoas, sob o ponto de vista físico, psíquico e intelectual. Nessa linha de reflexão, em concepção jurídica alimentos podem ser conceituados como tudo o que se afigurar necessário para a manutenção de uma pessoa humana, compreendidos os mais diferentes valores necessários para uma vida digna. (FARIS e ROSENVALD, 2016, p.702) Ainda, diz a respeito sobre o tema o civilista Orlando Gomes: Alimentos são prestações para satisfação das necessidades vitais de quem não pode provê-las por si. A expressão designa medidas diversas. Ora significa o que é estritamente necessário à vida de uma pessoa, compreendendo, tão somente, a alimentação, a cura, o vestuário e a habitação, ora abrange outras necessidades, compreendidas as intelectuais e morais, variando conforme a posição social da pessoa necessitada. (GOMES, 1999, p.427) Aperfeiçoando a ideia supracitada, pode-se abranger alimentos como: alimentação, transporte, saúde, moradia, educação, dentre todas as necessidades básicas que garantem a vida digna do necessitado. Partimos do pressuposto em que o Código Civil, evidencia um capitulo especifico para se referir aos alimentos (Capítulo VI, Subtítulo III, artigos 1.694 á 1.710). Contudo, não traz consigo uma definição exata da palavra alimento, sendo possível encontrar tal entendimento no artigo 1.920 do Código Civil, podendo ser interpretado de forma ampliativa, pois o mesmo evidencia o sustento a cura, o vestuário e a residência, enquanto o legatário viver, além da educação se o mesmo for menor de idade. 23 Não se sabe ao certo o momento preciso do reconhecimento da obrigação alimentar no Direito Romano pela solidariedade familiar, segundo Cahali (2006, p. 39). Posto isto, o Direito Romano não tratava sobre o direito de alimentos entre familiares, uma vez que na época a família era assegurada por um chefe familiar, sendo o pai, possuindo ele todos os direitos sobre a família, enquanto os demais dependentes não possuíam acesso ao patrimônio do pai (chefe), não restando, portanto patrimônio algum e não sendo possível a obrigação alimentar recíproca entre familiares, dispõe Cahali (2006, p. 38-39): [...] tendo em vista que o único vínculo existente entre os integrantes do grupo familiar seria o vínculo do pátrio poder; a teor daquela estrutura, o pater familias concentrava em suas mãos todos os direitos, sem que qualquer obrigação o vinculasse aos seus dependentes, sobre os quais, aliás tinha o ius vitae et necis; gravitando à sua volta, tais dependentes não poderiam exercitar contra o titular da pátria potestas nenhuma pretensão de caráter patrimonial, como a derivada dos alimentos, na medida em que todos eram privados de qualquer capacidade patrimonial; com a natural recíproca da inexigibilidade de alimentos pelo pater em relação aos membros da família sob seu poder, à evidência de não disporem esses de patrimônio próprio. Posto isto, é perfeitamente possível analisar que a obrigação alimentar não esteve presente nos primeiros momentos da legislação romana, mas este reconhecimento se fortaleceu quando o vinculo de sangue se estabeleceu entre os integrantes de uma família e passou a ser visto com maior ênfase (CAHALI, 2009, p.42). É clarividente, que no Direito Romano a ideia de direito alimentar, não era tão somente uma obrigação, mas sim uma causa de caridade para quem necessitava, estando presente um dos binômios, sendo ele a necessidade. Anos pós anos, adentrou a ideia de obrigatoriedade deste direito, através dos conceitos, das perspectivas sociais, alterando o entendimento que se tinha por alimentos. Analisando a parte histórica do Brasil, enfatiza-se as Ordenações Filipinas, que tratavam-se de decretos realizados pelos reis de Portugal, influenciado pelo Direito Romano, já com perspectiva obrigacional,destacando Yussef Cahali (2009, p.479). 24 Se alguns órfãos forem filhos de tais pessoas, que não devam ser dados por soldadas, o juiz lhes ordenará o que lhes for necessário para o seu mantimento, vestido e calçado, e tudo mais em cada ano. E mandará escrever no inventário, para se levar em conta a seu tutor ou curador. E mandará ensinar a ler e escrever aqueles, que forem para isso, até a idade de 12 anos. E daí em diante, lhes ordenará sua vida e ensino, segundo a qualidade de suas pessoas e fazenda. Analisando mais a frente, com o nascimento da Consolidação das Leis Civis, houve grande mudança nos dizeres obrigacionais. Posto isto, logo após, no ano de 1916 adentrou no ordenamento o Código Civil, possuindo vigência e assim, a Consolidação perdeu seus efeitos legais. Assim, o Código Civil mencionado anteriormente, juntamente com a Constituição de 1891, introduziu os deveres de ambos os cônjuges no tocante ao sustento, guarda e educação dos filhos em seu artigo 231. Ainda, em janeiro de 2002 surgiu o novo Código Civil, pela lei 10.406, mantendo as mesmas obrigações e deveres. Portanto, cabe destacar que o código de 2002, atualmente vigente, não trouxe consigo alterações inovadoras, garantindo tão somente o direito legal do alimentado, por seus responsáveis, tratando-se de obrigatoriedade real e efetiva. 2.2 Origem e Evolução da Família Há aproximadamente 4.600 anos atrás, surgiu o entendimento de família como a primeira célula de organização social ligada por laços afetivos ou indivíduos com ancestrais em comum. Fazendo uma breve retomada ao Direito Romano, a organização da família era subordinada aos poderes limitadores que o chefe, sendo ele o pai, detinha sobre todos os integrantes da família, assumindo ele o controle da entidade e dos bens que possuíam. Segundo o autor Friedrick Engels (9º edição, p. 30-31), apenas o homem tinha o condão de desfazer o matrimônio ou repudiar sua esposa, não possuindo ela autonomia alguma. 25 No tocante aos filhos, os mesmos não podiam usufruir de sua infância, uma vez que, logo já iriam adquirir capacidade física para trabalhar, não possuindo mais essa distinção entre adultos e criança, pois deveriam eles partilhar os afazeres domésticos. Com o passar do tempo, essa concepção foi se moldando, existindo uma grande influência do Direito Canônico na base familiar, que a partir dele, a família seria construída através das cerimonias religiosas (BEVILAQUA, 1976, p. 34). Posto isto, o cristianismo convalidou a ideia do casamento e sacramento, tornado o homem e a mulher em um único ser físico, e espiritualmente, indissociável, pois o casamento só seria desfeito com a morte de um deles. Portanto, insta salientar, que após este período veio se aperfeiçoando com o passar do tempo, um novo conceito sobre família, não se baseando somente no sacramento imposto pela religião, mas também pelos laços do afeto da união, dando início a família contemporânea. O entendimento sobre família moderna, teve início a partir do século XIX e foi preexistido pela Revolução Francesa e Industrial, uma vez que o mundo vivia em um processo constante de crise e renovações (COULANGES, 1998, p. 47). Após isso, começou-se valorizar mais a convivência entre seus integrantes e idealizar possíveis sentimentos, esperanças e valores, permitindo a cada pessoa seguir seu caminho sobre a realização de sua felicidade familiar. O Direito de Família é o ramo que mais avançou no tocante as relações interpessoais, acompanhando todo a evolução social que vivenciamos, zelando pela diversidade, afeto e felicidade. Assim, a filiação não fica somente na esfera dos laços sanguíneos, sendo possível aquela derivada dos laços consanguíneos e ainda, aquela baseada na convivência e no amor, como no caso da filiação socioafetiva. Contudo, o grande marco no Direito de Família e filiação foi a promulgação da Constituição de 1988, pois a partir dela foi reconhecida a união estável e vedada qualquer forma de discriminação em virtude da origem da filiação. É imprescindível o entendimento de quem hoje se reconhece a validade da norma observado a sua conformidade com a evolução social e os preceitos constitucionais, pois família incorporou a analise contemporânea, igualdade e afeto, baseando-se também nos princípios evidenciados pela Carta Magna, devendo ser interpretada pelo jurista. 26 Portanto, é imperioso as novas concepções acerca do tema família, uma vez que se conceitua a luz da personalidade humana, se moldando com a evolução social, devendo a entidade familiar ser entendida como um grupo social decorrente de laços afetivos, promovendo a dignidade humana no tocante aos seus sentimentos, de modo que cada indivíduo possa alcançar a felicidade plena da maneira que lhe convém, possuindo total respaldo e segurança com o ordenamento jurídico. 2.3 Natureza Jurídica Podemos evidenciar que a natureza jurídica dos alimentos advém do pressuposto obrigação. Segundo Maria Berenice Dias, os alimentos decorrem sempre de um vínculo jurídico existente, pois no direito de família os alimentos ressoam do poder familiar, de níveis de parentesco, com o fim do matrimonio ou até mesmo da união estável (DIAS, 2013, p. 532). Posto isto, a obrigação de alimentar deriva-se do poder familiar, baseando-se na solidariedade entre os membros da família, obrigação esta que decorre do casamento ou até mesmo união estável, devendo ser mútua a assistência, conforme menciona Maria Berenice Dias (2013, p. 533): A natureza jurídica dos alimentos está ligada à origem da obrigação. O dever dos pais de sustentar os filhos deriva do poder familiar. A Constituição Federal reconhece a obrigação dos pais de ajudar, criar e educar os filhos menores (CF 229). A Constituição também afirma que os maiores devem auxiliar a amparar os pais na velhice, carência e enfermidade. É obrigação alimentar que repousa na solidariedade familiar entre os parentes em linha reta, e que se estende infinitamente(...)O encargo alimentar decorrente do casamento e da união estável tem origem no dever de mútua assistência, que existe durante a convivência e persiste mesmo depois de rompida a união. O respectivo tema é bem divergente até os dias de hoje, existindo da doutrina três correntes que fundamentam o entendimento. A primeira corrente sustenta a tese de que a natureza jurídica de prestar alimentos é como um direito pessoal extrapatrimonial, uma vez que zela pela manutenção digna da pessoa humana. Neste viés, o interessado não possui qualquer interesse econômico na prestação de alimentos, pois esta prestação não 27 visa aumentar seu capital ou seu patrimônio, o interesse do alimentado é somente ter condições de vida digna, suprindo seu direito á vida, que é personalíssimo. Em sentido contrário, aponta a segunda corrente que o direito aos alimentos deriva de um direito patrimonial, pois o alimentado mensalmente recebe uma vantagem econômica, aumentando desse modo seu patrimônio. Ao final, a terceira corrente abrange o entendimento das outras duas correntes mencionadas anteriormente, entendendo desse modo que a natureza jurídica da obrigação alimentar nada mais é que um direito com finalidade pessoal e conteúdo patrimonial. Esta terceira corrente é a posição majoritária e também adotada por Orlando Gomes (1999, p. 429), que defende a ideia: Não se pode negar a qualidade econômica da prestação própria da obrigação alimentar, pois consiste no pagamento periódico, de soma de dinheiro ou no fornecimento de víveres, cura e roupas. Apresenta-se, consequentemente, como uma relação patrimonial de crédito-débito; há um credor que pode exigir de determinado devedor uma prestação econômica. Portanto, entende-se que o interessado não visa o crescimento de seu patrimônio, porém, utiliza-se dessa prestação para viver dignamentee para a manutenção do mesmo, evitando que seja corroído ou venha a desaparecer, não se podendo negar o caráter ético-social, baseando-se no princípio da solidariedade entre os indivíduos de uma família. Baseando-se na vida digna do alimentado, podemos analisar que a primeira corrente é muito eficaz na perspectiva do direito do mesmo, visto que, de fato, o intuito de quem irá receber a pensão alimentícia não é aumentar seu patrimônio e sim receber o que é seu por direito, visando ter condições básicas para seu sustento, uma vez que, a fixação do montante se baseia na vida em que o alimentante possui, sem prejudicar seu sustento e de sua família, podendo proporcionar ao alimentado vida digna, não sendo coerente afirmar que o recebimento da pensão visa aumentar seu patrimônio pessoal. 28 3 CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS ALIMENTOS No tocante as características gerais dos alimentos, iremos abordar os pontos mais relevantes sobre o tema, tratando-se do direito personalíssimo, irrenunciabilidade, inalienabilidade e a irrepetibilidade. 3.1 Direito Personalíssimo Os alimentos são enquadrados como um direito que o alimentado possuí em caráter personalíssimo, ou seja, é único e exclusivo seu, não podendo ser transferido para outrem. Assim, o direito aos alimentos não podem ser objetos de cessão, conforme evidencia o artigo 1.707 do Código Civil de 2002 diz que: Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora. Contudo, o direito aos alimentos são considerados impenhoráveis e irrenunciáveis, uma vez que são destinados a subsistência do alimentado tendo caráter pessoal e não podendo ser transferido nem mesmo por negócio jurídico. 3.2 Irrenunciabilidade Conforme mencionado anteriormente, o artigo 1.707 do Código Civil prevê expressamente a irrenunciabilidade aos alimentos, uma vez que é inadmissível a renúncia a sua própria subsistência. O dispositivo é bem claro no tocante a irrenunciabilidade, mas a tendência da doutrina majoritária é limitar a proibição legal aos alimentos tendo em vista a solidariedade familiar. 29 Desse modo, os alimentos em virtude do casamento e da união estável poderiam ser renunciados. E, havendo renúncia não poderiam mais ser rediscutidos futuramente, ainda que não tenha havido partilha de bens. DIAS (2013, p. 545) entende que reaver alimentos depois de ter renunciados, confronta o princípio da boa-fé objetiva, vindo contra seus próprios atos, pois houve uma iniciativa que criou expectativas e logo depois age de maneira diversa, configurando um certo abuso de direito devendo ser repelido. O Supremo Tribunal Federal já possui entendimento firmados, como o julgamento de relatoria da Ministra Nancy Andrighi: Recurso especial. Separação judicial. Acordo homologado. Cláusula de renúncia a alimentos. Posterior ajuizamento de ação de alimento por ex- cônjuge. Carência de ação. Ilegitimidade ativa. A cláusula de renúncia a alimentos, constante em acordo de separação devidamente homologado, é válida e eficaz, não permitindo ao ex-cônjuge que renunciou a pretensão de ser pensionado ou voltar a pleitear o encargo. Deve ser reconhecida a carência da ação, por ilegitimidade ativa do ex-cônjuge para postular em juízo o que anteriormente renunciara expressamente. Recurso especial conhecido e provido (STJ, REsp 701.902 - SP (2004/0160908-9), Rel. Min. Nancy Andrighi, j.15/09/2005). (Sem grifo no original) Portanto, é visível o reconhecimento do STJ a renunciabilidade alimentos, advindos do casamento ou união estável. De outro modo, os alimentos que decorrem do poder familiar em favor dos descendentes, estes são irrenunciáveis. 3.3 Inalienabilidade Os direitos aos alimentos são elencados como intransacionável, pois é espécie do direito indisponível e personalíssimo. O direito aos alimentos embora indisponível, pode ser acordado entre as partes para a fixação de valores, para que os mesmos sejam prestados. Segundo Gonçalves (2014), ao adentrar nesta característica, aponta que a forma da impossibilidade de transação deve ser analisada sob a luz do direito de pedir alimentos. O autor evidencia esse entendimento ao apontar que já existe 30 jurisprudência considerando admissível a transação do valor das prestações, bem como as vincendas e as vencidas. 3.4 Irrepetibilidade Os alimentos em geral são caracterizados como irrepetíveis, conforme demonstra a autora Maria Berenice Dias (2013, p. 541): Talvez um dos mais salientes princípios que regem o tema dos alimentos seja o da irrepetibilidade. Como se trata de verba que serve para garantir a vida, destina-se à aquisição de bens de consumo para assegurar a sobrevivência. Assim, inimaginável pretender que sejam devolvidos. Esta verdade é tão evidente que até é difícil de sustentá-la. Não há como argumentar o óbvio. Provavelmente por esta lógica ser inquestionável é que o legislador não se preocupou sequer em inseri-la na lei. Daí que o princípio da irrepetibilidade é por todos aceitos mesmo não constando no ordenamento jurídico. Maria ainda aduz, que até nos casos de revisão da pensão alimentícia para menor e em casos de exoneração, não pode haver restituição, pois tal entendimento seria desestimulador para que o alimentante efetuasse o pagamento. Posto isto, em casos de exoneração ou revisão da pensão alimentícia, terá efeito ex- nunc, ou seja, relacionados as pensões futuras: A irrepetibilidade também se impõe para desestimular o inadimplemento. A exclusão dos alimentos ou a alteração para menor do valor da pensão não dispõe de efeito retroativo. O ingresso da demanda revisional intentada pelo alimentante não pode servir de incentivo a deixar de pagar os alimentos ou a proceder à redução do seu valor do modo que melhor lhe aprouver. Estabelecido novo valor, passa a vigorar tão somente com referência às parcelas vincendas. Ou seja, a redução ou a extinção do encargo alimentar dispões sempre de eficácia ex nunc. Alcança somente as parcelas futuras. Nos casos em que é evidente a má-fé do alimentante, é perfeitamente possível a repetibilidade dos alimentos, desde que fique comprovado a má-fé do mesmo. Adentrando ao artigo 884 do Código Civil, essa repetibilidade não daria ensejo ao enriquecimento ilícito. No tocante a irrepetibilidade dos alimentos, o autor Yussef Said Cahali, evidencia caso de repetição: 31 Não será, porém, de excluir-se eventual repetição de indébito se, com a cessação ope legis da obrigação alimentar, a divorciada oculta dolosamente seu novo casamento, beneficiando-se ilicitamente das pensões que continuaram sendo pagas: com o novo casamento, a divorciada perde, automaticamente, o direito à pensão que vinha recebendo do ex-marido, sem necessidade de ação exoneratória; as pensões acaso recebidas a partir do novo casamento deixam de ter caráter alimentar e, resultando de omissão dolosa, sujeitam-se à repetição. Portanto, é clarividente que a regra básica é a não restituição dos valores referente a alimentos. Contudo, existem as exceções como no caso de conduta realizada de má-fé por parte do credor. Existindo o enriquecimento ilícita e a conduta maliciosa do alimentando, poderá ocorrer a restituição dos alimentos devidos. 32 4 FINALIDADE DOS ALIMENTOS Os alimentos podem ser classificados em cinco modalidades, sendo eles: definitivos, provisórios, provisionais, transitórios e compensatórios. No tocante aos alimentos definitivos, estes possuem caráter permanente que decorrem da fixação do juiz em sentença, ou em acordo homologado pelas partes do processo, mas não é porque são definitivos que não podem ser revistos, conforme dispõe o artigo 1.699 do Código Civil: Art.1.699. Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo. Os alimentos provisórios são aqueles concedidos em despachos liminarmente na ação de alimentos pelo procedimento especial, regulamentado pela lei 5.478/1968 e necessitam de provas sobre o parentesco, casamento ou união estável. O fundamento legal, está previsto no artigo 4º da lei mencionada: Art. 4º As despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios a serem pagos pelo devedor, salvo se o credor expressamente declarar que deles não necessita. Parágrafo único. Se se tratar de alimentos provisórios pedidos pelo cônjuge, casado pelo regime da comunhão universal de bens, o juiz determinará igualmente que seja entregue ao credor, mensalmente, parte da renda líquida dos bens comuns, administrados pelo devedor. Pelo rito ordinário, não se admitia o arbitramento de alimentos provisórios em separação judicial, sendo incompatível com o rito especial da Lei 5.478/68, contudo, o artigo 273, §7º do Código de Processo Civil trouxe autorização dos alimentos provisórios, incidentalmente, na ação de separação judicial litigiosa. Atualmente o artigo que regula este entendimento é o artigo 305 parágrafo único, do Código de Processo Civil. O que se entende por alimentos provisionais, são aqueles requisitados mediante tutela provisória de urgência em ações que não são reguladas pela Lei de Alimentos, tendo previsão legal no artigo 1.706 do Código Civil o qual diz: “Os alimentos provisionais serão fixados pelo juiz, nos termos da lei processual”. 33 Por outro lado, os alimentos transitórios são aqueles requeridos pelo ex-companheiro o qual não possui condições financeiras, em receber pensão até que se estabilize ou ocorra sua inserção no mercado de trabalho, os transitórios podem ser reconhecidos como temporários. Anderson Schereiber (2020), aponta o caráter excepcional dos alimentos transitórios e sua peculiaridade, tendo em vista que possuem uma duração de validade, o que se diferencia da característica habitual dos alimentos, sendo ela a sua durabilidade. Por fim, a doutrina prevê os alimentos compensatórios, o autor Dias (2017) afirma que o termo mais correto seria verba ressarcitória, prestação compensatória ou alimentos indenizatórios, tendo em vista que o foco principal é corrigir um desequilíbrio financeiro e não garantir a subsistência, decorrendo do amparo de mutua assistência, que possui força normativa no artigo 1.566, inciso III, do Código Civil, consistindo na obrigação do companheiro ou cônjuge que possua mais condições, garantir a estabilidade do seu ex-consorte. 34 5 PRESSUPOSTOS PARA O DEFERIMENTO Ao analisarmos a redação do §1 artigo 1.694 do Código Civil, em que diz: “os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada”, bem como o artigo 1.695 do mesmo código “são devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento”, evidenciamos alguns fatores de extrema importância para a concessão e fixação dos alimentos, sendo eles: a) existência de um vínculo de parentesco; b) possibilidade do obrigado; c) necessidade do beneficiado; d) proporcionalidade da prestação. Interpretando a redação dos dispositivos 1.696 e 1.697 do Código Civil, demonstra que nem todos os parentes são de fato obrigados a prestarem alimentos, englobando tão somente os ascendentes, descendentes, irmãos germanos, chamados também de unilaterais ou bilaterais. No tocante a necessidade, Cahali dispõe (1997, p. 510): Para além da existência do vínculo de família, a exigibilidade da prestação alimentar pressupõe que o titular do direito não possa manter-se por si mesmo, ou com o seu próprio patrimônio; assim, só serão devidos alimentos quando aquele que os reclama não tem bens, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença (CC, art. 1.695). Para averiguar as necessidades do alimentando, não é necessário que o mesmo chegue em situação de miséria, a intenção deve se objetivar na manutenção do padrão de vida do qual o alimentando sempre usufruiu. A possibilidade do obrigado, deve-se analisar se o alimentante possui condições financeiras para fornecer os alimentos, caso não possua, o mesmo será desobrigado. Posto isto, o alimentante deverá fornecer os alimentos, se isso não prejudicar seu sustento, bem como de sua família. Sendo assim, se um parente não ter condições de prover os alimentos em sua integralidade, outro deve ser comunicado para complementar o valor restante da pensão alimentícia, em caráter subsidiário. 35 Sobre o viés da proporcionalidade da fixação dos alimentos, deve-se levar em consideração os dois pressupostos mencionados acima: necessidade do alimentado e possibilidade do alimentando, já que o entendimento sobre alimentos não é obter enriquecimento e sim dar ao alimentado manutenção de vida digna. Contudo, atualmente o critério da proporcionalidade deve ser levado em conta, visando o patamar de vida do alimentante, na grande maioria dos casos mais emblemáticos, podemos analisar que o critério da proporcionalidade se baseia no valor salarial do responsável ao pagamento, visando obter o proporcional ao sustento do alimentado. A mera ausência de um dos pressupostos mencionados, faz suspender para o alimentante sua obrigação de dar alimentos. Desse modo, existem situações em que sua obrigação não é suspensa e sim modificada, devendo a proporcionalidade ser mantida enquanto durar a prestação de alimentos. Contudo, em que pese haja a necessidade ou situação de fato superveniente a fixação da pensão alimentícia pode ser revista, por meio de uma revisional de alimentos, caso esse fato novo altere o pressuposto da necessidade, possibilidade ou proporcionalidade. 36 6 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS Os princípios constitucionais são de grande relevância no tocante a pensão alimentícia, pois visa resguardar todos os direitos inalienáveis do alimentado, afim de assegurar a dignidade da pessoa humana, o melhor interesse da criança, a solidariedade familiar, bem como evidenciar a reciprocidade entre os membros da família. 6.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana O artigo 1º parágrafo 3º da Constituição Federal de 1988 dispõe sobre o princípio da Dignidade da Pessoa Humana, princípio este, que trata de preservar e proteger a integridade física do ser humano, totalmente interligado com o direito à vida. No que tange o princípio da dignidade da pessoa humana, este é o nosso bem mais amplo dentro do ordenamento jurídico, uma vez que engloba praticamente todos os elementos sociais presentes em nossa sociedade. Desse modo, não poderia este princípio deixar de resguardar o direito de família, protegendo a dignidade humana de cada membro presente na família. Cabe ainda destacar, que a pensão alimentícia é atrelada ao princípio aqui mencionado, tendo em vista que é responsabilidade dos pais prever e assegurar a vida digna de seus filhos, garantindo a eles o estudo, moradia, educação, alimentos dentre outros preceitos básicos de vida humana. A Constituição é bem clara em seus artigos 227 e 229 sobre o dever dos pais quanto aos seus filhos, juntamente com o Estado afim garantir os direitos intrínsecos dos menores. Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, aolazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 37 exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. Posto isto, deve-se preservar e garantir no direito de família a dignidade do ser humano, protegendo todas as famílias e seus indivíduos, com intuito de proporcionar educação, moradia, alimentação, vestuário, dentre todos os outros itens básicos de uma vida digna. 6.2 Princípio da Solidariedade Familiar Baseando-se na perspectiva ética e moral, a solidariedade no mundo jurídico é vista como um sentimento racional e limitado, impondo aos indivíduos direitos e deveres como o amparo, cooperação, ajuda, bem como cuidado uma com as outras pessoas. Ao adentrarmos na perspectiva social, entendemos que a solidariedade nada mais é que um sentimento do ser humano, mas na figura jurídica da solidariedade o sentimento se torna em direitos e deveres nas relações individuais. Um exemplo afim de compreender melhor o entendimento acima, se baseia no Estatuto do Idoso o qual foi transformado o dever moral em um dever jurídico, podendo ser analisado que o âmbito social se deslocou para o direito, havendo a concretização do referido princípio da solidariedade. O Direito de Família juntamente com a Constituição Federal de 1988 são integrados por princípios fundamentais para sua estrutura, como sendo o princípio da dignidade da pessoa humana já abordado em tema anteriores e a solidariedade familiar. Pois, a dignidade da pessoa humana é um direito indissociável do indivíduo, baseando-se em seu núcleo essencial para uma vida digna, e por outro lado, temos a solidariedade familiar que se baseia na construção harmônica de um grupo familiar preservando o mínimo existencial. 38 Podemos destacar que na realidade a qual vivemos, as pessoas convivem em seus ambientes familiares, e não por uma imposição ou obrigação, mas sim porque os familiares compartilham de cooperação, zelo, afetos, cuidados e responsabilidades. No mundo jurídico, as obrigações e deveres decorrem de lei, mais especificamente junto ao Código Civil de 2002, possuindo entendimentos que há a necessidade de avanços legislativos, propondo como ideia central, afim de estabelecer um Estatuto de Família individual. A solidariedade do núcleo familiar no tocantes aos filhos requer que a pessoa seja amparada até atingir a vida adulta, garantindo a criança vida digna e instruída de educação para a sua formação social. O direito real preocupa-se em disponibilizar proteção para os indivíduos considerados vulneráveis no tocante ao direito de família ou conexos, como no caso das crianças e adolescentes, vítimas de violência doméstica, idosos, dentre outros. Positivado o direito, o mesmo tem o intuito de conferir-lhe proteção aos vulneráveis, estabelecendo direitos preferenciais. A solidariedade veio para compreender a família contemporânea, rompendo os poderes exacerbados, não caracterizando a quebra do vínculo familiar, mas sim estabelecendo uma nova ótica sobre a base familiar a luz do princípio da afetividade. O princípio destacado recai fortemente sobre a família, impetrando deveres a cada um dos indivíduos, estabelecendo ao legislador diretrizes para que não sejam violados tais deveres, e ao julgador, que o mesmo faça interpretação e realize a melhor solução jurídica quando envolver conflitos familiares observando as condições humanas e sentimentais que possa a vir se encerrar. 6.3 Princípio do Melhor Interesse da Criança O princípio aqui mencionado se deu com a origem americana conhecido como “parens patrie”, que objetivava a proteção de bens e de indivíduos incapazes. Em tal época, o Estado assumia o controle sobre essas pessoas vulneráveis e limitadas. 39 Ao passar do tempo, tal entendimento passou a ser reconhecido como princípio do “best interest of the child”, sendo recepcionado pela Convenção Internacional sobre os Direitos das Crianças. Desse modo, seguindo o conceito imposto pela convenção supracitada e adotada pela ONU, o seu artigo 1º entende o que é ser criança: Art. 1. Para efeito da presente Convenção, considera-se como criança todo ser humano com menos de 18 anos de idade, salvo quando, em conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada antes. Tal princípio no Brasil, não existia previsão expressa conceituando o entendimento na Constituição Federal de 1988 ou no Estatuto da Criança e do Adolescente. Contudo, com a vinda do decreto 99.710/90 o Brasil passou a aderir, pois ratificou a Convenção Internacional dos Direitos da Criança de 1989. Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010). Ainda, encontra-se previsão do presente princípio nos artigos 3º e 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente, oferecendo também a proteção integral juntamente com o princípio do melhor interesse da criança. A aplicação do princípio do melhor interesse da criança, passou a ser vigorado pela Constituição Federal em seu artigo 227, onde estabelece os deveres dos responsáveis, dos familiares, da sociedade e do estado. No tocante a este princípio devemos enfatizar que estamos diante de crianças que exercem direitos especiais tendo em vista sua vulnerabilidade, devendo evitar que o bem estar dos mesmos sejam lesados. Tendo em vista a grande importância acerca da proteção de crianças e adolescentes, tal objetivo beneficia o princípio aqui mencionado, para que não haja dúvidas no tocante aos direitos das crianças e adolescentes, garantindo a aplicação para todas as crianças. 40 O conceito em nosso ordenamento jurídico prevê a absoluta prioridade da criança, mesmo quando haja conflito de interesses entre os responsáveis, se valendo da eficácia da proteção e do melhor interesse da criança. Podemos destacar como exemplo a figura do genitor que oferece riscos ao menor, pois seu direito será também suprimido, prevalecendo o princípio do melhor interesse da criança, pois o simples fato de ser genitor ou responsável pela criança, não obriga a mesma conviver com indivíduos que possam colocar ou oferecer riscos a ela. Posto isto, tal entendimento se enquadro no conceito definido, uma vez que a criança não pode permanecer em locais de riscos, perigos ou danos, fato estes que jamais podem ser ignorados, tendo em vista que os menores são sujeitos de direitos, possuindo personalidade e por tal motivo, deve-se respeitar o que é objetivamente melhor para o menor. 6.4 Princípio da Reciprocidade Como todos os outros princípios, a reciprocidade está amplamente ligada ao princípio da dignidade da pessoa humana, objetivando que todos os indivíduos que integram o vínculo familiar detém a reciprocidade no tocante a prestação de alimentos. Posto isto, a base primordial para cumprir a função social de prestar alimentos, vigora acerca dos eventuais princípios: dignidade da pessoa humana, solidariedade e reciprocidade, sendo portanto, concluída a função social dos alimentos. Para que haja o arbitramento e a verificação ao direito de alimentar, necessita-se analisar os binômios já mencionados no item 7, sendoeles a necessidade, possibilidade, proporcionalidade e pôr fim a reciprocidade. A Constituição Federal em seu artigo 229, demonstra o dever dos país para com os filhos, e esses quando adultos cooperar e amparar os responsáveis na velhice ou em situações precárias, Carlos Roberto Gonçalvez (2020, p. 512) aponta neste sentido: 41 Entre pais e filhos menores, cônjuges e companheiros não existe propriamente obrigação alimentar, mas dever familiar, respectivamente de sustento e de mútua assistência (CC, arts. 1.566, III e IV, e 1.724). A obrigação alimentar também decorre da lei, mas é fundada no parentesco (art. 1.694), ficando circunscrita aos ascendentes, descendentes e colaterais até o segundo grau, com reciprocidade, tendo por fundamento o princípio da solidariedade familiar. Dessa forma, há de se extrair que a obrigação do direito de alimentar entre parentes é reciproca, uma vez que o parente o qual seja o alimentante, caso venha necessitar de tais alimentos, poderá assim reclamá-los. O princípio aqui presente, encontra-se fundamento não apenas na Constituição Federal, mas também em normas infraconstitucionais, como podemos retirar do artigo 1.696 do Código Civil: Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros. Podemos extrair do dispositivo mencionado acima que, a reciprocidade se estende a todos os ascendentes, possuindo prioridade no grau de parentesco, uma vez que um filho, cujo pai veio a óbito, poderá solicitar os alimentos de seus avós, sendo o inverso amplamente possível. Desse modo, o entendimento de Bezerra (2020, p. 19) é de que Na falta também dos avós, o foco recairá sobre os bisavós e, na falta de netos, sobre os bisnetos, sem nunca deixar contudo, de se analisar os pressupostos da necessidade de quem pede e da possibilidade econômica de quem é demandado. Conforme análise de entendimentos doutrinários majoritários, entende- se que em linha reta a obrigação não possui limites, respeitando a ordem do grau de parentesco. Caso tal busca se restar inepta, tal busca declinará sobre a linha colateral, conforme se entende do dispositivo 1.697 do Código Civil. Art. 1.697. Na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos descendentes, guardada a ordem de sucessão e, faltando estes, aos irmãos, assim germanos como unilaterais. 42 Seguindo esta linha de raciocínio, nos deparamos com o nascimento do caráter solidário bem como a obrigação reciproca dos direitos de alimentar. Bezerra (2020, p. 21) aduz que: Isso ocorre pois tais obrigações baseiam-se também, como dito alhures, no princípio da solidariedade entre os parentes, onde aquele que de qualquer forma contribuiu para o sustento de seu consanguíneo merece ser amparado por este caso necessite de alimentos futuramente. Acima dessa perspectiva, verificamos a problemática no sentido de que o genitor o qual não esteve presente na vida do filho, poderia solicitar alimentos do mesmo quando atingir a vida adulta? Neste caso, não seria plausível que a legislação ampare e imponha aos filhos que prestem alimentos para um genitor que nunca esteve presente em sua vida, levando-nos a entender que o princípio da reciprocidade deve ser analisado caso a caso pelo magistrado, com muita cautela, para que não afete a vida dos filhos, tendo em vista o sofrimento já enfrentado por estes pela ausência de seu pai. Portanto, para que ocorra a reciprocidade alimentar deve-se levar em conta todas condições presentes do caso em concreto, de modo que não se torne um instituto causador de insegurança jurídica por parte daquele que detém o direito de ser alimentado. 43 7 DOS ALIMENTOS Partindo desta premissa, abordaremos especificamente os alimentos, qual o seu objetivo, sua finalidade, seus pressupostos bem como as obrigações estipuladas para quem detém a responsabilidade de garantir a subsistência do menor, garantindo ao mesmo, as condições básicas para se viver dignamente. 7.1 Pressupostos da Obrigação Alimentar A obrigação de alimentar será evidenciada juntamente com a solidariedade familiar, sendo um princípio constitucional já abordado anteriormente. Em síntese, a solidariedade é vista como um valor ético e moral repleto de sentimentos de cooperação e ajuda, com uma semelhança em certos interesses objetivos, de modo a assegurar a diferença entre indivíduos na sociedade. Tal preceito de solidariedade, possuí um grande impacto em nossa sociedade, sendo abordado como um instituto jurídico também, ou seja, a solidariedade não parte somente de cada ser humano buscando ser pessoas dignas, mas também do poder público. Além disto, antes da entrada da nossa Constituição Federal a solidariedade como já mencionado anteriormente, era vista apenas como um sentimento e uma conduta ética e moral. Contudo, com a promulgação da carta, em seu artigo 3º, I, passou a integrar as relações familiares, sendo reconhecida desde então, como valores em direitos e deveres impostos nos núcleos familiares. Desse modo, a solidariedade passou a possuir força normativa, superando os entendimentos de que se tratava apenas de um sentimento de cooperação. Em virtude disto, o princípio da solidariedade ampara a obrigação alimentar, pois auxilia nos núcleos familiares exigindo assistência e cooperação. Posto isto, no tocante a categoria dos alimentos a relação familiar de genitores com seus filhos parte da premissa que a solidariedade será tanto de direito moral como material. Determina desse modo, que os filhos sejam amparados até a 44 vida adulta, uma vez que deverão assegurar aos menores a escolaridade, educação, mantimentos, vestuário, para assim, conseguirem formar sua vida digna. Partimos do primeiro pressuposto da obrigação alimentar, sendo o caráter parental, tendo em vista que é voltado aos direitos primordiais de seus pais garantirem o sustento de seus filhos, bem como os filhos amparar os pais na velhice a luz do princípio da solidariedade. É necessário notar que atualmente a obrigação de alimentar não decorre somente de genitores biológicos, integrando também, nesta responsabilidade os pais de filiação socioafetiva, devendo os mesmos prestar alimentos. Portanto, devemos ressaltar que a obrigação alimentar é daquele que realiza a obrigação parental. Diante disso, o menor afetivo possui direito de cobrar os alimentos de seus genitores afetivos, bem como de seus genitores biológicos, conforme dispõe o princípio da afetividade. O segundo ponto, trata-se da necessidade do alimentado, sendo esta absoluta, pois não há que se discutir que o menor possuí a necessidade de ser de ser ajudado enquanto se desenvolve, pois sua condição é presumida. Isto é tão claro que o artigo 4 da Lei 5.478/68 (Lei de Alimentos), determina que o juiz fixe desde logo os alimentos a serem pagos, mesmo que não requeridos em ação de alimentos, salvo se o filho declarar expressamente que deles não necessita. Em contraste, quando o filho se torna maior capaz, não necessariamente extinguiu a obrigação de alimentar, mas sua presunção passa a ser juris tantum enquanto o filho estiver estudando. Nasce aqui a análise da necessidade, conforme a súmula 258 do STJ “o cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda nos próprios autos”. Posto isto, juntamente com o artigo 1.695, 1 parte, do Código Civil, mesmo que o filho atinja a maioridade, caso o mesmo necessite receber ainda os alimentos por não ter condições de se manter, ainda será devido. Em destarte, tudo dependerá da análise do caso concreto, como por exemplo: um filho maior, que possuí uma doença grave que não possuí cura e impossibilitao mesmo de exercer atividades laborais, mesmo sendo maior, ele é incapaz, sendo comprovado o pressuposto da necessidade, obrigação esta, que pode durar pelo resto da vida. 45 O terceiro pressuposto aborda a possibilidade de prestar alimentos de quem está sendo reclamado, verificando a análise financeira do genitor reclamado, para aí sim, estipular o valor necessário. Com isso o juiz na ação interposta deve verificar a situação financeira do genitor, para fixar de forma correta, nos limites da necessidade e da proporcionalidade, de acordo com a realidade do devedor. Baseando-se na proporcionalidade, não seria justo o genitor devedor desprover de toda sua condição financeira para cumprir a obrigação alimentar imposta, pois acarretaria em prejuízos ao mesmo. Nesse sentido, afirma Carvalho (2009, p. 403): O ideal é o alimentante possuir condições de satisfazer as necessidades do alimentado. Não raras vezes, o pai percebe apenas o salário mínimo ou pouco mais e possui diversos filhos, exigindo sensibilidade do magistrado ao fixar os alimentos sem comprometer a própria sobrevivência do devedor e possibilitar o mínimo necessário para a subsistência do credor. Com isso, verifica-se que há um limite imposto, assegurando aos genitores que não seja estipulada uma obrigação maior que seus limites, pois prejudicaria sua própria mantença. O quarto e último pressuposto já destacado acima, é o da proporcionalidade, buscando equilíbrio nas relações alimentares, pois não pode o juiz fixar valores exorbitantes que prejudicariam o devedor, como também não pode fixar valores ínfimos, pois a pensão alimentícia garante os alimentos essenciais a sobrevivência do menor. Nesse sentido, podemos citar a título de exemplo o caso do jogador da seleção brasileira de futebol e do Real Madrid, Éder Militão, o qual teria proposto a quantia de R$ 6.060,00 (seis mil e sessenta reais) como forma de pensão alimentícia para sua filha. Analisando tal valor, este pode até ser suficiente para algumas famílias, ou até mesmo exacerbante, mas o que ocasionou toda a polemica foi o salário que o jogador recebe, sendo acerca de R$ 36.000.000,00 (trinta e seis milhões de reais). Diante disto, tal valor fixado a título de alimentos se mostra incompatível com o valor que o pai recebe como salário, uma vez que, tanto para famílias comuns e tanto para um milionário jogador de futebol, a pensão deve ser fixada com base no artigo 1.694 do Código Civil, visando sempre, a necessidade, possibilidade e proporcionalidade. 46 Portanto, é de competência do juiz distinguir e fixar os alimentos, respeitando sempre o princípio da proporcionalidade, se baseando na equidade, no bom senso e valores afins, para que não haja injustiça sobre qualquer das partes. 7.2 Sujeitos do Dever de Alimentar O artigo 1.694 do Código Civil aponta os sujeitos da obrigação alimentar, veja: Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. Conforme mencionado anteriormente, a obrigação de alimentar não decorre apenas do poder familiar, mas sim de uma relação parental, sujeitos ligados pelo núcleo familiar, conforme estabelece a ordem hierárquica da lei, seguindo entendimento de Gomes (2001, p. 436) essa ordem se classifica de tal maneira: Nosso ordenamento jurídico se preocupou em separar os sujeitos da obrigação alimentar por categorias. A primeira trata dos ascendentes em grau imediato, quais seja, os pais. Na falta destes, a obrigação se estende aos outros ascendentes, isto é, aos avós, paterno e materno, e assim sucessivamente. Eles pertencem à segunda categoria, os avós. Na falta de ascendentes, recai a obrigação aos descendentes, que compõem a terceira categoria, respeitando a ordem de sucessão. Dentro dessa categoria, os primeiros a serem acionados são os filhos; depois os netos, e assim sucessivamente. Na ausência de descendentes, incumbe aos irmãos, germanos ou unilaterais, que são a quarta categoria. Em vista, verifica-se que a obrigação decorre do grau de parentesco em ordem reciproca por ascendentes e descentes, de modo que a obrigação recairá ao mais próximo dentro desta ordem de parentesco. Cahali (2009, p. 466), dispõe da mesma linha de entendimento. “Os sujeitos da relação jurídico-alimentar, portanto, não se colocam apenas na condição de pai e filho; estabelece-se, do mesmo modo, uma obrigação por alimentos entre filhos, genitores, avós e ascendentes em grau ulterior”. Podemos verificar em grau mais próximo que os avós podem ser responsabilizados pela obrigação, de modo que tenha-se esgotado todas as 47 possibilidades de executar o genitor, e o mesmo evidenciar a impossibilidade em manter o filho, e caso os avós apontem a impossibilidade de manter o neto, passará a obrigação a outro do mesmo grau de parentesco e assim por diante. 7.3 Obrigação de Alimentar e Dever de Prestar Alimentos Podemos destacar que a obrigação alimentar e o dever de prestar alimentos são causas distintas, Maria Helena Diniz (2005, p. 536 e 537) evidencia: O dever de sustentar os filhos (CC, art. 1.566, IV) é diverso da prestação alimentícia entre parentes, já que (a) a obrigação alimentar pode durar a vida toda e até ser transmitida causa mortis (CC, art. 1.700) e o dever de sustento cessa, em regra, ipso iure, com a maioridade dos filhos (...); (b) a pensão alimentícia subordina-se à necessidade do alimentando e à capacidade econômica do alimentante, enquanto o dever de sustentar prescinde da necessidade do filho menor não emancipado, medindo-se na proporção dos haveres do pai e da mãe. Logo, essas duas obrigações não são idênticas na índole e na estrutura. Posto isto, o encargo dos genitores pelo tempo em que o filho permanecer sob o núcleo familiar sucede do dever de sustento, decorrendo de imposição constitucional expressamente no artigo 229, demonstrando que os pais devem assistir, criar e educar os filhos menores. O dever de sustento é determinado a ambos os genitores responsáveis pelo menor, constituindo uma obrigação de fazer e o menor ao atingir a maioridade, rompe-se o dever de sustento. Por outro lado, a obrigação de prestar alimentos pode durar por toda a vida, bem como ser transmitida a responsabilidade por causa mortis, pois a obrigação decorre do parentesco e não do poder familiar. 7.4 Extinção da Obrigação Alimentar Ao tratarmos de obrigação alimentar, devemos aduzir que tal obrigação não é perpetua e por isso, existem hipóteses que levam a ensejar a extinção da obrigação alimentar. 48 A luz do entendimento de CASSETTARI (2016, p. 688): “O termo final dos alimentos dá-se com o término da necessidade”. Preceitua-se que boa parte dos indivíduos em nossa sociedade, entendem que a obrigação de prestar alimentos cessa quando o alimentado completa a maioridade, fato este que se encontra equivocado conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça em sua súmula 358, a qual diz: “O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos”. (BRASIL,2008). Nesse sentido, aos filhos o prazo estipulado para o pagamento dos alimentos é até o momento no qual completam a maioridade, sendo aos 18 anos, ou até mesmo, aos 24 anos, caso estes estejam cursando ensino técnico ou superior e não tenham condições para bancar seu próprio estudo. Entende-se que os alimentos possuem prazo temporário e poderá permanecer no tempo necessário para que o alimentado se desenvolva profissionalmente e consiga se auto sustentar. Entende o tribunal supracitado que a maioridade civil do alimentado, não cessa a obrigação do alimentante de prestar alimentos que lhesão devidos, tem-se a necessidade de uma autorização judicial para alcançar essa extinção da obrigação. Dispõe, DIAS (2007, p. 582) sobre o referido entendimento: O adimplemento da capacidade civil, aos 18 anos ainda que enseje o fim do poder familiar, não leva à extinção automática do encargo alimentar. Após a maioridade é presumível a necessidade dos filhos de continuarem a perceber alimentos. No entanto, a presunção passa a ser juris tantum, enquanto os filhos estiverem estudando, pois compete aos pais o dever de assegurar-lhes educação. Como a obrigação deriva da relação paterno-filial, descabido estabelecer termo final aos alimentos. A fixação é ineficaz. O implemento da data fixada não autoriza a cessação do pagamento. O cancelamento depende de decisão judicial. A exoneração deve ser formulada em ação autônoma. De todo desaconselhável o deferimento da exoneração em sede liminar. Não há como surpreender o credor cuja necessidade pode persistir caso não disponha de outra fonte de subsistência. Descabido extinguir a obrigação decorrente do poder familiar e impor ao filho que intente nova demanda para buscar alimentos tendo por fundamento o vínculo ele parentesco. Nesse ínterim, não terá meios de prover à própria sobrevivência. Nesse sentido, entende-se que mesmo que seja autorizado a cessação da obrigação alimentar após o alimentado atingir a maioridade, o entendimento 49 jurisprudencial e doutrinário destacam que é imprescindível a manutenção da prestação de alimentos por quanto o filho estiver estudando, desse modo LISBOA (2012, p. 25) aduz: A maioridade civil do credor de alimentos não autoriza, por si só, a extinção da obrigação. Embora seja correta a afirmação de que se extinguiu o poder familiar sobre a pessoa que atinge os 18 anos de idade, caso o binômio necessidade e possibilidade se mantenha, a obrigação alimentar não deverá deixar de ser exigida. O STJ estabelece a presunção relativa de permanência da necessidade dos filhos receberem a pensão alimentícia mesmo após a maioridade, admitindo-se prova em sentido contrário (3ª Turma, REsp 1218510-SP, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 27.9.2011, DJ 3.10.2011). Seguindo referida linha de raciocínio, é comum a manutenção da obrigação alimentar enquanto o filho estiver frequentando curso de nível superior ou técnico, que representa o encerramento do ciclo deformação profissional. Por quanto, a primeira característica de extinção da obrigação alimentar se apresenta sendo a maioridade do alimentado, uma vez que seja requerido a extinção da obrigação por meios judiciais, bem como analisar se o alimentado continua estudando, de modo que caso ainda permaneça, o alimentante deverá permanecer com a obrigação. Partindo desta premissa, a segunda característica para cessar a obrigação, advém com o falecimento do alimentado, fato este que impede que seu direito seja transferido aos seus herdeiros, por se tratar de um direito único e exclusivo seu. Fato este que distingue a obrigação do alimentante, pois com o falecimento deste, a obrigação transfere aos herdeiros, de acordo com a legislação Civil em seu artigo 1.700: “Art. 1.700. A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694”. (BRASIL, 2002). A terceira característica, possui previsão expressa no artigo 1.708 do código supracitado: “Art. 1708. Com o casamento, a união estável ou o concubinato do credor, cessa o dever de prestar alimentos. Parágrafo único. Com relação ao credor, cessa, também, o direito a alimentos, se tiver procedimento indigno em relação ao devedor”. (BRASIL, 2002). Maria Helena Diniz (2012, p. 671) evidencia: [...] o devedor de alimentos [...] deixará de ter tal obrigação com relação ao credor se este [...] tiver procedimento indigno [...] em relação ao devedor, por ofendê-lo em sua integridade corporal ou mental, por expô-lo a 50 situações humilhantes ou vexatórias, por injuriá-lo, caluniá-lo ou difamá-lo, atingindo-o em sua honra e boa fama [...]. Portanto, a terceira hipótese mencionada acima é quando o alimentado demonstra condutas indigna contra o responsável pela obrigação. Vale ressaltar que o Código Civil não aborda quais são as condutas indignas de maneira especifica, posto isto, realiza-se por analogia a interpretação dos incisos I e II do artigo 1.814 do estatuto civil, conforme disciplina o Enunciado n.264 da III Jornada de Direito Civil: “Enunciado n. 264. Na interpretação do que seja procedimento indigno do credor, apto a fazer cessar o direito a alimentos, aplicam-se, por analogia, as hipóteses dos incisos I e II do art. 1.814 do CC”. Conclui-se que a obrigação pode ser extinta tendo em vista a mudança socioeconômica na vida do genitor responsável pela obrigação, bem como alteração na vida do filho, pois para se fixar a obrigação, deve-se analisar o binômio possibilidade e necessidade. Se a vida financeira do alimentante mudar-se, o mesmo pode solicitar a diminuição dos alimentos, e caso esta esteja critica poderá pleitear até mesmo a exoneração. 51 8 ALIMENTOS AVOENGOS No tocante a responsabilidade dos avós, vale destacar, que a mesma será imposta quando houver a devida comprovação de ausência ou impossibilidade dos pais arcarem com a obrigação alimentar, pois tal responsabilização dos avós, é possível a luz do entendimento do princípio da solidariedade familiar, que impõe um dever mutuo de auxilio familiar, podendo existir a obrigação alimentar ao inverso, tanto dos avós em relação aos netos, ou, dos netos em relação aos avós, conforme dispõe MADALENO, 2013, p. 887: Existe reciprocidade porque quem presta alimentos também tem direito a recebe-los se vier a deles necessitar, invertendo-se as posições dos sujeitos da relação jurídica alimentar. No mesmo contexto, LÔBO 2011, p 384, aponta que São devedores potenciais de alimentos, reciprocamente, os ascendentes, os descendentes e os irmãos. Esta é a ordem de classe de parentesco, que deve ser observada. Em cada classe, os parentes de grau mais próximos preferem aos de graus mais distante. Em virtude disto, a fixação da pensão alimentícia em face aos avós, deve respeitar a ordem hereditária entre todos os parentes, de modo que todos possam contribuir para a satisfação da obrigação, em casos de extrema necessidade. Diante disto, os avós estarão obrigados a prover os alimentos ao alimentado quando comprovada a ausência por falecimento ou outro motivo dos genitores, ou que os mesmos sejam impossibilitados financeiramente de contribuir sozinho com a obrigação. DIAS 2010, p. 471, dispõe que É certo que se o pai que deve alimentos em primeiro lugar não estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer aqueles de grau imediato (CC 1.698). Tais dispositivos deixam claro que a obrigação alimentar, primeiramente, é dos pais, e, na ausência destes, transmite-se aos seus ascendentes, isto é, aos avós, que são os parentes em grau imediato. 52 Neste mesmo entendimento, nossa Constituição Federal de 1988 a luz de seu artigo 229, afirma que Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. Contudo, quando sobrevier a falta dos genitores, tal obrigação recaí aos avós por serem parentes de grau imediato, ou ainda, a parentes de graus mais próximos, identificando desde então que, a obrigação será transmitida, quando os genitores não poderem ou não satisfizerem as obrigações e necessidades do necessitado. Conforme, já abordado em tópicos anteriores, tanto na obrigação de pai para filho, como na obrigação avoenga, deve-se respeitar os requisitos impostos da obrigação, não deixando de observar a necessidade, possibilidade e a proporcionalidade
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