Buscar

História da Formação

Prévia do material em texto

1 
 
 
2 
 
 
3 
 
Rafael Ricarte da Silva 
 
 
 
 
 
 
 
HISTÓRIA DA FORMAÇÃO 
SOCIAL, POLÍTICA E 
ECONÔMICA DO BRASIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1ª Edição 
Sobral/2017 
 
4 
 
 
5 
 
Sumário 
Palavra do professor autor 
Sobre o autor 
Ambientação à disciplina 
Trocando ideias com os autores 
Problematizando 
 
UNIDADE: I O Brasil Colonial: organização administrativa e estrutura 
econômica 
A Expansão Marítima e a conquista da América lusa 
A chegada dos portugueses ao Brasil e os Indígenas 
O processo de conquista 
A sociedade Colonial 
Atividades econômicas do Brasil Colonial 
 
UNIDADE: II O Brasil Monárquico e a construção do Estado brasileiro 
O processo de Independência do Brasil 
A Constituição Brasileira de 1824 
O Estado Monárquico e seus poderes 
A Confederação do Equador 
As crises econômicas e política do Primeiro Reinado 
 
UNIDADE: III Movimentos sociais, participação política e o Império 
O período das Regências 
As Revoltas no Período Regencial 
O Segundo Reinado e a consolidação do Estado 
A Revolta Praieira 
O Café e sua mão de obra 
A queda da Monarquia 
Explicando melhor com a pesquisa 
Leitura Obrigatória 
Pesquisando com a Internet 
 
6 
 
Saiba mais 
Vendo com os olhos de ver 
Revisando 
Autoavaliação 
Bibliografia 
Bibliografia Web 
Vídeos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
Palavra do professor autor 
 
Olá estudantes, 
 
 Sejam bem-vindos a disciplina de História da Formação Social, Política e 
Econômica do Brasil. Nesta disciplina estudaremos diferentes pontos de vista 
sobre a História do Brasil e aspectos factuais ligados aos períodos colonial e 
imperial. 
 Desta maneira, buscaremos esmiuçar as formas de administração, a 
economia e as formas de trabalho, o processo de conflito entre conquistadores 
e indígenas, o papel da Igreja na formação do Brasil, os contextos interno e 
externo no processo de independência do Brasil, os movimentos de 
contestação e a construção da nação, da identidade e da História nacional. 
 Desejo uma excelente leitura do material. Participe e interaja no 
Ambiente Virtual de Aprendizagem. 
 
 
O Autor! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
Sobre o autor 
 
Rafael Ricarte da silva, Doutor em História 
Social pela Universidade Federal do Ceará (2016), com 
Estágio de Doutorado Sanduiche no Instituto Universitário 
de Lisboa – ISCTE. Mestre em História Social (2010), e 
Licenciado em História pela UFC (2007). Especialista em 
Planejamento, Implementação e Gestão da EaD pela 
Universidade Federal Fluminense (2012). Participa do 
Grupo de Estudo e Pesquisa - História do Ceará Colonial: 
economia, memória e sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
Ambientação 
Caros Estudantes, 
 
 Esta disciplina se propõe a debater sobre a história da formação do 
Brasil, destacando, para tanto, os eixos econômico, social e político. Pensar a 
formação do Brasil é ter em mente a construção e afirmação do espaço 
territorial, administrativo e político da recém-nação, aliados ao forjamento de 
sua história e identidade. 
 Este livro está divido em três unidades temáticas. A primeira, destinada 
ao processo de conquista da América portuguesa entre os séculos XVI e XVIII, 
pensado a partir das dinâmicas ultramarinas e o contexto local. A segunda 
unidade busca debater as disputas no momento da independência do Brasil e a 
formação de seu aparato administrativo e constitucional. A terceira e última 
unidade, tem como foco os movimentos sociais ocorridos no período regencial, 
à consolidação imperial no Segundo Reinado, a economia cafeeira e o 
movimento republicano. 
 Por fim, sugerimos a leitura do livro de João Capistrano de Abreu, 
Capítulos de História Colonial, disponível no link abaixo, como forma de 
embasamento para as discussões acerca da formação social, política e 
econômica do Brasil que teremos ao longo deste módulo. 
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/1022/201089.pdf?sequenc
e=4 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
Trocando ideias com os autores 
 
Sugerimos a você caro estudante, que leia a obra: Raízes do Brasil. 
Este livro é um clássico acerca da formação social do 
Brasil. Publicada na década de 1930, buscou analisar a 
colonização portuguesa no Brasil e as dinâmicas 
estabelecidas na formação social, cultural, econômica e 
política do Brasil. Um dos conceitos apresentados na obra 
é a de “homem cordial”, construído a partir da herança 
lusitana. 
 
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26ª ed. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2011. 
 
 Propomos também a você a leitura do livro: A formação das almas. 
Nesta obra o autor esmiuçou o processo de construção 
de um imaginário republicano a partir da criação de mitos, 
heróis, símbolos e demais elementos constituidores da 
nacionalidade brasileira. Desta maneira, José Murilo de 
Carvalho buscou analisar de que forma a elite política do 
país construiu uma identidade/simbologia republicana 
para a população em geral. 
 
CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da 
República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. 
 
 
Guia de estudo: Após a leitura destas obras, produza uma resenha crítica 
acerca de um dos livros recomendados. Aproveite para compartilhar sua 
análise com seus colegas postando no ambiente virtual. 
 
 
11 
 
Problematizando 
 
 Caro Estudante, 
 Ao tratarmos da formação social, política e econômica do Brasil 
podemos questionar-nos que elementos, ao longo do tempo, foram sendo 
decisivos para a construção da nação e de seu povo. Assim, propomos a você 
que reflita acerca destes aspectos com os seguintes questionamentos: 
 
Guia de estudo: Que elementos podemos relacionar como formadores da 
sociedade brasileira? De que modo foi formada a elite política do país? Quais 
foram os elementos balizadores da economia brasileira ao longo do período 
colonial e imperial? Em seguida poste no ambiente virtual. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
13 
 
O Brasil Colonial: 
organização 
administrativa e 
estrutura econômica. 
1 
CONHECIMENTOS: 
Conhecer a conjuntura histórica que envolveu os primeiros séculos da 
conquista da América portuguesa. 
 
 
HABILIDADES: 
Identificar as múltiplas abordagens históricas sobre o período colonial. 
 
 
 
ATITUDES: 
Ser capaz de adotar na prática profissional um olhar crítico sobre os 
pressupostos da conquista da América pelos portugueses no sistema 
capitalista mundial. 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
15 
 
A Expansão Marítima e a Conquista da América Lusa 
 A expansão marítima e a conquista de novas terras efetivada pelos 
países europeus nas grandes navegações resultaram em variadas disputas 
ultramarinas e no encontro de culturas diversas. Neste processo expansionista, 
Portugal e Espanha avançaram sobre o território da América, conquistando o 
direito de explorar as novas terras. 
 A expansão portuguesa foi efetivada por etapas. A conquista de Ceuta, 
no norte da África em 1415 demarca uma das grandes conquistas do século 
XV para o reino português. Posteriormente, foram ocupadas as ilhas do 
Atlântico (1420) e elaborados planos para se chegar as Índias na segunda 
metade do século XV. 
 Mas quais os fatores que contribuíram para este pioneirismo português 
nas grandes navegações e descobrimentos? Podemos dizer que uma série de 
fatores permite explicar este processo histórico na época moderna. Dentre 
estes podemos destacar: 
Formação de um Estado monárquico centralizado sem grandes conflitos e em 
um curto tempo; 
 Posição geográfica de Portugal na costa do Atlântico; 
 Formação da Escola de Sagres para desenvolvimento de técnicas de 
Navegação, exemplo das caravelas e cartas de navegação; 
 Investimento da burguesia mercantil nas navegações; 
 Existência de bons portosna costa portuguesa. 
 
Os fatores acima destacados foram de ordem política, econômica e 
geográfica, permitindo compreendermos que o contexto português mostrava-se 
propício ao lançamento das grandes navegações, objetivando, acima de tudo, 
vantagens econômicas para o Estado português e seus financiadores. Estes 
últimos estavam interessados nos ganhos comerciais que as novas conquistas 
poderiam oferecer. 
 
16 
 
A chegada dos portugueses ao Brasil foi fruto de grandes debates sobre 
a intencionalidade de seu descobrimento. Teria Pedro Álvares Cabral se 
direcionado as Índias e acidentalmente descoberto o Brasil ou sua esquadra já 
havia saído com o destino para o Brasil? O mais plausível, a partir da análise 
das evidências, é que o destino final da frota fosse as Índias, mas devido 
correntes marítimas acabaram aportando no território que viriam ser chamado 
de Brasil. Entretanto, esta questão hoje pouco interessa aos pesquisadores 
que procuram investigar o processo de conquista do Brasil. 
 
A chegada dos portugueses ao Brasil e os Indígenas. 
 A chegada dos portugueses nas terras que viriam a constituir-se o Brasil 
trouxe enorme impacto sobre as populações ameríndias que viviam neste 
espaço. Esta chegada representou o encontro de duas culturas e perspectivas 
de vida e sociedade diversas. Nas palavras de Sérgio Buarque de Holanda, em 
Raízes do Brasil, o autor nos expõe o choque destes novos elementos e a 
constituição de nossa cultura: 
A tentativa de implantação da cultura europeia em extenso território, 
dotado de condições naturais, se não adversas, largamente 
estranhas à sua tradição milenar, é, nas origens da sociedade 
brasileira, o fato dominante e mais rico em consequências. Trazendo 
de países distantes nossas formas de convívio, nossas instituições, 
nossas ideias, e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas 
vezes desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns desterrados em 
nossa terra (HOLANDA, 2006, p. 31). 
 
Essa estranheza é reforçada quando percebemos quão díspares eram 
os interesses de portugueses e indígenas sobre as terras e seus recursos. A 
chegada dos lusos representou um desastre para a vida e a cultura dos povos 
ameríndios, dizimados por meio de genocídio e etnocídio. 
Os indígenas foram inseridos no processo de conquista e colonização 
da América pelos portugueses como fornecedores de mão de obra, 
informações sobre recursos e caminhos no desbravamento dos novos espaços 
e aliados no combate contra os gentios rebelados e estrangeiros invasores 
(holandeses e franceses). 
 
 
17 
 
Etnocídio: destruição da civilização ou cultura de uma etnia por outro grupo 
étnico. 
 
 Genericamente os indígenas foram divididos em dois grandes grupos: 
os tupis e os tapuias, considerados bárbaros e infiéis. Os grupos tupis 
habitavam áreas do litoral e possuíam uma língua geral que facilitava a 
comunicação. A base para tal diferenciação consistiu em três elementos: o 
primeiro consistiu na diferença linguística, os tupis com uma língua geral e os 
tapuias com uma língua considerada “travada” de difícil compreensão e 
heterogênea; o segundo elemento esteve ligado à conversão religiosa, sendo 
os tapuias considerados infiéis por não se converterem à fé cristã; e por fim, o 
terceiro elemento diferenciador foi à posição geográfica que os dois grupos 
ocupavam, tupis no litoral e tapuias nos sertões. 
 Nas capitanias do norte (Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte) o 
confronto entre indígenas e conquistadores foi travado entre o final do século 
XVII e o início do século XVIII. A guerra, muitas vezes, fora justificada pela 
resistência dos índios ao projeto colonial e ganhou ares de “guerra justa”. Estes 
episódios ficaram comumente registrados pela historiografia como a Guerra 
dos Bárbaros. 
 Uma das formas de tentar subjulgar os povos indígenas foi à 
implementação da catequese por meio dos religiosos que vieram para a 
América. A constituição de aldeamentos, local de agrupamento dos indígenas 
sob controle dos religiosos, foi efetivada a partir da segunda metade do século 
XVI. Esta prática resultou da resistência indígena ao projeto colonizador e sua 
conversão religiosa. Nos aldeamentos cabia aos missionários à administração 
da fé e do trabalho dos gentios convertidos à fé católica. 
 Os indígenas aldeados garantiam a possibilidade de ganhar “direito a 
terra, embora uma terra bem mais reduzida do que a sua original; tinham direito 
a não serem escravos” (ALMEIDA, 2010, p. 85-86) e obter outros benefícios ao 
se tornarem cristãos. Deve-se ressaltar que a constituição dos aldeamentos foi 
marcada por uma diversidade de interesses que estavam em jogo. Interesses 
 
18 
 
estes que eram de indígenas, religiosos, agentes da administração local, 
sesmeiros e demais conquistadores. 
 Os indígenas não devem ser vistos como sujeitos passivos de sua 
história. Estiveram presentes nos combates aos conquistadores, nas alianças 
estratégicas com os colonizadores, nos combates aos outros gentios, nas 
relações com os religiosos e nas diversas negociações com outros sujeitos 
históricos imersos neste processo. Exemplo da atuação dos indígenas foi a 
resignificação dada pelos mesmos a política sesmarial que lhes tomavam as 
terras, possibilitando estes as requererem e garantirem a sua posse. 
O processo de conquista. 
 O “descobrimento” do Brasil não proporcionou grande euforia em 
Portugal, engajada naquele momento com as possessões e recursos advindos 
do Oriente. As possibilidades advindas com o descobrimento do Brasil ainda 
eram desconhecidas, pois o processo de exploração não havia sido efetivado 
com maior amplitude. Para Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, 
o processo de colonização não foi realizado de forma “metódica e racional”, 
fazendo-se com certo “desleixo e abandono” (HOLANDA, 2006, p. 46). 
 A colonização da América pelos portugueses entre 1500 e 1530 
restringiu-se a feitorias. Este período é comumente designado pela 
historiografia tradicional para um período “pré-colonial”, devido os parcos 
interesses e investimentos na colonização das terras da América. Segundo 
Francisco Carlos Teixeira da Silva, esse pouco interesse estava relacionado 
aos ganhos portugueses: 
Portugal auferia enormes lucros decorrentes da carreira das Índias e 
da exploração do litoral africano, não se dispondo, assim, a transferir 
recursos, homens e navios para a ocupação da Nova Terra, cujo 
retorno imediato era dado apenas por madeira tintorial, papagaios e 
pimenta (SILVA, 1990, p. 54). 
 
 Neste período “pré-colonial” a principal atração para os conquistadores 
era a exploração do pau-brasil, importante devido sua madeira e o corante para 
tingir tecidos. Esta exploração inicialmente foi realizada pelos portugueses e 
Kelly Nascimento
Khjj
 
19 
 
posteriormente, ao encontrar a necessidade da extração mais ao interior, os 
indígenas passaram a fazê-la, recebendo outros objetos em troca. 
 A partir da década de (1530) a Coroa portuguesa resolveu efetivar e 
resguardar sua conquista na América. Para tanto, decidiu-se implantar na nova 
terra o sistema de capitanias hereditárias. Segundo Capistrano de Abreu (1988, 
p. 37), “o território entre o Maranhão e Santa Catarina foi dividido em 12 
capitanias hereditárias, desiguais em superfície, limitadas toda a Este pelo 
Atlântico, o Oeste pela linha fantástica de Tordesilhas”. As capitanias foram 
doadas para integrantes da pequena nobreza de Portugal e burocratas do 
reino. Dentre os donatários podemos citar: Martim Afonso, Duarte Coelho e 
Jorge Figueiredo Correia. 
 A doação significava que o donatário estava recebendo uma concessão 
real, ou seja, não era proprietário da terra. Desta maneira, estavam proibidos 
de venderem ou dividirem a possessão com outros sujeitos. Cabia aos mesmos 
a fiscalização, proteção e arrecadação de tributos da área concedida. 
 O sistema de capitanias hereditáriaspouco prosperou. Somente São 
Vicente (São Paulo) e Nova Lusitânia (Pernambuco) que conseguiram obter 
êxito no processo de geração de divisas e povoamento. Dentre os motivos para 
este fracasso esteve à falta de recursos dos donatários, a resistência indígena, 
a distância e a dificuldade de comunicação entre donatários e capitanias. 
 Em (1549) por decisão do rei, Dom João III, foi enviado para a América 
Tomé de Sousa para exercer o cargo de Governador-Geral. Dentre as 
preocupações do reino estiveram expressas recomendações para enfrentar a 
pirataria, especialmente, francesa, e os confrontos com indígenas. Ademais, 
advertia-se também quanto ao choque de interesses entre os colonizadores, 
que terminavam causando conflitos e prejuízos ao processo de conquista. Para 
Raymundo Faoro, em Os Donos do Poder, a instituição do Governo-Geral: 
 
 
 
 
20 
 
(...) não nasce da ruína da colônia, mas da esperança de seus lucros 
(...) O governador-geral cuidaria, sobretudo, da defesa contra o gentio 
e da defesa contra o estrangeiro, com o cuidado de vigiar o litoral (...) 
O novo sistema durou enquanto durou a colônia (FAORO, 2008, p. 
163,168-169). 
 
 A administração no Governo-Geral competia também a outras 
autoridades: o ouvidor, que cuidava da justiça; o provedor-mor, responsável 
pelo controle da arrecadação; e o capitão-mor, cuja obrigação era a proteção 
da costa. Ademais, os jesuítas também chegaram a América portuguesa 
juntamente com o Governador-Geral, Tomé de Sousa. Estes foram os 
responsáveis por implantar os colégios e promover a catequese dos gentios. 
 A instituição do Governo-Geral e de um aparato administrativo-
burocrático na América lusa demonstra a tentativa de centralização do poder 
nas mãos da Coroa portuguesa frente aos poderes instituídos nas capitanias. 
Entretanto, podemos dizer que esta centralização do poder ficou mais no plano 
do ideal que do real. 
 A estrutura administrativa a partir da implementação do Governo-Geral 
contava ainda com os capitães-governadores das capitanias, que 
hierarquicamente vinham abaixo do Governador-Geral. Na esfera 
administrativa ainda existiam as câmaras das vilas e cidades. 
 As câmaras tiveram fundamental importância nos campos políticos, 
econômicos e sociais no Brasil colonial. As câmaras transformaram-se em 
importantes espaços de poder político e social, ocupada, geralmente, por 
grandes proprietários de terras, comerciantes e nobres. Seus ocupantes eram 
comumente designados como “homens bons”. Segundo Francisco Carlos 
Teixeira da Silva (1990, p. 63), além de funcionar como espaço de julgamentos 
em primeira instância, as funções da câmara estavam circunscritas a/ao: 
 Administração municipal, regulamentação das feiras e dos 
mercados; 
 Administração dos bens do concelho e suas receitas; 
 Obras públicas: estradas, pontes e calçadas; 
 Conservação das ruas, limpeza da cidade, arborização; 
 
21 
 
 Construção de edifícios; 
 Regulamentação dos ofícios e do comércio; 
 Abastecimento de gêneros e cultura da terra. 
 
 O processo de conquista e colonização da América portuguesa, após o 
período inicial de dominação incipiente, sustentou-se a partir do tripé que unia 
a grande propriedade territorial, a monocultura voltada para exportação e o 
trabalho escravo (indígena e/ou africano). 
 A posse de grandes propriedades territoriais, os chamados latifúndios, 
marca a questão da terra na história do Brasil até os dias de hoje. No período 
colonial o domínio territorial dava-se por meio da concessão de sesmarias, 
regulamentada por meio das Ordenações Reais e da legislação complementar 
que foi sendo criada com o passar dos anos, especialmente no final do século 
XVII. As concessões de sesmarias geralmente eram frutos de solicitações de 
mercês pelos serviços prestados a Coroa portuguesa no processo de conquista 
frente aos inimigos (internos e externos) e/ou justificados a partir do aumento 
das rendas reais com o aproveitamento da terra requerida. 
 As sesmarias foram doações de terras feitas pela Coroa portuguesa (por 
meio de seus agentes da governança) para os sesmeiros e seus tamanhos 
variaram de acordo com o período e a localidade da solicitação feita pelo 
requerente. Segundo Ligia Maria Osório (2008), em Terras devolutas e 
latifúndio, a aplicação do instituto das sesmarias no Brasil Colonial acabou 
gerando um “sesmarialismo colonial” por meio das diversas complementações 
que a legislação buscou regular a partir da prática social. 
 Duas características das concessões de sesmarias marcaram o princípio 
das doações: a gratuidade, o sesmeiro não pagava pela terra doada; e a 
condicionalidade, o agraciado com a concessão deveria cumprir com a 
obrigação de aproveitar a terra. Caso não fossem respeitadas as 
determinações impostas ao sesmeiro, este poderia perder a posse. 
 
22 
 
 A economia colonial baseou-se na política de exploração monocultora, 
voltada para o comércio exterior. Durante o período colonial a Coroa 
portuguesa buscou explorar diversos produtos, exemplo do pau-brasil, cana de 
açúcar, tabaco, metais preciosos e as chamadas drogas do sertão. 
 Por fim, a sustentação do sistema colonial lusitano na América fez-se 
com a força de trabalho compulsória, indígena e africana. A escravidão de 
índios esteve presente com maior força nos dois primeiros séculos da 
colonização do Brasil, perdendo amplitude no século XVIII com a entrada, cada 
vez maior, de africanos nos principais portos (Recife, Salvador e Rio de 
Janeiro). Para Boris Fausto, a escravidão “foi uma instituição nacional. 
Penetrou toda a sociedade, condicionando seu modo de agir e de pensar” 
(2004, p. 69), que ecoa até os dias de hoje com a desigualdade e o preconceito 
racial. O trabalho escravo foi o motor braçal de quase todas as atividades 
econômicas desenvolvidas no Brasil colonial. 
A sociedade Colonial. 
 A sociedade colonial que se formou na América portuguesa teve como 
base a hierarquia social e a busca pela distinção. Diferenciar-se dos demais 
sujeitos por meio do recebimento de títulos e patentes foi a lógica da sociedade 
baseada nos valores e ideias vindas da metrópole. Para João Fragoso, Maria 
Fernanda Bicalho e Maria de Fátima Gouvêa, autores e organizadores da 
coletânea O Antigo Regime nos Trópicos, o perfil dos sujeitos vindos da 
Coroa para realizar o processo de conquista expõe que: 
 
Os indivíduos que foram para o ultramar levaram consigo uma cultura 
e uma experiência de vida baseada na percepção de que o mundo, a 
“ordem natural das coisas” era hierarquizada; de que as pessoas, por 
suas “qualidades” naturais e sociais, ocupavam posições distintas e 
desiguais na sociedade. Na América, assim como em outras partes 
do Império, esta visão seria reforçada pela ideia de conquista, pelas 
lutas contra o gentio e pela escravidão. Conquistas e lutas que, feitas 
em nome Del Rey, deveriam ser recompensadas com mercês – 
títulos, ofícios e terras (FRAGOSO; BICALHO & GOUVÊA, 2001, p. 
24). 
 
 
23 
 
 A conquista da terra e o trabalho escravo reforçavam a hierarquização 
da sociedade. A prestação de serviços a sua Majestade foi o motor das 
solicitações de títulos distintivos, patentes militares e cargos na governança, 
fazer guerra e aproveitar as terras aumentando as rendas reais da Coroa 
portuguesa. Nesta relação de troca, o rei era reconhecido como autoridade 
máxima e o vassalo almejava garantir a recompensa pelos serviços prestados 
e obter a elevação de seu status social. 
 A formação da sociedade colonial esteve assentada também na grande 
propriedade territorial e na exploração do trabalho escravo de indígenas e 
africanos. Segundo Gilberto Freyre, em Casa-Grande & Senzala, pode-se 
dizer que: 
Formou-se na América tropical uma sociedade agrária na estrutura, 
escravocrata na técnica de exploração econômica, híbrida de índio e 
mais tarde de negro na composição. Sociedade que se desenvolveriadefendida menos pela consciência de raça, quase nenhuma no 
português cosmopolita e plástico, do que pelo exclusivismo religioso 
desdobrado em sistema de profilaxia social e política (FREYRE, 
2009, p. 65). 
 
 Estes elementos formataram uma sociedade desigual, com princípio de 
pureza de sangue e de discriminação econômica e racial. Ser livre ou escravo 
nesta sociedade significava a condição de ser considerado como pessoa ou 
mercadoria. A cor, juntamente com a questão étnica, representava os dois 
elementos definidores daqueles expostos ao regime escravocrata: negros, 
índios e mestiços. Esta marca escravista é sentida contemporaneamente na 
sociedade brasileira, exemplo do preconceito e da desigualdade racial. 
 
Guia de estudo: Tomando como base a discussão deste tópico e o texto de 
Gilberto Freyre, Casa-grande & Senzala, pesquise outros estudos que 
debatam a questão da formação social do Brasil. Qual a visão dos autores 
pesquisados sobre a constituição social do Brasil e o papel da miscigenação 
neste processo? 
 
 
 
24 
 
Atividades econômicas do Brasil Colonial 
 O debate sobre a questão econômica e a formação da sociedade 
colonial nas últimas décadas ganhou grande destaque com as discussões 
sobre os modelos explicativos propostos a partir do “sentido da colonização” e 
do “antigo regime nos trópicos”. 
 A historiografia brasileira lançou novos olhares sobre as relações entre 
metrópole e colônia a partir de uma maior proximidade com a historiografia 
portuguesa e análise de novos documentos históricos e perspectivas 
metodológicas e conceituais. Os novos estudos, segundo Russell-Wood, 
pretendiam demonstrar que: 
(...) a visão de pacto colonial, baseada em noções dualistas, 
polarizadas, ou mesmo bipolarizadas, necessita ser recolocada a 
partir de uma perspectiva mais aberta, mais holista e flexível, que 
seja mais sensível à fluidez, permeabilidade e porosidade dos 
relacionamentos pessoais, do comércio, da sociedade e do governo 
dos impérios, assim como da variedade e nuança de práticas e 
crenças religiosas (RUSSELL-WOOD, 2001, p. 14). 
 
 A dualidade expressa nas palavras do autor refere-se às relações entre 
metrópole e colônia, sendo o Brasil colonial fruto destas. Este modelo 
explicativo está contido no sentido da colonização atribuído por Caio Prado 
Junior em seu trabalho, Formação do Brasil Contemporâneo. Para o referido 
autor, a economia possuía dois setores: um voltado para o mercado externo, 
que dava sentido ao processo de colonização e outro para o mercado interno, 
destinado ao sistema de abastecimento interno e de importância secundária. 
Desta maneira, para Caio Prado Junior (1999, p. 31), o sentido da colonização 
seria o fornecimento de “açúcar, tabaco, alguns outros gêneros” para o 
comércio europeu. Internamente, desenvolver-se-ia um mercado de menor 
importância e dependente do sistema externo. 
 João Fragoso e Manolo Florentino (2001), autores de O arcaísmo como 
projeto, criticam duas bases argumentativas do modelo explicativo proposto 
por Caio Prado Junior para o sentido da colonização. Segundo estes autores, o 
primeiro consiste na baixa importância atribuída por Prado Junior ao mercado 
interno. Fragoso e Florentino defenderam a tese de que as atividades do 
 
25 
 
mercado interno possuíam a capacidade de autonomia frente às demandas da 
economia exportadora. O segundo contraponto expresso pelos historiadores 
esteve relacionado à dependência exclusiva das relações da colônia com a 
metrópole. Para estes, as relações se faziam presentes com as diversas partes 
constitutivas do Império Ultramarino português. 
 A perspectiva historiográfica defendida por Fragoso e Florentino voltou 
suas análises com maior atenção para as especificidades locais e regionais, 
articuladas com as dinâmicas imperiais, possibilitando, também, o 
esmiuçamento das redes de poder constituídas a partir das alianças políticas, 
familiares e econômicas, dos serviços prestados com vistas ao recebimento de 
patentes militares, títulos distintivos e cargos na governança local. 
 
Saiba mais: Para saber mais sobre este debate interpretativo acerca da 
colonização do Brasil e as dinâmicas econômicas, sugerimos a leitura da obra: 
O sol e a sombra. 
 
 A economia colonial, seja com suas dinâmicas internas ou externas, 
esteve centrada em gama de produtos e atividades que fomentaram a geração 
de riquezas no período da colonização da América portuguesa. Dentre estas 
atividades podemos destacar: a exploração do pau-brasil, a cana de açúcar, a 
pecuária, o tabaco, a mineração e as drogas do sertão. 
 A exploração do pau-brasil foi a primeira atividade econômica da 
conquista da América pelos portugueses. Além da madeira, a demanda pelo 
produto estava relacionada à extração do corante utilizado para tingir os 
tecidos na Europa. Diferentemente de outros produtos, a extração do pau-brasil 
ganhou diversos arrendamentos ao longo dos anos de exploração, mas sua 
importância foi decrescendo devido o interesse em outros produtos e a 
escassez da madeira por causa do desmatamento. 
 A economia açucareira esteve presente na América portuguesa desde a 
primeira metade do século XVI, concentrando a força desta produção na região 
 
26 
 
norte (atual Nordeste do Brasil). Martim Afonso, no início da década de 1530, 
buscou implementar a atividade açucareira e, para tanto, trouxe sujeitos 
experimentados na produção para desenvolver a técnica na nova conquista. 
Entretanto, somente em Pernambuco e Bahia a cana de açúcar obteve êxito. 
Diversos fatores combinados permitiram este sucesso, pois “as duas capitanias 
combinavam, na região costeira, boa qualidade de solos e um adequado 
regime de chuvas” (FAUSTO, 2004, p. 78). Somados a estes aspectos, a 
proximidade com o mercado consumidor e a maior facilidade de escoamento, 
devido aos portos, permitiram a prosperidade da atividade. 
 A produção açucareira demandava um pesado investimento, que ia 
desde a plantação até o processo de transporte do produto ao seu destino final. 
Destaca-se que no período colonial não foram realizados na América 
portuguesa os processos de refinamento do açúcar. Os investimentos para a 
atividade variaram com o passar do tempo, indo de investidores estrangeiros e 
metrópole no século XVI as instituições religiosas e beneficentes e 
comerciantes nos séculos XVII e XVIII. 
 O destino de grande parcela da exportação do açúcar era o mercado 
europeu, concentrando-se em cidades da Inglaterra, Alemanha, Itália e 
Holanda, apesar da tentativa portuguesa de procurar manter o controle sobre o 
comércio deste gênero (FAUSTO, 2004, p. 79). 
 A mão de obra utilizada na economia do açúcar foi a escrava, 
principalmente a partir da crescente leva de africanos trazidos de seu 
continente de origem para o trabalho forçado na America. Os trabalhos iam 
desde a plantação e colheita da cana de açúcar até as fornalhas e caldeiras do 
processamento da cana, finalizando com o transporte da carga. 
 A economia açucareira durante o transcorrer do período colonial viveu 
momentos e contextos diversos que foram do processo de expansão no século 
XVI até o início das invasões estrangeiras nas possessões lusas no norte da 
América portuguesa. A partir destes conflitos, na Bahia e em Pernambuco, a 
produção declinou e a crise foi agravada com a concorrência da atividade 
açucareira nas ilhas das Antilhas. Deve-se ressaltar, entretanto, que mesmo 
 
27 
 
com a crise açucareira, este foi o principal produto da pauta de exportações até 
a primeira metade do século XVIII. 
 A produção do tabaco/fumo para o comércio exterior ganhou destaque 
também na região norte da América portuguesa, mais precisamente no 
Recôncavo Baiano. Esta produção foi realizada a partir, essencialmente, de 
pequenos produtores, mas também contou com a participação de grandes 
proprietários rurais. Segundo Arno e Maria José Wehling, em Formaçãodo 
Brasil Colonial, exportavam-se os “rolos de fumo para a Europa e a África, 
sendo utilizada, neste último caso, em escambo, para a compra dos escravos 
necessários aos canaviais e engenhos” (1999, p. 205). 
 Outra atividade econômica desenvolvida a busca pelas chamadas 
“drogas do sertão”, exemplo da canela, da pimenta e do cacau nativo. Durante 
o século XVII procurou-se substituir os produtos do Oriente a partir das 
“drogas” encontradas na América portuguesa. Esta atividade foi desenvolvida 
basicamente nas regiões dos sertões e na Amazônia. 
 Nos sertões também foi desenvolvida outra atividade de suma 
importância para a economia do Brasil colonial, a pecuária. A criação de gado 
começou nos arredores das fazendas e engenhos do litoral açucareiro, 
passando a disputar espaço com as atividades destinadas ao açúcar. 
Entretanto, com a proibição da criação no litoral a atividade pecuarista foi 
deslocada para os sertões, momento este de investida contra os indígenas e 
suas terras. Sobre o avanço do processo de conquista pelo sertão e a atividade 
pecuarista, Francisco Carlos Teixeira da Silva nos expõe que: 
O gado, um produto que se move, foi o instrumento básico desta 
penetração, guiada por produtores alagoanos e sergipanos, que 
subiram o rio São Francisco em demanda dos ‘sertões’. A marcha 
sobre o Agreste zona intermediária entre a ‘mata’ fértil e úmida e a 
‘caatinga’, o sertão semiárido necessitou, em primeiro lugar, romper 
com a fronteira fechada, dominada por negros fugidos, aguerridos e 
fortificados em ‘quilombos’, como o de Palmares, e, também, vencer 
a resistência dos índios, principalmente da Confederação dos Cariris. 
Foram guerras sangrentas, de extermínio, lideradas por 
‘bandeirantes’ paulistas e que resultaram na partilha do sertão em 
dezenas de imensos latifúndios (SILVA, 1990, p. 83). 
 
 
28 
 
 A pecuária marchou ao compasso do combate aos povos indígenas nas 
capitanias do Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Piauí e Paraíba. A 
conquista deste espaço por meio da atividade pecuarista foi realizada com 
investimentos da Coroa portuguesa e, principalmente de particulares. O 
combate aos chamados “gentios” auferia aos conquistadores a possibilidade de 
angariar mercês (recebimento de sesmarias, patentes militares, títulos 
distintivos e cargos na governança local) em retribuição aos serviços 
prestados. 
 Destaca-se que a criação de gado e constituição de fazendas para tal 
atividade “exigia pouco investimento inicial, com terras doadas ou arrendadas a 
baixo preço, algumas cabeças de gado, pouco material, alguns escravos e 
vaqueiros pagos em reses” (WEHLING & WEHLING, 1999, p. 207). A 
conquista e a entrada da pecuária nos sertões deram-se pelos chamados 
“sertões de fora” e “sertões de dentro” na clássica interpretação de Capistrano 
de Abreu acerca da “civilização do couro” constituída a partir da criação do 
gado e de seus subprodutos. 
 A exploração de metais preciosos (ouro, diamantes, etc.) ficou marcada 
na história do Brasil colonial, principalmente durante o transcorrer do século 
XVIII. A descoberta do ouro e de outros metais preciosos nas regiões das 
Minas Gerais provocou uma corrida populacional (sujeitos provenientes da 
metrópole e de outras localidades da colônia) para a região e trouxe mudanças 
significativas, exemplo da concentração de recursos econômicos no centro-sul 
e do deslocamento do plantel de escravos do norte para a zona exploratória 
dos minérios. 
 A Coroa portuguesa procurou controlar a atividade mineradora com a 
implementação de medidas administrativas e de fiscalização. Dentre estas 
estiveram: cobrança do quinto e da capitação, limitação de entrada de sujeitos 
na região e a reorganização das capitanias de São Paulo, Rio de Janeiro e 
Minas Gerais com a autonomia da última. Por fim, destaca-se que a sociedade 
mineradora foi marcada por uma profunda desigualdade social. 
 
 
29 
 
O BRASIL 
MONÁRQUICO E A 
CONSTRUÇÃO DO 
ESTADO BRASILEIRO. 
2 
 
CONHECIMENTOS: 
Conhecer os aspectos políticos, econômicos e sociais relevante no período 
denominado “Brasil monárquico”. 
 
 
HABILIDADES: 
Identificar os diversos contextos que estiveram presentes no contexto de 
construção do Estado monárquico. 
 
 
ATITUDES: 
Apresentar um olhar crítico sobre a relevância dos acontecimentos ocorridos 
nesse período. 
 
 
 
 
 
30 
 
 
31 
 
O processo de Independência do Brasil. 
 O processo de Independência do Brasil frente ao reino português 
resultou de um conjunto de problemáticas externas e internas no transcorrer da 
segunda metade do século XVIII e das primeiras décadas do século XIX. A 
partir deste período o sistema colonial implementado pela Coroa portuguesa 
entrou em crise. Segundo Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves e Humberto 
Fernandes Machado, em O Império do Brasil, o processo de crise deveu-se a: 
 
[...] acontecimentos do final do século XVII que deram corpo e alma a 
tais mudanças. A gestação da Revolução Industrial inglesa, a 
Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa 
constituíram-se nos marcos dessa modernidade. As ideias e práticas, 
que reverberaram a partir deles, abalaram os alicerces do Antigo 
Regime, tanto na maior parte do continente europeu, quanto de suas 
colônias na América, ainda que desigualmente. A tormenta 
napoleônica completou a obra (NEVES; MACHADO, 1999, p. 24). 
 
 O contexto externo, conforme nos aponta os autores acima, foi decisivo 
para a sedimentação da ruína do Antigo Regime e, consequentemente, do 
Antigo Sistema Colonial imposto pelos Impérios a suas Colônias na América. 
 Portugal, durante a segunda metade do século XVIII, encontrava-se 
enfraquecido economicamente devido à concorrência de outros Estados 
modernos no processo de conquista e domínio territorial das colônias 
ultramarinas. Eram fortes as pressões exercidas, dentro e fora da Europa, por 
países como França e Holanda, além da crescente influência e busca inglesa 
pelo controle do comércio colonial. 
 A dificuldade política e econômica de Portugal resultou na tentativa de 
um maior controle lusitano sobre a colônia e em acordos com os ingleses 
acerca do comércio colonial e das disputas imperiais na Europa e no Além-mar. 
Segundo Arno Wehling e Maria José Cavalleiro de Macedo Wehling, em 
Formação do Brasil Colonial, a situação portuguesa entre os anos de 1750 e 
1808 esteve marcada por três condicionantes: Veja na citação a seguir: 
 
 
32 
 
(...) a dependência inglesa, a predominância absoluta do Brasil dentre 
suas colônias e os efeitos da crise econômica de 1766-69. Os dois 
primeiros, se não era novos, atingiram seu grau mais agudo nesse 
período. Os sucessivos déficits comerciais continuaram pagos pelo 
ouro brasileiro, em crise desde 1760, gerando uma sangria de 
recursos que impossibilitava os investimentos. (WEHLING; 
WEHLING, 1999, p. 320). 
 
 A crise econômica fora resultado das crescentes despesas de custeio da 
administração do Império português e da defesa do território, somados ao 
decréscimo da exploração aurífera e da desvalorização do preço do açúcar. 
 A segunda metade do século XVIII ficou marcada pela tentativa de um 
maior controle administrativo e econômico por Portugal na América lusa, 
exemplo das restrições e dispositivos de controle sobre a produção das Minas 
Gerais. Dentre as medidas impostas pela Coroa, podemos citar: o sistema de 
capitação, a cobrança do quinto e da derrama. Além destas, a administração 
metropolitana passou a contar com as seguintes mudanças: criação de 
companhias de comércio que se dividiram em Grão-Pará e Maranhão e 
Pernambuco e Paraíba, instalação de casas de inspeção do açúcar e tabaco, 
mudança da sede da Corte da Bahia para o Rio de Janeiro, criação do Erário 
Real, expulsão da Companhia de Jesus da América lusa e demais conquistas e 
proibição da escravização de indígenas. 
Derrama: Tributo, imposto repartido pelo contribuinteproporcionalmente aos 
seus rendimentos. 
 
 Estas medidas, em parte, foram implementadas pelo Ministro de Estado 
da Guerra e dos Negócios Estrangeiros, Sebastião José de Carvalho e Mello, o 
Marquês de Pombal. Ilustrado que transformou a administração da Coroa 
portuguesa na segunda metade do século XVIII, buscando maior controle e 
eficiência em sua gestão. 
 As soluções adotadas pela Metrópole não surtiram os efeitos esperados 
e a crise econômica continuou com força no transcorrer da segunda metade do 
século XVIII, intensificada pelas questões externas: o interesse inglês nos 
 
33 
 
mercados da América, a expansão das forças napoleônicas e a independência 
dos Estados Unidos da América. Aliada a esta conjuntura externa, o desgaste 
português para com a elite colonial da América lusitana só aumentava com a 
exploração econômica sofrida. 
 A saída traçada para superar estes problemas internos e externos foi a 
transferência da Família Real portuguesa para a América. A transferência da 
família real não significou apenas a mudança familiar, mas o deslocamento da 
“Corte” com a instalação no Brasil do aparato administrativo e burocrático 
lusitano. Desta maneira, foram transformadas as relações entre Metrópole e 
Colônia com a implementação da “cabeça” da Corte na Colônia. 
 A sede da Corte passaria a ser localizada na colônia, uma singularidade 
nestas relações entre impérios e colônias. Esta singularidade é designada por 
Hamilton de Mattos Monteiro (1990) como uma “inversão brasileira”, ou seja, a 
substituição de Lisboa, antiga sede da Corte, pelo Rio de Janeiro. Ademais, 
esta “inversão brasileira” será um dos fatores para eclosão em Portugal de um 
movimento de contestação a ordem política estabelecida, a Revolução do 
Porto. Segundo Hamilton de Mattos Monteiro: 
 
O clima de amargura e crise, aliado ao contágio das ideias liberais, 
fomenta um movimento revolucionário na cidade do Porto. A 
exigência básica dos revolucionários era a convocação imediata de 
uma ‘assembleia nacional constituinte’, sob o nome de ‘Cortes’, 
visando ao fim do regime absolutista no país (...) A reunião das 
Cortes em Lisboa fazia, assim, com que o Reino Unido tivesse, na 
prática, dois centros de poder: Lisboa, que começava a se considerar 
como a vontade do povo e superior ao rei, e o Rio de Janeiro, onde 
residia o rei e seus ministros (MONTEIRO, 1990, p. 130). 
 
O governo de Dom João sediado no Brasil teve como um de seu 
primeiro marcos o fim do exclusivo comercial com Portugal e a consequente 
abertura dos portos as nações amigas. Neste caso, tratava-se de permitir o 
livre comércio inglês na América portuguesa. Esta permissão foi ampliada 
posteriormente com a assinatura do Tratado de Navegação e Comércio em 
1810, beneficiando os ingleses com a menor taxação de seus produtos (15%) 
frente às mercadorias lusitanas (16%) e de outras nações (24%). 
 
34 
 
 O ano de 1810 ainda foi marcado pela assinatura de outro acordo entre 
as duas Coroas Ibéricas, o Tratado de Aliança e Amizade. Segundo suas 
cláusulas ficavam determinadas que “[...] a Coroa portuguesa se obrigava a 
limitar o tráfico de escravos aos territórios sob seu domínio e prometia 
vagamente tomar medidas para restringi-lo” (FAUSTO, 2004, p. 125). Esta 
medida não foi cumprida pelos portugueses com efetividade, fazendo vista 
grossa ao constante tráfico no Atlântico. 
 A instalação da Corte no Rio de Janeiro, região sul da então Colônia, 
modificou o cenário de forças políticas e econômicas até então vigente. A 
região norte (hoje conhecida como Nordeste) perdeu parte de seu poder 
político para suas demandas, já abaladas pela diminuição da importância 
econômica da região com a crise de suas produções. Esta significativa 
mudança, aliada a crescente cobrança de impostos pelo governo, fez emergir a 
Revolução Pernambucana em 1817. 
 Outra medida adotada por Dom João (D. João VI com a morte da então 
rainha) foi a elevação do Brasil a categoria de reino unido, juntamente a 
Portugal e Algarves em 1815. Com esta modificação a relação entre Metrópole 
e Colônia passa a não mais existir administrativamente. 
 Esta decisão proporcionou em Portugal um movimento de contestação, 
a Revolução Liberal de 1820. O movimento lusitano advogava o retorno de D. 
João VI a Portugal e a construção de uma nova constituição. Segundo Boris 
Fausto (2004, p. 130), a Revolução Liberal apresentava um caráter ambíguo 
para os brasileiros ao “considerar a monarquia absoluta um regime 
ultrapassado e opressivo”, promovendo espaços de representação da 
sociedade e, ao mesmo tempo, incentivar “os interesses da burguesia lusa e 
tentar limitar a influência inglesa”, almejando o retorno da total dependência a 
Portugal. 
 A saída para a crise política por qual a Corte portuguesa passava foi o 
retorno de D. João VI para Portugal, deixando seu filho, Pedro, como regente. 
Os liberais lusos não concordaram com a decisão de D. João VI e exigiram 
 
35 
 
também o retorno de seu filho ao reino. Entretanto, o príncipe regente decidiu 
ficar no Brasil e em 7 de setembro de 1822 decretou a independência do Brasil. 
 
A solução da independência não foi alcançada a partir de um plano 
preconcebido de motivações nativistas ou nacionalistas, mas resultou 
de um jogo de interesses de reduzido grupo de participantes, 
comprometido pelos mal-entendidos que as distâncias, as 
dificuldades de comunicação e a assimilação restrita ou parcial do 
ideário liberal propiciavam (NEVES, 2003, p. 414). 
 
 Para Mário Maestri, “O Estado monárquico, autoritário e centralizador 
que surgiu da ruptura do Brasil com Portugal foi criatura da escravidão”. Este 
rompimento teve como eixo os interesses econômicos dos grandes negreiros e 
escravistas. Ainda segundo o autor, “a solução encontrada para a 
independência do Brasil foi a mais conservadora possível”, garantindo a 
manutenção da ordem social e dos privilégios das elites (MAESTRI, 1997, p. 
15). 
 Ainda segundo Mário Maestri, as correntes políticas no contexto do 
processo de independência do Brasil estavam divididas em três grupos. A ala 
dos comerciantes, funcionários portugueses residentes no Brasil e militares 
almejavam o processo de recolonização do Brasil. Outro grupo era formado por 
“plantadores e comerciantes escravistas, pelos altos funcionários e pelos 
comerciantes ligados aos ingleses e franceses” e defendiam “uma 
independência ordeira” e, se necessário, uma “monarquia dual”. Por fim, existia 
a corrente ligada aos trabalhadores urbanos que advogavam em favor das 
“soluções liberais” e de “uma independência nos moldes da norte americana” 
(MAESTRI,1997 p. 36-37). 
 Segundo José Murilo de Carvalho, em A Formação das Almas, a 
organização do Estado Imperial brasileiro esteve assentada em uma 
miscelânea de dispositivos externos. Esta junção tinha como objetivo a unidade 
política da então nação em formação e a ordem social. Para tanto: 
 
 
36 
 
O Império brasileiro realizara uma engenhosa combinação de 
elementos importados. Na organização política, inspirava-se no 
constitucionalismo inglês, via Benjamin Constant. Bem ou mal, a 
Monarquia brasileira ensaiou um governo de gabinete com partidos 
nacionais, eleições, imprensa livre. Em matéria administrativa, a 
inspiração veio de Portugal e da França, pois eram esses os países 
que mais se aproximavam da política centralizante do Império. O 
direito administrativo francês era particularmente atraente para o viés 
estadista dos políticos imperiais. Por fim, até mesmo certas fórmulas 
angloamericanas, como a justiça de paz, o júri e uma limitada 
descentralização provincial, serviam de referência quando o peso 
centralizante provocava reações mais fortes (CARVALHO, 1990, p. 
23). 
 
Formatados os dispositivos da administração, tornava-se necessário a 
instituição de uma Constituição para o recém-criado país, além da preocupação 
em sufocar quaisquer movimentos de contestaçãointerna e externa. 
A Constituição Brasileira de 1824. 
 Após o processo de emancipação política do Brasil frente a Portugal, 
tornava-se necessário a elaboração da primeira Constituição do recém Estado. 
Para tanto, foram convocadas eleições para a Assembleia Constituinte que 
tinha como um dos objetivos a construção da Constituição brasileira. Os 
debates travados entre os parlamentares permearam duas proposições: uma 
que defendia maior centralização e poder do governo imperial e outra 
tendência que defendia uma maior autonomia das províncias e do parlamento 
frente ao governo imperial. 
 Segundo Boris Fausto (2004), as disputas entre os parlamentares e D. 
Pedro I estiveram centradas nas competências e atribuições elencadas para os 
poderes executivo e legislativo. 
 
Os constituintes queriam que o imperador não tivesse o poder de 
dissolver a futura Câmara dos Deputados, forçando assim, quando 
julgasse necessário, novas eleições. Queriam também que ele não 
tivesse o poder de veto absoluto, ou seja, o direito de negar validade 
a qualquer lei aprovada pelo Legislativo. Para o imperador e os 
círculos políticos que o apoiavam, era necessário criar um Executivo 
forte, capaz de enfrentar as tendências ‘democráticas e 
desagregadoras’, justificando-se assim a concentração de maiores 
atribuições nas mãos do imperador (FAUSTO, 2004, p. 148). 
 
 
37 
 
Estas desavenças acabaram com a dissolução da Assembleia 
Constituinte pelo Imperador e a prisão de vários deputados que tinham 
posturas contrárias aos seus interesses, exemplo dos irmãos Andrada. Após a 
dissolução da Assembleia Constituinte a primeira constituição foi outorgada por 
D. Pedro I em 1824 e garantiu a este amplos poderes. Dentre os principais 
pontos podemos destacar: 
 Estabelecia a Monarquia Constitucional como forma de governo; 
 O catolicismo como religião oficial do país; 
 Separação dos poderes em executivo, legislativo, judiciário e moderador; 
 Voto censitário e indireto; 
 Nomeação dos presidentes das províncias pelo Imperador; 
 Criação do Conselho de Estado, com os membros escolhidos pelo 
Imperador. 
 
 A Constituição de 1824 ainda determinava a divisão do país em 
províncias e garantia a igualdade legal entre os cidadãos brasileiros. 
Certamente, caro estudante, em um país com forte concentração de poder e 
riqueza e uma sociedade escravista, não podemos compreender esta 
igualdade expressa na lei como realidade na sociedade brasileira em formação. 
O quadro político que se desenhava com o estabelecimento da 
Constituição e suas prerrogativas era de fortalecimento do poder imperial com 
a possibilidade de interferência direta nas províncias e no legislativo, ferindo, 
de certa forma, os interesses das elites regionais. Segundo Hamilton de Mattos 
Monteiro (1990), a Constituição de 1824 configurava as forças políticas da 
seguinte forma: 
A Constituição outorgada em 1824 estabelecia uma Câmara eleita, 
um Senado vitalício, dócil ao imperador, pois era por ele escolhido, e 
um alto grau de centralização das províncias em torno do Rio de 
Janeiro. Além disso, tudo, o Imperador dispunha de um ‘Poder 
Moderador’, de forte inspiração positivista, que lhe permitia indicar 
gabinetes sem a devida aprovação parlamentar, que era buscada em 
uma nova eleição, feita sob a égide do novo governo estabelecido. 
(MONTEIRO, 1990, p. 138). 
 
 
38 
 
 Este quadro político desagradou às elites rurais regionais e fez emergir 
diversos movimentos de contestação à ordem estabelecida, principalmente no 
chamado período regencial, conforme veremos mais adiante no terceiro 
capítulo deste módulo. 
 
O Estado Monárquico e seus poderes. 
 Como vimos no tópico anterior à primeira Constituição Brasileira de 1824 
estabeleceu o Estado como uma Monarquia Constitucional, formada por quatro 
poderes: executivo, legislativo, judiciário e moderador. Este último teve 
inspiração no modelo estabelecido por Benjamin Constant, separando as 
decisões do executivo para os ministros do rei e as decisões imperiais ao rei. 
 No Brasil, a relação entre os poderes moderador e executivo teve outra 
formatação da proposta por Benjamin Constant. Para o historiador Boris 
Fausto, não existiu uma separação entre estes poderes no Brasil. Segundo o 
autor, “disso resultou uma concentração de atribuições nas mãos do imperador. 
Pelos princípios constitucionais, a pessoa do imperador foi considerada 
inviolável e sagrada” (FAUSTO, 2004, p. 152). 
 Na estruturação do poder executivo ainda existia a figura do Conselheiro 
de Estado que era nomeado pelo imperador de forma vitalícia. Para ser 
nomeado ao Conselho de Estado, o candidato deveria atender alguns 
requisitos: idade mínima de quarenta anos, possuir uma renda mínima de 800 
mil-réis e possuir saber, capacidade e virtude. 
 Quanto ao poder legislativo no âmbito nacional, era formado por Câmara 
dos Deputados e Senado. Apesar dos parlamentares de ambas as casas 
serem escolhidos por eleições, na Câmara o mandato era temporário e no 
Senado, vitalício. Além desta diferença, no Senado a escolha dos senadores, 
feita a partir de uma lista tríplice, era atribuição do Imperador. Este escolhia um 
dos três indicados pela votação dos eleitores. 
 
39 
 
 Outra característica do sistema eleitoral no período imperial é quanto a 
ser indireto e censitário. O voto era indireto devido os eleitores participarem 
apenas de uma eleição chamada de primaria, quando escolhiam o corpo 
eleitoral. Este ficava encarregado da eleição dos deputados. O caráter 
censitário do processo dizia respeito às regras estabelecidas para a 
possibilidade do sujeito ser eleitor e/ou candidato. De acordo com as normas 
censitárias, poderiam votar e serem votados: 
 
Os cidadãos brasileiros, inclusive os escravos libertos, mas não 
podiam votar, entre outros, os menores de 25 anos, os criados de 
servir, os que não tivessem renda anual de pelo menos 100 mil-réis 
provenientes de bens de raiz (imóveis), indústria, comércio ou 
emprego. Os candidatos, por sua vez, só podiam ser pessoas que, 
além dos requisitos dos votantes, tivessem renda de, no mínimo, 200 
mil-réis anuais e não fossem escravos libertos. (FAUSTO, 2004, p. 
151). 
 
Com estas restrições, caro aluno, certamente podemos constatar que o 
sistema eleitoral não permitia a participação da maior parcela da população 
brasileira, haja vista as impossibilidades sociais e econômicas impostas. Para 
ser candidato na segunda etapa de votações para deputado, o cidadão deveria 
ter uma renda mínima de 400 mil-réis anuais, aumentando assim o quadro de 
sujeitos impossibilitados de participar do pleito. Ademais, além da questão 
econômica, o candidato deveria ser professor da religião católica para ter a 
permissão da candidatura. 
 
 
 
 
 
 
40 
 
A Confederação do Equador 
A Confederação do Equador, ocorrida em 1824, teve dentre suas 
motivações a forte centralização do poder imperial, restringindo o poder das 
elites regionais ao permitir que o Imperador nomeasse os presidentes das 
províncias, conforme apontamos acima nas definições emanadas da 
Constituição Federal de 1824. Para Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, os 
poderes atribuídos ao governo imperial na Constituição de 1824 não permitiam 
a autonomia das províncias. Segundo o referido autor: 
Os conselhos das províncias são uns meros fantasmas para iludir os 
povos; porque devendo levar suas decisões à Assembleia Geral e ao 
Executivo conjuntamente, isto bem nenhum pode produzir à 
província; pois que o arranjo, atribuições e manejo da assembleia 
geral faz tudo em último resultado depender da vontade e arbítrio do 
Imperador, que arteiramente avoca tudo a si e de tudo dispõe a seu 
contento (apud: MELLO, 2001, p. 563). 
 
 A indignação dos confederados era sentida a partir do que estes 
chamavam de “vontade e arbítrio do imperador” ao não garantir espaço de 
decisão para os Conselhos e presidentes dasprovíncias. 
O movimento revoltoso teve início em 02 de julho de 1824 em 
Pernambuco e expandiu-se para outras províncias do então chamado Norte do 
Brasil: Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e Paraíba. Para Flávio José Gomes 
Cabral dentre as motivações para o movimento podemos elencar, ”sobretudo 
um ensaio de tomada de poder por grupos das elites que não queriam se 
curvar ao projeto político centralizador e autoritário do Estado nacional nascido 
em 1822” (CABRAL, 2006, p. 47). 
Dentre as propostas do movimento estava à união das províncias por 
meio de um sistema federalista e republicano. Segundo Boris Fausto, 
diferentemente da Revolução de 1817, “o levante teve conteúdo 
acentuadamente urbano e popular, diferenciando-se da ampla frente regional, 
com a liderança de proprietários rurais e alguns comerciantes” (FAUSTO, 2004, 
p. 153). Destaca-se ainda a participação de estrangeiros e o caráter 
antilusitano do movimento. 
 
41 
 
Os confederados foram duramente repremidos pelas tropas imperiais e 
o movimento foi debelado em pouco tempo, sendo seus líderes presos e 
condenados à morte. Estas condenações e fortes repressões serviam, na visão 
do governo imperial, como forma de evitar o surgimento de novos movimentos. 
e/ou lideranças de contestação ao Império. Entretanto, apesar de o movimento 
ter sido sufocado com sucesso, as ideias contestatórias ao governo imperial 
estavam mais uma vez lançadas nas províncias do norte do país e ressurgiriam 
nos anos finais da década de 1840. 
Saiba mais: Para aprofundamento do estudo da temática, sugiro a leitura do 
livro clássico de João de Alfredo de Sousa Montenegro: O liberalismo radical 
de Frei Caneca. 
 
As crises econômicas e política do Primeiro Reinado. 
 
 Os anos iniciais do Império no Brasil foram marcados pela busca da 
afirmação política interna e externa. No âmbito externo, procurou-se o 
reconhecimento dos demais países, inclusive de Portugal como forma de 
legitimação de sua autonomia política e econômica. Estes reconhecimentos 
vieram com o fechamento de acordos, especialmente no caso português após 
“mediação” inglesa, conforme vimos no início desta unidade. 
 Internamente, D. Pedro I buscava garantir a unidade territorial ao 
combater os movimentos contestatórios e outorgar uma Constituição 
centralizadora e que lhe dava amplos poderes ao permitir nomear presidentes 
de províncias, senadores, conselheiros do Conselho de Estado e fechar a 
Assembleia Nacional. 
 Passado este momento inicial, o cenário político e econômico do país se 
agravaram com o envolvimento da jovem nação em questões externas que 
refletiam diretamente na política interna, conforme nos aponta Mário Maestri. 
 
 
42 
 
A péssima situação financeira do Estado, o comportamento 
autocrático de Dom Pedro I e de seus ministros, seu envolvimento na 
política portuguesa, sua desregrada vida pessoal, o fracasso da 
aventura expansionista na Cisplatina, o privilégio concedido aos 
lusitanos com a nomeação e promoção dos oficiais militares e 
administrativos, tudo corroia inexoravelmente o prestígio do jovem 
soberano. Outra importante causa de sua queda foi a adesão às 
reivindicações inglesas e abolição do tráfico transatlântico de 
escravos (MAESTRI, 1997, p. 57). 
 
 As situações acima descritas nas palavras de Mário Maestri evidenciam 
o quão complicado estava o cenário econômico e político para D. Pedro I em 
finais da década de 1820 e começo de 1830, apesar do sucesso no combate 
aos insurgentes das revoltas provinciais ocorridas na década de 1820. 
 Um dos grandes problemas enfrentados por D. Pedro I foi o conflito na 
região da Cisplatina, no extremo sul do país. O movimento buscava a inserção 
da região nas Províncias Unidas do Rio da Prata, separando-se do Império 
brasileiro. A resposta brasileira foi o combate aos rebeldes e o bloqueio do rio 
da Prata. Segundo Boris Fausto, “a guerra provocou o temido e impopular 
recrutamento da população através de métodos de pura força” (FAUSTO, 
2004, p. 155). Os resultados advindos deste conflito foram desastrosos para o 
Brasil com gasto excessivo de dinheiro, derrotas em batalhas e morte de muito 
soldados brasileiros. Este cenário causou um grande descontentamento dos 
militares com D. Pedro I. 
 Ainda no campo político destacamos o cenário de sucessão do trono 
português como fator de agitação política no Brasil. A morte de D. João VI em 
Portugal trouxe a tona a questão da sucessão e a possibilidade de uma 
recolonização da jovem nação independente, unindo novamente o Brasil na 
condição de Reino Unido a Portugal e Algarves com a proclamação de D. 
Pedro I como rei de Portugal. 
 Esta possibilidade aventada não era vista com bons olhos no Brasil, pois 
crescia o sentimento antilusitano. A solução encontrada por D. Pedro I foi o 
estabelecimento de um acordo com seu irmão dom Miguel. Segundo Mário 
Maestri: 
 
43 
 
O imperador assumiu a coroa portuguesa e logo abdicou, em maio de 
1826, em favor de sua filha dona Maria da Glória, de sete anos, que 
foi concedida em casamento ao tio dom Miguel, de 24 anos, 
candidato dos absolutistas portugueses. Mas em função da 
menoridade de sua filha, dom Pedro permanecia como regente 
(MAESTRI, 1997, p. 54). 
 
 Em 1828 D. Pedro I abdicou completamente do trono português, 
permitindo que D. Miguel assumisse como rei de Portugal. Apesar desta 
decisão, a relação com os assuntos políticos de seu país de origem e a forte 
aproximação de seu governo no Brasil com portugueses deixava a elite política 
brasileira descontente e desconfiada com o que poderia ocorrer. Neste 
cenário, coexistiam no Brasil duas forças políticas: os liberais e os absolutistas. 
Os primeiros eram defensores de uma liberdade constitucional, com a garantia 
da manutenção da ordem social e econômica vigente. Quanto aos absolutistas, 
defendiam um governo forte e centralizador, cujo objetivo também era a 
sustentação da ordem social. 
 No campo econômico o cenário não estava favorável em finais da 
década de 1820 com o decréscimo dos preços dos principais produtos da 
pauta de exportações do Brasil. Produtos como o algodão, fumo, couro, café e 
cacau sofriam quedas em seus valores. Além destas quedas, a arrecadação de 
impostos com as importações diminuíam devido ao rebaixamento das tarifas 
impostas a Inglaterra e, posteriormente, aos demais países (FAUSTO, 2004). 
 O quadro econômico se agravara com a crescente crise do Banco do 
Brasil, devido à retirada de ouro feita por D. João VI em seu retorno a Portugal. 
A crise do Banco do Brasil levou a seu fechamento no ano de 1829. Neste 
contexto, ocorreu à desvalorização da moeda nacional e o crescimento da 
“inflação”, termo ainda não utilizado na época para o aumento dos produtos e 
perda do poder de compra da população. 
Para conter o quadro geral de insatisfação D. Pedro I optou por formar 
um novo gabinete ministerial. Desta vez, um ministério com brasileiros, 
buscando aproximar-se novamente da elite política e econômica do país. 
Entretanto, estes não interferiram nas manifestações de descontentamento 
 
44 
 
para com o governo e D. Pedro I acabou formando um novo gabinete, agora 
composto somente por portugueses (Ministério dos Marqueses). Ao longo 
deste processo de mudanças ministeriais ocorreu a Noite das Garrafadas, um 
dos episódios finais com D. Pedro I no poder. 
Outro elemento a causar insatisfação da elite política e econômica do 
Brasil com D. Pedro I foi a aceitação por este de acordos com a Inglaterra 
visando ao fim do tráfico internacional de escravos. Esta proibição ao tráfico 
era um dos aspectos impostos para o reconhecimento da independência do 
Brasil pelos ingleses. 
Com este quadro extremamente desfavorável no jogo político e na 
economia, D. Pedro I viu-se forçado a abdicar ao trono em favor de seu filho, 
Pedro. Segundo Mário Maestri, “tendo abdicado Pedro I e sendo menor o 
herdeiro, a Constituiçãoordenava que governasse, como regente, um parente 
do imperador maior de 25 anos. Na falta deste, senadores e deputados 
indicariam uma Regência Trina, que governaria por quatro anos” (1997, p. 62). 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
MOVIMENTOS SOCIAIS, 
PARTICIPAÇÃO 
POLÍTICA E O IMPÉRIO. 
3 
 
CONHECIMENTOS 
 
Compreender o processo histórico da crise do Brasil Monárquico. 
 
 
HABILIDADES 
 
Identificar as diversas manifestações ocorridas nesse período, relacionando-as 
com seus respectivos contextos históricos. 
 
 
ATITUDES 
 
Analisar a importância social, política e econômica dos acontecimentos desse 
período para o desenvolvimento da História do Brasil. 
 
 
 
 
46 
 
 
47 
 
O período das Regências. 
 O período regencial foi um dos mais agitados da história política do 
Brasil. Segundo a historiadora Lilia Moritz Schwarcz, em As Barbas do 
Imperador, este período foi de grande efervescência política para o país. Para 
a autora, “os nove anos das Regências se desenvolveriam em clima 
conturbado, com uma série de rebeliões estourando em diversos pontos do 
país” (1998, p. 53). 
 Para Marco Morel, em O Período das Regências, o período regencial 
foi “tempo de esperanças, inseguranças e exaltações, tempo de rebeldia e de 
repressão, gerando definições, cujos traços essenciais permanecem na 
sociedade” (2003, p. 10). Certamente, estes nove anos de duração marcaram o 
cenário político e social do Brasil Imperial com as diversas articulações e 
disputas em torno do jogo político e do desenrolar dos movimentos de 
contestação. Este momento também foi marcado pelo exercício direto do poder 
pelas elites políticas do Brasil. 
 As disputas intraelites estiveram presentes durante todo o período 
regencial. Segundo José Murilo de Carvalho (1996), em O Teatro de 
Sombras, neste momento ainda não existiam partidos políticos definidos, 
apenas grupos políticos que buscavam o controle do poder. Os debates e as 
disputas fizeram-se presentes em variadas temáticas. Dentre as mais 
importantes podemos destacar: o processo de centralização e 
descentralização, a busca por maior autonomia por parte das elites provinciais 
e a organização do poder das forças armadas. 
 Neste contexto, podemos perceber a constituição de três grupos 
políticos que dominaram o cenário político do Brasil: restauradores, liberais 
moderados e liberais exaltados. Os restauradores buscavam defender e 
propagar o retorno de D. Pedro I ao trono brasileiro, ou seja, seu regresso, e 
eram contrários ao processo de reformas sociais que afetassem o status quo e 
os interesses das elites políticas e econômicas. Do lado oposto, o grupo dos 
liberais exaltados lutava por maior autonomia das províncias, a transformação 
 
48 
 
do sistema para uma monarquia federalista e a garantia das liberdades 
individuais. Os liberais moderados defendiam um regime monárquico 
constitucional e mostravam-se contrários ao processo de grandes mudanças 
sociais defendidos pelos exaltados, devido ao receio de prejudicarem seus 
interesses políticos e econômicos. 
 Percebe-se então que, não existia uma unidade política no período 
regencial. Segundo Boris Fausto, “não havia consenso sobre qual o arranjo 
institucional mais conveniente para seus interesses [das elites]”. Além disso, 
“não havia clareza sobre o papel do Estado como organizador dos interesses 
gerais dominantes, tendo para isso de sacrificar em certas circunstâncias 
interesses específicos de um determinado setor social” (2004, p. 162). 
 Após a saída de D. Pedro I do trono brasileiro, a administração do país 
ficou a cargo de uma regência trina provisória. Esta foi constituída por 
Francisco de Lima e Silva, José Joaquim Carneiro de Campos e Nicolau 
Pereira de Campos Vergueiro. Participaram da regência trina permanente 
Francisco de Lima e Silva, João Bráulio Muniz e José da Costa Carvalho. Com 
o Ato Adicional de 1834 o controle do país ficou a cargo de apenas um regente: 
Diogo Antonio Feijó entre os anos de 1835 e 1837 e, posteriormente, Araújo 
Lima entre os anos de 1837 e 1840. 
 O período regencial também foi palco de reformas institucionais que 
buscavam uma reorganização das forças políticas, dos aspectos 
organizacionais da administração pública e do controle social. Desta feita, foi 
implementado em 1832 o Código de Processo Criminal que regulamentava a 
aplicação do Código Criminal de 1830, então em vigor. 
 Dentre as normatizações e mudanças propostas no Código de Processo 
Criminal temos a instituição do habeas corpus, possibilitando a liberdade de 
sujeitos presos injustamente e/ou ameaçados de prisão. Outra medida contida 
no Código era a permissão para que juízes de paz pudessem prender e julgar 
sujeitos acusados de cometer crimes/infrações de menor gravidade. 
 
49 
 
 Outra modificação no período regencial foi a criação da Guarda 
Nacional. Criada em 1831, teve como objetivo a formação de uma tropa capaz 
de garantir a ordem e reprimir movimentos locais e, se necessário, nacionais 
contra o governo e a ordem social vigente. Seu corpo era formado por sujeitos 
que fossem votantes nas eleições primárias e que possuíssem entre 21 e 60 
anos de idade. Ressalta-se que os principais cargos eram ocupados por 
sujeitos mais abastados, exemplo dos grandes fazendeiros. 
 A criação da Guarda Nacional trouxe consigo um grande problema, a 
disputa com o Exército pelo contingente integrante de suas forças. Ao 
estabelecer o alistamento obrigatório para a Guarda Nacional, o Estado acabou 
por desfalcar os quadros do Exército. Ademais, conforme adverte Boris Fausto, 
o Exército brasileiro no período “era uma instituição mal organizada, vista pelo 
governo com muita suspeita (...) [e] formada por gente mal paga, insatisfeita e 
propensa a aliar-se ao povo nas rebeliões urbanas” (2004, p. 163). 
 O cenário das forças políticas no Império foi modificado em 1834 com o 
Ato Adicional à Constituição de 1824. Outro fator para o reagrupamento das 
correntes políticas do período foi a morte de D. Pedro I em 1834, acabando 
com as pretensões dos restauradores. 
 O Ato Adicional de 1834 estabelecia o término do exercício do poder 
moderador no país e a extinção do Conselho de Estado, órgão de confiança do 
Imperador. Ainda por meio do Ato criaram-se as Assembleias Provinciais, que 
ficaram responsáveis por estipular as despesas de municípios e províncias. 
Outro poder atribuído as Assembleias Provinciais foi o de nomear ou demitir 
funcionários públicos. Este poder possibilitava a interferência direta no 
processo eleitoral ao permitir que políticos locais pressionassem os 
funcionários nos pleitos eleitorais. Segundo Hamilton Monteiro (1994), estas 
mudanças refletiam o esforço das elites regionais na luta por maior autonomia 
frente à centralização imperial decorrida ao longo do Primeiro Reinado. 
 A renúncia do Regente Padre Feijó em 1837 trouxe ao poder o grupo 
político dos conservadores com Pedro de Araújo Lima. Ao assumirem o poder, 
estabeleceram medidas visando à retomada da centralização política do 
 
50 
 
Império. Dentre as medidas adotadas temos a reinterpretação do Ato Adicional 
de 1834, cerceando alguns poderes das províncias, exemplo da nomeação e 
demissão de funcionários públicos. 
 A resposta dos liberais foi a aprovação da antecipação da maioridade de 
D. Pedro II, então com quase 15 anos de idade. Para Lilian Moritz Schwars, “se 
o projeto de antecipar a maioridade não passou, a princípio, de uma manobra 
política, o certo é que aos poucos a medida foi tomando ‘ares de salvação 
nacional’” (1998, p. 67). Este projeto foi encampado pelo Partido Liberal em 
1840. A ascensão de D. Pedro II ao trono marca o fim do período regencial e o 
início do segundo reinado no Brasil. 
As Revoltas no Período Regencial. 
 O período regencial ficou marcado na historiografia como um momento 
de eclosão de variados movimentos de contestação ao regimeimperial. Estes 
movimentos estiveram presentes em diversas partes do país e contaram com a 
participação de uma gama de setores da sociedade, incluindo grandes 
proprietários rurais, trabalhadores urbanos e escravos. Dentre estas revoltas 
podemos elencar: a Cabanagem no Pará (1835-1840), a Sabinada na Bahia 
(1837-1838), a Balaiada no Maranhão (1838-1840) e a Farroupilha no Rio 
Grande do Sul (1835-1845). 
 A Guerra dos Farrapos ou Farroupilha decorreu durante dez anos e 
teve como força maior de sua eclosão a insatisfação dos estancieiros do Rio 
Grande do Sul quanto a questões políticas e econômicas do governo imperial 
para com os mesmo. O movimento atingiu as províncias do Rio Grande do Sul, 
onde foi fundada a República Paratini, e Santa Catarina, onde foi fundada a 
República Juliana. Dentre os líderes dos farrapos podemos citar: Bento 
Gonçalves, Giuseppe Garibaldi e Davi Canabarro. Devido a sua força política e 
econômica para o país, o império durante o transcorrer dos dez anos do 
movimento adotou uma postura indefinida: ora combatendo os revoltosos, ora 
buscando acordos. O movimento foi encerrado após a assinatura de um acordo 
entre os farroupilhas e o comandante das tropas imperiais, Duque de Caxias. 
 
51 
 
 A Sabinada teve palco na Bahia e teve como foco o descontentamento 
da elite provincial com o processo de centralização política desenvolvido pelas 
forças imperiais. O movimento foi liderado pelo jornalista e médico Francisco 
Sabino Álvares da Rocha e decorreu por, aproximadamente, quatro meses. Ao 
seu término os principais líderes foram presos e condenados a pena de morte. 
 A Balaiada foi outro movimento que ocorreu durante o período imperial 
e contou com um “evidente transbordamento da atividade política dos grupos 
urbanos e letrados para as camadas pobres da população, que se apropriaram 
dos embates políticos e sociais, levando-os adiante” (MOREL, 2003, p. 64). 
Desta maneira, podemos inferir que este movimento adquiriu um grau maior de 
contestação à ordem política e econômica estabelecida até então. Ao longo da 
Balaiada, que se iniciou com o descontentamento da elite maranhense, 
ocorreram transformações no movimento findando com a participação direta de 
escravos e ex-escravos na liderança das atividades rebeldes. 
 
 Por fim, devemos ressaltar a Cabanagem que ocorreu no Pará e contou 
com um amplo espectro da população local, atingindo por volta de 30 mil 
pessoas. Dentre as causas do movimento estiveram à insatisfação da elite com 
a interferência imperial no poder local, nomeando pessoas para os cargos da 
administração local, e a enorme desigualdade social e estado de pobreza que 
atingia a maior parcela da população. 
 A partir deste pequeno quadro de revoltas, acima descritas, podemos 
deduzir que foram diversas as reivindicações e os setores da sociedade que 
participaram de tais movimentos. Dentre as motivações para suas eclosões 
estiveram questões políticas - como a maior centralização do poder imperial e 
consequente diminuição da autonomia provincial – e questões econômicas 
como perdas financeiras dos grandes proprietários rurais. Assim, conforme nos 
aponta Boris Fausto (2004): 
 
 
52 
 
As revoltas do período regencial não se enquadram em uma moldura única. Elas tinham a ver 
com as dificuldades da vida cotidiana e as incertezas da organização política, mas cada uma 
delas resultou de realidades específicas, provinciais ou locais. Muitas rebeliões, sobretudo até 
meados da década iniciada em 1830, ocorreram nas capitais mais importantes, tendo como 
protagonistas a tropa e o povo. No Rio de Janeiro, houve cinco levantes, entre 1831 e 1832. 
Em 1832, a situação se tornou tão séria que o Conselho de Estado foi consultado sobre que 
medidas deveriam ser tomadas para salvar o imperador menino, caso a anarquia se instalasse 
na cidade e as províncias do Norte se separassem das do Sul (2004, p. 164). 
 
Estas tensões espalhadas pelo país no período regencial demonstravam 
aos grupos políticos detentores do poder que era necessária a implementação 
de um governo forte e com respaldo social. Desta forma, políticos de Partido 
Liberal, buscaram antecipar a posse de D. Pedro II no trono imperial brasileiro 
por meio do “golpe da maioridade”. 
Saiba mais: Caro estudante convido a você a pesquisar sobre estes 
movimentos de contestação e outros que não mencionamos acima, exemplo 
da Revolta do Malês. Quais semelhanças e diferenças podemos verificar 
nestes movimentos? Como o governo imperial atuou no combate aos 
mesmos? Compartilhe os resultados da pesquisa com seus colegas no 
ambiente virtual. 
 
O Segundo Reinado e a consolidação do Estado. 
 O Segundo Reinado marcou o momento de esfriamento dos movimentos 
de contestação ao império no Brasil e a consolidação do Estado enquanto 
poder centralizado nas mãos de D. Pedro II, diminuindo as forças políticas das 
elites regionais. 
 Os grupos políticos em disputa neste momento estavam divididos em 
grandes grupos: conservadores e liberais. O Partido Liberal detinha maior 
força nas províncias do Centro-Sul e era formado por integrantes das camadas 
médias urbanas e senhores rural. O Partido Conservador tinha maior força 
 
53 
 
política nas províncias do Norte (atual Nordeste) do império e eram compostos 
essencialmente por grandes comerciantes, senhores latifundiários e altos 
funcionários do governo. 
 Liberais e Conservadores formavam as duas posições majoritárias dos 
grupos políticos em atuação na primeira metade do século XIX. Apesar das 
diferenças, Boris Fausto (2004) nos adverte que os dois grupos não possuíam 
grandes diferenças ideológicas. A chegada ao poder, para os dois grupos, 
poderia representar a conquista de benefícios e cargos. 
 
Nas eleições, não se esperava que o candidato cumprisse bandeiras 
programáticas, mas as promessas feitas as seus partidários. 
Conservadores e liberais utilizavam-se dos mesmos recursos para 
lograr vitórias eleitorais, concedendo favores aos amigos e 
empregando a violência com relação aos indecisos e aos adversários 
(FAUSTO, 2004, p. 181). 
 
 Durante o Segundo Reinado foram formados vários gabinetes 
ministeriais com administração de liberais e conservadores. Uma destas 
formações de gabinete ministerial acabou desembocando nas chamadas 
eleições do cacete em 1840, com a ocorrência de fraudes e conflitos. 
 Estas diferenças, entretanto, não representavam uma diversidade na 
constituição da elite política do Brasil. Para José Murilo de Carvalho (1996), 
esta elite foi formada homogeneamente a partir da formação acadêmica e da 
profissão comum. Segundo o autor, “a elite brasileira, sobretudo na primeira 
metade do século XIX, teve treinamento em Coimbra, concentrado na formação 
jurídica, e foi, em sua grande maioria, parte do funcionalismo público, 
sobretudo da magistratura e do Exército” (CARVALHO, 1996, p. 33). 
 O Segundo Reinado foi palco, também, de uma experiência política 
singular no Brasil, o chamado “parlamentarismo à brasileira”. D. Pedro II, 
visando à estabilidade política no país, criou em 1847 a figura do Presidente do 
Conselho de Ministros. Cabia ao imperador à escolha do Presidente do 
Conselho de Ministros e a composição do gabinete ministerial. Após este 
 
54 
 
processo, realizavam-se novas eleições com vistas à formação de maioria 
partidária ao referido presidente. 
 O “parlamentarismo à brasileira” foi assim designado pela singularidade 
em sua composição, diferente do modelo inglês que serviu de inspiração. 
Durante o reinado de D. Pedro II foram formados 36 gabinetes ministeriais, 
demonstrando uma constante busca de poder por liberais e conservadores. 
 O Segundo Reinado mostrou-se o cenário ideal para a consolidação do 
poder imperial e, especialmente, para a construção da Identidade e da 
História nacional, alicerçadas a partir da criação do Instituto Histórico e 
Geográfico Brasileiro (IHGB).

Continue navegando