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Cristo no Santuário

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CRISTO NO SANTUÁRIO 
(Clique na palavra CONTEÚDO) 
 
Sua intercessão pelo homem 
 
SALIM JAPAS 
 
Doutor em Teologia Pastoral, 
Professor de Filosofia 
E Pedagogia, e ex-diretor do 
Departamento de Teologia do 
Colégio das Antilhas, Porto Rico 
 
PUBLICACINOES INTERAMERICANAS 
PACIFIC PRESS PUBLISHING ASSOCIATION 
Mountain View, Califórnia 94042 
E.U.A. 
 
Copyright © 1980 by 
Pacific Press Publishing Association 
 
Título do original: 
Cristo en el Santuario 
 
Tradução: Carlos Biagini 
 
 
O ministério de Cristo no santuário celestial é de importância 
vital para cada pessoa nesta hora solene em que vivemos. A vitória 
sobre o pecado e nossa preparação para o encontro com Jesus 
dependem de uma compreensão dinâmica deste tema e de uma 
relação genuína com nosso Salvador e Supremo Sacerdote. Esta 
Cristo no Santuário 2 
obra, escrita em forma singela mas com seriedade acadêmica, 
ajuda-nos a entender melhor as múltiplas dimensões do plano de 
salvação representadas pelo simbolismo rico e variado do santuário. 
Além disso, constitui uma contribuição meritória sobre um tema 
básico do qual se tem escrito muito pouco em idioma português. 
Seu autor, evangelista de notável êxito em numerosos países das 
três Américas, professor de teologia e doutor em teologia pastoral, 
dedicou-se durante décadas à investigação e seu serviço, o que o 
qualifica como verdadeira autoridade no tema. 
Mais que um conhecimento teórico, Cristo no Santuário dará a 
cada leitor uma motivação profunda para desfrutar de uma 
experiência espiritual ainda mais rica e frutífera. 
 
Dedicado a 
Héctor J. Peverini, um homem de fé e virtude 
 
AGRADECIMENTO 
 
Tenho uma dívida de gratidão com o Dr. Werner Vyhmeister, 
professor na Universidade Andrews, por revisar o manuscrito e me 
dar sugestões muito valiosas. Igualmente com o Dr. Fernando 
Chaij, ex-diretor editorial de Publicações Interamericanas, Pacific 
Press, por suas recomendações quanto ao estilo, e com minha 
esposa Oliva por seu eficiente trabalho como secretária. 
O Autor 
 
 
 
 
 
 
 
Cristo no Santuário 3 
CONTEÚDO 
 
 
Prefácio....................................................................4 
Introdução................................................................6 
 
1. Os Santuários de Deus........................................8 
2. Os Móveis do Santuário....................................11 
3. Os "Véus" do Santuário.....................................31 
4. O Sacerdócio Aarônico......................................36 
5. O Sacerdócio Segundo Melquisedeque............46 
6. Festas dos Judeus.............................................51 
7. O Sábado...........................................................63 
8. A Festa da Lua Nova.........................................67 
9. Os Dia Solenes..................................................70 
10. Azazel................................................................77 
11. O Holocausto Contínuo.....................................81 
12. O Sangue Redentor...........................................85 
13. O Sacerdócio de Cristo no Céu.........................90 
14. Cristo e o Serviço Anual....................................94 
15. Que é a Purificação do Santuário?..................100 
16. A Obra da Apostasia........................................105 
17. Alcances e Benefícios da Lei...........................110 
18. O Selamento dos Remidos..............................115 
19. O Fim do Conflito.............................................120 
 
 
 
 
Cristo no Santuário 4 
PREFÁCIO 
 
CRISTO NO SANTUÁRIO, pelo Dr. Salim Japas, é uma obra que 
gostaríamos de ter faz já vários anos em nossas mãos. A doutrina da obra 
de Cristo no santuário celestial, exposta na Epístola aos Hebreus, tem 
raízes profundas no serviço do santuário do Antigo Testamento. Pouco 
se conhecem estas raízes e, em conseqüência, a mensagem de Hebreus 
não resulta sempre claro para muitos cristãos do século XX. Esta obra 
deve encher um importante espaço e resulta tão mais valiosa para os 
cristãos de paises de fala portuguesa por provir da pena de um experiente 
evangelista e professor de teologia hispano-americano. 
 
O interesse do Dr. Japas na doutrina do santuário começou ao ele 
dar seus primeiros passos no caminho da conversão. Então intensificou-
se enquanto realizava seus estudos iniciais de teologia, na Argentina, e 
depois nas décadas de cuidadosa exposição da Escritura Sagrada diante 
de congregações de muitos paises da América Latina, e também da 
Espanha. Vários anos de trabalho no Próximo Oriente contribuíram para 
aumentar esse interesse. Seus alunos de teologia foram também para ele 
um constante estímulo no aprofundamento do tema. Tão intenso chegou 
a ser este interesse nos últimos anos que, com seus alunos, fabricou um 
modelo do santuário do deserto – em uma escala equivalente na metade 
de seu tamanho original –, com todos seus móveis, mais as vestimentas 
para o supremo sacerdote e para um número adequado de sacerdotes, 
para fazer representações públicas do serviço do santuário, que foram 
muito apreciadas por milhares de espectadores cristãos e não cristãos. 
 
CRISTO NO SANTUÁRIO é uma obra escrita para benefício do 
estudante da Sagrada Escritura que, não sendo um especialista, está 
procurando uma informação que responda a suas indagações. Não 
pretende ser exaustiva. Entretanto, sua linguagem singela é também 
muito precisa, e vai acompanhado de constantes referências às línguas 
Cristo no Santuário 5 
originais e a obras de especialistas tanto cristãos como judeus. Por isso é 
também indispensável para o pastor e para o professor de teologia. 
 
CRISTO NO SANTUÁRIO não é uma análise estreita, limitada, do 
serviço do santuário do Antigo Testamento. Cristo é, realmente, o ponto 
focal da obra. O simbolismo rico e variado do santuário e seu serviço é 
explorado para poder entender melhor as múltiplos dimensões do plano 
da salvação por ele representadas. As implicações da missão atual de 
Cristo no santuário são claramente expostas com o propósito de ajudar 
ao cristão de hoje a conhecer melhor a seu Pontífice, que é também seu 
Advogado, e que finalmente tem que vir do santuário do céu "a julgar 
aos vivos e aos mortos". Com o calor e o carinho que fluem 
espontaneamente de uma mente que não só se familiarizou intimamente 
com o santuário mas também com o Senhor do mesmo, o leitor é levado 
passo a passo em uma exploração cada vez mais profunda do mistério da 
salvação. 
Estamos seguros de que a inspiração e o estímulo que a leitura desta 
obra significaram para quem assina, serão também o prêmio que 
receberá tudo novo leitor. 
Werner Vyhmeister 
Universidade Andrews 
Berrien Springs, Michigan 
Janeiro, 1980 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cristo no Santuário 6 
INTRODUÇÃO 
 
TEMPOS atrás fui convidado a dissertar sobre o tema "O santuário 
do deserto"; mas ao tentar me documentar quase não pude encontrar 
fontes de consulta em idioma espanhol. Procurei bibliografia em inglês, 
mas descobri que eram muito poucos os livros que se escreveram sobre o 
particular, com o agravante de que um bom número deles correspondiam 
a reimpressões de obras cujos autores tinham vivido no século passado. 
Dava-me conta de que a omissão era grave e que devia fazer algo 
para remediá-la. As bibliotecas têm milhares de títulos que tratam dos 
assuntos mais díspares, mas adoecem de uma pobreza franciscana quanto 
a material adequado sobre o tema central da contínua mediação de Cristo 
no santuário celestial (Heb. 7:25; 10:19-25) e sua relação com a doutrina 
da salvação. 
Aguilhoado pelo desejo de encontrar resposta às questões urgentes 
que me inquietavam, decidi investigar as fontes bíblicas e as obras 
eruditas que discutem o tema, e ao me fazê-lo encontrei comprometidoem uma aventura apaixonante. Logo descobri que o conjunto de 
símbolos do santuário, ao ser analisados da perspectiva que oferece o 
Novo Testamento, dão a solução à problemática que expõe a soteriologia 
ou doutrina da salvação mediante Jesus Cristo (1 Tim. 3:16). Notei além 
que a verdade do santuário – uma verdade religiosa singular, com 
aspectos peculiares e características estruturais próprias – constitui um 
meio muito eficaz para compreender o problema escatológico, que se 
refere aos acontecimentos finais. Finalmente, cheguei ao convencimento 
de que a doutrina do santuário está no próprio centro do complexo de 
verdades cristológicas que lhe dão ao povo remanescente (Apoc. 12:17) 
sua singularidade histórica e profética. Assim nas Escrituras Sagradas 
encontrei a resposta às perguntas que me tinha formulado. 
De uma perspectiva diferente, ao considerar o que sob inspiração 
divina E. G. White escreveu com respeito ao tema do santuário, descobri 
que ela faz quatro declarações notáveis sobre sua importância: 
Cristo no Santuário 7 
1. "O assunto do santuário e do juízo de investigação, deve ser 
claramente compreendido pelo povo de Deus".1 
2. "O santuário no Céu é o próprio centro da obra de Cristo em 
favor dos homens".2 
3. "A intercessão de Cristo no santuário celestial, em prol do 
homem, é tão essencial ao plano da redenção, como o foi Sua morte 
sobre a cruz".3 
4. "A compreensão correta do ministério do santuário celestial 
constitui o alicerce de nossa fé".4 
 
Em conclusão, devo antecipar que os capítulos que formam esta 
obra não pretendem esgotar o tema, mas foram concebidos para 
estimular o interesse do leitor e motivá-lo para uma busca mais 
comprometida da mensagem divina que nos é comunicada nos símbolos 
da estrutura, dos móveis e dos serviços do santuário. De qualquer 
maneira, atrevo-me a prognosticar que a experiência religiosa que se 
viva no encontro com Deus que "se fez carne e habitou entre nós" (João 
1:14), não só será, qualitativamente falando, de uma importância além de 
toda comparação, mas também além disso chegará a ser uma experiência 
radicalmente criadora. 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 E. G. de White, O Grande Conflito (Tatuí: Casa Publicadora, 2000), p. 488. (A ênfase nesta citação e 
em todas as demais é do autor, sendo também válido para todos os versículos da Bíblia.) 
2 Idem. 
3 Idem, pág. 489. 
4 ___________, Evangelismo (Tatuí: Casa Publicadora, 2000), pág. 221. 
Cristo no Santuário 8 
OS SANTUÁRIOS DE DEUS 
 
NOSSO estudo do ministério de Cristo no santuário 
necessariamente deve começar referindo-se ao santuário terrestre e à 
razão pela qual foi estabelecido. 
Deus ordenou construir o santuário do deserto para dar a seu povo 
uma lição objetiva das verdades espirituais e eternas.1 O Eu "habitarei no 
meio deles" de Êxodo 25:8 contém o vocábulo "habitar",2 que foi 
traduzido da palavra hebraica shakan, a qual, embora se traduz "habitar", 
"morar", "tabernacular", tem uma conotação ainda mais profunda, já que 
nos comunica a idéia de que esse "habitar" é o de um vizinho, alguém 
que quer estar perto e gozar de nossa amizade. Ainda em nossos dias, 
para os israelitas um shaken é a pessoa cuja amizade se deseja. 
O santuário do deserto foi o recinto sagrado onde Deus morava em 
meio de seu povo, mas obviamente isto é um símbolo de uma verdade 
superior: em vez de em templos materiais feitos pelo homem (Atos 
17:24), Deus quer morar no templo da alma humana (1 Cor. 3:16-17) 
para enchê-la3 com a glória do Espírito Santo, quem é o representante 
pessoal do Senhor Jesus Cristo, porque é "Cristo em vós, a esperança da 
glória" (Col. 1:27). 
Essencialmente são três os templos ou santuários dos quais nos fala 
a Escritura: (1) o do deserto (Êxo. 25:8); (2) o do céu (Heb. 8:1-2; Apoc. 
11:19), e (3) o templo humano (1 Cor. 3:16-17; 2 Cor. 6:16; Sal. 114:2). 
Como no santuário e seu serviço há uma quantidade de símbolos, 
vamos referir-nos brevemente a seu propósito. 
 
Valor do Símbolo 
 
Alguém se surpreende ao descobrir que a Escritura é um livro 
saturado de símbolos e ilustrações. O símbolo não é a linguagem dos 
filósofos. A diferença das idéias abstratas que só podem ser 
compreendidas por uma aristocracia intelectual, os símbolos constituem 
Cristo no Santuário 9 
uma linguagem acessível a todos, a pessoas cultas e iletradas, a adultos e 
a meninos.4 
A Escritura Sagrada do começo ao fim nos dá uma mensagem de 
significação eterna envolto no símbolo, que é acessível a toda 
mentalidade. Os símbolos da Escritura assinalam a Cristo, que é o 
coração e a periferia de toda mensagem apresentada tanto no Antigo 
Testamento como no Novo. 
A palavra hebraica shakan (habitar), da qual viemos falando, está 
relacionada com outro vocábulo hebreu, Shekinah,5 que, embora não 
aparece na Escritura, tem uma longa tradição nos escritos rabínicos. 
Deriva da mesma raiz da qual se origina shakan, e é usada para expressar 
a solene proximidade da presença de Deus entre seu povo. A idéia 
original expressa na palavra Shekinah nasce do Antigo Testamento, mas 
se amplia grandemente no Novo Testamento quando nos diz que o 
"Verbo se fez carne'' (João 1:14) e "habitou" ou tabernaculou entre nós. 
Deste modo atracamos à idéia de que o tabernáculo ou santuário foi 
ordenado por Deus para nos dar uma revelação objetiva do Senhor Jesus 
Cristo e de sua obra redentora. É na verdade a antecipação do 
Evangelho, já que a pessoa de Cristo como plenamente Deus e 
plenamente homem está delineada simbolicamente em todos seus 
aspectos, até os menores, no "tabernáculo do testemunho", em seu 
mobiliário e em seus serviços ou liturgia. 
 
Tempo e Santidade 
 
A palavra "santuário", que aparece na Escritura Sagrada 144 vezes e 
é usada para expressar a idéia de "santo", "lugar sagrado", "morada do 
santo",6 figura pela primeira vez em Êxodo 15:17, e se origina na palavra 
hebraica miqtlash, a que a sua vez deriva da raiz hebraica qadash, que 
comunica a idéia de "pôr à parte" algo, ou a alguém, separando-o assim 
para um uso sagrado. 
Cristo no Santuário 10 
Obviamente Deus é o Ser santo por excelência, e portanto tudo 
aquilo que entre em relação com Ele ou culto que se Lhe oferece tem que 
participar do atributo da santidade. 
O escritor judeu Abraham Joshua Heschel7 assinala acertadamente 
que uma das palavras mais significativas da Escritura é o essencial 
qódesh (santo), uma palavra, insiste ele, que "mais que qualquer outra é 
representativa do mistério e majestade do divino". Ora, na história deste 
mundo, qual foi o primeiro objeto santificado? Foi acaso uma montanha, 
um altar, uma pessoa? De maneira nenhuma. A primeira vez que se usa o 
verbo qadash na Bíblia Sagrada é no Gênesis, em relação com a história 
da criação, e quão significativo é o fato de que se aplique ao tempo: "E 
abençoou Deus o sétimo dia, e o santificou" (Gén. 2:3). "A santidade do 
tempo veio primeiro, a santidade do homem depois, e no fim a santidade 
do espaço. O tempo foi santificado por Deus; o espaço, o tabernáculo, 
por Moisés". 
 
Referências: 
1. E. G. de White, Patriarcas y profetas (Mountain View: Pacific 
Press, 1955), p. 372. 
2. Véase The Interpreter's Dictionary of the Bible (New York: 
Abingdon Press, 1955), t. 4, p. 498. 
3. F. C. Gilbert, Practical Lessons (Nashville: Southern Publishing 
Association, 1974), p. 153. 
4. V. Fatone, El hombre y Dios (Buenos Aires: Columba, 1958), pp. 
33-35. 
5. Véase The Interpreter's Dictionary of the Bible, art. "Shekinah". 
E. G. de White, El Deseado de todas las gentes (Mountain View: 
Pacific Press, 1955), p. 705; y Patriarcas y profetas, p. 360. 
6. Véase The Seventh-Day Adventist Bible Dictionary, pp. 1058-60. 
7. Véase A. J. Heschel, The Sabbath (New York: Harper 
Torchbooks, 1966), pp. 8-10. 
 
Cristo no Santuário 11 
OS MÓVEIS DO SANTUÁRIO 
 
O Altar do Holocausto 
 
AOCONSIDERAR os móveis do santuário é necessário lembrar 
que este foi construído com base num esquema que contempla três 
seções claramente discerníveis: o átrio, o lugar santo (qódesh) e o lugar 
santíssimo (qódesh qodashim). Ao atravessar a primeira porta, a do átrio, 
o objeto ou móvel com o qual nos enfrentamos imediatamente é o altar 
dos holocaustos, que é designado de duas maneiras diferentes nas 
Escrituras Sagradas. 
1. É chamado "altar" (Êxo. 28:43; 29:12, 44; 30:20). A palavra 
hebraica usada aqui (mizbéaj) significa "lugar de sacrifício", mas a 
palavra latina da qual deriva o vocábulo português "altar" carrega a idéia 
de "lugar alto". 
2. Também é denominado "altar do holocausto'' (Êxo. 30:28; 31:9; 
35:16; 38:1; 40:6, 10, 29; Lev. 4:7, 10, 18). O vocábulo "holocausto" não 
expressa em nossa língua toda a riqueza de conteúdo que tem no 
hebraico. Provém do original 'olah, que significa "o que ascende", e pode 
comunicar a idéia de entrega total e sem reservas em "aroma suave" a 
Deus, que por sua vez aceita a oferenda de consagração enviando o 
"fogo divino" para consumi-la (Lev. 9:24). 
 
Cristo no Santuário 12 
O ALTAR DOS SACRIFÍCIOS 
 
 Símbolo Realidade 
Sacrifício a Deus aceito como Cristo se deu como "oferenda e sacrifício 
"aroma agradável" (Lev. 1:9). a Dios en aroma suave" (Efés. 5:2). 
Deus se encontrava com seu "Somos santificados mediante a 
povo e santificava o lugar oferenda do corpo do Jesus Cristo" 
(Êxo. 29:38-43). (Heb. 10:8-10). 
O corpo inteiro era consumido Devemos apresentar nossos corpos 
no altar (Lev. 1:2-9,13,17). em sacrifício vivo, santo e agradável 
 a Deus (Rom. 12:1). 
A oferta era derramada Cristo "derramou" seu sangue e sua alma 
ante o Senhor (Gén. 35:14). (Isa. 53:12). 
Uma oferenda adicional era Quem rende sua vida a Jesus, como 
derramada sobre o sacrifício um sacrifício, glorifica a Deus 
consumido no altar (Núm. 15:8-10). (Filip. 2:16-17). 
 
Materiais e Dimensões do Altar 
 
A madeira e o cobre ou bronze foram os materiais usados para 
construir o altar (Êxo. 27:1-8; 38:1-7), e suas medidas eram: cinco 
côvados de comprimento por cinco de largura e três de altura (o côvado 
mede aproximadamente meio metro). 
As dimensões do altar eram suficientemente amplas como para que 
todos outros móveis e utensílios do santuário – nos referimos ao 
santuário do deserto – coubessem dentro dele. Este fato parecesse sugerir 
a idéia de que na cruz de Cristo se concentram todas as demais bênçãos 
do Evangelho. No altar se vê a bondade e a severidade de Deus: bondade 
para nós os pecadores, e severidade para a vítima vicária que leva nossos 
pecados (Rom. 11:22). Além disso, o altar do holocausto nos ensina que 
as demandas divinas e os direitos irrenunciáveis do Criador têm que ser 
satisfeitos antes de o crente poder fruir da comunhão com Ele. Sua 
Cristo no Santuário 13 
posição como primeiro móvel do átrio sugere que não há acesso a Deus a 
não ser por meio de um sacrifício. O altar antecipa simbolicamente a 
mensagem evangélica de que Jesus é "o caminho, e a verdade, e a vida'', 
e que "ninguém vem ao Pai'' a não ser por ele (João 14:6). 
 
O Sangue e Sua Mensagem 
 
É um fato básico da simbologia bíblica que o sangue relacionado ao 
altar carrega a idéia de expiação (Rom. 5:9-10; Apoc. 12:11), visto que 
fomos "resgatados ... com o sangue precioso de Cristo, como de um 
cordeiro sem mancha e sem contaminação" (1 Ped. 1:18-20). 
Na Epístola aos Hebreus se destacam dois usos principais do 
sangue: (1) foi aspergido para confirmar o pacto (Heb. 9:19-20), e (2) foi 
o meio para a expiação (cap. 9:22). 
A palavra hebraica usada para expiação (kafar) comunica três 
matizes de significação muito importantes: 
1. Cobrir ou tapar, da maneira como a galinha cobre seus pintinhos 
quando prevê um perigo; ou como no caso do Noé, betumando o arca 
"por dentro e por fora" (Gên. 6:14). 
2. Purgar ou limpar. Em Levítico 16:16 menciona-se que o sangue 
é usado para purificar (kafar) o santuário das " impurezas" dos filhos de 
Deus, simbolizando a Cristo, que "nos purifica de todo pecado" (1 João 
1:7). 
3. Finalmente kafar comunica a idéia de aplacar a ira. Por exemplo, 
quando Jacó soube que seu irmão Esaú ia a seu encontro com 
quatrocentos homens armados, disse: "Apaziguarei sua ira" (Gén. 32:20). 
Aqui se usa a mesma palavra kafar. Quão maravilhoso é o amor de 
Deus! É tanto, que permite que "sobre Cristo como substituto e fiador 
nosso'' descarregue-se a justiça de Deus. Na cruz "o sentimento do 
pecado, trazendo a ira divina sobre Ele... quebrantou o coração do Filho 
de Deu".1 
 
Cristo no Santuário 14 
Usos do Sangue 
 
Na verdade o sangue representa a vida do animal morto (Lev. 
17:11), e tinha valor sempre que o animal tivesse morrido. Assim que o 
pecador é "reconciliado pela morte" de Cristo, e é salvo "por sua vida", a 
vida de perfeita obediência que Ele viveu antes de morrer (Rom. 5:10). 
O sangue foi usado no santuário de três maneiras diferentes: 
1. Aspergido. Por exemplo, no dia da expiação (Lev. 23) o supremo 
sacerdote, vestido com sua roupa branca, entrava em lugar muito santo e 
aspergia o sangue da expiação "diante" do altar do incenso, e "sobre" ele 
(Lev. 16:15-16; 16:19). 
2. Sobre os chifres. Em certos casos o sangue era posto nos chifres 
do altar dos holocaustos e do altar do incenso para indicar o perdão do 
pecado e o registro desse perdão (Lev. 4:7, 18, 25, 30, 34). 
3. Derramado. O sangue restante do animal era derramado ao redor 
do altar como uma indicação concludente de que Deus tem abundante 
graça para cobrir a todo pecador (Lev. 4:7, 18, 25, 30, 34). 
Ao falar dos holocaustos é interessante notar que duas vezes se repete 
o mandato de que "o fogo aceso sobre o altar não se apagará", porque 
"arderá continuamente no altar" (Lev. 6:12-13). Isto parecesse referir-se em 
boa medida ao feito de que de dia e de noite, ao longo das 24 horas, havia 
um holocausto consumindo-se sobre o altar. O povo podia repousar com 
confiança porque o "suave aroma" do sacrifício atestava do cuidado 
protetor de Deus. Por outro lado na simbologia bíblica, o fogo parecesse ser 
o símbolo que melhor expressa a mensagem da ira e do julgamento de 
Deus. No altar o fogo é uma antecipação do julgamento divino contra o 
pecado, porque "nosso Deus é fogo consumidor" (Heb. 12:29). 
 
A Bacia de Bronze 
 
O altar dos holocaustos e a bacia de bronze (Êxo. 38:8; 30:17-21) 
eram os móveis que se encontravam no átrio do santuário. Não temos 
Cristo no Santuário 15 
informação bíblica quanto ao tamanho e à forma da bacia de bronze, mas 
sabemos que foi construída usando os espelhos de bronze "das mulheres 
que se reuniam para ministrar à porta da tenda da congregação" (Êxo. 
38:8). 
Aqui se introduz um novo metal, o bronze. O ouro era usado 
exclusivamente no interior do santuário e nos móveis do lugar santo e do 
santíssimo. A prata, o cobre e o bronze foram os metais usados no átrio e 
com os quais se fabricaram os utensílios relacionados com o altar. O 
bronze parecesse representar a firmeza, a solidez e a incorruptibilidade 
dos mandatos de Deus. À medida que o crente vê refletidas as 
deformidades de seu caráter no espelho de Deus – o qual corresponde à 
Sua Palavra e Seus mandamentos (Tiago 1:23-25) –, o poder divino 
penetra em sua vida e, avivando sua consciência, o conduz aos pés da 
cruz, onde nosso Senhor nos transforma "mediante o lavar regenerador e 
renovador do Espírito Santo" (Tito 3:5). 
 
A BACIA DE BRONZE 
 Símbolo Realidade 
"Farás também uma bacia de bronze ... A água representa ao Espíritopara lavar. Pô-la-ás entre a tenda da Santo (João 7:37-39) 
congregação e o altar, e deitarás Representa a Palavra 
água nela " (Êxo. 30:18). (João 13:10; 15:3; Efés. 5:26) 
Ver Patriarcas y profetas, p. 359. Representa o batismo 
 (João 3:5; Rom. 6:3-6;1 João 5:8). 
Cristo no Santuário 16 
"Lavo as mãos na inocência e, assim, andarei, SENHOR, ao redor 
do teu altar" (Sal. 26:6). 
"Há diante do trono um como que mar de vidro, semelhante ao 
cristal" (Apoc. 4:6). 
"Então, me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, 
que sai do trono de Deus e do Cordeiro" (Apoc. 22:1). 
 
Água e sangue 
 
De muitas e diversas maneiras somos ensinados na Escritura que 
um dos atributos de Deus é a santidade. O sacerdote da antiga 
dispensação, da ordem aarônica, podia chegar-se a Deus pela água e pelo 
sangue. No altar dos holocaustos o sangue fala da justiça de Deus, e da 
justificação que é imputado vicariamente ao crente. Na bacia de água se 
indica o passo seguinte, o da santificação. Mediante estes dois símbolos 
se expressa claramente que Cristo nos é feito por Deus "justificação, 
santificação e redenção" (1 Cor. 1:30). 
Jesus veio com o fim de ser a fonte de pureza para o homem. Por 
meio de Cristo, o pecador chega a formar parte do povo de Deus. E isso 
é possível porque o Salvador veio "mediante água e sangue" (1 João 
5:6). 
 
A Mesa dos Pães da Proposição. 
 
Não temos certeza se as dimensões da mesa2 que aparece no Arco 
do Tito, em Roma, correspondem à realidade ou não. No entanto 
sabemos que Tito Vespasiano, depois de derrotar os judeus na cruenta 
batalha do ano 70 de nossa era, levou a Roma como troféu de sua vitória, 
entre outras relíquias, a mesa dos pães da proposição, e a colocou no 
Templo da Paz. Há informações que parecessem indicar que este móvel 
sagrado, depois de passar à mãos dos vândalos, foi recuperado pelo 
Belisário3 e devolvido a Jerusalém no século VI. 
Cristo no Santuário 17 
 
 
 
A MESA DOS PÃES 
 
 Símbolo Realidade 
O pão da proposição sempre Cristo disse: "Eu sou o pão 
estava ante a presença do Jeová de vida" (João 6:48). 
(Êxo. 25:30). 
Havia doze tortas feitas com flor Ao falar da igreja, Paulo diz: 
de farinha (Lev. 24:5). "Porque nós, embora muitos, 
 somos unicamente um pão, 
 um só corpo; porque todos 
 participamos do único pão." 
 (1 Cor. 10:17). 
 
Formas e Medidas 
 
A Escritura Sagrada nos informa que a primeira mesa (Êxo. 25:23-
28; 37:10-15) foi construída de madeira de acácia e totalmente recoberta 
de ouro. Media dois côvados de comprimento por um de largura e um e 
meio de altura. 
Cristo no Santuário 18 
Vários autores, entre eles Edersheim, insinuam que os pés da mesa 
tinham a forma das de um cordeiro, unidas em sua parte superior por um 
prato de ouro, o qual estava rodeado de uma coroa de ouro. Na verdade, 
segundo indicações bíblicas a mesa tinha uma dupla coroa de ouro que a 
rodeava em todo seu contorno. A simbologia nos autoriza a supor que 
esta dupla coroa assinala a Jesus que, como "rei e sacerdote"4 (Heb. 7), 
foi "coroado de glória e de honra" (Heb. 2:9). Por outro lado a madeira 
de acácia simboliza a humanidade de nosso Senhor, e o ouro, sua 
divindade, e o fato de que a mesa estava no lugar santo poderia assinalar 
ao Cristo glorificado nos céus (Heb. 10:12-13; Filip. 2:8-11; Heb. 2:9). 
 
O Pão 
 
O sentido messiânico da mesa dos pães é testemunhado pelo Senhor 
quando Se refere à experiência de Davi (Mat. 12:4; Mar. 2:25-26; Luc. 6:3-
4). Ao pedido de Davi, o sacerdote respondeu: "Não tenho pão comum à 
mão, somente tenho pão sagrado" (1 Sam. 21:4). Então Abimeleque lhe 
deu o "pão sagrado", pão que era renovado cada sábado (Lev. 24:5-8). 
Agora, devemos recordar que uma mesa é um lugar de amizade e 
comunhão onde a "fome de pão" fica satisfeita. Nesta mesa especial se 
colocavam doze pães em duas pilhas, e sobre cada pilha ficava incenso 
(Lev. 24:7). Isto representa o alimento espiritual que Cristo nos dá, o 
qual se renova constantemente, assim como os pães da mesa do santuário 
se renovavam cada semana, segundo já se destacou. Jesus é o "pão da 
vida" que desceu do céu para alimentar a um mundo faminto de simpatia 
(João 6:32-35). 
O número de pães, doze, pareceria indicar que há alimento 
suficiente para todos. A idéia de plenitude fica realçada pela coroa de 
ouro que rodeava e protegia o pão. Os crentes são aceitos e alimentados 
por Deus "no Amado". A "comunhão" da mesa não só é entre os crentes 
mas também com o Senhor (1 Cor. 10:16-17). 
 
Cristo no Santuário 19 
O Pão e o Sábado 
 
Uma das maravilhas da graça é que temos "comunhão ... com o Pai, 
e com seu Filho Jesus Cristo" (1 João 1:3), e essa comunhão se converte 
em dimensão existencial ao redor da mesa dos pães da proposição. 
A expressão "pão da proposição" (Êxo. 25:30; 35:13; 39:36) vem-
nos da frase cunhada pela Vulgata, pães praepositionis. Uma tradução 
mais próxima seria "pão de sua face" ou "pão da presença de Deus", esta 
última expressão semelhante a "anjo de sua face" (Isa. 63:9). 
O "pão sagrado" é um "pão contínuo" ou "perpétuo" (Núm. 4:7), 
renovado5 cada sábado sem interrupção. Quem o renovava cada sábado 
estabelece uma relação íntima entre o descanso espiritual (Gên. 2:1-3) e 
o gozo da presença de Cristo em nós, que faz do tempo sabático uma 
antecipação da eternidade. 
 
O Candelabro 
 
Sem que o tivesse proposto deliberadamente, Tito Vespasiano, o 
conquistador romano que arrasou Jerusalém (70 d. C. ), contribuiu a que 
o candelabro* chegasse a ser um símbolo distintivo do povo judeu. Não 
temos forma de corroborar se as dimensões do candelabro que aparecem 
em seu Arco de Triunfo em Roma correspondem com o original, mas 
suas medidas são impressionantes: mais de um metro e meio de altura. 
A Escritura não dá as medidas (Êxo. 25:31-40), mas sim informa 
que entregou ao Bezaleel um talento de ouro e lhe indicou que fizesse 
um candelabro usando fogo e martelo em sua construção. O artefato 
resultou ser o mais elaborado e belo de todo o mobiliário. 
 
 
* Nota: Segundo o Aurélio, candelabro significa: Grande castiçal com ramificações, a cada uma das 
quais corresponde um foco de luz. Por isso esta palavra "candelabro" para referir-se a este móvel do 
santuário é preferível porque ela, por definição, corresponde melhor que candeeiro para descrever a 
peça que estamos descrevendo. 
Cristo no Santuário 20 
 
O CANDELABRO 
 
 Símbolo Realidade 
O candelabro de ouro estava no João viu o candelabro no céu 
primeiro aposento (Êxo. 40:24). (Apoc. 1:12). 
Tinha sete lâmpadas (Êxo. 25:37). João viu as sete lâmpadas 
 ardendo diante do trono de 
 Deus (Apoc. 4:2, 5). 
O sumo sacerdote enfeitava João viu cristo nosso sumo 
as lâmpadas pela manhã sacerdote, em meio dos 
e ao entardecer (Êxo. 30:7-8). castiçais (Apoc. 1:12-18). 
As lâmpadas ardiam O Espírito Santo ilumina a todos, 
continuamente (Lev. 24:2). aceitem-no ou não (João 1:9). 
"Eu sou a luz do mundo" (João 8:12). 
"Vós são a luz do mundo" (Mat. 5:14-16). 
 
Breve história do candelabro 
 
O rei Salomão substituiu o candelabro original do Bezaleel comoutros dez (1 Rei. 7:49), cinco dos quais foram colocados ao lado direito 
do lugar santo, e cinco ao esquerdo. 
Cristo no Santuário 21 
Com a invasão babilônica (século VI A. C.) e a posterior queda de 
Jerusalém à mãos do Nabucodonosor, a riqueza do templo foi parar na 
cidade de Babilônia. O rastro desses castiçais se perde na bruma da 
história e o templo jamais os recuperou (Jer. 52:19). 
No segundo templo, chamado de Zorobabel, há um só candelabro, o 
qual passou à mãos do iníquo Antíoco IV Epífanes depois que este havia 
profanado o templo (1 Macabeus 1:20-21). Apesar dessa tragédia, o 
templo não ficou desprovido de candelabro já que Herodes o Grande o 
repôs e reconstruiu o santuário levando seu esplendor a alturas jamais 
superadas. Mas as vicissitudes da política fizeram que a lâmpada 
colocado ali pelo rei idumeu fora parar às mãos dos romanos no ano 70 
d. C. Este candelabro é o que foi perpetuado no Arco de Tito. 
 
Simbolismo do candelabro 
 
Todo móvel ao qual é dado um uso exclusivamente religioso e toda 
atividade cúltica que encerre em sua estrutura ou em sua função um 
significado espiritual presente, podem considerar-se simbólicos. Se além 
do indicado projetam ou antecipam uma bênção futura, constituem um 
tipo religioso, o qual, estritamente definido, é uma prefiguração da 
economia da salvação do Novo Testamento nos fatos e nas pessoas do 
Antigo Testamento. 
Todos os móveis do santuário do deserto enquadram perfeitamente 
dentro da dupla caracterização que demos que de símbolo e tipo. 
Entretanto, ao longo desta obra preferimos usar o primeiro conceito por 
ser mais compreensível. 
O candelabro (em hebreu menorah) da antiga dispensação, 
construído de ouro puro, tinha base e caule, e deste último saíam 
simetricamente três braços de cada lado, os que, somados ao do centro, 
completavam o número sete da perfeição. Cada braço de por si constava 
de três cálices à maneira de flor de amendoeira, com seus globos e lírios. 
Cristo no Santuário 22 
Os sete braços rematavam em sete lâmpadas, que deviam permanecer 
acesas dia e noite (Êxo. 25:31-40; 27:20; 37:17-24; Lev. 24:2-3). 
Além de sua qualidade estética para o embelezamento do lugar 
santo, a lâmpadas estava ali essencialmente para iluminar. A luz se 
projetava em três direções: 
1. Iluminava "diante do Senhor" (Êxo. 40:25), e nesse marco era o 
símbolo da presença permanente de Deus em meio de Seu povo (Apoc. 
4:5). Devia iluminar de contínuo, pois de haver-se apagado teria 
comunicado uma mensagem de julgamento e de morte (1 Sam. 3:3). 
2. Iluminava "defronte da mesa" (Êxo. 26:35), realçando o pão 
como símbolo do alimento espiritual que Deus dá a Seu povo. A fome da 
alma se satisfaz quando nos deixamos guiar pela luz do Espírito Santo. 
"Ninguém pode chamar Jesus Senhor, a não ser pelo Espírito Santo" (1 
Cor. 12:3). 
3. Em terceiro lugar a lâmpada iluminava "defronte do candelabro" 
(Núm. 8:2; Êxo. 25:37). A luz e o testemunho vão unidos. A luz aqui é 
um símbolo da iluminação do Espírito Santo por meio do qual o templo 
da alma humana fica iluminado para a glória de Deus. "Assim brilhe 
também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas 
obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus" (Mat. 5:16). 
 
Avivando a Mecha 
 
A ação diária de avivar a mecha6 era exclusiva do sacerdote. 
Somente o sacerdote, um símbolo de Cristo, podia remover a parte 
queimada. Só ele podia adicionar o azeite de oliva e atiçar a mecha para 
que sua luz brilhasse melhor. O que se procurava ao avivar a mecha era 
que a parte queimada desaparecesse para que o azeite pudesse fluir 
livremente, e assim se enriquecesse e avivasse a chama. 
Para cumprir com seu propósito, a mecha devia desprender-se 
daquilo que, embora lhe era natural, não era útil segundo o plano de 
Deus. Do mesmo modo se pode dizer que "não há limite para a utilidade 
Cristo no Santuário 23 
de quem, pondo de parte o próprio eu, dá lugar à obra do Espírito Santo 
no coração, e vive vida inteiramente consagrada a Deus".7 A vida e a luz 
avançam da mão. A vida se apóia na luz, e a luz se identifica com a vida. 
"Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens" (João 1:4). 
 
O Altar do Incenso 
 
Os altares estiveram relacionados com a atividade religiosa dos 
povos, e há provas arqueológicas de seu uso em muitas culturas. Sobre 
eles se ofereciam sacrifícios de animais ou se queimava incenso. Alguns 
foram feitos de pedras ou de terra; outros, como no caso do santuário do 
deserto, de madeira com revestimento metálico. Embora, dos começos 
da história, a Escritura Sagrada fala de sacrifícios oferecidos a Deus, o 
primeiro altar do qual temos informação é o que Noé construiu depois do 
dilúvio (Gên. 8:20). 
 
O santuário do deserto tinha dois altares, o altar do holocausto que 
já descrevemos, e o do incenso (Êxo. 30:1-10). Este último, às vezes 
chamado "altar de ouro" (cap. 40:5; 39:38), foi colocado no lugar santo, 
diante do véu que separava o lugar santo do santíssimo (cap. 40:26). Foi 
construído com madeira de acácia e foi totalmente recoberto de ouro. 
 
O altar do incenso media dois côvados de altura, e sua coberta 
quadrada tinha um côvado de lado. Rematava-o uma coroa de ouro e em 
cada esquina tinha um chifre (cap. 37:25-27). Sobre os chifres se 
colocava o sangue da expiação quando o sacerdote ou a congregação 
pecavam e também no dia da expiação (Lev. 4:7, 18; 16:18). O incenso 
que o sacerdote colocava sobre as brasas participava de certas 
características especiais (Êxo. 30:34-38), e devia ser oferecido duas 
vezes por dia, continuamente (cap. 30:7-8), em cerimônias estipuladas. 
 
 
Cristo no Santuário 24 
 
 
O ALTAR DO INCENSO 
 
 Símbolo Realidade 
 
Este altar estava diante do Um altar de ouro diante do trono de 
véu, no santuário terrestre Deus, no céu (Apoc. 8:3). 
(Êxo 30:1-3; 40:26). 
De manhã e à tarde o sumo Muito incenso é acrescentado às 
sacerdote queimava incenso orações dos Santos 
sobre o altar do incenso (Apoc. 8:3-4). 
(Êxo. 30:7-8). 
A pessoa que queimava incenso O que se cubra com o manto de 
com fogo estranho era destruída justiça humana será finalmente 
(Êxo. 30:9; Lev. 10:1-9). destruído (Isa. 64:6; Mat. 12:11-13). 
"E, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e 
quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles 
uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos 
santos" (Apoc. 5:8). 
 
Cristo no Santuário 25 
A Queima do Incenso 
 
Ao princípio o sumo sacerdote Arão estava encarregado da queima 
do incenso (Êxo. 30:7-8), mas posteriormente, devido a que o número 
dos sacerdotes tinha aumentado muito, as tarefas próprias do culto foram 
distribuídas entre 24 ordens ou grupos (1 Crôn. 24), os quais deviam 
servir nas atividades do templo8 duas vezes ao ano, uma semana cada 
vez. 
Como se distribuíam as tarefas entre os sacerdotes que estavam de 
turno? O Evangelho de Lucas indica que isso se determinava lançando 
sortes: a Zacarias havia tocado "em sorte" queimar o incenso (Luc. 1:9). 
A queima do incenso era a tarefa mais sagrada de todas as que 
podia realizar o sacerdote. Era-lhe dada a oportunidade de chegar até o 
véu, atrás do qual se escondia o arca do pacto. No tempo de Zacarias se 
interpretava como um favor superlativo da parte de Deus o ato de um 
sacerdote poder oficiar na queima do incenso; não se concebia que o 
fizesse pela segunda vez.9 
 
Simbolismo do Incenso 
 
A queima do incenso coincidia com o momento em que o povo 
elevava suas preces. Davi dizia: " Suba à tua presença a minha oração, 
como incenso, e seja o erguer de minhas mãos como oferenda 
vespertina" (Sal. 141:2), e seu pensamento coincide com o registradoem 
Apocalipse: "E da mão do anjo subiu à presença de Deus a fumaça do 
incenso, com as orações dos santos" (Apoc. 8:4). 
O altar do holocausto e seus sacrifícios nos comunicam uma 
verdade fundamental: em Cristo há reconciliação perpétua, enquanto 
que o altar do incenso, onde se oferece o perfume santo, insígnia que 
Cristo intercede em forma perpétua. O altar do incenso representa a 
Cristo como o meio eficaz através do qual elevamos a Deus nosso 
louvor. Não há razão para duvidar: o louvor do crente e sua adoração 
Cristo no Santuário 26 
são, em seu sentido mais profundo, a oferenda de amor que em Cristo é 
dado a Deus.10 
No "mistério da piedade" os crentes constituem o "sacerdócio 
santo" que oferece ao Criador "sacrifícios espirituais aceitáveis... por 
meio do Jesus Cristo" (1 Ped. 2:5). 
Portanto, os dois altares devem ser estudados e compreendidos 
como a expressão multifacética de uma verdade essencial: o sacrifício é 
a sala de espera do louvor (Heb. 13:13-15). 
 
O Lugar Santíssimo 
 
Uma auréola de mistério rodeia o desaparecimento do "arca da 
aliança" (Núm. 10:33). No capítulo dois do segundo livro dos Macabeus 
se conserva uma tradição segundo a qual o profeta Jeremias "mandou 
levar" o arca até o monte Nebo e ali a escondeu em uma cova," 
tampando a entrada". A mesma tradição anuncia que Jeremias teria dito: 
"O lugar permanecerá incógnito até que Deus realize a reunião do seu 
povo, mostrando-se misericordioso" (2 Mac. 2:7, Bíblia de Jerusalém). 
No segundo templo, o do Zorobabel, a única coisa que ficou no 
lugar santíssimo foi uma pedra11 que se elevava uns três dedos acima da 
superfície do chão e que veio a conhecer-se com o nome da "pedra 
fundamental". Sobre ela o sumo sacerdote colocava o incensário de ouro 
quando oficiava no dia da expiação (Lev. 16). 
 
A Arca da Aliança 
 
O lugar muito santo (qódesh qodashim), onde estava o "arca do 
testemunho" (Êxo. 25:22; 26:33-34), ficava separado do lugar santo 
(qódesh) mediante uma cortina chamada "o véu" (Heb. 9:3). Este véu 
tinha dez côvados de altura, e o material usado era linho retorcido, estofo 
azul, púrpura e carmesim. Tinha adornos de anjos bordados e estava 
suspenso de colchetes de ouro. Os quatro pilares ou colunas que 
Cristo no Santuário 27 
sustentavam a estrutura do cortinado eram de madeira de acácia e 
estavam revestidos de ouro, e as bases eram de prata (Êxo. 26:31-33). 
Agora, segundo o registro bíblico (cap. 25:10-22; 26:33) a arca da 
aliança era o único móvel que havia dentro do lugar santíssimo. Estava 
construída de madeira de acácia e recoberto de ouro por dentro e por 
fora. Media dois côvados e meio de comprimento por um e meio de 
largura. A cobertura ou tampa, chamada o propiciatório – "assento da 
misericórdia" –, era de ouro puro e tinha em cima dois querubins, os 
quais formavam com o propiciatório uma só peça. O propiciatório estava 
rodeado de uma coroa também de ouro. O arca foi o receptáculo das 
tábuas da lei (Deut. 9:9, 11, 15), as que por sua vez eram testemunhas da 
aliança que Deus tinha acordado com Seu povo. 
 
 
A ARCA DA ALIANÇA 
 
 Símbolo Realidade 
O arca se achava no lugar A arca foi vista por João no 
santíssimo (Êxo. 26:33). santuário celestial (Apoc. 11:19). 
A presença visível de Deus O Senhor dá Seu nome como 
manifestava-se sobre o "misericordioso e piedoso" 
"propiciatório" (Êxo. 25:21-22). (Êxo. 34:5-7). 
Cristo no Santuário 28 
Deus falava pessoalmente com Deus no céu está sentado 
Moisés da arca para dirigir sobre um trono excelso (Isa. 6:1-5; 
a Seu povo (Núm. 7:89). Jer. 17:12; Hab. 2:20; Sal. 11:4). 
"Eu estava no Espírito; e hei aqui, um trono estabelecido no céu, 
e no trono, a gente sentado" (Apoc. 4:2). 
 
O Trono de Deus e o Propiciatório 
 
O arca foi o lugar privilegiado onde Deus escolheu manifestar sua 
presença perpétua em meio de Seu povo (Êxo. 25:21-22), e em certo 
sentido também foi a sede do trono de Deus (1 Sam. 4:3-7) ou Seu 
estrado (1 Crôn. 28:2). Tinha que ser um testemunho contínuo e 
invariável de sua presença diária (Êxo. 33) conosco. É que devia ser um 
símbolo de que Deus esteve e está "conosco" nAquele que é Emanuel 
(Mat. 1:21-23). 
 
Voltemos agora para propiciatório. A palavra hebraica kappóreth, 
que leva implícita a idéia de "cobrir", traduziu-se como hilastérion na 
versão grega dos LXX, como propitiatorium na Vulgata latina, e como 
"propiciatório" em nosso idioma. 
 
No Novo Testamento Jesus passa a ocupar o lugar do templo (João 
2:19-22) e do arca porque ele em si é o único lugar na terra onde Deus 
está presente em sua plenitude (Couve. 2:9), e, conseqüentemente, chega 
a ser o instrumento da Onipotência para redimir ao mundo (2 Cor. 5:19). 
Jesus, ao ser "enviado", chega a ser por decreto divino (Heb. 5:7-9) Rei, 
Profeta e Sacerdote, mas fundamentalmente ele é o único (João 3:16) 
hilastérion, a única propiciação ou oferenda expiatória (Rom. 3:25 ) da 
eterna aliança, já que em Cristo se feito a única aspersão que tira os 
pecados do mundo (Heb. 9:12, 22-28). 
 
 
Cristo no Santuário 29 
Sete Passos Fundamentais 
 
Assim, na simbologia do santuário do deserto a "casa do 
propiciatório" ou beth hakkappóreth (1 Crôn. 28:11) é o passo 
culminante e final de uma série de sete passos no caminho da salvação: 
1. Na porta do átrio se reconhece a necessidade de salvação. A 
justiça humana é como "trapo de imundície" (Isa. 64:6). 
2. No altar do holocausto, o "Cordeiro de Deus" (João 1:29), Cristo 
Jesus, é devotado em sacrifício cruento e imolado por todos nós. A 
justiça de Cristo nos é imputada. 
3. Na bacia de bronze há limpeza e purificação. É-nos repartida a 
justiça de Cristo no longo e penoso processo da santificação (Heb. 12:6-
11). 
4. No altar do incenso há intercessão contínua. Jesus vive sempre 
para interceder por nós (Heb. 7:24-25). 
5. Na mesa dos pães há comunhão com Deus e com nossos irmãos. 
Cristo é o "pão da vida" que nos alimenta (1 Cor. 10:16-17). 
6. No candelabro de ouro temos a união da vida e a luz, e o Espírito 
Santo atesta em favor de Cristo por meio da igreja (Mat. 5:14-16). 
7. Na arca do pacto a justiça e a misericórdia se encontram em 
Cristo. Se deixarmos que seu sangue nos limpe e vivermos em 
obediência, algum dia veremos o Senhor face a face (Apoc. 22:3-4). 
 
Referências: 
1. E. G. White, O Desejado de Todas as Nações, pág. 735. 
2. A palavra hebraica para mesa é shuljon e provém de uma raiz que 
significa "enviar". A mesma palavra aparece no João 9:7. 
3. Alfred Edersheim, The Temple (Grand Rapids, Michigan: Wm. 
B. Eerdmans, 1972), P. 183. 
4. E. G. White, Atos dos Apóstolos, pág. 39. 
Cristo no Santuário 30 
5. O pão velho era distribuído entre os sacerdotes salientes, porém 
no tempo de Cristo o sumo sacerdote tinha direito à metade dos 
pães (ver Edersheim, Op. cit., P. 103). 
6. A roupa velha dos sacerdotes era usada no tempo de Cristo para 
fabricar a mecha do candelabro (Edersheim, Op. cit., P. 99). 
7. Testemunhos Seletos, vol. 3, pág. 36. 
8. Edersheim, Op. cit., pág. 158. 
9. Ibid. 
10. "O incenso que subia com as orações de Israel, representa os 
méritos e intercessão de Cristo, Sua perfeita justiça". Patriarcas e 
Profetas, p. 353. 
11. Herbert Danby, The Mishnaah (London: Oxford University 
Press, 1933), P. 16. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cristo no Santuário 31 
OS "VÉUS" DO SANTUÁRIO 
 
NO "tabernáculo do testemunho"1 havia três "véus", e nos três 
casos o véu pode ser um símbolo de nosso Senhor, cuja "carne" (Heb. 
10:20) foi "rasgada" por nós e cujo "precioso sangue" (1 Ped. 1:19) 
consagrou-nos um "novo e vivo" caminho2 para entrar na presença de 
Deus. 
 
Simbolismo da Cor 
 
O primeiro desses véus,feito de linho torcido, era na verdade a 
tapeçaria ou cortina que estava à porta do átrio e fazia as vezes de tal 
(Êxo. 27:16). Suas cores eram os mesmos que os do véu que dava 
entrada ao lugar santo: azul ou azul violáceo, escarlate e carmesim, e 
transmitiam ao pecador uma mensagem muito significativa, a mensagem 
das cores.3 
Que verdade espiritual queria gravar nosso Senhor na mente dos 
israelitas mediante a cor azul? Primeiro, que eles formavam parte do 
povo de Deus, e segundo, que a fidelidade é a base de toda relação com o 
Eterno. A cor azul, que é a cor do céu (Êxo. 24:10), fala-nos basicamente 
do caráter de nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito na manifestação do 
amor de Deus. Este amor põe a obediência como fundamento de toda 
justiça já que, "como pela desobediência de um homem os muitos foram 
constituídos pecadores, assim também pela obediência de um, os muitos 
serão constituídos justos" (Rom. 5:19, Versão Reina-Valera). 
Enquanto que a cor azul do santuário nos fala de Jesus, o 
mensageiro celestial que devia habitar (João 1:14) com os homens, a cor 
carmesim, por outra parte, ilustra o poder que há na "sangue precioso" do 
Cordeiro (1 Ped. 1:18-19), derramado por nós para a redenção do 
pecador. A cor púrpura, por sua vez, lembra que Jesus é Rei eterno e 
Sacerdote imortal (João 19:5; Heb. 5:10). 
Cristo no Santuário 32 
O derramamento do Espírito Santo no dia do Pentecostes foi para os 
discípulos a evidência de que Jesus tinha sido "entronizado em meio à 
adoração dos anjos";5 o sinal do céu para lhes anunciar que, "como 
Sacerdote e Rei, [Jesus Cristo] recebera todo o poder no Céu e na Terra, 
tornando-Se o Ungido sobre Seu povo". 
Finalmente, a cor branca do linho representa a humanidade perfeita 
do Salvador e de sua justiça, justiça que resulta de sua obediência (Apoc. 
3:5, 18; 19:8) e absoluta lealdade a Deus. 
 
O Primeiro e o Segundo Véus 
 
A porta do átrio, formada pelo que chamamos o primeiro véu, era o 
único acesso que tinha o pecador para entrar no átrio e participar dos 
ofícios religiosos. Media vinte côvados de largura por dez de altura (Êxo. 
27:16-18), e estava sustentado por quatro colunas. Da largura da porta 
deduzimos que o amor de Deus para com o pecador é imensurável 
(Efés.. 3:18-19), enquanto que por ser sua altura maior que a do homem, 
inferimos que nos exige uma "justiça maior" (Mat. 5:20) que a 
meramente humana, uma justiça que só o Senhor pode proporcionar. 
A largura do véu do átrio era exatamente igual ao do véu que dava 
acesso ao lugar santo, mas a altura deste era o dobro que a do véu do 
átrio. Isto parecia indicar que o caminho se torna mais estreito e elevado 
para os que aceitam a chamada divina. A porta do átrio é larga e é para 
todos os que se aproximam em busca de perdão; a do lugar santo é para 
os que foram chamados a cumprir uma função específica no "ministério 
da reconciliação''. Os privilégios e as bênçãos derivados da relação 
espiritual com Deus são exclusivos dos que foram redimidos e cujas 
vidas se consagraram ao serviço de Deus; para eles a porta é "estreita" e 
"estreito o caminho" (Mat. 7:13).6 
 
 
 
Cristo no Santuário 33 
O Véu Interior 
 
O "terceiro véu",7 que separa o lugar santo do lugar santíssimo 
(Êxo. 26:31-35), tinha as mesmas cores do anterior e foi confeccionado 
com os mesmos materiais. As maiores diferenças consistiam em que este 
terceiro véu tinha figuras de querubins bordadas e tecidas delicadamente 
no tecido – que não eram vistas pelo povo comum –, e no fato de que só 
o sumo sacerdote estava autorizado a atravessar a cortina, e isto uma só 
vez ao ano, no dia chamado "da expiação" (Lev. 23:27-28). Nesta 
ocasião o pontífice protagonizava o ritual mais solene de todo o 
calendário litúrgico judaico,8 o qual prefigurava a obra final de Cristo 
em favor de Seu povo. 
O Yom Kippur, como se denomina o dia de expiação entre os 
crentes da fé judaica, está relacionado necessariamente com o "véu" e 
com a "obra de juízo" (João 5:22-23) que nosso Senhor Jesus Cristo 
realiza no lugar santíssimo ou qódesh qodashim.9 
O crente que com olho espiritual visualize os véus do santuário, 
recebe lições objetivas básicas para a interpretação da revelação divina. 
Ao olhar para o véu do átrio descobre sua necessidade de uma "justiça 
maior" que a que ele mesmo é capaz de proporcionar. Se exercitar sua fé 
e transpuser o véu aceitando confidencialmente o sacrifício de Cristo em 
seu favor – representado pelo ministério do sacerdote que oferecia o 
cordeiro do holocausto contínuo (Êxo. 29:38-42) –, o crente é coberto 
com a justiça de Cristo. Sem que ele o mereça é-lhe imputado ou 
atribuído uma justiça que o céu mesmo proveu. Na verdade, todo o 
mobiliário que está no átrio e as cerimônias que ali se realizavam 
comunicam a necessidade dessa justiça divina. O pecador pode obtê-la 
com apenas entrar pela porta, e a porta é Cristo (João 10:9). 
No véu do lugar santo é comunicada uma segunda verdade 
essencial, a da santificação pela fé. Como no caso anterior, este véu é um 
símbolo de Cristo, que nos dá acesso à presença do Pai e à comunhão 
com Ele. Observe-se que as cinco colunas das quais pendura o véu estão 
Cristo no Santuário 34 
apoiadas em bases de cobre ou bronze (Êxo. 26:37), o mesmo metal que 
se usou para fabricar a bebedouro onde os sacerdotes lavavam suas mãos 
e pés cada vez que oficiavam. Essas bases de cobre fazem objetiva a 
verdade de que, graças ao que Cristo carregou sobre Si mesmo o "pecado 
de todos nós" (Isa. 53:6), podemos contemplar a glória do excelso Deus. 
O importante aqui é que Deus não só justifica pela fé ao pecador, mas 
também converte a esse pecador em um adorador ao qual santifica pela 
fé no poder do Espírito Santo, preparando-o para a terceira e última 
etapa, a da glorificação. 
Assim chegamos ao véu interior, o véu do santíssimo, o qual com 
sua arca da aliança, ocultava o lugar santíssimo do olhar furtivo dos fiéis 
em geral, como também da vista dos sacerdotes que oficiavam no lugar 
santo. 
As quatro colunas de madeira de acácia, recobertas de ouro, das 
quais pendurava o véu, apoiavam-se em bases de prata. 
Tanto a humanidade de Cristo – representada pela madeira – como 
sua divindade – representada pelo ouro – são aqui ensinados em forma 
objetiva (Êxo. 26:31-33), mostrando-nos que o único caminho para 
chegar à glorificação é o Redentor divino-humano, o Senhor Jesus 
Cristo. Na hora de Sua crucifixão, o véu do lugar santíssimo se rompeu 
"de alto abaixo" (Mat. 27:50-51), abrindo-nos assim um "novo e vivo 
caminho" (Heb. 10:20) para que por meio dele entremos em qódesh 
qodashim onde Cristo entrou como precursor, para "apresentar-se agora 
por nós ante Deus" (cap. 9:24). 
Concluímos dizendo que Cristo é o véu, a porta de entrada a cada 
uma das etapas do crescimento cristão, e quando finalmente entrarmos 
"véu adentro'' e vejamos sua glória, cumprir-se-á esta promessa 
registrada nas Escrituras: "Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no 
meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no 
seu trono" (Apoc. 3:21). 
 
 
Cristo no Santuário 35 
Referências: 
1. A Escritura designa o tabernáculo ao menos com sete diferentes 
expressões. Consulte as seguintes passagens na Bíblia de 
Jerusalém. 
Êxo. 29:4 – "Tenda da Reunião" 
Êxo. 38:21 – "Habitação do Testemunho" 
Êxo. 39:32 – "A Habitação" 
Núm. 17:7 – "Tenda da Reunião" 
Núm. 19:13 – " Habitação de Yahweh" 
1 Crôn. 6:33* – "Habitação do Templo de Deus" 
Lam. 2:4 – "Tenda da Filha do Sião" 
2. Veja-se João 14:6; Atos 4:12; Efés. 2:18. 
3. Para uma discussão mais ampla do tema veja-se S. Ridout, 
Lectures on the Tabernacle (New York: Loizeaux Brothers, Inc., 
1973). 
4. Uma discussão detalhada do tema aparece no The Tabernacle 
and the Offerings, por Henry W. Soltau (Grand Rapids, 
Michigan: Kregel Pub., 1972), p. 9 e seguintes. 
5.E. G. White, Atos dos Apóstolos, págs. 38, 39. 
6. __________ Primeiros escritos, págs. 13-15. 
7. O apóstolo Pablo o chama "o segundo véu" (Heb. 9:3). 
8. Veja-se The Jewish Festivals, pelo Hayyim Scuauss (New York: 
Schocken Books, 1974). Na página 125 declara que "durante o 
período tardio do segundo Templo, Yom Kippur era o dia mais 
sagrado do ano para todos os judeus". 
9. E. G. White, em The Spirit of Prophecy (Washington D. C.: 
Review and Herald, 1869), vol. 3, p. 166, insiste em que o "véu 
do templo, um cortinado formoso e forte, era renovado cada 
ano". 
 
 
* Nota do tradutor: Na versão RA o texto equivale a 1 Crôn. 6:48. 
Cristo no Santuário 36 
O SACERDÓCIO AARÔNICO 
 
DO ponto de vista da simbologia bíblica, o ofício sacerdotal em 
Israel antecipa e proclama com nitidez três idéias soteriológicas, quer 
dizer, referentes ao plano de salvação: a reconciliação, a mediação e a 
santificação. A primeira idéia, ou seja a reconciliação, fica explicitada 
no sacrifício diário dos animais, enquanto que a segunda se implementa 
na ação sacerdotal de compadecer-se dos "ignorantes e extraviados" 
(Heb. 5:1-2). 
Merece notar o fato de que a palavra hebraica para sacerdote 
(kohen) anuncia a idéia de mediação, porque o kohen é "alguém que 
ocupa o lugar de outro e medeia em seu favor''.1 
Em terceiro lugar a função sacerdotal abrange uma obra de 
santificação, já que o próprio objeto da reconciliação divina é a santidade 
de vida. Israel como nação escolhida devia ser um "povo santo" (Deut. 
26:19), e o indivíduo incorporado a essa comunidade santa devia realizar 
em sua vida privada e em suas relações o ideal ético-religioso antecipado 
na "lâmina de ouro" (tsits)2 que o supremo sacerdote levava sobre seu 
mitra (Êxo. 28:36; Lev. 8:9; Êxo. 39:30). A frase cunhada dizia: 
"Santidade ao Senhor" (qódesh l'adonai). 
As qualificações morais, espirituais e físicas que o sacerdote devia 
reunir, a liturgia de ordenação e o traje típico que se exigiam dos 
sacerdotes, porém, mais particularmente do sumo sacerdote, foram 
estabelecidos por Deus para projetar de muitas e variadas maneiras o 
ideal de que sem santidade "ninguém verá o Senhor" (Heb. 12:14). 
Neste capítulo consideraremos basicamente estes aspectos do 
sacerdócio aarônico, e deixaremos para capítulos subseqüentes o relativo 
aos serviços do santuário. 
 
 
 
 
Cristo no Santuário 37 
A Roupa do Sumo Sacerdote 
 
Moisés recebeu a ordem de fazer "vestes sagradas'' para Arão, as 
quais seriam "para glória e ornamento" (Êxo. 28:2). Desde que Adão e 
Eva usaram "folhas de figueira" para ocultar sua nudez (Gên. 3:7), o ser 
humano jamais renunciou à confecção de roupa para cobrir-se. A roupa 
pode satisfazer diversos fins: proteger dos rigores do tempo (1 Rei. 1:1); 
identificar a pessoa que a leva (Gên. 27:15); preencher as exigências de 
um ritual (Núm. 15:38). 
No caso do Arão a veste era o motivo para expressar o valor 
estético-religioso-funcional do sacerdócio. E já que essa roupa era 
simbólica, tinha que ser perfeita porque "nada fora da perfeição poderia 
representar devidamente a santidade do culto divino".3 
 
O Colete Sacerdotal 
[Êxo. 28:6, NV] 
 
Para confeccionar o colete sacerdotal (Êxo. 28:5-8,; 28:28; 39:2-3) 
utilizou-se o mesmo tipo de material empregado para as cortinas: linho 
trançado, azul, púrpura e escarlate, entretecido com fios de ouro. Este 
objeto exterior levava sobre os ombros as duas pedras de ônix (cap. 28:9-
12), nas quais se gravaram os nomes das tribos do Israel segundo suas 
idades, seis em cada pedra (cap. 28:9-10, 21). Embora a Bíblia não dê 
uma descrição detalhada da forma do colete sacerdotal, ela nos informa 
dos usos e abusos que este objeto da veste sacerdotal sofreu ao longo da 
história (1 Sam. 2: 28; 23:6, 9; 30:7). 
 
O Peitoral 
 
O peitoral do juízo, às vezes chamado peitoral (Êxo. 28:15-29; 
39:8-21), era o objeto mais formoso e elaborado de todo o vestuário do 
sacerdote. Colocadas em ordem sobre o peitoral, havia doze pedras 
Cristo no Santuário 38 
preciosas, e cada uma levava o nome de uma das tribos, atendendo à 
ordem de marcha. Esta é uma figura que expressa o invariável amor de 
Cristo por Seu povo: sobre os ombros Ele leva o fardo, sobre o coração 
Ele os ama. "Assim Cristo, o grande Sumo Sacerdote, pleiteando com 
Seu sangue diante do Pai, em prol do pecador, traz sobre o coração o 
nome de toda alma arrependida e crente".4 
Segundo Gesênio, a palavra hebraica para peitoral (jóshen) significa 
"ornamento", e é usado na Bíblia uma única vez. A versão dos LXX usa 
a palavra grega logéion. 
No lado direito e no esquerdo do peitoral havia duas pedras 
grandes, preciosas e de muito brilho chamadas Urim e Tumim. Mediante 
elas se revelava a vontade de Deus ao supremo sacerdote. Por esta razão, 
podemos afirmar que o colete sacerdotal com as pedras de ônix sobre os 
ombros e o peitoral constituíam a roupa profética do sumo sacerdote. 
 
Urim e Tumim 
 
Como assinalamos no parágrafo anterior, aos flancos do peitoral 
havia duas pedras preciosas grandes, chamadas em hebraico, Urim e 
Tumim, literalmente, "luzes" e "perfeições"5 (Êxo. 28:30; Lev. 8:8). 
A posse destas pedras era um dos grandes privilégios da família 
sacerdotal (Deut. 33:8). O sumo sacerdote as usava para consultar a 
vontade de Deus naqueles assuntos de difícil determinação que 
comprometiam o futuro ou o bem-estar da nação (Núm. 27:21; Esd. 
2:63). 
Não sabemos com exatidão de que maneira Deus respondia as 
perguntas, mas cada vez que a resposta era negativa "uma nuvem 
obscurecia a pedra da esquerda", e se a resposta era positiva aparecia 
"uma auréola de luz que rodeava a pedra preciosa à direita".6 
Segundo Josefo,7 o Urim e o Tumim desapareceram do cenário 
sacerdotal uns dois séculos antes da era cristã devido à impiedade que 
prevalecia. Durante o reinado do Saul, em duas ocasiões ao menos, a 
Cristo no Santuário 39 
consulta feita pelo Urim e o Tumim não foi respondida (1 Sam. 14:37; 
28:6). Davi o consultou por diferentes motivos (cap. 23:6-12). O Urim e 
o Tumim reaparecem no tempo de Esdras e Neemias no século V A. C. 
(Esd. 2:63; Nee. 7:65). 
Note-se que em hebraico a palavra Urim começa com 'alef, que é a 
primeira letra do alfabeto hebraico, enquanto que Tumim, com a tau, que 
é a última. Entre o 'alef e o tau, ou se o preferimos entre o alfa e o ômega 
(Apoc. 1:8, 11 ), está contido toda a linguagem humana, que é o veículo 
para comunicar as idéias. 
Agora, o sumo sacerdote com o Urim e o Tumim no peitoral se 
transformou no veículo pelo qual Deus comunicou suas mensagens. O 
peitoral era para a roupa do sumo sacerdote o que o propiciatório era 
para o santuário. Nos dois casos Deus revelava Sua glória e para 
conhecer Sua vontade. 
Em Cristo, que é simultaneamente o propiciatório e o Urim e o 
Tumim, Deus nos comunica três idéias básicas: 
1. A primeira é salvação: Cristo é Emanuel, Deus conosco (Mat. 
1:23), o "Verbo" divino (João 1:1-3) que devia habitar entre nós (v. 14) e 
nos reconcilia com Deus. 
2. A segunda é direção: Deus em Cristo conduz nossa vida, nos 
guiando todo o tempo de nossa peregrinação. 
3. A terceira é julgamento: há um "sim" e um "não" que nos é dito 
em Cristo, mas para o crente, todas as promessas de Deus são nele "Sim" 
e nele "Amém" (2 Cor. 1:20). 
 
O Manto do Colete Sacerdotal 
[Êxo. 28:31, NVI] 
 
O "manto do colete sacerdotal" (Êxo. 28:31-34; 39:22-23), roupa 
que conferia uma dignidade especial, era de cor azul e o sumo sacerdote 
a levava posta sobre a túnica branca de linho trançado e debaixo do 
colete sacerdotal. Era de uma só peça sem costura, tecida de cima 
Cristo no Santuário 40 
abaixo. Não nos é especificado a classe de material usado, mas se insiste 
em que era azul. Como se sabe, o azul é a cor do céu e parecia 
representar o caráter perfeito e sem mácula de nosso Sumo Sacerdote,o 
Senhor Jesus Cristo (Heb. 9:11-28). Além disso, o azul parece antecipar 
o sacrifício de nosso Senhor, quem com sua morte expiatória veio e nos 
"anunciou as boas novas de paz" (Efés. 2:17). 
A borda do manto do colete sacerdotal estava adornado com romãs 
de fios de tecidos azul, roxo e vermelho; além disso tinha campainhas de 
ouro que soavam quando o sumo sacerdote entrava e saía. Este não podia 
ocultar sua presença nas dependências do santuário, pois o som das 
campainhas o revelavam assim como suas boas ou más ações 
manifestavam seu caráter. Algo semelhante ocorre conosco. Recordemos 
que "um homem que é justo e que vive desse modo, tem mais poder no 
silêncio que o que muitos têm em seus discursos. Seu caráter é como 
campainhas que ao ser tocadas, mesmo acidentalmente, ressonam com 
uma música que inspira e eleva".8 
 
A Túnica Bordada 
 
A "túnica" (Êxo. 28:39; Lev. 8:7) era feita de linho trançado e era o 
primeiro objeto que o sumo sacerdote vestia. Note-se que a palavra 
hebraica para túnica (kuttóneth) é a mesma usada em Gênesis 3:21, onde 
se lê que Jeová fez ao homem "túnicas de peles, e os vestiu". A 
desobediência de Adão e Eva os tinha transformado em pecadores e os 
tinha despido de sua glória original. As folhas de figueira com as quais 
fabricaram uma roupa precária, terminou em abafado. Em troca, com a 
túnica de Deus se cobriram e avançaram para refazer suas vidas 
arruinadas. 
As túnicas foram confeccionadas por Deus, não pelo homem. Eram 
couros de animais inocentes, mortos vicariamente em lugar do pecador. 
Destaca o exegeta Soltau que no original a palavra "corte" está no 
singular, provavelmente para assinalar o fato de que o único "Cordeiro" 
Cristo no Santuário 41 
que pode nos cobrir com sua perfeita justiça é Cristo (João 1:29), e essa 
justiça de Cristo que lhe imputa ao pecador (Apoc. 19:8) está ao alcance 
de todos nós. 
 
O Cinturão 
 
Temos que acentuar o caráter simbólico e típico do sumo sacerdote. 
Em um sentido especial era uma figura de Cristo, e portanto representava 
o povo diante de Deus e Deus diante do povo. A roupa que ele levava em 
função de sua investidura sacerdotal, respondia a um valor estético e 
projetava uma mensagem. devido às condições estabelecidas baixo a 
nova aliança, pela qual os crentes chegam a ser "sacerdotes" (1 Ped. 2:9), 
a roupa dos "seguidores de Cristo'' chega "a ser simbólica", e em "todos 
os casos, até o estilo da roupa que levemos comunicará a verdade do 
Evangelho".9 
O cinturão (Êxo. 28:39; 39:29) ou faixa tinha as mesmas cores e os 
mesmos materiais que se usaram para o véu, mas a ordem seguida era 
diferente (cap. 36:35; 39:29). O "linho fino", símbolo da justiça de 
Cristo, ocupava o primeiro lugar. Assim deveria ser com o crente, já que, 
ao longo de sua vida, "a justiça será o cinto dos seus lombos, e a 
fidelidade, o cinto dos seus rins" (Isa. 11:5). 
A finalidade do cinturão era "cingir para servir". Na sala de espera 
da cruz foi-nos exemplificada esta verdade, pois "sabendo este [Jesus] 
que ... ele viera de Deus, e voltava para Deus, levantou-se da ceia, tirou a 
vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela" (João 
13:3-4). Na presença de Seus discípulos o Divino Mestre cumpriu o ideal 
messiânico do "Ebed Yahweh". Aquele que está cingido deve ter a 
"lâmpada acesa" (Luc. 12:35), e a luz consiste nas boas obras realizadas 
pela graça de Deus manifestada em nossa vida. 
 
 
 
Cristo no Santuário 42 
A Mitra 
A mitra que cobria a cabeça do supremo sacerdote (Êxo. 28:39; 
39:28) representa a submissão que se deve a Deus. Aquele nunca devia 
perder de vista que tinha sido chamado para o sagrado ministério. Não 
temos informação suficiente quanto à forma da mitra, mas Josefo diz que 
o sumo sacerdote levava "sobre sua cabeça ... um gorro sem pico, ... e foi 
confeccionado assim, com a aparência de uma coroa que consistia em 
uma cinta de linho bem ajustada".10 
A palavra hebraica que se traduz por mitra (mitsnéfeth ) é usada 
exclusivamente para o gorro do sumo sacerdote (há uma exceção em 
Eze. 21:26). Deriva de uma raiz que significa "enrolar ou envolver", o 
que possivelmente esteja indicando que a mitra rodeava a cabeça como 
um turbante. Tinha uma lâmina de ouro fino que ele levava sobre a 
fronte, e as palavras cunhadas nela diziam "Santidade ao Senhor".11 
Observe-se que a palavra "diadema" de Êxodo 39:30, associada à lâmina 
de ouro, provém do hebraico nézer, que em Números 6 suporta a idéia de 
nazireato, consagração e separação. O sumo sacerdote devia ter 
continuamente (tamid) a lâmina de ouro sobre sua fronte (Êxo. 28:36-38) 
para levar "as iniqüidades dos filhos do Israel". 
Assim como o holocausto era queimado continuamente (tamid) 
sobre o altar, e o pão da presença estava continuamente (tamid) sobre a 
mesa da proposição, e o candelabro de sete braços dava sua luz 
continuamente (tamid) e o incenso queimado sobre o altar de ouro 
ascendia continuamente (tamid), assim também o supremo sacerdote 
estava continuamente (tamid) na presença de Deus, afastado para a 
devoção, a santidade e o julgamento dos filhos do Israel. 
No mesmo livro (Êxo. 29:9) manda-se que os filhos de Arão 
ponham mitras, mas a diferença entre a mitra do sumo sacerdote e a de 
seus filhos era grande:12 na primeira o ouro e o azul são adornos 
exclusivos; a dos filhos, em troca, não tinha mais adorno que uma 
espécie de pequena coroa formada do mesmo linho. 
 
Cristo no Santuário 43 
A ordenação do sacerdote 
 
A liturgia de consagração do Arão e seus filhos foi muito solene e 
requereu sete dias (Êxo. 29; Lev. 8). Os passos sobressalentes da 
cerimônia foram os seguintes: 
1. Vocação (Êxo. 28:1). A vocação sacerdotal do Arão teve sua 
origem no próprio Deus, porque "ninguém, pois, toma esta honra para si 
mesmo, senão quando chamado por Deus, como aconteceu com Arão" 
(Heb. 5:4). 
2. Objeto da vocação (Êxo. 29:4). A cerimônia da consagração foi 
realizada defronte da porta do santuário, na presença do Senhor e na 
presença do povo. Arão devia estar perto de Deus e perto do povo; ele 
era a ponte que unia aos dois. 
3. Lavamento (Êxo. 29:4-6). Esta foi primeira e única ocasião em 
que Arão como adulto foi banhado por outra pessoa. Ele não podia lavar-
se a si mesmo (Tito 3:5) porque este era um ato simbólico que 
representava o lavamento espiritual que se opera no pecador quando 
aceita ao Senhor (Efés. 5:25-26). Para ser banhado, Arão foi despojado 
de suas antigas vestes, as quais foram totalmente desprezadas e nunca 
mais voltou a usá-las. 
4. Revestimento (Êxo. 29:5-6). Arão não colocou as roupas ele 
mesmo. Foi Moisés quem o vestiu com essa roupa, que era um símbolo 
da justiça de Cristo. Se ele próprio se vestisse, teria destruído a 
mensagem (Isa. 61:10). 
5. Unção (Êxo. 29:7; 30:30). A unção com o "óleo santo" era uma 
antecipação da outorga do Espírito Santo (Atos 10:38; Luc. 4:18), com o 
qual nosso Senhor seria ungido. Observe-se que enquanto que o azeite 
foi aspergido sobre os móveis do santuário, sobre Arão foi derramado 
(Lev. 8:10-12), o que indicava a plenitude do dom. 
6. Consagração (Lev. 8:18-30; Êxo. 29:15-22). Os passos prévios 
que descrevemos em forma resumida, eram preparatórios para o ato final 
de consagração. Esta cerimônia final estava cheia de colorido e 
Cristo no Santuário 44 
significação, e acentuava de maneira vívida a dignidade da função 
sacerdotal. 
A liturgia exigia três coisas: 
A. Pôr o sangue na orelha, na mão e no pé (Lev. 8:22-23). 
B. Apresentar a oferta movida de pão e azeite (Lev. 8:24-30). 
C. Aspergir o sangue e o azeite sobre o Arão e seus filhos (Lev. 
8:30). 
Com essa cerimônia grandiosa e impressionante o sumo sacerdote 
ungido era afastado e feito partícipe da esfera divina. Chegava a ser o 
"ungido de Jeová".13 
 
Referências: 
1. Edersheim, The Temple, P. 84. 
2. Id., p. 99. SegundoJosefo, o tsits original de Arão ainda existia 
no século I de nossa era, e os romanos se apoderaram dele como 
troféu de guerra. Segundo Edersheim, o rabino Eliézer chegou a 
ver o tsits no reino do imperador Adriano. Insiste em que se pode 
seguir seu rastro até os tempos do Belizário (século VI d. C.). 
Desde Bizâncio foi levado a Jerusalém onde se perde seu rastro. 
3. E. G. White, Youth's Instructor, 7-6-1900. 
4. E. G. White, Cristo em Seu Santuário, pág. 31. 
5. H. W. Soltau, The Tabernacle, the Priesthood and the Offerings 
(Grand Rapids, Michigan: Kregel Pub., 1972), p. 251. 
6. E. G. White, Patriarcas e Profetas (CD-ROM), pág. 351. 
7. Josephus, The Antiquities of the Jews (Grand Rapids: Kregel 
Pub., 1974), III, 8. 9. 
8. Raymond Calkins, El romance del ministerio (Buenos Aires: La 
Aurora, 1947), p. 39. 
9. E. G. de White, Testimonies (Mountain View: Pacific Press, 
1948), t. 6, pp. 95-97. 
10. Josephus, Op. cit.: III, 7. 3. 
Cristo no Santuário 45 
11. Segundo Edersheim, em The Temple, pág. 99, a lâmina de ouro 
tinha só dois dedos de largura. 
12. Algumas mitras chegaram a ser muito estilizadas como se pode 
apreciar no comentário que se faz em Eze. 23:15. 
13. Segundo Edersheim, na obra já citada, quando se ungia ao sumo 
sacerdote com o "óleo santo", não somente era derramado sobre a 
cabeça; também era aplicado sobre a testa acima dos olhos, 
seguindo a forma da letra grega X. A coincidência não pode ser 
mais significativa. Essa é uma das formas que tinha p tau 
hebraico antigo (forma de cruz) que o anjo do Senhor devia 
colocar sobre a fronte dos escolhidos em Jerusalém (Eze. 9:4). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cristo no Santuário 46 
O SACERDÓCIO SEGUNDO MELQUISEDEQUE 
 
A IDENTIDADE do Melquisedeque,1 o extraordinário e ao mesmo 
tempo misterioso personagem bíblico, foi motivo de discussão entre os 
rabinos como entre os exegetas cristãos. A Escritura Sagrada, que é 
nossa fonte primária de conhecimento, dá pouca informação sobre o 
particular, mas suficiente para os fins da tipologia religiosa. As únicas 
referências disponíveis são Gênesis 14:18-20, Salmo 110:4 e o que o 
autor de Hebreus tem a nos dizer em sua epístola (caps. 5-7). É a partir 
desta informação básica como nós sabemos que Melquisedeque 
(hebraico, malki tsédeq, meu rei é justo ou meu rei é justiça) era rei de 
Salém2 (hebraico, paz) e sacerdote do Deus altíssimo. A este sacerdote 
Abram deu os dízimos de todo o conquistado na vitória que ganhou 
contra os reis da Mesopotâmia (Gên. 14:18-20). Sendo que 
Melquisedeque é rei de Salém – mais tarde Jerusalém – e sacerdote de 
Deus, chega a ser um símbolo de Cristo,3 em Quem se unem ambos os 
ofícios (Sal. 110:1-4; Heb. 6:20-7:21). 
Nas passagens bíblicas mencionadas, nada se diz de seus antepassados, 
antes se descreve a Melquisedeque como sendo "sem mãe" e "sem pai", 
"sem genealogia", não tendo ''princípio de dias, nem fim de vida". Isto 
não deve interpretar-se no sentido de anomalia biológica ou de que tenha 
sido um anjo em forma humana, como erroneamente têm suposto 
alguns.4 Como conseqüência Melquisedeque é "feito semelhante ao 
Filho de Deus". Observe-se que foi feito à semelhança de Cristo e não à 
inversa: não é o símbolo o que determina a realidade; pelo contrário, a 
realidade determina o símbolo. O mesmo ocorre com o santuário 
terrestre, que é feito de acordo ao modelo celestial, a verdadeira 
realidade. 
A superlativa grandeza do sacerdócio de Cristo se faz evidente aqui 
(1) pelo significado do nome do Melquisedeque, (2) pela dignidade de 
seu sacerdócio e de sua posição régia, (3) por sua falta de genealogia, e 
Cristo no Santuário 47 
do mesmo modo (4) pelo fato único de Cristo ser Oferenda e Sacerdote 
ao mesmo tempo. 
 
Singularidade de Seu Sacerdócio 
 
Os sacrifícios do ritual levítico simbolizavam o sacrifício de Cristo. 
Isto confirma a tese de que os aspectos básicos e essenciais do 
sacerdócio aarônico e do de Cristo são os mesmos. 
John Murray5 viu isso com claridade ao indicar que "devemos 
interpretar o sacrifício de Cristo à luz do esquema levítico", e esse 
esquema exige uma oferenda e um sacerdote. 
Agora, o fato de Cristo oferecer-Se "a Si mesmo'' (Heb. 9:14) em 
oferenda a Deus introduz uma verdade adicional6 que poucos percebem. 
Cristo não foi dedicado por outro, mas sim "a Si mesmo Se ofereceu" em 
um ato que não tem comparação; é que em Cristo se dá a singularidade 
única de ser Ele, ao mesmo tempo e no mesmo ato, oferenda e 
sacerdote.7 Isto atualiza e esclarece a absoluta unicidade qualitativa de 
seu sacrifício (Heb. 10:12-14), a transcendência de seu ofício sacerdotal 
segundo a ordem do Melquisedeque (cap. 7:16) e a perfeição de seu 
caráter, 
O estudo cuidadoso dos capítulos 4 e 7 da Epístola aos Hebreus 
mostra que o autor está contrastando o sacerdócio aarônico ou levítico – 
que estava regido fundamentalmente pela genealogia e a sucessão –, com 
o sacerdócio do Melquisedeque ou vocacional, ao qual pertencia e 
pertence nosso Senhor Jesus Cristo. O autor mostra convincentemente a 
superioridade qualitativa e a duração eterna do sacerdócio de Cristo, em 
agudo contraste com o caráter temporário e inferior do sacerdócio 
levítico. Como se sabe, a profissão sacerdotal levítica dependia 
basicamente da genealogia, e os sacerdotes exerciam seu cargo entre os 
30 e os 50 anos (Núm. 4:1-3; 8:25; Esd. 2:61-62). Este sacerdócio caducou 
com a morte de Cristo, quando "com ruído rompe-se de alto a baixo o 
véu interior do templo, rasgado por mão invisível, expondo aos olhares 
Cristo no Santuário 48 
da multidão um lugar dantes pleno da presença divina". Assim era aberto 
o caminho ao novo sacerdócio, "da ordem do Melquisedeque". "Daí em 
diante, devia o Salvador oficiar como Sacerdote e Advogado no Céu dos 
Céus"8 (ver 1 Tim. 2:5; Heb. 7:24-25; 8:1-2). 
 
Perpetuidade do sacerdócio de Cristo 
 
Embora seja verdade que o sacerdócio aarônico é descrito como 
"sacerdócio perpétuo" (Êxo. 40:15; Jer. 33:18), em nenhum caso se 
indica que algum dos sacerdotes individuais seja sacerdote eterno, e nisto 
radica a "fraqueza" e "inutilidade" (Heb. 7:18) do sacerdócio em questão. 
Eles foram muitos "porque são impedidos pela morte de continuar" (cap. 
7:23); "este, no entanto” – adiciona o autor da Epístola aos Hebreus, 
referindo-se a Cristo, – "porque continua para sempre, tem o seu 
sacerdócio imutável" (cap. 7:24). 
Antes de continuar com nossa análise é conveniente que 
assinalemos a importância e também as limitações dos símbolos duplos 
que aparecem nas Escrituras. Lembre o leitor que os objetos lançam 
sombras diferentes conforme a luz incida sobre eles. Com freqüência no 
mesmo símbolo encontramos representações de diferentes aspectos de 
uma mesma verdade. No dia da expiação, por exemplo, usavam-se dois 
bodes, um para o Jeová e outro para Azazel. Por outro lado, na Epístola 
aos Hebreus temos dois sacerdócios, o de Arão e o de Melquisedeque, 
contrapostos como símbolos que esclarecem o significado soteriológico, 
ou referente à salvação, do sacerdócio do Senhor. 
 
O Juramento Divino 
 
A inauguração do sacerdócio aarônico foi possível graças a um 
mandamento, a uma chamada divina (Heb. 5:4). "Faze também vir para 
junto de ti Arão, teu irmão, e seus filhos com ele ... para me oficiarem 
como sacerdotes" (Êxo. 28:1). Mas aqui não se faz menção de um 
Cristo no Santuário 49 
juramento divino como ocorre no Salmo 110:4, onde se introduz um 
novo sacerdote "segundo a ordem do Melquisedeque". Este juramento 
sugere a dignidade superior do sacerdócio do Melquisedeque. "Porque 
aqueles, sem juramento, são feitos sacerdotes, mas este [Cristo], com 
juramento" (Heb. 7:20, 21). Sendo que é um sacerdócio perpétuo e 
indissolúvel, dado com juramento, a intercessão sacerdotal de Cristo nos 
céus chega a ser eternamente suficiente (Heb.

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