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CASA BRASIL EDITORES ANO 21 | EDIÇÃO 75 | SETEMBRO 2020 w w w.planetaarroz.com.br R$ 14,00 20 ANOS A MIL Nos 20 anos de Planeta Arroz, avaliamos a evolução da cadeia produtiva nas duas últimas décadas e projetamos as tendências e desafios futuros do setor EXPORTAÇÃO Como o Brasil ganhou a preferência mundial TECNOLOGIA As tendências da pesquisa para os próximos 20 anos CONSUMO A pandemia fortaleceu arroz e feijão nos lares DEU A LOUCA NOS PREÇOS Como e por que o arroz chegou a R$ 100,00 por saca 6 Mundo: redução pesou nos preços 8 Mercosul: tiro para o alto 10 Safra: volta ao passado 14 Mercado: a tempestade perfeita 18 A orizicultura no Século 21 20 Evolução do mercado e tendências 22 Balança comercial: à beira do limite 24 Mercado: os últimos e os próximos 20 anos 25 Perfil e tendências do arroz em Santa Catarina 26 Consumo: o consumidor e a valorização do grão 28 Setorial: ações e desafios da indústria arrozeira 30 Setorial: setor produtivo venceu etapas 31 Pesquisa: o melhoramento genético na Embrapa 32 A evolução do manejo no sistema de produção 34 Desafio do controle de plantas daninhas 38 Inovação e tecnologia: legado de produtividade 39 Soja: motivações e problemas na metade sul gaúcha 40 Pontos responsáveis pelo avanço produtivo do arroz 42 Perspectivas para o manejo de insetos-pragas 44 Clima: passado, presente e futuro na metade sul 46 Projeto 10 e o manejo da orizicultura irrigada 48 Manejo cultural: o certo na hora certa 49 Passado e futuro do arroz irrigado 50 Pilares de produtividade e desafios da rizicultura 51 Gestão profissional para garantir resultados 52 Transformação e o futuro do arrozeiro 53 Rentabilidade e reformas: os desafios do setor Planeta Arroz 20 anos: de onde veio e para onde vai o mundo arrozeiro Planeta Arroz apresenta reportagens e opiniões detalhando o desenvolvimento de tecnologias, mercados e conceitos da orizicultura nos últimos 20 anos e as perspectivas para a cadeia produtiva nas próximas décadas. Publicação de Casa Brasil Editores Ltda. www.planetaarroz.com.br E-mail: planetaarroz@planetaarroz.com.br FOTOS Robispierre Giuliani TEXTOS Cleiton Evandro dos Santos e Redação Planeta Arroz EDIÇÃO Liberato Dios Cleiton Evandro dos Santos EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Leandro Batista REVISÃO Gabriel Girardon DEPARTAMENTO COMERCIAL E ADMINISTRAÇÃO (51) 3722-9635 SUCURSAL EM PORTO ALEGRE GRUPO DE DIÁRIOS RUA GARIBALDI, 659 - CONJ. 102 (51) 3272-9595 IMPRESSÃO Gráfica Jacuí Cachoeira do Sul - (51) 3722-9595 CAPA C A R T A A O L E I T O R A Revista Planeta Arroz completa 20 anos contando as histórias da cadeia produtiva brasileira, do Mer- cosul e do mundo, naquela que é a única publicação periódica e sem interrupções nestas duas décadas vol- tada exclusivamente ao setor. Neste período, seu site www.planetaarroz. com.br tornou-se a principal refe- rência em informações de arroz da América do Sul. Pela via eletrônica ou impressa, Planeta Arroz percorre o Brasil pelas experiências narradas por técnicos, produtores, industriais, trabalhado- res, transportadores e quem faz essa cadeia produtiva. É ótimo completar 20 anos podendo falar de preços em alta, de exportações recordes e uma temporada em que há renda na rede de negócios arrozeira. É triste que seja diante de uma pandemia que ceifa vidas e nos preocupa muito quanto ao futuro. O mundo muda todos os dias. A tecnologia é aliada, nos transfor- mamos, mas a informação perma- necerá um dos principais insumos da lavoura, da indústria, dos técni- cos e dos agentes que fazem desta uma grande cadeia de alimentos. A lavoura inova, transforma, conso- lida-se. E seguimos juntos, tradu- zindo o que há de relevante neste Planeta Arroz. Esperamos, nos próximos 20 anos de parceria, cumprir com êxito o desafio de testemunhar e informar sobre os avanços e dificuldades que retratam este segmento vital para a segurança alimentar. Esta é uma edi- ção especial, na qual algumas das principais autoridades no setor se pronunciam avaliando as transfor- mações, a evolução e o que fará dife- rença no futuro e no dia a dia da orizicultura. Boa leitura. E feliz aniversário! Um século em 20 anos M U N D O 6 setembro • www.planetaarroz.com.br Redução da demanda global pesou sobre os preços Comércio mundial crescerá com maior demanda, mas estoques são gigantes De acordo com as estimativas da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), a produção mundial de arroz em 2019 teria sido de 754,3 milhões de tone- ladas (500,8 Mt base beneficiado), com queda de 1,1% em relação a 2018. Em 2020, as projeções indicam a recu- peração de 1,7% para 766,8 Mt (509,2 Mt base beneficiado). A produção chinesa pode aumentar 0,4% graças a preços remuneradores ao produtor, segundo o economista Patricio Mén- dez del Villar, do Cirad, na França, em seu boletim global do comércio do arroz, InterArroz, de agosto. A Índia espera crescimento de 1% em relação a 2019. No Sudeste Asi- ático, em especial na Tailândia, prevê- se aumento produtivo apesar da seca que afetou a segunda safra. No resto da sub-região, a produção será está- vel. Na África Subsaariana e nas regi- ões ocidentais, as chuvas são abun- dantes, o que favorecerá as lavouras. A produção africana pode aumentar 2,9%. No Mercosul, a safra 2020 foi positiva, com aumento de 3% na colheita em relação a 2019. Nos Esta- dos Unidos, a safra vai crescer 17% graças ao aumento das áreas. Comércio mundial - Em 2019, o comércio mundial caiu 9%, para 44,1 Mt, contra 48,5 Mt em 2018. Em 2020, é indicada a recuperação de 1,8% para 44,9 Mt. Em 2019, os importadores asiáticos, exceto Filipinas, reduziram as compras, apontando para 16,7 Mt contra 16,9 Mt em 2018. A queda no comércio mundial em 2019 derru- bou as vendas da Tailândia (30%) e da Índia (17%). As vendas indianas devem se recuperar em 2020, ratifi- cando a liderança global. A Tailândia, porém, com preços altos pela valori- zação da moeda e menor oferta, pode ter nova queda nas vendas e perder, para o Vietnã, o posto de segundo exportador mundial. Projeções do comércio de arroz em 2021 estimam aumento de 6% para 47,6 Mt, ou 2,6 Mt a mais do que em 2020. Os estoques globais de arroz em 2019 aumentaram 4,7%, para 184,6 Mt, contra 176,3 Mt em 2018, atingindo seu nível mais alto. As reservas representam 37% do con- sumo mundial. Houve aumento das reservas na China, na Índia e na Indo- nésia. Os países exportadores aumenta- ram as existências em 2019, para 45 Mt, ou 25% dos estoques mundiais. Para 2020, é indicada a redução de 0,6%, para 183,5 Mt nas disponibili- dades globais. A contração tende a continuar em 2021, com projeção de 182,2 Mt, 0,7% a menos que em 2020. Quadro de oferta e demanda mundial de arroz (em milhões de toneladas) Fonte: FAO/USDA Elaboração: InterArroz/Cirad Temporada 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 ARROZ EM CASCA Produção 735.4 745.5 745.8 739.4 747.7 752.1 762.4 754.3 766.8 ARROZ BENEFICIADO Exportações 40.5 40.1 45.5 45.1 41.4 48.4 48.5 44.1 44.9 Importações 40.5 40.1 45.5 45.1 41.4 48.4 48.5 44.1 44.9 Estoques finais 142.5 162.1 171.6 173.6 172.0 173.0 176.3 184.6 183.5 Ásia deve ampliar produção com os grandes fornecedores mudando de posições (em milhões de toneladas) 8 M U N D O setembro • www.planetaarroz.com.br Tiro para o alto Ótimas cotações e demanda impulsionam recuperação de área semeada no Mercosul Deve chegar a pelo menos 5,8% a elevação da área cultivada nos qua- tro países do Mercosul na tempo- rada 2020/21, cujo plantio já come- çou no Paraguai e em Santa Catarina, no Brasil. Com isso, o bloco comer- cial deverá semear, em temporada que se estende até o fim de novem- bro, 2.289,6 mil hectares como limite inferior, segundo pesquisa da Agro- Dados Inteligência em Mercados de Arroz. O teto pode chegar a 2,309 milhões de hectares. A expectativa é de que a regiãoalcance 14,991 milhões de toneladas de arroz, em base casca, de produção total na pró- xima temporada, com aumento de 2,1% no volume de colheita. O teto previsto é de 15,220 milhões de tone- ladas. O Brasil, com uma expansão de 6,7% na superfície semeada, deve ser o grande motor desta recuperação. O limitante deste crescimento é a disponibilidade de água para a irri- gação, com muitos agricultores con- tando com as chuvas de primavera para repor a capacidade de barragens e mananciais nos quatro países. O crescimento da área cultivada, porém, não deve ter proporcional elevação produtiva. O avanço deve ser mar- cado pelo retorno de algumas áreas de menor rendimento e agricultores com mais dificuldades de acesso ao crédito e investimento tecnológico, o que afetará o rendimento médio e o resultado final da colheita. O comportamento das cotações nos oito primeiros meses do ano, em especial após o surgimento da pan- demia do novo coronavírus, tem sido determinante para a tomada de deci- são de ampliar a superfície semeada no Mercosul. Este fator está aliado à indisponibilidade de produto para novas vendas dos Estados Unidos, de fevereiro a setembro, aos estoques enxutos no ConeSul e também aos preços mais competitivos na Argen- tina, Uruguai e Paraguai para expor- tar ao Brasil. O balanço final da safra 2019/20, nos países do bloco, indica que ape- sar da redução de 2,1% na área na temporada passada, para 2,163 milhões de hectares, houve um aumento de 5,3% na colheita, que chegou a 14,68 milhões de tonela- das. O clima e a alta tecnologia de manejo e genética foram os diferen- ciais. Maior pressão de venda dos Estados Unidos e as importações pre- vistas para o Brasil até fevereiro pode- rão ser fator de revisão destes núme- ros pelos agricultores, em especial dos países vizinhos, mas eles repre- sentam um avanço inferior a 13 mil hectares. A recuperação de área é considerada por alguns analistas como um “tiro para o alto”. A depen- der do cenário dos próximos meses, pode acertar o alvo ou perder-se. Colheita no Paraguai: preços remuneradores motivam aumento de plantio também nos países vizinhos M U N D O QUADRO DE SAFRA MERCOSUL Intenção de plantio e prognóstico de safra 2020/21 – Mercosul Área (mil/ha) Produção (mil t) País 2017/18 2018/19 2019/20 % 2017/18 2018/19 2019/20 % Argentina 202,0 195,1 190,0 -2,6% 1.370,0 1.202,0 1.198,0 -1% Brasil 1.972,1 1.702,5 1.665,9 -2,1% 12.064,2 10.483,6 11.180,1 6,6% Uruguai 156,0 144,9 140,3 -4,2% 1.280,0 1.188,0 1.209,0 1,8 Paraguai 165,5 168,1 168,0 -0,6% 933,2 1.068,0 1.095,0 2,5% Total 2.515,6 2.210,2 2.164,2 -2,1% 15.647,4 13.941,6 14.682,1 5,3% Diferença em área 2018/19 – 2019/20: - 46,0 mil hectares Diferença em volume 2018/19 – 2019/20: 740,5 mil toneladas .......................................................................................................................................................................................................................................... .......................................................................................................................................................................................................................................... .......................................................................................................................................................................................................................................... .......................................................................................................................................................................................................................................... .......................................................................................................................................................................................................................................... Área (mil/ha) Produção (mil t) País 2019/20 2020/21 % 2019/20 2020/21 % Argentina 190,0 193,0 1,5% 1.198,0 1.220,0 1,8% Brasil 1.665,9 1.867,0 12,1% 11.180,1 11.982,4 7,2% Uruguai 140,3 148,0 5.5% 1.209,0 1.251,0 3,5% Paraguai 168,0 170,0 1,2% 1.095,0 1.110,0 1,4% Total 2.164,2 2.378,0 9.98% 14.682,1 15,562,4 6,0% ......................................................................................................................................................................... ......................................................................................................................................................................... ......................................................................................................................................................................... ......................................................................................................................................................................... ......................................................................................................................................................................... Fonte: AgroDados/Planeta Arroz 10 S A F R A setembro • www.planetaarroz.com.br Volta ao passado Preços altos impulsionam o aumento da área cultivada com arroz no Brasil Como já era de se prever, dado ao histórico da cadeia produtiva após uma temporada de bons preços, a área semeada com arroz e, por con- sequência, a produção brasileira na próxima safra, vão crescer. A Com- panhia Nacional de Abastecimento (Conab) e o Ministério da Agricul- tura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) apresentaram no dia 25 de agosto as perspectivas para a safra agrícola 2020/21. Para o arroz, con- firma-se a tendência de ampliação da superfície semeada em 12,1%, agregando mais 201 mil hectares sobre os 1,666 milhão de 2019/20 e somando 1,867 milhão de hectares. A colheita só não crescerá pro- porcionalmente por causa de uma produtividade em queda de -4,3%, ou 290 quilos por hectare, uma vez que a temporada passada registrou rendimentos recordes por área. Mesmo com a redução de 6,71 para 6,42 toneladas por hectare, o aporte será de 7,2% de grãos, passando das 11,18 milhões de toneladas para 11,98 milhões de toneladas, consolidando a evolução de 800 mil toneladas sobre a temporada passada. Exceto na safra passada, em ano de clima neutro marcado por grande estiagem, as maiores produtividades das lavouras do Sul do Brasil acon- teceram sob La Niña, fenômeno que tem mais de 60% de chances de ocor- rer nesta safra. Após seguidas quedas no con- sumo, projeta-se recuperação como resultado do maior volume de refei- ções no domicílio após o surgimento da pandemia e também a menor dis- ponibilidade de renda. O crescimento de 5% no atual ciclo, para 10,8 milhões de toneladas, deverá crescer pouco mais de 3% em 2021/22, chegando perto de 11,2 milhões de toneladas e voltando aos patamares da tempo- rada 2017/18. Ainda assim, perma- necerá quase 4% abaixo da média de demanda doméstica nos últimos 10 anos, que é de 11,6 milhões de tone- ladas. A balança comercial deve perma- necer superavitária em 500 mil tone- ladas. O estoque final de passagem da temporada 2020/21, tem uma recu- peração prevista de para 816,6 mil toneladas, portanto, o maior dos últi- mos seis anos, contra o de 530 mil toneladas do fim do ano comercial atual, em fevereiro de 2021, que é o menor em quatro safras. As perspectivas foram apresen- tadas por Sérgio Roberto Santos Júnior, gerente de Inteligência, Aná- lises Econômicas e Projetos Especiais da Conab, com participação da minis- tra Tereza Cristina, da Agricultura, e dirigentes setoriais e do governo. O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) anunciaria as suas estimativas para o Rio Grande do Sul apenas em setembro. Perspectivas em detalhe O mercado do arroz na Safra 2019/2020 vem apresentando preços recordes e um volume exportado no primeiro semestre muito acima do usual para omesmo período do ano. Esse cenário atípico não é reflexo apenas da pandemia, sendo os cená- rios nacional e internacional antes da crise determinantes no atual com- portamento do mercado orizícola brasileiro, segundo avaliação de Sér- gio Roberto Santos Júnior, gerente de Inteligência, Análises Econômicas e Projetos Especiais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A consistente ampliação da pro- dutividade tem sido um fator pre- ponderante para que o volume pro- duzido não tenha uma forte queda no Brasil. Analisando a produção entre a área plantada de 2019/20 e a de 2016/17, temos uma retração de -40,9% no Brasil e de -17,1% no Rio Grande do Sul, estado que representa 70% da colheita nacional. A produ- tividade cresceu 7,8%, fazendo com que a produção tenha reduzido ape- nas -9,3%. Santos Júnior observa que essa nítida redução de área é resul- tado principalmente da baixa renta- bilidade do setor produtivo entre as safras 2017/18 e 2018/19, em especial ao se comparar com a cultura con- corrente da soja. Os estoques de pas- sagem chegarão aos menores pata- mares das últimas quatro safras, com 534,2 mil toneladas, reflexo da retra- ção da oferta nacional. Alguns fatores que podem ser observados para o bom desempenho do Brasil na balança comercial do arroz neste ano: a consolidação do grão brasileiro no mercado interna- DE OLHO FIQUE No Brasil, identifica-se uma sazonalidade negativa no primeiro semestre, como resultado da concentração da colheita no país no período. No mundo, identifica-se uma sazonalidade negativa no segundo semestre, como resul- tado da concentração da colheita de verão nos principais países produtores. cional após super safra 2010/11; acú- mulo de superávits a partir de então; fator cambial e fidelização de clientes. Não pode ser esquecido, em contra- partida, o fluxo de importação de grãos de parceiros do Mercosul, com destaque para o Paraguai e Uruguai (fundamentais na composição da oferta interna). Apesar dos consisten- tes superávits, não há um grande dis- tanciamento do volume exportado e importado pelo país, segundo Sérgio Roberto Santos Júnior, da Conab. CENÁRIO Para ele, o cenário internacional ajudou a formação de melhores pre- ços no Brasil em 2020, como a alta das cotações globais e a restrição hídrica na Tailândia na safra de inverno no fim de 2019; cenário de incertezas no primeiro semestre com a covid-19; restrição do volume expor- tado de importantes fornecedores como China e Vietnã; ampliação da demanda dos países importadores em busca de segurança alimentar por meio da ampliação de seus estoques. “A elevação do preço do arroz no mer- cado internacional, somada à forte valorização do dólar, elevou a com- petitividade do grão brasileiro no pri- meiro semestre”, afirma. S A F R A 11 12 S A F R A setembro • www.planetaarroz.com.br Melhores preços Mesmo com a possibilidade de compras externas, fora do Mercosul, sem a incidência da Tarifa Externa Comum (TEC) o Brasil poderá ter um bom desempenho de preços na próxima temporada, se mantido o cenário neutro do modelo economé- trico adotado pela Conab para a cul- tura do arroz. A companhia estima que a cotação de entrada na próxima safra, por saca de arroz de 50 quilos, em casca, 58x10, deve ficar em R$ 56,84, em março de 2021. A estimativa indica que o pico de preços poderá alcançar R$ 72,90/sc no cenário otimista. Para a entrada da próxima safra, o preço deve ficar entre R$ 63,64/sc e R$ 56,84/sc. Caso o cenário traçado de produção seja concretizado, espera-se que o preço fique na entrada da safra próximo ao estimado no cenário neutro (R$ 56,84/ sc), mantendo a projeção de redução nos preços e elevação dos custos de produção, por causa do dólar mais alto na compra de insumos, entre outros fatores, a rentabilidade deverá cair. A redução nas cotações, compa- rada ao dia 25 de agosto, quando bateu em R$ 88,49, é de 33,5%, valor equi- valente a R$ 31,65 por saca. No entanto, é importante lembrar que algumas indústrias da Campanha, da Fronteira Oeste e da Depressão Cen- tral financiaram lavouras, via Cédula de Produto Rural (CPR´s), com preço travado em R$ 60,00 por saca para 30 de março, uma inovação no sis- tema de crédito privado. Trata-se de uma proposta experimental, de baixa capilaridade. A conclusão da Conab é de que, com o cenário se mantendo com per- fil neutro – nem no limite inferior nem no limite superior –, o mercado permanecerá com preços elevados até a entrada da próxima safra 2020/21, mesmo com ingresso de produtos de terceiros países, diante de uma reti- rada da Tarifa Externa Comum de 12% (que chega a 14% em cascata) se os volumes não passarem de 300 mil toneladas (com outras 500 a 600 mil toneladas do Mercosul). De qualquer forma, a perspectiva é de que as cota- ções em 2021/22 fiquem em um pata- mar inferior ao identificado na safra 2019/20. A importação ajudará a esta- belecer paridade com o mercado inter- nacional, que no fim de agosto estava acima de R$ 100,00 por saca, colo- cada no Brasil. Para a Conab, a recuperação da oferta nacional, em razão de uma pro- jetada recuperação de área, será fator determinante neste comportamento estimado. Caso a produção expanda em 7,3% de acordo com o indicado pelo modelo econométrico, há alta probabilidade que a curva de preços se comporte semelhante ao indicado pelo modelo de séries temporais no cenário neutro. Esta, como compro- vamos anualmente, é uma tendência, nunca uma certeza. S A F R A 14 setembro • www.planetaarroz.com.br M E R C A D O A tempestade perfeita Arroz chega a R$ 100,00 com o produtor dando as cartas no mercado Nem em sonho o rizicultor espe- rava que em 2020 diversos fatores se uniriam para formar a “tempes- tade perfeita” e elevar os preços do arroz em casca a um patamar recorde. No fim de agosto chegou a R$ 100,00 por saca de 50 quilos no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, ultrapassou R$ 125,00 no Mato Grosso e R$ 110,00 no Tocantins, sendo que nes- tes dois estados são sacas de 60 qui- los com grãos de 55% de inteiros, acima. O indicador Esalq/Senar-RS chegou a 31 de agosto em R$ 94,02, com alta de 38,18% no mês e equi- valendo a US$ 17,17 pelo câmbio oficial, nas seis regiões arrozeiras gaúchas. Antes, os maiores preços do arroz em casca desde que o indicador foi criado, em 2005, foram atingidos em 2008, como reflexo da crise de ali- mentos e econômica, em valores equivalentes a cerca de R$ 72,00 cor- rigidos pela inflação, no início de agosto. “De março a agosto as oportuni- dades se criaram da forma certa e no tempo certo, de maneira a asse- gurar a alta das cotações”, observa Cleiton Evandro dos Santos, analista da AgroDados/Planeta Arroz. Ele ressalva, no entanto, que a redução de área dos últimos anos e a saída de muitos arrozeiros da ati- vidade, também são fatores que con- taram para o desempenho. “Mesmo com alta produtividade média, o Mercosul recuou o equivalente a uma Santa Catarina e meia em área nesta década por falta de renda na ativi- dade. Em 15 anos, pelas médias do custo, produtividade e preço de venda, ao menos nove deram preju- ízos no Rio Grande do Sul. Os cus- tos subiram em todos os países e o endividamento se multiplicou”, explica. Mas, o Brasil, desde o ano safra 2011/12, tem saldo positivo de 4,53 milhões de toneladas (base casca) na balança comercial do arroz, tendo importado 7,72 milhões de t e expor- tado 12,25 milhões. Ou seja, neutra- lizou o efeito das compras do Mer- cosul e ainda exportou o equivalente a 40% de uma safra. “Em nove safras, exportamos mais de uma”, frisa. Afora isso, o Brasil trabalhava com a previsão de colheita menor, pela retração da área plantada para 940 mil hectares e problemas de clima como excesso de chuvas em outubro de 2019. A seca prolongada, desde novembro, afetou a irrigação no fim do ciclo de algumas lavouras, sem contar as baixas temperaturas no Carnaval. Mas, ao contrário do espe-rado, houve produtividade recorde no Rio Grande do Sul graças à radia- ção solar. Afora a balança comercial muito positiva por causa do câmbio e do esforço exportador nos últimos anos, outro grande fator de elevação de preços foi o fato do varejo entrar 2020 esperando a safra do Sul do Brasil para recompor estoques. Quando estourou a pandemia, em 13 de março, o povo correu aos supermer- cados para comprar e estocar alimen- tos, antecipou o fluxo de compras e aumentou o consumo. O varejo foi pego no contrapé, correu atrás da indústria e precisou pagar mais frente ao crescimento da demanda. Alguns engenhos venderam, em 16 de março, o equivalente a um mês e meio de negócios. Isso fortaleceu as cotações em pleno pico de colheita. Dali para frente, os valores cresceram até dis- pararem em agosto. “A safra gaúcha foi 600 mil tone- ladas maior do que o esperado, em 7,84 milhões de t, as plantas indus- triais estavam sendo abastecidas num volume maior do que a média. Isso deu suporte e tranquilidade ao supri- mento nacional”, acrescenta Tiago Sarmento Barata, do Sindarroz/RS. DE OLHO FIQUE Com a chegada do auxílio emergencial do governo, de R$ 600,00 a partir de abril/maio, houve novas ondas de compras de alimentos. O distanciamento social fez as pessoas realizarem mais refeições em casa, elevando o consumo entre 5%, para 10,8 milhões de toneladas, segundo a Conab, e 10% (11,3 milhões de t), segundo a Federarroz. Ao almoçar e jantar em casa, o brasileiro consome mais arroz, feijão e trigo. Ao se alimentar em restaurantes, tem maior preferên- cia por proteínas, saladas e variedades no cardápio. 16 setembro • www.planetaarroz.com.br M E R C A D O Fatores externos, mudanças internas Entre março e abril de 2020, havia a expectativa de que a covid-19 fosse vencida em três meses, o que não aconteceu. Isso manteve as pessoas comprando gêneros básicos e em dis- tanciamento parcial. O dólar dispa- rou. Os grandes fornecedores da Ásia passaram a ter problemas para ven- der e embarcar arroz com lockdown em alguns portos, redução da mão de obra disponível e até suspensão de exportações. Sob pressão de abas- tecimento, quase todos os países do mundo buscaram importar alimen- tos e garantir o abastecimento. Esse movimento gerou uma esca- lada de alta nos grandes países expor- tadores da Ásia, e o reflexo foi um tsunami de demanda no Brasil e no Mercosul. Acontece que os Estados Unidos, com grande demanda interna para cestas básicas e doações, anun- ciou em fevereiro que estava com seus estoques comprometidos até setem- bro, na nova colheita, e não faria novas vendas, apenas embarcaria o que estava negociado. Com duas que- bras de safras em três anos, a pri- meira de 20% e a segunda, em 2019, de 15%, e aumento do consumo, os estoques americanos quase zeraram. Então, os clientes da Europa, Amé- ricas e África se voltaram ao Merco- sul, em especial ao Brasil que tinha preços – exportava a R$ 68,00 e R$ 72,00 por saca em casca. Os valores não eram competitivos para uru- guaios, argentinos e paraguaios. E ainda enfrentavam a seca histórica no Rio Paraná, que tornou quase invi- ável a navegação para escoar a safra paraguaia para terceiros mercados. O Brasil liderou as vendas exter- nas, do bloco, inclusive para os Esta- dos Unidos. E ainda viu o México derrubando taxas para comprar arroz brasileiro e uruguaio em grandes volumes. Em cinco meses (março a julho) foram exportadas quase 1,1 milhão de toneladas (base casca), volume que deve superar 1,250 milhões de t acumuladas até agosto. Neste cenário, nadamos de bra- çada nas exportações, mas então veio a ressaca. Ainda que o dólar tenha se mantido alto, a boa demanda interna e a ruptura de oferta, em fun- ção do arroz disponível estar restrito a poucos agricultores, os preços locais começaram a disparar e o Mercosul demonstrou estar com baixos esto- ques disponíveis e pelo menos 60 países demandando o seu grão. O Brasil deixou de ser competitivo para exportar, e o mercado interno tor- nou-se mais atrativo do que nunca. Como alternativa, a indústria bus- cou a suspensão temporária da Tarifa Externa Comum (TEC) de 12% para o grão beneficiado e 10% para o arroz em casca, até o fim do ano ou para limite de 300 mil toneladas, como forma de se abastecer em países de fora do Mercosul. Os preços ao con- sumidor já superavam R$ 5,00 por quilo ou R$ 25,00 por pacote de 5 quilos do Tipo 1, branco, com 100% de valorização em algumas marcas. A Câmara Setorial, reunida dia 1º de setembro, rejeitou por 16 a seis a proposta, mas a demanda foi enca- minhada ao Ministério da Economia. Desta maneira, chegamos ao fim de agosto com duas saídas: pagar o preço necessário para ter fluxo de comercialização no mercado interno ou importar pagando mais caro. SÉRIE DE PREÇOS DE ARROZ EM CASCA ESALQ-SENAR/RS R$ por saca de 50 kg* Ano/mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média anual 2017 49,63 49,38 41,67 38,96 38,95 39,75 40,23 39,83 37,20 36,41 37,27 37,35 40,55 2018 36,78 35,43 35,06 35,78 36,63 38,99 42,02 44,16 45,59 44,81 41,76 40,15 39,76 2019 40,17 39,94 39,31 41,78 44,22 43,98 43,08 43,75 45,40 45,93 46,60 47,90 43,51 2020 49,60 50,52 49,81 54,74 60,72 53,08 61,92 64,67** - - - - 55,63** Média 44,04 43,82 41,46 42,82 45,13 46,16 46,81 48,10 42,73 43,38 41,87 41,80 44,01 Mensal * Médias mensais nominais ** Parcial até 12 de agosto Fonte: Cepea/Esalq/usp/arroz ............................................................................................................................................................................................................................................. ............................................................................................................................................................................................................................................. ............................................................................................................................................................................................................................................. ............................................................................................................................................................................................................................................. ............................................................................................................................................................................................................................................. ............................................................................................................................................................................................................................................. Preços devem se manter elevados em 2021 Ainda que não nos mesmos pata- mares, o cenário do fim de agosto para os preços do arroz é de pata- mares altos até o fim do ano comer- cial, em fevereiro de 2021, e ainda rentáveis ao longo de 2021/22. Isso porque, mesmo com aumento de área, a estimativa dos analistas e da Conab é de uma relação de oferta e demanda equilibrada, apesar do maior estoque de passagem – acima de 800 mil toneladas – dos últimos cinco anos para fevereiro de 2022. É consenso que quem poderá derru- bar o mercado de arroz é o próprio arrozeiro, ao definir a área plantada e a dimensão da colheita que está sendo semeada. “Superdimensionar pode nos fazer perder o que se construiu até agora em termos de preços”, entende o presidente da Federarroz, Alexan- dre Velho. Ele acredita que os bons preços da pecuária e da soja incen- tivam o produtor a manter-se com área limitada para assegurar uma relação de oferta e demanda ajustada o suficiente para garantirabasteci- mento interno, exportação e um esto- que estratégico. O Mercosul também vai aumen- tar área, assim como os Estados Uni- dos colhe uma grande safra e a Índia busca um recorde. “O mundo está abastecido, tem estoque recorde de 182 milhões de toneladas. O pro- blema é que mais de 80% estão con- centrados na Índia e na China”, explica Cleiton Evandro dos Santos, de AgroDados/Planeta Arroz. Segundo ele, os estoques ajusta- dos no Brasil até o fim do ano deter- minarão preços em novos patamares, mesmo ao consumidor, mas a pró- xima safra não deve fazer as cotações voltarem aos patamares de 2019, por exemplo. “Sob aumento adequado da produção, a tendência é de que não tenhamos preços nem tão perto dos R$ 100,00 e nem dos R$ 40,00. Hoje se trabalha com uma expecta- tiva em torno de R$ 60,00 para a época de colheita, limite de trava- mento para 30 de março por alguns contratos de CPR´s. É um bom preço de arrancada ao agricultor. Muitos fatores vão interferir até lá”, observa. A ressalva é uma enxurrada de arroz norte-americano no Brasil no segundo semestre e a expansão exa- gerada do plantio no país e no Mer- cosul. Colheita que aumente um milhão de toneladas na região pode representar até R$ 40,00 a menos por saca de arroz em casca ano que vem, e volta aos patamares históricos. Santos lembra que o custo de pro- dução deve subir pelos fertilizantes e defensivos cotados em dólar, máqui- nas e equipamentos e também pelas taxas sobre diesel, energia, entre outros. Outro motivo de preocupa- ção é o clima. “Após a estiagem pro- longada, tivemos outono e inverno que não permitiram a recomposição total das barragens. Sem boas chu- vas de primavera, podemos ter a área limitada pela incapacidade de irri- gar”, aponta André Mattos, coorde- nador do Irga na Zona Sul. Quem tem boas produtividades em soja, em especial o cultivo irri- gado e dispõe de água, não tem moti- vos para ampliar a área de arroz de forma significativa. Soja tem liqui- dez e boa margem de preços. A pecu- ária também tem gerado bons ren- dimentos. “No arroz, tivemos um ano atípico. Mas, mesmo colhendo bem, o arrozeiro pode ter prejuízos. Dependerá de custo, produtividade e preço médio de venda”, explica Santos. 1. Redução de área e estoques (RS, Brasil e Mercosul) 2. Expectativa de safra menor (RS, Brasil e Mercosul) 3. Quadro de oferta e demanda ajustado 4. Estados Unidos sem disponibilidades 5. Pandemia com aumento do consumo e compras de pânico 6. Exportações recordes e câmbio favorável 7. Elevação das cotações internacionais 8. Oferta restrita a poucos produtores 9. Elevação das cotações do Mercosul 10. Menor resistência aos preços pelo varejo e consumidor 11. Elevação das áreas de soja irrigada FATORES QUE PESARAM NA VALORIZAÇÃO FATORES DE RISCO AOS PREÇOS ATUAIS 1. Aumento de área, produção e oferta (RS, Brasil, EUA e Mercosul) 2. Elevação dos estoques (Brasil, Mercosul e mundo) 3. Importação acima do necessário 4. Retração do consumo 5. Formação de grandes estoques ao longo da cadeia produtiva 6. Perda de mercados internacionais 7. CPR´s 8. Endividamento M E R C A D O 17 M E R C A D O setembro • www.planetaarroz.com.br A orizicultura no Século 21 MARCO AURÉLIO MARQUES TAVARES, ADMINISTRADOR DE EMPRESA E PRODUTOR RURAL 18 O setor arrozeiro gaúcho, no início dos anos 2000, dependia de inter- venções governa- mentais e mecanismos lastreados nos preços mínimos que elevavam estoques públicos e a pressão destas disponibilidades em nova interven- ção (de oferta) no mercado. Em mui- tas safras, os preços ficavam abaixo das referências oficiais e essa política era de vital importância. Esse cená- rio contribuiu para gerar um endi- vidamento potencializado por pla- nos econômicos anteriores, clima adverso, e a época foi marcada por importantes mobilizações de rizi- cultores. Em 2004, a cadeia produtiva elen- cou a venda internacional como prio- ridade para equilibrar os preços internos. As exportações cresceram e colocaram o país entre os dez maio- res players mundiais, com superávits que ajudam a neutralizar a pressão das cotações pela importação do Mercosul. Nos últimos anos, ao incremen- tar as vendas externas de arroz em casca (Paddy), o cenário teve mais mudanças, como regionalização do mercado e impactos na formação dos preços internos. As operações alteraram o perfil de negócios e for- taleceram as praças mais próximas ao polo exportador, na Zona Sul, criando a opção de atender ao seg- mento industrial ou direcionar o grão para venda internacional. O preço de paridade tornou-se referência ao mercado interno. Até julho de 2020, o exportado beirou 1,1 milhão de toneladas a mais de 100 países. Em junho, bateu recorde de 316 mil tone- ladas. Cenário favorecido por alta do dólar, pandemia e preços mun- diais. Outro aspecto relevante é a mudança no perfil do crédito agrí- cola. Segundo a Farsul, enquanto em 2010 o crédito oficial controlado representava 50% da demanda da lavoura, atualmente representa 20%. Cerca de 35% dos custos eram geri- dos com recursos próprios, partici- pação que caiu para 10%. O mais grave é que atualmente 65% das necessidades de crédito são atendi- das por revendas e cooperativas (15%) e indústrias beneficiadoras (50%), criando dependência do arro- zeiro ao comprador/financiador e impactando a formação do preço (arroz a depósito e financiado com vencimento na safra). Isso gera forte transferência de renda para outro da cadeia produtiva, e enfraquece o orizicultor. O custo do crédito oficial e de bancos privados, com juros acima da taxa básica, e o dispêndio com acessórios e reciprocidades em ope- rações de custeio e comercialização onera o tomador do crédito. E ainda tem a burocracia anual de um sis- tema que deveria dispor de crédito rotativo, ágil, que minimize custos cartoriais. Custos de produção, em geral acima dos preços médios de venda, impactam a liquidez e a renda da atividade. Se mais de dois terços dos produtores são arrendatários e o desembolso com terra e água é ele- vado, a competitividade é ainda mais afetada. Parte do investimento é dola- rizada e depende de setores oligo- polizados. Nas últimas 14 safras, houve pre- juízos em nove, considerando médias de custo, produtividade e preços. Na última safra, diz o Irga, o custo pro- dutivo alcançou R$ 10.000/ha ou R$ 24 ,44 47 ,62 23 ,5 92 ,2 37 9,7 45 2,3 31 3,1 78 9,9 89 4,4 62 7,4 2.0 89 ,60 1.4 55 ,20 1.2 10 ,70 1.1 88 ,40 1.3 62 ,20 89 3,7 1. 06 4,7 0 1.7 10 ,20 1.3 61 ,00 1.2 53 ,00 EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS *Janeiro a julho de 2020. Fonte: MDIC Ano safra Volume (mil t) 19 M E R C A D O O futuro da orizicultura passa pela profissionalização permanente do produtor/gestor rural; com dedi- cação ao controle de custos; uso ade- quado da tecnologia; voltar-se ao mercado; cautela nos investimentos, pois a imobilização contribui para o endividamento; racionalizar áreas com aptidão para altas produtivi- dades e a gestão do negócio. É impor- tante rotacionar arroz com soja e/ ou a pecuária buscando alternativas agronômicas e comerciais que vise ganhos de escala e rateio dos custos fixos, evitando a monocultura. É imprescindível estabelecer novo for- mato de parceria entre arrendatário e arrendador. Isso tem repercutido na redução de área plantada e no número de arrozeiros no estado. É necessária e relevante a mudança no perfil de crédito e comercialização. A dependência de financiamento e a entrega de “arroz a depósito” na indústria é um modelo inviável e perverso. O arrozeiro fica refém, sem poder de barganha, e torna-se um cooperante do sistema. A alternativa de criar coopera- tivas de produtores e parcerias para armazenagem e comercialização, inclusive em terceiros mercados, urge como estratégia, com bons exemplos. O investimento em arma- zenagem própriaé outro caminho. Autonomia é um princípio básico para o sucesso comercial e finan- ceiro. A busca de mecanismos moder- nos de venda como derivativos, bolsa de mercadorias e mercado futuro, é urgente, pois a comercialização no setor é arcaica e de risco. Campa- nha de estímulo ao consumo do cereal e o uso de subprodutos tor- nam-se impreteríveis no mercado doméstico e na consolidação e ala- vancagem das exportações. Na atual safra, o arrozeiro gaú- cho superou dificuldades e alcançou média recorde (8.400 kg/ha), e mos- trou o seu protagonismo. No cená- rio de pandemia, onde as palavras de ordem são segurança alimentar, o mundo continuará demandando alimentos e o agro mostrará a sua relevância, inclusive para a retomada econômica que o país necessita. O produtor é primordial e indispen- sável, como também o seu reconhe- cimento e valorização pela socie- dade, e a necessidade de renda e sustentabilidade para desenvolver esse papel vital da produção de ali- mentos para abastecer o Brasil e o mundo. Tendências e desafios 60,00/50 kg. As altas do dólar e insu- mos podem frear a elevação ainda mais expressiva na área na próxima safra. Outro aspecto relevante nos últimos 20 anos foi a ocorrência de fenômenos climáticos intensos, enxurradas e estiagens (como 2019/ arroz e 2020/soja), que comprome- teram as safras. O agricultor assume integralmente o risco e conta com regras de um seguro ultrapassado e inadequado à realidade, e dependente de improváveis soluções governa- mentais, que, em geral, não passam de promessas. setembro • www.planetaarroz.com.br M E R C A D O 20 Uma combinação de fatores determinou a q u e d a acentuada da área e, em menor pro- porção, da produção de arroz no Brasil e no Rio Grande do Sul. Entre 2000 e 2020, a área plantada com arroz no Brasil acumula uma queda de 55%, de 3,677 milhões de hectares para os atuais 1,650 milhão de hectares. A produ- ção, entretanto, recuou bem menos no mesmo intervalo, de 11,423 milhões de toneladas para 10,583 milhões de toneladas, um recuo de pouco mais de 7%. Isso decorre do fato de que as maiores retrações de área plantada ocorreram nas regiões que cultivam arroz de terras altas (sequeiro), com queda menos acentuada nas áreas irrigadas, que tem produtividades médias maiores. É o caso do Rio Grande do Sul. Neste mesmo perí- odo analisado, a área plantada no estado praticamente não sofreu alte- ração. Há 20 anos, o estado cultivava uma área de 942 mil hectares. Essa área cresceu até a temporada de 2010/2011, quando atingiu 1,171 milhão de hectares, mas depois seguiu o mesmo movimento do país, com quedas praticamente contínuas, che- gando hoje aos 940 mil hectares. No caso do Rio Grande do Sul, a Evolução da lavoura de arroz nas últimas décadas e tendências futuras CARLOS COGO SÓCIO-CONSULTOR DA CARLOS COGO INTELIGÊNCIA EM AGRONEGÓCIOS produção sofreu uma queda expres- siva: de 8,9 milhões de toneladas em 2010/2011 para 7,4 milhões de tone- ladas atualmente, um recuo de 17%. Essa queda acentuada da área é reflexo de fatores combinados e simultâneos: a expressiva queda de consumo per capita de arroz nas últi- mas décadas, o alto endividamento do setor produtivo, a predominância de áreas arrendadas no processo pro- dutivo e o encolhimento ou até o desaparecimento das margens de ren- tabilidade da cultura. Pelo menos 60% dos produtores da Metade Sul do Rio Grande do Sul são arrendatários das terras em que plantam, a custos muito elevados, que praticamente inviabilizam finan- ceiramente o processo produtivo, por mais tecnificada que seja a lavoura. A queda de consumo per capita foi de 25% nos últimos 20 anos (de 45,1 kg por habitante em 2000 para 34 kg em 2019) e de 36%, se consi- derarmos um período mais longo (52,5 kg por habitante em 1990). A expansão da renda, especialmente da classe C, assim como ocorrido em outras economias emergentes, pro- vocou uma forte migração do con- sumo de cereais (arroz e trigo), feijão e tubérculos para proteínas animais. O destaque dessa migração foi a carne de frango, cujo consumo per capita saltou de 30 kg em 2000 para 43 kg em 2019. TENDÊNCIAS E DESAFIOS Ainda há espaços para a queda da área cultivada, especialmente nas regiões produtoras de terras altas. A tendência é de predomínio absoluto das áreas irrigadas com alta tecno- logia e elevadas produtividades na cadeia produtiva. As projeções da nossa consultoria apontam para uma área total plantada no Brasil de 1,2 milhão de hectares até o fim desta década, com 85% desta superfície ocupada com cultivo irrigado. O desafio será permanecer na cadeia produtiva até que se encontre um equilíbrio entre oferta e demanda no mercado interno. Esse desafio passará por dois pontos cruciais: ele- var a produtividade das áreas irriga- das de arroz para reduzir ainda mais o custo final por unidade produzida, consolidar a cultura da soja na Metade Sul do Rio Grande do Sul e elevar os volumes exportados, a fim de man- ter dois canais de demanda – o mer- cado doméstico e o externo. Como oportunidade, vemos o cultivo de soja na Metade Sul do Rio Grande do Sul se expandindo, mas não somente em rotação com o arroz irrigado, mas, sim, em substituição de culturas, o que já ocorre em mui- tos municípios, com aumento da área plantada com soja e redução do cul- tivo de arroz. Atualmente, são 1,5 milhão de hectares com soja na Metade Sul, mas a estimativa é de que, no máximo em cinco anos, a área atinja 2 milhões de hectares nesta região do Rio Grande do Sul. Isso deve elevar a receita bruta e as margens líquidas dos produtores, na direção da viabilização financeira da propriedade como um todo. A soja já tem alta liquidez e o Brasil é o maior produtor e exportador glo- M E R C A D O 21 bal e o arroz ainda tem espaços para abertura de novos mercados no exte- rior, que permitam compensar o recuo da demanda interna e promover o equi- líbrio entre oferta e demanda, com os preços domésticos mais sustentados, ancorados na paridade de exportação. A pandemia da covid-19 trouxe grande alento ao setor em 2020, com a disparada dos preços pagos aos produ- tores que atingiram recordes nominais, decorrentes de uma combinação de rea- ção do consumo interno e de exporta- ções elevadas. O aumento do consumo interno decorre de fatores como alto nível de desemprego, redução da cir- culação de pessoas e de refeições fora do lar, aumento do preparo de refeições nos lares e de ajudas emergenciais do governo que acabaram concentradas em compras de alimentos básicos. No caso das exportações, a forte escalada vista em 2020 decorre da com- binação da alta do dólar e da elevação das cotações do arroz no mercado externo (em dólares), o que elevou a paridade de exportação. As perguntas que ficam são: será que o aumento de consumo interno se sustenta a partir de 2021 e no longo prazo? As expor- tações vão continuar em expansão a partir da próxima safra? De qualquer forma, essas mudan- ças conjunturais de demanda podem permanecer em proporções distintas, mantendo-se, por exemplo, um aumento da conquista de mercados de exporta- ção, com o consumo interno retroce- dendo, deixando a esperança de que a cadeia produtiva possa ter encontrado caminhos para resgatar a competivi- dade e a lucratividade da orizicultura irrigada para trilhar com sucesso as próximas décadas. M E R C A D O À beira do limite Balança comercial ajusta quadro de oferta e demanda do Mercosul Uma conjuntura que reuniu o câmbio favorável, os Estados Unidos ausentes do mercado internacional desde março e a alta demanda global por arroz por causa da pandemia da covid-19 fizeram com que o Brasil batesse recordes nas exportações entre março e julho de 2020. Mais de 100 países foram atendidos desde o início do distanciamento social, em março, até julho. Em junho, os bra- sileiros bateram um recorde de embarques, com 316,4 mil toneladas. Em julho, foram 298,9 mil t,segundo o Ministério da Indústria e Comér- cio Exterior (MDIC). No acumulado dos cinco primei- ros meses do ano comercial, o Brasil embarcou 1,098 milhão de tonela- das, com saldo de 729,9 mil t, ou seja, 97% a mais do que no período do ano passado. As importações foram discretas até julho por causa da pari- dade, elevada mesmo para o grão do Mercosul. A soma foi 368,7 mil tone- ladas adquiridas, 19% menos que em 2019, na mesma época. O Paraguai é a principal origem das compras, com 70,1% do total, sendo 62% das cargas beneficiadas, segundo o dire- tor do Sindarroz/RS, Tiago Barata. Agosto poderia superar 150 mil toneladas embarcadas, mas a expec- tativa diante dos preços internos é da reversão gradual na balança comercial, com as compras mensais maiores do que as vendas, mesmo com o dólar valorizado. A queda acentuada nos estoques do Mercosul e uma demanda de vários países reforça a alta de preços. A ruptura da oferta interna levou o segmento industrial a buscar a suspensão da Tarifa Externa Comum (TEC) de 12% sobre o arroz beneficiado e 10% sobre a casca para países de fora do Mer- cosul. A medida tem resistência no Mapa e foi rechaçada na Câmara Setorial Nacional por 16 a seis. O analista de arroz da Conab, Sér- gio Roberto Santos Júnior, avalia que “assim como o mercado foi favorável ao Brasil até julho, em agosto come- çou a se equilibrar com o Mercosul e tendemos a comprar mais do que vender até fevereiro”. No fim de agosto, os preços brasileiros superaram R$ 100,00, mas a paridade fora do Mer- cosul estava bem acima disso. FIQUE DE OLHO O projeto Brazilian Rice, parceria de promoção do arroz brasileiro entre Abiarroz e a Apex-Brasil, definiu oito países prioritários para as vendas nacio- nais até 2022: Canadá, Guatemala, México, Panamá, Peru, Reino Unido, Turquia e Marrocos. O programa está em fase de renovação com a meta de realizar ações que gerem resultados sustentáveis de exportação em longo prazo, e não apenas negócios de ocasião por fatores como câmbio e safra. Exportações de arroz por tipo (t, base casca) Ano comercial (março/fevereiro) Março a julho 2020 TIPO IMPORTAÇÃO EXPORTAÇÃO Beneficiado 230.120,7 456.938,6 Casca 37.496,7 368.157,8 Descascado 94.214,5 9.760,6 Quebrado 6.884,4 263.760,8 Total 368.716,5 1.098.617,8 Ano Importação Exportação Saldo 2011/12 833.653 2.099.088 1.265.435 2012/13 1.093.593 1.472.884 379.291 2013/14 980.956 1.203.428 222.471 2014/15 807.499 1.188.749 381.250 2015/16 502.936 1.360.305 857.368 2016/17 1.187.210 894.732 -292.478 2017/18 1.041.788 1.064.746 22.959 2018/19 845.202 1.710.194 864.992 2019/20 1.037.515 1.360.915 323.401 2020/21* 368.717 1.098.618 729.901 Fonte: MDIC e Sindarroz/RS Fonte: MDIC e Sindarroz/RS setembro • www.planetaarroz.com.br22 setembro • www.planetaarroz.com.br M E R C A D O 24 Os últimos 20 anos e os próximos 20 anos do setor orizícola brasileiro SÉRGIO ROBERTO SANTOS ANALISTA DE MERCADO E GERENTE DE FIBRAS E ALIMENTOS BÁSICOS DA COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). Nos últi- m o s 2 0 anos, o mer- cado orizí- cola brasi- leiro se con- solidou como um forte inves- timento em tecnologia no campo e desenvolvimento genético de semen- tes. Estes trabalhos resultaram em uma significativa expansão da pro- dutividade do setor de 116,2% no Brasil. Para se ter uma ideia do salto dado, na safra 1999/2000 a produ- tividade identificada era de 3.106 kg/ ha e, na atual, a Conab estima uma produtividade média no Brasil de 6.714 kg/ha. Ao se considerar ape- nas o maior estado produtor, o Rio Grande do Sul, a produtividade média estimada atinge 8.369 kg/ha. Outro ponto de avanço na cadeia produtiva foi a promoção do arroz brasileiro no mercado internacional, impulsionado principalmente após a super safra 2010/2011. A partir de então, o país se consolidou como exportador líquido, comercializando um produto com alta qualidade. Cabe ressaltar, todavia, que a elevada carga tributária e os subsequentes eleva- dos custos de produção frearam uma expansão ainda mais intensa das exportações brasileiras. Hoje o desafio é traçar novas estratégias e objetivos da cadeia ori- zícola para os próximos 20 anos, após a superação das barreiras iniciais enfrentadas pelo produtor nas duas últimas décadas. Nesse contexto, com as seguidas retrações do consumo nacional e com os recorrentes pre- ços baixos de comercialização nos últimos anos, em meio às mudanças de hábitos da população brasileira e à dificuldade de expansão de mer- cado externo após o crescimento e consolidação inicial, o desenvolvi- mento e a promoção de produtos derivados do arroz tornam-se algo imprescindível. Na Ásia, a título de exemplo, consumo de arroz, fora do u s u a l d e g r ã o in natura , é extremamente significante na composição das demandas locais. Outra vertente vista como impor- tante, vis-à-vis à crescente demanda por arroz orgânico, no Brasil e no mundo, e ao seu alto valor agregado de comercialização, é o incentivo ao desenvolvimento e à expansão do grão orgânico no país. Hoje este mercado ainda é incipiente no Brasil e, no mundo, não há país que esteja em posição dominante neste nicho. Entretanto, têm sido notados esforços do governo tailandês que vem incentivando o crescimento de áreas destinadas às lavouras orgânicas, e a promoção desse produto no comér- cio global. Para isso, a Tailândia criou uma Denominação de Origem Contro- lada (DOC) de arroz orgânico e uma plataforma digital, buscando maior credibilidade da cadeia produtiva local e transparência e rastreabili- dade de seu processo produ- tivo. Especificamente para o Brasil, um maior desenvolvimento e inser- ção neste mercado trará, além de todos os benefícios com a agregação de valor, uma melhora na imagem do país no comércio internacional, o que seguramente refletirá como externalidade positiva em toda essa cadeia produtiva. Em suma, o desafio central para o futuro não mais será em torno da ampliação da produtividade da lavoura de arroz, e sim da agregação de valor do produto comercializado e da expansão da demanda nacional e internacional do grão brasileiro. assinatura planeta A pro - d u ç ã o d e a r r o z e m Santa Cata- rina passou por profun- das trans- formações nos últimos 20 anos. O incremento de tecnolo- gia, com desenvolvimento de culti- vares adequados às condições climá- ticas do estado, com alto potencial produtivo e que atendam as deman- das do mercado fizeram a produti- vidade média do estado saltar de 5,9 para 8 toneladas em duas décadas, de acordo com dados da Epagri/Cepa. Isso representa um incremento de 38% em termos absolutos e equivale a uma média de ganho de produti- vidade de 1,6% ao ano nesse período. Em paralelo a isto, visualizamos Perfil e tendências da orizicultura em Santa Catarina GLÁUCIA ALMEIDA PADRÃO ECONOMISTA – CEPA/EPAGRI (SC) uma significativa redução no número de produtores no estado. Segundo dados do IBGE, no ano de 2006 tínha- mos aproximadamente 8 mil esta- belecimentos produtores de arroz em Santa Catarina e no Censo de 2017, o número se aproxima de 5 mil esta- belecimentos. A redução foi de cerca de 37%. Por outro lado, a área média que em 2006 era de 16 hectares passou para 25 hectares em 2017. Entre os principais limitantes à permanência dos produtores desta- cam-se os custos elevados e a mar- gem baixa, que levou muitos orizi- cultores a arrendarem suas terras para terceiros. No estado, estima-se que 60% das áreas sejam arrendadas. Grande parte desses custos ele- vados se deve à gestão da atividade e uso dos insumos de forma inade- quada, desperdiçando recursos pro- dutivos, ou ao mau dimensionamento da atividade produtiva. TENDÊNCIAS E DESAFIOS Numa conjuntura em que o arrendamento de terras segue ten- dência crescente, a oferta de mão de obra é cada vez menor e o con- sumo de arroz se apresenta estabi- lizado, o principal desafio para a cultura no estado é a manutençãodos produtores no campo, por meio de redução dos custos e aumento da eficiência técnica e econômica. Ademais, a diversificação de mercados, como os tipos especiais e os orgânicos, podem gerar bons resultados para um grupo de pro- dutores, mas trata-se de um nicho de mercado e, portanto, não abrange a totalidade da produção catari- nense. Existem ainda alternativas, como o aumento do consumo de deriva- dos de arroz, como a farinha, bebi- das, entre outros, que podem ampliar a demanda da indústria e a margem do produtor. M E R C A D O “Que vontade de comer aquele arroz com feijão!” Ao concluir a frase, pre- sume-se que sua memória afetiva esteja em plena atividade. Isso porque a ideia que a maioria das pessoas tem sobre o par perfeito, ou arroz de mãe, a comida de vó é de uma refeição cheia de sabor, saúde e afeto. Esses fami- liares que cozinhavam e serviam tal comida realmente preocupavam-se com nossa saúde. Ofereciam comida de verdade, que hoje chamamos de alimentação saudável, equilibrada. Isso porque o arroz traz muitos bene- fícios para a saúde de quem o con- some, ainda mais se associado ao seu amigo inseparável, o feijão. Quando consumido na forma integral, o arroz proporciona ao corpo maior aporte de fibras e que, baseado na ciência, apresenta menor risco para o desenvolvimento de doença coronariana, hipertensão, obesidade, diabetes, câncer de cólon e redução do peso corporal devido à saciedade que proporciona. O par- boilizado é rico em amido resistente, a porção não digerida de amido, age como fibra no intestino e sua diges- tão é lenta e gradual, não causando picos de insulina, o que favorece os diabéticos. É fonte de vitaminas e sais minerais que são nutrientes regu- A importância da conscientização do consumidor sobre a valorização do arroz CAMILA PILOWNIC COUTO COORDENADORA DO PROVARROZ - IRGA ladores do organismo, com função importante sobre a pressão sanguí- nea, funcionamento do coração, sis- tema imunológico, recuperação de ferimentos, e funções musculares. No entanto, pesquisas apontam que a comida de verdade foi, grada- tivamente, substituída por refeições congeladas prontas, ultraprocessa- das, fastfood, sabor artificial e ingre- dientes prejudiciais ao organismo humano. As pessoas não têm tempo de cozinhar e pouco se dedicam ao hábito. Optando por utilizar momen- tos em família ou sozinhos, para um hobby que tire sua atenção da correria diária. Isso provavelmente acontece pela falta de informação sobre os benefícios do arroz à saúde, a quan- tidade de co-produtos que existem para deixar uma alimentação sim- ples cheia de nutrientes importantes que aumentam a imunidade. É preciso agregar valor ao arroz, acrescentar informações nutricionais do alimento na embalagem, além dos benefícios deste para a saúde de quem o consome. Entender a percepção de valor pelo consumidor: percebendo que o “preço” é pelo que o consumi- dor paga, mas “valor” é o que ele leva para casa. Ou seja, informação + ali- mentação saudável + conhecimento sobre aquilo que escolheu colocar na mesa, fará diferença, levando-o a consumir mais e de forma natural. Com tal pensamento, o Provar- roz, Programa de Valorização do Arroz do Irga, desenvolve desde 2015 ações no Rio Grande do Sul. Base- ando suas atividades em propaganda, palestras e oficinas a profissionais e alunos, em graduação, da área da saúde, mostrando-lhes a importân- cia de consumir arroz e de propagar essas informações aos pacientes. De forma gradual, o trabalho começa a alcançar a esfera nacional após ações com figuras importantes para disse- minar conhecimento na área, como Rita Lobo e Dr. Drauzio Varella. As próximas iniciativas se darão em fun- ção do cenário de isolamento social que vivemos: receitas, informações e muito conteúdo estão disponíveis no site e redes sociais do Irga. No entanto, faz-se necessária a união da cadeia orizícola para alcan- çar números e resultados maiores e mais rápidos. Tal iniciativa demons- traria força, de modo a exigir dos governantes maior aproveitamento da taxa CDO, que, atualmente, com parcela direcionada ao caixa único do Estado, não retorna em forma de benefício à própria cadeia. Assim, reunindo esforços em função de um objetivo comum, uma consequente valorização do arroz estaria posta. Nesse sentido, as soluções e medi- das que a cadeia orizícola gaúcha deve adotar poderão nortear o con- sumo do cereal em todo o país, uma vez que produzimos 70% de todo o arroz brasileiro, mas consumimos apenas 12%. Por que, então, não darmos o exemplo e passarmos a consumir mais e viver muito melhor, fortalecendo a imagem do arroz de volta à mesa do brasileiro, repagi- nado e indispensável no dia a dia, almejando que a população valorize o que sempre está ao seu alcance, em momentos de prazer ou de sufoco. setembro • www.planetaarroz.com.br C O N S U M O 26 A Asso- ciação Brasi- l e i r a d a Indústria do Arroz (Abiarroz), instituída em 2009, em Porto Alegre (RS), reúne as indústrias orizícolas do país. A entidade promove a repre- sentação dos interesses das indústrias e cooperativas e a interlocução junto aos órgãos competentes. À época da sua criação, o cenário orizícola era caracterizado por uma forte demanda por instrumentos de política pública do governo federal e maturidade exportadora incipiente. Devido aos problemas cíclicos que desafiavam a cadeia produtiva, sem perspectiva de solução perene, a Abiarroz elegeu como principal ban- deira a consolidação de uma plata- forma exportadora no Mercosul. Esse delineamento tinha por objetivo pro- mover o escoamento dos excedentes carreados ao Brasil pelo bloco. Com a medida, buscava-se assegurar a ren- tabilidade e sustentabilidade à cadeia produtiva, até então comprometidas pela interiorização destes excedentes. Com este propósito, a Abiarroz firmou convênio com a ApexBrasil, em 2012, elencando os mercados-alvo que receberiam ações de promoção e abertura comercial. Como resulta- dos, tais gestões concretizaram a aber- tura do mercado do Peru, consoli- dando este como o principal desti- setembro • www.planetaarroz.com.br28 S E T O R I A L Ações, objetivos, tendências, oportunidades e desafios da indústria brasileira do arroz ANDRESSA SILVA DIRETORA-EXECUTIVA DA ABIARROZ natário do arroz beneficiado brasileiro; acordo fitossanitário com a Colômbia e México para exportação de grão pro- cessado; gestões para a retomada da regularidade de exportações aos Esta- dos Unidos, além do trabalho de ima- gem do arroz nacional fora do país e qualificação da indústria exportadora. Estão no foco da agenda da indús- tria, gestões para a isentar ou conce- der cotas de importação do arroz bra- sileiro pelo México, articulação para abrir o mercado chinês, aproximação com Marrocos, Canadá e Arábia Sau- dita. A Abiarroz participou, com pro- posições e subsídios pelo estabeleci- mento de cotas para exportação no Acordo Mercosul-União Europeia no decurso das negociações. A abertura e consolidação de mer- cados por meio de suas ações assegu- raram, nos últimos anos, uma balança comercial favorável ao Brasil, que con- tribuiu para a sustentabilidade da cadeia produtiva e menor dependên- cia dos instrumentos de comerciali- zação do governo. Considera-se um grande avanço ao segmento a maior integração da indústria em torno de demandas em comum. A existência de uma entidade nacional possibilita, ainda, a melhor interlocução com os órgãos públicos e atores que impac- tam na atividade orizícola. Neste contexto a Abiarroz traba- lha em defesa dos interesses da indús- tria na área trabalhista, tributária, de comercialização, qualidade vegetal e, também, no enfrentamento à crise da covid-19. Recente vitória, em conjunto com outras entidades industriais, foi a pos- sibilidade de subvenção econômica às empresas cerealistas, recém-publi- cada na Lei nº 13.986, de 7 de abril de 2020. Esta foi uma das primeiras demandasda presente gestão da Abiar- roz, alcançada com uma perspectiva bastante positiva no tocante ao acesso a recurso pelo setor industrial. Na qualidade vegetal, a entidade trabalhou para o enquadramento de penalidade para a presença de insetos vivos no produto condizente com as disposições do Decreto 6268/2007. A indústria preocupa-se com a qualidade do arroz levado ao consu- midor e trabalha para instituir um programa de autocontrole capaz de mitigar distorções na Classificação de Tipo, prejudiciais a toda cadeia pro- dutiva. Com esse propósito a entidade integra grupos de estudo para implan- tação do autocontrole, na expectativa de assegurar a permanência no mer- cado somente de empresas idôneas e comprometidas com o consumidor. A entidade trabalhava a instituição de programa privado de autocontrole, que foi absorvido pelo intento do Ministério da Agricultura de tornar o sistema uma realidade para os seg- mentos agrícolas. A Abiarroz zela pelos interesses das indústrias na esfera Legislativa, buscando frear propostas nocivas ao setor, como a Medida Provisória que estabelecia o fim do aproveitamento de crédito presumido de Pis e Cofins, na qual obtivemos êxito, ou alertando para medidas que buscam compro- meter a relação do país com o Mer- cosul. Na linha propositiva, trabalha junto aos órgãos encarregados da for- 29 S E T O R I A L mação de política pública ao setor e encaminha demandas relevantes para a indústria, em especial no que se refere à reforma tributária, à área trabalhista, e de logística. Importante destacar que desde sua criação a Abiarroz tem na cadeira dire- tiva líderes comprometidos com a liberdade econômica, o respeito às leis de mercado e à sustentabilidade da atividade orizícola. Este é um dife- rencial da entidade, que se mantém coerente e íntegra ao longo destes anos. OBJETIVOS Assim como consolidar a plata- forma exportadora de arroz, a Abiar- roz considera salutar para a susten- tabilidade da atividade orizícola o estímulo ao consumo no mercado interno, haja vista a vocação agrícola do país. Neste sentido, a próxima meta é a promoção do consumo doméstico, de forma a sensibilizar o consumidor para os benefícios do grão em termos nutricionais, sociais e de saúde pública. Com este intuito, tramita na Câmara dos Deputados projeto de lei do deputado Jerônimo Goergen, pro- posto pela Abiarroz e o Conselho Bra- sileiro de Feijão e Pulses, que cria a Semana Nacional do Feijão e do Arroz, como forma de incentivar o consumo, por meio de ações de restaurantes, hotéis, escolas, além de assegurar o uso dos produtos na alimentação esco- lar e divulgação dos seus benefícios. A par disso, a Abiarroz, com enti- dades setoriais regionais e setor pro- dutivo, tem trabalhado junto ao governo do Rio Grande do Sul para o desenvolvimento de campanhas nacionais de consumo, com vistas a promover o cereal e sensibilizar a população brasileira para a impor- tância deste alimento. TENDÊNCIAS E DESAFIOS Como tendências para o setor do arroz, percebe-se cada vez mais o pro- tagonismo do consumidor, que quer praticidade, saúde e sabor em um mesmo produto, a custos acessíveis. O apelo pela saudabilidade também ditará os rumos do setor orizícola, que deverá promover a diversificação do consumo do cereal por meio do desen- volvimento de derivados de arroz, aproveitando essa nova tendência. A Abiarroz enxerga como desafio a consolidação dos mercados interna- cionais conquistados, na medida em que barreiras sanitárias, técnicas, buro- cráticas, ambientais e padrões privados dificultam cada vez mais a manuten- ção desses mercados. A ampliação para novos mercados, de forma a garantir o escoamento dos excedentes de arroz a nível de bloco e a rentabilidade ao longo da cadeia produtiva, continua sendo um relevante desafio para a ori- zicultura nacional. O cereal nacional é referência em produtividade e qualidade, tendo alcançado mercados exigentes como Peru e Estados Unidos. No Brasil, entretanto, o consumidor não tem essa percepção. Desta forma, a enti- dade acredita que é preciso um tra- balho conjunto de comunicação e imagem do setor e do cereal, de forma a retomar a cultura e o hábito de con- sumo deste grão importante para a dieta brasileira. A maior integração da cadeia pro- dutiva, é desafio que, uma vez supe- rado, é capaz de suplantar a todos os demais, otimizar as oportunidades e, concretizar objetivos, com ganhos para todos os seus elos. Com efeito, a par de trazer melhorias para a cadeia produtiva, aumento da rentabilidade e sustentabilidade da atividade, a inte- gração de cada elo da cadeia é o meio mais eficaz de combate ao inimigo em comum que tem nome e sobre- nome: “custo de produção”, englo- bando desde o custo Brasil às assime- trias do Mercosul. Com mais diálogo, união de propósitos e comprometi- mento, são grandes as perspectivas de superação dos desafios e pujança deste setor tão caro para a sociedade brasileira e que se mostra tão salutar neste momento de crise. OPORTUNIDADES O melhor aproveitamento do grão, a partir do desenvolvimento de deri- vados de arroz, atendendo ao apelo da saudabilidade, configura-se uma importante oportunidade a ser explo- rada pelo segmento nos próximos anos. Muito embora os efeitos nefas- tos para a sociedade e a saúde pública causada pela covid-19, o aumento da demanda externa pelo produto bra- sileiro fortaleceu a consolidação dos mercados consumidores internacio- nais já conquistados e possibilitou a abertura de novos clientes, aprovei- tando as restrições impostas por alguns países tradicionais exportado- res. Existe, ainda, a perspectiva de retomada do hábito de consumo do arroz nos lares, já que o momento levou as famílias brasileiras a estocar alimentos essenciais, realizar refeições em família e prezar pelo aumento da imunidade diante da possibilidade de alastramento do vírus. O posicionamento correto do arroz neste momento e no pós-crise pode ser a alavanca para a promoção do consumo ou a perda de uma grande oportunidade de estímulo ao hábito alimentar, tão comprometido pelas facilidades que a vida moderna e atri- bulada impôs. S E T O R I A L setembro • www.planetaarroz.com.br30 Nos últi- m o s 2 0 anos, durante o período de circulação da Revista Planeta Arroz, houve uma evolução muito grande na lavoura de arroz do Rio Grande do Sul e, porque não dizer, do Brasil e do Mercosul, uma vez que expor- tamos tecnologias e genética. Pode- mos destacar, em primeiro momento, o manejo – desde o pós-plantio até a colheita, passando pela irrigação, estrutura de lavoura, melhor enten- dimento das necessidades do solo e da fertilização – e cultivares com maior resistência a doenças, maior potencial produtivo. Talvez o maior dos desafios – que está atrelado à renda – imposto aos arrozeiros tenha sido buscar a racio- nalização das áreas em busca de um aumento de produtividade com redu- ção dos custos proporcionais. O per- fil atual da lavoura e do agricultor exige um profissionalismo em ges- tão das propriedades e a busca de alternativas de cultivo como a soja e também a pecuária, que trazem no conjunto de práticas um aumento de fertilidade do solo e melhores resultados. Migramos da monocul- tura para um sistema de produção de alimentos, baseado em forte tra- balho de pesquisa e agregação tec- nológica, na introdução da soja e da Do campo à cidade, a cadeia do arroz venceu etapas, mas tem grandes desafios ALEXANDRE VELHO PRESIDENTE DA FEDERARROZ pecuária em rotação. Mesmo nas lavouras que repetem o arroz, há um manejo mais eficiente e sustentável estabelecido entre safras. O desafio dos próximos anos será buscar outros grãos para ingressa- rem neste novo sistema de produção na metade sul, e coberturas vegetais para intensificar o sistema com cul- turas de inverno, pastagens, aduba- ção verde, ampliando as possibilida- des nessa trajetória a caminho de uma agricultura multicultural,que melhore as condições de solo em ter- mos de fertilidade a fim de alcançar acima de 170 sacos de arroz por hec- tare, que seria um ponto de equilí- brio em termos de renda. A partir deste número, o produtor começa a obter lucro com a cultura. A tendência é de que permane- çam na atividade aqueles agriculto- res ávidos por informação, que estão se reinventando na busca de alter- nativas para baixar custos e auferir renda. A agricultura é cada vez mais uma atividade que exige sustentabi- lidade por meio dos diversos eixos, em especial o econômico, o ambien- tal, mas também social – por tudo o que a orizicultura representa no Sul do Brasil e no mundo – e tam- bém cultural, pois trata-se de uma lavoura que está há mais de um século integrada às terras baixas, presente em mais de 200 municípios gaúchos e nos quatro países do Mercosul. Não nos faltarão desafios. Estamos vivendo um ano completamente atí- pico, em que a pandemia, o câmbio, a redução de áreas e o superávit comercial dos últimos anos permi- tiram uma evolução histórica nos preços do arroz. Em que pese a tragédia causada pelo coronavírus, o mundo voltou- -se à importância do arroz e a lavoura, diante deste cenário, recuperou a sua relevância estratégica diante do con- sumidor, do varejo e dos governos. A cadeia produtiva respondeu à demanda. Esperamos que, diante de tantos problemas, tenhamos a pos- sibilidade de ver demandas do setor atendidas, com a devida valorização do produtor, e tenhamos a capaci- dade necessária para discernir um ano atípico de um cenário de nor- malidade, que esperamos retorne em breve, e sejamos racionais na decisão do tamanho da lavoura que será plan- tada. Foi preciso perder muitos anos e produtores, reduzir mais de 200 mil hectares, e uma pandemia e câmbio favorável para recuperarmos a capa- cidade de obter renda, e nem todos conseguiram. Muitos venderam arroz abaixo de R$ 60,00 este ano, poucos alcançaram os R$ 100,00. Agora, é preciso que sejamos estratégicos ao não aumentar a produção além do limite da capacidade de consumir, exportar e manter um estoque ade- quado. Nosso grande desafio é bus- car o ponto de equilíbrio entre a oferta e a demanda e remuneração justa ao longo da cadeia produtiva, de forma que nos permita recuperar prejuízos, pagar dívidas, investir e manter o Brasil no mapa da autossuficiência em segurança alimentar e um for- necedor confiável e regular de arroz para o mundo. O Brasil é ainda um p a í s e m desenvolvi- mento que enfrenta fortes crises econômi- c a s . A Empresa Brasileira de Pesquisa Agro- pecuária (Embrapa) é uma empresa pública do governo federal que tem um importante papel social ligado ao homem do campo frente às gigan- tes empresas privadas que atuam no setor. O melhoramento de plantas é um processo muito dispendioso, que demanda muito tempo, trabalho e investimento. Onde, cada decisão tomada de forma equivocada, pode acarretar em consequências inesti- máveis ao programa e/ou empresa de melhoramento, podendo ser irre- versíveis a curto prazo. Logo, é de extrema importância o monitora- mento da eficiência do programa de melhoramento via obtenção de esti- mativas de ganho genético, de forma a, analisar criticamente a eficiência do programa e planejar novas ações e estratégias para o desenvolvimento e liberação de novas cultivares. 31 P E S Q U I S A O melhoramento genético de arroz irrigado na Embrapa e seus reflexos na orizicultura ARIANO DE MAGALHÃES JR PESQUISADOR – EMBRAPA CLIMA TEMPERADO (RS) Estudo realizado para estimar o progresso genético de 45 anos do programa de melhoramento da Embrapa no Sul do Brasil no período de 1972 a 2016, revelou que obteve- se uma ganho de quase 50 kg ao ano, somente em função de lançamento de novas cultivares mais produtivas e mais resistentes a estresses bióti- cos, como doenças e abióticos pro- vocados pelo clima. Ao longo deste período de pes- quisa, foram lançadas pelo programa de melhoramento genético da Embrapa 25 cultivares de arroz irri- gado de clima temperado, com uma média aproximada de uma nova cul- tivar a cada dois anos de trabalho. Fazem parte desta lista as cultivares BR IRGA 409 e BR IRGA 410, lan- çadas em 1979 e 1980, respectiva- mente, que foram consideradas res- ponsáveis pela “revolução verde” da lavoura no Brasil, em função da nova arquitetura de plantas de porte semianão refletindo em ganho de produtividade das lavouras. Atualmente, tem-se destaque para as cultivares BRS Pampa e BRS Pampa CL, consideradas arroz premium pela indústria por sua qualidade de grãos do tipo longo e finos e a cultivar BRS Pampeira que apresenta o maior teto produtivo entre as cultivares desen- volvidas pelo programa de melho- ramento, com produtividade acima de 12 toneladas/hectare e que tam- bém tem apresentado padrões de qualidade de grãos excelentes. Além dos avanços nos caracteres de produtividade e qualidade de grãos a introdução de genes de resistência a herbicidas nas cultivares de arroz foi uma importante contribuição do melhoramento genético para a lavoura orizícola, permitindo con- trolar o arroz vermelho que tem sido a principal invasora da cultura. TENDÊNCIAS E DESAFIOS Para os próximos anos, os maio- res desafios serão quebrar os pata- mares de produtividade já elevados que temos das cultivares já lançadas e manter o padrão de qualidade pre- mium de arroz, onde as exigências serão cada vez maiores pelos consu- midores. Deve-se atentar para cul- tivares com valores agregados, nutra- cêuticos, isentos de contaminantes, bem como para o aumento de con- sumos de arroz especiais. Deverão ser selecionadas cultivares mais efi- cientes quanto ao uso dos recursos naturais (energia solar, água e nutrientes do solo) e menos depen- dentes de insumos trazendo susten- tabilidade econômica, ambiental e social. Em resumo: mais produtivas e menos exigentes. 32 I R R I G A Ç Ã O A evolução do manejo no sistema de produção de arroz irrigado MARA GROHS PESQUISADORA DO IRGA Nos últi- mos vinte anos, houve um salto na mé d i a d a produtivi- d a d e d o arroz no Rio Grande do Sul, passando de 3776 kg/ha para 8402 kg/ha. Diversas modificações no manejo da lavoura foram os res- ponsáveis por este desempenho. O fator fundamental, porém, determi- nante na construção dessa média, foi o melhoramento genético. Estudo conduzido pelo Irga deter- mina que quase 70% do aumento da produtividade do arroz gaúcho deveu- se ao melhoramento genético, pas- sando de cultivares com potencial de 6 t/ha, como o Bluebelle, na década de 70, para BR IRGA 409, na década de 80, com potencial de 9 t/ha, che- gando a cultivares como IRGA 424RI, nos dias atuais, com potencial de 14 t/ha. Os demais 30% foram influen- ciados pelas modificações do manejo cultural. Dentre os diversos mecanismos, não podemos deixar de citar a época de semeadura como o cerne da pro- dutividade do arroz. Em segundo plano, mas não menos importante, a irrigação que passou a ser realizada nos estádios V3-V4, em detrimento ao V6. Além disso, pequenas modifica- ções foram fundamentais para se extrair todo o potencial genético das plantas: adequação da densidade de semeadura, de 200 kg/ha para menos de 100 kg/ha; tratamento de semen- tes; fertilização considerando a extra- ção de plantas mais produtivas; e manejo de adubação de nitrogênio, agora aplicado na maior parte em solo seco e fracionado (duas a três vezes) no ciclo da planta, buscando eficiência de elementos empregados. Atualmente, apesar de cultivares de alto potencial genético no mer- cado (híbridos podem chegar a 16 ton/ha), a média de produtividade é recorde, mas atinge pouco mais de 50% do potencial disponível. Quer dizer que pode não haver necessi- dade de plantas mais produtivas no futuro próximo, mas foco no manejo cultural para extrair o máximo poten- cial genético. Local Cultivar Alto nível Baixo nível tecnológico tecnológico t/ha
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