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FICHAMENTO LIVRO ANTROPOLOGIA JURÍDICA DE ROBERT WEAVER SHIRLEY

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FICHAMENTO LIVRO ANTROPOLOGIA JURÍDICA DE ROBERT WEAVER SHIRLEY
CENTRO UNIVERSITÁRIO CATÓLICA DE SANTA CATARINA – JOINVILLE
4ª FASE DE DIREITO – NOTURNO
FUNDAMENTOS SOCIOANTROPOLÓGICOS DO DIREITO
PROF JEISON HEILER
ALUNA: VICTÓRIA CONSANI BREJÃO CAMILO FERNANDES
	CAPÍTULO I – O QUE É ANTROPOLOGIA?
PÁGINA 1
	
A antropologia é uma ciência ao mesmo tempo social e natural; estudo do homem. A antropologia começou como o estudo de povos sem uma tradição escrita e este fato obrigou os antropólogos a tentarem entender a língua, a economia, a religião, a mitologia, as leis e mesmo a biologia de um povo como partes de um todo e não como fragmentos estanques.	Comment by Victória Consani: Capítulo I, pág. 1
	CAPÍTULO I – O QUE É ANTROPOLOGIA?
PÁGINA 2
	A antropologia moderna, na nossa opinião, tem três temas, todos importantes para a compreensão da disciplina, e que podem ser chamados de temas pragmáticos, tema romântico e tema científico. 	Comment by Victória Consani: Capítulo I, pág. 2
O pragmatismo pincelado de romantismo é a verdadeira base da antropologia social.	Comment by Victória Consani: Capítulo I, pág. 2
Existe, porém, uma distinção fundamental entre o papel de um missionário e o de um antropólogo. O missionário vem ensinar a ideologia e a fé europeias a um povo não-europeu. O antropólogo vem aprender o que esse mesmo povo tem para ensinar a si e à sua própria sociedade. O interesse do missionário é essencialmente pragmático. Ele procura conhecer o povo a fim de mudá-lo e, na maioria dos casos, dominá-lo. 
Alguns dos melhores antropólogos do século XIX estavam abertamente a serviço do governo imperial. 
	CAPÍTULO I – O QUE É ANTROPOLOGIA?
PÁGINA 3
	A Inglaterra produziu centenas desses imperialistas eruditos que, por razões práticas, às vezes, e outras, românticas vieram a estudar e conhecer povos de todo o mundo, viver com eles e, em muitos casos, escrever sobre eles. 	Comment by Victória Consani: Capítulo I, pág. 3
Este tema prático (o imperial) da história da antropologia é um fato social e econômico. Entretanto, isto não deve sugerir uma crítica moral a toda disciplina, nem mesmo à maioria dos antropólogos, inclusive aos missionários, da época. Embora muitos estudiosos e missionários de então aceitassem a visão do ‘’fardo do homem branco’’ ou de trazer a ‘’civilização’’ aos ‘’primitivos’’, muitos outros se tornaram profundamente envolvidos com o povo que estudaram e, na prática, vieram a ser defensores impetuosos de sua independência cultural. No Brasil, vários antropólogos aceitaram a vida dos nativos.
Contudo, não se deve esquecer que a antropologia é também uma ciência natural e descritiva que tenta compreender todas as sociedades humanas.
Talvez seja correto dizer que a antropologia como ciência e profissão surgiu no começo deste século, tendo como precursores Franz Boas, nos Estados Unidos, e Bronislaw Malinowski, na Inglaterra. 
	CAPÍTULO I – O QUE É ANTROPOLOGIA?
PÁGINA 4
	Boas participou da primeira grande expedição antropológica organizada com finalidade especificamente cientifica – a ‘’Jessup North Pacific Expedition’’. Boa era, acima de tudo, um cientista formado em física que exigia muito de seus discípulos, sempre com a visão de que a antropologia devia tentar ser tão rigorosamente científica quanto possível.	Comment by Victória Consani: Capítulo I, pág.4
Por outro lado, Malinowski foi o criador do método científico, essencialmente fundamental na antropologia. 
Esses dois homens, Franz Boas e Malinowski, muito diferentes em experiencias e temperamento – criaram a ciência moderna da antropologia como matéria universitária e incentivaram e patrocinaram muitos estudos e pesquisas. Embora suas ideias diferissem em muitos aspectos, ambos ensinaram certas ideias fundamentais que se tornaram preceitos básicos da antropologia moderna.
O primeiro desses preceitos é o método da observação participante, desenvolvido por Malinowski, que requer um longo período de convivência (um ano, no mínimo) com o povo a ser estudado. A observação participante implica que um antropólogo não apenas observe uma outra cultura, mas se torne realmente envolvido na vida diária do povo, aprenda sua língua e aceite seus costumes. Certamente há limites para o grau em que um antropólogo possa ou deva tornar-se membro de uma outra cultura. 
	CAPÍTULO I – O QUE É ANTROPOLOGIA?
PÁGINA 5
	A experiência de viver numa outra cultura, com o objetivo de aprender esta cultura, tem efeitos profundos nas pessoas que dela participam. O trauma original é hoje bastante conhecido como ‘’choque cultural’’. A experiência de uma pesquisa extensa não só permite ao antropólogo aprender uma outra cultura, mas também, em muitos casos, faz com que ele esqueça ou questione os dogmas de sua própria cultura.	Comment by Victória Consani: Capítulo, pág. 5
Este é um outro preceito antropológico desenvolvido pelos fundadores da antropologia moderna: a negação do etnocentrismo. 
O etnocentrismo é simplesmente a crença firma na verdade da própria cultura de alguém. É o conjunto de conhecimentos, crenças e valores de uma sociedade. O etnocentrismo é a ideia de que a própria cultura e crenças de cada um são a ‘’verdade’’ ou, pelo menos, a maneira superior de lidar com o mundo. Mas os fundadores da antropologia ensinaram que o etnocentrismo é falso.
A destruição do etnocentrismo (a certeza sobre a verdade da própria cultura de alguém) e a aceitação da validade de outras culturas, de outros modos de vida e de outras crenças, foram ensinamentos dos fundadores da antropologia moderna, que são aceitos pela maioria dos antropólogos de hoje. O antropólogo perde a certeza de sua própria cultura, porém ganha profunda consciência de uma outra. 
Ele se torna menos um cidadão de uma nação e mais um cidadão de muitas nações. Significa que o antropólogo não mais pertence à sai própria sociedade. Ele passa a ser, de uma forma bem real, profissionalmente marginalizado. 
	CAPÍTULO I – O QUE É ANTROPOLOGIA?
PÁGINA 6
	Um outro elemento introduzido pelos fundadores da antropologia moderna foi o conceito de comparação controlada. Esta sugere que através do conhecimento de muitas culturas e sociedades pode-se chegar a um atendimento mais científico do gênero humano em geral. Num mundo cada vez mais complexo, a visão multicultural pode ser essencial à sobrevivência humana. 	Comment by Victória Consani: Capítulo I, pág. 6
Os fundadores da antropologia moderna introduziram um elemento final: a focalização da atenção dos antropólogos sobre sociedades de pequena escala e de tecnologia simples 0 as chamadas ‘’primitivas’’. Eles não tiveram a intenção de dominar os povos que estudaram, porém de entendê-los cientificamente. Mas, em última análise, o esforço para achar tais povos ‘’primitivos’’ isolados fracassou, 
Todavia, por muitos anos os antropólogos procuraram ignorar o fato de que a maoria dos povos que pesquisavam era de fato dominada ou pelo menos solidamente influenciada pelos Estados Unidos e culturas ocidentais. Eles tentaram recriar uma cultura ‘’pura’’ e ‘’tradicional’’, indagando sobre o passado e ignorando os elementos modernos. Esta ênfase livre do ‘’primitivo’’ limitou o campo e foi fonte de muitos erros em trabalhos posteriores. 
	CAPÍTULO I – O QUE É ANTROPOLOGIA?
PÁGINA 7
	O primeiro dos antropólogos a dar reconhecimento específico à conexão entre as sociedades pequenas e simples e os Estados modernos foi Robert Redfield. Primeiro no México e mais tarde na China, ele pesquisou sobre as vilas rurais como part societies. Desse modo, libertou a antropologia de sua tradição de ‘’primitivismo’’ e descobriu um novo campo extensivo para pesquisa. É interessante observar que Redfield, assim como Boas e Malinowski, é hoje severamente criticado por não ter reconhecido a relação de poder e autoridade que o Estado mantém sobre a comunidade rural. Esta crítica é devida ao seu primeiro trabalho no México. 	Comment by Victória Consani: Capítulo I, pág. 7
A escola estruturalista francesa criada por Claude Lévi-Strauss abriu muitas áreas novasna análise estrutural do parentesco, da linguagem e da mitologia. Todas elas têm dado grande contribuição à ciência social bem como ao humanismo científico.
Recentemente, os antropólogos começaram a examinar o fenômeno urbano. Como Roberto da Matta já observou, os antropólogos têm uma tradição de estudar povos ignorados pelas outras ciências sociais: favelados, mendigos, índios e outros povos nativos forçados a morar em cidades. A antropologia, assim, tenta dar voz àqueles que são pouco ouvidos. 
	CAPÍTULO I – O QUE É ANTROPOLOGIA?
PÁGINA 8
	O mundo é extremamente complexo para que a antropologia se transforme numa ciência exata num futuro previsível. 	Comment by Victória Consani: Capítulo I, pág. 8
	CAPÍTULO II – O QUE É ANTROPOLOGIA LEGAL?
PÁGINA 9
	Para examinarmos os conceitos de antropologia legal, devemos discutir primeiro o problema do direito em si. Para um estudante do direito, a questão é relativamente simples: uma lei é uma regra proposta pelas organizações próprias ao Estado. Para o antropólogo e o sociólogo, a lei é algo muito mais complexo. De fato, o assunto da antropologia legal clássica é exatamente o do direito ‘’primitivo’’, que é a lei das sociedades simples e sem escrita, onde o Estado é ausente ou muito distante.	Comment by Victória Consani: Capítulo II, pág. 9
De acordo com a filosofia de Hobbes, sem o poder coercitivo do Estado a vida seria ‘’grosseira, bruta e breve’’ na ‘’guerra de todos contra todos’’. A antropologia moderna provou que esta visão da sociedade é em grande parte falsa. 
Há muitas regras e costumes dentro de qualquer sociedade, que não são leis formais mas que mesmo assim as pessoas obedecem. 
	CAPÍTULO II – O QUE É ANTROPOLOGIA LEGAL?
PÁGINA 10
	De fato, provavelmente quase toda interação e comportamento sociais ocorrem sem ação direta alguma de qualquer Estado. 
Entretanto isso não significa que as pessoas vivendo em sociedades sem Estado, ou mesmo os modernos cidadãos urbanos, levando uma vida calma e honesta, sejam escravos dos costumes e obedeçam às regras institivamente e sem questionamento. O grande antropólogo Paul Bohannan propôs uma visão semelhante quando escreveu que a maioria das sociedades tem ‘’dupla institucionalização’’, isto é, instituições sobre conduta e instituições para punir condutas extravagantes.
Os esquimós desenvolveram durante muitos séculos uma série de leis que lhe permite sobreviver num dos ambientes mais hostis da Terra. Uma dessas leis é: quem tem excesso de carne ou outro alimento deve reparti-lo com os outros. Armazenar comida é um crime mortal na visão desse povo. Devido a essa crença, os primeiros comerciantes ingleses nunca puderam instalar um posto comercial em território esquimó.
	CAPÍTULO II – O QUE É ANTROPOLOGIA LEGAL?
PÁGINA 12
	Uma regra geral de todas as sociedades esquimós é: em épocas de privações, geralmente no inverno, os indivíduos que não podem mais produzir ou caçar não devem comer. Portanto, às vezes, deixavam-se morrer crianças nascidas no inverno e, o que é também de se notar, esperava-se que as pessoas muito velhas, consideradas inúteis à sociedade, se matassem. Devido aos rigores do inverno e à escassez de alimentos, eles deviam sacrificar-se para que os demais membros do grupo pudessem sobreviver.
Este é, então, um postulado básico da antropologia legal, o de que as regras são feitas a partir de bases sociais e econômicas e precisam ser vistas em seu conteúdo social. Desse modo, as leis dos povos ‘’primitivos’’ são frequentemente muito mais verdadeiras do que as das sociedades modernas, além de serem geralmente bem conhecidas por quase todos os membros da sociedade. As regras da sociedade sem Estado, o direito ‘’primitivo’’, são uma acumulação histórico das normas de vida social que se têm mostrado valiosas ao longo das gerações, no sentido de manter a ordem e a organização sociais. 
	CAPÍTULO II – O QUE É ANTROPOLOGIA LEGAL?
PÁGINA 13
	Para os antropólogos, contudo, as burocracias jurídicas formais são apenas algumas dentre as diversas instituições que podem aplicar sanções aos indivíduos.
Anthony F.C Wallace referiu três instituições principais que formam a ordem social. São elas: a família, a comunidade e a administração.
As categorias são imperfeitas, porém muito úteis, e podem ser combinadas ou ainda mais divididas.
O direito consiste numa série de normas e regras que são consideradas, pelo menos por muitos, como boas e justas, e que deveriam ser obedecidas. Mas a lei é também um sistema de punir os indivíduos que desobedecem a essas regras. 
Nas palavras mais exatas: ‘’Autoridade é a probabilidade de que uma ordem com um certo conteúdo seja obedecida por um grupo definido de pessoas, qualquer que seja o motivo para esta obediência’’, enquanto ‘’poder é a probabilidade de que esta ordem seja obedecida apesar da oposição’’.
A autoridade legítima é a autoridade sem oposição perceptível, obediência livre. 
	CAPÍTULO II – O QUE É ANTROPOLOGIA LEGAL?
PÁGINA 14
	Um segundo tipo de pesquisa que tem interessado aos antropólogos pode ser chamado de antropologia jurídica. Trabalhos nesta linha têm sido feitos na polícia, na magistratura e até em prisões. O exemplo mais [obvio disto é a dificuldade que envolve o estudo da sociologia política. 
	CAPÍTULO III – A HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA LEGAL
PÁGINA 15
	O campo do direito e da antropologia, como já se observou, engloba três componentes: o estudo do direito nas sociedades simples e sem Estado, o estudo das instituições jurídicas modernas, e o estudo do direito comparado.
De acordo com Sally Falk Moore, algumas das melhores pesquisas em antropologia social e cultural têm ocorrido na esfera do direito. 
Várias características do Império Britânico foram importantes para a antropologia. A primeira, a de que o Império Britânico era fundamentalmente mercantil, ao invés de um império baseado na conquista da terra e de povos. Tinham pouco interesse em mudar as leis dos povos que controlavam ou impor-lhes sua religião, porém desejavam manipular a sua base econômica para a produção comercial. 
	CAPÍTULO III – A HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA LEGAL
PÁGINA 16
	A dominação indireta foi um dos elementos mais característicos do imperialismo britânico. O costume local, especialmente na área do direito civil, podia e ainda pode, em alguns casos, prevalecer, se não contradizer ato do Parlamento. As únicas exceções foram certos costumes que os britânicos tinham como ‘’imorais’’, como o satí – a cremação da viúva na pira de seu esposo, no costume hindu, e o lobola, o preço pago pelo noivo à família de sua fututa esposa, na tradição de muitos povos africanos.
Os colonos eram considerados franceses, diretamente subordinados ao direito francês – o Código Napoleão. Isto pode explicar em parte porque a antropologia jurídica era pouco desenvolvida na França até recentemente.
O que era ‘’imoral’’ para os ingleses podia ser altamente moral para um povo africano. 
	CAPÍTULO III – A HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA LEGAL
PÁGINA 17
	Entretanto, por volta de 1930, a antropologia britânica começa a tomar novos rumos, sob a influência de Malinowski. De fato, poder-se-ia chamar este trabalho de base da moderna antropologia legal científica. 
A famosa escola de antropologia legal britânica começou a examinar problemas básicos da teoria do direito: a base da posse da terra, os costumes do casamento, os processos de controle social nas comunidades simples, o papel dos juízes na sociedade, e até os mecanismos da própria administração colonial britânica.
	CAPÍTULO III – A HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA LEGAL
PÁGINA 18
	As origens da escola americana de antropologia legal são mais complexas. A mão-de-obra dos Estados Unidos foi importada da Europa, África e até mesmo da Ásia. As populações locais eram quase sempre simplesmente eliminadas ou postas em reservas.
Portanto, desde o princípio, a escola americana de antropologia legal esteve menos interessada na dominação prática do que nos problemas teóricos do direito comparado.
	CAPÍTULO III – A HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIALEGAL
PÁGINA 19
	Os Ifugaos eram (e ainda são) um povo agressivo e guerreiro. 
O trabalho de Roy Franklin Barton está extensamente aqui exposto porque é muito importante na teoria da antropologia legal. Os Ifugaos eram ou, melhor, são um povo que nunca aceitou o domínio do poder estatal. Felizmente pode-se dizer que os Ifugaos ainda existem e ainda são livres.
	CAPÍTULO III – A HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA LEGAL
PÁGINA 20
	Juntos, Hoebel e Llewellyn trabalharam três anos no campo com o povo da nação Cheyenne, tendo desenvolvido uma metodologia para pesquisa em antropologia legal que tem sido de grande importância desde então – o Método de Estudos dos Casos Legais.
São suas palavras: ‘’nós não esperávamos, nem ligeiramente, a beleza jurídica que o trabalho com os Cheyennes estava para revelar, nem que as instituições estruturais se envolveriam nas complexas tensões humanas em constante mudança, que era possível estudar através do tempo nos casos jurídicos’’.
Talvez o aspecto mais importante da pesquisa moderna no campo seja o conhecimento da verdadeira relação entre o direito e o poder nas sociedades não-ocidentais, bem como os mecanismos de dominação. 
	CAPÍTULO III – A HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA LEGAL
PÁGINA 21
	Um outro ramo da antropologia é o da antropologia jurídica.
Em contraste com os outros campos, o estudo do direito comparado é muito antigo.
	CAPÍTULO III – A HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA LEGAL
PÁGINA 22
	O direito é, fundamentalmente, uma profissão etnocêntrica, embora existam grandes escolas de direito comparado em Paris e no México.
	CAPÍTULO IV – ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE A EVOLUÇÃO SOCIAL
PÁGINA 23
	Até aqui discutimos as sociedades ‘’simples’’, sem Estado, e os Estados, como se tudo se tratasse de realidades estáticas, permanentes. Isto não é verdadeiro. A estabilidade social é um fenômeno tão importante quanto a instabilidade social, e o próprio fato de uma sociedade não mudar pode indicar que suas instituições são muito bem desenvolvidas.
Mais do que qualquer outra ciência, a antropologia tem estudado os processos tanto da evolução biológica humana como o da social. O problema não é explicar como ela ocorreu, porém os processos que lhe deram origem. À antropologia, porém, deve-se o maior número de pesquisas sobre esse tema, já que duas das suas subdisciplinas básicas – a antropologia física e a arqueologia – evidenciam diretamente o problema.
	CAPÍTULO IV – ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE A EVOLUÇÃO SOCIAL
PÁGINA 24
	A arqueologia científica, a reconstrução de culturas remotas pelas escavações cuidadosas de terrenos antigos, tem relevado um número enorme de dados sobre como as sociedades se desenvolveram dos simples bandos de caça às complexas nações modernas.
Tem havido também tentativas de analisar o avanço do direito em relação à evolução da sociedade. 
Geralmente, reconhece-se também que a base de toda evolução social é econômica – que é a eficiência crescente da tecnologia local em utilizar os recursos de energia disponíveis. A única outra revolução tecnológica realmente importante foi a Revolução Industrial, que envolveu a utilização de energia que não a de animais e plantas, e criou a sociedade impossivelmente complexa, na qual a maioria de nós agora vive.
Pode-se também salientar que a evolução de uma sociedade mais complexa não melhora necessariamente a vida da maioria das pessoas que nela vivem.
	CAPÍTULO IV – ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE A EVOLUÇÃO SOCIAL
PÁGINA 25
	O fato de certos povos parecerem gostar de seu modo de vida ‘’primitivo’’ e resistirem à ‘’civilização’’ moderna, a ponto de serem destruídos, parece sugerir que há algo de valor nesse seu modo de vida que pode valer a pena investigar. Esta é uma das metas do antropólogo. 
As sociedades avançaram da caça e da coleta para a horticultura, a agricultura e os estágios industriais.
	CAPÍTULO IV – ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE A EVOLUÇÃO SOCIAL
PÁGINA 26
	A base econômica de uma sociedade estabelece limites e por isso implica muitas questões envolvendo direito e política.
Sabemos através da arqueologia que todos os povos foram caçadores e coletores. Isto não significa, porém, que eram iguais. Aqui a distinção entre o poder e a autoridade de Max Weber é útil. Os caçadores têm líderes. Eles podem ser xamãs, indivíduos com autoridade religiosa, ou simplesmente pessoas que são aceitas como líderes por serem mais habilidosas. Porém o poder político é muito difícil de se aplicar a um povo caçador. É por isso que os Estados modernos têm grande dificuldade em ‘’civilizar’’ povos caçadores.
	CAPÍTULO IV – ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE A EVOLUÇÃO SOCIAL
PÁGINA 27
	Um pré-requisito para o desenvolvimento da agricultura foi a descoberta de uma maneira de armazenar os alimentos para o ano inteiro.
Caracteriza-se a maior parte das grandes civilizações agrárias pelos cereis que formaram a base de sua provisão de alimentos.
	CAPÍTULO IV – ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE A EVOLUÇÃO SOCIAL
PÁGINA 28
	Diversos animais têm sido domesticados para suprir as proteínas na dieta básica da maioria dos povos que se dedicam à agricultura. O cão é o animal doméstico mais antigo; já na pré-história era utilizado principalmente para a caça
	CAPÍTULO IV – ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE A EVOLUÇÃO SOCIAL
PÁGINA 29
	Em todas as partes do mundo, a introdução da agricultura teve dois efeitos principais: 1) maior estabilidade no espaço; 2) produção em maior escala, o que significou não somente um aumento de população, porém um excedente considerável de alimentos e de tempo da parte do produtor no campo. Estas foram as precondições ao desenvolvimento do Estado.
A maior estabilidade da população no espaço possibilitava, pela primeira vez, às pessoas acumularem bens, diferentemente do que ocorre com os nômades. Por outro lado, a agricultura fixa o homem à terra, viabilizando a aquisição de bens materiais, o desenvolvimento da arquitetura, dos objetos de arte etc.
A agricultura propiciou ao homem produzir normalmente muito mais do que necessitava para o seu próprio consumo, o que gerou um excedente na produção de consumo. A ‘’apreensão’’ desse excesso é a dinâmica essencial do Estado agrário, que precisa então montar um sistema de impostos.
Há também um outro excedente importante de se observar – a mão – de – obra. A mão – de – obra necessária à produção agrícola segue uma curva geométrica anual. Mas necessita-se de pouca mão – de – obra entre o plantio e a colheita; só para capinar a roça e cuidar das plantas, e isto pode ser feito em poucas horas ou mesmo por crianças.
	CAPÍTULO IV – ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE A EVOLUÇÃO SOCIAL
PÁGINA 30
	O período logo após a safra e o armazenamento da colheita é de descaso quase completo.
O excedente de mão – de – obra também pode ser aplicado em trabalhos privados e públicos: reformas de casas, de igrejas, manutenção de ruas, ou, em outras condições, pode ser utilizado na guerra.
É de se notar que o grau de estabilidade e a dimensão do excedente disponível dependem dos tipos de prática agrícola. Numa economia horticultura mais avançada, contudo, subentende-se que há cidades permanentes e nela profissionais especializados. 
O Estado primitivo, na falta de exército profissional ou de polícia, geralmente não tem poder coercivo para forçar a família de agricultores a ceder seu excedente de produção. O Estado baseia-se, normalmente, na religião, e os primeiros profissionais especializados são os sacerdotes.
O Estado primário é fundamentalmente baseado na autoridade da religião, administrado quase sempre por sacerdote e escribas.
	CAPÍTULO IV – ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE A EVOLUÇÃO SOCIAL
PÁGINA 31
	A autoridade religiosa, na terminologia de Weber, é a autoridade ‘’tradicional’’ e ‘’carismática’’ ao invés da ‘’racional’’. 
Há, contudo, um outro elemento essencial no Estado primário que não deve ser negligenciado – o mercado.
A cidade religiosa e comercial é uma instituição muito antiga e estável.
	CAPÍTULO IV – ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE A EVOLUÇÃO SOCIAL
PÁGINA 32
	Um camponês não é forçado a contribuirpara o templo ou a negociar no mercado.
	CAPÍTULO IV – ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE A EVOLUÇÃO SOCIAL
PÁGINA 33
	A cidade – Estado teocrático tem grande estabilidade e legitimidade.
O ato final do drama ainda está no palco e este é o desenvolvimento do Estado industrial e do império industrial.
	CAPÍTULO IV – ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE A EVOLUÇÃO SOCIAL
PÁGINA 34
	A Inglaterra tornou-se a primeira nação industrial moderna e as vantagens dessa nova base econômica de produção permitiram-lhe dominar o comércio mundial por um século.
	CAPÍTULO V – O PROBLEMA DA ORDEM NAS SOCIEDADES SIMPLES
PÁGINAS 35
	Não achei nada de viável que fosse considerável colocar, pois não iria agregar em nada.
	CAPÍTULO V – O PROBLEMA DA ORDEM NAS SOCIEDADES SIMPLES
PÁGINAS 36
	Não achei nada de viável que fosse considerável colocar, pois não iria agregar em nada.
	CAPÍTULO V – O PROBLEMA DA ORDEM NAS SOCIEDADES SIMPLES
PÁGINAS 37
	‘’Agora você tem idade suficiente para saber o que é certo’’, ele pregou. ‘’Você tem estado em guerra. Agora desista desta tolice. Se não tivesse acontecido de eu ir passear nas colinas a cavalo, você teria morrido. Ninguém saberia o seu fim. Pare de roubar! Para de debochar das pessoas! Não use mais uma linguagem grosseira no acampamento! Leve uma vida decente!
	CAPÍTULO V – O PROBLEMA DA ORDEM NAS SOCIEDADES SIMPLES
PÁGINAS 38
	Esta história, excepcionalmente rica em sutileza e detalhes revela tanto o método antropológico como a prática real do direito ‘’primitivo’’ em sua melhor forma.
Já que nas sociedades simples geralmente falta um sistema administrativo profissional, elas precisam contar com outras instituições de ordem social, de modo especial a família, que é fundamentalmente um agrupamento biológico e social, e a própria comunidade que, nessas sociedades, é basicamente uma unidade econômica.
	CAPÍTULO V – O PROBLEMA DA ORDEM NAS SOCIEDADES SIMPLES
PÁGINAS 39
	É necessário observar aqui que o antropólogo está consciente da ampla variação nos modelos de família. As sociedades ‘’simples’’ muitas vezes têm uma organização familiar excepcionalmente complexa e geralmente são essas famílias ‘’maiores’’ que em muitas culturas formam tanto as instituições de socialização como as de sanção.
	CAPÍTULO V – O PROBLEMA DA ORDEM NAS SOCIEDADES SIMPLES
PÁGINAS 40
	O ato de violência pode conduzir de forma muito fácil a uma outra ação violenta posterior, em resposta, podendo mesmo causar uma ruptura perigosa na estrutura social e econômica da comunidade, a menos que haja um consenso geral de que a violência deve ser aplicada pela própria comunidade contra um determinado indivíduo. 
	CAPÍTULO V – O PROBLEMA DA ORDEM NAS SOCIEDADES SIMPLES
PÁGINAS 41
	É nessas sociedades agrícolas que encontramos os primórdios das instituições jurídicas, como juízes e processos.
	CAPÍTULO VI – REGRAS, DISPUTAS, JUÍZES E JULGAMENTOS: O DESENVOLVIMENTO DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
PÁGINA 43
	Muitos antropólogos argumentam que a base do ‘’direito primitivo’’ é processual, isto é, a resolução de disputas para manter a harmonia da família e da comunidade, de preferência à aplicação de regras formais. 
	CAPÍTULO VI – REGRAS, DISPUTAS, JUÍZES E JULGAMENTOS: O DESENVOLVIMENTO DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
PÁGINA 44
	‘’Uma ausência de controles externos exige o desenvolvimento de controles internos e um reconhecimento de que não se pode permitir demonstrar as emoções espontâneas...’’
	CAPÍTULO VI – REGRAS, DISPUTAS, JUÍZES E JULGAMENTOS: O DESENVOLVIMENTO DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
PÁGINA 45
	...As sanções finais que já incluíram exílio, ostracismo ou morte foram aparentemente invocadas só para frustrar o que o ‘’criminoso poderia fazer e nunca como castigo pelo que ele fizera’’
	CAPÍTULO VI – REGRAS, DISPUTAS, JUÍZES E JULGAMENTOS: O DESENVOLVIMENTO DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
PÁGINA 46
	Vale a pena fazer aqui alguns comentários sobre a natureza das leis nas sociedades pré – Estado. Nelas a forma de economia – base tem uma importância considerável. 
A troca de riqueza física pela social é um fenômeno comum nas sociedades sem Estado.
	CAPÍTULO VI – REGRAS, DISPUTAS, JUÍZES E JULGAMENTOS: O DESENVOLVIMENTO DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
PÁGINA 47
	Um bando ou comunidade pode ter um local de caça conhecido e sentir que tem exclusivos direitos comunais de nele caçar. Em outras palavras, a comunidade ‘’ detém a posse’’ dos animais e outros ‘’produtos’’ da natureza de um território, porém o conceito de posse da terra em si mesmo não é realmente compreensível para os nômades e, certamente, também o de posse individual.
	CAPÍTULO VI – REGRAS, DISPUTAS, JUÍZES E JULGAMENTOS: O DESENVOLVIMENTO DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
PÁGINA 48
	Este fato tem uma interferência política. As sociedades dotadas de mecanismos eficazes para resolver suas disputas tendem a ser mais poderosas politicamente que aquelas que não os têm e estão num estado de constante fragmentação. 
	CAPÍTULO VI – REGRAS, DISPUTAS, JUÍZES E JULGAMENTOS: O DESENVOLVIMENTO DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
PÁGINA 49
	Por isto é que a maior parte da literatura antropológica jurídica envolve discussões sobre conciliação de disputas. A justiça ‘’verdadeira’’ do litígio era menos importante do que a harmonização das partes, o contentamento da comunidade com a decisão, o fim da violência.
	CAPÍTULO VI – REGRAS, DISPUTAS, JUÍZES E JULGAMENTOS: O DESENVOLVIMENTO DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
PÁGINA 50
	Um outro elemento do direito Ifugao é a responsabilidade coletiva ou familiar.
	CAPÍTULO VI – REGRAS, DISPUTAS, JUÍZES E JULGAMENTOS: O DESENVOLVIMENTO DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
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	O orgulho de um Ifugao, bem como seu interesse pessoal – pode-se quase dizer sua autopreservação – exige que ele cubra todas as dívidas que lhe são devidas e que puna os danos ou crimes contra si próprio...
‘’Nos processos criminais nos quais o réu persistentemente nega sua culpa e às vezes em casos de disputa de propriedade cuja posse é duvidosa e em casos de disputas da linha de divisão de campos, recorre-se a ordálio ou processos...A recusa em aceitar o desafio de um processo pelo ordálio significava a perda da causa...’’
	CAPÍTULO VI – REGRAS, DISPUTAS, JUÍZES E JULGAMENTOS: O DESENVOLVIMENTO DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
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	Os antropólogos, por um certo tempo, fizeram distinções entre espécies diferentes de resolução de disputas. A mais simples delas é a negociação ou conciliação, onde as duas partes em conflito simplesmente discutem seus problemas sem qualquer assistência de terceiros
	CAPÍTULO VI – REGRAS, DISPUTAS, JUÍZES E JULGAMENTOS: O DESENVOLVIMENTO DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
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	O cargo de juiz é a posição jurídica mais antiga na sociedade humana; todavia deve-se notar que nas sociedades sem Estado não há mecanismos para executar a decisão do árbitro, como não havia para o Iudex romano. 
	CAPÍTULO VII – SOBRE AS FORMAS DO ESTADO E DO DIREITO
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	O problema da origem e natureza do Estado é algo que tem fascinado filósofos e cientistas sociais há séculos.
Todas as pessoas possuem uma cultura jurídica, isto é, uma consciência de quais são as normas de condutas sociais na sua sociedade e do que elas devem fazer nas diferentes situações
	CAPÍTULO VII – SOBRE AS FORMAS DO ESTADO E DO DIREITO
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	Qualquer definição de Estado tem que ser muito simples ou muito complexa. 
Para um antropólogo, o Estado não é um mito nem um símbolo. Simplesmente é um grupo de pessoas organizadas como administradoras profissionais acima de um outro grupo, muito maior, de indivíduos num território delimitado.
Para o antropólogo, é absolutamente possível haver uma nação sem um Estado.
	CAPÍTULO VII – SOBRE AS FORMAS DO ESTADO E DO DIREITO
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	O Estado antigo, o Estado ‘’primário’’ desenvolveu-se várias vezes na história e, como observado no Capítulo IV, esteve sempre associado 1á agricultura.
Os líderes da cidade-Estado compreendem as necessidades do seu povo e tentam satisfazê-las, sejam práticas ou simbólicas, a fimde manter sua própria autoridade. O antropólogo materialista pode alegar que essa autoridade religiosa baseia-se em necessidades físicas – e é verdade que os líderes dos Estados teocráticos são mestres na manipulação de símbolos – porém o fato de que esta forma de Estado é encontrada muitas vezes na história, em todas as partes do mundo, unida a sua imensa estabilidade histórica, prova que esta forma de legitimação da autoridade é bastante verdadeira.
	CAPÍTULO VII – SOBRE AS FORMAS DO ESTADO E DO DIREITO
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	É importante observar que esses Estados antigos tinham pouquíssima capacidade coerciva.
Sua autoridade era simbólica e cultural; de certo modo, metafísica.
Duas nações se sobressaem, entretanto, como as maiores conquistadoras da história: a república de Roma e a monarquia de Ch’in.
O fato é que os conquistadores geralmente não têm a mesma religião, língua, leis ou cultura do povo conquistado. 
	CAPÍTULO VII – SOBRE AS FORMAS DO ESTADO E DO DIREITO
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	Um conquistador pode insistir em impor sua religião a um povo, destruindo os tradicionais sacerdócio e aristocracia locais, porém proceder assim requer uma imensa força coerciva, já que a religião esbarra na vida de cada camponês e a população em geral frequentemente resistirá vigorosamente à transformação cultural.
	CAPÍTULO VII – SOBRE AS FORMAS DO ESTADO E DO DIREITO
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	Como observamos, o problema da classe dominante de qualquer Estado de conquista é a ausência de legitimação. 
	CAPÍTULO VII – SOBRE AS FORMAS DO ESTADO E DO DIREITO
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	O Estado agrário, portanto, baseia-se num sistema de duas classes: a dos camponeses e a elite militar, com seus aliados. 
	CAPÍTULO VII – SOBRE AS FORMAS DO ESTADO E DO DIREITO
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	Entretanto, cada povo tem seus limites. Muitas dessas revoluções, porém, conseguiram destruir um governo, geralmente gerando uma nova elite militar, a qual, por fim, torna-se tão opressiva quanto a anterior, já que as condições econômicas fundamentais não mudaram.
	CAPÍTULO VII – SOBRE AS FORMAS DO ESTADO E DO DIREITO
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	Um império é, por natureza, uma mistura de culturas legais e normalmente não vale a pena para o governo central impor uma cultura a todo o povo.
A administração jurídica é sempre uma tarefa embaraçosa para os grandes Estados agrários. Portanto, a maior parte dos Estados agrários estáveis tinha como válido manter uma burocracia profissional centralizada preparada pelo próprio Estado.
	CAPÍTULO VII – SOBRE AS FORMAS DO ESTADO E DO DIREITO
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	É mais fácil manter e estimular as normas e a ética já estabelecidas pela religião e pela cultura legal do povo do que esforçar-se para criar novas leis.
	CAPÍTULO VII – SOBRE AS FORMAS DO ESTADO E DO DIREITO
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	A moral confuciana aprova explicitamente a revolução para derrubar um mau governante, pois, caso contrário o pacto entre o Estado e o céu e entre o Estado e o povo será quebrado.
	CAPÍTULO VII – SOBRE AS FORMAS DO ESTADO E DO DIREITO
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	A essência do sistema jurídico e estatal dos chineses baseava-se em duas brilhantes e originais inovações sociais: o ‘’sistema de exames’’ e o ‘’censorado’’ ou ‘’Polícia secreta de elite’’.
	CAPÍTULO VII – SOBRE AS FORMAS DO ESTADO E DO DIREITO
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	Tanta concentração de poder em apenas um homem abriu caminho para o abuso e a corrupção, mesmo com a doutrinação confuciana a que cada magistrado se submetia.
	CAPÍTULO VII – SOBRE AS FORMAS DO ESTADO E DO DIREITO
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	Pensamos que qualquer forma de governo que durasse 2.133 anos devesse merecer uma atenção respeitosa por parte dos cientistas naturais.
	CAPÍTULO VIII – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A INDÚSTRIA E A CIDADE
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	Note-se que o governo chinês geralmente fazia questão do pagamento dos impostos em prata, o que forçava os camponeses a venderem seu excedente às pequenas e grandes cidades.
	CAPÍTULO VIII – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A INDÚSTRIA E A CIDADE
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	As principais cidades das sociedades agrícolas são apenas centros de residência da elite.
Assim, a cidade agrária é uma contradição: de um lado a magnificência, a criatividade artística e filosófica incomparáveis, de outros a miséria total.
	CAPÍTULO VIII – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A INDÚSTRIA E A CIDADE
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	É interessante observar, entretanto, que raramente os menos favorecidos levantaram-se em revoltas, e o que os impede é, novamente, o fator econômico. 
	CAPÍTULO VIII – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A INDÚSTRIA E A CIDADE
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	Fundamentalmente, a cidade agrária é ainda um centro administrativo, religioso e militar acima de tudo,
Com o surgimento da indústria, há uma mudança total.
	CAPÍTULO VIII – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A INDÚSTRIA E A CIDADE
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	A industrialização ocorre quando as formas intensivas de energia não-animal são aplicadas às técnicas de produção em massa.
Enquanto nas sociedades agrárias a fonte principal de produção eram aldeia e a vila, nas sociedades industriais, a fábrica e a rede inter-relacionada de fábricas que formavam a cidade industrial tornaram-se a unidade básica de produção. Ao invés de residência da elite dominante do Estado e de seus empregados e assistentes, a cidade industrial torna-se sede de centenas de milhares de trabalhadores.
	CAPÍTULO VIII – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A INDÚSTRIA E A CIDADE
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	A sociedade passa a subordinar-se à cidade nos aspectos econômicos fundamentais, o que não acontecia antes do estabelecimento da produção em massa.
Esses fatos econômicos, a ‘’grande transformação’’ da sociedade agrária para a industrial, geram uma séria de novos problemas jurídicos políticos para o Estado.
	CAPÍTULO VIII – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A INDÚSTRIA E A CIDADE
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	Os padrões mais antigos de teologia, filosofia, política, história e direito, importantes para a dominação de uma sociedade rural, são suplantados pela técnica e pelas escolas e departamentos científicos. A cidade transforma-se no centro do conhecimento científico e da pesquisa.
A natureza da sociedade industrial e da cidade industrial moderna precisa produzir a crença de que todas as pessoas estão envolvidas no controle do Estado. A interdependência e a complexidade da cidade moderna impõem tal ideologia.
	CAPÍTULO VIII – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A INDÚSTRIA E A CIDADE
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	É perfeitamente lícito argumentar que o direito mais ‘’avançado ou o mais desenvolvido é o padrão de leis e instituições jurídicas que satisfaz ao máximo a maioria das pessoas que o elabora.
O direito evoluído deveria ser um auxílio na resolução das disputas humanas e proteger os cidadãos de ameaças físicas feitas por outros indivíduos ou organizações, inclusive o governo.
	CAPÍTULO VIII – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A INDÚSTRIA E A CIDADE
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	A evolução do direito pode ser entendida como uma análise de processos políticos e jurídicos que acontecem juntamente com as mudanças econômicas e sociais, e pode também ser utilizada num sentido moral. A evolução do direito é um dos mais importantes trabalhos imagináveis. Talvez o direito mais desenvolvido não seja necessariamente o mais complexo nem o mais positivista.
O direito moderno tende a perder sua essência e base profundamente teológicas que tem na maioria das sociedades agrárias. O Estado e sua estrutura jurídica precisam resolver um grande número de contendas que não tinham qualquer interesse para os administradores agrários.
	CAPÍTULO VIII – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A INDÚSTRIA E A CIDADE
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	Provavelmente é certo que os métodos policiais modernos podem controlar tal agitação, e que uma elite parasítica pode sobreviver numa economia industrializada, porém a um custo enorme, isto é, a alienação da maior parte da população do próprio Estado, uma hipertrofia da polícia e dos métodos policiais que pode pôr em perigo a própria classe dominante, sendo que o constante processo de repressão tenderá a paralisar o desenvolvimento industrial e as formas de educação que estimulamo avanço tecnológico e científico. O resultado final, provavelmente, será o retrocesso econômico ou a revolução.
	CAPÍTULO IX – ALGUNS PROBLEMAS DE ANTROPOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL
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	O Brasil oferece ao antropólogo legal e jurídico um incomparável laboratório de pesquisas em todas as áreas da teoria e da filosofia do direito.
Talvez o mais importante de se observar ao exame da sua organização e história jurídicas é que o Brasil foi sempre dominado por uma pequena aristocracia estritamente ligada a interesses externos.
	CAPÍTULO IX – ALGUNS PROBLEMAS DE ANTROPOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL
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	O Brasil praticamente não tem camponeses nativos.
Essa desvinculação entre o Estado e a população é um tema constante na história brasileira.
	CAPÍTULO IX – ALGUNS PROBLEMAS DE ANTROPOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL
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	Ao longo dos séculos, grandes áreas do Brasil central foram povoadas com estas pequenas comunidades rurais, em grande parte excluídas das leis das cidades e da economia nacional e internacional, o que se deu notadamente em Minas Gerais e São Paulo, onde a economia de extração de ouro desenvolveu uma série de sociedades agrícolas secundárias para prover alimentação e animais de carga às minas.
	CAPÍTULO IX – ALGUNS PROBLEMAS DE ANTROPOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL
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	Eram designadas para doutrinar uma ideologia de Estado, não para criar espirito critico de investigação cientifica. 
	CAPÍTULO IX – ALGUNS PROBLEMAS DE ANTROPOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL
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	Essa falta de legitimidade popular atormentou o Brasil por toda sua história.
Infelizmente, só nos últimos anos têm sido feitas algumas pesquisas sobre as formas populares do direito, ainda não publicadas. Quanto a uma aproximação entre as ciências sociais e o direito, está sendo levada a efeito, mas é também muito recente. 
	CAPÍTULO IX – ALGUNS PROBLEMAS DE ANTROPOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL
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	O Judiciário era fraco, com leis meramente decorativas, e o ‘’direito dos coronéis’’ dominava o país. 
	CAPÍTULO IX – ALGUNS PROBLEMAS DE ANTROPOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL
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	A economia brasileira, entretanto, não era estagnada, ainda que as ideias do governo assim o fossem.
	CAPÍTULO IX – ALGUNS PROBLEMAS DE ANTROPOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL
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	Essa discussão econômica, excessivamente simplificada e breve, foi necessária como base para uma abordagem dos problemas do direito brasileiro. O pensamento jurídico brasileiro é constantemente paternalista, falando sempre a respeito da educação (tutela) do povo para a democracia, porém o governo nunca oferece os recursos para realmente educar a maioria da população. 
	CAPÍTULO IX – ALGUNS PROBLEMAS DE ANTROPOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL
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	A estrutura jurídica e política brasileira está meio século atrás dos setores mais desenvolvidos de nossa economia. O processo de construção do Estado precisa agora ser seguido do processo de formação de uma nação unida e legítima. 
	CAPÍTULO X – ALGUMAS APLICAÇÕES DA ANTROPOLOGIA LEGAL E DA ANTROPOLGIA JURÍDICA NO BRASIL
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	Do ponto de vista da ciência jurídica pura e da logica técnica no elaborar as leis, o Brasil pode ser considerado um país desenvolvido. Os brasileiros simplesmente não acreditam na lei.
	CAPÍTULO X – ALGUMAS APLICAÇÕES DA ANTROPOLOGIA LEGAL E DA ANTROPOLGIA JURÍDICA NO BRASIL
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	Teoricamente, um dos principais papéis do Estado é trazer justiça ao povo.
	CAPÍTULO X – ALGUMAS APLICAÇÕES DA ANTROPOLOGIA LEGAL E DA ANTROPOLGIA JURÍDICA NO BRASIL
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	A estrutura jurídica de um Estado pode ser uma força de legitimidade ou instrumento básico de repressão.
	CAPÍTULO X – ALGUMAS APLICAÇÕES DA ANTROPOLOGIA LEGAL E DA ANTROPOLGIA JURÍDICA NO BRASIL
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	Não achei nada de viável que fosse considerável colocar, pois não iria agregar em nada.
	CAPÍTULO X – ALGUMAS APLICAÇÕES DA ANTROPOLOGIA LEGAL E DA ANTROPOLGIA JURÍDICA NO BRASIL
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	O problema do Brasil está na própria estrutura da sociedade.
A antropologia, mais do que qualquer outra ciência social, estuda as atitudes e o modo de vida do ‘’povão’’, dos camponeses, dos boias-frias, dos trabalhadores e dos desempregados.
CONCLUSÃO:
Na visão de Shirley, a antropologia busca a raiz dos povos e com isso buscar o verdadeiro parâmetro da antropologia. Com isso, ele faz uma relação com o direito e a antropologia jurídica. Durante todo o livro ele faz grandes críticas ao Estado, pois, segundo Shirley e demais antropólogos citados ao longo do livro, o Estado destrói culturas, religiões e tradições. Ele cita esquimós que tem leis próprias onde funcionam por si só. A antropologia visa manter as culturas como são sem a interferência de algum governante superior comandando seu povo. 
Fiz meu trabalho à mão, com livro físico, grifando todos os pontos importantes e necessários do livro.

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