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PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 1 Proteção ao Meio Ambiente PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 2 Proteção ao Meio Ambiente 1 - O Início Quando pensamos na Terra, imaginamos um planeta predominantemente azul sobre um fundo negro, o que normalmente nos remete, em um conhecimento básico de ciências e em observações rotineiras, para um corpo imutável aos olhos humanos. No entanto, o nosso planeta vai muito além das limitadas observações humanas e muitas vezes, mesmo para além das interpretações instrumentais que simulam os ambientes planetários (Garcia et al., 2015). A Terra é, ao contrário do sugerido anteriormente, um planeta dinâmico, que evoluiu/evolui a escalas (temporais e espaciais) bem mais amplas do que as humanas, principalmente quando se pensa em tempo, sua análise é feita pelo tempo geológico (em que os milhões de anos aparecem como a unidade de trabalho). O conhecimento desse passado geológico longínquo pode ser acedido pelo estudo das rochas e dos fósseis; torna-se então possível conhecer algumas das transformações da Terra e de seus ambientes, bem como a forma como a vida evoluiu no nosso planeta, ainda segundo a mesma autora. Segundo Press et al. (2006), o nosso planeta funciona como um sistema de dinâmico entre a geosfera, a hidrosfera e a atmosfera, que são, por sua vez, subsistemas complexos. Embora por vezes para entender o funcionamento da Terra se estudem seus subsistemas separadamente, como se cada um deles existisse sozinho, para obter uma perspectiva completa do seu funcionamento, torna-se necessário entender os modos como seus subsistemas interagem entre si (p. ex., como os gases de um vulcão podem induzir mudanças climáticas). Atualmente, neste mundo em que a fasquia dos mais de 7 bilhões de seres humanos já foi ultrapassada, as questões de conservação da Natureza são vitais e inadiáveis. Não apenas do ponto de vista do seu valor intrínseco, mas, também, pelos valores cultural, estético, educativo, científico, econômico, utilitário etc. PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 3 Um aspecto de base bem presente é que a natureza abiótica, a par da natureza biótica, é parte integrante e fundamental da Natureza (GRAY, 2004; LARWOOD & DURHAM, 2005), e que as transformações constantes da Terra (graduais ou não graduais) são um elemento crucial dessa dinâmica natural, constituindo um elo entre o passado, o presente e o futuro e mantendo um delicado equilíbrio de condições no qual a vida vai evoluindo. Desta forma, convidamos a todos para participarem de uma reflexão sobre o nosso ambiente, sobre a importância de sua preservação e também em como podemos interligar e praticar nossa profissão da segurança da vida, para todas as formas de vida. Que tal começarmos pelo entendimento do que é, efetivamente, meio ambiente? 2 - Meio Ambiente Uma discussão recorrente a respeito do termo meio ambiente é a suposta redundância que existe entre ambos os termos: a palavra meio significa o mesmo que ambiente. O motivo dessa reiteração obedece a razões históricas, já que, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (Estocolmo, 1972), a impressão semântica das traduções do inglês, acabou por gerar o termo meio ambiente como e uso comum, em vez de se usar somente um deles (ou meio ou ambiente). Será que existe um conceito certo ou errado de ambiente? Com essa questão iniciaremos nosso processo de reflexão conjunta nesta disciplina. Ambiente: O conceito de ambiente ou meio ambiente está em constante processo de construção e é possível encontrarmos diferentes definições para esse termo, segundo a Feema (1990) e o Ibama (1994). Tabela 1: Definições de meio ambiente PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 4 Ano Meio Ambiente – Definições 1976 As condições, influência ou forças que envolvem ou influem ou modificam: o complexo de fatores climáticos, edáficos e bióticos que atuam sobre um organismo vivo, ou uma comunidade ecológica, e acaba por determinar sua forma e sua sobrevivência, a agregação das condições sociais e culturais que influenciam a vida de um indivíduo ou uma comunidade. (WEBSTER’S, 1976) 1977 O conjunto, em um dado momento, dos agentes físicos, químicos e biológicos e dos fatores sociais suscetíveis de terem um efeito direto ou indireto, imediato ou a termo, sobre os seres vivos e as atividades humanas. (POUTREL & WASSERMAN, 1977) 1977 A soma das condições externas e das influências que afetam a vida, o desenvolvimento e, em última análise, a sobrevivência de um organismo. (BANCO MUNDIAL, 1977). 1978 O conjunto do sistema externo físico e biológico, no qual vivem o homem e os outros organismos. (PNUMA, 1978) 1978 O conjunto de sistemas naturais e sociais em que vivem o homem e os demais organismos e de onde obtêm sua subsistência. (CONFERÊNCIA DE TIBILLISI, 1978) 1988 Conjunto de componentes naturais e sociais, e suas interações em um determinado espaço de tempo, no qual se dá a dinâmica das interações sociedade-natureza, e suas consequências, no espaço que habita o ser humano, o qual é parte integrante deste todo. Desta forma, o ambiente é gerado e construído ao longo do processo histórico de ocupação e transformação do espaço da sociedade. (GUTMAN, 1988) 1992 Qualquer espaço de interação e suas consequências entre a sociedade (elementos sociais, recursos humanos) e a natureza (elementos ou recursos naturais). (QUEIROZ E TRÉLLEZ, 1992) Adaptada de: Feema (1990) e Ibama (1994 apud FUNIBER, 2009). PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 5 Já, segundo o site http://www.achetudoeregiao.com.br/animais/o_que_e_meio_ambiente.htm (acesso em: 02/04/2011), é o conjunto de condições, leis, influências e infraestrutura de ordens física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. Vamos observar: a questão ambiental, a qual vemos que é complexa, devido aos sistemas ambientais serem evolutivos, ou seja, não deterministas, não lineares, irreversíveis e com estados de desequilíbrio constante. Esse processo evolutivo e suas modificações constantes inserem acontecimentos irreversíveis, aumentando a complexidade do sistema. (PHILIPPI JR. & SILVEIRA, 2009) Aqui chegamos à conclusão de que há muitas maneiras de abordar conceitualmente o meio ambiente e uma única área do conhecimento humano não pode abranger e explicar a gama de fenômenos naturais e culturais que ocorrem em escalas espaciais e temporais diversas. Vemos assim, que a questão da definição do ambiente é complexa, pois está relacionada aos aspectos evolutivos da própria sociedade. Apenas para ampliarmos essa discussão, em uma segunda abordagem conceitual da própria questão ambiental, percebemos que há o envolvimento da visão econômica. Os economistas clássicos, com algumas exceções, sempre teorizaram sobre os sistemas econômicos sem considerar o meio natural como fornecedor de materiais energia para a sociedade humana, e como receptor dos resíduos resultantes e da energia dissipada pelas atividades antrópicas. (PHILIPPI JR. & SILVEIRA, 2009) Agora, vamos refletir um pouco sobre como o homem vê o meio ambiente perante a constituição: PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 6 “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (art. 225 da Constituição Federal). Percebemos aqui a abertura de interpretações que a lei nos fornece:o que é ambiente ecologicamente equilibrado? Será que isso tem o mesmo parâmetro para mim e para você? Mais uma coisa: Essencial à sadia qualidade de vida – será que há igualdade na qualidade de vida da sociedade? Todos tem o mesmo padrão de vida social (pobres, classe média e classe alta)? Vemos com isso que meio ambiente está muito mais relacionado com a questão social e cultural, do que somente definições biológicas. Esse é um dos desafios primordiais do século XXI para a preservação do meio ambiente: a questão da reforma de valores culturais e sociais, começando pela reforma das próprias políticas públicas. 3 - Educação Ambiental Educação, do vocábulo latino educere, significa conduzir, liderar, puxar para fora. Baseia-se na ideia de que todos os seres humanos nascem com o mesmo potencial, que deve ser desenvolvido no decorrer da vida. O papel do educador é, portanto, criar condições para que isso ocorra, criar condições para que levem o desenvolvimento desse potencial, que estimulem as pessoas a crescerem cada vez mais. (PELICIONI, 2009) Segundo Paulo Freire, famoso educador brasileiro, hoje reconhecido internacionalmente, ninguém educa ninguém, ninguém conscientiza ninguém, ninguém se educa sozinho. Isso significa que a educação depende de adesão voluntária, depende de quem a incorpora e não de quem a propõe. PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 7 No Relatório para a UNESCO de 1996, da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, a educação aparece como indispensável à humanidade na construção dos ideais de paz, da liberdade e da justiça social como também para o desenvolvimento contínuo, tanto das pessoas como das sociedades, do século XXI em diante. (PELICIONI, 2009) Aqui vemos que para falar de educação ambiental, temos que admiti-la como processo de educação política que busca formar para que a cidadania seja exercida e para uma ação transformadora, a fim de melhorar a qualidade de vida da coletividade. A abordagem sociocultural permite a ação proativa e transformadora, proposta pela educação ambiental, se efetive, já que implica formação para uma reflexão crítica. (PELICIONI, 2009) A educação ambiental se coloca em uma posição contrária ao modelo de desenvolvimento econômico vigente no sistema capitalista selvagem, em que os valores éticos, de justiça social e solidariedade não são considerados nem a cooperação é estimulada, mas prevalecem o lucro a qualquer preço, a competição, o egoísmo e os privilégios de poucos em detrimento da maioria da população. (PELICIONI e PHILIPPI JUNIOR, 2005) Veja: mais um desafio para o século XXI! Mas, enfim, qual é a definição de educação ambiental? Educação ambiental é um instrumento que pode proporcionar mudanças na relação do homem com o ambiente e surge como resposta à preocupação da sociedade com o futuro da vida (alterado de: http://pga.pgr.mpf.gov.br/pga/educacao/que-e-ea/o- que-e-educacao-ambiental, acesso em: 20 abr. 2011). A educação ambiental também pode ser chamada de EA, sua abreviação, e tem como proposta principal a superação da dicotomia entre natureza e sociedade, através da formação de uma atitude ecológica nas pessoas. Um dos seus fundamentos é a visão PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 8 socioambiental, que afirma que o meio ambiente é um espaço de relações, é um campo de interações culturais, sociais e naturais (a dimensão física e biológica dos processos vitais). Ressalte-se que, de acordo com essa visão, nem sempre as interações humanas com a natureza são daninhas, porque existe um copertencimento, uma coevolução entre o homem e seu meio. Coevolução é a ideia de que a evolução é fruto das interações entre a natureza e as diferentes espécies, e a humanidade também faz parte desse processo, segundo o mesmo site. Para fecharmos essa primeira discussão, definimos a educação ambiental como um processo que busca: “(...) desenvolver uma população que seja consciente e preocupada com o meio ambiente e com os problemas que lhes são associados. Uma população que tenha conhecimentos, habilidades, atitudes, motivações e compromissos para trabalhar, individual e coletivamente, na busca de soluções para os problemas existentes e para a prevenção dos novos (...)” (capítulo 36 da agenda 21). 4 - Consumir Para Quê? Desde os tempos dos caçadores e coletores, três grandes mudanças culturais aumentaram o impacto sobre o meio ambiente. Para que possamos entendê-las e assim discutir o desenvolvimento sustentável na dimensão humana, vamos ler o texto de Miller Junior (2007): Evidências fósseis e estudos de culturas antigas sugerem que a atual forma de nossa espécie, Homo sapiens, tem povoado a Terra há apenas 60 mil anos (algumas evidências recentes afirmam 90 mil a 195 mil) – menos que um piscar de olhos nesse maravilhoso planeta com 3,7 bilhões de anos de vida. Até aproximadamente 12 mil anos atrás, éramos na maioria caçadores e coletores que se moviam conforme a necessidade de encontrar alimento suficiente para a PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 9 sobrevivência. A partir daí, três grandes mudanças culturais ocorreram: a revolução agrícola (que começou há 10-12 mil anos); a revolução industrial-médica (iniciada por volta de 275 anos atrás) e a revolução da informação-globalização (iniciada há cerca de 50 anos). Essas mudanças culturais aumentaram de forma considerável nosso impacto no meio ambiente. Por meio dessas mudanças, passamos a dispor de muito mais energia e novas tecnologias para alterar e controlar o planeta, visando atender a nossas necessidades básicas e crescentes desejos. Elas também permitiram a expansão da população humana, em especial graças à farta disponibilidade de suprimentos alimentares e maior expectativa de vida. Além disso, elevaram consideravelmente o uso de recursos, poluição e degradação ambiental, que ameaçam a sustentabilidade das culturas humanas a longo prazo. Interessante este histórico exposto pelo autor não? Mas o que é desenvolvimento sustentável então? Antes de respondermos essa questão, vamos observar, como o fez Gonçalves (1990 apud PELICIONI, 2005), que o modo de ser, de produzir e de viver dessa sociedade é fruto de um modo de pensar e agir em relação à natureza e aos outros seres humanos que remonta a muitos séculos. Restringindo-se ao pensamento ocidental, percebem- se nas obras de alguns filósofos da Grécia e Roma clássicas, bem como na tradição judaico-cristã, espinha dorsal da cultura ocidental, indícios de certos valores bastante presentes nas sociedades atuais, como o antropocentrismo e a visão dicotomizada entre o ser humano e a natureza. Platão, por exemplo, no ano de 111 a.C., já denunciava a ocorrência de desmatamento e erosão de solo nas colinas de Átila, na Grécia, ocasionados pelo excesso de pastoreio de ovelhas e pelo corte de madeira. (DARBY, 1956) PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 10 Observação importante: Através do exposto, percebemos que medidas precisariam ter sido tomadas desde então, mas que infelizmente não o foram. A concepção de desenvolvimento sustentável tem suas raízes fixadas na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, capital da Suécia, em julho de 1972, segundo Brunacci e Philippi Junior (2009). Segundo Funiber (2009), o termo desenvolvimento sustentável, como é, foi estabelecido pela International Union for The Conservation of Nature (IUCN), embora sua popularidade tenha origem no relatório “Nosso futuro comum” ou relatório Bruntland (WCED, 1987), preparado pela ComissãoBruntland das Nações Unidas, no qual se lê: “O desenvolvimento sustentável satisfaz as necessidades atuais sem comprometer a capacidade de futuras gerações de satisfazer suas próprias necessidades”. Analisemos que os componentes substantivos nessa definição são as questões de equidade, tanto entre uma mesma geração como entre diferentes gerações, a fim de que todas as gerações, presentes e futuras, aproveitem o máximo sua capacidade potencial. Entretanto, a maneira como as atuais oportunidades estão distribuídas não é, na realidade, indiferente. Seria estranho que estivéssemos preocupados profundamente com o bem-estar das futuras gerações e deixássemos de lado a triste sorte dos pobres de hoje. No entanto, atualmente, nenhum desses dois objetivos tem assegurada a prioridade que merece. Consequentemente, talvez uma reestruturação, das pautas concernentes à distribuição de renda, à produção e ao consumo em escala mundial seria uma condição prévia necessária a toda estratégia viável de desenvolvimento sustentável. Vemos que o conceito de desenvolvimento sustentável surgiu em um contexto de crise econômica e da revisão de paradigmas de desenvolvimento. A crise econômica na maior parte do mundo, a instabilidade, o aumento da pobreza etc., colocavam em dúvida a viabilidade dos modelos convencionais, inclusive, a própria ideia de PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 11 “desenvolvimento” havia sido sustada das políticas ante a urgente necessidade de estabilizar as economias e recuperar o crescimento econômico. (FUNIBER, 2009) O surgimento da ideia do desenvolvimento sustentável teve repercussões importantes em todos os meios – graças aos esforços da Comissão das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) – por causa da necessidade de renovar concepções e estratégias, buscando o desenvolvimento das nações pobres e reorientando o processo de industrialização dos países mais avançados. O conceito convencional de desenvolvimento se referia ao processo de melhoria das condições econômicas e sociais de uma nação. O enfoque da Comissão buscou ir além da dimensão econômica e social, tratando de incluir a questão ambiental como um dos elementos centrais da concepção e das estratégias de desenvolvimento, ainda segundo Funiber (2009). Ainda segundo esse mesmo autor, ao qualificar o desenvolvimento como o adjetivo “sustentável”, incorpora-se um conceito de capacidade de subsistir ou continuar. A sustentabilidade expressa uma preocupação com o meio ambiente para que as gerações futuras o utilizem e o desfrutem da mesma forma que a presente. Nesse caso, “desenvolvimento” não é sinônimo de “crescimento”. Crescimento econômico é entendido como aumentos na renda nacional. Em contrapartida, o desenvolvimento implica algo mais amplo, uma noção de bem-estar econômico que reconhece componentes não monetários. Estes podem incluir a qualidade do meio ambiente. É importante ressaltar que o desenvolvimento sustentável exige que se definam prazos, com qual ordem de prioridades, a que níveis e escalas e quais recursos econômicos utilizar para obter a sustentabilidade. Essa tarefa é muito complexa, dados os aspectos sociais, políticos e elementos técnicos implicados, por exemplo, na superação da pobreza, em que a sustentabilidade pode ser inalcançável, mesmo em prazos relativamente longos. (FUNIBER, 2009) PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 12 Vemos em diversos estudos, que as modificações ambientais provocadas pela ação antrópica, alterando significativamente os ambientes naturais, poluindo o meio ambiente físico, consumindo recursos naturais sem critérios adequados, aumentam o risco de exposição a doenças e atuam negativamente na qualidade de vida da população. (MIRANDA et al., 1994; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1995; BANCO MUNDIAL, 1998; WHO, 1999) As modificações ambientais decorrentes do processo antrópico de ocupação dos espaços e de urbanização, que ocorrem em escala global, especialmente as que vêm acontecendo desde os séculos XIX e XX, impõem taxas incompatíveis com a capacidade de suporte dos ecossistemas naturais. (PHILIPPI JR. & MALHEIROS, 2008) Ainda segundo os mesmos autores, a análise dos impactos potenciais dessas modificações pode ser feita sob o enfoque da mudança nos padrões de consumo e de produção, facilitando assim a compreensão dessa questão e das medidas necessárias para a reversão dos problemas instaurados. Mas, afinal, o que podemos fazer em relação ao consumo, se o mesmo é necessário para a sobrevivência das espécies? Para responder isso, surgem as questões de consumo consciente e consumo sustentável. 5 - Consumo Consciente e Sustentável Para começarmos a falar de consumo consciente e consumo sustentável, vamos assistir ao vídeo: I Seminário Consumo Consciente FASB - Teixeira de Freitas V1, disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=HNHfguQb14I>, acessado em 22 maio 2017. PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 13 Consumir é necessário para a sobrevivência dos seres vivos. Todos os organismos consomem: água, nutrientes, energia. Entretanto, há uma diferença significativa entre outras espécies de organismos vivos e o homem: o consumismo desenfreado e exagerado que não é somente para sobreviver no meio em que vive. Segundo o site http://www.ressoar.org.br/conceito_consumo_consciente.asp, quando se fala em consumo, a primeira coisa que vem à mente é o simples ato de comprar, seja de maneira programada, por necessidade ou por impulso. A compra é apenas um dos sentidos deste conceito. Antes dela, temos que decidir o que consumir, por que consumir, como consumir e de quem consumir. Depois de refletir a respeito desses pontos é que partimos para a compra. E após a compra, existe o uso e o descarte do que foi adquirido, que também geram impactos e degradação ambiental. O consumo consciente é uma maneira de consumir levando em consideração os impactos provocados pelo consumo. Com isso, o consumidor pode, por meio de suas escolhas, buscar maximizar os impactos positivos e minimizar os negativos dos seus atos de consumo, e, assim, contribuir com seu poder de consumo para construir um mundo melhor. Ainda conforme cita o mesmo site, o consumidor consciente busca o equilíbrio entre a sua satisfação pessoal e a sustentabilidade do planeta, lembrando que a sustentabilidade implica um modelo ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável. Ele também reflete a respeito de seus atos de consumo e como eles irão repercutir sobre si mesmo, nas relações sociais, na economia e na natureza. Além disso, busca disseminar o conceito e a prática do consumo consciente, fazendo com que pequenos gestos de consumo realizados por um número muito grande de pessoas promovam grandes transformações. Vários são os exemplos que podem ser citados quanto ao uso não consciente dos recursos naturais esgotáveis que já estão gerando sérios problemas no mundo: água potável, combustíveis fósseis, energia elétrica, minerais como ouro e o mercúrio. PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 14 Já, quando falamos em consumo sustentável, precisamos saber que este conceito passou a ser construído a partir do termo desenvolvimento sustentável, divulgado com a Agenda 21, documento produzido durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992. A Agenda 21 relata quais as principais ações que devem ser tomadas pelos governos para aliar a necessidade de crescimento dos países com a manutenção do equilíbrio do meio ambiente. Os temas principais desse documento falam justamentesobre mudanças de padrões de consumo, manejo ambiental dos resíduos sólidos e saneamento e abordam ainda o fortalecimento do papel do comércio e da indústria (Fonte: <http://www.terrazul.m2014.net/spip.php?article151>). Assim, podemos definir o consumo sustentável como o uso dos recursos naturais para satisfazer as necessidades pessoais sem o comprometimento das necessidades das gerações futuras. Isso é o saber usar para nunca faltar. Sabendo que o consumo é um ato essencial e inevitável da vida humana e apresenta características particulares que ultrapassam as necessidades da vida biológica ou material, precisamos raciocinar que a satisfação das necessidades humanas têm três componentes: o utilitário, o de comunicação e o psicológico. Segundo a Funiber (2009), eles podem ser discutidos: O componente utilitário nem sempre determina a escolha; às vezes o ato do consumo está motivado pelo propósito de se comunicar com os outros, de demonstrar que se respeitam as convenções sociais, que se está na moda ou que se é completamente diferente. O componente psicológico impulsiona a consumir para se provar algo a si mesmo, para se assemelhar à imagem que tem de si e se sentir bem consigo mesmo. O consumo desmedido das sociedades modernas implica o uso de elevadas quantidades de recursos naturais. Ao mesmo tempo, os atos de consumo comprometem todas as esferas da vida humana: a material, a social e a psicológica. Modificar os hábitos de compra da população é um objetivo indispensável para coadjuvar a proteção do meio ambiente, diminuir a contaminação e a geração de PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 15 resíduos e promover um eficiente controle de energia, entre outras coisas. A aquisição de novos hábitos implica a modificação da cultura que faz consumir bens e serviços supérfluos, limitando-se apenas a satisfação das necessidades básicas e gerando novas formas de relação entre a população e o meio natural. Torna-se evidente que a educação é um instrumento catalisador através do qual se pode impulsionar e fomentar uma cultura da responsabilidade ambiental. Para concluirmos essa parte do assunto, percebemos ao longo da discussão desse tema, que temos a possibilidade de ainda deixarmos para as futuras gerações um pouco do nosso patrimônio natural, nos dado pelo planeta Terra, de modo que todos tenham a possibilidade de usofruto consciente do mesmo. No entanto, medidas políticas, sociais e culturais precisam ser tomadas e praticadas continuamente. Que tal fazermos a nossa parte? 6 - Sustentabilidade Antes de entrarmos nos conceitos e objetivos da sustentabilidade, tal qual ela o é, vamos continuar lendo o texto de Miller Junior (2007) para podermos entender melhor as explicações da aula: Alguns críticos acreditam que as visões de mundo ambientais centradas no ser humano deveriam ser expandidas para reconhecer o valor intrínseco ou inerente de todas as formas de vida, independentemente de seu uso potencial ou real para os seres humanos. A maioria das pessoas que têm essa visão de mundo acredita que temos responsabilidade ética de evitar a extinção prematura de espécies por meio de nossas atividades por três razões. Primeira, cada espécie é depósito único de informações genéticas e deveria ser respeitada e protegida simplesmente porque existe (valor intrínseco). Segunda, cada espécie é um bem econômico potencial para uso humano (valor instrumental). Terceira, populações de espécies são capazes, por meio da evolução e da especiação, de se adaptar às mudanças das condições ambientais. PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 16 Alguns acreditam que devemos ir além de focar nas espécies. De acordo com essas pessoas, temos responsabilidade ética de não degradar os ecossistemas, a biodiversidade e a biosfera para esta e para as futuras gerações de seres humanos e de outras espécies. Essa visão de mundo ecocêntrica é dedicada à preservação da biodiversidade e do funcionamento de sistemas de suporte à vida para todas as vidas. Uma das visões de mundo centradas na Terra é chamada visão de mundo de sabedoria ambiental. Em muitos aspectos, ela é o oposto da visão de mundo de gestão planetária. De acordo com essa visão de mundo, somos parte – não estamos isolados – da comunidade de vida e dos processos ecológicos que sustentam todas as formas vivas. Para compreendermos essas visões comentadas, vamos analisar a Tabela 2. Tabela 2: Visões de mundo ambientais Manejo Planetário Gerenciamento Sabedoria Ambiental - Nós estamos afastados do restante da natureza e podemos utilizá-la para satisfazer nossas necessidades e desejos crescentes. - Temos responsabilidade ética de sermos os gerentes ou administradores cuidadosos da Terra. - Nós somos uma parte da natureza e dependemos dela; a natureza existe para todas as espécies. - Por causa de nossa inventividade e tecnologia não haverá falta de recursos. - Provavelmente não ficaremos sem recursos, mas eles não devem ser desperdiçados. - Os recursos são limitados, não deveriam ser desperdiçados e não são exclusividades nossas. - O potencial para o crescimento econômico é ilimitado. - Deveríamos encorajar formas benéficas de crescimento econômico e desencorajar as formas - Deveríamos encorajar formas sustentáveis de crescimento econômico e PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 17 prejudiciais ao meio ambiente. desencorajar as formas degradantes. - Nosso sucesso depende de quão bem utilizaremos os sistemas de suporte à vida principalmente em nosso benefício. - Nosso sucesso depende de quão bem utilizaremos os sistemas de manutenção da vida em nosso benefício e do restante da natureza. - Nosso sucesso depende de aprender como a natureza se sustenta e integrar essas lições ao nosso modo de pensar. Fonte: (MILLER JUNIOR, 2007) Agora ficou mais claro como podemos ter visões de mundo diferentes. Nosso desafio é tentarmos focar naquela que se reverta em benefício conjunto: Terra, homem e outras formas de vida. Mas, e as definições de sustentabilidade, o que é afinal sustentabilidade? Vamos ler esse texto de Raquel Nunes, da revista ecologia urbana de 21 de outubro de 2008 (Fonte: http://www.ecologiaurbana.com.br/sustentabilidade/o-que-e- sustentabilidade/): Acrescentando ao que disse Raquel Nunes, Miller Junior (2007), coloca que sustentabilidade é a capacidade dos diversos sistemas da Terra, incluindo as economias e sistemas culturais humanos, de sobreviverem e se adaptarem às condições ambientais em mudança. Segundo o mesmo autor, a primeira etapa é conservar o capital natural da Terra – os recursos e serviços naturais que mantêm a nossa e outras espécies vivas e que dão suporte às nossas economias. O primeiro passo em direção á sustentabilidade é entender os componentes e a importância do capital natural e da renda natural ou biológica que ele fornece. Para os economistas, capital é a riqueza para sustentar uma empresa e gerar mais riqueza. O PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 18 capital financeiro pode gerar renda financeira. Por exemplo, suponha que você invista R$ 10.000,00 e obtenha 10% de retorno sobre o valor aplicado ao ano. Em um ano você terá R$ 1.000,00 de rendimento e aumentará seu capital para R$ 11.000,00. Por analogia, os recursos renováveis que compõem parte do capital natural da Terra, podem nos fornecer uma renda biológica indefinidamente renovável, desde que não usemos esses recursos mais rápido doque a natureza o renova. Por exemplo, os serviços naturais, Omo a reciclagem de nutrientes e o controle do clima (incluindo a precipitação), renovam os recursos naturais, como a superfície do solo e os depósitos de água subterrâneos (aquíferos). A sustentabilidade significa sobreviver com essa renda biológica sem exaurir ou degradar o capital natural que a fornece. (MILLER JUNIOR, 2007) Vamos ler agora, o texto modificado de Reis, Fadigas e Carvalho (2009) para entendermos os objetivos da sustentabilidade na sociedade atual: Desde as primeiras discussões relacionadas ao meio ambiente, nas quais é possível ressaltar o papel coordenador da Organização das Nações Unidas (ONU), vários acordos ambientais têm sido negociados e inúmeros fóruns de discussão criados com o objetivo de repensar o modelo economicista adotado para o desenvolvimento e de conter o encaminhamento para a exaustão dos recursos naturais. Embora ocorram grandes discussões, a implementação de ações objetivas tem sido muito lenta, em grande parte pela complexidade do cenário multifacetado das nações, pelo desequilíbrio da organização institucional do mundo e pelos interesses políticos e econômicos específicos. É percebido que nos últimos 20 anos a agenda ambiental internacional e a busca pela sustentabilidade têm evoluído tanto no sentido de implementar os acordos já assinados, como no sentido de encontrar formas de proteger outros recursos naturais essenciais como, por exemplo, mananciais de água. Muito trabalho tem sido feito principalmente no nível político e científico. No setor econômico nota-se ainda cautela PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 19 no sentido de adotar formas de produção sustentáveis, mas muitas empresas e setores já se posicionaram progressivamente nesse sentido. Muitas companhias internacionais não mais ignoram o fato de que padrões de sustentabilidade irão afetar mais e mais os padrões de consumo da sociedade e as formas de produção e de relação com os consumidores que dominarão o século XXI, sendo, portanto, condicionantes significativos de competitividade. Para que se alcancem os objetivos de sustentabilidade é importante que o trabalho iniciado prossiga em diversas frentes, em âmbito global e local, com a modificação dos sistemas produtivos e das práticas de uso dos recursos naturais. Para a pesquisadora Elisete Batista da Silva Medeiros, da Revista Virtual Partes (Fonte: <http://www.partes.com.br/socioambiental/sustentabilidadecaminho.asp>, acesso em: 21 jul. 2011), o objetivo da sustentabilidade é colocado sob forma de três restrições que vem enquadrar a função utilidade intertemporal: os recursos naturais devem ser extraídos procurando fazer a substituição por recursos equivalentes; a exploração dos recursos renováveis deve ser feita respeitando a sua renovação; e a emissão de rejeitos deve ser compatível com a capacidade de assimilação do ambiente. Segundo a mesma autora, o fator determinante da sustentabilidade é a rede de relações entre cinco componentes que configuram um determinado modelo de ocupação territorial, a partir de então pode-se propor que a sustentabilidade depende das inter-relações entre seu/sua: população, referente a seu tamanho, sua composição e dinâmica demográfica; organização social, referente aos padrões de produção e de resolução de conflitos, e estratificação social; entorno, refere-se ao ambiente físico e construído, processos ambientais, recursos naturais; tecnologia, no que tange a inovação, ao progresso técnico, ao uso de energia; aspirações sociais, quanto aos padrões de consumo, os valores e a cultura. Quando o ser humano constitui a razão de ser do processo de desenvolvimento significa defender com razões e argumentos um novo estilo de desenvolvimento que PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 20 seja: ambientalmente sustentável no acesso e no uso de recursos naturais conjuntamente com a preservação da biodiversidade; socialmente sustentável na redução da pobreza e das desigualdades sociais e promovendo a justiça e a equidade; culturalmente sustentável na conservação de valores, práticas e símbolos de identidade; politicamente sustentável ao aprofundar a democracia e garantir o acesso e a participação efetiva da população no processo de decisão de ordem pública, ainda segundo Medeiros. Esse estilo é guiado por uma nova ética de desenvolvimento, ética essa na qual os objetivos econômicos do progresso estão subordinados as leis de funcionamento dos sistemas naturais e aos critérios de respeito e dignidade humana e de melhoria da qualidade de vida das pessoas. Essa interpretação reflete um paradigma de desenvolvimento. Além disso, a sustentabilidade do desenvolvimento é resultado da preservação da integridade dos processos naturais que garantem os fluxos de energia e de materiais na biosfera, e que se consiga preservar a biodiversidade do planeta. (MEDEIROS, 2007) 7 - Legislação Ambiental O poder público no Brasil começa a se preocupar com o meio ambiente na década de 1930. Não que antes não houvesse nada a respeito, mas as poucas iniciativas que existiam até então, além de pouco significativas em termos práticos, se alcançavam algum efeito sobre o meio ambiente era pela via indireta, quase sempre subalterna a outros interesses. Por exemplo, as ordenações portuguesas que proibiam o corte do pau-brasil não podem ser vistas como leis ambientais, pois seu objetivo era assegurar o monopólio das madeiras de tinturaria estabelecido pela Coroa Portuguesa em 1502, propósito que perdurou até depois da Independência do Brasil, como mostra Simonsen (1969). Essas ordenações diferiram muito das medidas criadas na Europa nos séculos XVII para proteger os remanescentes de florestas nativas e promover o plantio, e que Castro (1998) considera o início dos processos de gestão ambiental. PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 21 Ainda conforme Castro (1998), a criação dos jardins botânicos a partir do século XVI decorre de uma preocupação dos biólogos viajantes com a pura proteção das espécies aclimatadas. O que ocorreu por aqui, não foi muito diferente; o objetivo inicial de D. João VI foi utilizar o Jardim Botânico para o cultivo de especiarias das Índias Orientais e da Ásia, para suprir o mercado Português, segundo Acot. (1990 apud BARBIERI, 2010) Até o início do século XX, o campo político e institucional brasileiro não se sensibilizava com os problemas ambientais, embora não faltassem problemas e nem vozes que os apontassem. A abundância de terras férteis e de outros recursos naturais, enaltecida desde a Carta de Caminha ao rei de Portugal, tornou-se uma espécie de dogma que impedia enxergar a destruição que vinha ocorrendo desde os primeiros anos da colonização. A degradação de uma área não era considerada um problema ambiental pela classe política, pois sempre havia outras a ocupar com o trabalho escravo. As denúncias sobre o mau uso dos recursos naturais não encontravam ecos na esfera política dessa época, embora muitos denunciantes fossem políticos ilustres, como José Bonifácio, Joaquim Nabuco e André Rebouças. Nenhuma legislação explicitamente ambiental teve origem nas muitas denúncias desses políticos, que podem ser considerados os precursores dos movimentos ambientalistas nacionais e que, já nas suas origens, apresentavam uma tônica socioambiental dada pela luta contra a escravatura, a monocultura e o latifúndio. Somente quando o Brasil começa a dar passos firmes em direção á industrialização, inicia-se o esboço de uma política ambiental. A adesão do Brasil aos acordos ambientais multilaterais dasprimeiras décadas do século XX, praticamente não gerou nenhuma repercussão digna de nota na ordem interna do país. Tomando como critério a eficácia da ação pública e não apenas a geração de leis, pode-se apontar a década de 1930 como início de uma política ambiental efetiva. (BARBIERI, 2010) PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 22 Conforme Barbieri (2010), uma data de referência é o ano de 1934, quando foram promulgados os seguintes documentos relativos à gestão de recursos naturais: Código de Caça, Código Florestal, Código de Minas e Código de Águas. Outras iniciativas governamentais importantes desse período foram: criação do Parque Nacional de Itatiaia, o primeiro do Brasil e a organização do patrimônio histórico e artístico nacional. As políticas públicas dessa fase procuram alcançar efeitos obre os recursos naturais por meio de gestões setoriais (água, florestas, mineração etc.), para as quais foram sendo criados órgãos específicos, como o Departamento Nacional de Recursos Minerais, Departamento Nacional de Água e Energia Elétrica e outros. Os problemas relativos à poluição seriam sentidos apenas em meados da década de 1960, quando o processo de industrialização já havia se consolidado. No início dessa fase, na década de 1930, o rio Tietê, por exemplo, era usado para lazer de muitos paulistanos, que se tornaria inviável algumas décadas depois. Até meados da década de 1970, a poluição industrial ainda era vista como sinal de progresso e, por isso, muito bem vinda para muitos políticos e cidadãos. Figura 1: Parque nacional do Itatiaia (Fonte: <http://i.olhares.com/data/big/183/1833205.jpg>, acesso em: 18 maio 2011). PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 23 Enquanto isso ocorria no Brasil, no mundo iniciava-se uma política de comando e controle (Command and Control Policy), que assumiu duas características muito definidas, segundo Lustosa, Cánepa e Young (2003): - A imposição pela autoridade ambiental, de padrões de emissão incidentes sobre a produção final (ou sobre o nível de utilização de um insumo básico) do agente poluidor; - A determinação da melhor tecnologia disponível para abatimento da poluição e cumprimento do padrão de emissão. A razão de ser dessa política é perfeitamente compreensível. Dado o elevado crescimento das economias ocidentais no pós-guerra, com a sua também crescente poluição associada, é necessária uma intervenção maciça por parte do Estado. Este não pode mais se apoiar simplesmente na disputa em tribunais, caso a caso (esfera do Direito Civil), sendo necessário dispor de instrumentos vinculados ao Direito Administrativo, mais adequados a essa atuação maciça. Entretanto, essa política “pura” de comando e controle apresenta uma série de deficiências, como a morosidade de sua implementação, segundo os mesmos autores. Tentando solucionar os problemas, de certo modo acumulados e agravados ao longo do tempo, os países desenvolvidos encontram-se hoje em uma terceira etapa da política ambiental e que, à falta de melhor nome, poderíamos chamar de política “mista” de comando e controle. Nessa modalidade de política ambiental, os padrões de emissão deixam de ser meio e fim da intervenção estatal e passam a ser instrumentos, dentre outros, de uma política que usa diversas alternativas e possibilidades para a consecução de metas acordadas socialmente. Temos assim, a adoção progressiva dos padrões de qualidade dos corpos receptores como metas de política e a adoção de instrumentos econômicos – em complementação aos padrões de emissão – no sentido de induzir os agentes a combaterem a poluição PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 24 e a moderarem a utilização dos recursos naturais, ainda conforme Lustosa, Cánepa e Young (2003). Após a Conferência de Estocolmo de 1972, as preocupações ambientais se tornam mais intensas. No Brasil, o governo militar não reconheceu a gravidade dos problemas ambientais e nem defendeu sua ideia de desenvolvimento econômico (na verdade, um mau desenvolvimento), em razão da ausência de preocupações com o meio ambiente e a distribuição de renda. Contudo, os estragos ambientais mais do que evidentes e a colocação dos problemas ambientais em dimensões planetárias exigiram do poder público uma nova postura. Em 1973, o Executivo Federal cria a Secretaria Especial do Meio Ambiente e diversos estados criaram sua agências ambientais especializadas, como a Cetesb no Estado de São Paulo e a Feema no Estado do Rio de Janeiro. (BARBIERI, 2010) O mesmo autor também mostra que, em matéria ambiental, o Brasil também seguiu uma tendência observada em outros países. Onde os problemas ambientais são percebidos e tratados de modo isolado e localizado, repartindo o meio ambiente em solo, ar e água, e mantendo a divisão dos recursos naturais: água, florestas, recursos minerais e outros. Somente no início da década de 1980 é que passariam a ser considerados problemas generalizados e interdependentes, que deveriam ser tratados mediante políticas integradas. A legislação federal sobre matéria ambiental nessa fase procurava atender problemas específicos, dentro de uma abordagem segmentada do meio ambiente e percebe-se isso através dos textos legais abaixo: - Decreto-Lei 1.413, de 14/08/1975, sobre medidas de prevenção da poluição industrial; - Lei 6.453, de 17/10/1977, sobre responsabilidade civil e criminal relacionada com atividades nucleares; PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 25 - Lei 6.567, de 24/09/1978, sobre regime especial para exploração e aproveitamento das substâncias minerais; - Lei 6.766, de 19/12/1981, sobre o parcelamento do solo urbano; - Lei 6.902, de 27/04/1981, sobre a criação de estações ecológicas e áreas de proteção ambiental. Foi com o advento da Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, que conhecemos uma definição legal e passamos a ter uma visão global de proteção ao meio ambiente. Ela foi editada com o fito de estabelecer a política nacional do meio ambiente, seus fins, mecanismos de formulação, aplicação, conceitos, princípios, objetivos e penalidades devendo ser entendida como um conjunto de instrumentos legais, técnicos, científicos, políticos e econômicos destinados à promoção do desenvolvimento sustentado da sociedade e da economia brasileira. Embora tenha sido editada no início da década de 1980, continua sendo de fundamental importância para o meio ambiente. (FUNIBER, 2009) Figura 2: Slogan da campanha sobre a Política Nacional de Meio Ambiente na Rio + 10 PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 26 (Fonte: <http://www.mundodastribos.com/wp-content/uploads/2011/01/Curso-de- Engenharia-Ambiental-Faculdades-Pre%C3%A7os-Sal%C3%A1rio-300x200.jpg>, acesso em: 18 maio 2011). 8 - Princípios da Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) O art. 2º da referida lei estabeleceu que a preservação, a melhoria e a recuperação da qualidade ambiental propiciem à vida, visando assegurar no país condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios, segundo Funiber (2009): - I. Equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como patrimônio público; - II. Racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; - III. Planejamento e fiscalização do uso dos recursos naturais; - IV. Proteção dos ecossistemas; - V. Controle e zoneamento das atividades potencialmente ou efetivamente poluidoras; - VI. Incentivo ao estudo e à pesquisade tecnologias voltadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais; - VII. Acompanhamento do estado da qualidade ambiental; - VIII. Recuperação de áreas degradadas; - IX. Proteção de áreas ameaçadas de degradação; PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 27 - X. Educação ambiental em todos os níveis de ensino. A Lei da PNMA foi, em quase todos os seus aspectos, recepcionada pela Constituição Federal de 1988, pois, valoriza a dignidade humana, a qualidade ambiental propícia à vida e ao desenvolvimento socioeconômico e tem uma abrangência grandiosa. A preservação referida na lei tem sentido de perenizar, de perpetuar, de salvaguardar, os recursos naturais. Já a melhoria do meio ambiente significa dar-lhe condições mais adequadas do que aquelas que se apresentam. O art. 3º da lei em comento considerou o meio ambiente como o conjunto de condições, leis influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. (FUNIBER, 2009) “Meio Ambiente” é a expressão incorporada à língua portuguesa para indicar, segundo o Aurélio, o conjunto de condições naturais e de influências que atuam sobre os organismos vivos e os seres humanos. José Afonso da Silva (segundo FUNIBER, 2009), observou que a apalavra “ambiente” indicando a esfera, o círculo, o âmbito que nos cerca, em que vivemos, em certo aspecto, já contém o sentido da palavra “meio”. Justifica o uso, na língua portuguesa, pela necessidade de reforçar o sentido significante de determinados termos diante do enfraquecimento no sentido a destacar ou, porque sua expressividade é mais ampla e mais difusa. E afirmou, o meio constitui uma unidade que abrange bens naturais, e culturais e que compreende a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciam o desenvolvimento equilibrado da vida humana. 8.1 - Objetivos da Política Nacional de Meio Ambiente Os objetivos da Política Nacional de Meio Ambiente estão dispostos no art. 4º (Lei 6.938/81) e visará: PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 28 - I. A compatibilização do desenvolvimento econômico-social coma preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; - II. À definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; - III. Ao estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais; - IV. Ao desenvolvimento de pesquisa e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais; - V. À difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico; - VI. À preservação e restauração dos recursos ambientais, com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida; - VII. Á imposição, ao poluidor e ao predador da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados, e ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. Quanto ao art. 5º, este faz referência às diretrizes da PNMA, que deverão orientar a ação dos governos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, determinando que esta ação seja reformulada em normas e planos, buscando a preservação da qualidade ambiental e manutenção do equilíbrio ecológico. (FUNIBER, 2009) PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 29 Importante também saber que, a Lei 6.938/81 instituiu o Sistema Nacional do meio Ambiente (Sisnama), responsável pela proteção e melhoria do ambiente e constituído por órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Espelhando-se no Sisnama, os estados criaram os seus Sistemas Estaduais do Meio Ambiente para integrar as ações ambientais de diferentes entidades públicas nesse âmbito. Outra inovação foi o conceito de responsabilidade objetiva do poluidor. O poluidor fica obrigado, independente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros afetados por suas atividades. (BARBIERI, 2010) Observação: Embora aprovada em 1981, a implementação da Lei 6.938/81 deslanchou efetivamente apenas ao final da década de 1980, principalmente a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988. Para fecharmos a discussão deste assunto, vamos analisar que a política ambiental é necessária para induzir ou forçar os agentes econômicos a adotarem posturas e procedimentos menos agressivos ao meio ambiente, ou seja, reduzi a quantidade de poluentes lançados no ambiente e minimizar a depleção dos recursos naturais. (LUSTOSA, CÁNEPA e YOUNG, 2003) Segundo os mesmos autores, no caso das indústrias, os recursos naturais são transformados em matérias-primas e energia, gerando impactos ambientais iniciais (desmatamento, emissões de gases poluentes, erosão de solos, entre outros). As matérias-primas e energia são insumos da produção, tendo como resultado o produto final e os rejeitos industriais- fumaça, resíduos sólidos e efluentes líquidos. Como os recursos naturais usados nos processos industriais são finitos e muitas vezes não renováveis, a utilização deve ser racional a fim de que o mesmo recurso possa servir para a produção atual e também para as gerações futuras – esse é o princípio do desenvolvimento sustentável. PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 30 Com isso vemos a necessidade urgente do cumprimento da Lei 6.938/81 e de sua fiscalização para que possamos ter esperança na sobrevivência humana e das espécies no meio ambiente de forma harmônica e sustentável. 9 - Responsabilidade Ambiental Dentre os países que consagram o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado em suas legislações – tenha sido por previsão, em seus sistemas jurídicos de direito interno, consequente da internalização de tratado internacional, ou como consequência de evolução autônoma de seu direito interno –, uma coisa é certa: o simples fato de o terem feito traz em si latente o reconhecimento da importância em tratar a questão ambiental admitindo-se sua especificidade a partir do acompanhamento dos princípios gerais do Direito Ambiental. (PEDRO e FRANGETTO, 2009) Tanto isso é verdade que países que incluíram esse direito em suas Constituições (diga-se de passagem, entre eles o Brasil; ao lado da Holanda, Grécia, Peru e Portugal) vêm estabelecendo, de forma explícita, inúmeras determinações que contêm em si orientações dos citados princípios dentre as obrigações que impõem. Uma constituição analítica, como é a Constituição da República Federativa do Brasil de 1998, claramente absorve a orientação dos princípios gerais do Direito Ambiental ao, por exemplo, prever o Estudo de Impacto Ambiental – um dos instrumentos de implementação do Princípio da Prevenção – para toda atividade potencialmente degradadora do meio ambiente. (PEDRO e FRANGETTO, 2009) Na realidade o próprio caput do artigo reservado ao meio ambiente, na Constituição Federal de 1988, é uma releitura do princípio 1 da Declaração de Estocolmo. A redação de ambos os dispositivos apresenta semelhanças, o que não é mera coincidência. Enquanto a Declaração de Estocolmo afirma que o homem tem um direito fundamental à liberdade, à igualdade e a condições de vida satisfatórias,em um ambiente cuja PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 31 qualidade lhe permita viver com dignidade e bem-estar; que ele tem o dever solene de proteger e melhorar o ambiente para a presente e as futuras gerações; e que; sob esse ponto de vista, as políticas que encorajam ou permitem que perpetuem o apartheid, a segregação racial, a discriminação, as formas, coloniais ou outras, de opressão ou de dominação estrangeiras são condenadas e devem ser eliminadas. (Princípio 1, DECLARAÇÃO DE ESTOCOLMO, 1972) Com isso, percebemos que não há o que não esteja relacionado ao meio ambiente e, logo, precise, sob ao menos um aspecto, sofrer influência das leis e princípios que regulam o uso dos recursos naturais. Por esse motivo, ressalta-se ser o Direito Ambiental dotada da transdisciplinaridade. O meio ambiente, como tema transversal, implica atrelar, principalmente nas avaliações ambientais, opiniões de toda ordem, vindas dos entendimentos das mais diversas disciplinas. A composição mista das comissões e conselhos ambientais é a exata demonstração disso. (PEDRO e FRANGETTO, 2009) Ainda segundo os mesmos autores, cada um tem seu papel a exercer no processo de desenvolvimento sustentável. As pessoas (naturais ou jurídicas; públicas ou privadas) têm uma função a cumprir na gestão do meio ambiente. Isoladamente, mantendo ao menos uma conduta ambiental não destrutiva; e, em conjunto, sendo proativos na administração e recuperação dos bens ambientais. A essa forma conjunta de participação dos atores ambientais costuma-se dar o nome de função jurídica ambiental; ressalva-se que são titulares dessa função, nos termos do art. 225, caput da Lei Maior, o Poder Público e a coletividade. Na função jurídica ambiental, os titulares ao direito ecologicamente equilibrado estão na posição de sujeitos ativos deste direito (eles são a primeira parte da relação jurídica ambiental) e, por isso mesmo, podem exigir dos sujeitos passivos (outra parte) as prestações objeto da relação jurídica em questão. (PEDRO e FRANGETTO, 2009) PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 32 Para podermos falar sobre responsabilidade civil, administrativa e criminal perante danos ao meio ambiente, temos que primeiro entender o que é o dano ambiental. A obrigatoriedade da reparação do dano ambiental está inserida na Lei 6.938/81 em seu primeiro artigo, que estabelece: “Sem obstar a aplicação das penalidades deste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência da culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. (...)”. Sendo essa norma uma ferramenta de fundamental importância para a garantia de um meio ambiente ecologicamente equilibrado. “Dano ambiental é a lesão aos recursos ambientais, com consequente degradação – alteração adversa ou in pejus – equilíbrio ecológico”. Por recursos ambientais, entende-se como sendo a “atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora” (Lei 6.938/81, art. 3º, V). Podemos então concluir, que dano ambiental é toda e qualquer degradação que afete o equilíbrio ecológico do meio ambiente, tanto físico quanto estético. Denota-se, pelo próprio conceito mencionado, que é muito difícil a reparação do dano ambiental. (FUNIBER, 2009) Figura 3: Dano ambiental causado por plataforma de petróleo PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 33 (Fonte: <http://segurancaemrisco.files.wordpress.com/2009/11/visao-do-dano- ambiental.jpg>, acesso em: 13 jun. 2011). Para o Prof. Paulo de Bessa Antunes (apud FUNIBER, 2009), a reparação dos danos ambientais é, provavelmente, o momento mais crítico da delicada relação entre o meio ambiente natural, desenvolvimento socioeconômico e a aplicação das normas do Direito Ambiental. Tal fato é indiscutível, pois a dedicação ao cuidado com o meio ambiente é diretamente proporcional ao maior ou menor rigor com a qual é encarada a responsabilização dos causadores de danos ao meio ambiente. Por muito que se tenha falado sobre o assunto, a realidade é que até hoje, não existe um critério para fixação do que, efetivamente, constitui-se no dano ambiental e como este deve ser reparado. A primeira hipótese a ser considerada é a repristinação do ambiente agredido ao seu status quo ante. Todos sabemos que não é simples a reconstrução de um local degradado. Muitas vezes a degradação de um determinado local implicou a extinção de uma espécie vegetal ou animal, por exemplo. E em muitas situações não será possível colocar na natureza a espécie destruída. Segundo a Revista de Direito Ambiental (REVISTA DOS TRIBUNAIS, 1997), no nosso ordenamento jurídico há duas formas de reparação do dano ambiental: a primeira pela reconstituição do bem lesado e a segunda pela indenização em dinheiro. Ainda segundo a mesma revista, a reconstituição do bem lesado seria a forma mais adequada ao ressarcimento do evento prejudicial ao meio ambiente, pois o objetivo primordial em sede de direito ambiental é preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as gerações presente e futuras. Contudo, na prática, isso muitas vezes torna-se impossível e em alguns casos, embora na composição do dano, o responsável, replante a mesma espécie florestal que desmatou, o ambiente agredido não retorna ao seu status quo ante, é somente verificarmos os casos de exploração florestal nas reservas indígenas, onde foi retirada PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 34 vegetação, que a natureza levou 50 anos para formar. Por outro lado, não há no nosso ordenamento jurídico, normas legais que versem sobre critérios de reparação de danos ambientais. Ficando muitas vezes difícil apurar o valor do dano ambiental, posto que os elementos que o compõem são insuscetíveis de fixação valorativa. Poderão responder pelo dano ambiental os autores diretos ou indiretos da lesão ambiental, a administração pública e os entes público, bastando que exista a atividade danosa ao meio ambiente, somada à existência do nexo causal entre estes e a atividade danosa. Nos termos da lei, o responsável principal é o “poluidor”. De acordo com dispositivo legal, poluidor é “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável direta ou indiretamente por atividade causadora de degradação ambiental” (Lei 6.938/81, art. 14, 1º e art. 3º, IV). “Embora quem quer que contribua para a degradação do meio ambiente é civilmente responsável pelos danos daí decorrentes, não há dúvida que a responsabilidade primeira – mas não exclusiva – reside com o empreendedor. É ele o titular do dever principal de zelar pelo meio ambiente e é ele que aproveita, direta e economicamente, a atividade lesiva”. Havendo mais de um empreendedor, pode a reparação ser exigida de todos e de qualquer um dos responsáveis, segundo as regras da solidariedade. É que, como sustenta Jorge Alex Nunes Athias (apud FUNIBER, 2009), “uma das maiores dificuldades que se pode ter em ações relativas ao meio ambiente é exatamente determinar de quem partiu efetivamente a emissão que provocou o dano ambiental, máxima quando isso ocorre em grandes complexos industriais onde o número de empresas em atividade é elevado. Não seria razoável que, por não se poder estabelecer com precisão a qual deles cabe a responsabilização isolada, se permitisse que o meio ambiente restasse indene”. Ao que pagar pela integridade do dano caberá ação de regresso contra os outros corresponsáveis, pela via da responsabilização subjetiva, e onde se poderá discutir a parcela de responsabilidadede cada um. PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 35 Tratando-se de conduta comissiva, a administração pública e o ente público respondem objetivamente pelas lesões que causarem ao meio ambiente, ressalvado o direito de regresso contra o servidor que agiu com dolo ou culpa. A simples autorização do órgão ambiental para funcionar uma atividade não gera por si a responsabilidade da Administração Pública. É preciso que haja nexo causal entre a autorização emitida e o dano efetivamente causado ao meio ambiente. Se o Ibama expede as licenças ambientais para a instalação de uma grande hidrelétrica sem exigir o EIA/RIMA, pode ser responsabilizado, pois o EIA/RIMA é uma exigência legal, o qual não fica a critério do poder discricionário do administrador público. Portanto, não é apenas como agente poluidor que o Poder Público pode ser controlado pelo Poder Judiciário, mas também quando se omite do dever constitucional de proteger o meio ambiente. (FUNIBER, 2009) 10 - Da Responsabilidade Penal, Civil e Administrativa (Texto de Funiber, 2009) O desenvolvimento econômico e social indispensável à civilização dos tempos modernos tem sido a justificativa para a acelerada e muitas vezes irreversível devastação do nosso patrimônio natural. Nas últimas décadas, a poluição, o desmatamento, a caça e a pesca predatória não são mais praticadas em pequena escala. A degradação ambiental tem alcançado níveis tão assustadores, que levou a sociedade a repensar esse modelo de desenvolvimento, e ao mesmo tempo, buscar a tutela jurídica penal dos bens ambientais, por entender, serem os mesmos, necessários à vida. Com efeito, o controle a ser exercido sobre o homem predador, dar-se-á pela aplicação de normas penais ambientais, rígidas, onde se objetiva, efetivamente, combater a degradação ambiental, utilizando-se estes instrumentos normativos para proteção do meio ambiente. PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 36 A responsabilidade civil por danos ao meio ambiente, de acordo com os preceitos do art. primeiro, da Lei 6.938/81, é uma responsabilidade objetiva e se fixa independentemente de culpa. O que significa que quem danificar o ambiente tem o dever legal de repará-lo. Não se perguntando a razão da degradação para que haja o dever de reparar. Caberá ao acusado provar que a degradação era necessária, natural ou impossível de ser evitada. As pessoas que vivem em sociedade são obrigadas a abstenções (deixar de fazer algo), a ações (fazer algo) ou prestações (pagar algo). Nasce assim, para cada um, certo dever de comportamento, uma obrigação de suportar essa imposição. Esse comportamento passivo, juridicamente é denominado de dever jurídico. O dever de conhecer essa delimitação, é de suma importância para todos, sob pena de sujeitarmo-nos à punição. A noção de dever jurídico é fundamental para o entendimento do que seja um ilícito. Os atos ilícitos civil, administrativo ou penal, encontram-se absortos no mesmo conceito, ou seja, a antijuricidade, a qual é entendida não apenas como uma transgressão de um preceito jurídico, mas também como agressão aos valores guardados e protegidos na norma legal ou regulamentar. Os atos ilícitos constituem-se nos atos praticados em desacordo com as normas legais. São assim considerados, por serem contrários ao direito por serem irregulares e proibidos. Podemos considerar ato ilícito, como sendo a violação do direito ou dano causado a outrem, por dolo ou culpa, podendo ser decorrente de uma ação ou omissão do sujeito. 1 – Infração Administrativa: é o cometido de uma transgressão contra a administração pública, cuja sanção pode ser aplicada isolada ou cumulativamente. Na verdade, é a transgressão cometida em desacordo com as normas legais ou regulamentos da administração pública, a qual se impõe a penalidade administrativa. PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 37 A Lei 9.605/98 preencheu uma importante lacuna no que se refere aos ilícitos administrativos ambientais e quanto à previsão de sanções a serem impostas pela Administração Pública. 2 – Infração Civil: é a infração cometida em desacordo com as leis, normas, ou regras jurídicas, ou contra o interesse privado de outrem, onde se impõe, obrigatoriamente, a responsabilidade civil de reparação ao dano. 3 – Infração Penal: a Lei 9.605/98 sistematizou os tipos penais antes de dispersos em vários diplomas legais e deu um tratamento mais rigoroso aos responsáveis pelas condutas criminosas que agridem o meio ambiente. A infração penal é a violação da lei penal, que resulta no crime ou na contravenção e dá margem à aplicação da pena restritiva de liberdade. É ressaltado que é imposta aos infratores de forma repressiva e abarcam uma graduação que vai desde a pena de advertência, até a reparação dos danos causados. Pense: Diante do exposto, espera-se que, em conjunto, os instrumentos de implementação dos princípios ambientais continuem sendo reforçados, organizados e efetivamente utilizados, para que todos, exercendo os respectivos papéis de atores ambientais, viabilizem a vida saudável almejada no processo de desenvolvimento sustentável por meio de mecanismos de harmonização entre as chamadas dimensões humana e natural do meio ambiente. (PEDRO e FRANGETTO, 2009) É importante sabermos que quando estamos estudando as responsabilidades e suas sanções, há uma infinidade de coisas a serem observadas e estudadas. O aqui exposto foi apenas um pequeno resumo do que consideramos necessário para que você possa começar a procurar o que mais considere necessário para seu próprio conhecimento. PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 38 11 - Crimes Ambientais Antes mesmo de começarmos a abordar a Lei de Crimes Ambientais, vamos tentar entender um pouco sobre política, para podermos compreender melhor os fatores que impedem as democracias de lidar com problemas ambientais. Sabe-se que as democracias foram designadas para lidar principalmente com problemas isolados de curto prazo. Mas o que é democracia e política afinal? Segundo Miller Junior (2007): Política: é o processo pelo qual indivíduos e grupos influenciam ou controlam as políticas e ações dos governos nos níveis local, estadual, nacional e internacional. A política está preocupada com quem tem poder sobre a distribuição de recursos e quem recebe o quê, quando e como. Muitas pessoas pensam em política no âmbito nacional, mas o que afeta diretamente a maioria das pessoas é o que acontece nas comunidades locais. Democracia: é o governo das pessoas por meio de delegados ou políticos e representantes eleitos. Em uma democracia constitucional, a constituição fornece a base de autoridade governamental, limita o poder do governo ordenando eleições livres e garantias de liberdade de expressão. Segundo o mesmo autor, as instituições políticas nas democracias constitucionais são designadas para permitir mudança gradual a fim de assegurar a estabilidade econômica e política. Nos Estados Unidos, por exemplo, mudanças rápidas e desestabilizantes são controladas por um sistema de verificações e equilíbrio que distribui o poder entre os três poderes do governo – legislativo, executivo e judiciário – e entre os governos – federal, estadual e municipal. Aprovando leis, desenvolvendo orçamentos e formulando regulamentações, os representantes eleitos e nomeados pelo governo devem lidar com a pressão de muitos PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 39 grupos competitivos de interesse especial. Cada grupo defende a aprovação de leis, a concessão de subsídios ou a redução deimpostos, ou o estabelecimento de regulamentações favoráveis à sua causa e enfraquecem ou repelem leis e regulamentações desfavoráveis à sua posição. (MILLER, JUNIOR, 2007) Hoje, por estarmos em uma democracia, sabemos que existem fatores que podem influenciar as decisões e regulamentações, principalmente na política ambiental, pois a cada conhecimento adquirido sobre o meio ambiente, mais a necessidade de mudança de leis para sua preservação e proteção. Vamos com isso a liderança ambiental. De forma individual, podemos exercer a liderança ambiental de quatro maneiras, segundo Miller Junior (2007): 1) Podemos liderar, por exemplo, usando nosso estilo de vida para mostrar aos outros que a mudança é possível e benéfica. 2) Podemos trabalhar dentro dos sistemas econômicos e políticos existentes para conseguir a melhora ambiental. Nós podemos influenciar as decisões políticas fazendo campanhas, votando e nos comunicando com os representantes eleitos. Podemos também enviar mensagens para empresas que fabricam produtos ou que tenham políticas prejudiciais ao meio ambiente, pressionando-as com nosso poder de consumo e mostrando-lhes as escolhas que fizemos. Além disso, podemos fazer parte do sistema ao escolher carreiras na área ambiental. 3) Podemos nos candidatar a cargos públicos em instituições locais. Olhe-se no espelho. Talvez você seja a pessoa que pode fazer a diferença em um cargo público. PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 40 4) Podemos propor e trabalhar por melhores soluções para os problemas ambientais. Liderança é mais do que ser contra algo. Ela também envolve buscar melhores maneiras de atingir os objetivos e persuadir as pessoas a trabalhar juntas para atingi-los. Se nos preocuparmos o suficiente, cada um de nós pode fazer a diferença. Agora que já conhecemos os fatores de política e democracia, além de termos a consciência que podemos sim fazer a diferença através da liderança ambiental, vamos aos crimes ambientais. Segundo o site http://www.infoescola.com/ecologia/crime-ambiental/ (acesso em: 18 jun. 2011), são considerados crimes ambientais as agressões ao meio ambiente e seus componentes (flora, fauna, recursos naturais, patrimônio cultural) que ultrapassam os limites estabelecidos por lei. Ou ainda, a conduta que ignora normas ambientais legalmente estabelecidas mesmo que não sejam causados danos ao meio ambiente. Por exemplo, no primeiro caso, podemos citar uma empresa que gera emissões atmosféricas. De acordo com a legislação federal e estadual específica há certa quantidade de material particulado e outros componentes que podem ser emitidos para a atmosfera. Assim, se estas emissões (poluição) estiverem dentro do limite estabelecido então não é considerado crime ambiental. No segundo caso, podemos considerar uma empresa ou atividade que não gera poluição, ou ainda, que gera poluição, porém, dentro dos limites estabelecidos por lei, mas que não possui licença ambiental. Neste caso, embora ela não cause danos ao meio ambiente, ela está desobedecendo uma exigência da legislação ambiental e, por isso, está cometendo um crime ambiental passível de punição por multa e/ou detenção de um a seis meses. PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 41 Da mesma forma, pode ser considerado crime ambiental a omissão ou sonegação de dados técnico-científicos durante um processo de licenciamento ou autorização ambiental. Ou ainda, a concessão por funcionário público de autorização, permissão ou licença em desacordo com as leis ambientais. Segundo Faria (2011 – Infoescola: <http://www.infoescola.com/ecologia/crime- ambiental/>), de acordo com a Lei de Crimes Ambientais, ou Lei da Natureza (Lei 9.605, de 13 de fevereiro de 1998), os crimes ambientais são classificados em seis tipos diferentes: a) Crimes contra a fauna: Agressões cometidas contra animais silvestres, nativos ou em rota migratória, como caçar, pescar, matar, perseguir, apanhar, utilizar, vender, expor, exportar, adquirir, impedir a procriação, maltratar, realizar experiências dolorosas ou cruéis com animais quando existe outro meio, mesmo que para fins didáticos ou científicos, transportar, manter em cativeiro ou depósito, espécimes, ovos ou larvas sem autorização ambiental ou em desacordo com esta. Ou ainda a modificação, danificação ou destruição de seu ninho, abrigo ou criadouro natural. Da mesma forma, a introdução de espécime animal estrangeira no Brasil sem a devida autorização também é considerado crime ambiental, assim como o perecimento de espécimes por causa da poluição. PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 42 Figura 4: Crimes contra a fauna (FONTE:http://2.bp.blogspot.com/_e0Jds1_NVi8/SMwi0dj- 2LI/AAAAAAAAAN0/WyBnJNOsst8/s400/Crimes.bmp, acesso em: 18 jun. 2011). b) Crimes contra a flora: Destruir ou danificar floresta de preservação permanente mesmo que em formação, ou utilizá-la em desacordo com as normas de proteção assim como as vegetações fixadoras de dunas ou protetoras de mangues; causar danos diretos ou indiretos às unidades de conservação; provocar incêndio em mata ou floresta ou fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocá-lo em qualquer área; extração, corte, aquisição, venda, exposição para fins comerciais de madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal sem a devida autorização ou em desacordo com esta; extrair de florestas de domínio público ou de preservação permanente pedra, areia, cal ou qualquer espécie de mineral; impedir ou dificultar a regeneração natural de qualquer forma de vegetação; destruir, danificar, lesar ou maltratar plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia; comercializar ou utilizar motosserras sem a devida autorização. Neste caso, se a PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 43 degradação da flora provocar mudanças climáticas ou alteração de corpos hídricos e erosão a pena é aumentada de um sexto a um terço. Figura 5: Crimes contra a flora (Fonte: http://static.infoescola.com/wp-content/uploads/2009/10/desmatamento- amazonia.jpg, acesso em: 18 jun. 2011). c) Poluição e outros crimes ambientais: A poluição acima dos limites estabelecidos por lei é considerada crime ambiental. No entanto, também o é a poluição que provoque ou possa provocar danos à saúde humana, mortandade de animais e destruição significativa da flora. Também é crime a poluição que torne locais impróprios para uso ou ocupação humana, a poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público e a não adoção de medidas preventivas em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível. São considerados outros crimes ambientais a pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem autorização ou em desacordo com a obtida e a não recuperação da área explorada; a produção, processamento, embalagem, importação, exportação, comercialização, fornecimento, transporte, armazenamento, guarda, abandono ou uso PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE 44 de substâncias tóxicas, perigosas ou nocivas a saúde humana ou em desacordo com as leis; construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar empreendimentos de potencial poluidor sem licença ambiental ou em desacordo com esta; também se encaixa nesta categoria de crime ambiental a disseminação de doenças, pragas ou espécies que posam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora e aos ecossistemas. Figura 6: Acidente da British Petroleum (Fonte: <http://3.bp.blogspot.com/_RXvCDmvWiMU/TEW- I77UxnI/AAAAAAAABoQ/bjMewQPwi24/s1600/BP+desastre+ambiental.jpg>,
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