Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Causadas por Ehrlichia spp. — causam riquetsiose transmitida por carrapato. Cães • Dentro da família Anaplasmataceae — existem três gêneros patogênicos: Ehrlichia, Anaplasma, e Neorickettsia. • Ehrlichia spp. — divididas em três grupos: (1) E. canis: erliquiose encontrada no meio intracitoplasmático de leucócitos circulantes; (2) E. ewingii: erliquiose granulocítica canina; semelhantemente a A. phagocytophilum, infecta as células granulocíticas em cães, mas difere em termos de distribuição geográfi ca (encontrado principalmente nas regiões sudeste e centro-sul dos Estados Unidos); (3) E. cha_ eensis: semelhante à E. canis, com tropismo por células mononucleares; trata-se principalmente de um patógeno humano, mas provoca doença em cães; a distribuição da doença baseia-se na faixa de ocorrência do vetor (principalmente Amblyomma americanum). • Anaplasma spp. — existem dois microrganismos importantes: (1) A. phagocytophilum: infecta principalmente cavalos, mas também as células granulocíticas de cães; encontrado, sobretudo, nos estados do nordeste e meio- oeste superior dos EUA e na Califórnia, com base na distribuição dos vetores (carrapatos Ixodes spp.); (2) A. platys: tropismo por plaquetas; compartilha reatividade cruzada sorológica com o A. phagocytophilum. • Apesar da constatação habitual em regiões definidas, os indícios sorológicos sugerem que a E. canis e o A. phagocytophilum ocorram em todos os 48 estados contíguos. • Neorickettsia spp. — existem dois microrganismos relevantes: (1) N. risticii: causa febre do cavalo de Potomac, mas também infecta cães e gatos; infecções adquiridas pela ingestão de caracóis infectados, estágios de vida livre de nematódeos ou insetos aquáticos com metacercárias encistadas; o pastoreio ou o consumo de água estagnada explica o motivo pelo qual os equinos são infectados com maior frequência que os cães; os cães infectados apresentam títulos negativos para E. canis; (2) N. helminthoeca: provoca intoxicação pelo salmão em cães. Gatos • Erliquiose mononuclear felina. • Extremamente rara. • E. risticii e A. phagocytophilum. • Evidência sorológica — sugere uma espécie que tenha reatividade cruzada com a E. canis possa causar a doença. FISIOPATOLOGIA • E. canis. • Rhipicephalus sanguineus — carrapato marrom do cão; transmite a doença aos cães pela saliva; período de incubação de 1- 3 semanas; 3 estágios da doença: • Forma aguda — dissemina-se do local da picada até o baço, o fígado e os linfonodos (causa organomegalia); depois, torna-se subclínica com trombocitopenia leve; acomete principalmente o endotélio; vasculite; anticorpos antiplaquetários podem exacerbar a trombocitopenia; leucopenia variável; anemia leve; a gravidade depende do microrganismo. • Forma subclínica — o microrganismo persiste; a resposta humoral aumenta (hiperglobulinemia); também ocorre a persistência da trombocitopenia. • Forma crônica — diminuição na produção da medula óssea (plaquetas, supressão eritroide); hipercelularidade da medula com plasmócitos. SISTEMA(S) ACOMETIDO(S) • Tendências hemorrágicas — trombocitopenia e vasculite. • SNC, olhos (uveíte anterior) e pulmões — raramente acometidos por vasculite. • Linfadenopatia. • Multissistêmico. • Esplenomegalia. INCIDÊNCIA/PREVALÊNCIA • Ocorre em todo o ano; insidiosa. • Duração média desde o início até a manifestação — geralmente >2 meses. • A prevalência varia, dependendo da localização geográfica. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA • Mundial. • América do Norte — principalmente na Costa do Golfo do México e no litoral oriental; também no Meio-Oeste e na Califórnia. IDENTIFICAÇÃO Espécies • Cães — podem ser infectados por diversas espécies; E. canis, A. platys, A. phagocytophilum, E. ewingii e E. cha_ eensis produzem as principais entidades patológicas. • Gatos — E. risticii; a sorologia sugere uma espécie semelhante à E. canis. Raça(s) Predominante(s) Crônica (E. canis) — parece mais grave em Doberman pinscher e Pastor alemão. Idade Média e Faixa Etária • Idade média — 5,22 anos. • Faixa etária — 2 meses até 14 anos. SINAIS CLÍNICOS Duração dos sinais clínicos desde a doença aguda inicial até a manifestação é geralmente >2 meses. Achados Anamnésicos • Letargia, depressão, anorexia e perda de peso. • Febre. • Sangramento espontâneo — espirro, epistaxe. • Angústia respiratória. • Ataxia, inclinação da cabeça. • Dor ocular (uveíte). Achados do Exame Físico Aguda • Diátese hemorrágica (formação de petéquias nas mucosas, em consequência da trombocitopenia) associada à febre (com depressão, anorexia, perda de peso) e linfadenopatia generalizada devem levantar a suspeita de erliquiose. • Carrapatos — encontrados em 40% dos casos. • Respiratória — dispneia (até mesmo cianose); aumento nos ruídos broncovesiculares. • Doença difusa no SNC (meningite). • Ataxia com disfunção do neurônio motor superior. • Disfunção vestibular. • Hiperestesia generalizada ou local. • A maioria dos cães recupera-se sem tratamento e entra em um estado subclínico. Crônica • Em áreas não endêmicas. • Sangramento espontâneo. • Anemia. • Linfadenopatia generalizada. • Edema do escroto e dos membros. • Esplenomegalia. • Hepatomegalia. • Uveíte, geralmente bilateral (75%), embora possa ser o único sinal apresentado. • Hifema. • Hemorragia e descolamento da retina com cegueira. • Edema de córnea. • Artrite (rara). • Crises convulsivas (raras). FATORES DE RISCO Infecção concomitante por Babesia, Haemobartonella, A. platys e Hepatozoon canis — agrava a síndrome clínica. DIAGNÓSTICO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Febre maculosa das Montanhas Rochosas (Rickettsia rickettsii) — geralmente sazonal entre os meses de março e outubro (nos EUA); testes sorológicos para o diagnóstico; responde ao mesmo tratamento da erliquiose. • Trombocitopenia imunomediada — não costuma estar associada com febre ou linfadenopatia; os testes sorológicos são os mais eficientes para a distinção; é possível tratar ambos os quadros até que se conheçam os resultados. • Lúpus eritematoso sistêmico — teste do AAN geralmente negativo em casos de erliquiose; testes sorológicos para o diagnóstico. • Mieloma múltiplo — testes sorológicos para diferenciar e determinar a causa da hiperglobulinemia. • Leucemia linfocítica crônica — diferenciar por meio da linfocitose e da citologia medular óssea. • Brucelose — testes sorológicos para o diagnóstico. HEMOGRAMA/BIOQUÍMICA/ URINÁLISE Aguda • Trombocitopenia — antes do início dos sinais clínicos. • Anemia. • Leucopenia — por linfopenia e eosinopenia. • Leucocitose e monocitose — à medida que a doença se torna mais crônica. • Mórulas — são raros os corpúsculos de inclusão intracitoplasmáticos nos leucócitos. • Alterações inespecíficas — aumentos leves na ALT, fosfatase alcalina, ureia, creatinina e bilirrubina total (rara). • Hiperglobulinemia — aumenta progressivamente 1-3 semanas após a infecção. • Hipoalbuminemia — decorre, em geral, da perda renal. • Proteinúria— com ou sem azotemia; cerca da metade dos pacientes. Crônica • Pancitopenia — típica; pode haver monocitose e linfocitose. • Hiperglobulinemia — a magnitude do aumento da globulina correlaciona-se com a duração da infecção; em geral, há uma gamopatia policlonal, mas também ocorrem gamopatias monoclonais (IgG). • Hipoalbuminemia. • Níveis elevados de ureia e creatinina — decorrentes de doença renal primária. OUTROS TESTES LABORATORIAIS Teste Sorológico • Constitui o método diagnóstico mais útil e confiável do ponto de vista clínico. • O IFA é altamente sensível; especificidade baixa com reatividade cruzada entre E. canis e A. phagocytophila, mas não entre E. canis e A. platys. • Há testesmais específicos em desenvolvimento. • Títulos — confiáveis 3 semanas após a infecção; títulos >1:10 são diagnósticos. • Anemia positiva ao teste de Coombs — pode ser observada; pode confundir o diagnóstico. • Teste em busca de outros patógenos associados — Babesia, Mycoplasma haemofelis, A. platys e Hepatozoon canis. • Teste sorológico de triagem no local de atendimento — Snap 3Dx (inclui E. canis) e 4Dx (inclui E. canis e A. phagocytophilum, que também sofre reação cruzada com A. platys) estão disponíveis (IDEXX Labs, Westbrook, ME). Os testes positivos devem ser confirmados com IFA e outros exames (como hemograma completo) antes de se instituir o tratamento. • PCR — mais confiável do que o encontro de mórulas circulantes. • PCR do sangue para pesquisa de E. canis fornece um diagnóstico espécie-específico, sendo positivo por volta do dia 7 após a infecção, em geral antes do desenvolvimento de doença clínica (9-12 dias pós-infecção). O exame de PCR fica negativo 9 dias após o tratamento. A técnica de PCR realizada em amostras sanguíneas é muito mais sensível que aquela feita em amostras conjuntivais. MÉTODOS DIAGNÓSTICOS Aspirado da Medula Óssea • Aguda — hipercelularidade das séries megacariocítica e mieloide. • Crônica — frequentemente há hipoplasia eritroide com aumento nas proporções M:E e plasmocitose. • Além disso, observa-se aumento no número de mastócitos em esfregaços da medula óssea. ACHADOS PATOLÓGICOS • Aguda — hemorragias petequiais nas superfícies serosas e mucosas da maioria dos órgãos; linfadenopatia generalizada (mancha acastanhada), hepatosplenomegalia e medula óssea vermelha (hipercelularidade). • Crônica — medula pálida (hipoplásica); edema subcutâneo; ao exame histológico, é mais característico um infiltrado perivascular de plasmócitos em inúmeros órgãos; é comum uma meningoencefalite não supurativa multifocal com infiltrado celular linfoplasmocitário nas meninges. TRATAMENTO Cuidados de saúde adequados • Internação — estabilização clínica inicial em casos de anemia e/ou tendência hemorrágica resultante de trombocitopenia. • Ambulatório — pacientes estabilizados; monitorizar frequentemente o sangue e a resposta aos medicamentos. Cuidado(s) de enfermagem • Soluções eletrolíticas balanceadas — indicadas em casos de desidratação. • Transfusão sanguínea — recomendada em casos de anemia. • Transfusão de plasma rico em plaquetas ou de sangue — aconselhável em casos de hemorragia decorrente de trombocitopenia. ORIENTAÇÃO AO PROPRIETÁRIO • Aguda — prognóstico excelente com a terapia apropriada. • Crônica — a resposta à terapia pode levar 1 mês; prognóstico mau se a medula óssea estiver gravemente hipoplásica. • A evolução de aguda para crônica pode ser facilmente evitada por meio de tratamento eficaz e precoce; entretanto, muitos cães permanecem soropositivos e podem apresentar recidivas (mesmo anos mais tarde). • Pastor alemão e Doberman pinscher — forma mais crônica e grave da doença. MEDICAÇÕES MEDICAMENTO(S) DE ESCOLHA • Doxiciclina • Dipropionato de imidocarbe — supostamente eficaz contra E. canis, embora tenha falhado em remover a infecção experimental de cães com a doença. • Glicocorticoides — prednisolona ou prednisona; podem ser indicados quando a trombocitopenia representar um risco de vida (acredita-se que ela resulte de mecanismos imunomediados); como a trombocitopenia imunomediada constitui o principal diagnóstico diferencial, esses agentes poderão ser indicados até que os resultados dos testes sorológicos estejam disponíveis. • Esteroides androgênicos — utilizados para estimular a produção da medula óssea em cães cronicamente acometidos com medulas hipoplásicas; oximetolona ou decanoato de nandrolona. CONTRAINDICAÇÕES • Tetraciclinas (e derivados) — não usar em cães com <6 meses de vida (produz manchas amareladas permanentes nos dentes); não utilizar em casos de insuficiência renal (tentar a doxiciclina, pois ela pode ser excretada pelo trato gastrintestinal). • O enrofloxacino não se mostra eficaz contra Erhlichia spp., mas sim contra Anaplasma spp. PRECAUÇÕES Glicocorticoides — o uso prolongado em níveis imunossupressores pode interferir na depuração e eliminação da E. canis após o emprego das tetraciclinas. MEDICAMENTO(S) ALTERNATIVO(S) • Oxitetraciclina e tetraciclina. • Cloranfenicol — para filhotes caninos com <6 meses de vida; evita as manchas amareladas dos dentes em fase de erupção, causadas pelas tetraciclinas; alertar o proprietário quanto aos riscos à saúde pública; evitar em cães com trombocitopenia, pancitopenia ou anemia. ACOMPANHAMENTO MONITORIZAÇÃO DO PACIENTE • Contagem plaquetária — a cada 3 dias após a instituição do agente antirriquetsiano até voltar aos níveis normais; a melhora é rápida em casos agudos. • Testes sorológicos — repetir em 9 meses; a maioria dos cães ficará soronegativa; títulos positivos sugerem reinfecção ou tratamento ineficaz (reinstituir o esquema terapêutico). PREVENÇÃO • Controle da infestação por carrapatos — banhos de imersão ou sprays que contenham diclorvós, clorfenvinfós, dioxationa, propoxur ou carbarila; as coleiras contra pulgas e carrapatos podem diminuir a reinfestação, mas ainda não se comprovou a confiabilidade dessas coleiras; evitar as áreas infestadas por carrapatos. • Remoção manual dos carrapatos — utilizar luvas (ver a seção “Potencial Zoonótico”); certificar- se de que as partes bucais do parasita foram removidas para evitar reação ao corpo estranho. EVOLUÇÃO ESPERADA E PROGNÓSTICO • Aguda — prognóstico excelente com o tratamento apropriado. • Crônica — pode levar 4 semanas para obtenção da resposta clínica; prognóstico mau em casos de hipoplasia medular. DISTÚRBIOS ASSOCIADOS • Babesia. • Haemobartonella. • A. platys. POTENCIAL ZOONÓTICO • Os indícios sorológicos mostram a ocorrência da E. canis (ou, possivelmente, uma espécie relacionada) em pessoas; provavelmente não há infecção direta a partir dos cães; acredita- se que a exposição a carrapatos seja necessária; o R. sanguineus provavelmente não constitui o vetor em seres humanos. • A maioria dos casos ocorre no sul e no centro-sul dos EUA. • Sinais clínicos relevantes em seres humanos — febre, cefaleia, mialgia, dor ocular e desarranjo gastrintestinal. SINÔNIMO(S) • Febre hemorrágica canina. • Riquetsiose canina. • Tifo canino. • Febre canina de Lahore. • Doença hemorrágica de Nairobi. • Doença dos cães rastreadores. • Pancitopenia tropical canina. TILLEY, L.P.; SMITH JR., F.W.K. Consulta veterinária em 5 minutos: espécies canina e felina. 3. ed. Barueri, Manole, 2008. liv, 1550 p.
Compartilhar