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SUMÁRIO 1. Introdução e Definição ............................................. 3 2. Epidemiologia e Prevenção .................................... 4 3. Diagnóstico ................................................................18 4. Manifestações da infecção aguda .....................24 5. Profilaxias ....................................................................51 6. Tratamento .................................................................58 Referências Bibliográficas .........................................64 3AIDS / HIV 1. INTRODUÇÃO E DEFINIÇÃO Síndrome da imunodeficiência adqui- rida (SIDA), mas mais usada em sua sigla em inglês: acquired immunode- ficiency syndrome (AIDS), é uma do- ença do sistema imunológico humano causada pelo vírus da imunodefici- ência humana (HIV - human immu- nodeficiency vírus). A transmissão do HIV se dá através do contato de fluidos corporais, por exemplo, sexo sem proteção, seja oral anal, ou vagi- nal, compartilhamento de seringas e agulhas, transfusão de sangue conta- minado, via vertical ou instrumentos perfurocortantes não esterilizados. É válido destacar que o vírus é transmi- tido mesmo com indivíduo portador assintomático. Formas de transmissão do HIV Formas de não trans- missão do HIV Sexo vaginal sem camisinha Sexo desse que se use corretamente a camisinha Sexo anal sem camisinha Masturbação a dois Sexo oral sem camisinha Beijo no rosto ou na boca Uso de seringa por mais de uma pessoa Suor e lágrima Tabela 1. Formas de transmissão do HIV Algumas semanas depois da infecção pelo HIV, podem ocorrer sintomas se- melhantes aos da gripe, como febre, dor de garganta e fadiga. A doença costuma ser assintomática até evoluir para aids, a qual é caracterizado por um conjunto de sintomas desenvolvi- dos após o portador do vírus adquirir doenças oportunistas. Assim, se vê muito importante diferenciar as duas siglas. Contudo, os critérios de definição e estadiamento da aids são complexos e abrangentes, estando bem estabe- lecidos para propósitos de vigilância em vez da prática clínica com os pa- cientes. Assim, o médico não deve preocupar-se com o fato de o pacien- te adequar-se ou não à definição es- trita de aids, mas considerar a doença causada pelo HIV como um espectro que inclui infecção primária com ou sem a síndrome aguda, período as- sintomático e doenças oportunistas avançadas. A aids foi reconhecida pela primei- ra vez nos Estados Unidos no verão de 1981, quando os Centers for Di- sease Control and Prevention (CDC) relataram a ocorrência inexplicável de pneumonia por Pneumocystis jiro- veci, antes denominado P. carinii, em cinco homossexuais masculinos pre- viamente sadios de Los Angeles e de Sarcomas de Kaposi (SK) com ou sem pneumonia por P. jiroveci e outras in- fecções oportunistas em 26 homos- sexuais masculinos também previa- mente saudáveis de Nova Iorque, São Francisco e Los Angeles. Pouco depois, a doença foi diagnos- ticada nos usuários de drogas in- jetáveis (UDI) de ambos os sexos, 4AIDS / HIV nos hemofílicos e nos receptores de transfusões sanguíneas, nas parcei- ras sexuais dos homens com AIDS e nos lactentes nascidos de mães com a doença. Em 1983, o vírus da imuno- deficiência humana (HIV) foi isolado de um paciente com linfadenopatia e, em 1984, ficou claramente com- provado que esse vírus era o agente etiológico da AIDS. Em 1985, pesquisadores desenvol- veram um ensaio imunoabsorven- te ligado à enzima (ELISA) sensível, o qual permitiu avaliar o alcance e a evolução da epidemia do HIV, primei- ramente nos EUA e em outros países desenvolvidos e, por fim, nos países em desenvolvimento de todas as re- giões do mundo. A evolução mundial surpreendente da pandemia do HIV acompanhou-se de uma explosão de informações nos campos da virologia do HIV, da patogênese imunológica e virológica, do tratamento da doença causada pelo vírus, do tratamento e da profilaxia das doenças oportunis- tas associadas à infecção pelo HIV e prevenção da infecção pelo HIV. 2. EPIDEMIOLOGIA E PREVENÇÃO A infecção pelo HIV e a aids fazem parte da Lista Nacional de Notifica- ção Compulsória de doenças (Por- taria de Consolidação MS/GM nº 4, de 28 de setembro de 2017), sendo que a aids é de notificação compulsó- ria desde 1986 e a infecção pelo HIV é de notificação compulsória desde 2014. Por essa obrigatoriedade da notificação, os dados epidemiológi- cos da doença são atualizados e dis- ponibilizados pelo próprio ministério da saúde anualmente em formas de boletins epidemiológicos. O último foi publicado no dia 28 de novembro de 2019. É importante destacar que o ministério da saúde, com esse docu- mento, espera contribuir para o con- trole do HIV/aids no país, no sentido de fornecer subsídios à tomada de decisões nos níveis federal, estadual e municipal. De 2007 até junho de 2019, foram notificados no Sinan 300.496 casos de infecção pelo HIV no Brasil, sendo 136.902 (45,6%) na região Sudeste, 60.470 (20,1%) na região Sul, 55.090 (18,3%) na região Nordeste, 26.055 (8,7%) na região Norte e 21.979 (7,3%) na região Centro-Oeste. Nes- se período, foi notificado no Sinan um total de 207.207 (69,0%) casos em homens e 93.220 (31,0%) casos em mulheres. No ano de 2018, foram no- tificados 43.941 casos de infecção pelo HIV, com uma proporção de ho- mens para mulheres de quase 3:1. A seguir vemos a evolução da razão entre os sexos durante os anos, além do número de diagnósticos divididos por essa variável. 5AIDS / HIV Figura 1. Taxa de detecção de aids (por 100.000 hab.) segundo sexo e razão de sexos, por ano de diagnóstico. Brasil, 2008 a 2018. Fonte: Sinan; Siscel/Siclom; No que se refere às faixas etárias, observou-se que a maioria dos ca- sos de infecção pelo HIV encontra- -se na faixa de 20 a 34 anos, com percentual de 52,7% dos casos. Com relação à escolaridade, no mesmo período, verificou-se um elevado per- centual de casos ignorados (25,5%), o que dificulta uma melhor avaliação dos casos de infecção pelo HIV rela- tivos a esse item. Quanto aos casos com escolaridade informada, a maior parte possuía ensino médio comple- to, representando 20,7% do total. Em seguida, observam-se 12,1% de ca- sos com escolaridade entre a 5ª e a 8ª série incompleta. Com relação à raça/cor da pele au- todeclarada, observa-se que 40,9% ocorreram entre brancos e 49,7% entre negros (pretos e pardos, sendo as proporções estratificadas 10,6% e 41,5%, respectivamente). No sexo masculino, 42,6% dos casos ocorre- ram entre brancos e 48,1% entre ne- gros (pretos, 9,6% e pardos, 38,4%), entre as mulheres, 37,2% dos casos se deram entre brancas e 53,6% en- tre negras (pretas, 12,9% e pardas, 40,7%). Ressalte-se o alto percentu- al de casos com a informação sobre raça/cor ignorada: 8,4%. Por fim, ressalte-se que a notifica- ção compulsória da infecção pelo HIV data de 2014, o que impede por en- quanto uma análise epidemiológica mais rigorosa com relação às tendên- cias da infecção no Brasil. Já os casos de aids de 1980 a junho de 2019, foram identificados 966.058 casos no Brasil. O país tem registra- do, anualmente, uma média de 39 6AIDS / HIV mil novos casos de AIDS nos últimos cinco anos. Entretanto, o número de casos de aids vem diminuindo desde 2013, quando atingiu 42.934 casos, em 2018, foram registrados 37.161 casos. A distribuição proporcional dos ca- sos de aids, identificados de 1980 até junho de 2019, mostra uma con- centração nas regiões Sudeste e Sul, correspondendo cada qual a 51,3% e 19,9% do total de casos; as regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste cor- respondem a 16,1%, 6,6% e 6,1% do total dos casos, respectivamente. Nos últimos cinco anos (2014 a 2018), a região Norte apresentou uma média de 4,4 mil casos ao ano, o Nordeste, 8,9 mil, o Sudeste, 15,4 mil, o Sul, 7,7 mil, e o Centro-Oeste, 2,8 mil. Como já comentado, a taxa de detec- ção de aids vem caindo no Brasil nos últimos anos. Em 2012, a taxa foi de21,7 casos por 100.000 habitantes, em 2014, foi de 20,6, em 2016, pas- sou para 18,9, finalmente, em 2018, chegou a 17,8 casos por 100.000 ha- bitantes. Em um período de dez anos, a taxa de detecção apresentou que- da de 17,6%: em 2008, foi de 21,6 casos por 100.000 habitantes e, em 2018, de 17,8 casos a cada 100.000 habitantes. As regiões Sudeste e Sul apresen- taram tendência de queda nos últi- mos dez anos; em 2008, as taxas de detecção dessas regiões foram de 22,8 e 35,7, passando para 16,0 e 22,8 casos por 100.000 habitantes em 2018: queda de 29,8% e 36,1%, respectivamente. A região Centro- -Oeste, apesar de ter apresentado menores variações nas taxas anuais, também exibiu queda de 4,4% nos últimos dez anos, enquanto as regi- ões Norte e Nordeste mostraram ten- dência de crescimento na detecção: em 2008 as taxas registradas dessas regiões foram de 20,6 (Norte) e 13,5 (Nordeste) casos por 100.000 habi- tantes, enquanto em 2018 foram de 25,1 (Norte) e 15,8 (Nordeste), repre- sentando aumentos de 21,8% (Nor- te) e 17,0%. Na figura abaixo, observa-se um de- clínio na taxa de detecção de AIDS entre os anos de 2008 e 2018 em 11 UF: Rio Grande do Sul (39,3%), Paraná (36,6%), São Paulo (34,8%), Santa Catarina (29,1%), Distrito Fe- deral (25,8%), Minas Gerais (25,2%), Espírito Santo (24,0%), Rio de Janei- ro (23,9%), Rondônia (6,1%), Mato Grosso (6,1%) e Mato Grosso do Sul (3,8%). Valendo destacar o aumento de 81,7% na taxa de detecção do Rio Grande do Norte, no mesmo período. 7AIDS / HIV Figura 2. Taxa de detecção de aids (por 100.000 hab.) e percentual de declínio ou incremento, segundo UF de residência, por ano de diagnóstico. Brasil, 2008 e 2018. Fonte: Sinan; Siscel/Siclom; SIM. Por fim, é importante destacar a mor- talidade por aids no brasil. Desde o início da epidemia de aids (1980) até 31 de dezembro de 2018, foram notificados no Brasil 338.905 óbitos tendo o HIV/aids como causa básica (CID10: B20 a B24), sendo a maior proporção desses óbitos na região Sudeste. No período de 2008 a 2018, verificou-se uma queda de 24,1% no coeficiente de mortalidade padroni- zado para o Brasil, que passou de 5,8 para 4,4 óbitos por 100.000 habitan- tes. No mesmo período, no Norte e Nordeste, observou-se aumento de 26,0% e 2,8% nesse coeficiente, res- pectivamente, indo contra a tendên- cia. Mostrando, assim, a necessida- de de uma concentração de políticas nessas regiões. Figura 3. Prevenção combinada Fonte: Ministério da Saúde (https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/aids-hiv) 8AIDS / HIV Em prevenção vamos abordar as profilaxias que envolvem que mais pessoas sejam infectadas. Entre elas temos as biomédicas, as com- portamentais e as estruturais. A me- lhor técnica para evitar a aids / HIV é a prevenção combinada, que con- siste no uso simultâneo dessas di- ferentes abordagens, aplicadas em diversos níveis para responder as necessidades específicas de deter- minados segmentos populacionais e de determinadas formas de trans- missão do HIV. As intervenções biomédi- cas são ações voltadas à redução do risco de exposi- ção, mediante intervenção na interação entre o HIV e a pessoa passível de in- fecção. Essas estratégias podem ser divididas em dois grupos: intervenções biomédicas clássicas, que empregam métodos de barreira física ao vírus, já largamente utilizados no Brasil; e intervenções bio- médicas baseadas no uso de antirretrovirais (ARV). Como exemplo do primeiro grupo, tem-se a distribui- ção de preservativos mas- culinos e femininos e de gel lubrificante. Os exemplos do segundo grupo incluem o Tratamento para Todas as Pessoas – TTP; a Profilaxia Pós-Exposição – PEP; e a Profilaxia Pré-Exposição – PrEP. A PEP é uma medida de prevenção de urgência à infecção pelo HIV que con- siste no uso de medicamentos para re- duzir o risco de adquirir essa infecção. Deve ser utilizada após qualquer situ- ação em que exista risco de contágio, como violência sexual, relação sexual desprotegida, sem o uso de camisinha ou com rompimento da camisinha e acidente ocupacional, com instrumen- tos perfurocortantes ou contato direto com material biológico. 9AIDS / HIV Trata-se de uma urgência médica, que deve ser iniciada o mais rápi- do possível - preferencialmente nas primeiras duas horas após a expo- sição e no máximo em até 72 ho- ras. A duração da PEP é de 28 dias e a pessoa deve ser acompanhada pela equipe de saúde. No Brasil, o esquema preferencial para PEP é a coformulação tenofovir/lamivudina (TDF/3TC) em um único comprimido associada com atazanavir (ATV) 300 mg e ritonavir 100 mg. Importante lembrar que é contraindicado a ad- ministração de ATV por pessoas que fazem uso de inibidores da bomba de prótons. Como alternativas ao ATV, o Ministério da Saúde recomenda o 12 3 4 INDICAÇÕES Mordedura com sangue Tipo de material biológico Tempo de exposição Tempo entre exposição e atendimento Status sorológico da pessoa exposta Pele não integra Percutâneas Membranas mucosas Se teste rápido não reagenteMenor que 72 horas Líquidos de serosas Líquor Sangue Líquido Amniótico Sêmen Fluídos vaginais MAPA MENTAL INDICAÇÃO PEP 10AIDS / HIV uso de lopinavir/ritonavir (LPV/r) ou de AZTe em caso de exposição sexual a indivíduo sabidamente em uso de an- tirretrovirais e em falha virológica, um especialista deverá ser consultado. Já a PrEP é um novo método de pre- venção à infecção pelo HIV. A PrEP consiste na tomada diária de um comprimido que impede que o vírus causador da aids infecte o organis- mo, antes de a pessoa ter contato com o vírus. Tem efeito após 7 dias de uso para relação anal e 20 dias de uso para relação vaginal e é impor- tante salientar que a PrEP não prote- ge de outras Infecções Sexualmente Transmissíveis e, portanto, deve ser combinada com outras formas de prevenção, como a camisinha. A PrEP não é para todos, sendo indi- cada para pessoas que tenham maior chance de entrar em contato com o HIV. Essas são gays e outros ho- mens que fazem sexo com homens (HSH), pessoas trans e trabalha- dores(as) do sexo. No momento, apenas a coformulação TDF/FTC (te- nofovir + entricitabina) em um único comprimido diário se encontra apro- vada para esse tipo de prevenção. PEP Único comprimido atazanavir (ATV) + ritonavir Duração de 28 dias Usado no risco de contágio Preferencialmente nas primeiras duas horas após a exposição e no máximo em até 72 horas Uso de inibidores da bomba de prótons O uso de lopinavir/ ritonavir (LPV/r) ou de AZTe Tenofovir/lamivudina (TDF/3TC) Medida de prevenção de urgência à infecção pelo HIV Contraindicação Alternativa + Terapia indicada ! VS PrEP Após 7 dias de uso para relação Após 20 dias para relação Impede que o vírus causador da aids infecte o organismo TDF/FTC (tenofovir + entricitabina) em um único comprimido Gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH), pessoas trans e trabalhadores(as) do sexo Efeito Terapia indicada População indicada MAPA MENTAL PEP VS PREP 11AIDS / HIV As intervenções comportamentais são ações que contribuem para o au- mento da informação e da percepção do risco de exposição ao HIV e para sua consequente redução, mediante incentivos a mudanças de compor- tamento da pessoa e da comunidade ou grupo social em que ela está in- serida. Como exemplos, podem ser citados: incentivo ao uso de preser- vativos masculinos e femininos, acon- selhamento sobre HIV/aids e outras IST, incentivo à testagem, adesão às intervenções biomédicas, vinculação e retenção nos serviços de saúde, re- dução de danos para as pessoas que usam álcool e outras drogas e estra- tégias de comunicação e educação entre pares. Por fim, as intervenções estruturais são ações voltadas aos fatores e con- dições socioculturais que influenciam diretamente a vulnerabilidade de in- divíduos ou grupos sociais específi- cos ao HIV, envolvendo preconceito, estigma, discriminação ou qualqueroutra forma de alienação dos direitos e garantias fundamentais à dignidade humana. Podemos enumerar como exemplos: ações de enfrentamento ao racismo, sexismo, LGBTfobia e de- mais preconceitos, promoção e defe- sa dos direitos humanos e campanhas educativas e de conscientização. Figura 4. Representação gráfica da prevenção combinada com seus componentes e objetivos Fonte: Ministério da sáude (https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/aids-hiv) 12AIDS / HIV Virologia O agente etiológico da aids é o HIV, que pertence à família dos retro- vírus humanos (Retroviridae) e à subfamília dos lentivírus. Os retro- vírus que comprovadamente causam doença nos seres humanos perten- cem a dois grupos distintos: os vírus linfotrópico de células T humanas (HTLV)-1 e HTLV-2, os quais são re- trovírus transformadores, e os vírus da imunodeficiência humana, HIV-1 e HIV-2, que causam efeitos citopá- ticos diretos ou indiretos. No mundo inteiro, a causa mais comum da do- ença causada pelo HIV é o HIV-1, que engloba vários subtipos com dis- tribuições geográficas diferentes. O HIV-2 foi identificado pela primeira vez em 1986 nos pacientes da África ocidental e, inicialmente, estava limi- tado a essa região. Entretanto, no mundo inteiro foram detectados diversos casos que pu- deram ser rastreados até a África ocidental ou atribuídos aos contatos sexuais com pacientes dessa região. Os grupos do HIV-1 (M, N, O, P) e do HIV-2 (A a H) definidos hoje provavel- mente se originaram da transferência diferenciada aos seres humanos a partir dos reservatórios dos primatas não humanos. Os vírus HIV-1 prova- velmente se originaram dos chimpan- zés e/ou gorilas, enquanto os HIV-2 originaram-se dos sooty mangabeys. A pandemia de Aids é primariamente causada por vírus HIV-1 do grupo M. Embora o grupo O do HIV-1 e os ví- rus do grupo HIV-2 tenham sido iso- lados em muitos países, inclusive nos países desenvolvidos, eles causam epidemias muito mais localizadas. Quanto às características estruturais do vírus, o HIV-1 possui uma forma esférica, com cerca de 100 nm de di- âmetro, estando envolvido por uma bicamada lipídica, chamada de enve- lope, originária da membrana celular da célula hospedeira. A microscopia eletrônica mostra que o vírion do HIV é uma estrutura icosaédrica que con- tém numerosas espículas externas formadas pelas duas proteínas princi- pais do envoltório, a gp120 externa e a gp41 transmembrana. O envelope do HIV existe como um heterodímero trimérico. O virion brota da superfície da célula infectada e incorpora várias proteínas do hospedeiro na sua bica- mada lipídica. HORA DA REVISÃO! Vírion ou virião é uma partícula viral completa. Pode ser constituída por DNA ou RNA cercado por proteínas e consti- tui a forma infecciosa do vírus. 13AIDS / HIV Figura 5. Representação esquemática da estrutura do HIV-1. Fonte: DIAHV/SVS/MS Além disso, três enzimas virais se en- contram na partícula de HIV-1: pro- tease, transcriptase reversa e inte- grase. A enzima transcriptase reversa (TR) é responsável pela transcrição do RNA genômico viral em uma fita dupla de DNA, cuja função é criar uma cópia de DNA fita dupla (cDNA) e degradar a fita-molde de RNA viral. Já a enzima integrase é responsável pela integração do cDNA no genoma da célula hospedeira. O genoma do HIV possui cerca de 9.8 Kb, sendo constituído por três ge- nes principais: gag, pol e env, e seis genes regulatórios. Os genes gag e env codificam proteínas estruturais, o gene pol codifica as enzimas virais, citadas anteriormente, e os demais genes regulatórios são importan- tes na regulação do ciclo viral e na patogênese do vírus, e o gene env é uma das regiões mais variáveis do genoma do HIV, sendo responsável pela codificação das glico proteínas transmembrana e de superfície, as quais têm como principal função me- diar a entrada do HIV na célula hos- pedeira. No ciclo replicativo, a entrada do ví- rus na célula hospedeira requer a presença de receptores de membra- na. As primeiras células que entram em contato com o HIV-1 são aque- las que fazem parte da linhagem de monócitos, principalmente as cé- lulas dendríticas. O HIV infecta cé- lulas que tenham o marcador CD4 (CD4+), principalmente linfócitos T auxiliares, mas também macrófagos teciduais e células da micróglia do sistema nervoso central, o que re- sulta em uma doença crônica e pro- gressiva, ocasionando uma depres- são imunológica. O ciclo replicativo do HIV-1 pode ser dividido em duas fases, a fase pre- coce e a fase tardia. A fase preco- ce começa com o reconhecimento da célula alvo pelo vírus maduro e envol- 14AIDS / HIV ve todos os processos que conduzem à integração do cDNA genômico no cromossoma da célula hospedeira. A fase tardia começa com a expressão do genoma proviral, envolvendo to- dos os processos que incluem a for- mação e maturação de novas partícu- las virais. Na fase precoce do ciclo replicativo, as partículas virais ligam-se especifi- camente na célula CD4+ através da proteína de superfície gp120. A li- gação do receptor CD4 permite que a gp120 se ligue a correceptores (CCR5 ou CXCR4) sobre a superfície da célula hospedeira. Após a ligação da gp120 e correceptores, a glicopro- teína gp41 é incorporada na mem- brana celular, resultando na fusão do revestimento viral e da membrana da célula alvo, produzindo um poro, atra- vés do qual o núcleo viral penetra no citoplasma da célula. Após a fusão, o processo de transcrição reversa se inicia. A transcrição reversa do RNA genômico é feita por meio da enzima viral, transcriptase reversa, no cito- plasma da célula hospedeira. O pro- duto da transcrição reversa, cDNA de cadeia dupla, é transportado para dentro do núcleo onde o cDNA é integrado, ou seja, incorporado no genoma da célula hospedeira, re- sultando no DNA proviral. Esta inte- gração é devida à atividade catalítica da enzima integrase. Inicia-se então a fase tardia com a ex- pressão regulada do genoma proviral. O processamento das proteínas virais com as proteases virais ocorre, se- guido pela montagem do novo virion, que é liberado através da membrana da célula hospedeira por brotamento. Figura 6. Ilustração ciclo replicativo do HIV-1 Fonte: adaptado de ENGELMAN 15AIDS / HIV Agora dentro da resposta do organis- mo para o vírus, após a transmissão desse, há um período de aproxima- damente dez dias, denominado fase eclipse, antes que o RNA viral seja detectável no plasma. Estudos que utilizaram técnicas avançadas de se- quenciamento genético das primeiras partículas virais detectadas no plas- ma permitiram demonstrar que apro- ximadamente 80% das infecções sexuais pelo HIV-1 dos subtipos B e C são iniciadas por um único vírus. A homogeneidade do vírus, dito funda- dor, indica que o estabelecimento da infecção é resultado de um único foco de linfócitos T-CD4+ infectados da mucosa. A resposta imunológica ina- ta que se estabelece no foco da infec- ção atrai uma quantidade adicional de células T, o que, por sua vez, aumenta a replicação viral. A partir dessa pequena população de células infectadas, o vírus é dissemina- do inicialmente para os linfonodos locais e depois sistemicamente, em número suficiente para estabelecer e manter a produção de vírus nos teci- dos linfoides, além de estabelecer um reservatório viral latente, principal- mente em linfócitos T-CD4+ de me- mória. A replicação viral ativa e a livre circulação do vírus na corrente sanguí- nea causam a formação de um pico de viremia por volta de 21 a 28 dias após a exposição ao HIV. Essa viremia está associada a um declínio acentuado no número de linfócitos T-CD4+. Na fase de expansão e disseminação sistêmica, há a indução da resposta imunológica, mas esta é tardia e in- suficiente em magnitude para erradi- car a infecção. A ativação imune, por outro lado, produz uma quantidade adicional de linfócitos T-CD4+ ativa- dos que servem de alvo para novas infecções. Ao mesmo tempo, o nú- mero crescentede linfócitos T-CD8+ exerce um controle parcial da infec- ção, mas não suficiente para impe- dir, na ausência de terapia, a lenta e progressiva depleção de linfócitos T-CD4+ e a eventual progressão para a síndrome da imunodeficiência adquirida (aids). A ativação de linfóci- tos T-CD8+ específicos contra o HIV ocorrem normalmente antes da soro- conversão. O aparecimento de uma resposta imune celular HIV-específica e a subsequente síntese de anticor- pos anti-HIV levam a uma queda da carga viral plasmática (viremia) – até um nível (set point) que é específico de cada indivíduo – e à cronicidade da infecção pelo HIV. A resposta imune mediada por células é mais impor- tante do que a resposta imune hu- moral no controle da replicação vi- ral durante a infecção aguda, mas os anticorpos têm um papel relevante na redução da disseminação do HIV na fase crônica da infecção. A resposta imunológica humoral con- tra vários antígenos virais é vigoro- sa. A maioria das proteínas do HIV é imunogênica, mas uma resposta de 16AIDS / HIV anticorpos precoce e preferencial é induzida contra as glicoproteínas do envelope, a gp120 e a gp41, e contra a proteína do capsídeo viral, a p24. Como em qualquer outra infecção viral, a primeira classe de anticorpo produzida durante uma resposta imu- ne primária é a imunoglobulina M (IgM). Devido à persistência do HIV, nosso organismo é continuamente exposto aos mesmos antígenos e a produção inicial de IgM é substitu- ída pela produção de imunoglobu- lina G (IgG). Entretanto, ao contrário de outras doenças infecciosas, a pre- sença da IgM não permite diferenciar uma infecção recente de uma infec- ção crônica, tendo em vista que a IgM pode reaparecer em outros momen- tos durante o curso da infecção. A IgG anti-HIV atinge níveis séricos eleva- dos e persiste por anos, enquanto os níveis séricos de IgM tendem a desa- parecer com o tempo ou apresentar padrão de intermitência. É observado um aumento da afinida- de do anticorpo pelo antígeno, ou seja, os anticorpos de baixa afinidade que são produzidos no início da resposta humoral são pouco a pouco substitu- ídos por anticorpos de alta afinidade. Esse é um fenômeno devido à ocor- rência de mutações somáticas em determinadas regiões (hot spots) dos genes que codificam a imunoglobu- lina (Ig). Essas mutações ocorrem ao acaso e o aparecimento de clones de linfócitos B com maior especificidade antigênica é o resultado de um pro- cesso de seleção positiva decorrente dessas mutações. Essa característica de aumento de afinidade, juntamente com o aumento da concentração séri- ca de anticorpos específicos anti-HIV durante a fase inicial da resposta imune humoral, é a base racional para o desenvolvimento de testes labora- toriais que classificam a infecção em recente ou crônica 17AIDS / HIV Resposta imune específica ao HIV Aprisionamento do vírus e estabelecimento da infecção crônica persistente Viremia maciça Disseminação ampla aos órgãos linfoides Infecção primária Estabelecimento da infecção no GALT Controle imunológico da replicação viral Turnover rápido das células TCD4+ Replicação viral acelerada Ativação imune por citocinas e por sinalização celular anormal mediada pelo envoltório do HIV Destruição do sistema imune Figura 7. Resposta imune a infecção primária. Fonte: Harrison Medicina Interna MAPA MENTAL PATOGENIA DO HIV/AIDS Patogenia Receptores CXCR4 e CCR5 nas células TCD4+ ENTRADA DO HIV Fase ativa Fase latente Replicação viral Integração viral ao genoma MAPA MENTAL ESTÁGIOS DA INFECÇÃO PELO HIV Estágios Infecção crônica persistente Síndrome retroviral aguda Síndrome mono-like Viremia Disseminação para os tecidos linfoides e baço Alta replicação com mutação O vírus escapa do sistema imune 18AIDS / HIV 3. DIAGNÓSTICO São vários os desafios associados à implementação de novos fluxo- gramas que visem caracterizar com acurácia e precisão uma amostra biológica submetida a testes para o diagnóstico da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana. Esses desafios abrangem o planejamento de políticas públicas e incluem des- de questões estruturais (políticas, le- gais, de custo-efetividade, entre ou- tras) até as operacionais (formação de pessoal, validação dos testes e boas práticas de laboratório). Alguns desafios permanecem constantes: a evolução tecnológica que introduz, periodicamente, novas metodologias no mercado de testes, sua aprovação pelas agências reguladoras e, ainda, sua aceitação para uso na rotina diá- ria do diagnóstico em diferentes situ- ações e instalações. Resultados indeterminados ou incon- clusivos, falso-reagentes ou falso-não reagentes, podem surgir com a utili- zação de qualquer teste ou metodolo- gia, independentemente do fluxogra- ma utilizado, seja devido à limitação da própria metodologia e do que ela é capaz de detectar na amostra ana- lisada, seja pela característica singu- lar com que a infecção pode progredir em diferentes indivíduos. A reativida- de cruzada de anticorpo que podem estar presentes na amostra em virtu- de de várias doenças autoimunes, ou mesmo na gravidez, dentre outras si- tuações, pode produzir resultados fal- so-reagentes ou indeterminados em qualquer ensaio imunológico. Figura 8. Marcadores da infecção pelo HIV na corren- te sanguínea de acordo com o tempo em que surgem após a infecção e seu desaparecimento ou manutenção ao longo do tempo. Fonte: Ministério da Saúde Em amostras que apresentam re- sultados indeterminados em testes como o western blot (WB), imuno- blot (IB) ou imunoblot rápido (IBR), os testes moleculares (TM) são mui- to úteis para confirmar a presença da infecção pelo HIV. Porém, existe um período entre a exposição do indiví- duo e a detecção do vírus, durante o qual nenhum teste atualmente dis- ponível pode definir o resultado da amostra. Como a maioria das infec- ções pelo HIV-1 ocorre por meio das mucosas do trato genital ou retal du- rante a relação sexual. Nas primeiras horas após a infecção pela via sexual, o HIV e células infectadas atraves- sam a barreira da mucosa, permitindo que o vírus se estabeleça no local de entrada e continue infectando linfó- 19AIDS / HIV citos T-CD4+, além de macrófagos e células dendríticas. As estratégias de testagem têm o objetivo de melhorar a qualidade do diagnóstico da infecção recente pelo HIV e, ao mesmo tempo, de fornecer uma base racional para assegurar que o diagnóstico seja seguro e concluído rapidamente. Atualmente, os testes moleculares são os mais eficazes para a confir- mação diagnóstica, por permitirem o diagnóstico de infecções agudas e/ou recentes e apresentarem melhor cus- to-efetividade. Contudo, resultados com falso-reagentes ainda existem nesses testes e, diante dessa diver- sidade de cenários, não é possível a utilização de apenas um fluxograma para cobrir todas as situações que se apresentam para o diagnóstico da in- fecção pelo HIV. Assim, casos de infecção recente são mais bem identificados com a utiliza- ção de um teste de 4ª geração como teste inicial e um teste molecular como teste complementar. Pessoas na fase crônica da infecção são identificadas com sucesso por meio de qualquer combinação de testes iniciais, se- guidos por um teste complementar (WB, IB, IBR ou TM). No Brasil, ain- da há uma porcentagem considerável de indivíduos diagnosticados na fase crônica da infecção. A estimativa dos casos de infecção recente ou aguda que se apresentam para o diagnóstico depende da inci- dência da infecção. Por exemplo, em populações em que a incidência é bai- xa, o número esperado de casos com infecção recente ou aguda é muito pequeno. Considerando ainda a alta sensibilidade dos testes disponíveis, a Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere que, ao estabelecer o fluxograma de testagem para o diag- nóstico da infecção pelo HIV, deve-se considerar a prevalência presumida da infecção, seja na população geral ou específicaa ser testada. Portanto, a escolha do fluxograma deve sem- pre levar em consideração a popula- ção-alvo da testagem. Os testes para detecção da infecção pelo HIV são principalmente empre- gados em três situações: para triagem sorológica do sangue doado e garan- tia da segurança transfusional, dos hemoderivados e dos órgãos para transplante; para os estudos de vigi- lância epidemiológica; e para realizar o diagnóstico da infecção pelo HIV. Os testes complementares utilizam diferentes formatos e princípios. Es- tão incluídos nessa categoria: wes- tern blot (WB), imunoblot (IB) ou imunoensaios em linha (LIA, do in- glês line immunoassay), incluindo o imunoblot rápido (IBR) e imunofluo- rescência indireta (IFI). Mais recen- temente, os testes moleculares (TM) também foram incluídos como testes complementares, uma vez que auxi- liam no esclarecimento dos resulta- 20AIDS / HIV dos da infeção aguda pelo HIV, como nos casos de reatividade no teste de 4ª geração por detecção do antígeno e ausência de anticorpos circulantes A seguir, estão descritos os testes mais comumente utilizados no diag- nóstico da infecção pelo HIV. Imunoensaio Logo após a descoberta do HIV, fo- ram desenvolvidos imunoensaios (IE) para o diagnóstico da infecção. Nas últimas décadas, sucederam-se qua- tro gerações de IE. Essas gerações foram definidas de acordo com a evo- lução das metodologias empregadas, a partir do primeiro ensaio disponível comercialmente, no ano de 1985. O ensaio de primeira geração tem o formato indireto, ou seja, a presença de anticorpos específicos é detectada por um conjugado constituído por um anticorpo anti-IgG humana. O ensaio de segunda geração também tem formato indireto, porém, utiliza antí- genos recombinantes ou peptídeos sintéticos derivados de proteínas do HIV. O ensaio de terceira geração tem o formato “sanduíche” (ou imunomé- trico) e sua característica é utilizar an- tígenos recombinantes ou peptídeos sintéticos tanto na fase sólida quan- to sob a forma de conjugado. Assim, esse formato permite a detecção si- multânea de anticorpos anti-HIV IgM e IgG. Já o quarto e último ensaio, detecta simultaneamente o antígeno p24 e anticorpos específicos anti-HIV. [box se liga: O ELISA é um imuno- ensaio de 4ª geração que detecta o antígeno p24 e anticorpos anti-HIV, tendo uma janela imunológica de 15 dias. Sua sensibilidade e especificida- de é de 99%.] Testes rápidos (TR) Os testes rápidos (TR) são imuno- ensaios (IE) simples, com resultados em até 30 minutos, realizados prefe- rencialmente de forma presencial em ambiente não laboratorial com amos- tra de sangue total obtida por punção digital ou amostra de fluido oral. Como consequência do desenvolvimento e da disponibilidade de TR, a testagem para a infecção pelo HIV atualmente pode ser realizada em ambientes la- boratoriais e não laboratoriais, permi- tindo ampliar o acesso ao diagnóstico. Existem vários formatos de TR, e os mais frequentemente utilizados são: dispositivos (ou tiras) de imunocro- matografia de fluxo lateral, imunocro- matografia de duplo percurso (DPP) e imunoconcentração. 21AIDS / HIV Figura 9. Exemplos de testes rápidos (TR) para HIV Tendo em vista que os TR são de- senvolvidos para detectar anticorpos anti-HIV em até 30 minutos, em com- paração com os IE utilizados em la- boratórios, cujo resultado pode levar até quatro horas, os dispositivos são otimizados para acelerar a interação antígeno/anticorpo. Isso requer a utili- zação de uma maior concentração de antígeno e da detecção de complexo antígeno/anticorpo com reagentes sensíveis à cor, como o ouro coloidal. Os TR são ideais para fornecer resul- tados no mesmo dia em uma varieda- de de situações descritos na tabela a seguir: QUANDO OS TR SÃO USADOS? Populações-chave Populações prioritárias Parcerias de pessoas vivendo com HIV/aids Acidentes biológicos ocupacionais Gestantes que não tenham sido testadas durante o pré-natal ou cuja idade gestacional não assegure o recebimento do resul- tado do teste antes do parto Parturientes e puérperas que não tenham sido testadas no pré-natal ou quando não se conhece o resultado do teste no momento do parto Abortamento espontâneo, independentemente da idade gestacional Pessoas em situação de violência sexual, para fins de profilaxia da infecção pelo HIV Pacientes com diagnóstico de tuberculose Pacientes com diagnóstico de hepatites virais Tabela 2. Situações em que os testes rápidos são utilizados 22AIDS / HIV Situações Populações-chave Populações prioritárias Acidentes biológicos ocupacionais Pessoas em situação de violência sexual Parceiros de pessoas infectadas Infecção recente Infecção crônica + • Infecções oportunistas graves • Alguns cânceres (sarcoma de Kaposi e linfoma não Hodgkin) • Disfunção neurológica Diagnóstico AIDS Detecção do vírus e seus componentes Imunoensaio Teste Rápido Detecção de anticorpos anti- HIV 1ª, 2ª, 3ª ou 4ª geração + teste complementar 4ª geração + teste complementar > 30 dias > 10-12 dias Manifestações da imunossupressão avançada Diagnóstico de infeccação pelo HIV MAPA MENTAL DIAGNÓSTICO HIV/AIDS 23AIDS / HIV Acometimento pulmonar Insuficiência cardíaca MAPA MENTAL AIDS E SUAS MANIFESTAÇÕES Diarreia Lesões orais Diretas Indiretas Manifestações gastrointestinais Manifestações neurológicas Miocardite/pericardite Cardiomiopatia dilatada Pneumonia por Pneumocystis Tuberculose Pneumonia bacteriana Pele Herpes zoster Sarcoma de Kaposi Herpes simples Bacteriana: Salmonella, Campylobacter, Shigella Múltiplos antibióticos: Clostridium difficile Micobactérias: M. tuberculosis, M. avium Vírus: citomegalovírus Parasitas oportunistas: Cryptosporidium parvum, Cyclospora cayetanensis Enteropatia da AIDS: patógenos não encontrados mesmo após avaliação diagnóstica completa Candidíase oral Leucoplasia pilosa Sarcoma de Kaposi Herpes simples Esofagite Candidíase esofágica Úlcera secundária a CMV Úlcera secundária a herpes Consequentes ao próprio HIV Meningite aguda Meningite crônica Encefalopatia Mielopatia Neuropatia periférica Miopatia Resultado da imunossupressão associada Infecções oportunistas Neoplasias Tóxica/metabólica Efeito dos medicamentos Doença cerebrovascular 24AIDS / HIV 4. MANIFESTAÇÕES DA INFECÇÃO AGUDA Algumas estimativas sugeriram que 50 a 70% dos indivíduos infectados pelo HIV apresentem uma síndrome clínica agu- da cerca de 3 a 6 semanas depois da infecção primária. Estudos demonstra- ram graus variáveis de gravidade clínica e, embora alguns tenham sugerido que a soroconversão sintomática que leva o in- divíduo a buscar atendimento médico in- dica risco mais alto de evolução acelera- da da doença, não parece haver qualquer correlação entre o nível da viremia inicial da infecção aguda e a evolução subse- quente da doença causada pelo HIV. Alguns autores demonstraram que vá- rios sinais e sintomas da síndrome agu- da (febre, erupção cutânea, faringite e mialgia) são menos frequentes nos in- divíduos infectados pelo uso de drogas injetáveis quando comparados com os pacientes infectados por relações sexu- ais. A síndrome é típica de uma infec- ção viral aguda e foi comparada à mo- nonucleose infecciosa aguda. Em geral, os sinais e os sintomas persistem por uma a várias semanas e regridem gra- dativamente à medida que a resposta imune ao HIV se desenvolve e os níveis de viremia plasmática diminuem. Al- guns autores relataram infecções opor- tunistas durante essa fase da infecção, refletindo a imunodeficiência resultante das contagens reduzidas de células T CD4+ e, provavelmente, também a dis- função dessas células em consequência das anormalidades celulares induzidas pelas proteínas virais e pelas citocinas endógenas associadas aos níveis extre- mamente altos de viremia plasmática. GERAIS NEUROLÓGICAS Febre Meningite Faringite Encefalite Linfadenopatia Neuropatia peri- férica Cefaleia/dorretro-orbitária Mielopatia Artralgia/ Mialgia Letargia/ mal estar Anorexia/ emagrecimento Náuseas/ vômito/ diarreia Exantema maculopapular eritematoso Ulceração mucocutânea Tabela 3.Achados clínicos da síndrome aguda causada pelo HIV Cerca de 70% dos indivíduos com in- fecção primária pelo HIV têm linfade- nopatia. A maioria dos pacientes re- cupera-se espontaneamente dessa síndrome e pode persistir apenas com ligeira redução da contagem de células T CD4+, que se estabiliza por um perío- do variável antes de começar o declínio progressivo; em alguns indivíduos, as contagens de células T CD4+ voltam à faixa normal. Cerca de 10% dos pacien- tes têm deterioração clínica e imunológi- ca fulminante depois da primoinfecção, mesmo depois do desaparecimento dos primeiros sintomas. Na maioria dos casos, a infecção primária com ou sem uma síndrome aguda é seguida de um intervalo longo de latência clínica ou ní- veis baixos de atividade da doença. 25AIDS / HIV Infecção primária Síndrome aguda Redistribuição dos linfócitosViremia plasmática (disseminação ampla do vírus) Resposta imune ao HIV Latência clínica Estabelecimento da infecção crônica persistente nos tecidos linfoides Redução da viremia plasmática 3-6 semanas 1 semana – 3 meses 1-2 semanas MAPA MENTAL SÍNDROME AGUDA DO HIV Latência clínica período assintomático Embora o intervalo entre a infecção inicial e o início da doença clínica seja amplamente variável, o intervalo mé- dio para os pacientes não tratados é de cerca de 10 anos. A doença cau- sada pelo HIV com replicação viral ativa é contínua e progressiva duran- te esse período assintomático. A taxa de progressão da doença correlacio- na-se diretamente com os níveis de RNA do HIV. Os pacientes com níveis plasmáticos altos de RNA do HIV evoluem para a doença sintomática mais rapidamente que os indivíduos com baixos níveis de RNA do HIV. Alguns indivíduos, designados como pacientes sem progressão da doença em longo prazo, apresentam pouco ou nenhum declínio das contagens de células T CD4+ por intervalos longos. Em geral, esses indivíduos têm níveis extremamente baixos de RNA viral; um subgrupo conhecido como “con- troladores de elite” tem níveis de RNA viral < 50 cópias por mililitro. Alguns outros pacientes permanecem total- 26AIDS / HIV mente assintomáticos, embora suas contagens de células T CD4+ apre- sentem declínio contínuo e progressi- vo até chegar a níveis extremamente baixos. Nesses casos, o desenvolvi- mento de uma doença oportunista pode ser a primeira manifestação da infecção pelo HIV. Durante o perío- do assintomático da infecção, a taxa média de declínio das células T CD4+ é de cerca de 50/µL. Quando a con- tagem de células T CD4+ diminui a menos de 200/µL, o estado de imu- nodeficiência resultante é suficiente- mente grave para colocar o paciente sob risco alto de infecções oportunis- tas e neoplasias e, desse modo, de desenvolver doença detectável clini- camente. SE LIGA! É sempre importante estratifi- car as comorbidades associadas ao HIV através do CD4. Ao verificar um CD4 elevado, podemos pensar em doenças até relacionadas a pessoas HIV negati- vo. Já um CD4 baixo, podemos pensar em doenças oportunistas. Manifestações pulmonares A doença pulmonar é uma das com- plicações mais frequentes da infec- ção pelo HIV. A manifestação mais comum da doença pulmonar é pneu- monia. As 3 das 10 doenças mais co- muns que definem a aids são pneu- monias bacterianas recidivantes, tuberculose e pneumonia causada pelo fungo unicelular P. jiroveci. Outras causas de infiltrados pulmo- nares são outras infecções micobac- terianas, outras micoses pulmonares, pneumonite intersticial inespecífica, SK e linfoma. A pneumonia bacteria- na é observada com maior frequência nos pacientes com infecção pelo HIV, com 0,8 a 2,0 casos por 100 habi- tantes-ano. Os pacientes infectados pelo HIV são particularmente pro- pensos às infecções por microrganis- mos encapsulados. S. pneumoniae e H. influenzae são responsáveis pela maioria dos casos de pneumonia bac- teriana em pacientes com Aids. Isso pode ser atribuído à disfunção das células B e/ou às anormalidades das funções dos neutrófilos, que podem ser secundárias à doença causada pelo HIV (ver anteriormente). SE LIGA! No paciente HIV+, apresen- tando um quadro pulmonar, podemos pensar em fazer uma abordagem inicial através de exames como: RX de tórax PA/perfil, gasometria, hemograma, DHL e TC de tórax. As pneumonias por S. aureus e P. ae- ruginosa também são relatadas com frequência aumentada em pacientes com infecção por HIV. A infecção por S. pneumoniae (pneumococo) pode ser a primeira infecção grave dos pa- cientes com doença causada pelo HIV. Essa infecção pode evidenciar- -se por pneumonia, rinossinusite e/ou bacteremia. Os pacientes HIV-posi- 27AIDS / HIV tivos sem tratamento têm aumentos de seis vezes na incidência de pneu- monia pneumocócica e aumentos de 100 vezes na incidência de bactere- mia pneumocócica. A doença pneu- mocócica pode ser diagnosticada nos pacientes com sistemas imunes relati- vamente preservados. Em um estudo, a contagem basal das células T CD4+ ao primeiro episódio de pneumonia pneumocócica era de cerca de 300/ µL. É interessante assinalar o fato de que a resposta inflamatória à infecção pneumocócica parece proporcional à contagem de células T CD4+. A incidência de pneumonia por Pneu- mocystis jiroveci (PPC), outrora uma marca característica da aids, declinou drasticamente depois do desenvolvi- mento dos esquemas profiláticos efi- cazes e do uso disseminado da TARV. Entretanto, essa ainda é a causa mais comum de pneumonia dos pacien- tes infectados pelo HIV nos EUA e o Pneumocystis pode ser isolado como agente etiológico provável de 25% dos casos de pneumonia dos pacien- tes HIV-positivos, com incidência na faixa de 2 a 3 casos por 100 habitan- tes-ano. Cerca de 50% dos casos de PPC associada ao HIV ocorrem nos pacientes que não sabem que estão infectados. O risco de desenvolver PPC é maior entre os pacientes que já tiveram ou- tros episódios no passado e nos in- divíduos com contagens de células T CD4+ < 200/µL. Em geral, 79% dos pacientes com PPC têm contagens de células T CD4+ < 100/µL e 95% dos casos ocorrem nos indivíduos com contagens inferiores a 200/µL. Em geral, os pacientes com PPC têm febre recidivante, tosse, a qual cos- tuma ser seca ou com expectoração de quantidades mínimas de escar- ro esbranquiçado, sudorese noturna, monilíase e emagrecimento inexpli- cável. Esses pacientes podem quei- xar-se de dor torácica retroesternal típica que piora ao inspirar e é des- crita como dor em ponta ou ardên- cia. A PPC associada ao HIV pode ter evolução insidiosa evidenciada por semanas com sintomas vagos e deve ser incluída no diagnóstico dife- rencial de qualquer paciente HIV-po- sitivo com febre, queixas pulmonares ou emagrecimento e contagens de células T CD4+ < 200/µL. O achado mais comum nas radiografias do tó- rax é um resultado normal quando a doença é considerada em uma fase inicial. O quadro clássico de infiltrado peri-hilar denso pode estar presente em 3/ 4 dos pacientes. Na TC de tó- rax há atenuação pulmonar em vidro fosco, padrão clássico. 28AIDS / HIV Figura 10. Radiografia de tórax com infiltrado peri-hilar denso, o qual é comum em PCC, mas não em pacientes HIV-positivo com PCC Fonte: http://dx.doi.org/10.1590/ S1806-37132014000200013 Em geral, os exames laboratoriais de rotina trazem poucos subsídios adi- cionais ao diagnóstico diferencial da PPC. É comum detectar leucocitose leve, embora isso possa não ocorrer nos pacientes que já tinham neutro- penia. A elevação do nível de lactato desidrogenase é frequente. A gaso- metria arterial pode indicar hipoxemia com redução da Pa O2 e aumento do gradiente arterioalveolar (a-A). A ga- sometria arterial não apenas ajuda a definir o diagnóstico de PPC como também fornece informações impor- tantespara o estadiamento da gravi- dade da doença e a orientação do tra- tamento. O diagnóstico definitivo de PPC depende da demonstração do microrganismo nas amostras obtidas do escarro induzido, do lavado bron- coalveolar, da biópsia transbrônquica ou da biópsia pulmonar aberta. O tratamento padronizado da PPC ou da pneumocistose disseminada consiste em sulfametoxazol-trimeto- prima (SMX/TMP). A utilização des- sa combinação de antibióticos pelos pacientes infectados pelo HIV causa incidência alta (20-85%) de efeitos colaterais, principalmente erupções cutâneas e mielossupressão. Os tra- tamentos alternativos da PPC leve a moderada consistem em dapsona/tri- metoprima, clindamicina/primaquina e atovaquona. A pentamidina IV é o tratamento preferido para a doença grave do paciente que não consegue tolerar SMX/TMP. Para os pacien- tes com PaO2 < 70 mmHg ou com gradiente a-A > 35 mmHg, deve-se administrar um glicocorticoide junto com os antimicrobianos específicos. Em geral, o tratamento deve ser man- tido por 21 dias e seguido da profila- xia secundária. 29AIDS / HIV SE LIGA! TRATAMENTO PNEUMOCISTOSE LEVE A MODERADA (PaO2 ≥70MMHG): 1ª OPÇÃO: SMX-TMP, com 15-20mg de TMP/kg/dia oral a cada seis ou oito horas, por 21 dias. 2ª OPÇÃO: esquema alternativo para casos de intolerância à sulfa é clindami- cina 300mg oral a cada seis horas + pri- maquina 15-30mg oral uma vez ao dia, por 21 dias. MODERADA A GRAVE (PaO2 <70MMHG): 1ª OPÇÃO: SMX-TMP (5mg/kg de TMP) endovenosa a cada seis ou oito horas. O tempo total de tratamento é de 21 dias. 2ª OPÇÃO: esquema alternativo em caso de intolerância à sulfa é clindamicina 600mg EV a cada seis ou oito horas + primaquina 15-30mg VO uma vez ao dia Associar antibioticoterapia ao corticoide se pneumocistose moderada/grave: - Prednisona 40mg oral duas vezes ao dia por cinco dias, reduzida à metade a cada cinco dias, até completar os 21 dias de tratamento. - Alternativa: metilprednisolona endo- venosa equivalente a 75% da dose da prednisona. PROFILAXIA SECUNDÁRIA: instituir após o término do tratamento. - SMX-TMP na dose de 160-800mg três vezes por semana ou 80-400mg/ dia até alcançar LT-CD4+ acima de 200 céls/mm³ por pelo menos três meses. OBS: Caso o paciente com pneumocisto- se não faça ainda o uso da TARV, deve-se realizar o tratamento do quadro pulmonar e só assim inicia-se o uso da TARV. No mundo inteiro, cerca de um terço das mortes relacionadas com a aids está associado à tuberculose (TB), que também é a causa principal da morte de 10 a 15% dos pacientes infectados pelo HIV. Os pacientes infectados pelo HIV são 100 vezes mais suscetíveis a desenvolver TB em atividade em comparação com a população HIV-negativa. Entre os in- divíduos HIV-negativos assintomáti- cos com teste cutâneo positivo com derivado proteico purificado (PPD), o risco de reativação da TB é de cer- ca de 1% ao ano. Entre os pacientes HIV-positivos assintomáticos com testes de PPD positivos, o índice de reativação da TB é de cerca de 7 a 10% ao ano. Quando não é tratada, a TB pode ace- lerar a evolução da infecção pelo HIV. Os níveis plasmáticos de RNA do HIV aumentam quando há TB em ativida- de e declinam com o tratamento bem- -sucedido da TB. A TB em atividade é mais comum nos pacientes com 25 a 44 anos de idade, nos afro-ameri- canos e latinos, nos pacientes das ci- dades de Nova Iorque e Miami e nos pacientes dos países em desenvolvi- mento. A epidemia de TB associada à epidemia de infecção pelo HIV pro- vavelmente representa o maior risco à saúde da população em geral e dos profissionais de saúde que lidam com a epidemia. Ao contrário da infecção por micobactérias atípicas como o MAC, a TB ativa geralmente se de- 30AIDS / HIV senvolve em uma fase relativamente precoce da evolução da infecção pelo HIV e pode ser um sinal clínico inicial da doença causada pelo HIV. Em um estudo, a contagem média de células T CD4+ por ocasião da apresentação clínica da TB era de 326/µL. As manifestações clínicas da TB dos pacientes infectados pelo HIV são muito variadas e, em geral, têm pa- drões diferentes em função da conta- gem de células T CD4+. Nos pacien- tes com contagens relativamente altas de células T CD4+, observa-se o padrão típico de reativação pulmo- nar, com o qual o paciente apresenta febre, tosse, dispneia aos esforços, perda de peso, sudorese noturna e radiografia de tórax demonstrando doença cavitária apical dos lobos superiores. Figura 11. Radiografia de tórax demonstrando doença cavitária apical em ambos lobos superiores Fonte: http:// www.sopterj.com.br/wpcontent/themes/_sopterj_rede- sign_2017/_revista/2006/n_03/07.pdf Nos pacientes com contagens mais baixas de células T CD4+, a do- ença disseminada é mais comum. Nesses pacientes, as radiografias de tórax podem demonstrar infiltrados reticulonodulares difusos ou bilate- rais dos lobos inferiores compatíveis com disseminação miliar, derrames pleurais e linfadenopatia hilar e/ou mediastinal. A infecção pode afetar ossos, cérebro, meninges, trato gas- trintestinal (GI), linfonodos (principal- mente as cadeias cervicais) e vísce- ras. Alguns pacientes com infecção avançada pelo HIV e TB em atividade podem não ter sintomas dessa última doença e, por essa razão, a triagem para TB deve fazer parte da avaliação inicial de qualquer paciente HIV-posi- tivo. Cerca de 60 a 80% dos pacien- tes HIV-positivos com TB têm doença pulmonar e 30 a 40% têm doenças extrapulmonares. Os pacientes sob suspeita de TB pul- monar devem ser colocados em isola- mento respiratório em um quarto com pressão negativa. Essa abordagem é de suma importância para limitar a disseminação hospitalar e comunitá- ria da infecção. A cultura do micror- ganismo a partir de uma amostra do órgão acometido estabelece o diag- nóstico definitivo. As hemoculturas são positivas em 15% dos pacientes. Essa porcentagem é mais alta nos pacientes com contagens de células T CD4+ mais baixas. Em casos de doença fulminante, não se deve con- 31AIDS / HIV fiar na acurácia de um teste cutâneo com PPD negativo para descartar o diagnóstico de TB. A TB é uma das condições asso- ciadas à infecção pelo HIV para as quais a cura é possível com a tera- pia adequada. Em geral, o tratamen- to da TB dos pacientes infectados pelo HIV é igual ao dos pacientes HIV-negativos. Em vista da possi- bilidade de resistência a múltiplos fármacos ou de TB com resistência extensiva aos fármacos, os testes de sensibilidade devem ser realiza- dos para orientar o tratamento. Em consequência das interações far- macocinéticas, a rifampicina deve ser substituída por doses ajusta- das de rifabutina nos pacientes que usam inibidores da protease do HIV ou inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa. O início da TARV e/ou do trata- mento para TB pode estar as- sociado à deterioração clí- nica atribuída às reações da síndrome inflamató- ria de reconstituição imune (SIRI). Essas reações são mais co- muns nos pacientes que iniciam simul- taneamente os dois tratamentos, podem ocorrer a partir da primeira semana depois de iniciar a TARV e são observadas mais co- mumente nos pacientes com doen- ça avançada causada pelo HIV. Por essas razões, geralmente recomen- da-se que a introdução da TARV seja postergada quando o pacien- te ainda não fez tratamento antir- retroviral com contagens de CD4 > 50 células/μL até 2 a 8 semanas depois de iniciar o esquema para TB. Para pacientes com contagens de CD4 mais baixas, os benefícios da TARV mais imediata superam o risco de SIRI e a TARV deve ser ini- ciada assim que possível nesses pa- cientes. 32AIDS / HIV SE LIGA! TRATAMENTO DE TUBERCULOSE EM PACIENTES HIV+ Tabela 4 . Esquema básico para tratamento de TB em adultos e adolescentes ≥ 10 anos FASES DO TRATAMENTO FÁRMACOS FAIXA DE PESO UNIDADE/DOSE MESES INTENSIVA (2RHZE) RHZE 150/75/400/275mg Comprimido em dose fixa combinada 20 a 35kg 2 comprimidos 236 a 50kg 3 comprimidos>50kg 4 comprimidos MANUTENÇÃO (4RH) RH 150/75mg Comprimido em dose fixa combinada 20 a 35kg 2 comprimidos 4 36 a 50kg 3 comprimidos >50kg 4 comprimidos Rifampicina (R), isoniazida (H), pirazinamida (Z) e etambutol (E). Observações importantes: - Não se deve associar inibidor de protease e rifampicina. Somente a rifabutina é compatível. - Caso diagnóstico de HIV-TB seja concomitante, o TARV pode ser iniciado 2 a 4 semanas depois do início do sistema RIPE, em casos de CDA < 50. -O tratamento pode durar de 6 a nove meses. É importante o controle das transaminases dos pacientes após o início do tratamento. - Além disso, atentar-se para os casos de IRIS, a manifestação da exacerbação da resposta imunológica, que aparece em pacientes com ou sem uso de TARV. As infecções por micobactérias atípi- cas também são mais comuns nos pa- cientes infectados pelo HIV. Estudos relataram infecções por no mínimo 12 micobactérias diferentes, inclusive M. bovis e representantes dos quatro grupos de Runyon. A infecção mais comum por micobactérias atípicas é causada pelas espécies M. avium ou M. intracellulare – o chamado com- plexo Mycobacterium avium (MAC). A infecção por MAC é uma complicação tardia da infecção pelo HIV e ocorre predominantemente nos pacientes com contagens de células T CD4+ < 50/µL A contagem média das células T CD4+ por ocasião do diagnóstico é de 10/µL. A apresentação clínica mais comum consiste em doença dissemi- nada com febre, emagrecimento e sudorese noturna. No mínimo 85% dos pacientes in- fectados pelo MAC apresentam mi- cobacteremia e geralmente é possí- vel demonstrar grandes quantidades desses microrganismos na biópsia de medula óssea. As radiografias do tó- rax são anormais em cerca de 25% dos pacientes e o padrão detectado mais comumente é de infiltrados bila- 33AIDS / HIV terais dos lobos inferiores, sugestivo de disseminação miliar. Além disso, pode haver infiltrados alveolares ou nodulares e linfadenopatia hilar e/ou mediastinal. Outras anormalidades clínicas incluem lesões endobrônqui- cas, dor abdominal, diarreia e linfade- nopatia. Anemia e níveis altos de fos- fatase alcalina hepática são comuns. O diagnóstico é estabelecido pela he- mocultura ou cultura do tecido aco- metido. Duas amostras consecutivas de escarro positivas para MAC são al- tamente sugestivas de infecção pul- monar. As culturas podem levar duas semanas para positivar. O tratamento consiste em um macrolídeo (em ge- ral, claritromicina) com etambutol. Al- guns médicos preferem adicionar um terceiro fármaco (rifabutina, ciproflo- xacino ou amicacina) para os pacien- tes com doença extensiva. Em geral, o tratamento era mantido por toda a vida; contudo, com a utilização da TARV, é possível interromper o trata- mento dos pacientes com supressão persistente da replicação viral e con- tagens de células T CD4+ > 100/µL por 3 a 6 meses. Além da PPC, os pacientes com aids podem ter outras infecções fúngi- cas pulmonares. Os pacientes com criptococose pulmonar apresentam febre, tosse, dispneia e, em alguns casos, hemoptise. Mais de 90% dos pacientes têm infiltrados intersticiais focais ou difusos nas radiografias do tórax. Além disso, podem ocorrer doença lobar, doença cavitária, der- rames pleurais e linfadenopatia hilar ou mediastinal. Mais de 50% dos pa- cientes apresentam fungemia e 90% têm infecção concomitante do SNC. O Coccidioides immitis é um fungo endêmico no sudoeste dos Estados Unidos. Ele pode causar uma sín- drome pulmonar por reativação em pacientes com infecção pelo HIV. A maioria dos pacientes com essa in- fecção apresenta contagem de célu- las T CD4+ < 250/µL. Os pacientes apresentam febre, emagrecimento, tosse e infiltrados reticulonodulares extensivos e difusos nas radiografias do tórax. Também podem ser detec- tados nódulos, cavidades, derrames pleurais e linfadenopatia hilar. 34AIDS / HIV Manifestações Pulmonares Febre recidivante, tosse seca, sudorese noturna, monilíase e emagrecimento inexplicável Episódios passadosT CD4+ < 200/µL Pneumonia por Pneumocystis jiroveci (PPC) Sulfametoxazol- trimetoprima (SMX/ TMP) por 21 dias Profilaxia após período Febre, lesões endobrônquicas, dor abdominal, diarreia, linfadenopatia, emagrecimento e sudorese noturna Disseminação miliar em raio x células T CD4+ < 50/µL Micobactérias atípicas – principalmente MAC TRATAMENTO Macrolídeo (em geral, claritromicina) com etambutol A infecção pode afetar ossos, cérebro, meninges, trato gastrintestinal, linfonodos e vísceras Quadro clínico sem padrãoT CD4+ < 326/µL As radiografias de tórax podem demonstrar infiltrados reticulonodulares difusos ou bilaterais dos lobos inferiores TB Rifampicina Isolamento respiratório ! Síndrome inflamatória de reconstituição imune TRATAMENTO + TRATAMENTO MAPA MENTAL PRINCIPAIS MANIFESTAÇÕES PULMONARES DA AIDS 35AIDS / HIV Manifestações gastrointestinais Doenças do sistema GI são achados comuns da infecção pelo HIV, sendo mais frequentemente causadas por infecções secundárias. Embora a aclo- ridria seja um problema comum entre os pacientes infectados pelo HIV, os outros distúrbios gástricos geralmen- te são raros. Entre as doenças neo- plásicas que acometem o estômago, destacam-se o SK e o linfoma. Acloridria é a ausência de ácido clorí- drico no estômago. Assim, é definida como a incapacidade do pH gástrico em chegar abaixo de 4,0 para fazer a digestão dos alimentos. Este distúr- bio pode leva a alguns sintomas im- portantes como azia, queimação, dis- tensão abdominal (barriga estufada, inchada), sensação de empachamen- to após as refeições principalmente proteínas. É comum em doenças au- to-imunes, e como já comentado, em pacientes HIV-positivos. As principais lesões orais em pacien- tes infectados pelo HIV são: candidí- ase oral, herpes simples, leucoplasia pilosa e sarcoma de Kaposi. Na candi- díase, observa-se o aparecimento de placas removíveis esbranquiçadas, além de queilite angular ou pápulas eritematosas na mucosa. Figura 12. Candidíase oral. Fonte: https://www.mdsau- de.com/doencas-infecciosas/dst/aids-hiv-fotos/ Figura 13. Herpes simples. Fonte: https://www.atlas- dasaude.pt/publico/content/herpes-labial Figura 14. Leucoplasia pilosa. Fonte: http://estomatolo- giaonlinepb.blogspot.com/2015/03/leucoplasia-eritro- plasia-e-queilite.html 36AIDS / HIV Figura 15. Sarcoma de Kaposi. Fonte: Periódicos da Universidade Federal Fluminense. Existem ainda algumas manifesta- ções esofágicas, caracterizadas pela esofagite, que pode ter como etio- logia a cândida, herpes simples e o citomegalovírus. São doenças que aparecem em casos de CD4< 200 e sãoconsideradas doenças definido- ras de aids. A principal sintomatolo- gia desses pacientes é a odinofagia. A candidíase esofágica é o principal diagnóstico, sendo o tratamento re- alizado com Fluconazol por 10 a 14 dias. Caso o paciente não responde ao tratamento com fluconazol, deve-se pensar em outro diagnóstico: a úlcera esofágica herpética ou causada pelo citomegalovírus. O diagnóstico é feito com biópsia local. O tratamento para casos de úlcera por CMV é feito com o ganciclovir e o tratamento para ca- sos de úlcera por herpes é o Aciclovir. As infecções dos intestinos delgado e grosso, resultando em diarreia, dor abdominal e febre em alguns casos, estão entre os distúrbios GI mais sig- nificativos dos pacientes infectados pelo HIV. Elas incluem infecções por bactérias, protozoários e vírus. As bactérias podem ser responsáveis por infecções secundárias do trato GI. As infecções por patógenos entéricos como Salmonella, Shigella e Campylo- bacter são mais comuns nos homens que fazem sexo com homens e, em geral, são mais graves e propensas a recidivar nos pacientes HIV-positivos. Os pacientes não tratados com infec- ção pelo HIV têm risco cerca de 20 vezes maior de desenvolver infecção por S. typhimurium. Esses pacientes podem apresentar vários sinais esintomas inespecífi- cos, inclusive febre, anorexia, fadiga e mal-estar com várias semanas de du- ração. A diarreia é comum, mas pode estar ausente. O diagnóstico é esta- belecido pela hemocultura e copro- cultura. O uso prolongado de ciproflo- xacino é o tratamento recomendado. Os pacientes infectados pelo HIV também apresentam maior incidência de infecção por S. typhi nas regiões onde a febre tifoide é um problema. As espécies Shigella, principalmen- te S. flexneri, podem causar doença intestinal grave nos indivíduos infec- tados pelo HIV. Até 50% desses pa- cientes têm bacteremia. As infecções por Campylobacter são mais comuns nos pacientes infectados pelo HIV. Embora o C. jejuni seja a cepa isolada com mais frequência, foram relatadas 37AIDS / HIV infecções por muitas outras cepas. Em geral, os pacientes apresentam dor abdominal em cólica, febre e diar- reia sanguinolenta. A infecção tam- bém pode manifestar-se na forma de proctite. O exame das fezes revela a presença de leucócitos fecais. A in- fecção sistêmica pode ocorrer e até 10% dos pacientes infectados têm bacteremia. A maioria das cepas é sensível à eritromicina. A infecção por MAC pode causar dor abdominal e diarreia. As infecções fúngicas também podem causar diarreia nos pacientes com infecção pelo HIV. A histoplasmose, a cocci- dioidomicose e a penicilinose foram identificadas como causas de febre e diarreia dos pacientes infectados pelo HIV. Existem casos descritos de peritonite por C. immitis, Cryp- tosporidium, microsporidium e Isos- pora belli são os protozoários opor- tunistas que mais infectam o trato GI e causam diarreia em pacientes infectados pelo HIV. A infecção por Cryptosporidium pode manifestar- -se de diversas maneiras, desde uma doença diarreica autolimitada ou intermitente nos pacientes que estão nos estágios iniciais da infec- ção pelo HIV, até diarreia grave e potencialmente fatal nos indivíduos com imunodeficiência grave. Nos pacientes não tratados com infec- ção pelo HIV e contagens de células T CD4+ < 300/µL, a incidência da criptosporidiose é de cerca de 1% por ano. Em 75% dos casos, a diar- reia acompanha-se de dor abdomi- nal espasmódica e 25% dos pacien- tes têm náuseas e/ou vômitos. Os criptosporídios também podem causar doença do trato biliar nos pacientes infectados pelo HIV, re- sultando em colecistite com ou sem colangite associada e pancreati- te secundária à estenose papilar. O diagnóstico da diarreia por Cryptos- poridium é estabelecido com base no exame das fezes ou na biópsia do intestino delgado. A diarreia não é in- flamatória e o achado típico consiste na presença de oocistos, os quais se coram com corantes álcool-ácido re- sistentes. O tratamento consiste ba- sicamente em medidas de suporte e foram descritas melhoras marcan- tes depois da introdução de TARV eficaz. O tratamento com até 2.000 mg/dia de nitazoxanida (NTZ) foi as- sociado à melhora dos sintomas ou à redução da excreção dos micror- ganismos em 50% dos pacientes. A utilidade geral desse fármaco no tratamento dessa doença ainda não está estabelecida. Os pacientes podem diminuir seu risco de desenvolver criptosporidio- se evitando o contato com fezes hu- manas e animais, evitando a inges- tão de água não fervida de lagos ou rios e não ingerindo mariscos crus. Os microsporídios são parasitas uni- celulares pequenos que vivem no citoplasma dos enterócitos. A prin- 38AIDS / HIV cipal espécie que causa doença nos seres humanos é o Enterocytozoon bieneusi. As manifestações clínicas assemelham-se às descritas para os Cryptosporidium e consistem em dor abdominal, má absorção, diarreia e colangite. As dimensões minúscu- las do microrganismo dificultam sua detecção; entretanto, com o uso de corantes de base cromotrópica, os microrganismos podem ser identifi- cados nas amostras de fezes à mi- croscopia óptica. Em geral, o diag- nóstico definitivo depende do exame das amostras de fezes, do aspirado intestinal ou de um espécime de bi- ópsia intestinal à microscopia eletrô- nica. Ao contrário dos criptosporídios, os microsporídios foram identifica- dos em várias estruturas extraintes- tinais, inclusive olhos, cérebro, seios paranasais, músculos e fígado, e foram associados à conjuntivite e à hepatite. O método mais eficaz de lidar com os microsporídios dos pa- cientes HIV-positivos é recuperar seu sistema imune combatendo a infecção com o uso de TARV. Estu- dos demonstraram que o albendazol, 400 mg duas vezes ao dia, foi eficaz em alguns pacientes. I. belli é uma parasita coccidiano mais encontrado como causa de diarreia em pacientes de regiões tropicais e subtropicais. Seus cistos aparecem nas fezes como estruturas álcool-ácido resistentes grandes, as quais podem ser diferenciadas dos criptosporídios com base no tama- nho, na forma e no número de es- porocistos. As síndromes clínicas da infecção por Isospora são idênticas às causadas pelo Cryptosporidium. A diferença importante é que, em geral, a infecção por Isospora é re- lativamente fácil de tratar com SMX/ TMP. Embora as recidivas sejam co- muns, um esquema de SMX/TMP administrado três vezes por sema- na parece ser adequado para evitar recidivas. No passado, a colite cau- sada por CMV era observada em consequência da imunodeficiência avançada em 5 a 10% dos pacientes com aids. Com o advento da TARV, essa condição tornou-se muito me- nos comum. A colite por CMV evidencia-se por diarreia, dor abdominal, emagreci- mento e anorexia. Em geral, a diarreia não é sanguinolenta e o diagnóstico é estabelecido por endoscopia e bi- ópsia. A endoscopia detecta várias úlceras da mucosa e as biópsias de- monstram corpúsculos de inclusão citoplasmáticos e intranucleares típi- cos. O adelgaçamento da parede in- testinal pode predispor à bacteremia secundária. O tratamento consiste em gangiclovir ou foscarnet por três a seis semanas. As recidivas são fre- quentes e o tratamento de manuten- ção geralmente é necessário aos pa- cientes HIV-positivos com infecção mal controlada. Os pacientes com doença do trato GI por CMV devem 39AIDS / HIV ser monitorados cuidadosamente para detectar retinite causada pelo CMV. Além das doenças causadas pelas infecções secundárias específicas, os pacientes infectados pelo HIV também podem desenvolver uma síndrome diarreica crônica, na qual não se pode detectar outro agente etiológico além do HIV. Essa síndro- me é conhecida como enteropatia da aids ou do HIV. É muito prová- vel que seja uma consequência dire- ta da infecção do trato GI pelo HIV. O exame histológico do intestino delgado desses pacientes detecta atrofia discreta da mucosa e redu- ção das figuras mitóticas, sugerin- do um estado de hiporregeneração. Em geral, os pacientes têm ativida- de de lactase reduzida ou ausente no intestino delgado e apresentam má absorção com emagrecimento. A avaliação inicial de um paciente HIV-positivo com diarreia deve in- cluir uma série de exames de fezes, inclusive cultura, pesquisa de ovos e parasitas e pesquisa para toxina do Clostridium difficile. Em cerca de 50% dos casos, essa investiga- ção demonstra infecção por bacté- rias, micobactérias ou protozoários patogênicos. Quando os exames iniciais das fezes são negativos, a investigação complementar por en- doscopia do trato GI alto e/ou baixo com biópsia estabelece o diagnósti- co de infecção do intestino delgado por microsporídios ou micobactérias em cerca de 30% dos casos. Nos pacientes em que essa investigação diagnóstica não é conclusiva, pode- se estabelecer o diagnóstico pre- sumptivo de en- teropatia pelo HIV quando a diarreia persiste por mais de um mês. 40AIDS / HIV As lesões retais são comuns nos pa- cientes infectados pelo HIV, principal- mente as úlceras e as erosões perirre- tais em consequência da reativação do HSV. Essas lesões podem ter aspecto muito atípico, como pele desnuda e sem vesículas. Elas costumam respon- der bem ao tratamento com aciclovir,fanciclovir ou foscarnet. Outras lesões retais encontradas nos pacientes HIV- -positivos são os condilomas acumina- dos, SK e neoplasia intraepitelial. Manifestações neurológicas A natureza das alterações neurológi- cas é muito variada e qualquer par- te do neuroeixo pode ser acometida. O determinante mais importante da susceptibilidade é o grau de imunos- supressão. O diagnóstico diferencial é amplo e envolve etiologias infec- ciosas, neoplásicas, cerebrovascula- res, tóxicometabólicas, nutricionais, autoimunes e relacionadas ao próprio Anamnese e exame físico Coprocultura para patógenos entéricos Pesquisa de ovos e parasitas na fezes, 3 amostras Pesquisa para toxina do Clostridium Diagnóstico Sem diagnóstico Tratar Nenhum indício de colite Suspeita de colite Diagnóstico Colonoscopiacom biópsia Endoscopia alta com biópsia Tratar Sem diagnóstico Enteropatia associada ao HIV MAPA MENTAL AVALIAÇÃO DA DIARREIA NO PACIENTE HIV-POSITIVO 41AIDS / HIV vírus como neuropatias, mielopatias e alterações cognitivas. Também po- dem ocorrer associações de etiolo- gias no mesmo paciente, o que é uma particularidade do imunodeprimido. Doenças neurológicas são a primeira manifestação da AIDS em 7 a 20% dos pacientes, podendo ser a doen- ça definidora da AIDS. As síndromes clínicas relacionadas ao HIV podem ocorrer nas fases iniciais da infec- ção, por ocasião da soroconversão e/ ou primoinfecção, sendo estas indis- tinguíveis de outras infecções virais. Geralmente a evolução é autolimitada e os pacientes apresentam recupera- ção total. O achado de pleocitose no LCR ajuda a diferenciar as síndromes pelo HIV dos transtornos pósinfeccio- sos. Os testes de anticorpos contra o HIV (ELISA) podem ser negativos, uma vez que estas síndromes podem preceder ou acompanhar a sorocon- versão. Nesses casos o ideal é repetir o teste em algumas semanas ou reali- zar a carga viral plasmática ou pesqui- sar o antígeno p24 do HIV. Quanto ao tratamento, pode ser administrada te- rapia antiretroviral para diminuir a car- ga viral que geralmente está aumen- tada na infecção aguda. Nos casos de síndrome de GuillainBarré deve ser empregado plasmaferese ou imuno- globulina, e nas polimiosites o uso de corticosteroides. Na infecção crônica podem ocorrer diversas síndromes neurológicas primárias relacionadas ao HIV que estão na tabela a seguir. As mais prevalentes são os distúrbios cognitivos, a neuropatia distal perifé- rica e a mielopatia vacuolar. MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS PRECOCES (NÍVEIS DE LINFÓCI- TOS T CD4 >500 CÉLS./MM3 ) MANIFESTAÇÕES NEUROLÓ- GICAS DA IMUNODEFICIÊNCIA MODERADA (CD4 >200 E < 500 CÉLS./MM3) MANIFESTAÇÕES NEUROLÓ- GICAS TARDIAS (CD4 < 200): INFECÇÃO CRÔNICA Meningite asséptica aguda Transtorno cognitivo Pleocitose meníngea persitente ou recorrente, com ou sem sintomas meníngeos Encefalopatia aguda Polineuropatia sensitiva distal Síndromes orgânicas cerebrais Leucoencefalite Mielopatia Demência pelo HIV Crises epilépticas Miopatia Transtorno cognitivo leve Mielite transversa Transtorno psiquiátrico orgânico Polineuropatia inflamatória desmieli- nizante (síndrome de GuillainBarré) Síndromes vasculares cerebrais Neuropatia craniana (p. ex., parali- sia de Bell) Epilepsia Polimiosite Degeneração de múltiplos sistemas Mioglobinúria Mielopatia progressiva crônica Doenças do neurônio motor 42AIDS / HIV Demência associada à AIDS A demência associada à AIDS é um efeito do próprio vírus em conjunto com a resposta do organismo infec- tado. Pacientes com doença avan- çada apresentam déficits em vários domínios cognitivos, enquanto pa- cientes com infecção pelo HIV, mas assintomáticos, podem ter déficits sutis e limitados a poucos domínios cognitivos. Geralmente os pacientes HIV assintomáticos apresentam um dos dois padrões: depressão, lentidão psicomotora e diminuição da memó- ria verbal ou diminuição do funciona- mento cognitivo verbal e não verbal na ausência de distúrbios do humor. A demência geralmente aparece nos estágios avançados da infecção, mas pode ser manifestação inicial da aids em 5% dos casos. A incidência anual, antes da HAART (terapia antirretroviral altamente ati- va), era de 7 a 14% após o diagnós- tico de aids, sendo o risco cumulativo de desenvolver demência durante a vida de 520%. DemênciaHIV contri- bui para morbidade da infecção e é um fator de risco para mortalidade. Antes do uso da HAART, acima de 15% dos indivíduos com AIDS tinham demên- cia e uma porcentagem ainda maior apresentava distúrbio cognitivomotor menor. Infecção avançada é um fator de risco para o desenvolvimento de demência tanto na era pré quanto na pósHAART. Houve um declínio nos relatos da incidência de demência com a HAART e consequente reconstitui- ção imune nos países desenvolvidos, mas devese ter cautela na interpre- tação desses dados que subestimam o impacto atual desta doença. Há si- MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS PRECOCES (NÍVEIS DE LINFÓCI- TOS T CD4 >500 CÉLS./MM3 ) MANIFESTAÇÕES NEUROLÓ- GICAS DA IMUNODEFICIÊNCIA MODERADA (CD4 >200 E < 500 CÉLS./MM3) MANIFESTAÇÕES NEUROLÓ- GICAS TARDIAS (CD4 < 200): INFECÇÃO CRÔNICA Neuropatias cranianas (paralisia de Bell, perda auditiva, paralisia do nervo frênico) Neuropatias periféricas (mononeu- ropatia do cutâneo lateral da coxa, polineuropatia desmielinizante inflamatória crônica Polineuropatia sensitiva simétrica distal Neuropatia autonômica Miopatia Tabela 5. Manifestações Neurológicas Primariamente Ligadas ao HIV: 43AIDS / HIV multaneamente relatos de aumen- to da prevalência e um aumento da incidência de déficit cognitivo menor comparado a demência. Aliado a isso, houve um aumento da proporção de indivíduos diagnosticados com imu- nidade melhor (contagem de linfóci- tos T CD4 maior que 200 céls/mm3 ) e também um aumento da incidência da demência como doença definidora de AIDS. Encefalopatia pelo HIV continua pre- sente em cerca 25% dos pacientes que são submetidos a autópsia. Esta taxa parece não ter sido alterada pela HAART. A HAART prolonga a vida e restaura a resposta imune para pa- tógenos não HIV, mas não previne a patologia direta relacionada ao HIV no cérebro. Ocorreu diminuição da incidência de doenças neurológicas, tanto as secundárias (oportunistas), quanto as primárias (demênciaHIV). No entanto, a demência associada ao HIV continua a ser a causa mais comum de demência em jovens com idade inferior a 40 anos. Apesar de sua incidência estar diminuindo, sua prevalência vem aumentando devi- do à maior sobrevida dos pacientes infectados pelo HIV. A diminuição da morbidade e mortalidade com a HAART leva a um aumento do nú- mero de pessoas vivendo com aids, podendo estas pessoas representar um grupo “neurologicamente vulne- rável” para doença neurológica, com o SNC servindo como um santuário para replicação do HIV parcialmente suprimido. A sobrevida média entre o diagnóstico da demência-HIV e o óbi- to na era préHAART era de seis me- ses e na era pósHAART de 44 me- ses. A média de linfócitos T CD4+ por ocasião do diagnóstico era 50 a 100 céls./mm3 e agora é 160 céls./mm3 . Mielopatia progressiva crônica A mielopatia progressiva crônica é uma doença definidora da AIDS e ca- racterizase por paraparesia espástica e ataxia progressiva com distúrbios de esfíncteres. Pode levar meses ou anos até haver necessidade de cadei- ra de rodas. Geralmente está asso- ciada à encefalopatia pelo HIV e a fa- ses avançadas da doença, mas pode ocorrer sem a presença do transtor- no cognitivo. A mielopatia subclínica pode ser detectada em exame neu- rológico de pacientes sem queixas ou com queixas tênues e os achados po- dem ser semelhante aos da degenera- ção combinada subaguda secundária a deficiência de vitamina B12. Acha- dos de necropsia mostram alterações vacuolares com edema intramielínico ou desmielinização, que é mais grave nas colunas laterais e posteriores da medula cervical e torácica. Devido a esses
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