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PROBLEMA 3 HIV/AIDS DEFINIÇÃO HIV ❖ HIV é a sigla em inglês para vírus da imunodeficiência humana; ❖ Causador da AIDS (da sigla em inglês para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças; ❖ Pertence à família dos retrovírus humanos (Retroviridae) e à subfamília dos lentivírus; ❖ Os retrovírus que comprovadamente causam doença nos seres humanos pertencem a dois grupos distintos: - os vírus linfotrópicos T humanos (HTLV)-I e HTLV-II, que são retrovírus transformadores; - e os vírus da imunodeficiência humana, HIV-1 e HIV- 2, que causam efeitos citopáticos diretos ou indiretos. ❖ No mundo inteiro, a causa mais comum da doença causada pelo HIV é o HIV-1, que engloba vários subtipos com distribuições geográficas diferentes; ❖ O HIV-2 foi identificado pela primeira vez em 1986 nos pacientes da África ocidental e inicialmente estava limitado a esta região; - Entretanto, no mundo inteiro foram detectados diversos casos que puderam ser rastreados até a África Ocidental ou atribuídos aos contatos sexuais com pacientes da África Ocidental. ❖ Os vírus HIV-1 provavelmente se originaram dos chimpanzés e/ou gorilas, enquanto os HIV-2 originaram-se dos sooty mangabeys; ❖ A pandemia de Aids é causada principalmente pelos HIV-1 do grupo M; - Embora o grupo O do HIV-1 e os vírus do grupo HIV-2 tenham sido isolados em muitos países, inclusive nos países desenvolvidos, eles causam epidemias muito mais localizadas. AIDS ❖ De maneira simples...Aids é a Síndrome da Imunodeficiência Humana, transmitida pelo vírus HIV, caracterizada pelo enfraquecimento do sistema de defesa do corpo e pelo aparecimento de doenças oportunistas; ❖ A definição da Aids é complexa e abrangente e não foi desenvolvida para orientar os aspectos práticos da assistência aos pacientes, mas para fins de vigilância epidemiológica; ❖ O médico não deve preocupar-se com o fato de o paciente adequar-se ou não à definição estrita de Aids, mas considerar a doença causada pelo HIV como um espectro que inclui infecção primária com ou sem a síndrome aguda, período assintomático e doenças oportunistas avançadas. CRITÉRIOS DE DEFINIÇÃO DE CASO DE AIDS EM INDIVÍDUOS COM 13 ANOS DE IDADE OU MAIS PARA FINS DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA CDC ADAPTADO ❖ Será considerado como caso de aids, todo indivíduo que apresentar evidência laboratorial da infecção pelo HIV (dois testes de triagem para detecção de anticorpos anti-HIV ou um confirmatório reagente) no qual seja diagnosticada imunodeficiência (pelo menos uma doença indicativa de aids e/ou contagem de linfócitos T CD4+ abaixo de 350 células/ mm3 ), independentemente da presença de outras causas de imunodeficiência; ❖ Como evidência da infecção pelo HIV para fins de vigilância epidemiológica, são considerados testes de triagem para detecção de anticorpos: ELISA, EIA, MEIA e ensaio imunoenzimático por quimioluminiscência; ❖ São considerados testes confirmatórios: imunofluorescência indireta, imunoblot, Western Blot, teste de amplificação de ácidos nucleicos (carga viral), NASBA e PCR; ❖ Como evidência de imunodeficiência, faz-se necessária uma contagem de linfócitos T CD4+ menor do que 350 células/mm3 e/ou o diagnóstico de pelo menos uma das doenças indicativas de aids: 2 ❖ Segundo esse critério, para algumas doenças indicativas de aids, faz-se necessário o diagnóstico definitivo, enquanto para outras aceita-se o diagnóstico presuntivo. RIO DE JANEIRO/CARACAS ❖ Será considerado como caso de aids, para fins de vigilância epidemiológica, todo indivíduo que apresentar evidência laboratorial da infecção pelo HIV (dois testes de triagem de detecção de anticorpos anti- HIV ou um confirmatório reagente) e, além disso, um somatório de pelo menos dez (10) pontos numa escala de sinais, sintomas ou doenças, independentemente da presença de outras causas de imunodeficiência. Apresenta-se no quadro, a escala com a pontuação para cada sinal, sintoma ou doença. CRITÉRIO EXCEPCIONAL ÓBITO EM INDIVÍDUOS COM 13 ANOS OU MAIS DE IDADE ❖ Será considerado como caso de aids, para fins de vigilância epidemiológica, todo indivíduo em cuja Declaração de Óbito (DO): - Haja menção a aids/sida ou termos equivalentes em algum dos campos de preenchimento, e que, após investigação epidemiológica, não possa ser descartado ou enquadrado em nenhum dos critérios principais de 3 definição de caso de aids vigentes (investigação epidemiológica inconclusiva); OU - Haja menção a HIV ou termos equivalentes em algum dos campos de preenchimento, além de doença(s) associada(s) à infecção pelo HIV, e que, após investigação epidemiológica, não possa ser descartado ou enquadrado em nenhum dos critérios principais de definição de caso de aids vigentes (investigação epidemiológica inconclusiva). FISIOPATOGÊNESE DA INFECÇÃO PELO HIV CICLO DE REPLICAÇÃO DO HIV ❖ O HIV é um vírus de RNA cuja característica fundamental é a transcrição reversa do seu RNA genômico em DNA pela enzima transcriptase reversa; ❖ O ciclo de replicação do HIV começa com a ligação de alta afinidade da proteína gp12 ao seu receptor localizado na superfície da célula do hospedeiro, a molécula CD4. ❖ Depois da fixação da gp120 à molécula CD4, a gp120 sofre uma alteração de conformação que facilita a ligação a um dos dois correceptores correspondentes; - Os dois principais correceptores do HIV-1 são o CCR5 e o CXCR4. ❖ Esses dois receptores pertencem à família de receptores celulares acoplados à proteína G com sete domínios transmembrana; - O acoplamento do vírus a um ou aos dois receptores permite sua ENTRADA NA CÉLULA e é um determinante importante do tropismo celular do vírus. A molécula CD4 é uma proteína de 55 kDa encontrada predominantemente em um subgrupo de linfócitos T responsáveis pela função auxiliar do sistema imune; - Essa molécula também está expressa na superfície dos monócitos/macrófagos e das células dendríticas/células de Langerhans. 4 ❖ Depois da ligação da proteína do envoltório viral à molécula CD4, associada à alteração de conformação da gp120 do envoltório viral, ocorre a fusão com a membrana celular do hospedeiro por ação da molécula gp41 recém-exposta, que penetra na membrana plasmática da célula-alvo e enrola-se sobre si própria para aproximar o vírion da célula-alvo; ❖ Depois da fusão, o complexo pré-integração formado pelo RNA viral e pelas enzimas virais e envolvido pela cobertura proteica do capsídio é liberado no citoplasma da célula-alvo; ❖ Como o complexo pré-integração atravessa o citoplasma e chega ao núcleo, a enzima viral transcriptase reversa catalisa a transcrição reversa do RNA genômico em DNA e a cobertura de proteína se abre para liberar o resultante DNA proviral de hélice dupla do HIV; ❖ Nesse ponto do ciclo de replicação, o genoma viral é vulnerável aos fatores celulares que podem bloquear a progressão da infecção; ❖ Com a ativação da célula, o DNA viral tem acesso ao poro nuclear e é exportado do citoplasma para o núcleo, onde se incorpora aos cromossomos da célula hospedeira pela ação de outra enzima codificada pelo vírus, a integrase; ❖ O provírus do HIV (DNA) incorpora-se ao DNA nuclear, preferencialmente no interior dos íntrons dos genes ativos e nos pontos quentes (hotspots) regionais. - Esse provírus pode permanecer inativo sob o ponto de vista transcricional (latente), ou pode manifestar vários graus de expressão gênica, incluindo a produção ativa de vírus. ❖ A ativação celular desempenha um importante papel no ciclo replicativo do HIVe é fundamental à patogenia da doença; - Pois, os intermediários de DNA de transcrição reversa incompleta são instáveis nas células em repouso e não se incorporam de maneira eficaz ao genoma da célula hospedeira, a menos que ocorra ativação celular pouco depois da infecção. - Além disso, é necessário haver algum grau de ativação da célula hospedeira para iniciar a transcrição do DNA proviral incorporado em RNA genômico ou mRNA. ❖ A ativação da expressão do HIV a partir do estado latente depende da interação de diversos fatores celulares e virais; ❖ Depois da transcrição, o mRNA do HIV é transcrito em proteínas que sofrem modificações por glicosilação, miristolação, fosforilação e clivagem; - A partícula viral é formada pela reunião das proteínas, das enzimas e do RNA genômico do HIV na membrana plasmática das células; - A germinação dos vírions descendentes ocorre por meio das regiões especializadas da bicamada lipídica da membrana celular do hospedeiro (conhecidas como balsas lipídicas), onde o core viral adquire seu envoltório externo. ❖ A seguir, a protease codificada pelo vírus catalisa a clivagem do precursor gag-pol para produzir o vírion completo. ❖ A progressão pelo ciclo de replicação viral é profundamente influenciada por vários produtos gênicos reguladores do vírus; ❖ De modo semelhante, cada fase do ciclo de replicação do HIV representa um alvo real ou potencial de intervenção terapêutica; - Até hoje, as enzimas transcriptase reversa, protease e integrase, assim como os processos de ligação e fusão do vírus com a célula-alvo, foram utilizados clinicamente como alvos para intervenção farmacológica. PATOGENIA E FISIOPATOLOGIA A marca característica da doença causada pelo HIV é a imunodeficiência profunda, que resulta basicamente das deficiências quantitativa e qualitativa progressivas da subpopulação de linfócitos T conhecidos como células T auxiliares; Alguns dos mecanismos responsáveis pela depleção celular e/ou pela disfunção imune das células T CD4+ já foram demonstrados in vitro; isto inclui a infecção e a destruição diretas destas células pelo HIV e os efeitos indiretos como a “depuração” imune das células infectadas, a exaustão imune causada pela ativação celular anômala e a morte celular induzida pela Algumas células dendríticas expressam uma diversidade de receptores de lectina do tipo C na sua superfície, que também se ligam com alta afinidade à proteína gp120 do envoltório do HIV, permitindo que a célula dendrítica facilite a ligação do vírus à célula T CD4+ por ocasião do contato dessas com as células T CD4+. 5 ativação. ❖ Os pacientes com níveis de células T CD4+ abaixo de determinados limiares têm riscos elevados de desenvolver várias doenças oportunistas, particularmente as infecções e as neoplasias que constituem as doenças definidoras da Aids; ❖ Algumas manifestações da Aids, como o sarcoma de Kaposi e as anormalidades neurológicas, não podem ser totalmente explicadas pela imunodeficiência causada pela infecção pelo HIV, porque estas complicações podem surgir antes do desenvolvimento de imunodeficiência grave; ❖ A combinação dos efeitos patogênicos e imunopatogênicos virais que ocorre durante a evolução da doença causada pelo HIV, desde o momento da infecção inicial (primária) até o aparecimento da doença em estágio avançado, é complexa e variada; ❖ É importante reconhecer que os mecanismos patogênicos da doença causada pelo HIV são multifatoriais e polifásicos, diferindo nos diferentes estágios da doença. EVENTOS INICIAIS: PRIMOINFECÇÃO E DISSEMINAÇÃO DO VÍRUS ❖ Com a utilização do modelo de transmissão pelas mucosas, os primeiros eventos (depois de algumas horas) que ocorrem depois da exposição da superfície mucosa ao HIV determinam se a infecção ocorrerá e também a evolução subsequente das próximas etapas da infecção; ❖ Embora a barreira mucosa seja relativamente eficaz para limitar o acesso do HIV aos alvos suscetíveis da lâmina própria, o vírus pode atravessar esta barreira por transporte dentro das células dendríticas situadas logo abaixo da superfície, ou por falhas microscópicas da mucosa; ❖ Em seguida, o vírus busca alvos suscetíveis, que basicamente são as células T CD4+ dispersas espacialmente na mucosa; 6 - Essa dispersão espacial dos alvos constitui um obstáculo significativo ao estabelecimento da infecção. Esses obstáculos explicam a baixa eficiência da transmissão sexual do HIV. ❖ As células T CD4+ em repouso “parcial” e as células T CD4+ ativadas funcionam como amplificadores iniciais da infecção; - Os linfócitos T CD4+ em repouso são mais abundantes; contudo, as células T CD4+ ativadas produzem quantidades maiores do vírus. ❖ À medida que os vírus são produzidos nos primeiros dias ou semanas, eles são dispersos, primeiramente para os linfonodos regionais e depois para outros compartimentos linfoides onde conseguem acesso fácil às concentrações altas de células T CD4+ (células- alvos), permitindo a ocorrência de uma viremia “explosiva” em níveis altos; ❖ Um órgão linfoide importante – os tecidos linfoides associados ao intestino (GALT) – é um dos alvos principais da infecção pelo HIV e o local onde grandes quantidades de células T CD4+ (em geral, células de memória) são infectadas e deletadas, tanto pelos efeitos virais diretos quanto pela apoptose associada à ativação; ❖ Quando a replicação viral alcança esse limiar e o vírus está amplamente disseminado, a infecção está definitivamente estabelecida e o processo é irreversível; ❖ É importante ressaltar que a infecção inicial das células suscetíveis pode variar até certo ponto, de acordo com a via de infecção; - Os vírus que penetram diretamente na corrente sanguínea, por meio do sangue ou dos hemocomponentes infectados,provavelmente são removidos da circulação pelo baço e por outros órgãos linfoides, onde as infecções focais primárias começam, seguidas de disseminação mais ampla por todos os outros tecidos linfoides. ❖ Alguns estudos demonstraram que a transmissão sexual do HIV resulta de um único evento infectante e que existe um “gargalo” genético viral para a transmissão; - Nesse aspecto, algumas características da glicoproteína do envoltório viral desempenham uma função importante na transmissão, no mínimo para os subtipos A e C do HIV. ❖ Os vírus transmissores, geralmente conhecidos como “vírus iniciadores”, comumente representam uma parcela pequena dos vírus circulantes que causam a viremia do parceiro transmissor; ❖ Em geral, os vírus iniciadores são sensíveis à neutralização por anticorpos do parceiro transmissor; ❖ Quando a replicação ocorre no parceiro recém- infectado, os vírus iniciadores divergem e acumulam sítios de glicosilação, tornando-se progressivamente mais resistentes à neutralização; ❖ O surto repentino de viremia e a disseminação ampla do vírus durante a infecção primária pelo HIV podem estar associados à síndrome aguda da infecção pelo HIV, que ocorre em graus variados em cerca de 50% dos indivíduos como primoinfecção; - Em geral, essa síndrome está associada aos níveis altos de viremia (estimados em milhões de cópias de RNA viral por mililitro de plasma), que persiste por várias semanas. ❖ Os sinais e os sintomas semelhantes aos da mononucleose aguda estão relacionados diretamente com a ocorrência da viremia; ❖ Quase todos os pacientes desenvolvem algum grau de viremia durante a primoinfecção e isto contribui paraa disseminação do vírus para todos os tecidos linfoides, mesmo que possam continuar assintomáticos ou não se lembrar de terem sintomas. ESTABELECIMENTO DA INFECÇÃO CRÔNICA PERSISTENTE REPLICAÇÃO VIRAL PERSISTENTE ❖ A infecção pelo HIV é singular entre as infecções virais humanas; ❖ A despeito das respostas imunes celulares e humorais robustas desencadeadas depois da infecção primária, uma vez estabelecida a infecção, o vírus consegue escapar da destruição por mecanismos imunes e, paradoxalmente, parece beneficiar-se com a ativação imune e nunca é eliminado por completo do corpo; ❖ Na verdade, ocorre infecção crônica, que persiste com graus variáveis de replicação viral contínua no paciente não tratado por um período médio de cerca de 10 anos, antes de manifestar doença clínica; ❖ O estabelecimento da infecção crônica e persistente constitui a marca característica da doença causada pelo HIV; ❖ Estudos recentes usando técnicas moleculares altamente sensíveis demonstraram que, mesmo em determinados pacientes nos quais a viremia plasmática foi suprimida a menos de 50 cópias/ mL do RNA do HIV pelo TARV, a replicação viral em níveis baixos continua; 7 ❖ Em outras infecções virais humanas, com pouquíssimas exceções, quando o hospedeiro sobrevive, o vírus é totalmente eliminado do corpo e ele desenvolve imunidade contra a reinfecção; ❖ A infecção pelo HIV muito raramente leva o hospedeiro à morte durante a primoinfecção. EVASÃO DO CONTROLE DO SISTEMA IMUNE ❖ O vírus dispõe de vários mecanismos para conseguir essa evasão; ❖ Entre estes destaca-se, pela sua importância, o estabelecimento de um nível persistente de replicação associado à geração, por mutação e rearranjo, de uma diversidade viral que se constitui, assim, em um meio de escapar do controle e da eliminação pelo sistema imune; ❖ A seleção dos mutantes que escapam ao controle dos linfócitos T CD8+ citotóxicos (LTC) é fundamental à propagação e à progressão da infecção pelo HIV; ❖ O HIV utiliza no mínimo três mecanismos para evadir- se às respostas neutralizantes: - Hipervariabilidade da sequência primária do envoltório; - Glicosilação extensiva do envoltório; - Mascaramento conformacional dos epítopos neutralizantes. ❖ A ajuda proporcionada pelas células T CD4+ é essencial à integridade das respostas imunes contra antígenos específicos, tanto humorais quanto celulares; - O HIV infecta preferencialmente as células T CD4+ ativadas (inclusive as células T CD4+ específicas para o vírus) e, deste modo, esta perda das respostas virais específicas desencadeadas pelas células T auxiliares tem consequências negativas profundas para o controle imunológico da replicação do vírus; - Além disso, essa perda ocorre nos estágios iniciais da infecção e estudos realizados com animais sugeriram que 40 a 70% de todas as células T CD4+ de memória do GALT sejam eliminadas durante a infecção aguda. ❖ Outro mecanismo potencial de evasão das células infectadas pelo HIV de forma a evitar a eliminação pelos LTC CD8+ é o sequestro das células infectadas em sítios imunologicamente privilegiados, inclusive o sistema nervoso central (SNC). ❖ Por fim, a evasão do HIV à eliminação durante a infecção primária permite a formação de um pool de células com infecção latente, que não podem ser eliminadas pelos LTC específicos para o vírus; ❖ Desse modo, apesar da resposta imune vigorosa e da hiporregulação acentuada da replicação viral depois da primoinfecção pelo HIV, o vírus consegue estabelecer a infecção crônica com graus variáveis de replicação viral persistente; ❖ Durante esse período, a maioria dos pacientes faz a transição clínica da infecção primária aguda para os intervalos variáveis de latência clínica ou doença em atividade latente. RESERVATÓRIOS DE CÉLS INFECTADAS PELO HIV: OBSTÁCULOS À ERRADICAÇÃO DO VÍRUS ❖ Praticamente em todos os indivíduos infectados pelo HIV, existe um reservatório de células T CD4+ em repouso com infecção latente, que no mínimo funciona como reservatório persistente do vírus; - Essas células manifestam latência pós-integração, na qual o provírus do HIV incorpora-se ao genoma celular e pode permanecer neste estado até que um sinal de ativação venha a desencadear a expressão dos transcritos do HIV e, em última instância, formar vírus capazes de replicar-se. ❖ Os reservatórios das células infectadas pelo HIV (em latência ou não) podem desenvolver-se em alguns compartimentos, inclusive tecidos linfoides, sangue periférico e SNC (provavelmente nas células da linhagem dos monócitos/macrófagos), assim como em outros locais ainda não definidos; ❖ Os reservatórios persistente de células infectadas em vários estágios de latência e/ou os níveis baixos de replicação viral persistente são os obstáculos principais de qualquer tentativa de erradicação do vírus dos indivíduos infectados, apesar dos resultados clínicos favoráveis conseguidos com o TARV. LATÊNCIA CLÍNICA VERSUS LATÊNCIA MICROBIOLÓGICA ❖ A maioria dos pacientes é relativamente assintomática e, em geral, diz-se que está em um estado de latência clínica; - Contudo, esse termo pode gerar confusão porque não significa latência da doença, tendo em vista que a progressão (embora seja lenta em muitos casos) geralmente é inexorável durante esse período. ❖ Além disso, a latência clínica não deve ser confundida com latência microbiológica, porque níveis variáveis de replicação viral sempre ocorrem durante esse período de latência clínica. - Mesmo nos raros pacientes que apresentam menos de 50 cópias de RNA do HIV por mililitro na ausência de tratamento, existe quase sempre algum grau de replicação viral contínua. 8 TRANSMISSÃO CONTATO SEXUAL ❖ A principal via de disseminação do HIV no mundo é o sexo heterossexual; - Curiosamente, o sexo heterossexual é pouco eficiente em transmitir o HIV. ❖ Estudos com casais sorodiscordantes (isto é, apenas um indivíduo infectado) revelam que em países pobres o risco de transmissão gira em torno de 0,12% por coito vaginal desprotegido; - Já em países desenvolvidos o risco parece um pouco menor (0,04%, considerando a transmissão da mulher para o homem, e 0,08% no sentido inverso). SEXO ORAL ❖ É ainda menos eficiente, porém NÃO é isento de risco! ❖ Há casos bem documentados de transmissão do HIV para pessoas que receberam sexo oral de alguém contaminado, bem como para pessoas que realizaram esta forma de sexo em portadores do vírus; ❖ Teoricamente, a transmissão pode ocorrer tanto no sexo oral masculino quanto no feminino. SEXO ANAL ❖ É a forma mais eficiente de transmissão sexual (~ 1,4% por coito desprotegido)! ❖ Quem recebe o sexo anal ― seja homem ou mulher ― apresenta maior risco; ❖ Farores: (1) A mucosa retal é muito mais frágil do que a vaginal, sendo, portanto, mais suscetível ao trauma e ao sangramento ― o que leva à inoculação direta do vírus no sangue; (2) A mucosa retal é mais fina do que a vaginal, encurtando a distância entre o sêmen depositado e as células CD4+ da submucosa ― maior probabilidade de infecção, mesmo na ausência de sangramento. ❖ Certas práticas localmente traumáticas potencializam o risco, por exemplo: - Ducha anal; - Introdução de objetos ou mesmo o punho do parceiro. FATORES QUE MODIFICAM A EFICIÊNCIA DA TRANSMISSÃO SEXUAL DO HIV ❖ Doenças sexualmente transmissíveis: - As DST promovem inflamação, concentrando células CD4+ ativas (os "alvos" do HIV) na genitália; - A chance de transmissão é ainda maior nas DST ulcerativas (ex.: sífilis, cancromole, herpes simples); - O risco aumenta tanto para a transmissão quanto para a aquisição do HIV! - A cura dessas doenças diminui o risco. ❖ Carga viral: - A viremia é um dos principais determinantes do risco de transmissão sexual; - Estudos com casais sorodiscordantes mostraram que a transmissão é infrequente quando a carga viral do parceiro infectado é < 1.700 cópias/ml, mesmo na presença de DST ulcerativa; - O risco é maior durante a síndrome retroviral aguda e na doença avançada, já que a carga viral nessas situações pode chegar a bilhões de cópias por ml. ❖ TARV: - A supressão da replicação viral pela TARV reduz o risco de transmissão sexual; - Atualmente, considera-se que a chance de transmissão sexual (principalmente nas relações heterossexuais) é DESPREZÍVEL se a pessoa HIV+ estiver assintomática, em TARV regular com carga viral persistentemente “indetectável”, na ausência de outras DST. ❖ Circuncisão: - Foi demonstrado que heterossexuais são PROTEGIDOS pela circuncisão! - No caso dos homossexuais, o benefício é incerto; - A remoção do prepúcio diminui a chance de trauma local e DST ulcerativa. Além do mais, o prepúcio é muito vascularizado e naturalmente rico em células CD4+. ❖ Uso de anticoncepcionais orais: - Os ACO aumentam o risco de infecção pelo HIV em mulheres! - Esse risco é maior do que o esperado pela não utilização de preservativo; ❖ - O motivo é que tais drogas modificam o epitélio da mucosa vaginal, tornando-o mais suscetível à penetração do vírus. A eficiência na transmissão sexual do HIV é maior “do homem para a mulher” do que “da mulher para o homem”. O motivo é que o sêmen depositado no trato genital feminino permanece mais tempo em contato com a mucosa. A exposição do pênis às secreções vaginais é comparativamente menos duradoura. 9 CONTATO COM SANGUE, HEMODERIVADOS E TECIDOS USO DE DROGAS ILÍCITAS INJETÁVEIS ❖ Usuários de drogas injetáveis adquirem o HIV ao compartilhar a parafernália de injeção (ex.: agulhas, seringas). ❖ Os principais fatores de risco são: (1) duração do uso de drogas; (2) frequência com que as injeções são compartilhadas; (3) número de pessoas que participam dos compartilhamentos; (4) comorbidades psiquiátricas; (5) uso de crack; (6) uso de drogas injetáveis em regiões com alta prevalência de HIV. HEMOTRANSFUSÃO E TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS ❖ O risco de contágio é > 90% após exposição a um hemoderivado contaminado; ❖ Com o emprego de todas as medidas citadas a chance de uma bolsa HIV+ ser inadvertidamente liberada para uso clínico gira em torno de 1:1,5 milhões, isto é, o risco é mínimo, mas persiste; ❖ Estima-se que a cada ano cerca de vinte bolsas “infectantes” sejam produzidas na América do Norte; - Vale lembrar que até o momento não dispomos de uma tecnologia sensível o bastante para detectar o HIV em pessoas que se infectaram a menos de 11-15 dias da doação (carga viral muito reduzida, porém infectante). ❖ O screening para HIV também está indicado em doadores de órgãos e tecidos; ❖ Um pequeno número de casos adquiridos por transplante de órgãos foi descrito; ❖ Evidentemente, existe risco de transmissão no procedimento de inseminação artificial (homem HIV- positivo, mulher HIV-negativo); - Contudo, o uso de TARV pelo homem, associado à “lavagem” do esperma doado, pode permitir uma inseminação artificial bem-sucedida, com risco desprezível para a mulher. ACIDENTES OCUPACIONAIS ❖ Profissionais que lidam com pacientes HIV+ e/ou materiais potencialmente contaminados estão sob risco de adquirir a infecção por meio de acidentes ocupacionais; 10 ❖ A despeito dos diferentes riscos de transmissão do HIV por diferentes fluidos corporais, devemos ter em mente que, na prática, QUALQUER material biológico oriundo do paciente deve ser considerado potencialmente contaminante (pois nem sempre dá pra garantir que não há sangue misturado); ❖ Tal conceito fundamenta uma das recomendações mais básicas da prática médica moderna: siga sempre as “precauções universais de contato” no manejo de qualquer paciente e seus dejetos. TRANSMISSÃO VERTICAL O HIV pode ser transmitido da mãe para o filho durante a gestação (23-30% dos casos), durante o parto (50- 65%) ou durante o aleitamento (12-20%). FATORES QUE INFLUENCIAM A TRANSMISSÃO VERTICAL DO HIV ❖ Carga viral materna (mais importante!): - O risco de TV é diretamente proporcional à carga viral da mãe! - Abaixo de 1.000 cópias/ml o risco diminui muito; - É importante ter em mente, no entanto, que NÃO EXISTE um valor de carga viral materna abaixo do qual a TV não ocorra e, por este motivo, a TARV sempre deve ser indicada! ❖ Uso de TARV: - A TARV combinada (três drogas efetivas), em associação ao AZT intravenoso durante o parto e AZT (+/- NVP) para o recém-nato nas primeiras semanas de vida, comprovadamente reduz o risco de TV ❖ Genótipo HLA: - A compatibilidade entre o HLA da mãe e do filho aumenta a chance de TV; - O motivo é que as células maternas (infectadas) que alcançam a corrente sanguínea do filho não são imediatamente destruídas (por não serem totalmente "estranhas" devido à semelhança do HLA). ❖ Tempo de ruptura da membrana amniótica: - Quanto maior for o intervalo de tempo entre a ruptura de membrana e o parto, maior será o risco de TV; - Lembre-se que o HIV está presente nas secreções vaginais, e uma membrana amniótica íntegra protege o feto do contato com essas secreções. ❖ Outros fatores de risco: - Presença de corioamnionite, DST na mãe, uso de drogas ilícitas, tabagismo, prematuridade; - Procedimentos obstétricos como amniocentese, amnioscopia, implantação de eletrodos no escalpo fetal, episiotomia. HISTÓRIA NATURAL DA INFECÇÃO PELO HIV + MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS INFECÇÃO AGUDA PELO HIV ❖ Ocorre nas primeiras semanas da infecção pelo HIV, quando o vírus está sendo replicado intensivamente nos tecidos linfoides; ❖ Durante essa fase, tem-se CV-HIV elevada e níveis decrescentes de linfócitos, em especial os LT-CD4+, uma vez que estes são recrutados para a reprodução viral. O indivíduo, nesse período, torna-se altamente infectante. ❖ Como em outras infecções virais agudas, a infecção pelo HIV é acompanhada por um conjunto de manifestações clínicas, denominado Síndrome Retroviral Aguda (SRA). Os principais achados clínicos de SRA incluem: - Febre; O Regulamento Técnico de Procedimentos Hemoterápicos (a “Lei do Sangue”) preconiza que pelo menos dois testes de alta sensibilidade para o HIV sejam obrigatoriamente realizados no sangue gue doado. Esses testes devem ser feitos ao mesmo tempo, sendo que um deles deve ser sorológico, com capacidade para a detecção tanto de antígenos virais (ex.: antígeno p24) quanto de anticorpos anti-HIV (HIV-1, incluindo o grupo O, e HIV-2), enquanto o outro deve ser baseado em métodos de detecção molecular de ácidos nucleicos (“NAT”, é um PCR que detecta o RNA viral). A grande vantagem da pesquisa de ácido nucleico é que ela diminui a duração da janela diagnóstica, isto é, permite a detecção do vírus antes do surgimento de antígenos ou anticorpos anti-HIV no soro do paciente (mas só depois de dez dias do início da infecção). 11 - Cefaleia; - Astenia; - Adenopatia; - Faringite; - Exantema → caracteriza-se como maculopapular, eritematoso, pode acometer tronco, face e extremidades, inclusive palmas e plantas; - Mialgia. ❖ A SRA pode cursar com: - Febre alta; - Sudorese; - Linfadenomegalia, comprometendo principalmente as cadeias cervicais anterior e posterior, submandibular, occipital e axilar; - Esplenomegalia; - Letargia; - Astenia; - Anorexia; - Depressão; - Sintomas digestivos, como náuseas, vômitos, diarreia, perda de peso e úlceras orais podem estarpresentes. Entretanto, o comprometimento do fígado e do pâncreas é raro na SRA; ❖ Cefaleia e dor ocular são as manifestações neurológicas mais comuns, mas pode ocorrer raramente quadro de meningite asséptica, neurite periférica sensitiva ou motora, paralisia do nervo facial ou síndrome de Guillan-Barré; ❖ Outras manifestações clínicas raras relacionadas à infecção aguda por HIV foram descritas: glomerulonefrite lupus-like, linfoistiocitose hemofagocítica, linfoma de Burkitt e candidíase esofágica. ❖ A SRA é autolimitada e a maior parte dos sinais e sintomas desaparece em 3-4 semanas; - Sintomas de infecção aguda ocorrem após período de incubação de 2 a 3 semanas e estão presentes em 40 a 90% dos casos. ❖ Linfadenopatia, letargia e astenia podem persistir por vários meses; ❖ A presença de manifestações clínicas mais intensas e prolongadas (por período superior a 14 dias) pode estar associada à progressão mais rápida da doença; ❖ Os sinais e sintomas que caracterizam a SRA, por serem muito semelhantes aos de outras infecções virais, são habitualmente atribuídos a outra etiologia e a infecção pelo HIV comumente deixa de ser diagnosticada nessa fase inicial ou aguda; ❖ A sorologia para a infecção pelo HIV pode variar bastante nessa fase, dependendo do ensaio utilizado; - Em média, a janela diagnóstica dos imunoensaios de quarta geração é de aproximadamente 15 dias. ❖ O diagnóstico da infecção aguda pelo HIV pode ser realizado mediante a detecção da CV-HIV. LATÊNCIA CLÍNICA ❖ Na fase de latência clínica, o exame físico costuma ser normal, exceto pela linfadenopatia, que pode persistir após a infecção aguda; ❖ A presença de linfadenopatia generalizada persistente é frequente e seu diagnóstico diferencial inclui doenças linfoproliferativas e tuberculose ganglionar; ❖ Podem ocorrer alterações nos exames laboratoriais, sendo a plaquetopenia um achado comum, embora sem repercussão clínica na maioria dos casos; - Além disso, anemia (normocrômica e normocítica) e leucopenia leves podem estar presentes. 12 ❖ A fase de latência clínica é variável, com duração média de 7 a 10 anos após a infecção primária; ❖ Alguns fatores influenciam na progressão mais precoce para aids: - Presença de manifestação clínica de infecção aguda; - Menor nível de T CD4+ antes da estabilização na fase de latência (set point); - Soroconversão tardia durante a fase da infecção primária. Nessa fase de evolução, o paciente em geral é assintomático. FASE SINTOMÁTICA ❖ Enquanto a contagem de LT-CD4+ permanece acima de 350 céls/mm³, os episódios infecciosos mais frequentes são geralmente bacterianos, como as infecções respiratórias ou mesmo TB; - Com a progressão da infecção, começam a ser observadas apresentações atípicas das infecções, resposta tardia à antibioticoterapia e/ou reativação de infecções antigas. ❖ À medida que a infecção progride: - Sintomas constitucionais (febre baixa, perda ponderal, sudorese noturna, fadiga); - Diarreia crônica; - Cefaleia; - Alterações neurológicas; - Infecções bacterianas (pneumonia, sinusite, bronquite) e ; - Lesões orais, como a leucoplasia oral pilosa, tornam- se mais frequentes, além do herpes-zoster. ❖ Nesse período, já é possível encontrar diminuição na contagem de LT-CD4+, situada entre 200 e 300 céls/mm³; ❖ A candidíase oral é um marcador clínico precoce de imunodepressão grave, e foi associada ao subsequente desenvolvimento de pneumonia por Pneumocystis jiroveci; ❖ Diarreia crônica e febre de origem indeterminada, bem como a leucoplasia oral pilosa, também são preditores de evolução para aids. SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA ❖ O aparecimento de IO e neoplasias é definidor da aids; ❖ As doenças oportunistas e as manifestações secundárias à própria HIV podem comprometer qualquer órgão ou sistema. Os principais sistemas acometidos são: - Sistema nervoso central; - Pulmões; - Trato gastrointestinal; - órgãos do sistema retículo endotelial. ❖ Entre as infecções oportunistas, destacam-se: - Pneumocistose, neurotoxoplasmose, tuberculose pulmonar atípica ou disseminada, meningite criptocócica e retinite por citomegalovírus. ❖ As neoplasias mais comuns são: - Sarcoma de Kaposi (SK), linfoma não Hodgkin e câncer de colo uterino, em mulheres jovens. ❖ Nessas situações, a contagem de LT-CD4+ situa-se abaixo de 200 céls/mm³, na maioria das vezes; ❖ Além das infecções e das manifestações não infecciosas, o HIV pode causar doenças por dano direto a certos órgãos ou por processos inflamatórios, tais como: - Miocardiopatia, nefropatia e neuropatias, que podem estar presentes durante toda a evolução da infecção pelo HIV. MANIFESTAÇÕES PULMONARES ❖ Podem ser decorrentes tanto de agentes oportunistas e neoplasias como dos mesmos agentes que acometem indivíduos HIV negativos, como, por exemplo, S. Pneumoniae; ❖ Assim, é fundamental o conhecimento da contagem de células CD4 além dos antecedentes patológicos do paciente; ❖ Além disso, é importante notar que as medicações anti-retrovirais também podem ocasionar eventos adversos com manifestação pulmonar. MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS ❖ Podem ser divididas em: - Meningoencefalite; - Encefalites; - Meningites; - Alterações cognitivas; - Alterações periféricas. ❖ Podem ser decorrentes de agentes infecciosos oportunistas, neoplasias ou do próprio HIV. MANIFESTAÇÕES GASTROINTESTINAIS ❖ Podem acometer o tubo digestivo ou vísceras relacionadas ao sistema gastrintestinal, como sistema hepatobiliar e pâncreas; ❖ Elas podem ser causadas por agentes infecciosos oportunistas, neoplasias ou pelo próprio HIV; - Disfagia; - Odinofagia; 13 - Náusea; - Vômitos; - Diarréia aguda ou crônica; - Enterorragias, - Dor abdominal ou obstipação intestinal, dependendo da localização da patologia e da etiologia. MANIFESTAÇÕES HEMATOLÓGICAS ❖ Citopenias isoladas (anemia, leucopenia, plaquetopenia) ou combinadas; ❖ Podem ser decorrentes tanto da infecção pelo próprio HIV quanto secundárias às infecções oportunistas ou à toxicidade medicamentosa. DIAGNÓSTICO ❖ Não é possível a utilização de apenas um fluxograma para cobrir todas as situações que se apresentam para o diagnóstico da infecção pelo HIV; ❖ Assim, casos de infecção recente são melhor identificados com a utilização de um teste de 4ª geração como teste inicial e um teste molecular como teste complementar; ❖ Os controladores de elite, por sua vez, podem ser identificados com imunoensaios (IE) de 3ª ou 4ª geração, seguidos da realização de um WB como teste complementar. ❖ Pessoas na fase crônica da infecção são identificadas com sucesso por meio de qualquer combinação de testes iniciais (3a ou 4a geração), seguidos por um teste complementar (WB, IB, IBR ou TM); ❖ No Brasil, ainda há uma porcentagem considerável de indivíduos diagnosticados na fase crônica da infecção. ❖ Os testes para detecção da infecção pelo HIV são principalmente empregados em três situações: - Para triagem sorológica do sangue doado e garantia da segurança transfusional, dos hemoderivados e dos órgãos para transplante; - Para os estudos de vigilância epidemiológica; - Para realizar o diagnóstico da infecção pelo HIV. ❖ A seguir, estão descritos os testes mais comumente utilizados no diagnóstico da infecção pelo HIV. IMUNUOENSAIO PRIMEIRA GERAÇÃO ❖ Formato indireto; ❖ Detecta apenas anticorpo IgG; ❖ Pouco específicos e menos sensíveis do que os ensaios de gerações posteriores; ❖ Janela de soroconversão: 35 a 45 dias; ❖ Atualmente, esses ensaios deixaram de ser utilizados na rotina diagnóstica dos laboratórios. SEGUNDA GERAÇÃO ❖ Formato indireto; ❖ Detecta apenas IgG; ❖ Em comparação com os ensaios de primeira geração, os de segunda geração sãomais sensíveis e específicos, por conterem uma maior concentração de epítopos imunodominantes relevantes; ❖ Janela de soroconversão: 25 a 35 dias TERCEIRA GERAÇÃO ❖ Formato “sanduíche”; ❖ Detecção simultânea de anticorpos anti-HIV IgM e IgG; ❖ A possibilidade de detectar anticorpos da classe IgM torna esse ensaio mais sensível do que os de gerações anteriores; - Ao mesmo tempo, há aumento da especificidade; ❖ Janela de soroconversão: 20 a 30 dias. QUARTA GERAÇÃO ❖ Formato de “sanduíche”; ❖ Detecta simultaneamente o antígeno p24 e anticorpos específicos anti-HIV; ❖ Janela diagnóstica: 15 dias. TESTES RÁPIDOS (TR) ❖ Os testes rápidos são imunoensaios (IE) simples, com resultados em até 30 minutos, realizados preferencialmente de forma presencial (teste realizado na presença do indivíduo) em ambiente não laboratorial com amostra de sangue total obtida por punção digital ou amostra de fluido oral; ❖ Existem vários formatos de TR, e os mais frequentemente utilizados são: - Dispositivos (ou tiras) de imunocromatografia de fluxo lateral; - Imunocromatografia de duplo percurso (DPP); - Imunoconcentração. ❖ Outros TR foram desenvolvidos utilizando como amostra o fluido oral (FO) coletado por meio de um dispositivo específico; - O FO contém menor quantidade de anticorpos do que amostras de sangue total, soro ou plasma, mas ainda em quantidade suficiente para permitir o diagnóstico seguro da infecção pelo HIV, excetuando- se os casos de exposição recente; 14 - Assim, é importante ressaltar que a janela diagnóstica dos TR que utilizam FO pode variar de 1 a 3 meses, dependendo do conjunto diagnóstico empregado. TESTES COMPLEMENTARES ❖ Os testes complementares utilizam diferentes formatos e princípios; ❖ Estão incluídos nessa categoria: western blot (WB), imunoblot (IB) ou imunoensaios em linha (LIA, do inglês line immunoassay), incluindo o imunoblot rápido (IBR) e imunofluorescência indireta (IFI); ❖ Mais recentemente, os testes moleculares (TM) também foram incluídos como testes complementares, uma vez que auxiliam no esclarecimento dos resultados da infeção aguda pelo HIV, como nos casos de reatividade no teste de 4ª geração por detecção do antígeno (p24) e ausência de anticorpos circulantes; ❖ A IFI foi muito utilizada como teste complementar durante a primeira década da epidemia de HIV, mas atualmente foi substituída pelo WB e IB; ❖ O WB e o IB empregam proteínas nativas do HIV separadas por eletroforese e transferidas para uma membrana (WB), ou proteínas recombinantes ou peptídeos sintéticos impregnados diretamente em membranas (IB); - O WB e o IB têm custo elevado e requerem interpretação subjetiva para estabelecer o diagnóstico com base em um padrão de reatividade definido pelo fabricante do conjunto diagnóstico; - As proteínas relevantes na interpretação do WB e IB para o diagnóstico da infecção pelo HIV-1 podem, portanto, ser diferentes, dependendo do fabricante. ❖ O IBR é semelhante ao IB, porém utiliza a metodologia DPP (plataforma de duplo percurso, do inglês dual path platform); - Ao contrário do WB e IB, o IBR permite a detecção de anticorpos em menos de 30 minutos. ❖ A maioria desses ensaios detectam apenas IgG e por isso não são recomendados para confirmar a presença de anticorpos IgM HIV específicos (ensaios de terceira ou quarta geração) ou a presença do antígeno p24 (ensaios de quarta geração); - Nesse caso, recomenda-se utilizar um TM para complementar o diagnóstico do HIV. DIAGNÓSTICO POR DETECÇÃO DIRETA DO HIV ❖ A infecção pelo HIV pode ser diagnosticada por meio da detecção direta de componentes do vírus, como o antígeno p24, ou com testes moleculares (TM) que detectam RNA ou DNA pró-viral; ❖ A detecção do antígeno p24 do HIV-1, de RNA ou DNA, desempenha um papel importante quando a detecção de anticorpos não é possível; ❖ Esses testes são ESPECIALMENTE ÚTEIS para o diagnóstico em crianças com idade inferior a 18 meses e na infecção aguda em adultos; - Outra aplicação importante para os TM é o diagnóstico precoce da infecção pelo HIV em crianças com exposição perinatal. Os controladores de elite são indivíduos que mantêm a viremia em um nível baixo e até indetectável em testes moleculares. Nesses casos, o diagnóstico só pode ser realizado mediante a utilização dos testes complementares convencionais (WB, IB e IBR) Os testes complementares convencionais (WB, IB ou IBR) são menos sensíveis que os imunoensaios de 3ª e 4ª gerações, podendo produzir resultados falso-não reagentes. Por isso, são inadequados para a detecção de infecções recentes, e elevam o custo do diagnóstico. 15 ❖ Crianças nascidas de mães soropositivas adquirem anticorpos anti-HIV passivamente e, dessa forma, ensaios baseados em anticorpos não podem ser utilizados para confirmar ou descartar a infecção pelo HIV em crianças com idade inferior a 18 meses. DIAGNÓSTICO UTILIZANDO AMOSTRAS DE SANGUE SECO EM PAPEL-FILTRO ❖ As amostras de sangue seco em papel-filtro (DBS; do inglês dried blood spots) oferecem mais uma alternativa para a obtenção e transporte de amostras para o diagnóstico da infecção pelo HIV em locais em que a coleta por punção digital ou venosa ou a cadeia de frio para conservação e transporte de amostras não estiverem disponíveis. FLUXOGRAMAS ❖ 1º fluxograma: 2 testes rápidos (TR1 e TR2) realizados em sequência com amostras de sangue - São realizados sequencialmente, ambos com amostras de sangue, com o objetivo de melhorar o valor preditivo positivo (VPP); - É importante que o primeiro TR (TR1) tenha sensibilidade equivalente ou superior ao segundo teste (TR2) e que o TR2 tenha especificidade igual ou superior ao TR1. O objetivo dessa estratégia é diferenciar os indivíduos que estão infectados (ambos TR1 e TR2 reagentes) daqueles que provavelmente tiveram um resultado falso-reagente no teste inicial (TR1); - Os TR devem detectar anticorpos anti-HIV-1, incluindo o grupo O, e anticorpos anti-HIV-2; - Se o primeiro TR for negativo o segundo TR não é realizado, e o laudo é liberado como “amostra não reagente para HIV”, → incluindo a ressalva de que diante de suspeita clínica uma nova testagem deverá ser realizada após 30 dias; - Se o primeiro TR for positivo realiza-se o segundo TR, e se ambos forem positivos o DIAGNÓSTICO É CONFIRMADO; - Na discordância do segundo TR com o primeiro (isto é, segundo TR negativo), orienta-se repetir o fluxograma desde o início; - Caso o fluxograma já tenha sido repetido e a mesma discordância persista, deve-se proceder ao teste convencional com coleta de sangue por punção venosa periférica (aplicando, neste caso, preferencialmente o FLUXOGRAMA 3). - O Fluxograma 1 não é adequado para o diagnóstico da infecção pelo HIV em crianças com idade inferior ou igual a 18 meses, devido à transferência de anticorpos maternos anti-HIV pela placenta; - Este fluxograma não define o diagnóstico de infecção por HIV-2; - Não é adequado para o diagnóstico da infecção aguda pelo HIV-1. ❖ 2º fluxograma: um teste rápido utilizando fluido oral (TR1-FO) seguido por um teste rápido utilizando sangue (TR2) - Esse fluxograma foi idealizado para melhorar o valor preditivo positivo (VPP) do TR que utiliza uma amostra de FO; - O objetivo dessa estratégia é diferenciar os indivíduos que estão infectados (ambos TR1-FO e TR2 reagentes) daqueles que provavelmente tiveram um resultado falso-reagente no teste inicial (TR1-FO); - Trata-se de uma variação do fluxograma 1 em que o primeiro teste rápido passa a ser o teste rápido “salivar” (ou seja, utilizando fluido oral); - As orientações para sua interpretação e formatação dos laudos é idêntica ao que já foi descrito no fluxograma 1. ❖ 3º fluxograma: Imunoensaio de 4ª geraçãoseguido de teste molecular como teste complementar - O IE4ªG deve ser capaz de detectar anticorpos anti- HIV-1, incluindo o grupo O, e anticorpos anti-HIV-2, além de antígeno p24 do HIV-1; - O Fluxograma 3 é o que permite o diagnóstico mais precoce da infecção pelo HIV; - O emprego de um IE seguido por um TM cujo resultado seja maior ou igual a 5.000 cópias/mL dispensa a utilização dos testes complementares do tipo WB, IB e IBR, pois confirma o diagnóstico. ❖ 4º fluxograma: Imunoensaio de 3ª geração seguido de teste molecular como teste complementar Todos os indivíduos que apresentarem resultados reagentes em dois testes rápidos devem realizar imediatamente o exame de quantificação da carga viral, cujo resultado confirma a presença do vírus, e contagem de linfócitos T-CD4+. A CV, quando igual ou superior a 5.000 cópias/mL, confirma a infecção pelo HIV. Na eventualidade de a CV ser inferior a 5.000 cópias/mL, deve-se considerar a ocorrência de um duplo resultado falso-reagente (TR1 e TR2) e a não infecção da pessoa pelo HIV. 16 - Este fluxograma é semelhante ao fluxograma 3, diferindo por um único detalhe: o teste 1 é um IE de 3a geração, isto é, um teste sorológico onde se pesquisa apenas a presença de anticorpos anti-HIV, sem detecção de antígeno p24; - A grande desvantagem é a janela diagnóstica um pouco maior; - Todavia, vale lembrar que, na prática, a maioria dos infectados pelo HIV não se encontra nos estágios iniciais da infecção. Logo, este fluxograma é capaz de estabelecer o diagnóstico na maior parte dos casos. ❖ 5º fluxograma: Imunoensaio de 3ª geração seguido de western blot, imunoblot ou imunoblot rápido como teste complementar - Diante dos avanços tecnológicos, este fluxograma apresenta limitações; - Para que ele alcance desempenho comparável aos Fluxogramas 3 e 4, foi acrescentado um TM para os casos em que não foi possível estabelecer o diagnóstico conclusivo com IE3ªG seguido de WB, IB ou IBR. ❖ 6º fluxograma: Imunoensaio de 4ª geração seguido de western blot, imunoblot ou imunoblot rápido como teste complementar - Também apresenta limitações. DOENÇAS OPORTUNISTAS PNEUMOCISTOSE ❖ Causada pelo Pneumocystis jiroveci, agente oportunista classificado como fungo, porém com características biológicas de protozoário; ❖ Em geral, a infecção inicial ocorre ainda na infância; ❖ Embora geralmente a doença em imunocomprometidos decorra da reativação do agente, há descrição de reinfecção resultando em doença; MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ❖ Dispneia de início insidioso, subagudo, acompanhada de tosse seca, desconforto torácico; ❖ Com ou sem febre, com piora progressiva podendo levar à insuficiência respiratória grave; ❖ Ao exame físico, o paciente apresenta-se taquidispneico e taquicardico, a ausculta pulmonar é normal ou apresenta raros estertores finos ao final da expiração; - O exame físico é normal em até 50% dos casos. ❖ Do ponto de vista laboratorial, encontra-se hipoxemia, alargamento de gradiente alvéolo-arterial e elevação de desidrogenase láctica (DHL); ❖ Radiologicamente, o achado mais comum é presença de infiltrado intersticial difuso, bilateral, simétrico, porém, apresentações atípicas como condensação lobar, infiltrado micronodular ou nodular, cavitação e derrame pleural podem ser encontradas; ❖ Pneumotórax é uma complicação comum; ❖ A tomografia computadorizada evidencia infiltrado com aspecto de vidro fosco difuso, bilateral, mas outras alterações podem ser encontradas; ❖ As manifestações extrapulmonares, mais frequentes em pacientes que fazem profilaxia com pentamidina inalatória, podem acometer olhos, pele, esôfago, pleura, coração, fígado, rins, baço, gânglios, entre outros. DIAGNÓSTICO ❖ Não há características clínicas ou imagem radiológica específicas de PCP, sendo seu diagnóstico geralmente presuntivo, baseado em dados clínicos, laboratoriais e de imagem compatíveis; ❖ Achados sugestivos de pneumocistose: - Contagem de LT-CD4+ < 200 células/mm3 ou sinais clínicos de imunodepressão grave, como candidíase oral; - Dispneia progressiva aos esforços; - Presença de febre, taquipneia e/ou taquicardia ao exame físico; - Radiografia de tórax normal ou infi ltrado pulmonar difuso, peri-hilar, simétrico; - Desidrogenase lática (DHL) sérica elevada; - Hipoxemia em repouso ou após esforço; - Ausência de uso ou utilização irregular de quimioprofilaxia para PCP. ❖ O diagnóstico etiológico de pneumocistose é feito com pesquisa direta do agente no escarro; - A pesquisa direta do agente oportunista em amostras de escarro espontâneo ou induzido geralmente é pouco sensível para PCP. ❖ Amostras biológicas obtidas por broncoscopia com lavado broncoalveolar e biópsia pulmonar transbrônquica elevam a precisão do diagnóstico etiológico → a positividade atinge 100%. TRATAMENTO A escolha do regime terapêutico é guiada pela gravidade clínica do paciente. PNEUMONIA LEVE A MODERADA (PAO2 ≥ 70 MMHG) 17 ❖ Os regimes indicados incluem medicações administradas preferencialmente por via oral; ❖ A primeira escolha é: sulfametoxazol + trimetroprima; - 15-20 mg de trimetoprima/kg/dia oral a cada seis ou oito horas por 21 dias. ❖ O regime alternativo para casos de intolerância à sulfa é clindamicina 300 mg oral a cada seis horas + primaquina 15-30 mg oral uma vez ao dia por 21 dias. PNEUMONIA MODERADA A GRAVE (PAO2 < 70 MMHG) ❖ Recomendam-se esquemas administrados preferencialmente por via endovenosa; - A mudança de via de administração de endovenosa para oral deve ser realizada quando ocorrer melhora clínica. ❖ O regime de escolha: sulfametoxazol + trimetroprima; - 5 mg/kg de trimetoprima endovenosa a cada seis ou oito horas. - O tempo total de tratamento é de 21 dias. ❖ Clindamicina 600 mg endovenosa a cada seis ou oito horas + primaquina 15-30 mg oral uma vez ao dia é o regime alternativo em caso de intolerância à sulfa; ❖ A associação de corticosteroides ao tratamento de PCP moderada a grave apresentou redução importante na mortalidade; - Com o objetivo de evitar a exacerbação de sintomas respiratórios após o início do tratamento; - Iniciar prednisona 40 mg 2x/d o mais precoce possível por 5 dias, 40 mg/d por mais 5 dias e 20 mg/d até o término do tratamento. Pode usar metilprednisolona na dose de 75% equivalente. ❖ Em casos de insuficiência respiratória moderada ou severa, o suporte ventilatório pode ser necessário até a estabilização do quadro; ❖ Ao término do tratamento de ataque, a terapia de manutenção (profilaxia secundária) deve ser instituída e só poderá ser suspensa quando o paciente alcançar recuperação imunológica com nível de CD4 > 200 células/mm3 por pelo menos 3 meses; ❖ Devido à alta incidência de pneumocistose em pacientes com CD4 < 200 e à elevada letalidade, a profilaxia primária é indicada para todos pacientes com CD4 < 200 células/mm3. NEUROTOXOPLASMOSE ❖ Lesão encefálica causada pela reativação de Toxoplasma gondii no SNC; ❖ Geralmente, a doença manifesta-se em indivíduos com nível de CD4 < 100 células/mm3, sendo rara em pacientes com CD4 > 200 células/mm3. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ❖ As mais comuns são sintomas de encefalite, com: - Cefaleia, quadros convulsivos, paresias e hemiplegia, alterações de pares cranianos, confusão mental e rebaixamento do nível de consciência. ❖ A febre é infrequente; ❖ Ao exame físico, são observados déficits neurológicos focais; ❖ Manifestações extra neurológicas são raras; ❖ São descritos quadros de pneumonia e coriorretinite; ❖ TC do crânio e RNM evidenciam lesões únicas ou múltiplas, acometendo principalmente gânglios da base, com realce anelar e edema perilesional; - Em decorrência do edema acentuado, pode ocorrer apagamento de ventrículos ou desvio de linhamédia. DIAGNÓSTICO ❖ O diagnóstico definitivo é difícil de ser realizado, pois o reaparecimento de anticorpo IgM na reativação é raro; ❖ Alguns pacientes com T CD4+ muito baixo podem apresentar neurotoxoplasmose com sorologia negativa para anticorpo IgG; ❖ Detecção de T. gondii pelo método de PCR no liquor pode auxiliar no diagnóstico, uma vez que a especificidade é de 100%, porém, possui baixa sensibilidade (50%); - A punção liquórica é contraindicada na presença de edema importante com efeito de massa ou desvio de linha média. ❖ No exame quimiocitológico de liquor, geralmente não se observam alterações significativas, estando a celularidade preservada e a proteinorraquia e a glicorraquia pouco alteradas; ❖ Embora o diagnóstico definitivo de NTX envolva a detecção do agente tecidual (taquizoítos) em biópsia cerebral, esta fica restrita aos casos que não apresentaram melhora clínica ou em imagem de controle; ❖ Recomenda-se, portanto, que todas as PVHA que apresentem sinais clínicos compatíveis e exame de 18 imagem sugestivo de NTX sejam tratadas empiricamente para essa infecção; ❖ A TC de crânio com e sem contraste endovenoso é o exame de imagem preferencial para o diagnóstico de NTX em razão da sua maior disponibilidade na rede; ❖ A ressonância nuclear magnética é mais sensível para identificar lesões, especialmente quando localizadas em fossa posterior; - Sua utilização para diagnóstico de NTX é reservada para casos que apresentem manifestações clínicas de lesões focais, porém com TC de crânio normal. ❖ Ressalta-se, no entanto, que os exames de imagem, TC ou RM, não são precisos na diferenciação entre agentes causadores de lesão cerebral em PVHA, tais como linfoma, leucoencefalopatia multifocal progressiva (LEMP), tuberculoma, entre outros. TRATAMENTO ❖ Devido à alta prevalência de sorologia positiva para toxoplasmose no nosso meio, em caso de lesão sugestiva em pacientes com HIV, a terapia empírica deve ser iniciada. O tratamento de escolha: - Sulfadiazina 1.000 mg (peso < 60 kg) a 1.500 mg (peso ≥ 60 kg) a cada seis horas; - Pirimetamina 200 mg no primeiro dia, seguida de 50 mg/dia (peso < 60kg) a 75 mg/dia (peso ≥ 60 kg) + ácido folínico 10 mg/dia por seis semanas. ❖ Após esse período de tratamento, deve-se prescrever terapia de manutenção (profilaxia secundária de toxoplasmose); - Cuja suspensão será feita quando houver resolução ou calcificação da lesão ao exame de imagem e contagem de CD4 acima de 200 células/ mm3 por pelo menos 6 meses. ❖ Em casos de alergia ou intolerância à sulfa, recomenda-se o uso preferencial de clindamicina 600 mg oral ou endovenosa a cada seis horas associada a pirimetamina e ácido folínico nas mesmas doses descritas acima. ❖ Outra alternativa para tratamento de NTX é a combinação sulfametoxazol e trimetoprima na dose de 25 mg/kg de sulfametoxazol duas vezes por dia, endovenosa ou oral. ❖ Indica-se o uso de corticosteroides nos casos de edema cerebral difuso e/ou intenso efeito de massa (desvio de linha média, compressão de estruturas adjacentes). Não se indica o uso profi lático de anticonvulsivantes. ❖ O monitoramento da resposta terapêutica inclui reavaliações clínicas e exames de imagem seriados; - De maneira geral, a melhora clínica precede a resposta tomográfica; - Recomenda-se, portanto, a reavaliação clínica diária e a repetição do exame de imagem (TC ou RM) após as primeiras duas semanas do início do tratamento. ❖ Ressalta-se que o exame de imagem deve ser antecipado se houver deterioração clínica; ❖ A ausência de melhora, clínica ou de exame de imagem, após as duas primeiras semanas de tratamento deve levantar a suspeita de um diagnóstico alternativo (linfoma primário de SNC, LEMP, tuberculoma, entre outros). - Em caso da ausência de resposta, deve-se realizar biópsia. ❖ Devido às elevadas morbidade e letalidade da neurotoxoplasmose, a profilaxia primária é indicada para todos pacientes HIV positivos com CD4 inferior a 100 células/mm3. TUBERCULOSE ❖ Doença causada por M. tuberculosis, de alta prevalência mundial, sendo o Brasil um dos 22 países responsáveis por 80% dos casos do mundo; - O MS do Brasil estima que a infecção por M. tuberculosis ocorre em torno de 18% das pessoas infectadas por HIV. ❖ A co-infecção HIV e tuberculose (tb-HIV) aumenta o risco de adoecimento por tuberculose (tb), assim como a disseminação e a gravidade da doença; ❖ A OMS estima que a TB é responsável por 11% de óbitos em pessoas infectadas por HIV. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ❖ A manifestação clínica de TB em pacientes HIV positivos é influenciada pelo grau de imunodeficiência; ❖ Em indivíduos com CD4 acima de 350 células/mm3, a apresentação clínica em geral é similar à das pessoas sem infecção por HIV, com: - Doença localizada, geralmente pulmonar; - Padrão radiológico típico de cavitação ou infiltrado micronodular em ápices pulmonares; - Manifestações extrapulmonares, normalmente ganglionares, podem ser encontradas, não diferindo das dos imunocompetentes. ❖ À medida que a imunodepressão evolui, manifestações extrapulmonares ou disseminadas tornam-se mais frequentes. ❖ Em pacientes com T CD4+ abaixo de 50 células/ mm3, o acometimento sistêmico pode ser importante, com: 19 - Febre elevada; - Progressão para sepse. ❖ Pode ocorrer acometimento do SNC com meningite ou meningoencefalite; - Na presença de meningoencefalite, quadros convulsivos podem ser encontrados. ❖ A evolução geralmente é subaguda, com: - Cefaleia e febre, acompanhada de perda de peso e sinais e sintomas de irritação meníngea. ❖ Envolvimento de órgãos do sistema retículo- endotelial também é frequente, com comprometimento ganglionar, hepático, esplênico e de medula óssea, ocasionando quadros de: - Dor abdominal; - Icterícia obstrutiva; - Hepatoesplenomegalia e citopenias. ❖ Derrame pleural, pericárdico e ascite também podem ser encontrados; ❖ Acometimento de suprarenal e tubo digestivo podem estar presentes nas formas disseminadas da doença. DIAGNÓSTICO ❖ De maneira geral, o diagnóstico de tuberculose na coinfecção é semelhante ao diagnóstico na população geral; ❖ A investigação requer frequentemente a realização de procedimentos invasivos para coleta de espécimes clínicos, como líquido pleural, líquor e biópsia, além de procedimentos de maior complexidade, como tomografias e ressonâncias, entre outros; ❖ O diagnóstico bacteriológico é ainda mais importante na coinfecção para confirmar TB ativa; - A coleta de escarro para baciloscopia, cultura, identificação da espécie e realização de Teste de Sensibilidade Antimicrobiano (TSA) deve ser realizada como rotina na investigação de casos suspeitos de TB pulmonar, utilizando, quando necessário, o escarro induzido ou broncoscopia; - Em PVHA, deve-se solicitar cultura para identificação de espécie e Teste de Sensibilidade aos Antimicrobianos (TSA) em todos os espécimes clínicos obtidos na investigação de tuberculose. ❖ As hemoculturas para micobactérias e fungos devem ser realizadas como parte da rotina de investigação, bem como a punção aspirativa e a biópsia de medula óssea, nos casos de suspeita de TB disseminada; - Sempre que forem realizadas biópsias de tecido, devem ser feitos exame direto do fragmento, cultivo para bactérias, fungos e micobactérias e exame histopatológico para estabelecer o diagnóstico de certeza; - Não é incomum a presença concomitante de outra condição definidora de aids, o que justifica a insistência para identifi car o M. tuberculosis e excluir outros diagnósticos. ❖ A técnica de PCR em tempo real permite a detecção de micobactérias no escarro com sensibilidade e especificidade semelhante à cultura, e inclui a identifi cação de espécie; - Em alguns dessestestes, a detecção de resistência aos fármacos anti-TB (rifampicina e isoniazida ou somente rifampicina) pode ser obtida rapidamente; - Essas metodologias permitem o diagnóstico rápido da tuberculose, mesmo em formas paucibacilares. ❖ É sempre necessário realizar o diagnóstico diferencial com outras doenças oportunistas, tais como pneumocistose, histoplasmose, criptococose, micobacteriose atípica e neoplasias. TRATAMENTO ❖ A doença ativa pelo M. tuberculosis, independentemente da forma clínica, constitui uma 20 indicação de início de TARV. A decisão terapêutica mais complexa diz respeito ao momento de iniciá-la; ❖ Para reduzir a mortalidade, a TARV deve ser iniciada na 2a semana após o início do tratamento de TB para pacientes com sinais de imunodeficiência e/ou LT- CD4+ < 200; - Para os demais, na 8a semana, após o término da fase intensiva do tratamento para TB. ❖ Os indivíduos com LT-CD4+ < 50mm3 apresentaram maior benefício com essa estratégia; ❖ Caso a contagem de LT-CD4+ não esteja disponível no momento do diagnóstico de TB, o grau de imunodeficiência poderá ser estimado por meio de achados clínicos e/ou laboratoriais, tais como: - Perda ponderal > 10%, candidíase, prurigo, diarreia crônica e contagem de linfócitos totais < 1.000. ❖ Nesses casos, a TARV deverá ser introduzida no 15º dia do tratamento da TB ativa. ❖ Ressalta-se que o início concomitante do tratamento dos dois agravos continua sendo contraindicado, uma vez que pode aumentar o risco de intolerância e toxicidade; - Deve-se levar em consideração a interação medicamentosa entre rifampicina e drogas antirretrovirais, assim como a adesão do paciente e o risco de efeitos colaterais, particularmente nas primeiras semanas do tratamento; ❖ Todo paciente com HIV que não teve tuberculose deve realizar teste tuberculínico (PPD); - Nos não reatores, o exame deve ser repetido 6 meses após o início da TARV devido à possibilidade de reconstituição imunológica com restauração da resposta tuberculínica e anualmente para detecção de viragem do exame; - Em caso de reação positiva (PPD ≥ 5 mm), deve-se afastar a doença ativa e iniciar a quimiprofilaxia (QP) com: isoniazida (INH), 300 mg/dia, 6 meses seguidos, para reduzir risco de adoecimento. ❖ Também devem receber QP os pacientes com infecção por HIV e evidência de PPD ≥ 5 mm no passado e/ou que apresentam cicatriz radiológica de tuberculose anterior sem tratamento e que não receberam INH. SÍNDROME DA RECONSTITUIÇÃO IMUNE ❖ A reconstituição imune é uma das metas da TARV; ❖ Em algumas situações, observa-se um quadro clínico de caráter inflamatório exacerbado, chamado de Síndrome Inflamatória associada à Reconstituição Imune (SIR) associado ao início da TARV; ❖ Essa síndrome se manifesta como piora “paradoxal” de doenças infecciosas preexistentes, geralmente autolimitadas, mas que podem assumir formas graves; ❖ São descritas reações inflamatórias relacionadas a infecções fúngicas, virais e bacterianas, neoplasias e fenômenos autoimunes. ❖ A SIR pode se apresentar como agravamento de uma doença já diagnosticada, como no caso da tuberculose, tradicionalmente cursando com aumento de linfonodos, bem como o aparecimento de uma doença não diagnosticada previamente, exacerbando uma doença subclínica preexistente; ❖ O início da TARV em pacientes com baixas contagens de LT-CD4+ é um fator preditor para ocorrência de SIR, especialmente havendo história pregressa ou atual de coinfecções ou de infecções oportunistas; ❖ A prevenção das complicações associadas com SIR envolve identificação e manejo precoce; ❖ O diagnóstico de SIR é clínico e deve ser considerado quando sinais ou sintomas inflamatórios ocorrem entre 4 a 8 semanas após o início da TARV, na reintrodução de um esquema interrompido ou na modificação para um esquema mais eficaz após a falha terapêutica. ❖ Observa-se, em geral, aumento na contagem de LT- CD4+ e redução na carga viral, demonstrando a efetividade do tratamento; ❖ No diagnóstico diferencial, deve ser excluída: - Falha da TARV por má adesão ou resistência viral; - Falha ao tratamento da coinfecção ou da manifestação oportunista; - Interações medicamentosas; - Eventos adversos associados à TARV. ❖ Uma vez que não existem critérios bem estabelecidos para o diagnóstico de SIR, normalmente é necessária uma combinação de achados para orientar a suspeita clínica: - Piora de doença reconhecida ou surgimento de nova manifestação após início da TARV; - Presença de imunodepressão grave (contagem de LT- CD4+ < 100) antes do início ou modificação do esquema; - Relação temporal entre o início da TARV e o aparecimento das manifestações inflamatórias (dentro de 4 a 8 semanas do início da TARV); - Presença de resposta imune, virológica ou ambas após início da TARV; - Exclusão de falha terapêutica, reação adversa ou superinfecção. ❖ Na suspeita de SIR, deve-se priorizar diagnóstico e tratamento da doença oportunista; 21 ❖ Na maior parte dos casos, sua resolução é espontânea, envolvendo tratamento sintomático, tais como anti- inflamatórios não hormonais; ❖ Ressalta-se que a TARV não deverá ser interrompida, exceto em casos graves. ❖ A terapia com corticosteroides suprimindo a resposta inflamatória deve ser utilizada nos casos graves; - Pode ser necessário o uso de prednisona 1-2 mg/kg, ou equivalente, durante 1 a 2 semanas, com posterior retirada gradual. Devem-se considerar riscos e benefícios dessa terapia. ABORDAGEM INICIAL Um dos objetivos da abordagem inicial de uma pessoa com diagnóstico de infecção pelo HIV e estabelecer uma sólida relação médico-paciente; O uso de uma linguagem acessível é fundamental para a compreensão dos aspectos essenciais da infecção, da avaliação clinico-laboratorial, da adesão e do tratamento. ROTEIRO DE ASPECTOS A SEREM ABORDADOS NOS ATENDIMENTOS INICIAIS INFORMAÇÕES ESPECÍFICAS SOBRE A INFECÇÃO PELO HIV ❖ Revisão e documentação do primeiro exame anti-HIV; ❖ Tempo provável de soropositividade; ❖ Contagem de LT-CD4+ ou carga viral anterior; ❖ Uso de antirretrovirais e eventos adversos prévios; ❖ Compreensão sobre a doença: transmissão, história natural, significado da contagem LT-CD4+ e carga viral; ❖ Impacto da terapia antirretroviral combinada (TARV) na morbimortalidade ABORDAGEM DO RISCO ❖ Práticas sexuais; ❖ Utilização de preservativos; ❖ História de sífilis e outras DST; ❖ Uso de tabaco, álcool e outras drogas; ❖ Interesse em reduzir os danos à saúde. HISTÓRIA MÉDICA ATUAL E PASSADA ❖ História de doença mental; ❖ História de tuberculose: prova tuberculínica e tratamento prévio; ❖ Doença oportunista prévia ou atual e necessidade de quimioprofilaxia; ❖ Outras doenças atuais e/ou pregressas; ❖ Imunizações; ❖ Uso de outros medicamentos, práticas complementares e/ou alternativas. HISTÓRIA REPRODUTIVA ❖ Desejo de ter filhos; ❖ Estado sorológico do parceiro e filho(s); ❖ Métodos contraceptivos. HISTÓRIA PSICOSSOCIAL ❖ Reação emocional ao diagnóstico; ❖ Análise da rede de apoio social (família, amigos, organizações não governamentais); ❖ Nível educacional; ❖ Condições de trabalho e domicílio; ❖ Alimentação. HISTÓRIA FAMILIAR ❖ Doenças cardiovasculares e hipertensão; ❖ Dislipidemias; ❖ Diabetes. EXAME FÍSICO ❖ Deve incluir a: - Aferição da pressão arterial; - Peso, altura, cálculo do índice de massa corpórea; - Medida da circunferência abdominal. ❖ Observar: - Dermatite seborreica; - Alterações neurocognitivos e focais; - Adenopatia de cabeça e pescoço; - Hepatomegalia ou esplenomegalia; - Molusco contagioso; - Adenopatias inguinais; - Foliculite; - Verruga; - Adenopatias axilares e supratrocleares; - Psoríase; - Ictiose; - Micose de pés e unhas; - Sarcoma de Kaposi;- Candidíase; - Leucoplastia pilosa; - Corrimento vaginal; - Úlceras vaginais. EXAMES COMPLEMENTARES ❖ A abordagem laboratorial no início do acompanhamento clínico auxilia a avaliação da 22 condição geral de saúde, a indicação de início de TARV e a pesquisa de comorbidades. 23 PERIODICIDADE DE CONSULTAS E SEGUIMENTO LABORATORIAL ❖ A periodicidade das consultas médicas deve adequar-se à fase do tratamento e às condições clínicas do paciente; ❖ Após a introdução ou alteração da TARV, recomenda- se retorno entre 7 e 15 dias com o propósito de se observar eventos adversos e dificuldades que possam comprometer a adesão; - em seguida, retornos mensais até a adaptação do paciente à TARV. ❖ Pacientes com quadro clínico estável poderão retornar para consultas em intervalos de até 6 meses; - Nesses casos, exames de controle também poderão ser realizados com periodicidade maior. ❖ Ressalta-se que, nos intervalos entre as consultas médicas, a adesão deverá ser trabalhada por outros profissionais da equipe multiprofissional, quando o paciente comparecer ao serviço para retirar medicamentos, realizar exames, participar de encontro de grupos e outras consultas. INVESTIGAÇÃO DE TUBERCULOSE ❖ A tuberculose DEVE SER PESQUISADA EM TODAS AS CONSULTAS, mediante o questionamento sobre a presença dos seguintes sintomas: tosse, febre, emagrecimento e/ou sudorese noturna; - A presença de qualquer um desses sintomas pode indicar TB ativa e deve ser investigada. ❖ A prova tuberculínica (PT) é importante para o diagnóstico da infecção latente da tuberculose (ILTB) e constitui um marcador de risco para o desenvolvimento de tuberculose ativa, devendo ser realizada em todas as PVHIV e que sejam assintomáticas para tuberculose; - Caso a PT seja menor que 5 mm, recomenda-se que seja repetida anualmente e também após a reconstituição imunológica com o uso da TARV. ❖ Para indicar o tratamento da infecção latente, deve-se excluir tuberculose ativa utilizando critérios clínicos, exame de escarro e radiografia de tórax; ❖ A infecção pelo HIV eleva o risco de desenvolvimento de tuberculose ativa em indivíduos com tuberculose latente; ❖ O tratamento da infecção latente com isoniazida é recomendado para todas as PVHA com PT ≥ 5 mm, desde que excluída tuberculose ativa. INVESTIGAÇÃO DE RISCO CARDIOVASCULAR (RCV) ❖ Recomenda-se que a avaliação do risco cardiovascular global seja feita como rotina em toda pessoa com infecção pelo HIV, utilizando o Escore de Risco de Framingham para homens e mulheres. INVESTIGAÇÃO DE NEOPLASIA ❖ Após o advento da TARV, observou-se uma redução acentuada das neoplasias relacionadas à aids e, paralelamente, um aumento da incidência das não relacionadas, principalmente pulmonar, anal, hepática e linfoma de Hodgkin; ❖ Diante disso, destaca-se a necessidade da adoção de medidas preventivas e rastreamento adequado para a diminuição da incidência e diagnóstico precoce de neoplasias; ❖ Ainda não existe diretriz definida de rastreamento para neoplasia de pulmão; assim, os serviços devem trabalhar na perspectiva de redução do risco, com a diminuição do tabagismo. 24 TRATAMENTO ❖ A TARV poderá ser iniciada desde que a pessoa que vive com HIV seja esclarecida sobre benefícios e riscos, além de fortemente motivada e preparada para o tratamento, respeitando-se a autonomia do indivíduo; ❖ Deve-se enfatizar que a TARV, uma vez iniciada, não deverá ser interrompida; ❖ Em nenhuma situação deverá haver qualquer tipo de coerção para início da TARV; ❖ A utilização de terapia antirretroviral não elimina a possibilidade de transmissão sexual do HIV. GENOTIPAGEM PRÉ-TRATAMENTO ❖ Com a genotipagem consegue-se detectar a presença de mutações de resistência aos antirretrovirais, o que teoricamente pode aumentar a taxa de sucesso do tratamento inicial; ❖ O MS brasileiro afirma que as evidências disponíveis, no que tange à relação custo-benefício dessa estratégia, não são suficientes para subsidiar sua implantação definitiva em nosso meio. TERAPIA INICIAL INDICADA 1 – Lamivudina 300 mg (3TC) / Tenofovir 300 mg (TDF) - Tomar 1 comprimido de 3TC/TDF uma vez ao dia, contínuo (sugestão 22:00) 2 – Dolutegravir 50 mg (DTG) - Tomar 1 comprimido de DTG uma vez ao dia, contínuo (sugestão 22:00) Em pacientes com contagem de LT-CD4+ > 500 células/mm3 e carga viral superior a 100.000 cópias/mL, recomenda-se monitorização laboratorial frequente e considerar início de TARV quando o LT-CD4+ estiver próximo a 500 células/ mm3. 25 CLASSES DE MEDICAMENTOS E SEUS COMPONENTES INIBIDORES DE TRANSCRIPTASE REVERSA ANÁLOGOS DE NUCLEOSÍDEOS (ITRN): ❖ Bloqueiam o processo de transcrição reversa do ARN viral em ADN por meio de sua similaridade com as bases purínicas e pirimidínicas (timidina, adenina,citidina e guanidina); ❖ Uma vez incorporados ao ADN viral, impedem a elongação do ADN por não permitirem a incorporação de novas bases; ❖ Ex.: Lamivudina (3TC) - Sua eliminação é por via renal, havendo um pequeno grau de metabolismo hepático; - A absorção não sofre interferência da ingestão simultânea de alimentos; - Trata-se de um medicamento bem tolerado; - Efeitos colaterais como neuropatia periférica, pancreatite, cefaleia, tonturas e insônia são raros; - Praticamente não apresenta toxicidade hematológica, com raros relatos de anemia ou neutropenia seguramente relacionados ao seu uso. INIBIDORES DE TRANSCRIPTASE REVERSA ANÁLOGOS DE NUCLEOTÍDEOS ❖ Ex.: Tenofovir (TDF) - Predominantemente eliminado pelo rim, por meio de filtração glomerular e secreção tubular ativa; - Em geral, é uma substância bem tolerada; - Uma pequena proporção dos pacientes pode se queixar de sintomas gastrintestinais, como náuseas, vômitos e flatulência; - Paraefeitos: Nefrotoxicidade (IRA, sd. de Fanconi); Osteoporose; Acidose lática ou esteatose hepática → avaliar presença de fatores de risco. INIBIDORES DE TRANSCRIPTASE REVERSA NÃO ANÁLOGOS DE NUCLEOSÍDEOS (ITRNN): ❖ Bloqueiam o processo de transcrição reversa ligando-se diretamente à enzima transcriptase reversa; ❖ Existem dois ITRNN: -Efavirenz (EFV) – de escolha; - Nevirapina (NVP). ❖ Levantamentos recentes em nosso meio revelaram que a taxa de resistência transmitida aos ITRNN está aumentando; ❖ Isso levou o MS a recomendar que o EFV só seja usado na gestação se não houver opção melhor e se o teste de genotipagem demonstrar sensibilidade viral a este agente ARV. INIBIDORES DA PROTEASE (IP): ❖ Ligam-se à enzima protease, responsável pela liberação das várias enzimas virais sintetizadas pela célula como uma grande proteína viral; ❖ São considerados drogas eminentemente “de resgate”, isto é, deverão compor os esquemas somente após falha ao esquema inicial, desde que indicado pelo teste de genotipagem; ❖ Seu perfil de toxicidade é maior que o das demais drogas. INIBIDORES DE FUSÃO ❖ Atuam impedindo a entrada do HIV na célula ao bloquear a gp120; ❖ Assim não permitem a aproximação do vírus com a célula e a fusão do envelope viral à membrana citoplasmática celular; ❖ Ex.: Enfuvirtida. INIBIDORES DE INTEGRASE ❖ O inibidor de integrase de escolha para o tratamento inicial é o Dolutegravir (DTG); ❖ Suas principais vantagens são: (1) elevada potência; (2) segurança (pouco efeitos colaterais); (3) alta barreira genética; e (4) posologia ideal (dose única diária). ❖ Os esquemas ARV iniciais estruturados com DTG são mais duradouros e seguros, além de extremamente potentes; ❖ O DTG também deve ser evitado por gestantes e pacientes que apresentam coinfecção HIV-TB; - Nas gestantes, o esquema de escolha também consiste de 2 ITRN/ITRNt + Inibidor de Integrase, porém, em vez de DTG, prefere-se
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