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Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Marcelo Correia Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Storytelling 1 Storytelling StorytellingUNIDADE Introdução O estudo desta Disciplina é fundamental ao discente para a com- preensão de algumas das metodologias contemporâneas e que são hoje o Estado da Arte na área da Educação, bem como para a com- preensão da correlação delas com as Tecnologias da Informação e da Comunicação e suas aplicações à Educação. Storytelling... Você já deve ter escutado essa palavra por aí, mas sabe o que ela significa? Vou explicar. Storytelling é um termo que vem do inglês e consiste na junção de duas termos: o primeiro é story, que significa “história ou narrativa”, e o segundo termo é telling, que significa “contar”. Logo, Storytelling quer dizer “contar histórias”. Sendo assim, storytelling é a arte da narrativa, de contar histó- rias, de criar roteiros que remetem a imagens, sons, sensações táteis, palatáveis, odoríficas, visuais e sonoras. Essas imagens, os sons e as sensações fazem parte da nossa memó- ria e são ativáveis no nosso processo de imaginação por meio da mente, que é a dimensão em que as narrativas, as histórias, atuam. O Storytelling pode ter papel decisivo no processo de ensino- -aprendizagem da escolarização formal e ser utilizado como uma técnica empregada para introduzir o ato de contar nar- rativas no contexto de ensino, não se esquecendo de utilizá-lo sempre dentro de uma metodologia planejada. Mas você sabe o que é considerado uma “Narrativa”? Vamos conhecer a seguir os principais elementos para se obter uma narrativa. Autores da área da Teoria Literária, como Gérard Genette (1995), definem os fundamentos da narrativa. Para eles, os elementos funda- mentais mínimos para que se tenha constituída uma Narrativa são: Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images 2 Com esses elementos fundamentais, temos uma história. Em vista disso, quando empregamos a palavra “Storytelling” esta- mos nos referindo à elaboração e à “contação” de histórias narrativas, sendo literal à fundamentação do termo em língua inglesa. Estamos nos referindo, também, à aplicação tema desse estudo: uma ferramenta didática, advinda da área da Comunicação, é verda- de; porém perfeitamente aplicável ao ensino formal ou à elaboração de recursos educacionais entendidos de maneira ampla, sejam eles cursos inteiros, sejam unidades curriculares, sejam mesmo objetos de aprendizagem. A prática do Storytelling ocorre, ou pode ocorrer, no espaço es- colar de diversas formas, nos diversos níveis de ensino. Podem ser criados enredos explicando o conteúdo com ligações recursivas ou contextualizando o conteúdo com a realidade dos alunos, seja partin- do do material do professor, seja solicitando trabalhos a serem apre- sentados pelos alunos. A Ciência do Storytelling “Como vimos, storytelling pode ter um papel fundamental para o processo de ensino-aprendizagem. Agora, vamos compreender um pou- co da base científica dele e como as narrativas afetam o nosso cérebro.” “A nova sustentação científica para o valor da ficção está chegando de um lado inesperado: a Neurociência” (THE NEW YORK TIMES, 2012); os cientistas perceberam, nos últimos anos, que narrativas ati- vam muitas outras partes do cérebro (além das áreas responsáveis pelo processamento da linguagem), sugerindo o motivo de a experi- ência de ler parecer tão viva. Fonte: iStock/Getty Images 3 StorytellingUNIDADE “Palavras como ‘lavanda’, ‘canela e ‘sabão’ elicitam uma resposta não somente às áreas dedicadas à linguagem, mas também àquelas que lidam com o odor” (THE NEW YORK TIMES, 2012). É a associa- ção de signos e sensações, de ideias e sentimentos, que conecta redes neurais diferentes e traz contexto ou sentido a um conceito por si só isolado, vazio de memórias e sentidos que não o literal linguístico. Essa é a questão das Neurociências na Educação. E essa observa- ção do New York Times remete-nos à célebre Teoria de Hebb ou, simplesmente, Regra de Hebb, em que Donald Hebb (1949) postulou: “Neurons that fire together, wire together” ou, em tradução livre: “Neurônios que disparam juntos, conectam-se juntos”. O que isso significa? Basicamente, duas células neurais ativadas em conjunto estabele- cem uma ligação sináptica (que, reforçada mais vezes, torna-se uma memória mais consolidada). Essa abordagem tenta explicar os bene- fícios do Storytelling, considerando a teoria do aprendizado associa- tivo ou Hebbiano. SILVA, C.; Ribeiro, B. Aprendizagem computacional em Engenharia. Coimbra: Univer- sidade de Coimbra, 2018. Os autores descrevem a Regra de Hebb da seguinte forma: “A regra de Hebb foi uma das primeiras regras de aprendizagem para redes neuronais a ser definida. Pode dizer-se que todas as regras de aprendizagem podem ser consideradas uma variante da regra de Hebb sugerida por Hebb em Organization of Behavior, 1949. Foi proposta como eventual mecanismo para modificação das sinapses do cérebro, tendo sido usada desde então para treinar redes neuronais artificiais”. Psicologia Cognitiva e Storytelling Jerome Bruner (1915-2016) foi célebre psicólogo e professor da New York University, chamado de pai da Psicologia Cognitiva, pois desafiou os postulados behavioristas da época, afirmando serem redu- cionistas demais para o seu pensamento e a verdade científica. Lecionou sobre suas recentes teorias a respeito do Storytelling como uma ferramenta vital de ensino-aprendizagem. Para Bruner, “A mais rica experiência de aprendizagem vem da narrativa” (BRUNER apud THE GUARDIAN, 2007). O estatuto da narrativa, para Bruner, já diz muito sobre o construto teórico que ele elaborou e defendeu: Pensar em simples “estímulo-resposta” era um modelo sim- plista e atávico. Estava claro para mim que era a interação 4 – o contexto no qual, o como, uma coisa é aprendida – que é a chave para o desenvolvimento e o aprendizado de uma pessoa, em vez do mero fato que o conhecimento é adquirido . (BRUNER apud THE GUARDIAN, 2007). Ainda segundo o autor: No Storytelling o aluno faz uso da imaginação para pensar sobre os desdobramentos daquele conhecimento. Não é necessário completar um argumento lógico para entender-se o conteúdo da narrativa. Isto ajuda o aluno a pensar e estimula o professor. (BRUNER apud THE GUARDIAN, 2007). Jerome Bruner (2001) expôs nove postulados que a Psicologia Educacional poderia adotar para melhorar o Sistema Educacional. Entre eles, destacamos o último: O 9º Postulado – O “Postulado Narrativo”. Alude à maneira de pensar e sentir em que os indivíduos se apoiam na hora de criar o mundo subjetivo em que vivem. Para Jerome Bruner, uma parte essencial desse processo é a capacidade narrativa de criar histórias. Ao longo das últimas décadas, foi tacitamente assumido que a capa- cidade narrativa é inata, que não precisa ser ensinada, mas, para Bru- ner, um olhar mais abrangente mostra que essa ideia não é verdadeira. A Educação modificará grandemente a capacidade e a qualidade narrativa das pessoas; portanto, é aconselhável monitorar a influência do Sistema Educacional na narrativa. Storytelling no Universo Corporativo O Storytelling também é muito utilizado no ambiente corpora- tivo, podendo ser aplicado em diversos contextos, desde forma- ções até uma apresentação mais dinâmica. Veja, a seguir, alguns exemplos de empresas que utilizam este recurso. “A contação de histórias narrativas não tem sido tão crítica à nossa sobrevivência enquanto espécie quanto a comida, mas chega perto” (BEZOS apud Inc. MAGAZINE, 2018). Jeff Bezos, fundador e CEO da Amazon, uma das empresas mais valiosas do mundo em 2020, substituiu as apresentações em formato 5 StorytellingUNIDADE PowerPoint da sua Empresa. Hoje, ele e os colaboradores utilizam o storytelling, mas em um contexto corporativo. O cenário descrito por ele na Amazon era de uma aparente “per- da de tempo” em reuniões. Por isso, decidiu adotar uma metodologia que consisteem: um responsável pela reunião faz uma espécie de “ata” de até seis páginas, na qual escreve sua história e suas pautas. Todos leem-na por até 30 minutos, e só então discutem as pautas. Ele afirmou em um artigo da Inc. Magazine, dos Estados Unidos: “[O Storytelling] é tão melhor que a típica apresentação de Power- Point, por tantas razões” (BEZOS apud Inc. MAGAZINE, 2018). Bezos apresentou três dessas razões no Artigo, motivos que apon- tam a ineficácia do PPT ante o Storyteling, e que nos fazem lembrar das Neurociências: Ra zã o 1 Ra zã o 3 Ra zã o 2 Nosso cérebro é uma espécie de fio condutor de narrativas. Histórias prendem nossa atenção porque fazem nosso cérebro ativar-se de forma mais poderosa do que quando recebemos informações sem contexto; Bullet points, os marcadores, são a forma menos efetiva de compartilhar ideias (assim como boas obras literárias não são concebidas com tópicos, ao invés de parágrafos). Eles simplesmente não conectam ideias. Histórias são persuasivas, slides não (histórias são capazes de convencer audiências, possivelmente, por sua vinculação emocional com a realidade); 3 m oti vo s q ue apo nta m a in efi các ia d o P PT an te o S tor yte lin g Storyboard e Storytelling A ferramenta chamada Storyboard representa uma narrativa, é um roteiro; portanto, sua utilidade é importante para compreender como uma história ou sequência de atividades se dá, subdividindo-a em sequências e cenas-chave. Isso acaba por relacioná-lo ao Storytelling como ferramenta apli- cável no âmbito da execução desse método, por isso apresenta-se aqui e também como uma indicação de estudo mais aprofundado. 6 O storyboard deve representar essas telas ou cenas-chave, em se- quência narrativa, cena a cena, conforme vemos exemplo de uma tela a seguir: Exemplo de storyboard de curso on-line Segundo Piskurich (2006), o roteiro em storyboard nada mais é que isto: um roteiro com ideias esboçadas para os elementos que in- tegrarão a nossa interface com o aluno. O storyboard inclui os seguintes itens: texto, imagem, descrição do áudio e efeitos sonoros, descrições de interatividade, esboços de gráfi- cos, orientações sobre a estrutura da informação e detalhes técnicos. Transmedia Storytelling O termo Narrativas Transmídia, ou Transmedia Storytelling, basica- mente significa contar histórias por meio de múltiplos formatos de mídias convergentes: livro, filme, game, trilha sonora, site, série, quadrinho. Essa vertente extrapola formatos e nela as histórias e os papéis dos autores mudam. Não é simplesmente a mesma história repetida em diferentes suportes de mídia, mas pode ser alterada e ter conteúdo virtualmente ilimitado. 7 StorytellingUNIDADE A grande referência nessa área é o autor Henry Jenkins, que es- creveu o clássico livro Cultura da Convergência (JENKINS, 2009) e tem um conhecido blog em que, por exemplo, podemos ler o artigo inicial Transmedia Storytelling 101, no qual dá algumas definições práticas do que seria a Narrativa Transmídia, por exemplo: Na maioria das vezes, as narrativas transmídia são baseadas não em personagens individuais ou em enredos específicos, mas em mundos complexos da ficção que podem sustentar vários personagens inter-relacionados e suas histórias. Este processo de construção de mundo encoraja um impulso en- ciclopédico em leitores e escritores (JENKINS, 2007). Tivemos como casos de sucesso os seguintes exemplos de projetos transmídia, que hoje são clássicos: as produções Bruxa de Blair, Matrix, Lost etc. Para a área da Educação, é uma referência interessante para refle- xão e, a posteriori, para aplicação desse conceito, ao se empregar coordenadamente os recursos educacionais digitais disponíveis, ou a metodologia narrativa no processo de ensino-aprendizagem ou na construção de produtos educacionais. 8
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