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ENSINO MÉDIO HISTÓRIA 6 IDADE MODERNA II: DO INÍCIO DA COLONIZAÇÃO PORTUGUESA NA AMÉRICA À INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS 1 Pindorama e seus habitantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04 2 Portugal e sua colônia na América . . . . . . . . . . . . . . 14 3 O Governo-Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 4 O tráfico negreiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 5 Escravidão e resistência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 6 Açúcar e escravidão na colônia portuguesa . . . . . . . 58 7 O avanço da colonização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 8 O Nordeste sob domínio holandês . . . . . . . . . . . . . . . 78 9 Os bandeirantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 10 O Iluminismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94 11 A Revolução Industrial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 12 A independência dos Estados Unidos . . . . . . . . . . 115 HISTÓRIA Gislane Azevedo Reinaldo Seriacopi 2137805 (PR) MÓDULO Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos Pintura sobre azulejo representando a chegada de Pedro Álvares Cabral e sua comitiva ao Brasil, em 1500. Na imagem, homens instalam um pelouro, marco rela- cionado à administração colonial e símbolo do domínio português sobre um território. REFLETINDO SOBRE A IMAGEM Você sabia que, ao desembarcarem na Amé- rica, os portugueses encontraram povos de culturas e costumes muito diferentes dos praticados pelos europeus? Sabia que os franceses e os holandeses também tinham interesse em colonizar o nosso território? E, assim como o Brasil, os Estados Unidos tam- bém foram uma colônia que, inspirada pelos ideais iluministas, tornou-se o primeiro país independente da América? Neste módulo, es- tudaremos o início da colonização portuguesa na América, a luta das Treze Colônias contra a Inglaterra no século XVIII e as transformações na Europa originadas pela difusão de novas ideias e das primeiras indústrias. M . S E E M U LL E R /D E A G O S TI N I P IC TU R E L IB R A R Y /B R ID G E M A N /K E Y S TO N E www.sesieducacao.com.br 4 Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos CAPÍTULO 1 Pindorama e seus habitantes Objetivos: c Conhecer a história e a diversidade cultural dos povos indígenas brasileiros. c Identificar algumas manifestações do patrimônio cultural imaterial relacionadas às sociedades indígenas. c Compreender alguns fatores que afetam diretamente a sobrevivência das sociedades indígenas atuais, como os conflitos pela posse de terras. No começo, o mundo era habitado apenas pelos homens-onça. Até que surgiu Arcome, espírito criador dos seres humanos. Os homens-onça perseguiram Arcome que, ao fugir, caiu várias vezes. As quedas foram marcadas por pedras. Nelas, Arcome transmitiu seus conhecimentos aos indígenas, entre os quais os saberes tradicionais da pesca. Segundo a lenda, as pedras que marcaram as quedas de Arcome encontram-se na cachoeira do Iauaretê, no alto rio Negro, na região hoje conhecida como Amazônia. Elas são consideradas sagradas pelos Tariano e pelos Tukano, povos indígenas que vivem às margens do rio Uaupés, numa região fronteiriça entre o Brasil e a Colômbia. Desde 2007 a cachoeira do Iauaretê é considerada patrimônio cultural imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) do Brasil, uma vez que para os 4 mil indígenas que vivem na região ela conserva os segredos e a história da origem do mundo. Os Tariano e os Tukano são dois dos mais de duzentos povos indígenas no Brasil. Neste capítulo conheceremos alguns aspectos das sociedades indígenas de hoje e das que existiam antes de 1500 no que viria a ser o atual território brasileiro. Veja, no Guia do Professor, o quadro de competências e habilidades desenvolvidas neste módulo. Cachoeira do Iauaretê no alto rio Negro, região Amazônica, 2008. Apesar do nome, não se trata propriamente de uma queda-d’água, mas de uma corredeira (trecho de rio no qual as águas correm com maior rapidez em razão da inclinação do terreno). Os povos indígenas Tukano e Tariano a consideram um lugar sagrado. V IN C E N T C A R E LL I/A C E R V O D O F O TÓ G R A FO Patrimônio cultural imaterial: conjunto de manifestações culturais e de tradições, ou seja, de tudo aquilo que faz parte da cultura não material de um grupo humano. De acordo com a Unesco (órgão da ONU), é formado por “práticas, repre- sentações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e luga- res culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural”. Esse tipo de patrimônio é transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. G LO SS Á R IO 5 H IS TÓ R IA Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos UMA CONSTELAÇÃO DE POVOS A falta de dados mais precisos impede afirmar com certeza quantas pessoas habitavam o atual território brasileiro à época da chegada dos portugueses. As cifras variam de 1 milhão a até 8,5 mi- lhões. Segundo alguns especialistas, no século XVI esses nativos dividiam-se em mais de mil povos, com crenças, hábitos, costumes e formas de organização específicas. Eles falavam cerca de 1 300 línguas distintas, a maioria das quais agrupada em dois troncos linguísticos principais, o tupi e o macro-jê. Entre os principais povos Tupi encontravam-se os Guarani, os Tupinambá, os Tabajara, os Ca- rijó e os Tamoio. Eles ocupavam praticamente toda a atual costa brasileira, desde o Ceará até o Rio Grande do Sul. Já os povos do tronco linguístico macro-jê encontravam-se predominantemente nos cerrados, como ocorria com os Bororo e os Carajá, por exemplo. Os Tupi costumavam chamar todas essas populações de tapuias, palavra genérica e de sentido pejorativo usada para designar os povos que falavam línguas diferentes da deles. A maioria dos colonizadores que aqui chegaram a partir de 1500 viveu no litoral em razão das dificuldades de avançar em direção ao interior. Assim, a maior parte das informações a respeito das sociedades indígenas daquele período refere-se sobretudo aos Tupi, com os quais os portugueses travaram maior contato. Eram eles que chamavam o território em que viviam de Pindorama, que quer dizer “Terra das Palmeiras”. A quantidade de relatos sobre os povos indígenas do interior é bem menor. Entre eles, podemos citar os do padre capuchinho francês Martinho de Nantes que, no século XVII, viveu entre os Cariri, no atual território paraibano, e o do viajante holandês Joan Nieuhof (1618-1672), que também no século XVII conheceu os indígenas Tarairiú, no Sertão nordestino. Por meio de textos como esses é possível recuperar informações valiosas a respeito dos hábitos e costumes de alguns povos indígenas do interior. Um trabalho de resgate mais consistente da vida e do cotidiano dos povos indígenas, no entanto, só começou a se verificar a partir do final do século XIX, quando alguns especialistas iniciaram pesquisas etnológicas com os povos nativos. Porém, nessa época, muitas etnias já estavam extintas e outras se encontravam em vias de extinção. Hoje, vivem no Brasil cerca de duzentos povos indígenas, cada qual com seus hábitos e costumes próprios. No boxe “Patrimônio e diversidade”, na página 8, conheceremos os Wajãpi, povo que vive no estado do Amapá e realiza uma pintura corporal reconhecida mundialmente. Sertão:extensa área de clima semiárido no Nordeste do Brasil; abrange parte de Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Bahia e norte de Minas Gerais, chegando até o litoral nos estados do Rio Gran- de do Norte e do Ceará. Os solos des- sa região são rasos e pedregosos, as chuvas escassas e mal distribuídas e a vegetação típica é a caatinga. Asso- cia-se a palavra sertão à ideia de um grande deserto, um “desertão”, termo que a teria originado. No período co- lonial, ela designava as regiões ainda não exploradas, ou pouco exploradas, do interior da colônia e não apenas o Sertão nordestino. Assim, na expres- são “drogas do sertão” a referência era à região amazônica. G LO SS Á R IO ACESSE O SITE Museu do índio O museu desenvolve trabalhos de pesquisa e divulgação das culturas indígenas brasileiras em parceria com as diversas etnias. No site é possível encon- trar fotografias, vídeos e textos sobre o tema. Disponível em: <www.museudoindio.org.br>. Acesso em: 9 jan. 2015. Indígenas da etnia Kalapalo celebrando o ritual Kuarup na Aldeia Aiha, em Querência (MT). Foto de 2009. D E LF IM M A R TI N S /P U LS A R IM A G E N S Acesse o Material Comple- mentar disponível no Portal e aprofunde-se no assunto. Projeto de Pesquisa 6 Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos A diversidade indígena Estima-se que existam hoje no mundo aproximadamente 5 mil povos indíge nas, totali- zando cerca de 350 milhões de pessoas. No Brasil, de acordo com o censo 2010, os indígenas somam quase 897 mil indivíduos, ou seja, 0,47% da população brasileira. A maioria dos povos indígenas no Brasil (52%) não tem mais do que quinhentos integran- tes. Apenas três deles, os Ticuna, os Guarani e os Kaingang, contam com mais de 25 mil pessoas. Tamanha variedade de povos faz com que o Brasil seja um dos países com maior diver- sidade étnica e cultural do planeta. Estima-se que sejam faladas pelos menos 170 línguas indí- genas no território brasileiro. Esse número, em um passado recente, já foi maior, uma vez que diversos povos, como os Pancararé (BA), os Xocó (CE), os Tupiniquim (ES), os Krenak (MG), os Carapotó (AL), os Cambeba (AM) e muitos outros deixaram de falar seu idioma original, ado- tando o português ou a língua de algum outro povo indígena com o qual travaram contato. Hábitos e costumes também variam de um povo para outro. Um grande número de sociedades indígenas, por exemplo, constrói aldeias dispondo suas casas em círculos, como os Bororo (MT) e os Timbira (MA). Outros constroem suas aldeias dispondo as casas em forma de U, como os Xavante (MT), os Assurini (PA) e os Suruí (PA). Já os Karajá (GO, MT, PA e TO) e os Munduruku (AM, MT, PA) erguem suas residências em filas paralelas umas às outras. O modo pelo qual as decisões são tomadas nas aldeias varia conforme a etnia. Os chefes Xavante e Canela (MA), por exemplo, tomam suas decisões com o auxílio de um conselho. Já nas aldeias Krahô (TO), o chefe escolhe um indivíduo de sua confiança para assessorá-lo e substituí-lo em sua ausência; além disso, cada aldeia tem dois auxiliares: um deles cuida das atividades da aldeia durante a estação seca e o outro, durante a estação chuvosa. FONTES: MELATTI, Julio Cezar. Índios do Brasil. São Paulo: Edusp, 2007; MUNDURUKU, Daniel. Coisas de índio. São Paulo: Callis, 1999; FERNANDES, Joana. Índio: esse nosso desconhecido. Cuiabá: Editora da UFMT, 1993; INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. População indígena no Brasil. Disponível em: <http://pib.socioambiental.org/pt/c/0/1/2/populacao-indigena-no-brasil>. Acesso em: 9 jan. 2015. TROCANDO IDEIAS Atualmente, diversas nações in- dígenas têm produzido expe- riências em vídeo, nas quais os próprios indígenas aprendem a manipular uma câmera e contar uma história. Juntamente com seus colegas de grupo, faça uma pesquisa na internet, selecione alguns vídeos e organize uma pe- quena mostra desses filmes para a classe ou para a escola. R E N A TO S O A R E S /P U LS A R IM A G E N S Imagem aérea de uma aldeia Yawalapiti, construída em formato circular, próxima à margem do rio Xingu, em Querência (MT). Foto de 2011. 7 H IS TÓ R IA Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos UMA ALDEIA TUPI Apesar de contarem com muitos hábitos e costumes em comum, os povos Tupi tinham parti- cularidades que os diferenciavam uns dos outros. Por isso, embora muitas das informações a seguir sejam generalizações, elas nos dão uma ideia das principais características desses grupos. Entretanto, isso não quer dizer que todos os povos Tupi agissem rigorosamente da maneira aqui descrita. Os povos Tupi viviam em pequenas aldeias, que, até onde se sabe, seguiam um modelo comum de organização: de quatro a sete malocas distribuídas em um grande círculo. Feitas de madeira e cobertas por folhas de palmeira, as malocas eram grandes habitações coletivas sem divisões internas, que abrigavam de trinta a cem pessoas cada. Na parte central do círculo formado pelas malocas havia um terreiro conhecido como ocara. Era o espaço principal da aldeia, pois nele aconteciam as cerimônias religiosas, festas e rituais. Também eram realizadas ali reuniões nas quais se discutiam questões de interesse da comunidade. Classe (social): camada social formada por pessoas que desempenham papéis semelhan- tes no processo de produção ou de circulação das riquezas e têm a mesma relação com a propriedade dos meios de produção. A classe operária moder- na, por exemplo, reúne os trabalhado- res industriais, os assalariados agrícolas e os trabalhadores em transportes (fer- roviários, etc.) e em certos serviços (por- tuários, etc.). O significado moderno de classe social foi elaborado em oposição ao conceito medieval de ordem ou es- tado. Segundo Karl Marx, a sociedade capitalista moderna estaria dividida em duas classes fundamentais: a burguesia e o proletariado, ou classe operária. G LO SS Á R IO LEIA OS LIVROS Lendas e mitos dos índios brasi- leiros, de Walde-Mar de Andra- de e Silva. São Paulo: FTD, 1998. Lendas do índio brasileiro, orga- nizado por Alberto da Costa e Silva. São Paulo: Ediouro, 2001. A pessoa mais respeitada da aldeia era o pajé, que desempenhava as funções de médico e sacerdote. O líder da aldeia Tupi era chamado de morubixaba. Ele não impunha ordens ou determinações ao grupo. Seu papel era servir de conselheiro, intermediando as relações entre as pessoas para evitar conflitos. Quando havia questões importantes a serem resolvidas, como declarar guerra a uma aldeia vizinha, formava-se um conselho composto dos chefes das grandes famílias, cujas decisões eram adotadas coletivamente. A base material sobre a qual se apoiavam as sociedades indígenas em geral, antes da chegada dos portugueses, era a apropriação coletiva da natureza. A terra, a floresta, a água, os animais pertenciam a todos, não existindo a figura da propriedade privada da terra ou de qualquer outro recurso natural. A ausência de propriedade privada, aliada à inexistência de um poder político forte e centralizado, imprimiu às comunidades indígenas um caráter altamente igualitário. Ou seja, de modo geral, não existiam privilégios, nem divisão de classes, nem desigualdades sociais. A K G -IM A G E S /A LB U M /L A TI N S TO C K Gravura de Hans Staden, de cerca de 1556, que ilustra a agricultura e os costumes dos Tupi em publicação de seu diário de viagem. 8 Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos Amapá: os Wajãpi e a kusiwa Entre os diversos povos indígenas que vivem hoje no território brasileiro, os Wajãpi, do Amapá, alcançaram re- centemente destaque internacional. Pertencentes ao tronco linguístico Tupi, os Wajãpi ganharam projeção por manterem viva a arte kusiwa, o tradicional costume de pintar os pró- prios corpos. Usando urucum e suco de jenipapo para obter as co- resvermelha e preta com as quais pintam o corpo, os Wajã- pi desenvolveram uma linguagem gráfica própria. Por meio dela representam aspectos de sua mitologia e do mundo que os cerca. O domínio da técnica da pintura kusiwa é um conheci- mento que os mais velhos transmitem aos mais jovens, geração após geração. Hoje, os Wajãpi lutam para que esse saber não seja abandonado e desapareça para sempre. Em 2001, a im- portância da arte kusiwa foi reconhecida internacionalmente, pois naquele ano, a Unesco, órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), definiu essa forma de expressão dos indígenas Wajãpi como uma “obra-prima do patrimônio oral e imaterial da humanidade”. Até 2008, apenas noventa manifestações culturais do mundo inteiro haviam obtido reconhecimento semelhante. Os Wajãpi são apenas um dos muitos povos indígenas que vivem no Amapá. Além deles, são encontrados grupos de outras etnias, como os Galibi, Karipuna, Palikur e Galibi-Marworno. Todos esses povos vivem em terras demarcadas. Com isso, os povos indígenas do Amapá têm suas terras asseguradas por lei. Situado na região Norte, o Amapá é cortado pela linha imaginária do equador bem na altura de sua capital, Macapá. Nessa cidade, encontra-se o Forte de São José de Macapá, construído entre 1764 e 1782 com mão de obra formada por africanos e indígenas escraviza- dos. Localizado na margem esquerda do rio Amazonas, é a maior fortaleza projetada pelos portugueses em terras brasileiras no período colonial e tinha por objetivo impedir invasões pelo rio Amazonas. Tombado pelo patrimônio histórico em 1950, o forte foi reaberto ao público em 2006, depois de ter passado mais de uma década fechado para escavações arqueológicas e obras de restauração. PATRIMÔNIO E DIVERSIDADE Rapaz da etnia Wajãpi desenhando motivos da arte kusiwa, sistema de representação gráfico, usualmente aplicado nos corpos dos indivíduos desse povo que vive no Amapá. D O M IN IQ U E T . G A LL O IS /A C E R V O D A F O TÓ G R A FA C A N IN D E S O A R E S /K IN O .C O M .B R Capital do Amapá, Macapá é vista aqui em foto aérea. No primeiro plano, às margens do rio Amazonas, ergue-se o Forte de São José de Macapá. 9 H IS TÓ R IA Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos A divisão sexual do trabalho A divisão do trabalho era feita de acordo com o sexo e a idade. Geralmente, atividades como derrubar árvores, caçar, pescar, preparar a terra para o plantio, construir malocas, armas e canoas ficavam a cargo dos homens. Além de cozinhar, as mulheres cuidavam das crianças, da coleta de frutos, da plantação, da colheita e da fabricação de utensílios domésticos. Os bens assim produzidos pertenciam a toda a comunidade, e não a uma pessoa apenas. Como a metalurgia era desconhecida, as armas e os objetos eram feitos de pedra, osso, madeira ou barro. Os grupos que viviam junto aos rios ou no litoral tinham na pesca um de seus principais meios de subsistência. Aqueles instalados no meio da floresta praticavam mais a caça. Alguns povos das planícies dedicavam-se também à agricultura, plantando milho, mandioca, abóbora, inhame e batata-doce. A mandioca, um dos alimentos mais importantes, tornou-se comes- tível graças ao fato de os indígenas terem descoberto como extrair o seu veneno – que era utilizado na ponta das flechas para torná-las ainda mais mortais. A mandioca era transformada em farinha seca, tapioca, beiju e outras iguarias. Quando o solo se esgotava, o grupo que ocupava a região abandonava sua aldeia e se estabelecia em outro lugar (veja o boxe a seguir, “A luta pela terra”). Commodities agrícolas: o termo commodities, de origem ingle- sa, significa “mercadorias”. Commodity agrícola refere-se a produtos de ori- gem primária ou com pequeno grau de industrialização, produzidos em larga escala e utilizados em todo o mundo e que, por isso, são negociá- veis em bolsas de valores do mundo inteiro. G LO SS Á R IO A luta pela terra Segundo a Constituição brasileira, as terras onde os povos indígenas se encontram pertencem à União, mas os indígenas detêm o direito de usufruto desses territórios. A garantia desse direito se consolida após um longo processo no qual agentes do governo federal identificam o território e demarcam seus limites. Com a homologação do proces- so pela Presidência da República, as terras são registradas em cartório. Atualmente, existem 695 terras indígenas (TIs), ocupando 13,3% do território brasileiro, mas nem todas fo- ram ainda registradas em cartório. A Constituição proíbe que as terras indígenas sejam ocupadas por terceiros. Afinal, é delas que os indígenas reti- ram seu sustento por meio da caça, da pesca, do cultivo de alimentos, etc. Por essa razão, para os povos indígenas é ex- tremamente importante que os recursos ambientais de seus territórios sejam preservados. Nesse aspecto, porém, a Constituição nem sempre é res- peitada. O território dos Xacriabá em Minas Gerais, por exem- plo, foi demarcado numa área de transição do cerrado para a caatinga, numa região desprovida de nascentes e que chega a enfrentar até oito meses de seca por ano. Em outros lugares, as terras indígenas são constantemente invadidas por madeireiras interessadas na derrubada das árvores ou por garimpeiros em busca de ouro e diamantes. Esse processo de invasão se acentuou nas últimas décadas em razão da grande valori- zação das chamadas commodities agrícolas. Com essa valorização, diversas áreas indígenas passaram a ser ocupadas por agricultores que derrubam as matas para plantar produtos como soja e arroz. Embora essa disputa pela terra dos indígenas ocorra em diversos lugares do Brasil, é na região Norte que esse processo é mais acentuado. Em Roraima, indígenas da reserva Raposa Serra do Sol conseguiram em 2009, após longa batalha judicial, a expulsão dos invasores de sua terra, em um caso de grande repercussão no Brasil e no exterior. FONTES: FAUSTO, Boris; FAUSTO, Carlos. Surto anti-indígena. O Estado de S. Paulo, 28 abr. 2008; GESISKY, Jaime. Esperança nas aldeias xacriabás. Ciência Hoje, jan.-fev. 2008; Comendo a Amazônia. Disponível em: <www.greenpeace.org.br/amazonia/comendoamz_sumexec.pdf>. Acesso em: 9 jan. 2015. A LA N M A R Q U E S /F O LH A IM A G E M VEJA O FILME Serras da desordem, de Andrea Tonacci. Brasil, 2006. (135 min). Dez anos depois do massacre que dizimou sua família no final da década de 1970, no Mara- nhão, Carapiru é encontrado no Nordeste pelo sertanista Sydney Possuelo. Levado a Brasília, ele se torna o centro de discussões entre antropólogos e linguistas, porém, sem encontrar seu espa- ço na capital do Brasil, Carapiru retorna a sua aldeia natal. Na sede do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, a advogada indígena Joênia Batista Carvalho, do povo Wapichana, prepara-se para defender a demarcação contínua das terras da reserva Raposa Serra do Sol, situada no estado de Roraima. Foto de agosto de 2008. 10 Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos Costumes indígenas De forma geral, as sociedades indígenas desconheciam a ideia de Estado e de propriedade privada. Cada comunidade era autossuficiente, produzindo ou obtendo diretamente da natureza tudo aquilo de que necessitava. Não havia comércio, moeda ou escrita. Entretanto, muitas aldeias estabeleciam alianças com aldeias vizinhas, por meio de casamentos ou de acordos informais. Mas nem sempre imperavam relações amistosas entre as aldeias. Não eram raras as guerras entre elas. Uma das consequências desses conflitos era a captura de inimigos e a realização de rituais antropofágicos, nos quais prisioneiros eram devorados por seus captores. A antropofagia tinha sempre um significado ritual para os indígenas, mas havia algumas di- ferenças de conotação de grupo para grupo. Os Tupi, por exemplo, comiam seus inimigos como forma de homenageá-los, pois acreditavamque ao fazê-lo assimilavam sua força e valentia. Já para os diversos povos indígenas que viviam no interior, ingerir carne de um familiar morto por causas naturais transferia para aqueles que a consumiam suas virtudes e qualidades. No século XVI, muitos europeus viram na antropofagia dos indígenas americanos um sinal de barbarismo e passaram a julgar as populações do continente como incapazes de se autogovernar. Esse foi um dos argumentos usados para justificar a colonização da América. VEJA O FILME Hans Staden, de Luiz Alberto Pereira. Brasil e Portugal, 1999. (92 min). Em sua segunda viagem ao Brasil recém-descoberto, o alemão Hans Staden acaba aprisionado pelos Tupinambá, que se preparam para matar o prisioneiro e devorá-lo. O desafio de Staden é, então, con- vencer os Tupinambá a mudar de ideia, para que ele possa escapar com vida. EN Q U A N TO I S S O .. . Os aborígines australianos Por volta de 1788, ano em que os europeus chegaram à Austrália atual, viviam ali de 500 mil a 700 mil aborígines (denominação atribuída aos povos nativos de um país ou região), divididos em aproximadamente quinhentos grupos, que falavam cerca de 250 línguas diferentes. Cada povo tinha seu território e suas próprias regras. Todos, porém, eram nômades ou seminômades. Viviam principalmente da caça e da coleta, embora tivessem conhecimentos de agricultura. As trocas comerciais eram relativamente intensas. Com a chegada dos europeus, eclodiram conflitos pela posse das terras que provocaram o extermínio de grande parte da população aborígine. Em 1900, ela estava reduzida a apenas 50 mil pessoas. Graças a uma elevada taxa de natalidade, o número de aborígines voltou a crescer, totalizando hoje cerca de 350 mil pessoas. EN Q U A N TO TROCANDO IDEIAS Os indígenas representam hoje cerca de 0,47% da população brasileira e ocupam uma área que corresponde a 13,3% do território nacional. São cerca de 1 milhão de quilômetros qua- drados, área equivalente ao dobro da França. Reúna-se com seu grupo de colegas e, juntos, debatam as seguintes questões: qual é a importância de reservar grandes extensões de terra para essas comunida- des? Como isso se choca com os interesses de grupos econô- micos e de comunidades não indígenas? Se essas reservas fossem reduzidas, a cultura in- dígena estaria ameaçada? Ten- do em mente essas questões e a reflexão do grupo, montem uma pequena cena teatral que dramatize a situação. Sob orientação do professor, apre- sentem a cena à classe. Jovens aborígines australianos dançam no Festival de Dança Aborígine de Laura, na península do Cabo de York, na Austrália, em 2011. A N D R E W W A TS O N /G E TT Y IM A G E S 11 H IS TÓ R IA Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos TAREFA PARA CASA: Para praticar: 1 a 3 Para aprimorar: 1 a 3 PARA CONSTRUIR 1 (PUC-SP) O Brasil é uma criação recente. Antes da chegada dos europeus [...] essas terras imensas que formam nosso país tiveram sua própria história, construída ao longo de muitos séculos, de muitos milhares de anos. Uma história que a Arqueologia começou a desvendar apenas nos últimos anos. GUARINELLO, Norberto Luiz. Os primeiros habitantes do Brasil: a Arqueologia pré-histórica no Brasil. 15. ed. São Paulo: Atual, 2009. p. 6. O texto acima afirma que: b a) o Brasil existe há milênios, embora só tenham surgido civilizações evoluídas em seu território após a chegada dos europeus. b) a história do que hoje chamamos Brasil começou muito antes da chegada dos europeus e conta com a contribuição de muitos povos que aqui viveram. c) as terras que pertencem atualmente ao Brasil são excessivamente grandes, o que torna impossível estudar sua história ao longo dos tempos. d) a Arqueologia se dedicou, nos últimos anos, a pesquisar o passado colonial brasileiro e seu vínculo com a Europa. e) os povos indígenas que ocupavam o Brasil antes da chegada dos europeus foram dizimados pelos conquistadores portugueses. 2 Por que podemos afirmar que as sociedades indígenas eram, de modo geral, “igualitárias” quando os portugueses chegaram ao território hoje conhecido como Brasil? De modo geral, as sociedades indígenas eram igualitárias porque a base material sobre a qual se apoiavam antes da chegada dos portugueses era a apropriação coletiva da natureza, não existindo a figura da propriedade privada da terra nem de nenhum outro recurso natural. Essa característica, aliada à inexistência de um poder político forte e centralizado, imprimiu às comunidades indígenas um caráter altamente igualitário. Ou seja, de modo geral, não existiam privilégios, divisões de classe ou desigualdades sociais. 3 Atualmente, estima-se que existam no Brasil entre 450 mil e 700 mil indígenas, divididos entre povos de etnias diversas. Essa va- riedade de etnias caracteriza o Brasil como um dos países de maior diversidade cultural. Defina pelo menos três aspectos da vida social e política que exemplificam as diferenças entre os povos indígenas. O termo “índio”, cunhado no início da colonização, esconde uma imensa diversidade de povos. Um dos aspectos que expressa essa diversidade é a quantidade de línguas existentes: atualmente, há pelo menos 170 línguas indígenas diferentes no território brasileiro (além de muitos grupos indígenas que falam apenas o português, porque perderam o uso do idioma original). Outro exemplo da diversidade cultural está na maneira de construir e organizar espacialmente as casas nas aldeias: o formato das casas, o material utilizado em sua construção, a quantidade de pessoas e o grau de parentesco de quem mora em cada casa variam de um povo para o outro; elas podem ser organizadas em círculos, em forma de U, ou em filas paralelas. Outro aspecto que exemplifica a diversidade das sociedades indígenas é a organização política de cada aldeia: há nomes diferentes para o chefe da aldeia e, em alguns povos, seu poder depende das relações que ele estabelece com os outros membros. 4 A Constituição brasileira estabelece que as terras ocupadas tradicionalmente pelos povos indígenas pertencem à União e ape- nas eles têm direito ao usufruto dessas terras, que constituem cerca de 13% do território brasileiro. Apesar disso, vêm ocorrendo conflitos em torno de terras indígenas envolvendo o Estado, grupos indígenas e vários interesses econômicos. Faça uma síntese descritiva desses conflitos. Nem todas as terras indígenas estão registradas em cartório, o que leva empresas e indivíduos a ocuparem essas áreas, nelas permanecendo por muito tempo, em razão da demora com que tramitam as ações judiciais que envolvem a propriedade da terra. Além disso, mesmo as terras indígenas regularizadas são alvo de grupos econômicos, de garimpeiros, madeireiras, fazendeiros e pequenos agricultores. Na região Norte do país, em especial, as disputas por terras envolvem a ampliação das lavouras de soja e arroz, produtos muito valorizados no mercado internacional. Um caso que se tornou notório foi a situação na reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, onde chegou a haver choques armados entre produtores rurais, grupos indígenas e forças do Estado por causa da legalização da reserva e da consequente saída dos fazendeiros da área. Ene m C-3 H-11 As competências e habilidades do Enem estão indicadas em questões diversas ao longo do módulo. Se necessário, explique aos alunos que a utilidade deste “selo” é indicar o número da(s) competência(s) e habilidade(s) abordada(s) na questão, cuja área de conhecimento está diferenciada por cores (Lin- guagens: laranja; Ciências da Natureza: verde; Ciências Humanas: rosa; Matemática: azul). A tabela para consulta da Matriz de Referência do Enem está disponível no portal. 12 Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos TAREFA PARA CASA As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos. PARA PRATICAR 1 (Fatec-SP)Se levarmos em conta que os colonizadores por- tugueses mantiveram um contato maior com as nações Tupi, podemos dizer que as sociedades indígenas brasileiras vi- viam num regime de comunidade primitiva, no qual: a) não existia propriedade privada, pois os únicos bens indi- viduais eram os instrumentos de caça, pesca e trabalho, como o arco, a flecha e o machado de pedra. b) cabia aos homens, além da caça e da pesca, toda a ativi- dade agrícola do plantio a da colheita. c) cada família tinha a sua propriedade, apesar de todos tra- balharem para o sustento da comunidade. d) a economia era plani�cada e todo o excedente era troca- do com as tribos vizinhas. e) tanto a propriedade privada quanto a agricultura de sub- sistência e a divisão de trabalho obedeciam a critérios na- turais, ou seja, de acordo com o sexo e a idade. 2 (Enem) Os vestígios dos povos Tupi-Guarani encontram-se des- de as Missões e o rio da Prata, ao sul, até o Nordeste, com algumas ocorrências ainda mal conhecidas no sul da Amazô- nia. A leste, ocupavam toda a faixa litorânea, desde o Rio Grande do Sul até o Maranhão. A oeste, aparecem [no rio da Prata] no Paraguai e nas terras baixas da Bolívia. Evitam as terras inundáveis do Pantanal e marcam sua presença discre- tamente nos cerrados do Brasil central. De fato, ocuparam, de preferência, as regiões de floresta tropical e subtropical. PROUS, A. O Brasil antes dos brasileiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005. Os povos indígenas citados possuíam tradições culturais es- pecíficas que os distinguiam de outras sociedades indígenas e dos colonizadores europeus. Entre as tradições Tupi-Guara- ni, destacava-se: a) a organização em aldeias politicamente independentes, dirigi- das por um chefe, eleito pelos indivíduos mais velhos da tribo. b) a ritualização da guerra entre as tribos e o caráter semisse- dentário de sua organização social. c) a conquista de terras mediante operações militares, o que permitiu seu domínio sobre vasto território. d) o caráter pastoril de sua economia, que prescindia da agricultura para investir na criação de animais. e) o desprezo pelos rituais antropofágicos praticados em outras sociedades indígenas. 3 (Uepa) Os povos Tupi correspondiam no século XV a um enor- me conjunto populacional étnico-linguístico que se espalhava por quase toda a costa atlântica sul do continente america- no, desde o atual Ceará, até a Lagoa dos Patos, situada nos dias de hoje no Rio Grande do Sul. De acordo com registros de missionários jesuítas e de exploradores portugueses dos primeiros anos da colonização portuguesa, os povos Tupi se disseminaram pelo que é hoje a costa brasileira, numa dinâ- mica combinada de crescimento populacional e fragmenta- ção sociopolítica. Ao mesmo tempo, uma utopia ancestral cultivada pelos diversos grupos tupi da busca de uma “terra sem males”, teria contribuição para sua expansão territorial. Os Tupi chegaram no início do século XVI à Amazônia, ocupando a Ilha Tupinambarana como ponto final de sua peregrinação. No caminho percorrido, os povos Tupi viviam numa atmosfera de guerra constante entre si e com outros povos não Tupi. Guerras, captura e canibalização dos inimigos alimentavam a fragmentação, a dispersão territorial e o revanchismo. Em termos simbólicos, o sentido da antropofagia, resultante do enfrentamento entre indígenas pouco antes do início da co- lonização portuguesa, tem relação com: a) necessidade de exterminar os inimigos na totalidade, inclusive pela ingestão física, de modo a interditar-lhes qualquer forma de sobrevivência ou resquício material. b) o interesse em assimilar as potencialidades guerreiras e a bravura dos inimigos, bem como incorporar seu universo social e cosmológico adicionado ao grupo do vencedor. c) a profunda diferença sociocultural entre os povos Tupi, que ao longo da expansão tendiam a considerar-se como estrangeiros, habitando regiões contíguas. d) a interferência de navegadores europeus que alimenta- vam as dissensões entre os povos indígenas como meio de conquistá-los posteriormente. e) a disputa territorial com os povos não Tupi, que foram praticamente expulsos da costa e obrigados a adentrar o interior do continente. PARA APRIMORAR 1 (Cefet-CE) Sabe-se que, quando os portugueses chegaram ao Brasil, encontraram vários povos que aqui habitavam, dentre eles os Tupi, os Jê, os Karib e os Aruak. Corresponde a uma de suas características gerais: a) assim como os colonizadores portugueses, já praticavam a concepção de propriedade privada, sendo este um dos fatores de maior relevância na fusão cultural desses povos. b) por praticarem a monogamia, o monoteísmo e o patriar- calismo, essas comunidades indígenas facilmente assimi- laram os valores da religião católica como se adaptaram aos modelos econômicos dos colonizadores. Daí a mão de obra indígena ter sido satisfatória para o processo da montagem da empresa agrícola açucareira. c) para promover a sua alimentação, os povos indígenas Tupi chegaram a praticar uma agricultura de regadio se- melhante aos povos maias e incas, enquadrando-se no modo de produção servidão coletiva. Ene m C-3 H-11 Veja, no Guia do Professor, as respostas da “Tarefa para casa”. 13 H IS TÓ R IA Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos d) os povos indígenas estavam muito envolvidos com a natu- reza e tinham uma maneira peculiar de entendê-la, através de uma concepção mítica de mundo. e) os povos indígenas foram vítimas de genocídio e etnocídio no processo de colonização dos portugueses, entretanto não ofereceram resistência devido ao fato de acreditarem que este era o seu destino de acordo com suas crenças. 2 O que você vai ver e ler a seguir são duas repre sentações dos indígenas brasileiros produzidas por europeus no século XVII. A primeira é a tela Dança Tapuia, do pintor holandês Albert Eckhout (1610-1666). “Tapuia” era o termo utilizado pelos Tupi para designar indistintamente todos os povos do interior do território brasileiro. Hoje sabemos que os indígenas represen- tados nesse quadro pertenciam na verdade ao povo Tarairiú, que vivia no Sertão nordestino. A segunda representação é uma descrição desse mesmo povo feita por Elias Herckmans (1596-1644), geógrafo holandês que governou a Capitania da Paraíba entre 1636 e 1639, sob as ordens da Companhia das Índias Ocidentais, durante o período de dominação holandesa naquela região. Observe a imagem, leia o documento escrito e reflita sobre eles tendo em mente as questões propostas. Documento 1 Dança Tapuia, óleo sobre tela de Albert Eckhout, pintado por volta de 1641. Também conhecida como Dança dos Tarairiú, a obra encontra-se hoje no Museu de Copenhague, na Dinamarca. Documento 2 Esse povo é robusto de corpo, de grande estatura, a ossatura grossa e forte, a cabeça grande e larga; [...] Andam inteiramente nus, exceto em algumas ocasiões de festa, ou quando vão à guerra, porque então geralmente cobrem o corpo de penas de arara [...], de maracanãs [aves da famí- lia dos papagaios], papagaios e periquitos. [...] Como esse povo anda nu [...], não se pode distinguir o rei e os maiores senhores pela excelência dos vestidos. Mas somente pelo cabelo e pelas unhas dos dedos. O cabelo do rei é cortado na cabeça como uma coroa, e em ambos os polega- res ele traz as unhas compridas, o que, exceto ele, ninguém mais pode trazer. Os seus amigos e capitães têm as unhas compridas em todos os dedos, exceto nos polegares, cujas unhas cortam rente para não minguar [reduzir] a honra do rei. HERCKMANS, Elias. Descrição geral da Capitania da Paraíba. In: MEDEIROS, Manuel Batista de. Capitania holandesa da Paraíba numa visão do século XVII. João Pessoa: Unipê, 2003. p. 212-214. a) Que aspectos da descrição no texto de Herckmans se aproximam da representação de Eckhout e que aspectos divergem do quadro? b) Com base nos dois documentos, levante uma hipótese para explicarpor que os indígenas estariam dançando da forma representada no quadro. c) Nos dois documentos os autores registraram suas impres- sões (escritas ou pictóricas) sobre os Tarairiú. Naturalmen- te, ao fazerem seus registros os autores imprimiram a eles seus próprios valores e pontos de vista preconcebidos. Assinale aspectos de ambas as obras que evidenciam esse olhar europeu preconcebido sobre os indígenas. 3 (UFG-GO) Observe as imagens. As pinturas expressam olhares distintos sobre os nativos, da Colônia ao Império. Enquanto a primeira pintura, datada de 1641, foi feita pelo holandês Albert Eckhout, integrante da co- mitiva de artistas e cientistas trazidos para o Brasil por Maurício de Nassau, a segunda foi elaborada, em 1883, por Rodolpho Amoêdo, pertencente à geração de pintores românticos. Con- siderando essas informações e a análise dos elementos com- positivos das pinturas, explique a mudança ocorrida na repre- sentação do indígena. Ene m C-1 H-4 Mulher Tapuia, de Albert Eckhout, 1641. Museu Nacional de Copenhague. Disponível em: <www. dezenovevinte. net/artigos>. Acesso em: abr. 2010. A LB E R T E C K H O U T/ M U S E U D E C O P E N H A G U E , D IN A M A R C A R O D O LP H O A M O Ê D O /M U S E U N A C IO N A L D E B E LA S A R TE S , R IO D E J A N E IR O A LB E R T E C K H O U T/ M U S E U N A C IO N A L D E C O P E N H A G U E O último Tamoio, de Rodolpho Amoêdo, 1883. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Disponível em: <www.artenaescola.org.br/imediateca2/resultado. php?buscar=tapuia>. Acesso em: abr. 2010. 14 Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos CAPÍTULO 2 Portugal e sua colônia na América Objetivos: c Conhecer as primeiras tentativas de exploração e colonização do território que viria a constituir o Brasil. c Entender o contexto que levou o governo português a explorar e colonizar as terras no continente americano. c Conhecer como ocorreram os primeiros contatos entre portugueses e indígenas. c Discutir a questão da diversidade cultural por meio das representações elaboradas no encontro entre os dois povos. Antônio Carlos Brasileiro Jobim, ou simplesmente Tom Jobim, um dos pais da bossa nova, cos- tumava dizer que o Brasil é o único país com nome de árvore. De fato, embora haja controvérsias em relação à origem do nome Brasil, o certo é que ele aparece também na expressão “pau-brasil”, criada pelos europeus muito antes de 1500 para designar uma árvore que os Tupi chamavam de ibirapitanga. Considerado por muitos a árvore-símbolo do país, o pau-brasil quase desapareceu por com- pleto depois de 1500, quando os portugueses começaram a enviar seus troncos vermelhos à Europa para serem transformados em corante de tecidos. Embora não tenha desaparecido, o pau-brasil tornou-se uma espécie em extinção, encontrada hoje em jardins botânicos e parques naturais. Seu tronco é atualmente utilizado na fabricação de arcos de violino e suas sementes, em pesquisas para a produção de medicamentos. Neste capítulo, estudaremos os primeiros tempos da colonização do território hoje conhe- cido como Brasil e veremos a importância que o pau-brasil teve para a economia de Portugal naquela época. Depois de vários séculos de extração indiscriminada, o pau-brasil sobrevive precariamente em poucas regiões do país. Na foto, um pau-brasil florido em Piracicaba (SP), em 2011. IS A /K IN O .C O M .B R 15 H IS TÓ R IA Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos Durante dez dias, a frota permaneceu ancorada na atual baía Cabrália, nas proximidades de Porto Seguro, na Bahia. Ali, os portugueses travaram contatos amistosos com os Tupiniquim, um povo Tupi. Trocaram presentes, celebraram duas missas com a presença dos nativos e ergueram uma cruz de madeira de quase sete metros de altura para simbolizar a posse portuguesa daquelas terras. No dia 2 de maio, as caravelas de Cabral partiram em direção às Índias. Uma delas, contudo, retornou a Portugal com cerca de vinte cartas que comunicavam as novidades ao rei dom Manuel. A CHEGADA DE CABRAL Entre 1497 e 1498, ao acompanhar Vasco da Gama em sua viagem para as Índias, o escrivão Álvaro Velho anotou em seu diário de bordo que, a quilômetros da costa africana, ainda em águas do Atlântico, os navegadores avistaram aves que “seguiam contra o su-sueste muito rijas, como aves que iam para a terra”. Contra o su-sueste, ou seja, em direção ao sudoeste do Atlântico Sul. Para muitos historiadores, essa passagem contém uma informação valiosa: ao ver as aves, Vasco da Gama teria se convencido de que, se navegasse um pouco mais em direção ao Ocidente, chegaria a terras ainda desconhecidas pelos europeus. O comandante português, no entanto, continuou em seu caminho até as Índias. Retornou a Portugal em 1499 com um carregamento de especiarias que rendeu 6 000% de lucro. Exultante com o sucesso da viagem, o rei dom Manuel, o Venturoso, organizou outra expedição para as Índias. O comando da nova frota de dez naus, três caravelas e 1 500 homens a bordo foi en- tregue ao capitão-mor Pedro Álvares Cabral. Nos meses que antecederam a partida, Vasco da Gama e Cabral trocaram informações a respeito do trajeto. Por isso, diversos historiadores acreditam que, quando o capitão-mor zarpou de Lisboa, em 9 de março de 1500, já tinha a intenção de se desviar do caminho percorrido por Vasco da Gama e, antes de chegar às Índias, tentar alcançar as terras ainda desconhecidas pelos europeus a oeste do Atlântico Sul. Intencional ou não, o fato é que no dia 22 de abril de 1500, Cabral e seus homens avistaram pela primeira vez o território que a população nativa chamava de Pindorama – terra das palmeiras. VEJA O FILME O descobrimento do Brasil, de Humberto Mauro. Brasil, 1937. (83 min). Inspirado nos principais relatos da carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, o filme mostra a chegada da frota portuguesa ao litoral brasileiro. Um dos destaques do filme é o momento em que é reproduzida a famosa pintura de Victor Meirelles, A primeira missa no Brasil. V IC TO R M E IR E LL E S /M U S E U N A C IO N A L D E B E LA S A R TE S , R J A primeira missa no Brasil, óleo sobre tela de Victor Meirelles (1832-1903), pintado em 1861. Acesse o portal e explore a ima- gem A primeira missa no Brasil. www.sesieducacao.com.br Portal SESI Educação 16 Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos Explorando o litoral Apesar da boa-nova, dom Manuel não se interessou em colonizar a região, pois foi informado pelas cartas de que não havia nela indícios de metais preciosos. O rei preferiu concentrar esforços no lucrativo comércio com as Índias. Entretanto, em 1501 e 1503, Portugal organizou duas expedições com o objetivo de explorar as novas terras. Ambas foram comandadas por Gonçalo Coelho e con- taram com a presença do navegador florentino Américo Vespúcio. Nessas viagens, os portugueses percorreram a costa entre os atuais estados do Rio Grande do Norte e de São Paulo. Por onde passaram, deram nome aos principais acidentes geográficos que encontraram. Ao retornar à Europa, Vespúcio escreveu cartas relatando o que viu. Tais relatos tiveram tanta repercussão na Europa que, em homenagem ao autor, o novo continente passou a se chamar América. De olho no pau-brasil A única matéria-prima que, de imediato, interessou a Portugal foi o pau-brasil, árvore que crescia por quase todo o litoral. Com cerca de 20 a 30 metros de altura, de seu tronco vermelho os indígenas extraíam tinta para colorir as penas brancas com que se enfeitavam. Existente também na Ásia, o pau-brasil já era conhecido na Idade Média pelos europeus, que utilizavam seu corante para tingir tecidos. Entretanto, com a conquista de Constantinoplapelos otomanos, em 1453, e o bloqueio do comércio pelo Mediterrâneo, o preço da madeira subiu verti- calmente. Sua exploração se tornaria a principal atividade econômica dos portugueses na América até 1530. A derrubada das árvores de pau-brasil era feita pelos nativos, que recebiam em troca obje- tos, como espelhos, miçangas, pentes e pedaços de pano. Esse sistema de pagamento sem uso de moedas consiste, na verdade, em uma troca conhecida como escambo. Posteriormente, os nativos passaram a exigir outras mercadorias como pagamento. Sabendo que os indígenas não conheciam artefatos de metal, os portugueses começaram a pagá-los com tesouras, anzóis, machados de ferro e outros objetos. B R IT IS H L IB R A R Y , L O N D R E S /A R Q U IV O D A E D IT O R A Detalhe de mapa da costa da colônia portuguesa na América (1541), no qual seu autor, Jean Rotz, representa indígenas e traficantes franceses no corte de pau-brasil. 17 H IS TÓ R IA Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos Esses utensílios de metal modificaram substancialmente o modo de vida da população nativa. Com um machado de pedra – instrumento utilizado até então –, os indígenas levavam quase três horas para derrubar uma árvore; com os machados de ferro, cerca de quinze minutos (sobre a troca de conhecimentos entre portugueses e indígenas, veja o boxe abaixo). Com a nova tecnologia, a extração de pau-brasil se acelerou. Assim, só no século XVI, cerca de 2 milhões de árvores foram derrubadas e embarcadas para a Europa. Por causa dessa extração predatória, o pau-brasil desapareceu do litoral. Atualmente, o pau-brasil encontra-se ameaçado de extinção em seu habitat natural, a Mata Atlântica. A situação só não é pior porque a árvore tem sido plantada em projetos paisagísticos desenvolvidos em parques, ruas e residências. Aprendendo com os indígenas Populações nativas tiveram importante papel na economia colonial no primeiro século e meio da colonização. E não apenas como força bruta empregada na lavoura comercial, mas em atividades que exigiam conhecimentos e habilidades que somente os habitantes das matas detinham. O sul da Bahia abriga ainda hoje remanescentes dos antigos povos Tupi cujos antepassados se destacaram não apenas pelo trabalho, mas também pela transferência de saberes específicos, que só eles detinham, ao colonizador europeu. Sob o comando dos portugueses, esses indígenas se empenhavam em atividades como a extração e o transporte de madeiras de lei, a extração e o beneficiamento de fibras vegetais utilizadas na construção naval e a confecção de diversos objetos artesanais, como rosários, redes de pescar e de dormir. Os mestres artesãos portugueses passaram a experimentar materiais já utilizados pelos povos nativos em suas próprias embarcações. Bem cedo descobriram com os nativos que árvores como o angelim e a sucupira, muito utilizadas na fabricação de canoas, eram excelentes para o fabrico de cascos de embarcações. Da mesma forma, a maçaranduba e o conduru se mostravam perfeitos para a mastreação e para a produção de remos. Tais madeiras, ao lado das embiras de sapucaia, ticum, piaçava e do gravatá, utilizados na produção de cabos, cordames e estopas, deram projeção externa aos conhecimentos indígenas, já que tais produtos também tiveram significativa utilização nos estaleiros de Lisboa. DIAS, Marcelo Henrique. Senhoras da floresta. Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 1, n. 7. jan. 2006. Adaptado. B IB LI O TE C A O LI V E IR A L IM A /U N IV E R S ID A D E C A TÓ LI C A , W A S H IN G TO N /A R Q U IV O D A E D IT O R A Observados por dois europeus, à esquerda, indígenas constroem embarcação com tronco de árvore. Pintura sem data, provavelmente do século XVIII. 18 Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos A AMEAÇA FRANCESA Outras potências se mostraram interessadas em participar do lucrativo comércio de pau-brasil. Uma delas era a França. Rejeitando o Tratado de Tordesilhas, a partir de 1504 os franceses começaram a organizar expedições para as terras da América que Portugal considerava suas. Naquele mesmo ano, o navegador francês Binot Paulmier de Gonneville aportou na ilha de São Francisco, no litoral norte da região hoje pertencente ao estado de Santa Catarina, e permaneceu com sua tripulação por seis meses junto aos indígenas Carijó. Retornou à França com o navio carregado de pau-brasil, peles e penas de animais. Preocupado com esse assédio, a princípio Portugal enviou expedições guarda-costas para evitar a ação dos concorrentes. Os resultados, porém, nem sempre foram positivos, uma vez que o litoral era muito grande e difícil de ser vigiado. Diante disso, em 1530 o governo português decidiu iniciar a colonização do território. Essa tarefa caberia ao fidalgo Martim Afonso de Sousa. SÃO VICENTE E O COMEÇO DA COLONIZAÇÃO Martim Afonso de Sousa partiu de Lisboa no dia 3 de dezembro de 1530, no comando de uma frota composta de cinco embarcações e mais de quatrocentas pessoas. Entre suas missões no Novo Mundo estavam: capturar embarcações estrangeiras envolvidas no tráfico de pau-brasil; estabelecer feitorias e criar núcleos de povoamento. Em 22 de janeiro de 1532 fundou a vila de São Vicente, no litoral sul do atual estado de São Paulo. Ali foram erguidas as primeiras casas, um pequeno forte, uma capela, a cadeia e o pelourinho. Foi criada também uma estrutura administrativa, com a nomeação das primeiras autoridades para funções como as de juiz, escrivão, meirinho (equivalente ao atual oficial de justiça) e almotacel (inspetor encarregado da correta aplicação dos pesos e medidas e da taxa- ção dos gêneros alimentícios). Além disso, Martim Afonso doou terras aos membros de sua expedição e ergueu um engenho de açúcar, que utilizava como matéria-prima a cana-de-açúcar trazida da ilha da Madeira. Pelourinho: coluna de pedra ou madeira fixada em local público. O pelourinho era empregado para expor e castigar escravos e criminosos no Brasil colo- nial. Instalado em pontos centrais das vilas, o pelourinho era um marco da administração portuguesa e símbolo da autoridade e da justiça. G LO SS Á R IO Representação da chegada da frota de Martim Afonso de Sousa ao litoral sul do território hoje pertencente ao estado de São Paulo, onde fundou a vila de São Vicente (1532), em óleo sobre tela do pintor Benedito Calixto (1852-1927). B E N E D IT O C A LI X TO /A LE X A N D R E C A M P B E LL /C LU B E N A V A L, R J/ A R Q U IV O D A E D IT O R A 19 H IS TÓ R IA Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos TAREFA PARA CASA: Para praticar: 1 e 2 Para aprimorar: 1 e 2 PARA CONSTRUIR 1 Há controvérsias sobre os motivos que levaram à chegada de Pedro Álvares Cabral, em 22 de abril de 1500, às terras que se tornariam colônia de Portugal na América. Alguns historia- dores acreditam que foi intencional; outros insistem em que o desvio da rota que levaria Cabral às Índias foi um acidente. Que argumentos são utilizados por aqueles que acreditam na intencionalidade do acontecimento? Durante as viagens de Vasco da Gama para as Índias, entre 1497 e 1498, o escrivão Álvaro Velho registrou a existência de aves que seguiam para o sudoeste do Atlântico, como se existissem terras naquela direção. Para muitos historiadores, essa informação, que teria sido compartilhada com Cabral, é uma evidência de que ele tinha a intenção de desviar a frota sob seu comando, rumo às Índias, em 1500, para tentar alcançar as terras a oeste do Atlântico Sul, que ainda eram desconhecidas na Europa. 2 (IFSP) Publicado em Veneza, em 1556, o mapa abaixo é um dos primeiros a mostrar o Brasil individualmente. Raro, ele faz parte de uma obra italiana, Atlas dele navigazione e Viaggi (Atlas de navegação eviagens), de Giovanni Battista Ramusio. Trata-se de uma pintura de época sobre o Brasil, a qual revela pouca preocupação geográfica, mas que nos mostra: b a) uma terra de riquezas: a exuberância das matas, a fartura de peixes nos mares e a existência de povoadores fortes, sadios e trabalhadores. b) indígenas extraindo troncos de pau-brasil que, depois, eram empilhados nas feitorias. Chegando os portugueses, os nativos eram recompensados através de um escambo com produtos europeus. c) o início da colonização do Brasil: os indígenas estão derru- bando as árvores para formar os campos onde seria feito o plantio da cana-de-açúcar e a construção dos engenhos. d) o medo dos nativos brasileiros com a chegada das naus portuguesas: eles estão abatendo árvores para constru- ção de fortificações e defesa da ameaça europeia. e) homens nus, selvagens, que conviviam pacificamente com animais de grande porte, o que causava grande es- panto e medo aos colonizadores. 3 (UFPI) O período da nossa história conhecido como pré-colo- nizador pode ser caracterizado pelos seguintes pontos: I. A descoberta de metais preciosos, particularmente, prata e diamantes na região amazônica. II. A montagem de estabelecimentos provisórios, conhe- cidos como feitorias, onde eram feitas trocas comerciais entre os navegantes portugueses e os povos indígenas do Brasil. III. A criação das cidades de São Vicente e Desterro no litoral da América portuguesa. IV. A utilização da mão de obra indígena para a exploração de madeira, particularmente, do pau-brasil. Dentre as afirmativas anteriores estão corretas apenas: c a) I e II. b) II e III. c) II e IV. d) III e IV. e) I e IV. 4 (PUC-RJ) Eu, El-Rei, faço saber aos que este meu regimento virem, que sendo informado das muitas desordens que há no sertão do pau-brasil, e na conservação dele, de que se tem seguido haver hoje muita falta, cada vez será o dano maior se não se atalhar e der nisso a ordem convenien- te [...]: mando que nenhuma pessoa possa cortar, nem man- dar cortar o dito pau-brasil, por si ou seus escravos, sem expressa licença do provedor-mor da minha Fazenda [...]; e quem o contrário fizer incorrerá em pena de morte e con- fiscação de toda a sua fazenda. Felipe III. Regimento do pau-brasil, 1605. No contexto da colonização das terras do Brasil, o regimento do rei Felipe III apresenta medidas associadas: b a) à afirmação do poder da Coroa espanhola, em detrimento dos comerciantes e colonos portugueses. b) ao caráter monopolista da extração do pau-brasil, pois era necessária autorização expressa da Coroa para atividade extrativista. c) às preocupações da Coroa na preservação da Mata Atlân- tica, que estava sendo devastada pelos colonos. d) à importância do pau-brasil no comércio colonial como principal produto de exportação da América portuguesa, em inícios do século XVII. e) à afirmação da política absolutista dos reinos europeus cer- ceadora de todas as iniciativas dos colonos nas Américas. Ene m C-6 H-27 Ene m C-2 H-8 R E P R O D U Ç Ã O /IN S TI TU TO C U LT U R A L B A N C O S A N TO S , S Ã O P A U LO 20 Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos AS CAPITANIAS HEREDITÁRIAS Navios franceses, contudo, continuavam a assediar o litoral da colônia portuguesa. Diante dessa situação, o rei dom João III percebeu que para colonizar as novas terras não bastava simplesmente fundar vilas. Seria ne- cessário adotar outro regime de colonização. O modelo escolhido foi o das capitanias hereditárias. Esse sistema de colonização já havia sido utilizado pelo governo português nas ilhas da Madeira, Açores e Cabo Verde. Consistia em dividir um território em gran- des extensões de terras e conceder a particulares – os capitães donatários – o direito de explorá-las. Assim, entre 1534 e 1536, o governo de Portugal dividiu sua colônia na América em quinze faixas de terra lineares e paralelas, que se estendiam, no sentido norte- -sul, de regiões dos atuais estados do Pará e Maranhão até Santa Catarina e, no sentido leste-oeste, do litoral até a linha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas (veja o mapa ao lado). Para financiar a colonização dos enormes lotes, a Coroa portuguesa decidiu buscar o apoio da ini- ciativa privada. Como os nobres não manifestaram interesse em desbravar as novas terras, dom João III concedeu as ca- pitanias a militares envolvidos na conquista das Índias e a altos burocratas da Corte em condições financeiras de colonizar os lotes. Ao todo, doze pessoas foram con- templadas. Algumas, como Martim Afonso de Sousa e seu irmão Pero Lopes de Sousa, receberam mais de uma capitania. Os capitães donatários Os donatários não eram proprietários das capita- nias. Por isso não poderiam vendê-las, mas somente ex- plorá-las. Em compensação, podiam transmiti-las a seus filhos. Entre seus direitos e atribuições, estavam os de fundar vilas, doar lotes de terras (as sesmarias – origem dos primeiros latifúndios), nomear ouvidores, tabeliães, escrivães e juízes. Podiam também co- brar impostos sobre tudo o que fosse produzido na capitania. Mas nem mesmo esses privilégios foram suficientes para estimular alguns donatários a iniciar o povoamento de suas capitanias. Uma das razões para isso é que eles deveriam arcar com as despesas da viagem até as novas terras. Assim, quatro donatários nem sequer saíram de Portugal para conhecer suas terras além- -mar. Outros enfrentaram inúmeros problemas: dificuldade para desbravar áreas que chegavam a ser maiores do que países europeus, doenças, escassez de recursos, desentendimentos internos e ataques indígenas. Dos oito donatários que vieram para suas terras, dois morreram em naufrágios e um – Francisco Pereira Coutinho, da capitania da Baía de Todos-os-Santos – foi morto e comido pelos Tupinambá; Pero do Campo Tourinho, da capitania de Porto Seguro, foi preso pelos próprios colonos e enviado à Inquisição portuguesa, sob acusação de heresia; três outros interessaram-se pouco por suas capitanias – entre eles Vasco Fernandes Coutinho, donatário da capitania do Espírito Santo (veja o boxe “Patrimônio e diversidade”, na página 21) – e apenas Duarte Coelho viu seus negócios prosperarem. Corte: lugar de residência de um rei, rainha ou imperador; círculo de pessoas, geralmente da nobreza, mais próxi- mas de um monarca e que residiam nas proximidades de seu palácio; também faziam parte da Corte os mi- nistros e os altos funcionários do rei, rainha ou imperador. G LO SS Á R IO FO N T E : A tla s hi st ór ic o es co la r. R io d e Ja ne iro : M E C , 1 99 6. Capitanias hereditárias OCEANO ATLÂNTICO Equador MARANHÃO João de Barros e Aires da Cunha MARANHÃO Fernando Álvares de Andrade CEARÁ Antônio Cardoso de Barros RIO GRANDE João de Barros e Aires da Cunha ITAMARACÁ Pero Lopes de Sousa PERNAMBUCO Duarte Coelho BAÍA DE TODOS-OS-SANTOS Francisco Pereira Coutinho ILHÉUS Jorge Figueiredo Correia PORTO SEGURO Pero do Campo Tourinho ESPÍRITO SANTO Vasco Fernandes Coutinho SÃO TOMÉ Pero de Góis SÃO VICENTE Martim Afonso de Sousa SANTO AMARO Pero Lopes de Sousa SANTANA Pero Lopes de Sousa SÃO VICENTE Martim Afonso de Sousa LI N H A D O T R A T A D O D E T O R D E S IL H A S N 285 km 0 Capitanias que prosperaram Capitanias que não prosperaram Limites atuais do território brasileiro Acesse o Material Comple- mentar disponível no Portal e aprofunde-se no assunto. Representação e Linguagem 21 H IS TÓ R IA Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos Espírito Santo: Num domingo de Pentecostes No dia 1o de junho de 1534, o rei de Portugal dom João III assinou uma carta concedendo ao militar Vasco Fernandes Coutinho a doação de uma capitania hereditária na colônia portuguesa da América. Vasco vendeu seusbens e com o dinheiro arrecadado embarcou com sessenta pessoas, muitas delas presos condenados ao degredo. Chegou em sua capitania em 1535. Era domingo de Pentecostes, festa religiosa cristã, e por isso deu a suas terras o nome de Espírito Santo. Vasco Fernandes Coutinho determinou a formação de um vilarejo no sopé do atual morro da Penha. Nascia assim a Vila do Espírito Santo, atual cidade de Vila Velha, o maior e mais antigo município do estado do Espírito Santo. A cultura de milho foi, no início, a principal atividade econômica dos habitantes da vila. Daí surgiu a expressão capixaba, derivada do tupi kapi’xawa, que quer dizer “terra de plantação”. A capital capixaba, Vitória, seria fundada dezesseis anos mais tarde, em 1551, na ilha de Santo Antônio. Entre o final do século XVI e o começo do século XVIII, a capitania do Espírito Santo sofreu sucessivos ataques de franceses, ingleses e holandeses. Para defender-se, seus habitantes ergueram quatro fortificações na ilha de Santo Antônio. A mais importante delas foi o Forte de São João, do qual já não restam vestígios. Ainda hoje, marcas desse período inicial da colonização do Espírito Santo po dem ser vistas pelo estado. Em Vila Ve lha, por exemplo, encontram-se algumas das primeiras construções erguidas na co lônia portuguesa da Amé rica, como é o caso do con ven to Nossa Senhora da Penha, construído em 1558, e da igreja de Nos sa Senhora do Rosário, de 1573, a quarta mais antiga do Brasil. Além das construções históricas, o Espírito Santo mantém vivos hábitos e costumes herdados dos antigos povos indígenas que ocupavam a região há mais de quinhentos anos. Uma dessas tradições pode ser observada no bairro das Goiabeiras, em Vitória, onde artesãs modelam em barro panelas, potes, travessas, bules, caldeirões e outros utensílios de cozinha. Para produzir esses objetos, as mulheres-artesãs empregam a mesma técnica utilizada pelos indígenas há mais de quinhentos anos. As panelas são modeladas manualmente, sem o uso do torno de oleiro. O conhecimento desse ofício tem sido transmitido de mãe para filha ao longo de gerações. Para muitos, o uso da panela de barro dá um sabor todo especial a um dos mais tradicionais pratos da culinária do Espírito Santo: a moqueca de peixe capixaba, que leva, entre outros ingredientes, urucum, azeite, limão, cebola, tomate e coentro. PATRIMÔNIO E DIVERSIDADE Convento Nossa Senhora da Penha, no centro de Vila Velha (ES). Foto de 2009. R O G É R IO R E IS /P U LS A R IM A G E N S 22 Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos Pernambuco e São Vicente Donatário da capitania de Pernambuco, Duarte Coelho fundou as vilas de Igaraçu (cerca de 1535) e Olinda (1537) e procurou fixar os colonos à terra, promovendo casamentos com nativas. Além de incentivar a criação de gado e o cultivo de algodão, estimulou o plantio de cana-de-açúcar, lançando assim as bases da economia açucareira nordestina: em 1550, já funcionavam em Pernam- buco cinco engenhos de açúcar. Duarte Coelho foi também um dos primeiros colonizadores a recorrer à mão de obra africana escravizada em suas terras. Em 1539, pedia por carta ao rei dom João III “alguns escravos de Guiné”, ou seja, provenientes do golfo da Guiné, atual Gana. Depois de Pernambuco, a capitania que melhor se desenvolveu foi a de São Vicente, apesar de seu donatário, Martim Afonso de Sousa, não ter mais voltado às terras recebidas do rei. Vários povoados surgiram na região. Em 1546, Brás Cubas fundou a poucos quilômetros de São Vicente a segunda vila da capitania, Santos, onde ergueu a Casa de Misericórdia do Brasil para tratar dos doentes. Em 1548 funcionavam nessa capitania seis engenhos de açúcar. Entretanto, a atividade mais lucrativa era o tráfico de nativos escravizados: naquele ano, para uma população de cerca de 600 colonos de origem europeia, havia mais de 3 mil indígenas escravizados. ACESSE O SITE Biblioteca Digital de Cartogra- fia Histórica da USP Reúne mapas, informações carto- gráficas, biografias entre muitos outros dados referentes, princi- palmente, à História do Brasil e da América. Disponível em: <www. cartografiahistorica.usp.br/>. Acesso em: 15 jan. 2015. AS CAPITANIAS EM XEQUE Apesar do êxito das capitanias de Pernambuco e São Vicente, as capitanias hereditárias contri- buíram com menos de 3% de todas as rendas da Coroa portuguesa. Tal situação expunha as fragili- dades do sistema de colonização escolhido por Portugal: a ligação entre as capitanias era precária, o poder encontrava-se disperso entre os donatários e os conflitos com os indígenas se intensificavam. Além disso, os navios franceses continuavam assediando o litoral. No final de 1548 o governo português concluiu que estava na hora de assumir o controle da colônia e implantou uma forma de administração centralizada: o Governo-Geral. Brasão da família de Martim Afonso de Sousa, donatário da capitania de São Vicente. Brasões são desenhos criados para identificar famílias, cidades ou mesmo países. Sua elaboração obedece a certas regras determinadas por um campo de estudo chamado heráldica. M U S E U H IS TÓ R IC O N A C IO N A L, R IO D E J A N E IR O /A R Q U IV O D A E D IT O R A Primeira página da carta de doação da capitania de Pernambuco a Duarte Coelho, datada de 10 de março de 1534. Documento pertencente ao acervo do Arquivo Nacional Torre do Tombo, Lisboa, Portugal. IN S TI TU TO D O S A R Q U IV O S N A C IO N A IS /T O R R E D O T O M B O , L IS B O A 23 H IS TÓ R IA Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos PARA CONSTRUIR TAREFA PARA CASA: Para praticar: 3 Para aprimorar: 3 e 4 5 (Mack-SP) NOVAES, Carlos Eduardo; LOBO, César. História do Brasil para principiantes. São Paulo: Ática, 2003. p. 61. A charge refere-se: b a) à organização do Governo-Geral, em 1549, dividindo o território brasileiro em extensos lotes de terras, entregues, por sua vez, a nobres portugueses responsáveis pelo início efetivo da colonização do Brasil. b) às dificuldades encontradas pela Coroa portuguesa no início da colonização do Brasil, uma vez que, em virtude, dentre outros, do fracasso das capitanias hereditárias, a colônia sofria constantes ataques de piratas europeus. c) ao fracasso do Governo-Geral, em virtude da corrupção existente na Corte portuguesa, transferida para o Brasil, responsável pela concessão de privilégios aos piratas franceses no comércio do pau-brasil. d) ao Governo-Geral, responsável pela efetivação da colonização brasileira, por meio de incentivos aos bandeirantes paulistas, para que ultrapassassem os limites de Tordesilhas e expulsassem os piratas franceses fixados no litoral. e) às dificuldades encontradas pela Coroa portuguesa na efetiva organização da exploração da colônia, uma vez que a abundância de metais preciosos ali despertou, nos piratas europeus, o interesse pelas terras lusas na América. 6 As capitanias hereditárias representaram um novo sistema de colonização do território português na América do Sul. Quais eram as características fundamentais desse modelo de colonização? As capitanias hereditárias consistiam na divisão do território em grandes extensões de terras concedidas a particulares, os capitães donatários, que recebiam permissão real para explorá-las. Assim, entre 1534 e 1536, dom João III dividiu a colônia portuguesa na América em 15 faixas de terra lineares e paralelas. Para financiar a colonização dos enormes lotes, a Coroa portuguesa buscou apoio da iniciativa privada. Entre os direitos e atribuições dos donatários estavam os de fundar vilas, doar lotes de terras (as sesmarias – origem dos primeiros latifúndios), nomear ouvidores, tabeliães, escrivães e juízes. Ene m C-1 H-1 R E P R O D U Ç Ã O /A R Q U IV O D A E D IT O R A 24 Idade Moderna II: do início da colonização portuguesana América à independência dos Estados Unidos TAREFA PARA CASA As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos. Veja, no Guia do Professor, as respostas da “Tarefa para casa”. PARA PRATICARPARA PRATICAR 1 (PUC-RS) Entre 1500 e 1530, os interesses da Coroa portu- guesa, no Brasil, focavam o pau-brasil, madeira abundante na Mata Atlântica e existente em quase todo o litoral brasileiro, do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro. A extração era fei- ta de maneira predatória e assistemática, com o objetivo de abastecer o mercado europeu, especialmente as manufatu- ras de tecido, pois a tinta avermelhada da seiva dessa madei- ra era utilizada para tingir tecidos. A aquisição dessa matéria- -prima brasileira era feita por meio da: a) exploração escravocrata dos europeus em relação aos ín- dios brasileiros. b) criação de núcleos povoadores, com utilização de traba- lho servil. c) utilização de escravos africanos, que trabalhavam nas feitorias. d) exploração da mão de obra livre dos imigrantes portu- gueses, franceses e holandeses. e) exploração do trabalho indígena, no estabelecimento de uma relação de troca, o conhecido escambo. 2 (Vunesp) [Os Tupinambá] têm muita graça quando falam [...]; mas faltam-lhe três letras das do ABC, que são F, L, R gran- de ou dobrado, coisa muito para se notar; porque, se não têm F, é porque não têm fé em nenhuma coisa que adoram; nem os nascidos entre os cristãos e doutrinados pelos pa- dres da Companhia têm fé em Deus Nosso Senhor, nem têm verdade, nem lealdade a nenhuma pessoa que lhes faça bem. E se não têm L na sua pronunciação, é porque não têm lei alguma que guardar, nem preceitos para se governarem; e cada um faz lei a seu modo, e ao som da sua vontade; sem haver entre eles leis com que se governem, nem têm leis uns com os outros. E se não têm esta letra R na sua pronuncia- ção, é porque não têm rei que os reja, e a quem obedeçam, nem obedecem a ninguém, nem ao pai o filho, nem o filho ao pai, e cada um vive ao som da sua vontade [...] Gabriel Soares de Souza. Tratado descritivo do Brasil em 1587. 1987. O texto destaca três elementos que o autor considera inexis- tentes entre os Tupinambá, no final do século XVI. Esses três elementos podem ser associados, respectivamente: a) à diversidade religiosa, ao poder judiciário e às relações familiares. b) ao respeito por Deus, à obediência aos pais e à aceitação dos estrangeiros. c) ao catolicismo, ao sistema de governo e ao respeito pelos diferentes. d) à estrutura política, à anarquia social e ao desrespeito familiar. e) à fé religiosa, à ordenação jurídica e à hierarquia política. 3 A obra reproduzida a seguir, Adoração dos reis magos, foi pin- tada por volta de 1505 e é uma representação da homena- gem que teria sido prestada ao menino Jesus por sábios vin- dos do Oriente, segundo relato do Novo Testamento, um dos livros da Bíblia. O pintor, contudo, representou um dos sábios como um indígena. Com base na cena e especialmente nes- se personagem, escreva um texto sobre a visão dos europeus a respeito dos nativos da América, levando em conta as dife- renças culturais entre os dois povos. PARA PRATICARPARA APRIMORAR 1 (UFRJ) Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro e Minho, porque neste tempo dagora as- sim os achávamos como os de lá. [As] águas são muitas; infi- nitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem! Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar pare- ce-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que não houvesse mais do que ter Vossa Alteza aqui esta pousada para essa navegação de Calicute [isso] bastava. Quanto mais, disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa fé! Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal em 1o maio de 1500. Ene m C-1 H-2 tada por volta de 1505 e é uma representação da homena- gem que teria sido prestada ao menino Jesus por sábios vin- dos do Oriente, segundo relato do Novo Testamento, um dos tada por volta de 1505 e é uma representação da homena- Ene m C-1 H-2 Executado por volta de 1505 pelo pintor português Vasco Fernandes, esse quadro a óleo intitulado Adoração dos reis magos representa uma cena do Novo Testamento, um dos livros da Bíblia. Nessa representação, um dos reis magos tradicionais é substituído por um indígena das terras que hoje pertencem ao Brasil. M U S E U D E G R Ã O V A S C O , V IS E U /A R Q U IV O D A E D IT O R A 25 H IS TÓ R IA Idade Moderna II: do início da colonização portuguesa na América à independência dos Estados Unidos Seguindo a evidente preocupação de descrever ao rei de Portugal tudo o que fora observado durante a curta estadia na terra denominada de Vera Cruz, o escrivão da frota cabralina menciona, na citada carta, possibilidades oferecidas pela terra recém- -conhecida aos portugueses. Dentre essas possibilidades estão: a) a extração de metais e pedras preciosas no interior do território, área não explorada então pelos portugueses. b) a pesca e a caça pela qualidade das águas e terras onde aportaram os navios portugueses. c) a extração de pau-brasil e a pecuária, de grande valor econômico naquela virada de século. d) a conversão dos indígenas ao catolicismo e a utilização da nova terra como escala nas viagens ao Oriente. e) a conquista de Calicute a partir das terras brasileiras e a cura de doenças pelos bons ares aqui encontrados. 2 (PUC-SP) Leia as duas estrofes a seguir: Pindorama, Pindorama É o Brasil antes de Cabral Pindorama, Pindorama É tão longe de Portugal Fica além, muito além Do encontro do mar com o céu Fica além, muito além Dos domínios de Dom Manuel. Vera Cruz, Vera Cruz Quem achou foi Portugal Vera Cruz, Vera Cruz Atrás do Monte Pascoal Bem ali Cabral viu Dia vinte e dois de abril Não só viu, descobriu Toda terra do Brasil. PERES, Sandra; TATIT, Luiz. Pindorama. In: Palavra Cantada, Canções Curiosas, 1998. Entre as várias referências da letra da canção à chegada dos portugueses à América, pode-se mencionar: a) a preocupação com os perigos da viagem, a distância excessiva e a datação exata do momento da descoberta. b) o caráter documental do texto, que reproduz o tom, a intenção informativa e a estrutura dos relatos de viajantes. c) a dúvida quanto à expressão mais adequada para designar a chegada dos portugueses, daí a variação de verbos. d) o pequeno conhecimento das novas terras pelos conquistadores, indicando sua crença de terem chegado às Índias. e) a diferença entre os termos que nomeavam as terras, sugerindo uma diferença entre a visão do índio e a do português. 3 A princípio, os portugueses não priorizaram a ocupação das terras descobertas em 1500, já que o comércio com as Índias mostra- va-se mais atraente que o arriscado investimento na busca de riquezas – principalmente metais preciosos – nos novos domínios. Entretanto, poucos anos após a descoberta, a Coroa enviou as primeiras expedições para garantir a posse portuguesa. Com base nas informações apresentadas neste capítulo – e, se julgar necessário, com dados de livros, revistas, internet e outras fontes de pesquisa – elabore uma linha do tempo, indicando nela as diferentes formas de aproximação, defesa, exploração e administração adotadas por Portugal em relação à sua colônia ao longo da primeira metade do século XVI. 4 (Fuvest-SP) Observe as rotas no mapa e responda. Viagens portuguesas na época moderna Lisboa ÁFRICA EUROPA AMÉRICA Cabo da Boa Esperança (1488) ÍNDIA ÁSIA (1498) Calicute (1500) OCEANO ATLÂNTICO OCEANO ÍNDICO Bartolomeu Dias Vasco da Gama Pedro Álvares Cabral N 1 667 km 0 a) O que representou, para os interesses de Portugal, a rota marítima Lisboa-Cabo da Boa
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