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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO Prof. Dr. Laíno Alberto Schneider SUMÁRIO APRESENTAÇÃO DO AUTOR.............................................................................................................................3 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................................5 Capítulo 1 – Filosofia da Educação............................................................................................................................7 1.1 A Importância Da Filosofia Da Educação..................................................................................7 1.2 O Papel E Objetivos Da Disciplina...............................................................................................10 1.3 O Que É Filosofia Da Educação..................................................................................................11 1.3.1 Filosofia.................................................................................................................................13 1.3.2 Educação............................................................................................................................14 1.4 Modelos Antropológicos.......................................................................................................................14 Capítulo 2 - O Mito Da Caverna................................................................................................................................17 2.1 A Transição Do Pensamento Mítico Para O Filosófico...........................................................23 Capítulo 3 - O Entorno Educacional........................................................................................................................26 3.1 Realidade Sócio-Cultural......................................................................................................................26 3.2 O Real E O Abstrato..............................................................................................................................28 3.3 A Relação Dialógica..............................................................................................................................29 3.4 O Visível E O Invisível...........................................................................................................................32 3.5 Encontros E Desencontros...............................................................................................................33 Capítulo 4 - Comunidade Educacional................................................................................................................36 4.1 A Instituição...............................................................................................................................................36 4.2 A Família....................................................................................................................................................40 4.3 Os Professores.......................................................................................................................................42 4.4 Os Alunos..................................................................................................................................................45 4.5 A Escola.....................................................................................................................................................47 Capítulo 5 - Modelos De Educação......................................................................................................................49 5.1 Ensino.........................................................................................................................................................50 5.2 Sociedade.................................................................................................................................................51 5.3 Posturas Éticas........................................................................................................................................52 5.4 Acessibilidade...........................................................................................................................................53 Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 3 Capítulo 6 - A Escola E A Relação De Poder..................................................................................................56 6.1 Espaço De Competição....................................................................................................................58 Capítulo 7 - Modelos Filosóficos.............................................................................................................................63 7.1 O Modelo De Aristóteles....................................................................................................................64 7.2 Sócrates....................................................................................................................................................65 7.3 Platão.........................................................................................................................................................66 7.4 Erasmo Roterdan................................................................................................................................66 7.5 Michel De Montaigne..........................................................................................................................67 7.6 Rousseau................................................................................................................................................67 7.7 Augusto Comte.....................................................................................................................................68 Capítulo 8 - Homem E Mundo..............................................................................................................................72 8.1 Quem É O Homem?........................................................................................................................73 8.2 Inquietação Humana.........................................................................................................................76 8.3 Quem E O Que Está Se Formando..........................................................................................76 8.4 Rumos Da Educação.......................................................................................................................79 8.5 Tendências E Exigências................................................................................................................80 Capítulo 9 - Desafios Da Filosofia Da Educação...........................................................................................84 9.1 Caminhos E Descaminhos............................................................................................................84 9.2 Questões Temáticas.........................................................................................................................85 9.2.1 A Felicidade.......................................................................................................................86 9.2.2 A Morte................................................................................................................................87 9.2.3 A Violência..........................................................................................................................89 9.2.4 Mídia......................................................................................................................................10 9.2.5 Ética.......................................................................................................................................91Capítulo 10 - A Importância Da Filosofia Para Crianças............................................................................94 10.1 Como Lidar Com Crianças.........................................................................................................95 10.2 As Atividades Formais E Informais..........................................................................................97 10.3 A Importância Do Lúdico..............................................................................................................97 10.4 O Fazer E Dizer................................................................................................................................99 10.5 Compreender E Explicar Os Motivos.....................................................................................100 Considerações Finais..............................................................................................................................................102 Referências...................................................................................................................................................................104 APRESENTAÇÃO DO AUTOR Sou o professor Laíno Alberto Schneider e serei o tutor dessa disciplina de História da Educação. Gosto muito de trabalhar em parceria e como tal contem comigo. A minha formação acadêmica é filosofia e antropologia. Sou formado em filosofia pela FAFIMC, em 1987; pós-graduado em 1991 como mestre em Antropologia Filosófica pela PUCRS, com a pesquisa: O papel do legislador no contrato social de Jan Jacques Rousseau. Doutor em Filosofia pela UPS (Salamanca- Espanha). Na área da pesquisa coordeno o grupo de pesquisa em Ciência da Religião. Nos últimos anos pesquisei a temática da morte, as tribos urbanas dentro da Universidade, assim como estou, também, pesquisando sobre as culturas indígenas. Minha tese de doutorado foi sobre a aplicação do conceito de vida de Ortega y Gasset na cultura Guarani da comunidade de Canta Galo, em Viamão- RS. Tenho publicações na área da antropologia, filosofia e metodologia científica. Concluí meu doutorado em Filosofia no ano de 2000 e obtive o reconhecimento pela UFRGS em 2006, como Doutor em Antropologia Social. Atualmente administro as disciplinas de Pesquisa Social, Movimentos Sociais e Sociedade Civil, instrumentalização científica, História da Educação e Epistemologia das Ciências Sociais. Já trabalhei as disciplinas de antropologia e ética, assim como, também, introdução à filosofia. Fiz parte durante três anos do CEP Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 5 (comitê de ética em pesquisa da ULBRA). Sou professor e pesquisador da ULBRA, desde 1994. Gostaria de destacar minha disposição e satisfação em poder trabalhar com vocês. Contem comigo em todas as horas e, sobretudo, nas difíceis. Tenho convicção de que o conhecimento não se transmite, mas se constrói e gostaria de compartilhar com vocês esta tarefa. Sou educador, pois penso que a grande tarefa de um professor é ter a noção da capacidade e da necessidade de aprender. Sejam todos bem-vindos!!! Contem comigo. Espero e desejo que a nossa convivência seja motivadora e sólida na dignificação de nós seres humanos. Um grande abraço e um bom trabalho para todos nós. Prof.: Dr. Laíno Alberto Schneider. INTRODUÇÃO A disciplina de Filosofia da Educação tem como foco o repensar da postura do educador frente sua realidade de sala de aula. Será que o aluno é tratado como um ser agente da educação ou simplesmente como um ser paciente, que apenas recebe instrução e nada tem a contribuir para o seu processo de aprendizagem. Ao se falar do aluno e dos modelos educacionais há um grande contraste, pois os modelos são antigos e, por vezes, não condizem com a realidade do educando e do educador. Modelos esses que visam apenas a disciplina e a aprendizagem como algo a ser absorvido. Pensar e refletir a educação, portanto ser um filósofo educacional é questionar a postura pessoal e coletiva, é saber ouvir os educando, é buscar a melhoria da educação. O educar filósofo é aquele que busca algo mais, que procura o novo e interage com o todo educacional. Refletindo sobre o meio ambiente, sobre a educação e aos parâmetros nos quais está inserido. A Filosofia da Educação fará um caminho de repensar desde os conceitos básicos de educação e filosofia, fará uma leitura e uma releitura do Mito da Caverna Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 7 de Platão, discutirá o entorno educacional e da comunidade educacional, quais os modelos de educação que se têm, a escola e a relação de poder, os modelos filosóficos, o homem e o mundo, quais são os desafios da filosofia da educação e, por fim, a importância da filosofia para crianças. O objetivo da disciplina é que o aluno reflita sobre o que é e o que significa educar no contexto e nas situações de hoje. Junto com essa questão buscar-se-á no decorrer da disciplina destacar a fundamental importância do pensar e do refletir no entorno educacional. Que tipo de educação está se construindo? No desenvolvimento desse conteúdo espera-se que as respostas para essa e outras questões sejam alcançadas. Então, vamos iniciar nossa caminhada nos meambros, caminhos e descaminhos da educação e chegar ao caminho que leva o educador a ser um filósofo da educação. Pensar, refletir e mudar! Bom estudo! Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 8 Filosofia da Educação “Que eu saiba, nenhum filósofo até agora foi sufucientemente ousado para dizer: eis o termo aonde o homem pode chegar e que não seria capaz de ultrapassar. Ignoramos o que nossa natureza nos permite ser; nenhum de nós mediu a distância que pode haver entre um homem e outro homem”. Jean Jacques Rousseau 1.1. A importância da filosofia da educação Segundo o dicionário Houais (versão eletrônica) a educação é a aplicação dos métodos próprios para assegurar a formação e o desenvolvimento físico, intelectual e moral de um ser humano; pedagogia, didática, ensino. Portanto, educação envolve não apenas o ato em si, mas o entorno desse ato, determinando posturas que possibilitem a formação do indivíduo como um todo. A educação formal, na escola deve proporcionar ao indivíduo contínua transformação e, como tal, possibilitar reconstrução social. Quem é o homem? O ser humano é um ser em eterna construção. É um ser inacabado, porque se constrói a cada nova possibilidade que se avizinha. O ser humano é um ser potencial, pois tem possibilidade de sempre acrescer novos conhecimentos ao seu repertório. Por isso, o homem é um ser inacabado. O homem é um ser cultural, pois está inserido dentro de uma estrutura. Estrutura essa familiar, social, cultural (o micro e macro). 1 Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 9 Querer convencer uma pessoa dizendo que algo é ou não importante é sempre uma tarefa muito difícil. Essa dificuldade é maior quando as diversidades sociais se apresentam. Os interesses e motivações são proporcionais ao grau de vontade com que se quer algo. Por isso, pede-se, de antemão, que a disciplina de filosofia da educação não seja objeto somente de desejo, mas sim algo buscado com um sentimento de completude da própria existência. A importância das coisas não precisa ser dita. O tempo e o espaço vão se encarregar de demonstrar tal realidade. Assim como os pais, por vezes, se tornam opressores por quererem realçar alguns aspectosda formação e da caminhada de uma pessoa enfatizar a importância da filosofia é uma forma que se encontra para olhar o caminho pelo espelho retrovisor. Analogamente a filosofia é refletir sobre o quê é e deveria ser o pensamento entorno da educação. A filosofia da educação não é a resposta, mas o questionamento sobre a educação. Pitágoras, no século VI a.C, definiu a filosofia como amor pela sabedoria, experimentado apenas pelo ser humano consciente de sua própria ignorância. Cabe conceituar Filosofia. Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Filosofia (do grego Φιλοσοφία: philos - amor, amizade + sophia - sabedoria) modernamente é uma disciplina, ou uma área de estudos, que envolve a investigação, análise, discussão, formação e reflex ão de idéias (ou visões de mundo) em uma situação geral, abstrata ou fundamental. Ori ginou-se da inquietação gerada pela curiosidade humana em compreender e questionar os valores e as interpretações comumente aceitas sobre a sua própria realidade. As interpretações comumente aceitas pelo homem constituem inicialment e o embasamento de todo o conhecimento. Estas interpretações foram adquiridas, enriquecidas e repassadas de geração em geração 1. O termo filosofia refere-se ao amor à sabedoria. Por vezes, se traduz filosofia por “amor ao saber”, mas para os gregos, inventores do vocábulo, havia uma distinção entre o saber como conhecimento teórico e a sabedoria como conhecimento teórico e prático, próprio dos sábios. 1 Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofi a, acessado em 03/05/2010 Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 10 A questão sobre o que é a filosofia é feita inúmeras vezes. Isso não só no meio acadêmico, mas no cotidiano de todas as pessoas, pois todos, em algum momento, se questionam sobre sua postura, sua visão de mundo, seu modo de ser e agir, ou mesmo seu lugar no mundo. Se questionar sobre filosofia não é um privilégio de acadêmico, doutores ou filósofos, todo ser humano em algum momento de sua existência pára para refletir sobre sua própria existência, procura resposta, faz suposições sobre a vida. Filosofar é, num primeiro momento, refletir sobre a Vida. O ser humano, como ser racional, questiona-se sobre tudo o que o rodeia. Essa reflexão está mais aguçada quando nos referimos aos filósofos. O filósofo é, portanto, concebido como aquele que busca o conhecimento puro e não se deixa corromper por sistemas pré-estabelecidos. Especulação sobre a verdade e a natureza da verdade e do universo são preceitos típicos do espírito filosófico. Ser filosofo vai além do saber teórico. Ser filósofo é querer saber, provar, comprovar seu conhecimento. Num exemplo prático temos as situações de trânsito. Quando no trânsito o indivíduo que está em deslocamento olhando à frente, através do pára-brisa, tem uma visão de perspectiva. Agora no momento em que alcança um olhar através do espelho retrovisor apresenta aí a possibilidade da reflexão, ou seja, do refletir no por vir e nas possibilidades que poderão se efetivar. Gostar-se-ia que, para o começo do deslocamento, essa seja a primeira idéia a ser construída a partir da concepção da filosofia da educação. 1º.O primeiro conceito de educação é, como se disse , o operado pelas sociedades primitivas e também, parcialmente, nas s ociedades secundárias, sobretudo no que toca à E. moral e religiosa. Consi ste na transmissão pura e simples das técnicas consideradas válidas e na tran smissão simultânea da crença no caráter sagrado, portanto imutável, de tais técnica s [...]. 2º. O segundo conceito de E. é aquele pelo qual a tr ansmissão das técnicas já adquiridas tem sobretudo a finalidade de tornar pos sível, através da iniciativa dos indivíduos, o aperfeiçoamento dessas técnicas. Dess e ponto de vista, a E. é definida não do ponto de vista da sociedade, mas do ponto de vista do indivíduo: a formação do indivíduo, a sua cultura, tornam-se o fim da edu cação 2. 2 ABBAGNANO, 289, 1982. Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 11 Os conceitos que são elaborados ao longo da existência reproduzem a compreensão que se tem das coisas, das pessoas, dos objetos e das circunstâncias. Em função de tal circunstância, precisa-se estar atentos e convictos dos conceitos e dos juízos que são feitos das realidades com as quais se deparam. A idéia primordial que coloca o sujeito diante de tais questões, necessariamente, perpassa a condição de necessidade e, com certeza, a filosofia da educação visa buscar a compreensão, nos dias de hoje, da sua importância. Emanuel Kant afirma que não há filosofia que se possa aprender e sim aprender a filosofar. Esse será o desafio a ser buscada nessa disciplina. 1.2. O papel e objetivos da disciplina O papel do filosofo de educação é o de ajudar e desvelar as exigências e necessidades no processo de ensino aprendizagem. Sobretudo o educador precisa aprender que a educação somente se faz com pessoas. As pessoas são educadas e não doutrinadas. Educar “para” é sempre um desafio. Formar e educar uma pessoa são tarefa difícil, mas quem trabalha com educação precisa aprender que a sua função é homérica, pois planta, semeia e muitas vezes não está mais presente para colher os frutos. O que difere o ser humano dos demais animais é a capacidade de aprender. Onde entra a filosofia da educação? O por quê da filosofia da educação? Diante dessa pergunta brota a necessidade de um momento de silencio e reflexão. No instante que se elabora tal questão precisa-se objetivar uma resposta. Muito mais do que somente apresentar a resposta, o papel da disciplina está latente na circunstância em que se percebem as atitudes e os motivos que estão orientando uma ação. As coisas, ou ações, que desenvolvemos são frutos ocasionais ou não? Que grau de consciência se tem daquilo que se faz? Encontrar essas respostas é o começo da compreensão do papel que a disciplina deverá desempenhar. Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 12 O mais difícil numa resposta é compreender com exatidão a pergunta. Nesse momento entra a questão do conceito de filosofia da educação. 1.3 O que é filosofia da educação A filosofia da educação é a sabedoria presente no olhar. Olhar de compreensão do porquê e para quem o modelo de formação escolhido atende. Por exemplo, se o referencial for econômico, o investimento todo será canalizado em como fazer, isto é, na elaboração da estrutura ou do prédio. Sendo um modelo de formação de seres humanos, o investimento recairá sobre o indivíduo, a pessoa. Investir em estrutura possui um preço, já investir no ser humano requer valor, habilidade, maestria. A sabedoria não pode ser capturada em tempo determinado, pois requer amadurecimento e compreensão. Na ânsia de se buscar respostas imediatas para o aqui e agora, somente ter-se-á como foco o resultado e não as conseqüências mediatas do processo. Portanto, enxergar-se-á apenas o resultado fugaz do processo. Como fica o pós-momento? Nessa relação isso não é tão importante, pois visualiza um resultado eficaz, mas nem sempre eficiente. Existe um modelo pré-definido, quando se perde o foco o sentido do quer fica ofuscado. Como exemplo pode-se descrever a seguinte situação de um cidadão comum, com sua rotina. Um dia quando se vê forçado a mudá-la percebe as dificuldades. Exemplificando: O indivíduo Monteiro Lobato, vítima de um desconforto orgânico, dirige-se imediatamente ao um posto de saúde. Como o quadro dele exigia aparentemente pouco cuidado, logo pediu-se que aguarda-se, chega uma enfermeira e lhe pergunta: o que você está sentindo?Ao que prontamente Monteiro Lobato responde: estou sentindo uma falta de ar. Nesse instante a enfermeira verificou a pressão e pediu que aguardasse por mais um tempo. E assim o tempo foi passando até que Monteiro Lobato se irritou e começou a protestar o seu não atendimento. Logo apareceu um segurança e pedindo que ele controlasse a sua inquietação: Por favor comporte-se, pois caso contrário terei que pedir-lhe para se retirar desse ambiente, estás criando um tumulto. Nesse momento Monteiro Lobato olhando no seu entorno Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 13 percebeu que tinha chamado a atenção de todos os presentes. Ao que prontamente reagiu com constrangimento, a ponto de dizer: Desculpem, não era a minha intenção. Após tal fato retornou a sentar-se solitariamente no seu banco. Passados mais, aproximadamente, 40 minutos pediram que se encaminhasse para o exame e assim o fez. Chegando ao consultório rapidamente foi examinado e constatado um problema inflamatório. Em função desse quadro recebeu dois medicamentos e após liberado. O tempo de espera, de exame, atendimento, deslocamento, consumiu boa parte do dia de Monteiro Lobato. A alteração da rotina possibilitou o surgimento de vários contratempos, pois como era pai de duas crianças e morava sozinho, não teve tempo e condições de encaminhá-las para a escola. Um contratempo severo, sério na vida de uma pessoa afeta toda uma rede que está no seu entorno, que fazem parte do seu cotidiano. As conseqüências daquele problema sério que, aparentemente, estava resolvido continuou replicando durante uma semana, pois no outro dia constatou que as crianças, pelo fato de não terem ido ao colégio, perderam várias atividades significativas. Com isso ampliando a sua situação de desconforto. Nessa rápida situação apresentada desenvolve-se toda uma realidade de situações de difícil solução, pois a organização do dia-a-dia das pessoas não permite o surgimento de qualquer contratempo. Portanto, se faz necessário e a grande tarefa que a filosofia da educação precisa contribuir é que se possa pensar o que realmente se entende por educação. A educação que Monteiro Lobato apresentou desde a sua saída de casa até o seu retorno pode ser classificada ou entendida como alguém que compreende as conseqüências do seu agir. A sabedoria não se identifica somente em momentos de êxtase, de abstrações, mas também no momento que se sabe discernir as implicações das suas atitudes. Dessa forma, educação é preparar o individuo para conviver sadiamente com as diversas e múltiplas situações. Portanto educação não é um processo do aqui e do agora, mas é um processo de formação de num ser humano. No momento em que se educa, não se está produzindo uma ferramenta, mas sim está se possibilitando uma perspectiva de uma realização de uma pessoa. A educação não é algo que cabe somente a instituição de ensino, a conseqüência disso com certeza afeta a sociedade de forma positiva ou negativa. Por isso a Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 14 pergunta: O que significa educar? É preparar o indivíduo para cumprir tarefas ou para as diversas realidades sócio-culturais? A rotina do fazer não possibilita espaço para contratempos. Temos uma família que já não é mais modelo de perfeição e harmonia. Antes havia um modelo pai-mãe- filhos, hoje essa estrutura não é mais o comum de se encontrar. Na realidade que se vive hoje temos que, em uma sala de aula, discernir entre o virtual, tão presente no cotidiano, e o real, aquilo que se tem acesso dentro do ambiente escolar. A tarefa da filosofia da educação é de pensar essa realidade em que cada ser humano está envolto. Numa turma de 40 alunos o professor se vê frente a 40 entornos diferentes, cada um com suas particularidades, com seus parâmetros. Nesse momento a filosofia da educação poderá alicerçar e dar parâmetros aos educadores que se preocupam com compreender as diferenças. 1.3.1. Filosofia O objetivo da filosofia é a formação de um homem integral, isto é, um homem com essência. Cabe a filosofia desenvolver no educador um espírito que possibilita a compreensão da essência presente em cada pessoa, entender as lógicas do agir de cada pessoa. Além disso, auxiliar na busca da dimensão de como deveriam ser as pessoas e as possibilidades. É tarefa da filosofia permitir um novo olhar sobre circunstancias já existentes. O filósofo é um ser que se encanta pela lógica e compreensão da explicação do porquê a pessoa pensa e age daquela forma. A filosofia tem como princípio desbanalizar o banal. Cabe ao filosofo questionar posturas e atitudes frente situações que se tornam banais mesmo sendo absurdas. Questionar, possibilitar não apenas o ver, mas o olhar o entorno. Filosofia, portanto, é tarefa. A filosofia não se ocupa do fazer, mas como fazer. E a filosofia da educação segue essa mesma estrada que é a de refletir sobre educação. Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 15 1.3.2 Educação Educar não é ensinar. Educar é formar um ser humano capaz de conviver e compreender as diversidades presentes no ambiente educacional. Quando se ensina, se transmite conhecimento pré-adquirido, mas quando se educa se possibilita a construção do conhecimento. É na pratica educativa que se formam seres integrais, como pregavam os gregos e sua paidéia. Educador é aquele que nutre seus educandos com possibilidades reais de desenvolvimento e não aquele que trata seus educandos como gavetas a serem preenchidas. No contexto atual vive-se uma diversidade, mas precisa-se formar um indivíduo na pluralidade. O grande desafio da atualidade educacional está no processo de visualização das múltiplas possibilidades de cada indivíduo. Educar não é concluir essas possibilidades, mas auxiliar a criança, jovem ou adulto a compreender as implicações do seu agir. Educação é um processo de acolhida das diversidades em torno de uma sociedade plural. Sociedade essa que é onde se vive e onde se está inserido. 1.4 Modelos antropológicos A grande questão é que ser humano está se formando: um ser humano consumista, materialista, integral, íntegro? Quem é esse ser humano formado no ambiente escolar? Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 16 Os conflitos de interesse que giram nas relações sociais estão cada vez mais plurais, pois antes o homem vivia num mundo pequeno, uma pequena comunidade, numa pequena aldeia. Os modelos eram poucos, pouco diversificados. Havia maior manutenção de valores. Agora o que se tem é uma pluralidade, diversificação de valores. O virtual é a realidade. Os modelos estão, por vezes, muito distantes, pois a informação é instantânea e múltipla. Ter um modelo, na atualidade, é algo raro. A urgência que se faz premente é que a educação precisa recolocar o homem como centro do processo educacional. Sendo que o conteúdo deve estar num segundo plano de importância. Formar o homem integral está muito acima do técnico, do conteudismo. O ser humano é um ser em constante formação e, por isso, o processo formativo requer toda uma atenção com o existir humano. Quais são os modelos antropológicos? Um modelo funcionalista, onde cada um tem sua função? Um modelo estruturalista, em que todos se enquadram dentro de uma sistemática lógica, estruturante? Um modelo revolucionista, onde o processo comparativo e excludente é presença obrigatória? Ou, então, o modelo historicista, onde a cultura assume um processo de dinâmica e justifica as suas circunstâncias? Serum filósofo educacional requer o trânsito em várias matrizes teóricas. Não cabe ao filósofo concluir um processo ou apresentar as respostas. Cabe, sim, ao filósofo o papel de rever, propor e verificar o tipo de ser humano que se tem, se quer e se sonha. Síntese da unidade Nesse capítulo foram trabalhados conceitos básicos sobre educação e da filosofia da educação. O repensar dos modelos que hoje se tem e que precisam ser revisados e a reflexão sobre os mesmos. Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 17 Educação é um processo de acolhida das diversidades em torno de uma sociedade plural. Sociedade essa que é onde se vive e onde se está inserido e, portanto, o espelho da educação. Atividade 1. Qual é a sua postura como educador (a)? 2. Por que o agir na educação requer uma postura filosófica? 3. Que tipo de educador eu sou? Recomenda-se o filme Encontrando Forrester . Uma bela reflexão sobre a postura do educador que mostra o caminho, mas, ao mesmo tempo, ensina a caminhar por si próprio. O MITO DA CAVERNA 2 Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 18 “O mito é o nada que é tudo. O mesmo sol que abre os céus É um mito brilhante e mudo”. Fernando pessoa Tendo como foco da disciplina de filosofia da educação o repensar, o filosofar, refletir sobre a educação que se tem e a que se quer ter, faz-se aqui um convite de leitura. Não uma leitura superficial, mas uma leitura “filosófica” do texto que segue. Imaginemos um muro alto separando o mundo externo e uma caverna. Na caverna existe uma fresta por onde passa um feixe de luz exterior. No interior da caverna permanecem seres humanos, que nasceram e cresceram ali. Ficam de costas para a entrada, acorrentados, sem poder locomover-se, forçados a olhar somente a parede do fundo da caverna, onde são projetadas sombras de outros homens que, além do muro, mantêm acesa uma fogueira. Os prisioneiros julgam que essas sombras eram a realidade Um dos prisioneiros decide abandonar essa condição e fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões. Aos poucos vai se movendo e avança na direção do muro e o escala, com dificuldade enfrenta os obstáculos que encontra e sai da caverna, descobrindo não apenas que as sombras eram feitas por homens como eles, e mais além todo o mundo e a natureza. Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 19 3Alegoria da Caverna Platão, República, Livro VII, 514a-517c Depois disto – prossegui eu – imagina a nossa natureza, relativamente à educação ou à sua falta, de acordo com a seguinte experiência. Suponhamos uns homens numa habitação subterrânea em forma de caverna, com uma entrada aberta para a luz, que se estende a todo o comprimento dessa gruta. Estão lá dentro desde a infância, algemados de pernas e pescoços, de tal maneira que só lhes é dado permanecer no mesmo lugar e olhar em frente; são incapazes de voltar a cabeça, por causa dos grilhões; serve-lhes de iluminação um fogo que se queima ao longe, numa eminência, por detrás deles; entre a fogueira e os prisioneiros há um caminho ascendente, ao longo do qual se construiu um pequeno muro, no género dos tapumes que os homens dos "robertos" colocam diante do público, para mostrarem as suas habilidades por cima deles. – Estou a ver – disse ele. – Visiona também ao longo deste muro, homens que transportam toda a espécie de objectos, que o ultrapassam: estatuetas de homens e de animais, de pedra e de madeira, de toda a espécie de lavor; como é natural, dos que os transportam, uns falam, outros seguem calados. – Estranho quadro e estranhos prisioneiros são esses de que tu falas – observou ele. – Semelhantes a nós – continuei -. Em primeiro lugar, pensas que, nestas condições, eles tenham visto, de si mesmo e dos outros, algo mais que as sombras projectadas pelo fogo na parede oposta da caverna? – Como não – respondeu ele –, se são forçados a manter a cabeça imóvel toda a vida? – E os objectos transportados? Não se passa o mesmo com eles ? 3 http://bp3.blogger.com/_CZ_0rM87EVU/Rg5ZdI83t9I/AAAAAAAAAGI/L_Xco8YwXJ0/s1600- h/250px-Plato%27s_allegory_of_the_cave.jpg Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 20 – Sem dúvida. – Então, se eles fossem capazes de conversar uns com os outros, não te parece que eles julgariam estar a nomear objectos reais, quando designavam o que viam? – É forçoso. – E se a prisão tivesse também um eco na parede do fundo? Quando algum dos transeuntes falasse, não te parece que eles não julgariam outra coisa, senão que era a voz da sombra que passava? – Por Zeus, que sim! – De qualquer modo – afirmei – pessoas nessas condições não pensavam que a realidade fosse senão a sombra dos objectos. – É absolutamente forçoso – disse ele. – Considera pois – continuei – o que aconteceria se eles fossem soltos das cadeias e curados da sua ignorância, a ver se, regressados à sua natureza, as coisas se passavam deste modo. Logo que alguém soltasse um deles, e o forçasse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoço, a andar e a olhar para a luz, ao fazer tudo isso, sentiria dor, e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os objectos cujas sombras via outrora. Que julgas tu que ele diria, se alguém lhe afirmasse que até então ele só vira coisas vãs, ao passo que agora estava mais perto da realidade e via de verdade, voltado para objectos mais reais? E se ainda, mostrando-lhe cada um desses objectos que passavam, o forçassem com perguntas a dizer o que era? Não te parece que ele se veria em dificuldades e suporia que os objectos vistos outrora eram mais reais do que os que agora lhe mostravam? – Muito mais – afirmou. – Portanto, se alguém o forçasse a olhar para a própria luz, doer-lhe-iam os olhos e voltar-se-ia, para buscar refúgio junto dos objectos para os quais podia olhar, e julgaria ainda que estes eram na verdade mais nítidos do que os que lhe mostravam? – Seria assim – disse ele. Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 21 – E se o arrancassem dali à força e o fizessem subir o caminho rude e íngreme, e não o deixassem fugir antes de o arrastarem até à luz do Sol, não seria natural que ele se doesse e agastasse, por ser assim arrastado, e, depois de chegar à luz, com os olhos deslumbrados, nem sequer pudesse ver nada daquilo que agora dizemos serem os verdadeiros objectos? – Não poderia, de facto, pelo menos de repente. – Precisava de se habituar, julgo eu, se quisesse ver o mundo superior. Em primeiro lugar, olharia mais facilmente para as sombras, depois disso, para as imagens dos homens e dos outros objectos, reflectidas na água, e, por último, para os próprios objectos. A partir de então, seria capaz de contemplar o que há no céu, e o próprio céu, durante a noite, olhando para a luz das estrelas e da Lua, mais facilmente do que se fosse o Sol e o seu brilho de dia. – Pois não! – Finalmente, julgo eu, seria capaz de olhar para o Sol e de o contemplar, não já a sua imagem na água ou em qualquer sítio, mas a ele mesmo, no seu lugar. – Necessariamente. – Depois já compreenderia, acerca do Sol, que é ele que causa as estações e os anos e que tudo dirige no mundo visível, e que é o responsável por tudo aquilo de que elesviam um arremedo. – É evidente que depois chegaria a essas conclusões. – E então? Quando ele se lembrasse da sua primitiva habitação, e do saber que lá possuía, dos seus companheiros de prisão desse tempo, não crês que ele se regozijaria com a mudança e deploraria os outros? – Com certeza. – E as honras e elogios, se alguns tinham então entre si, ou prémios para o que distinguisse com mais agudeza os objectos que passavam e se lembrasse melhor quais os que costumavam passar em primeiro lugar e quais em último, ou os que seguiam juntos, e àquele que dentre eles fosse mais hábil em predizer o que ia acontecer – parece-te que ele teria saudades ou inveja das honrarias e poder que Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 22 havia entre eles, ou que experimentaria os mesmos sentimentos que em Homero, e seria seu intenso desejo "servir junto de um homem pobre, como servo da gleba",e antes sofrer tudo do que regressar àquelas ilusões e viver daquele modo? – Suponho que seria assim – respondeu – que ele sofreria tudo, de preferência a viver daquela maneira. – Imagina ainda o seguinte – prossegui eu -. Se um homem nessas condições descesse de novo para o seu antigo posto, não teria os olhos cheios de trevas, ao regressar subitamente da luz do Sol? – Com certeza. – E se lhe fosse necessário julgar daquelas sombras em competição com os que tinham estado sempre prisioneiros, no período em que ainda estava ofuscado, antes de adaptar a vista – e o tempo de se habituar não seria pouco – acaso não causaria o riso, e não diriam dele que, por ter subido ao mundo superior, estragara a vista, e que não valia a pena tentar a ascensão ? E a quem tentasse soltá-los e conduzi-los até cima, se pudessem agarrá-lo e matá-lo, não o matariam ? – Matariam, sem dúvida – confirmou ele. – Meu caro Gláucon, este quadro – prossegui eu – deve agora aplicar-se a tudo quanto dissemos anteriormente, comparando o mundo visível através dos olhos à caverna da prisão, e a luz da fogueira que lá existia à força do Sol. Quanto à subida ao mundo superior e à visão do que lá se encontra, se a tomares como a ascensão da alma ao mundo inteligível, não iludirás a minha expectativa, já que é teu desejo conhecê-la. O Deus sabe se ela é verdadeira. Pois, segundo entendo, no limite do cognoscível é que se avista, a custo, a ideia do Bem; e, uma vez avistada, compreende-se que ela é para todos a causa de quanto há de justo e belo; que, no mundo visível, foi ela que criou a luz, da qual é senhora; e que, no mundo inteligível, é ela a senhora da verdade e da inteligência, e que é preciso vê-la para se ser sensato na vida particular e pública. Interpretação da alegoria Platão referia-se aos seus contemporâneos, com suas crenças e superstições. O filósofo era qual um fugitivo capaz de fugir das amarras que prendem o homem Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 23 comum às suas falsas crenças e, partindo na busca da verdade, consegue apreender um mundo mais amplo. Ao falar destas verdades para os homens afeitos às suas impressões, não apenas não seria compreendido, como tomado por mentiroso, um corruptor da ordem vigente4. 2.1. A transição do pensamento mítico para o filosófico “O mito é uma fala. Mas não uma fala qualquer. São necessárias condições especiais para que a linguagem se transforme em mito. Tudo pode ser objeto do mito. O que o define não é o objeto de sua mensagem, mas a maneira como a profere. Se as religiões compõem seus sistemas doutrinários com mitos religiosos, por outro lado os mitos não se restringem ao universo religioso. Numa sociedade como a atual é bastante presente a figura dos mitos profanos”5. O mito é caracterizado como uma fala narrativa aonde as experiências são repassadas oralmente. Dessa forma é comum e constante o uso de lendas e fábulas que narram o acontecimento perpassado por toda uma lógica coloquial. Nas comunidades tribais as experiências e os costumes eram repassados através das histórias. Como os processos da natureza, da vida humana e animal, seguem um processo cíclico, os mecanismos sociais foram incorporando através dessas lendas e alegorias os processos normativos que ditavam e organizavam a vida em grupo. No instante em que começaram a ser questionadas as histórias de outros grupos querendo saber se elas eram verdadeiras ou não se dá início ao surgimento do pensamento filosófico. O momento de espanto, seja pela semelhança ou diferença, demarca o momento da percepção e da identificação de realidade sócio-culturais diferentes e semelhantes. O dar-se conta, cercado por um processo de questionamento, começa a dar início a reflexão desses contextos. A característica básica do mito ou o método utilizado na busca da verdade através do mito requer a interpretação. Já na filosofia o método característico é o racional, que terá como fim a condução à verdade. A filosofia e, portanto a filosofia da educação, é o 4 http://pt.wikipedia.org/wiki/Mito_da_caverna. 5 GUERRIERO, 2004, 112. Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 24 caminho para se sair da Caverna e observar o real, mas também o retorno a essa mesma caverna para efetivar a participação, como educador, nos valores humanos e no crescimento do educando como ser integral. Trazer a idéia dos gregos para o contexto atual: ver a educação como uma Paidéia. Já no que se refere a mito pode-se definí-lo como “Um mito é uma narrativa tradicional com caráter explicativo e/ou simbólico, profundamente relacionado com uma dada cultura e/ou religião. O mito procura explicar os principais acontecimentos da vida, os fenômenos naturais, as origens do Mundo e do Homem por meio de deuses, semi-deuses e heróis (todas elas são criaturas sobrenaturais). Pode-se dizer que o mito é uma primeira tentativa de explicar a realidade. A explicação mítica é contrária à explicação filosófica. A Filosofia procura, através de discussões, reflexões e argumentos, saber e explicar a realidade com razão e lógica enquanto que o mito não explica racionalmente a realidade, procura interpretá-la a partir de lendas e de histórias sagradas, não tendo quaisquer argumentos para suportar a sua interpretação. Ao mito está associado o rito. O rito é o modo de se pôr em ação o mito na vida do Homem (ex: cerimônias, danças, orações, sacrifícios...). O termo "mito" é, por vezes, utilizado de forma pejorativa para se referir às crenças comuns (consideradas sem fundamento objetivo ou científico, e vistas apenas como histórias de um universo puramente maravilhoso) de diversas comunidades. No entanto, até acontecimentos históricos se podem transformar em mitos, se adquirem uma determinada carga simbólica para uma dada cultura. Na maioria das vezes, o termo refere- se especificamente aos relatos das civilizações antigas que, organizados, constituem uma mitologia - por exemplo, a mitologia grega e a mitologia romana. Todas as culturas têm seus mitos, alguns dos quais são expressões particulares de arquétipos comuns a toda a humanidade. Por exemplo, os mitos sobre a criação do mundo repetem alguns temas, como o ovo cósmico, ou o deus assassinado e esquartejado cujas partes vão formar tudo que existe. Mito não é o mesmo que fábula, conto de fadas, lenda ou saga”6. Síntese do capítulo O mito da caverna de Platão embora remonte as eras a.C é de tal forma atual que pode-se entendê-lo dentro dos modelos educacionais vigentes ainda hoje. Cabe aqui refletir sobre a postura pessoal do EU educador. 6 http://pt.wikipedia.org/wiki/Mito Laíno Alberto SchneiderEDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 25 Atividade 1. Desenhe e caracterize, no modelo educacional, o mito da caverna. 2. Agora reflita sobre sua postura como educador (a) e questione-se sobre os seus encaminhamentos em sala de aula e se, por vezes, você não trata seus educandos como sendo prisioneiros que só podem ver o que queres que eles vejam? 3. Pense e responda: como mudar minha postura frente a realidade que os educando podem ver e as contribuições que poderão dar no processo de formação e construção do conhecimento? Sugestão de filme: A trilogia Matrix (EUA, 1999, 2003,2003) , uma reflexão sobre as crenças e o real e realidade. Sugestão de leitura: http://www.socultura.com/socultura-filosofia.htm . Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 26 O ENTORNO EDUCACIONAL “O mundo não é o que penso, mas o que vivencio”. M. Merleau-Ponty 3.1 Realidade sócio-cultural A questão é que ser humano a realidade educacional quer? Essa é a grande questão do entorno educacional. Por que essa questão precisa ser feita? Primeiro porque a disciplina de Filosofia da Educação, que aqui é objeto de estudo, tem como principal função o pensar, refletir, repensar e encontrar respostas para as perguntas que afligem o educador no seu cotidiano. A escola é o espaço de socialização do indivíduo. É na escola que a criança, o jovem, estabelece o seu vínculo comunitário. Nesse espaço o que realmente importa? Qual é o vínculo que nesse contexto é estabelecido? A indiferença social, muitas vezes, é fruto da descontextualização ou da não inserção do indivíduo na comunidade. A escola precisa oferecer uma dimensão de responsabilidade e de comprometimento do indivíduo com o seu grupo. A falta de comprometimento do aluno com os seus problemas sócio-culturais dificultam o processo de apropriação dos códigos de coletividade. Portanto, se faz necessário que a escola seja um espaço e um ambiente para o desenvolvimento comunitário saudável. A inserção do aluno na escola precisa apresentar uma relação de dimensão política, pois é da dimensão política que brota o olhar coletivo. Porque se não sabe se 3 Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 27 fazer política é porque não se soube negociar dentro do ambiente que se está. É típico que dentro da sala de aula só se delegue tarefas e não se deixa espaço para pensar.essa falta de compreensão da dimensão da coletividade permite que a escola continue sendo um território de descomprometidos. Se o aluno não entender que ele tem direitos, mas, sobretudo, precisa entender a importância de seus deveres com o grupo. A escola provavelmente estará formando um indivíduo que somente busque vantagens e benefícios próprios. A escola é uma instituição que desempenha um papel decisivo na inserção do cidadão, do indivíduo, na esfera coletiva. No momento em que a escola ocupa um papel de inserção tarefeira, tudo indica que esse modelo vai aprimorar no indivíduo o caráter individualista e pessoal. Quando se aprende somente a executar as funções e a não entender os motivos permiti-se a formação de um ser descompromissado com o bem social de todo o grupo. A escola precisa ritualizar o indivíduo em um sentimento de pertencimento comunitário. Essa é a tarefa maior que a escola precisa ter. Um adulto que não respeita o trânsito é porque não foi respeitado como indivíduo. E aí se retoma a imagem do motorista que vê ou pelo pára-brisa ou pelo retrovisor. As instituições existem para formar um cidadão. Ser cidadão é o reconhecimento que a sociedade oferece ao indivíduo. Os subterrâneos, aqueles representados na alegoria da caverna, objeto de estudo do capítulo2, existem nos modelos institucionais que fazem parte do entorno educacional. Como a filosofia da educação pode auxiliar no desvelamento dessa situação? Faz-se de fundamental importância a reflexão do educador e do seu papel dentro da instituição Ensino. O múltiplo e a pluralidade estão presentes nas relações pessoais. Não é diferente no espaço da educação formal, nas instituições de ensino. Dentro do múltiplo e da pluralidade se tem pessoas com a preocupação com o amanhã, outras com desestrutura social, familiar, emocional. Não há uma simplificação do tipo “aqui (em sala de aula) todos são iguais”. Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 28 A questão do entorno educacional requer um espaço de pesquisa, de estudo. Educar não é pura e simplesmente transmitir conhecimento sobre determinado assunto ou conceituar, educar é “cuidar” para que o indivíduo educando possa desenvolver plenamente sua personalidade como ser humano. Na educação não há espaço para a improvisação, para falta de planejamento. Educar pressupõe planejar, antever e, principalmente, ter como foco a formação integral do outro. 3.2 O real e o abstrato Na sala de aula tem que ser trabalhado o real da realidade, ou seja, da coisa em si. Não se deveria trabalhar na educação pensando pura e simplesmente no imediato. Por que se faz isto? Porque se faz uma discussão da realidade pela realidade e isso gera a funcionalidade. Encontram-se aqui os tarefeiros, que tem como principio dar tarefas para ocupar, preencher o tempo da aula. Não propiciar desvios na caminhada, no caso do conteúdo, para não gerar discussões ou debates. Por que se necessita ir à busca do real da realidade? Pelo fato e necessidade que se tem em trabalhar os fatores causadores de tal situação. A situação é o congelamento da realidade no espaço e tempo. Agora o fator responsável por esse congelamento, requer investigação. Um exemplo é a criança que não quer estudar. Isso é a realidade. Investigar a causa é saber o porquê desse fator. Isso é investigar a causa, o real. Na situação em que se busca redimensionar a realidade esquecendo-se do real, com certeza não se está contribuindo para a real dimensão do que o ambiente social necessita. Qual é o problema? É que a escola reproduz o modelo social no qual está inserida e, portanto, efetiva a manutenção dos modelos. Cabe a Filosofia da Educação repensar, questionar e mudar posturas do sistema de ensino-aprendizagem. Pensar a educação como algo concreto, é pensar o modelo de situação e realidade verificada, especificamente, nesse contexto. Concreto é o que se faz. Isso não se verifica quando se fala em abstrato, ou seja, no meramente pensar da educação, na idealização do ato de educar. Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 29 Começa-se a pensar as coisas a partir do quê? Na visão tradicional de ensino a partir dos modelos pré-estabelecidos. Mudar é difícil e doloroso. Manter é mais cômodo. Por isso os modelos, mesmo ultrapassados, continuam como parâmetros dentro das instituições. Aqui enfatizando a instituição educacional. Quando se pensa a escola de forma concreta se modela os programas de ensino e as aulas partindo da realidade dos educando e da comunidade escolar. Assim a escola deveria partir das coisas práticas para criar seus modelos e não de modelos que estão fora da realidade do aluno. Isso provoca desinteresse do educando, pois para ele o real não condiz com sua realidade, seu cotidiano. O pensar é o abstrato. Aquilo que se faz numa escola está pautado, até que ponto, no real. Quando se planeja o bimestre ou semestre se parte de quê? Do concreto ou do abstrato? Sabe-se que, na maioria das vezes, o abstrato é que está presente.É função de o educador refletir e mudar essa lógica educacional. Vive-se numa sociedade em que só se percebe o real quando ele está diante dos olhos, mas cabe ao educador filósofo mostrar aos educando a importância das relações simbólicas e imaginárias, em que encontra-se a liberdade do pensar do ser humano. O real pode ser diverso do real que os olhos podem captar. Dessa forma, precisa se estar muito mais atento ao que se vê para que possamos compreender o que se enxerga. Se enxerga-se de forma equivocada é porque não se aprendeu a olhar a realidade. Cabe ao educador, em inúmeras situações, saber orientar e redimensionar o olhar para que esse auxilie a enxergar muito mais do que o visível. Olhamos com os olhos, mas enxergamos com a alma. 3.3 A relação dialógica Para grande parte do pensamento antigo e até Aristót eles, o diálogo não é somente uma das formas pelas quais se pode exprimi r o discurso filosófico, mas a sua forma própria e privilegiada, porque esse discu rso não é feito pelo filósofo a si Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 30 mesmo e não o encerra em si mesmo, mas é um convers ar, um discutir, um perguntar e responder entre pessoas associadas pelo interesse comum da pesquisa 7. O diálogo é fundamental nas relações humanas e, portanto, as relações entre educador e educando deve ter como base esse princípio. Diálogo envolve um aprendizado de escuta e cooperaç ão na construção conjunta do conhecimento. Em um diálogo, não disputa mos idéias, mas em solidariedade investigativa acompanhamos o raciocín io de nosso interlocutor, testando hipóteses, observando contradições, constr uindo novas formas de ver e de abordar um tema. Mais que isto, dialogar é ouvir ta mbém o silencia das vivências que empregnam as idéias e as interrogações do outro, pa ra que possamos partilhar um caminho 8. Ainda segundo SARDI: “Questionar é criar condições de avançar”. Quando há diálogo há possibilidade de avanço e aprendizagem. A falta de diálogo leva e produz uma desorientação de valores comunitários. Por que isso acontece? Porque sem diálogo as decisões são autoritárias e sem parâmetros justos ou concretos. Quando não há diálogo as decisões são impositivas, não há espaço para o diferente ou para o debate. Aquilo que é, é. Neste modelo a indiferença e o desrespeito caminham lado a lado, pois quando se trata o outro, com suas possibilidades latentes e imanentes, com indiferença não se dá espaço para a construção de conhecimento. Educar requer construção e crescimento do indivíduo como ser integral. A violência é o resultado da falta de vínculos. Quando não se ensina a formação de vínculos não se cria o vínculo de compromisso. Qualquer esfera social e comunitária reproduz esse modelo. Educação é um longo processo de aprendizagem. Por vezes é comum verificar- se no modelo formal de educação o simples repassar de informações. Essa postura deve ser matéria de reflexão, pois somente assim haverá possibilidade de mudança de 7 ABBAGNANO, 257, 1982 8 SARDI, Discutindo Filosofia, no. 5, 57. Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 31 comportamento. Isso se refletirá desde o momento do planejamento até o momento da prática em sala de aula. A falta de vínculos favorece o rompimento do pacto de coletivo. O ambiente escolar deve ser um espaço de audição e não de escuta. O que o diálogo? É antes de mais nada a interação entre dois indivíduos. Não há diálogo quando um dos interlocutores não está aberto ao novo. Dialogar é trocar idéias, ponderar, discutir. Não deve se esquecer que dentro da filosofia o ato de dialogar é fundamental, pois é parte do momento de reflexão e tomada de consciência. [...] o diálogo não é somente uma das formas pelas quais se pode exprimir o discurso filosófico, mas a sua forma própria e priv ilegiada, porque esse discurso não é feito pelo filósofo a si mesmo e não o encerra em si mesmo, mas é um conversar, um discutir, um perguntar e responder entre pessoas associadas pelo interesse comum da pesquisa 9. A sala de aula precisa ser um ambiente de diálogo, pois é no diálogo que se constrói e as potencialidades são valorizadas. O simples ato de passar informação é educar? Educar é comunicar? O que é comunicar? O que realmente a escola consegue comunicar. Aonde não existe diálogo não há comunicação, mas apenas um espaço de informação. O entorno educacional passou a ser um espaço vazio. O compromisso da escola é o compromisso do horário individual de cada agente. Em que momento as normas são discutidas com os alunos? O professor só olha o que diz respeito a sua disciplina, só a sua posição dentro da instituição. Se está tudo bem com o Eu o outro é um detalhe que não afeta a esse Eu. E de seu lado o aluno tem uma necessidade enorme de ser ouvido, de que lhe escutem. Ele não quer ouvir ou interagir quando não diz respeito a seu Eu individual. Quer falar e falar. Pensar a educação sem mudar essas posturas levará a um caminho onde cada um desses elementos pegará uma trilha que não cruzará com a outra. 9 ABBAGNANO, 257, 1982 Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 32 Criamos uma intolerância com as dificuldades. A dificuldade do outro não tem nada a ver com o Eu. É problema do outro. O papel da Filosofia da Educação é mudar essa postura e refletir e buscar caminhos. A educação está resumida a uma metáfora do trânsito. A via é única, as estradas nunca se cruzam. Nas comunidades primitivas havia relações de diálogo, de proximidade. Hoje somente as regras são parâmetro, não se olha o outro como ser de diálogo. As regras são impostas e nunca discutidas. 3.4 O visível e o invisível O que realmente é a verdade que encontramos dentro da estrutura educacional? É aquela idealizada ou aquela tradicionalista? O visível é a capacitação que o olho humano consegue realizar enquanto que a invisibilidade é o processo de prevenção ou de antevisão. Uma vez que a nossa percepção da realidade depende totalmente da aparência, e portanto da existência de uma esfera pública na q ual as coisas possam emergir da treva da existência resguardada, até mesmo a meia-l uz que ilumina a nossa vida privada e intima derivada, em última análise, da lu z muito mais intensa da esfera pública. No entanto, há muitas coisas que não podem suportar a luz implacável e crua da constante presença de outros no mundo públi co; neste, só é tolerado o que é tido como relevante, digno de ser visto ou ouvido, de sorte que o irrelevante se torna automaticamente assunto privado 10. Esse processo esvazia as relações, pois confere significado pura e simplesmente ao que é denominado, eliminando a sensibilidade de captar-se as sutilezas nas relações humanas. 10 ARENDT, 2004, 61. Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 33 3.5 Encontros e desencontros As diversidades de movimentos. As ruas sempre são feitas em linha reta. A falta de cruzamentos leva ao caminhar numa relação sem vínculos. Cada um pensa na ausência de obstáculos. O obstáculo é o cruzamento sem sinalização. A falta de respeito está pautado no entendimento do individualismo. Aqui se volta a idéia do Eu, como autoconsciência. Uma coisa é o diverso, outra o plural. Numa sala de aula trabalham-se as diversidades, mas reflita sobre a pluralidade. Diverso é aquilo que se refere a variedade, mas plural são as diferenças. Você consegue trabalhar as diferenças em seu ambiente de sala de aula? No processo de massificação pode-seaté olhar o diverso, mas raramente a pluralidade. O diverso é aquilo que temos de alternativas possíveis; já o múltiplo é quando dentro da sala de aula se aceita, se incorpora as diversidade. Incorporação e aceitação das diversidades. Essa postura vai permitir e facilitar o debate em torno das idéias e não em torno das pessoas. Quando se trabalha muito a diversidade pode simplesmente se destacar e realçar as diferença, já, quando se discute e trabalha a idéia do múltiplo, se faz necessário a compreensão e incorporação dessas diversidades. Exemplo quando se diz que o indivíduo é eclético está se trabalhando a idéia da multiplicidade, ou seja, a facilidade no adaptar-se com as diversidades. É comum numa estrutura educacional pensar-se numa escola dos diferentes. Exemplo Francisco é cadeirante, logo é diferente. Paula é surda, logo é diferente. Luiz é cego, e assim por diante. Essa diferença num primeiro momento pode caracterizar uma anomalia dentro de um padrão de normalidade, agora quando a estrutura de uma escola planeja e se prepara para acolher estas diversidades ela está pensando as multiplicidades. Uma analogia da diversidade: ao olhar as mãos depara-se com uma diversa estrutura anatômica de cada um dos dedos. As características de um dedo é diferente do outro e assim sucessivamente, mesmo que esse dedos faça parte de uma mesma estrutura orgânica, a pele, os ossos etc. a pluralidade oriunda da diversidade requer Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 34 uma atenção e uma funcionalidade característica de cada um dos dedos, a começar pelo seu formato e pela sua composição muscular. Há necessidade da construção de sinalizadores. Sinalizadores como referenciais positivos, que valorizem o comportamento coletivo, o preocupar-se com o outro. No trânsito urbano o acidente pode ser evitado com a identificação dos códigos da sinalização. Códigos que funcionam como parâmetros. Na educação os desencontros podem ser amenizados no momento em que se tem objetivos e metas a serem buscadas. Pensar a educação como formação do homem integral e não somente de futuros trabalhadores, ou seja, visando a formação para o mercado de trabalho. Esse caminho levará a valorização das potencialidades já referidas no primeiro capítulo. Todos possuem potencialidades, mas poucos são incentivados a desenvolvê-las. Caberá ao filósofo educacional propiciar esse repensar e valorizar as potencialidades inerentes do ser humano. Há necessidade de pensar e, talvez, em fazer. A escola se mantém silenciosa, oferecendo tarefas. Esse processo deve ser invertido. Esse é o grande mito da caverna de hoje. Quem está com a verdade? Quem compreende o mundo das luzes? São questões que precisam ser discutidas e reformuladas dentro do processo educacional. O asssombramento do entorno educacional escurece o olhar na direção do foco, do enxergar a verdade. Caberá ao filósofo social trazer à superfície a discussão em torno da realidade e colocar em prática a postura do fazer calcado no concreto, na realidade do educando e do educador. Essa reflexão deve ganhar o entorno da escola e não ficar presa a ela. Trazer a comunidade escolar para refletir e construir novos parâmetros que levem a uma mudança de postura. Síntese Discuti-se nessa unidade os parâmetros existentes dentro da educação e a postura tanto do educando, quanto do educador. Ponderou-se sobre a necessidade de Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 35 refletir e formar novos parâmetros que levem a um repensar a educação como potencializadora de individualidade. Atividades 1. Faça uma pesquisa entre seus colegas e alunos sobre a visão que têm da educação. 2. Construa um texto no qual reflita sobre sua postura como ser educador e nas mudanças a serem realizadas no seu entorno educacional. Sugestão de filme para refletir sobre a pluralidade: Meu Nome é Rádio (EUA, 2003, Columbia Pctures, direção Mike Pollie). Sugestão de leitura: Maria da Graça Jacintho SETTON. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022002000100007. Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 36 COMUNIDADE EDUCACIONAL “Para mim, é importante que se mantenha, desde o início, a dimensão política da educação (...). A política constitui o meio por excelência para a realização das potencialidades humanas”. Paul Ricoeur Pensar em educação requer que se pense todo o seu entorno. Em função disso deve se aproximar o olhar dos vários modelos institucionais que formam o modelos e a instituição educacional. Um pouco ou muito de cada membro de uma realidade social e está representada através das diversas estruturas sociais criadas e apresentada na caminhada e no aprimoramento existencial humano. A comunidade educacional não é composta apenas de alunos e professores. Todo o entorno faz parte da sua estrutura. Uma dá suporte a outro e se completam. Por isso a importância de se ter uma visão ampla da educação como estrutura comunitária. A educação é alicerce para a construção de uma sociedade bem estruturada e arraigada. É a educação que proporciona reflexão e reformulação de parâmetros. 4.1 A instituição Não se fala em ‘instituição animal’, o que prova qu e a instituição é uma realidade humana, mais precisamente social. Social, visto que varia de uma sociedade para outra; a justiça, a família, a escola são tão difer entes ao longo dos séculos que se pergunta, por vezes, se estas palavras designam exa tamente a mesma coisa. [...] uma instituição é estável no sentido de que p reexiste aos seus membros – ‘entra-se’ na escola- e subsiste depois de eles par tirem 11. 11 REBOUL, 2000, 25 4 Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 37 A instituição não é composta apenas do prédio. O prédio, estrutura física, é apenas uma pequena parte do todo institucional. A instituição representa uma vontade da comunidade. O entorno educacional é o grande laboratório do ambiente educacional. A instituição de ensino representa ou precisa representar a extensão social da comunidade. A instituição não está representada na construção do prédio. O prédio representa o espaço físico onde são demarcadas as situações e as possibilidades de socialização e integração do indivíduo com a sua comunidade. Esse espaço sintetizado na construção de um prédio representa a simbologia do acolhimento das individualidades em prol da formação de uma postura, eminentemente, coletiva. A formação de vínculos do indivíduo com o seu grupo é o elo de ligação e da formação de um ser compromissado e identificado com o seu grupo social. O nome da instituição ao qual o indivíduo se vincula é a confirmação e a demarcação do significado simbólico. A instituição é o espaço onde as pessoas aprendem e buscam se organizar em grupo. Essa confere ao indivíduo a noção de pertencimento, pois a cada momento em que alguém se refere especificamente ao nome da instituição, seja isso positivamente ou negativamente, sempre está referindo-se ao grupo de pertencimento do indivíduo. Esta identificação requer toda uma aproximação e acolhida por parte de todos os membros naquele contexto. Cabe realçar que a instituição escolar na sua essência de coletivização não tem dono, pois ela surge como uma possibilidade de construção e elaboração das pessoas que são membros dessa comunidade. No momento em que o indivíduo não se sente tocado ou pertencente a essa realidade em construçãoo processo ali instaurado, de construção de uma identidade social, fica seriamente comprometido. O espaço social é o deslocamento proporcionado no mecanismo de incorporação de todos os aspectos sociais que ali se encontram. A invisibilidade dos movimentos sociais está representada em cada espaço social solidificado através do tempo e da história no entorno institucional. Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 38 O sentimento de pertencimento só se dará no momento em que a instituição conseguir representar a realidade social de todos os seus membros. A instituição escolar jamais pode ter dono, pois se esta realidade é verificada não nasce, neste contexto, a possibilidade da dinâmica do processo histórico da instituição. Essa é aprimorada e conta a sua história porque permitiu, a partir da sua organização, a possibilidade do desenvolvimento das potencialidades dos seus indivíduos O surgimento de uma instituição escolar se deve a muitos fatores, dentre eles destacam-se alguns. a) Pessoal: atende a um clamor de amadurecimento e de entendimento de um educador no que se refere à formação de uma estrutura social e humana. Precisa agregar o sentimento, uma visão de que a escola não tem dono. A escola tendo um dono provoca o descomprometimento do grupo na busca dos ideais educacionais. A instituição organizada e planejada por um indivíduo precisa estar fortemente embasada em ideais e modelos de educação necessários para a comunidade. Não se faz uma instituição de ensino centrada exclusivamente no entorno de uma pessoa, pois, além de fragilizar uma instituição, compromete toda uma realidade de modelo de uma sociedade a ser construída. Quando a instituição é moldada em torno de um único indivíduo e este tem que se ausentar o modelo corre o risco de desaparecer, pois o comprometimento somente brota a partir de idéias e ideais educacional e não de fins pessoais. b) De um grupo de amigos ou conhecidos: podem surgir a partir de necessidades que um grupo de educadores identifica para buscarem a realização de um modelo de instituição que reproduza as suas realidades ideológicas enquanto grupo. c) Estruturas religiosas: são aquelas que apresentam todo modelo de formação no entorno da existência humana em uma dimensão de espiritualidade e fé. Esse tipo de instituição tem um compromisso com a doutrina que professa. Visa a formação ética, moral e confessional do indivíduo. d) Projetos políticos governamentais: é a organização da sociedade a partir dos seus entornos políticos. A administração do processo educacional pautados na vontade política de um determinado contexto. Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 39 e) Comunitários: é a busca das demandas a partir de um sentimento de uma organização altamente pautada no sentimento de grupo. As dificuldades apresentadas em determinados contextos requerem a intervenção de toda uma comunidade para responder a uma demanda ou necessidade desse mesmo grupo. Assim, como isso, representa um alto grau de comprometimento da comunidade com o seu grupo, por sua vez também pode representar a urgência de organização do mesmo grupo em prol de respostas aos desafios e dificuldades aí verificadas. Não se pode pensar que existem tipos de instituições melhores ou piores e sim de que as trajetórias percorridas pelas instituições sintetizam o comprometimento a inserção dos indivíduos nesta esfera social. O poder não está na instituição “prédio” e sim na instituição memória e trajetória. O momento em que se pensa que o poder da instituição está no prédio em caso do seu desabamento ter-se-á a ruína daquele modelo. Por isso se faz necessário um modelo de instituição que visa à representação legítima dos indivíduos em seus grupos organizacionais. Quando um indivíduo não se sente pertencente a esta instituição é porque de uma forma ou outra o sentimento de inclusão e apropriação não se efetivou. A grande importância desse processo de acolhida legitima a instituição como um espaço de realização dos seus indivíduos. Nas circunstâncias em que a instituição ou o modelo institucional não representa esse sentimento de pertencimento a esse ambiente social demonstra que o processo que se desenvolveu está centrado numa relação vertical de poder. Com o passar dos anos os seres humanos como as instituições vão amadurecendo os seus modelos, os seus referenciais e seus objetivos. Tal processo demonstra o amadurecimento que o espaço social adquire durante o seu processo de construção e legitimação. A instituição é o espaço aonde os indivíduos conseguem construir a extensão dos seus interesses particulares, em prol de toda uma possibilidade e modelo social. Nas circunstâncias em que se realiza um estudo ou uma compreensão institucional precisa se identificar também o processo histórico e a memória simbólica de uma civilização. Se a instituição é vista como algo inadequado reproduz-se aí a imaturidade civilizatória do entorno educacional. Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 40 A instituição não nasce pronta, aliás, nunca está pronta. Porque ela representa a síntese de respostas que coletivamente a comunidade busca a partir das necessidades individuais e sociais e essas estão em constante transformação, vão amadurecendo. 4.2 A família A família é uma comunidade, ou seja, predomina a vontade natural dos membros do grupo. Já na sociedade o que predomina é o caráter racional. É no seio da família, portanto, que deve haver essa transição entre o comunitário e social, ou seja, cabe a família preparar os seus membros para a vida social. O privado, família, em prol do público, sociedade. Tudo o que é confiante, intimo, vivendo exclusivame nte em conjunto compreende-se como a vida em comunidade. A sociedad e é o que é público; é o mundo, ao contrário , encontramo-nos em comunidade com os próprios seres caros desde o nascimento, ligados a eles no bem e no mal. Na sociedade entrasse como em uma terra estranha 12. A grande questão da família é de conduzir o aprimoramento, aperfeiçoamento do indivíduo na sua dimensão pessoal. É na família que se desenvolve a dimensão do caráter da privacidade, do particular, do afetivo, do próximo. A transição entre o privado e o público começa a ensaiar os primeiros passos a partir dos membros de uma família. Na família a criança aprende - ou deveria aprende r – atitudes fundamentais, como falar, limpar-se, vestir-se, obedecer aos adul tos, proteger os menores (ou seja, conviver com pessoas de diferentes idades), compart ilhar alimentos e outros bens com quem a cerca, participar em jogos coletivos res peitando as regras, rezar para os deuses (se a família for religiosa), distinguir em nível primário o que é bom do que é mau segundo as pautas da comunidade a que pertence, etc. Tudo isso compõe o que os estudiosos chamam de ‘socialização primária’ do neófito, por meio do qual este se transforma em um membro mais ou menos padrão da soc iedade. Seja como for, esse papel fundamental da família, pa ra bem ou para o mal, na socialização primária dos indivíduos passa por um e clipse indubitável na maioria dos países, o que constitui um problema sério para a es cola e os professores [...] ‘Os docentes percebem esse fenômeno cotidianamente, e u ma de suas queixas mais 12 TÖNNIES abud ABBAGNANO, 1982, 150. Laíno Alberto Schneider EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ULBRA 41 recorrentes é que as crianças chegam à escola com u m núcleo básico de socialização insuficiente para enfrentar com êxito a tarefa
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