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FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI “A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma ação integrada de suas atividades educacionais, visando à geração, sistematização e disseminação do conhecimento, para formar profissionais empreendedores que promovam a transformação e o desenvolvimento social, econômico e cultural da comunidade em que está inserida. Missão da Faculdade Católica Paulista A v. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo. www.uca.edu.br Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI SUMÁRIO AULA 01 AULA 02 AULA 03 AULA 04 AULA 05 AULA 06 AULA 07 AULA 08 AULA 09 AULA 10 AULA 11 AULA 12 AULA 13 AULA 14 AULA 15 AULA 16 PARA QUE FILOSOFIA? DO SENSO COMUM AO SENSO CRÍTICO A ATITUDE FILOSÓFICA A FILOSOFIA E O SERVIÇO SOCIAL O HOMEM, O GRUPO E A COMUNIDADE REFLEXÕES INICIAIS SOBRE AS TEORIAS SOCIAIS E O SERVIÇO SOCIAL NEOTOMISMO POSITIVISMO FENOMENOLOGIA MARXISMO O RACIONALISMO FORMAL ABSTRATO A INFLUÊNCIA MARXISTA BREVE REFLEXÃO ACERCA DO MÉTODO ABSTRATO- CONCRETO SOCIALIZAÇÃO: INDIVÍDUO, SOCIEDADE E CULTURA REFLEXÕES FILOSÓFICAS GERAIS SOBRE O COTIDIANO REFLEXÕES FILOSÓFICAS SOBRE A ÉTICA E A MORAL O PROCESSO REFLEXIVO COMO UM CAMINHO A SER PERCORRIDO PELO USUÁRIO DO SERVIÇO SOCIAL EM BUSCA DE UMA VIDA MAIS AUTÊNTICA 06 17 27 43 57 67 76 88 99 114 125 134 144 154 171 186 FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 4 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno(a), é uma grande satisfação recebê-lo(a) nesta nova disciplina, onde trabalharemos um dos fundamentos que embasam a nossa profissão: os Fundamentos Filosóficos do Serviço Social. Esta é uma disciplina deliciosa, que exigirá leituras, reflexões, muito pensamento e um olhar para a realidade, procurando olhar crítico, transcendendo (superando) o senso comum. Dentre os objetivos da disciplina, estão: analisar as diferentes concepções filosóficas e ideológicas que fundamentam as diversas propostas de Serviço Social. Além disso, pretende-se apresentar uma discussão crítica acerca das bases filosóficas do Serviço Social. Para que os objetivos sejam concretizados abordaremos a filosofia como busca do fundamento e do entendimento humano. Correntes filosóficas e as influências sobre a pessoa, a sociedade e o Serviço Social. Principais correntes filosóficas no século XX (marxismo, neotomismo, positivismo, fenomenologia) e suas influências no Serviço Social. Influência das correntes filosóficas na formação dos discursos e práticas sociais. Nas páginas seguintes, você terá à disposição, aulas preparadas exclusivamente para sua formação profissional, isso exigirá de você muita dedicação, leituras e estudos que permitirão o exercício da reflexão crítica da profissão e da realidade onde futuramente você estará atuando como Assistente Social. A capacidade analítica é importante para a profissão que cotidianamente se depara com contradições, desigualdades, exclusão. Transcender o senso comum é necessário para atuar com competência, eficácia, eficiência e responsabilidade. A atitude filosófica permitirá a você a ampliação da sua capacidade reflexiva. Compreendendo as bases filosóficas da profissão, você estará se preparando para o exercício profissional em prol da viabilização do acesso aos direitos, redução das desigualdades, emancipação do sujeito. Um profissional que compreenderá a essência humana, um profissional crítico e reflexivo capaz de fazer a diferença no meio socioprofissional. Para isso conte comigo e com toda a nossa equipe, estamos aqui para te apoiar na busca pelo seu sonho! Vamos lá, não tenha medo, preguiça, dê sentido a esse momento único. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 5 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI Por fim vou lhe contar um segredo: não será fácil! Pois você vai se deparar com alguns assuntos complexos e que exigirá muito esforço, sobretudo mental. Mas... como eu sempre digo: se fosse fácil, qualquer um faria, e para mim, você não é qualquer um.... você vale a pena! Grande abraço e te encontro nas aulas! Atenciosamente Prof.ª Daniela Sikorski FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 6 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI AULA 1 PARA QUE FILOSOFIA? DO SENSO COMUM AO SENSO CRÍTICO Figura 1- Mulher no balanço, horizonte Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/acreditar-agua-alvorecer-amanhecer-289998/ Nesta nossa primeira aula falaremos sobre a Filosofia de forma geral e para que ela serve, procurarei desmistificar a Filosofia, através de exemplos e provocando você a pensar, pois Filosofia tem tudo a ver com pensamento. Em seguida apresentarei o senso comum e o senso crítico, pois o desenvolvimento do senso crítico fundamental para você meu querido e querida aluna de Serviço Social. O objetivo com destas primeiras aulas é aprendermos a questionar, a interpretar a realidade, pois somo cidadãos e futuros profissionais de sucesso não é possível somente se conformar com o óbvio. Pois o conhecimento não é estático, ele muda, as FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 7 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI certezas mudam conforme o homem muda. Logo precisamos aprender a ter dúvidas. Historicamente a dúvida foi tida como algo ruim, quem tem dúvidas não prestou atenção corretamente, quando na verdade as dúvidas sempre moveram o mundo. Curiosamente, nós carregamos um certo trauma em relação à dúvida, em grande medida porque a escola fundamental nos incutiu a ideia da dúvida como um defeito, uma deficiência. A professora perguntava ao final da aula: “Alguma dúvida?”, já num tom de voz exclamativo e, ao mesmo tempo depreciativo. E nenhum aluno levantava a mão. Nas raras vezes e que algum colega se manifestava, era tripudiado pelo resto da vida. Como se ter dúvidas fosse sinal de inteligência mental, quando na realidade, é o contrário, trata-se de um sinal de inteligência. Um aluno com personalidade questionadora ou que tem curiosidade sobre as coisas aumenta o seu repertório, a sua capacidade de raciocínio e análise (CORTELLA, 2019, p.39). Sendo assim, vamos aproveitar esta aula para termos muitas “dúvidas”! Iniciamos nosso estudo com algumas indagações filosóficas que permeiam o nosso cotidiano dentre elas você pode se perguntar: O que é o homem? Qual o seu sentido? O que cada homem esconde no seu mais profundo ser? Tais questões têm levado muitos pensadores a refletir sobre a existência humana e sua razão de existir da própria humanidade. Mas para início desta aula, pergunto: o que é Filosofia para você? Quando você teve contato pela primeira vez com a Filosofia? Muitas pessoas tem uma compreensão equivocada acerca da Filosofia, alegando que ela não agrega nada na vida do ser humano, pois ela é “apenas pensamento”, que não produz nada de concreto. Pois bem, se este é o seu pensamento, convido você neste momento a redescobrir a Filosofia e o quanto ela contribui para nossa existência, vamos lá? Primeiramente apresento a você um conceito de Filosofia: A palavras ‘filosofia’, de origem grega, é composta de duas outras: philo e sophia. Philo quer dizer aquele ou aquela que tem um sentimento amigável, pois deriva de philia, que significa amizade e amor fraterno. Sophia quer dizer sabedoria e de dela vem a palavra sophós, sábio. Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria ou amor e respeito pelo saber. [...] Indica a disposição interior de quem estima o saber, ou o estado de espírito da pessoa que deseja o conhecimento,o procura e o respeita (CHAUÍ, 2012, p. 32). FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 8 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI Num primeiro momento as explicações se davam de forma mítica, pois consideravam a relação homem-natureza como sujeição do primeiro às forças da segunda. Num outro momento surge o próprio ato de filosofar, ainda na busca por repostas, mas tais respostas para grandes indagações humanas precisariam ser coerentes ou como outros chamam, precisariam ser racionais. Entende-se assim que o homem sempre buscou respostas para tudo, tudo teria uma razão de ser e de existir. Há uma sede, uma vontade de se descobrir ou responder “qual é o fundamento primeiro das coisas” a essência dos corpos, a natureza das virtudes ou qualquer outra questão que se apresente intrigante e que já não permita mais a simplória resposta mítica, carente de fundamentos racionais. Mas afinal, para que filosofia? De acordo com CHAUÍ Essa pergunta, ‘Para que filosofia?” tem a sua razão de ser. Em nossa cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar que alguma coisa só tem o direito de existir de tiver alguma finalidade prática muito visível e uma utilidade imediata, de modo que, quando se pergunta ‘Para quê?”, o que se quer saber é: ‘Qual a utilidade?’, ‘Para que serve isso?’, ‘ Que uso proveitoso ou vantajoso posso fazer disso?’ (CHAUÍ, 2012, p.34). Mas para que filosofia? A filosofia desde sempre auxilia a humanidade na formulação de perguntas, bem como se debruça na busca por respostas. Ou seja, de uma maneira ou outra, todos nós filosofamos. Em nossa vida pessoal ou profissional, independente da profissão ou formação acadêmica. A filosofia está no cotidiano, contudo é vista por muitos como desnecessária ou então coisas para desocupados. Figura 2- homem pensando Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/antigo- antepassados-anciao-arte-4272618/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 9 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI Anote isso Fique atento(a) para esta parte da nossa aula, pois compreender para que serve a filosofia, lhe ajudará nas próximas leituras, sobretudo quando formos abordar a relação do Serviço Social com a Filosofia, ok? De acordo com Cortella, A filosofia é um olhar sistemático, metódico e programado sobre a razão das coisas. As ciências em geral lidam com os ‘comos’; a Filosofia é capaz de se debruçar sobre os ‘porquês’, as ‘razões’. As ciências, Física, Química, Biologia, outras áreas do campo científico, lidam diretamente com a ideia de qual é o modelo de funcionamento operativo ou teórico. A Filosofia por sua vez, costuma se perguntar sobre as razões, indaga sobre o que é o sentido de algo (2019, p.13) A partir da colocação acima é possível que você compreenda que a Filosofia não é imediata, não se dá de uma hora para outra. Ou seja, ela permite que não entremos no comodismo, estagnação, ou como se diz: que não entremos no “piloto automático”. Ela nos impulsiona para a criticidade, a desalienção perante a sociedade na qual vivemos. Para que a Filosofia? Para pensarmos melhor. Ao trazer a ideia do pensamento¸ admitimos a capacidade de pensar o homem, ou seja, ser dotado desta singularidade e que, diferentemente dos demais seres vivos, possui a capacidade de criar, produzir, transformar as coisas e a si mesmo. A Filosofia nos dá a oportunidade de refletir sobre si e sobre o mundo, pois existimos como consciência e somos capazes de questionar a própria realidade, bem como o irreal e o transcendente. Agora convido você a refletir sobre a sociedade em que vivemos hoje, marcada fortemente pela internet, mídias sociais, propagação rápida das informações (verdadeiras e não verdadeira), uma sociedade que sobrepõe o “ter” ao “ser”, onde “tempo é dinheiro”. Neste mundo tão acelerado, ligeiro e rápido, falta, portanto, tempo para pensar, para filosofar. E o que é filosofar? Filosofia consiste na capacidade de fazer perguntas, que buscar saber qual a intenção disto ou daquilo, ou seja, a busca por conhecer o propósito, a teleologia das coisas. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 10 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI Os únicos animais capazes de questionar e buscar respostas é o ser humano. Capaz de emitir juízo de valor, de julgar o que é certo ou errado. Merleau-Ponty, filósofo francês que viveu no século XX, afirmava que a verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo. E o que é reaprender a ver o mundo? É ir contra a corrente, é pensar diferente, lutar por algo que não condiz com o discurso de uma sociedade de consumo. Reaprender a ver o mundo consiste em desenvolver a capacidade de ler as entrelinhas. Numa sociedade global marcada por uma forte crise de amor ao próximo e a si mesmo, da crença no possível, da crença dos valores. Se pararmos para pensar/filosofar iremos perceber que ao mesmo tempo que temos tudo, não temos nada, nos tornamos grandes peritos, especialistas de tudo e ao mesmo tempo grandes conhecedores de nada. A sociedade se apresenta de forma geral em uma “massa” despolitizada, alienada e sujeita aos mandos e desmandos de uma sociedade que privilegia a técnica, o consumo, a competição, a desumanização do homem, na maioria das vezes. Uma sociedade onde não se confia nas pessoas, não aprofundamos mais as relações e não construímos comunidade. Acreditamos que liberdade é fazer o que queremos e não aceitamos limites para os nossos desejos. Reaprender a ver o mundo, portanto é um bom ponto de partida para você que está iniciando esta disciplina, pois ela se relaciona diretamente com o Serviço Social, a forma como vemos a nós mesmos, o outro, a sociedade. Vamos reaprender a ver o mundo juntos? Isto está na rede Você provavelmente já leu ou ouviu fala sobre o Mito da Caverna de Platão (429-347 A.C), um dos fundadores da filosofia Ocidental. Pois bem, este Mito tão antigo ainda hoje nos provoca reflexões acerca de questões atuais. Pois bem, agora te faço um convite, para assistir um vídeo montado a partir de uma história em quadrinhos, topa? Figura 3- homem pensando Fonte: https://visualhunt.com/f4/ photo/5830533678/5dbb8e8869/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 11 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI Após assistir procure relacionar o Mito da Caverna com situações do dia a dia, refletindo em que momento nos “encontramos na caverna”. Titulo: Mito da Caverna – Versão - Platão por Maurício de Souza LINK: https://www.youtube.com/watch?v=XoU4YAhJzLY Pois, A Filosofia nos conduz a reflexões sobre a condição humana, e muitas vezes sobre questões que nos angustiam. Não do mesmo modo como faz a Psicanálise e a Psicologia, tampouco como faz a área da Pedagogia, nem como examinam Sociologia ou a Antropologia. Mas, ao olhar também para nosso lado interno, ela pode nos auxiliar na rota do autoconhecimento. E aqui cabe recorrer a Sócrates, em frase por ele difundida de forma extensa: ‘Conhece-te a ti mesmo’. Isto é, olhar, refletir, pensar, para não ter uma vida automática, robótica, servil. É a ideia de uma existência que tenha consciência (CORTELLA, 2019, p.23-24). Figura 4- Sócrates Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/filosofia-gr%C3%A9cia-s%C3%B3crates-est%C3%A1tua-2603284/ Para que você e eu consigamos reaprender a ver o mundo precisamos desenvolver o nosso senso crítico, e para isto é preciso romper com o senso comum, que nos https://www.youtube.com/watch?v=XoU4YAhJzLY FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 12 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI mantém na zona de conforto do entendimento da vida, da sociedade e das relações que nela estabelecemos. Sendo assim Convém reforçar: a Filosofia é a atitude metódica, disciplinada, estruturada e intencional da indagação sobre as razões de ser das coisas e fatos, de maneira a produzir consciência e inovação. A rotina do cotidiano nos leva muitas vezes a agir e viverno modo automático ou robótico, e isso impede a clareza das direções e bloqueia as condições para a edificação do inédito; a Filosofia é um brado de ‘alto lá!’ (CORTELLA, 2019, p.24). Você conseguiu compreender os caminhos que você deverá trilhar para desenvolver seu senso crítico? A Filosofia contribuirá no sentido de desenvolver a sua capacidade análise, formando um Assistente Social, capaz de questionar a realidade e além disse, não somente questionar, mas também propor soluções. Lembre-se que a filosofia formula perguntas, mas também busca respostas. Pois de nada adianta compreender a realidade se não vamos interferir nela para torná-la melhor. Para então reaprender a ver e entender o mundo, devemos partir para um exercício reflexivo sobre os conceitos que reproduzimos sem refletir (senso comum). A leitura que fazer do mundo, a nossa vivência, os nossos valores, as nossas crenças, tudo isso influencia a nossa visão de homem e de mundo. Por esta razão os problemas da Filosofia são sempre atuais. Entendemos que o senso comum é composto por aquilo que adquirimos ao longo da nossa vida ao longo do tempo por nós vivido “por acúmulo espontâneo de experiências ou por introjeção acrítica de conceitos valores e entendimentos vigentes e dominantes em nosso meio” (LUCKESI, 1992, p.93). E você sabe como nasce o senso comum? Digo a você que ele nasce do processo de “acostumar-se a uma explicação ou compreensão da realidade, sem que ela seja questionada. Mais do que uma interpretação adequada da realidade, ele [senso comum] é uma forma de ver a realidade, mítica, espontânea” (LUCKESI, 1992, p.95). Pois bem, estamos aqui refletindo sobre a filosofia, como ela pode contribuir para a nossa formação profissional, também falamos brevemente sobre o senso comum, Figura 5- lâmpada acesa Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/ l%C3%A2mpada-el%C3%A9trica-acho-que- id%C3%A9ia-2010022/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 13 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI agora pergunto a você como desenvolver o nosso senso comum ao ponto de termos um senso crítico, você consegue explicar? Inicio dizendo que para desenvolver o senso crítico preciso primeiramente desvendar a realidade, ultrapassar os limites espontâneos e também fragmentados que caracterizam o senso comum. Logo para desenvolvermos nosso senso crítico precisamos aprender a realizar uma análise crítica da realidade. A análise crítica é processo segundo o qual questões são esclarecidas. Salientamos a palavra crítica pois que faz tal análise exige que suas ideias sejam examinadas e questionadas. As dúvidas ajudam-nos a formular perguntas. O pensador crítico, ao avaliar os argumentos de si próprio e dos outros, levanta muitas questões [...] Se não questionarmos nossas ideias e as dos outros é bem provável que encontremos dificuldade em saber quais são as opiniões mais válidas um debate sobre um assunto. Nas ciências humanas e na Filosofia, os autores apresentam suas ideias dentro de uma certa lógica. Considerada isoladamente, cada posição pode parecer válida, mesmo que esteja em conflito com outras posições. O leitor menos crítico apenas nota que as posições são diferentes, sem saber avaliar qual é a mais apropriada, qual delas é mais bem formulada (CARRAHER, 1983, p.128). Almejamos assim que você consiga realizar uma análise crítica da realidade onde está inserido(a), pois como futuro(a) assistente social esta habilidade lhe será de grande valia. Falaremos sobre isso adiante. Figura 6- Guardas-chuva coloridos Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2017/06/19/07/41/umbrella-2418413_960_720.jpg FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 14 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI Por fim, vimos que Filosofia estuda e define conceitos, cria e recria, num exercício de pensar o próprio pensamento. Por isso, seus objetos de estudo referem-se aos grandes problemas da humanidade, no decorrer da história. Entre estes problemas, podemos destacar a questão do poder, do conhecimento, do bem viver entre os homens, a questão do belo (o que o define?), da explicação racional para a existência e para o mundo. Por exemplo: a questão do ser, que sempre intrigou o homem, desde a origem, passando por Sheakspeare até chegarmos aos nossos dias com o conflito atual: somos, existimos ou apenas temos, sou seja, o que nos faz pessoas, ser ou ter? A partir desta reflexão entende-se que A Filosofia também inquieta, e a inquietação costuma ser criativa. Quando alguém, em vez de ficar animado com o que faz, fica apenas satisfeito, deixa de ir adiante. Afinal, só quem se sabe ainda pequeno é capaz de crescer, enquanto aquela pessoa que já está satisfeita com a dimensão que atingiu costuma se deixar levar pela acomodação. Em um mundo de mudanças velozes, acomodar-se é perecer ou ficar ultrapassado (CORTELLA, 2019, p.24). Neste caso o convite que faço a você neste momento é para que você desacomode, inquiete-se, e que segundo o autor acima citado, que seja uma inquietação positiva, que o(a) faça crescer e desenvolver-se pessoal e profissionalmente. Certo? Parabéns pela conclusão desta aula, e espero você nas próximas! Valeu! Isto acontece na prática [....] A reflexão e a análise de questões fundamentais têm muito mais consequências práticas do que parece. A filosofia não só nos ajuda a ver o mundo de maneira diferente, mas também pode mudar a forma como interagimos com ele. De como podemos ajudar os outros até como enfrentar a morte, ou se devemos Figura 7- Mulher pensando Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2018/05/09/15/28/ question-3385451_960_720.jpg FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 15 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI tuitar com raiva. O pensamento crítico e as ferramentas que a filosofia nos proporciona nos ajudam a tomar decisões conscientes. 1. Como posso ajudar mais pessoas? Suponhamos que você queira doar 10 reais para uma ONG. Qual deveria escolher? Uma sobre a qual já ouviu falar? Alguma que esteja trabalhando em catástrofes? Ou talvez outra que atue em sua cidade? Os filósofos que defendem a corrente do “altruísmo eficaz” acreditam que as doações, por menores que sejam, podem ajudar muito mais do que imaginamos. Em entrevista ao EL PAÍS, o filósofo australiano Peter Singer destacou que pessoas de países em situação de extrema pobreza “vivem com menos de 700 dólares (cerca de 2.600 reais) por ano e, muitas vezes, não têm acesso à água potável, saneamento básico e educação para seus filhos”. Ou seja, esses 10 reais podem valer muito mais em um desses países com uma situação econômica pior. Além disso, nem todas as iniciativas funcionam da mesma maneira. Em seu livro Doing Good Better (fazendo o bem melhor), o filósofo William MacAskill, da Universidade de Oxford, nos aconselha a fazer perguntas como as seguintes: estamos ajudando uma área que está esquecida e, portanto, carente de recursos? Ou doamos quando ocorre uma catástrofe e, portanto, já existem muitas pessoas dando uma mãozinha? MacAskill também defende levar em consideração se há provas do alcance das ações da ONG. Por exemplo, e embora pareça paradoxal, os programas de eliminação de vermes intestinais são mais úteis para reduzir o absenteísmo escolar no Quênia do que comprar livros didáticos. Muito trabalho para 10 reais? Sim, é. Mas existem organizações que fornecem essas informações, como a Give Well, que analisa o impacto das ONGs recomendadas, e a The Life You Can Change, do próprio Singer, que inclui até uma calculadora que permite saber como cada doação será usada. 2. Devo participar da polêmica do dia no Twitter? Bem, você já doou os 10 reais. Agora, pega o celular para dar uma olhada no Twitter. Como geralmente acontece nesses casos, depois de alguns segundos já está morrendo de raiva de alguém que falou uma barbaridade e tem vontade de dizer-lhe umas poucas e boas. Embora talvez não seja uma boaideia. Os psicólogos Paul Bloom e Matthew Jordan se perguntavam no The New York Times há algumas semanas se somos todos “torturadores inofensivos”, por causa das redes sociais. Esse termo se refere a um experimento mental proposto por Derek Parfit no livro Razões https://brasil.elpais.com/tag/twitter FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 16 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI e Pessoas, publicado em 1986. O filósofo, que morreu em 2017, imagina torturadores que, durante anos e individualmente, tinham de causar o máximo de dor possível a uma pessoa, mas agora têm um sistema que os isenta de responsabilidade. A única coisa que precisam fazer é apertar um botão que aumente em um milésimo a dor sentida por cada um dos 1.000 prisioneiros. Ou seja, os torturadores podem alegar que não causaram muita diferença no sofrimento dessas pessoas. “Se eu tivesse parado de apertar o botão, sua dor teria passado de 1.000 para 999, então, por que arriscaria ser demitido?” Ou, no caso do Twitter, se 280 caracteres não vão fazer muita diferença, por que eu deveria ficar sem meus retuítes, mesmo à custa de humilhar ou insultar alguém? Mas, claro, na verdade não agimos sozinhos. Uma pessoa não faz muita diferença, mas cada um dos torturadores continua sendo responsável pelos danos causados. Especialmente se levarmos em conta que, provavelmente, apenas aperte o botão porque acredita que os outros 999 também o apertarão. [...] F o n t e : h t t p s : / / b r a s i l . e l p a i s . c o m / b r a s i l / 2 0 1 8 / 1 0 / 1 8 / cultura/1539859862_392943.html FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 17 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI AULA 2 A ATITUDE FILOSÓFICA Figura 8- livro e óculos Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2017/10/21/16/23/book-2875123_960_720.jpg Olá, seja bem-vindo e bem-vinda para mais uma aula, nesta etapa falaremos sobre a atitude filosófica e conto muito com você, pois poderemos refletir sobre diversos pontos que nos auxiliarão no desenvolvimento do senso crítico. Vamos lá? Bem na aula anterior sugeri que vocês assistissem ao vídeo sobre o Mito da Caverna segundo o Escritor Maurício de Souza, e aí você assistiu? Refletiu de como ele apresenta questões filosóficas atuais? Se você assistiu, parabéns! Se não assistiu, dê uma pausa nesta leitura e assista, pois o conteúdo te ajudará muito nas próximas páginas. Vimos que a Filosofia nos possibilita questionar a realidade, a buscarmos respostas para situações do nosso cotidiano de forma crítica. Mas ao ler o título desta aula: A Atitude Filosófica, eu te pergunto: no que consiste a atitude filosófica? O que vem à sua mente, como você imagina que seja esta “atitude”? FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 18 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI Antes de responder leia a citação a seguir sobre a relevância da Filosofia na formação profissional: A intenção primeira do ensino da Filosofia [...] nos cursos básicos das universidades, não é a de formar filósofos [...] mas provocar a reflexão filosófica, inerente a todo ser humano. Lembrando o filósofo italiano Antonio Gramsci, somos todos de certa forma filósofos, na medida em que nos propomos questões de natureza filosófica. Estamos sempre dando sentido às coisas e, diante dos problemas apresentados pelo existir, tendemos a reflexão, a não ser quando submetidos a uma formação autoritária e doutrinadora. [...] enfatizamos que todo ser humano, qualquer que seja sua escolha de profissão ou modo de vida, deveria desenvolver sua capacidade de pensar bem, de forma coerente e crítica (ARANHA, 2003, p.5). Ficou mais claro para você agora, o motivo pelo qual estamos dedicando esta disciplina para o estudo da Filosofia e o Serviço Social? Ótimo, então vamos à questão, o que é uma atitude filosófica: é quando saímos da zona de conforto, do comodismo mental e começamos as indagar, interrogar, questionar determinado objeto, situação, crenças, valores ou algo que nos tenha sido imposto ou preestabelecida e que via de regra nos incomoda, inquieta. Figura 9- engrenagem homem Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/pinh%C3%A3o-engrenagem-homem-365523/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 19 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI A atitude filosófica implica em uma mudança de atitude. A partir do momento em que você deixa de aceitar de forma pronta e imediata algo ou alguma situação, estabelecendo considerações, você começa a assumir uma atitude filosófica. Pois a Filosofia é buscar justificativas e explicações de forma racional para grandes e também pequenos dilemas, o que em seguida poderá pautar ou não as relações humanas. Alguém que tomasse essa decisão estaria tomando distância da vida cotidiana e de si mesmo, teria passado a indagar o que são as crenças e os sentimentos que alimentam, silenciosamente, nossa existência. Ao tomar essa distância, estaria interrogando a si mesmo desejando conhecer por que cremos no que cremos, por que sentimos o que sentimos e o que são nossas crenças e nossos sentimentos. Esse alguém estaria começando a cumprir o que dizia o oráculo de Delfos [Sócrates]: Conhece-te a ti mesmo. E estaria começando a adotar o que chamamos de atitude filosófica (CHAUÍ, 2012, p. 21, grifos da autora). Bem, dito isso vamos percebendo que muitas vezes ao longo da vida já estabelecemos uma atitude filosófica, ou seja, uma atitude racional, não é mesmo? Você consegue lembrar de algum momento desse na sua vida? Percebeu que a palavra racional apareceu em destaque duas vezes? Não foi à toa, é porque a racionalidade está intimamente relacionada à atitude filosófica, quer saber por quê? Por três motivos principais: em primeiro lugar, porque racional significa argumentado, debatido e compreendido; em segundo, porque racional, significa que, ao argumentar e debater, queremos conhecer as condições e os pressupostos dos nossos pensamentos e os dos outros; em terceiro, porque racional, significa respeitar certas regras de coerência do pensamento para que argumento ou um debate tenham sentido, chegando a conclusões que podem ser compreendidas, discutidas, aceitas e respeitadas por outros (CHAUÍ, 2012, p.21) Neste sentido, a racionalidade assume duas características: uma positiva e outra negativa, que por consequência acabam formando o que chamamos de atitude crítica, que comentamos na aula anterior. A atitude filosófica é negativa quando eu digo “não” FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI ... aos pré-conceitos, aos pré-juízos, aos fatos e às ideias de experiência cotidiano, ao que ‘todo mundo diz e pensa’, ao estabelecido. Numa palavra, é colocar entre parênteses nossas crenças para poder interrogar quais são as suas causas e qual é seu sentido (CHAUÍ, 2012, p.21). Quanto a característica positiva da atitude filosófica é, ... uma interrogação sobre o que são as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os comportamentos, os valores, nós mesmos. É também uma interrogação sobre o porquê e o como disso tudo e de nós próprios. “O que é?”, “Por que é?”, “Como é?”. Essas são as indagações fundamentais da atitude filosófica (CHAUÍ, 2012, p. 21 grifos da autora). As características, positiva e negativa que compõe a atitude filosófica, formam o que chamamos de atitude crítica, conforme já disse para você anteriormente. Mas o que a palavra crítica representa neste contexto? Geralmente a palavra crítica está associado a algo ruim, pejorativo, desagradável, porém no contexto filosófico em que estamos estudando não é isso que ela quer dizer. A palavra crítica vem do grego e possui três sentidos principais: 1) capacidade para julgar, discernir e decidir corretamente; 2) exame racional de todas as coisas sem preconceito e sem pré-julgamento; 3) atividade de examinar e avaliar detalhadamente uma ideia, um valor, um costume,um comportamento, uma obra artística ou científica. A atitude filosófica é uma atitude crítica porque preenche estes três significados da noção de crítica, a qual, como se observa, é inseparável da noção de racional, que vimos anteriormente (CHAUÍ, 2012, p. 21 grifos meus). Logo, toda atitude filosófica, crítica tem um start, um início que impacta aquele que a pratica, ou realiza. Assim como cada um de nós, quando possui desejo de saber, vai em direção à atitude filosófica ao perceber contradições, incoerências, ambiguidades ou incompatibilidades entre nossas crenças cotidianas, assim também a filosofia tem especial interesse pelos momentos de crise ou momentos críticos, quando sistemas religiosos, éticos, políticos, científicos e artísticos estabelecidos se envolvem em contradições internas ou contradizem-se uns aos outros e buscam transformações e mudanças cujo sentido ainda não está claro e precisa ser compreendido (CHAUÍ, 2012, p. 21). FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 21 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI Sendo assim, tenha claro que a atitude filosófica está ligada a indagação pautada principalmente em três perguntas filosóficas: Anote isso 1ª pergunta filosófica: O quê? 2ª pergunta filosófica: Por que? 3ª pergunta filosófica: Como? Figura 10- interrogações Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2017/03/02/09/26/question-mark-2110767_960_720.jpg Tais perguntas são as mesmas, independentemente do que se esteja investigando, ou seja, as características serão sempre as mesmas. Vamos saber qual o sentido e o significado destas três perguntas? Está curioso(a)? Vamos lá? • Perguntar o que é (uma coisa, um valor, uma ideia, um comportamento). Ou seja, a filosofia pergunta qual é a realidade e qual é a significação de algo, não importa o quê. • Perguntar como é (uma coisa, um valor, uma ideia, um comportamento). Ou seja, a filosofia indaga como é a estrutura ou o sistema de relações de algo, não importa o quê. • Perguntar por quê (uma coisa, um valor, uma ideia, um comportamento). Ou seja, por que algo existe, qual a origem ou a FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 22 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI causa de uma coisa, de uma ideia, de um valor, de um comportamento (CHAUÍ, 2012, p. 24). Ao me dirigir para estas indagações e questionamentos dou início a minha atitude filosófica, mediante à sociedade e relações que nela estabeleço no meu cotidiano. Somos além de seres pensantes, dotados de consciência, somos atuantes no mundo, influenciamos e somos influenciados pelo ambiente macro e micro, global e local. Sendo assim, a partir do momento em que indago, me coloco numa postura de atitude filosófica, estou simultaneamente refletindo, a reflexão é parte componente daquele que age, indaga filosoficamente. Temos aqui então mais um conceito que você precisa conhecer e se apropriar, esse movimento da atitude filosófica que se chama: reflexão filosófica. A reflexão filosófica é o movimento pelo qual o pensamento, examinando o que é pensado por ele, volta-se para si mesmo como fonte deste pensado. É o pensamento interrogando-se a si mesmo ou pensando-se a si mesmo. É a concentração mental em que o pensamento volta-se para si próprio para examinar, compreender e avaliar suas ideias, suas vontades, seus desejos e sentimentos. A reflexão filosófica é radical porque vai à raiz do pensamento (CHAUÍ, 2012, p. 24). Assim como a atitude filosófica se pauta em três perguntas características, a reflexão filosófica também se organiza a partir de três grandes conjuntos de questões, que giram em torno da linguagem, pensamento e ação: Anote isso Procure destacar os 3 conjuntos de questões que caracterizam a reflexão filosófica! Figura11- Mulher Trabalhando Fonte: https://png.clipart.me/istock/ previews/9246/92468831-woman- working-at-laptop.jpg FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI 1. “Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e fazemos o que fazemos?” Isto é, quais os motivos, as razões e as causas para pensarmos o que pensamos, dizermos o que dizemos, fazermos o que fazemos? 2. “O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer quando falamos, o que queremos fazer quando agimos?” Isto é, qual é o conteúdo ou o sentido do que pensamos, dizemos ou fazemos? 3. “Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos?” Isto é, qual a intenção ou a finalidade do que pensamos, dizemos e fazemos? (CHAUÍ, 2012, p. 25). Assim apresentado, você pode até estar se perguntando agora? Quer dizer que filosofia é um permanente pensar? Sim! Você está certo(a)! Pois ao falarmos em reflexão, falamos em desdobramentos de pensares. Isto está na rede Filosofando a partir do cotidiano. Para estimular você a realizar uma reflexão filosófica, vou sugerir que você assista o documentário: “Ilha das Flores”. Ao acessar o material, sugiro que você o assista se colocando numa atitude filosófica, pois alguns questionamentos pertinentes são feitos, inclusive muito próximos das indagações que fazemos enquanto profissão. Vá lá, acesse, assista e reflita! L I N K : h t t p s : / / w w w. y o u t u b e . c o m / watch?v=bVjhNaX57iA A palavra reflexão vem de reflexo, assim como quando vemos nossa imagem no espelho, vejo um desdobramento de mim mesmo no espelho, um reflexo. Logo a atitude e reflexão filosófica implica também em coragem. Coragem para pensar, questionar a si e ao outro, enfrentar e não ter medo de mudar, este é um grande desafio, uma vez que A filosofia é o modo de pensar que acompanha o ser humano na tarefa de compreender o mundo e agir sobre ele. Mais que postura teórica, é uma atitude diante da vida, tanto nas condições corriqueiras https://www.youtube.com/watch?v=bVjhNaX57iA https://www.youtube.com/watch?v=bVjhNaX57iA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 24 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI como nas situações limites que exigem decisões cruciais. Por isso no encontro com a tradição filosófica não devemos nos restringir a recebe-la passivamente como um produto, mas sermos capazes, cada um de nós, de aproximarmos da filosofia como processo, ou seja, como reflexão crítica e autônoma a respeito da realidade vivida (ARANHA, 2003, p. 91). Em posse deste conhecimento todo que você já adquiriu até aqui, perceba como a coragem faz todo sentido, se você não tivesse coragem, não teria escolhido cursar uma faculdade, não teria feito a matrícula, não teria acessado este livro e muito menos chegado até este ponto do estudo da disciplina de Fundamentos Filosóficos do Serviço Social, e olha que pouco falamos sobre o Serviço Social, AINDA. A coragem traz consigo um colega, que se chama propósito. Saber identificar o seu propósito para as coisas que realiza é fundamental para que não se distraia no caminho. O propósito está relacionado a sonhos, projetos, coisas que desejo realizar e para isto também é preciso coragem. Saber estabelecer um processo de reflexão profunda quando necessário, se valendo das perguntas até aqui apresentadas e que conduzem o filosofar. Figura 11- Movimento Filosófico Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2017/11/18/09/40/concept-2959606_960_720.png Antes de finalizarmos, gostaria de compartilhar um exemplo de reflexão que acontece na mente de algumas pessoas, aquelas conversas que temos conosco mesmos muitas vezes ao longo do dia: - Por que faço o que faço? - Ora, porque sou obrigado. - Mas e se eu não for obrigado a fazer exclusivamente isso? Poderia fazer outra coisa? - Se eu tiver escolha, parto para essa outra coisa. - Mas por que, em vez de fazer o que faço no trabalho, não vou ser empreendedor? FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 25 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI - Porque eu não tenho condição de fazê-lo. Quando tiver o farei. (CORTELLA,2016, p. 22) Do que adiantou toda a reflexão exemplificada pelo autor, se não houve ação? Ou seja, não serviu para nada. Continuo o meu trabalho e não busco soluções viáveis. Logo esta reflexão ficou guardada na mente do seu pensador. Desta maneira, fica apresentada e justificada a importância da compreensão da filosofia e o ato de filosofar para você aluno(a) do curso de Serviço Social. Lembre-se que primeiramente os filósofos desejavam saber de onde viemos, por que as coisas mudam, olhavam para o passado para entender o presente, fato este que hoje temos muitos escritos sobre cada filósofo acerca das suas concepções e convicções. Nós que vivemos os dias atuais somos movidos a futuro. Pensamos, refletimos, indagamos, sobre o “como será?”. E a partir desse desejo de como será o amanhã, investimos tempo pensando, elaborando planos e projetos. A palavra projeto significa jogar adiante. É aquilo que eu jogo adiante e vou buscar. Independentemente da área escolhida, a construção da carreira precisa ser movida a sonhos. Cabe alertar que o sonho, é diferente de delírio, de divagação, de distração. Sonhar é ter uma expectativa a qual se queira atingir. Delirar é imaginar algo que não tem como se tronar factível, viável (CORTELLA, 2019, p. 53). Bem, finalizamos mais uma aula, espero ter contribuído mais um pouco com o seu processo de formação profissional. Uma dica: se ficou alguma dúvida, releia o material, faça anotações, converse com algum colega, mas não deixe de fazer a experiência. Temos como característica rejeitar, aquilo que ainda não entendemos, temos receio do novo, por isso aventure-se, estude, amplie seus conhecimentos, pois muitas pessoas dependerão do seu trabalho enquanto profissional, e para isso a reflexão, a atitude filosófica poderá contribuir em muito, logo, logo vocês verão. Forte abraço! Isto acontece na prática Para ilustrar a importância da Filosofia na prática profissional do Assistente Social, vou propor a leitura deste pequeno texto que nos ajuda a pensar o cotidiano, a partir de reflexões filosóficas: FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 26 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI “Karl Marx fazia uma distinção muito clara entre os dois reinos da vida: o da necessidade e o da liberdade. No reino da necessidade, eu não posso deixar de fazer aquilo que eu faço, senão pereço. No reino da liberdade, a vida é escolha”. Segundo Marx, existe uma diferença entre “ser livre de” e “ser livre para”. Se não for livre de fome, de falta de abrigo, da falta de socorro médico, você não é livre para outras escolhas. Uma parcela das pessoas é livre da miséria, da penúria, da carência, e é livre inclusive para dizer “não vou ter um trabalho regular”, “vou viajar”. Para ser um mochileiro, é preciso ser livre de uma série de outras restrições. Nada adianta imaginar um menino pobre da periferia de uma metrópole colocar uma mochila nas costas e ir viajar para a Austrália. Um garoto de família mais abastada seria capaz de fazer isso. Porque ele tem contatos, já armazenou sua mochila vivencial uma série de ferramentas que o permitem essa experiência, porque ele é privilegiado. Para o outro não há escolha, ou trabalha ou morre.” CORTELLA, Mario Sergio. Por que fazemos o que fazemos? Aflições vitais sobre trabalho, carreira e realização. Petrópolis: Vozes, 2016, p. 22-23. Figura 12- Mulher Comemorando Fonte: https://loopdesucesso.com/wp-content/uploads/2020/03/Mulher-trabalhando.png FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 27 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI AULA 3 A FILOSOFIA E O SERVIÇO SOCIAL Figura 13- Bússola Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2020/05/06/12/01/compass-5137269_1280.jpg Olá, chegamos a nossa terceira aula, e agora vamos nos aproximando mais da discussão acerca da Filosofia e o Serviço Social, estou muito animada e espero que você também! Então vamos lá? Mãos à obra! Vamos abordar nesta nossa aula a relevância e significado da presença dos elementos filosóficos para a formação do Assistente Social. A Filosofia faz parte do componente curricular, desta forma ainda ele está contemplado enquanto fundamentos básicos da profissão. Partindo desta ideia e do nome desta disciplina: Fundamentos Filosóficos do Serviço Social, se faz necessário neste momento apresentar o conceito da palavra “fundamentos”: FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 28 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI Fundamento é uma palavra que vem do latim e significa “uma base sólida” ou “o alicerce sobre o qual se pode construir com segurança”. Do ponto de vista do conhecimento, significa “a base ou o princípio racional que sustenta uma demonstração verdadeira”. Sob esta perspectiva, fundamentar significa “encontrar, definir e estabelecer racionalmente os princípios, as causas e condições que determinam a existência, a forma e os comportamentos de alguma coisa, bem como as leis ou regras de suas mudanças” (CHAUÍ, 2012, p.27). Figura 14- Grécia - Partenon Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/gr%C3%A9cia-pal%C3%A1cio-partenon-ic%C3%B4nico-1594689/ A partir do exposto acima, você poderá irá perceber que outras disciplinas do curso de Serviço Social, iniciam com a palavra fundamentos, o que nos leva a compreender que são disciplinas que buscam promover uma base sólida aceca de elementos essenciais para a formação do Assistente Social. Cada uma trazendo elementos e conteúdo que ao se somarem com tantos outros darão sustentação para você no futuro. Dentre os elementos a serem abordados no que diz respeito a fundamentos filosóficos em especial nesta disciplina, estão: FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 29 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI Pois bem, nos dias atuais o profissional de Serviço Social se depara no seu trabalho com inúmeras questões relacionadas às questões éticas, antropológicas, políticas, culturais, dentre outras, que nos pede uma atitude e reflexão filosófica. Ao trazer para o Serviço Social os fundamentos filosóficos, estamos oportunizando a você a possibilidade do autoconhecimento, conhecimento da sociedade e do mundo. Trabalhar questões filosóficas no processo formativo não exclui as discussões acerca das práticas profissionais, pois as teorias auxiliam no processo de entendimento da realidade na qual irá atuar. Isto ficou entendido? Espero que sim, pois do que já dito podemos definir algumas características da filosofia: é um saber teórico, critico, desmistificador e criativa, um saber diferente daquele do senso comum [...] costuma-se definir a filosofia como um modo de investigar que supõe uma determinada atitude [...] (BARROCO, 2008, p. 14). Para estabelecer uma atitude filosófica, você necessita também desenvolver seu senso crítico, agregando valor ao processo de formação profissional, este crescimento acontece quando há a relação entre as disciplinas de forma interdisciplinar, pois juntas elas possibilitam a sua formação integral crítica e política. Visamos com isso que você se torne um Assistente Social capaz de questionar, analisar e intervir na realidade em que estiver atuando profissionalmente. Ao valorar a realidade, as filosofias sempre pretendem estabelecer uma crítica às suas antecessoras e apontar o novo, donde as diferentes tendências filosóficas e a polêmica entre elas. Como diz Agnes Heller, toda filosofia oferece uma forma de vida; toda filosofia é uma crítica de uma forma de vida e, ao mesmo tempo, sugestão de outra forma de vida (BARROCO, 2008, p.15). Leve com muito compromisso este processo de formação, pois o investimento do seu tempo deve ser valorizado primeiramente por você, num segundo momento ao se ter uma formação que vise a criticidade e politização teremos muito menos profissionais no mercado de trabalho que atuam de forma assistencialista, imediatista, ou que reforcem os interesses da classe burguesa na exploração da classe trabalhadora.Na história do Serviço Social diferentes perspectivas filosóficas fizeram parte da construção teórica da profissão, os quais serão apresentados na próxima Unidade do nosso material, na qual serão abordadas as principais perspectivas, dentre elas falaremos sobre o, Marxismo, Neotomismo, Positivismo e Fenomenologia. Todas elas FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 30 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI de uma forma ou outra contribuíram ou ainda contribuem para o amadurecimento da profissão. Figura 15- engrenagens construção do pensamento Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/problema-solu%C3%A7%C3%A3o-ajuda-suporte-3303396/ Logo, a Filosofia de uma forma bem ampla e geral possui o objetivo de provocar reflexões, indagações para você caro aluno(a), sendo assim ela pode alcançar outras disciplinas. “Pensamos que uma educação para a autonomia, no sentido da formação de indivíduos que possam escolher por si mesmos em que mundo querem viver, só pode ser tal se nela tiver lugar a filosofia” (GALLO E KOHAN, 2000, p. 195). E como a Filosofia e o Serviço Social se aproximam? Bom falar um pouco mais sobre isso: A filosofia oferece uma compreensão sobre o homem que se coloca como base para várias teorias e ciências [dentre elas o Serviço Social]. Quando essa concepção de homem é histórica, as perguntas sobre a essência dos fenômenos, serão buscadas no próprio homem entendido como autor e construtor de sua própria história. Nesse sentido, a pergunta sobre o significado das ações e relações humanas irá demandar uma vinculação com as necessidades sociais, com as finalidades sociais. Pensar, por exemplo, que a filosofia é uma abstração atende a alguma necessidade social? Qual a sua finalidade? Podemos, pois, observar que as perguntas filosóficas – se situadas em face da realidade concreta – não são abstrações que não servem para nada; ao contrário, são perguntas que só podem ser respondidas, em sua essência, pela apreensão da realidade social em sua objetividade (BARROCO, 2008, p. 15, grifos nosso). FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 31 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI A Filosofia possibilita uma aproximação da realidade social, a qual todos os(as) Assistentes Sociais estão inseridos, possibilita ainda analisar tal realidade a partir ela é no concreto vivido, no real, no mundo real! Figura 16- Proteção e cuidado humano Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/socorro-pobre-m%C3%A3os-telhado-solid%C3%A3o-2930392/ O Serviço Social se apresenta não somente como uma profissão inserida na divisão sociotécnica do trabalho, ele se configura também como uma área do conhecimento humano ligado ao universo das ciências sociais, que se vale também de outras áreas do conhecimento, como: sociologia, direito, psicologia social, economia etc., e também a filosofia, tais áreas abordam questões amplas, no que diz respeito ao conhecimento do ser humano e visam contribuir para que o profissional aprenda a trabalhar e compreender o ser humano, a natureza humana. No que tange o diálogo entre a Filosofia e o Serviço Social, é importante ter claro que o homem é constituído por três dimensões distintas: Somática/Física (dimensão corporal, material); Anima (dimensão espiritual); Psíquica (dimensão ligada aos pensamentos, sentimentos e valores). A partir do entendimento destas três dimensões, a pergunta filosófica que você deve se fazer é: que concepção eu tenho do ser humano? Primeiro passo para começar a estruturar este conceito à luz do Serviço Social é compreender o homem enquanto um ser tridimensional (corpo, mente e alma) ou como falamos no Serviço Social, todo homem é um ser bio-psico-social. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI É válido destacar aqui que não existe uma dimensão mais importante ou que sobreponha uma à outra, só consigo compreender o homem e suas relações a partir das três dimensões que são, por sinal, interligadas. Ao olharmos para os filósofos da antiguidade podemos destacar três em especial, pela contribuição que deixaram para o Serviço Social, são eles: Sócrates, Platão e Aristóteles, vamos agora entender por quê? Figura 17- Filósofos Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/bustos-filsofia-arist%C3%B3teles-756620/ - Sócrates (sec. V a.C, grego): criou o método chamado de hermenêutica, que significa chave, abertura. A qual está relacionada a máxima: “Conhece-te a Ti mesmo”, este método é constituído de duas fases, sendo o primeiro é a ironia (termo que vem do grego e que quer dizer perguntar), que quer dizer que nós nada sabemos, ou seja, eu sei que nada sei. Quando por meio do pensamento filosófico eu levo a pessoa a perceber que suas crenças arraigadas, seus preconceitos, suas ideologias, são tão somente aparências, ainda nos diz que nós enquanto humanos, também sabemos muito pouco do outro humano, bem como sabemos pouco de nós mesmos. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 33 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI Ao perceber isso nós “rimos”, logo a ironia não significa rir da cara da outra pessoa e sim “rir de si mesmo”, eu sei que nada sei; e por saber que nada sei, agora estou sabendo que nada sabia, antes de saber o que sei. Se você observar poderá constatar que o verbo “saber” foi utilizado diversas vezes, o que é irônico, não é mesmo? O que sabemos e aprendemos ao longo da nossa vida, ainda é muito pouco frente ao mistério que é a natureza humana. A segunda fase é conhecida como maiêutica, que significa a arte de nascer, de trazer à luz, na medida em que eu constato a minha ignorância esse “novo ser”, ou seja, essa “nova pessoa” está “pronta para vir à luz” é a descoberta de um processo de conhecimento interior. Esse método socrático vai acabar influenciando também na psicanálise e psicologia. Logo, é com base nestas duas fases que o Serviço Social busca os seus fundamentos na filosofia. A esse pensador grego do século V a.C. é atribuída a frase ‘Só sei que nada sei”. Ao proferir essa fala, Sócrates evidentemente não estava afirmando que nada sabia, de fato. Filosofo por excelência, ele estava tentando explicitar uma condição mais abrangente e profunda. O sentido dessa afirmação poderia ser interpretado como “só sei que nada sei por inteiro”, “só sei que nada sei por completo”, “só sei que nada sei que só eu saiba”, “só sei que nada sei que não possa vir a saber”, “só sei que nada sei que eu e outra pessoa não saibamos juntos”. Esse posicionamento é o primeiro degrau para nos afastarmos do risco da mediocridade (CORTELLA, 2019, p. 28). - Platão (sec. IV a.C, grego): foi discípulo de Sócrates e também representante de uma corrente filosófica conhecida como idealismo. Com destaque para o Mito da Caverna, que eu sugeri que vocês assistissem na nossa primeira aula. O Mito explica a existência de dois mundos: mundo das ideias, da perfeição do qual nós somos originários e o mundo no qual nós chegamos, o mundo no qual estamos vinculados, ou seja, o mundo material. Figura 18- Platão Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/ plat%C3%A3o-o-fil%C3%B3sofo-antiga- cientistas-3069619/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 34 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI Anote isso O Mito da Caverna: Platão discorre sobre um prisioneiro que consegue se libertar das amarras, das ideologias, das convicções do senso comum e consegue chegar até “fora da caverna” e descobre um novo mundo: da realidade, das verdades, das certezas e da concretude da essência humana. Esse “prisioneiro” tenta retornar à caverna para libertar àqueles que estavam acostumados com o mundo das sobras, ilusões, dos achismos e ele (o prisioneiro) e acaba sendo banido. O Mito da Caverna traduz muitas vezes o questionamento para cada um de nós, eu e você: qual caverna eu vivo? Considerando que mundo é a perspectiva “a pequena caverna”que eu habito. Isto está na rede Dica de Filme - Matrix: o primeiro filme da trilogia traz consigo uma grande base filosófica platônica. Dica de Vídeo: Matrix e o Mito da Caverna – Comentários Filosóficos • Link 01: https://www.youtube.com/watch?v=Rg9kyJCp5n8 • Link 02: https://www.youtube.com/watch?v=nFSDOZxoZFY Dica de Vídeo: Alice no País das Maravilhas e Matrix - Mario Sergio Cortella • Link: https://www.youtube.com/watch?v=dpp3XFsTXnw Vale a pena conferir e refletir! Figura 19- Matrix Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/matriz-comunica%C3%A7%C3%A3o-software-pc-1799659/ https://www.youtube.com/watch?v=Rg9kyJCp5n8 https://www.youtube.com/watch?v=nFSDOZxoZFY https://www.youtube.com/watch?v=dpp3XFsTXnw FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 35 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI Figura 20- Alice e o coelho Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/alice-no-pa%C3%ADs-das-maravilhas-4197258/ - Aristóteles (sec. III a.C, grego) -discípulo de Platão, resgata e constrói a Filosofia no diálogo com o Serviço Social, por meio da corrente filosófica chamada de realismo. Para este filósofo o ser humano nasce como uma folha em branco, ou seja, nós não trazemos conhecimentos e experiências de um mundo superior, espiritual, ou ideal como dizia Platão, ou seja, para Aristóteles, tudo o que sabemos e aprendemos é feito neste mundo. Logo ele propõe uma teoria do conhecimento, que por meio da utilização dos cinco órgãos sensoriais é que aprendemos a descobrir o mundo. Isso quer dizer que eu conheço algo na medida em que eu Figura 21- Aristóteles Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/escultura-bronze- figura-arist%C3%B3teles-2298848/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 36 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI experimento, ou seja, conheço o mundo através dos órgãos sensoriais, sobretudo, a visão, audição e o canal cinestésico (emocional). 3.1 Relacionando a Filosofia com a atuação do Assistente Social: A partir do apresentado acima, é importante que você consiga relacionar o posicionamento destes primeiros filósofos e como eles fundamentam o Serviço Social, ao trazermos referências da Filosofia, como: Sócrates, Platão, Aristóteles, temos a oportunidade de reforçar que a filosofia está no nosso dia a dia, ou seja, no nosso cotidiano existe um razão prática para isso. Como a Filosofia não é algo palpável não podemos ver seu produto final, muitos alunos acabam entendendo que ela não possui relevância, contudo, chamo a sua atenção para aquilo que foi dito desde a primeira aula: todo esforço da Filosofia, se concentra em compreender o homem, a sua existência, a sociedade em que vive e suas relações. Anote isso O espaço privilegiado da intervenção profissional é o cotidiano, o mundo da vida, o todo dia do trabalho que se revela como um ambiente no qual emergem exigências imediatas e são desenvolvidos esforços para satisfazê-las, lançando mão de diferentes meios e instrumentos. É um ambiente material e de relações no qual o profissional deve se mover naturalmente com uma pretensa intimidade e confiança sabendo manipular as coisas, os costumes e as normas que regulam os comportamentos no campo social e técnico (BAPTISTA, 2001, p.111, grifo nosso). A partir do exposto, você deve ter clareza que os fundamentos fornecerão a base para a sua intervenção profissional, juntamente com o arcabouço de Leis, Código e Regulações. Compreender a atuação profissional do Assistente Social vai muito além da operacionalização das Políticas Públicas, envolve o conhecimento do ser humano. A realidade concreta, considerada matéria-prima incontornável da identidade, é um forte condicionante da ação dos assistentes sociais, pelos recursos que são disponibilizados ou não, pelas regulações formais da atividade que desenvolvem, pelos objetivos FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 37 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI políticos da sociedade em que atuam e pelas condições objetivas de desenvolvimento social e econômico. Exige uma atitude reflexiva individual em um processo sustentado por relações afetivamente significativas, atitude que se estabelece na interação com outros, sempre presentes nesse processo de construção da identidade (GRANJA, 2011, p.436). Retomando os fundamentos da Filosofia é necessário compreender que o profissional de Serviço Social (Assistente Social) se perceba enquanto promotor/facilitador do processo reflexivo junto ao usuário, junto aos grupos que coordena e junto à comunidade onde está inserido profissionalmente. O profissional não deve apresentar respostas e soluções prontas para o usuário que o(a) procura, deve sim estimular o crescimento pessoal e coletivo, como forma de promover cidadãos autônomos, conhecedores e proativos, sobretudo, conhecer a subjetividade humana para que tenha propriedade para analisar criticamente como ela (a subjetividade) influencia e é influenciada pelo meio social onde o sujeito vive. O conhecimento necessário para o assistente social como mediador e garantidor dos acessos aos direitos do cidadão vai muito mais além do que sanar uma necessidade imediata (comida ou roupa), é necessário ao profissional, uma capacidade analítica, crítica, promotora, capaz de desenvolver/buscar alternativas capazes de viabilizar a superação da condição de vulnerabilidade social/econômica/emocional do usuário. Para tanto, será necessário saber quem é este usuário, o que ele precisa, suas origens, seus planos e projetos de vida. Como vimos anteriormente estes saberes estão lotados de questões filosóficas, que pedirão para o profissional uma atitude e uma reflexão filosófica crítica. Pois muitas vezes o usuário não se percebe enquanto sujeito da sua própria história, pois ele é fruto de uma sociedade por vezes opressora que não estimula o autoconhecimento e consciência do seu poder enquanto cidadão de direitos. Dessa forma, sendo o assistente social dotado de conhecimentos que auxiliam o indivíduo a refletir sobre si e suas condições, deve sempre estar em alerta para que o usuário também não se torne um depende dele(a), e sabemos a satisfação que se tem quando percebemos que somos tão importante para alguém, porém não podemos confundir a efetividade do nosso trabalho profissional com a dependência afetiva do usuário pelo profissional. Pense sobre isso! Para isso, meu caro(a) aluno(a), durante a sua atuação profissional, deve-se buscar a compreensão da vida do usuário em sua totalidade, sem pré-julgamentos, pois nem FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 38 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI ele (nem nós) somos uma ilha, é necessário o entendimento do usuário nas suas mais diversas relações, pois aí pode morar a chave de todo o problema que ele vem vivendo, e nem sempre fazer com que ele se abra é uma tarefa fácil, é preciso ler as entrelinhas, ter paciência e humanidade suficiente para realizar esta análise, ou seja, uma atitude filosófica. Se o homem (enquanto sujeito) não conhecer a si próprio, não terá como conhecer o outro. É necessário, então, ao homem saber o que quer, saber seus anseios, seus desejos e sentimentos mais íntimos e sinceros, uma vez que, Hoje pouca gente sabe o que quer na verdade, se o que fazem é realmente o que querem ou aquilo que lhe é imposto a fazer, ou porque todos fazem e é mais fácil que ele o faça também, [...] grande número de nossas decisões não são de fato nossas, mas nos são sugeridas de fora; conseguimos persuadir-nos de que não somos nós que tomamos a decisão, quando na realidade nos conformamos com as expectativas de outros, impelidos pelo temor ao isolamento, e por ameaças mais diretas à nossa vida, liberdade e bem estar [...] (FROMM, 1983, p. 160-161, grifo nosso). O homem nos dias atuais está condicionado a dar respostas pré-programadas, onde muitos dizem algo, então ele também o diz, um ser robotizado, automático,muitas vezes incapaz de estabelecer uma reflexão crítica sobre si e suas condições. Figura 22- pássaros Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/gaivotas-bird-v%C3%B4o-mar-c%C3%A9u-%C3%A1gua-370012/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI A liberdade é fruto da autoconsciência do homem e, só é possível adquiri-la no momento em que o homem tiver consciência de si, de seus atos, razões e desejos. De acordo com May (1987, p.134), “a autoconsciência e a liberdade andam a par [...] quanto menos consciência de si mesma tem a pessoa, tanto menos livre ela é”. Isso quer dizer que, se o homem não é seguro de si, logo é carregado e preso pela opinião pública, “já não sou eu quem penso, mas o outro que pensa por mim”, talvez hoje esse seja o lema (mesmo que inconsciente) de muitas pessoas, com isso, a liberdade interior tão almejada fica cada vez mais distante. O homem será autêntico quando sentir-se livre interiormente. A autenticidade implica nessa conquista, ou seja, é livre aquele que consegue ser ele mesmo, um ser autêntico, sem permitir que as ideias exteriores poluam seus ideais, ser um homem de responsabilidades, que diante dos dilemas presente na sociedade, age, enfrenta-os e não se submete. E cada um enfrenta ou não esses dilemas de uma forma diferente, pois cada indivíduo é singular, por isso, não há receita pronta e acabada para resolução de todos os dilemas do homem. Existem sim, caminhos que viabilizam tal resolução que é um processo inacabado, novamente aqui podemos ver a influência da Filosofia, nas ações reais que o profissional deve conceber no cotidiano. May (1987, p.135) explicita de forma clara e objetiva, como a liberdade é decorrente da autoconsciência: À medida que a pessoa adquire mais autoconsciência sua liberdade e escala de opções aumentam proporcionalmente. A liberdade é acumulativa; uma opção feita com um elemento de liberdade possibilita maior liberdade na próxima opção. Cada exercício de liberdade amplia o âmbito da personalidade. A liberdade é um processo contínuo e proporcional à autoconsciência, como diz May (1987), à medida que a autoconsciência permite ao indivíduo uma ação racionalmente livre, esta mesma ação auxilia no aumento da autoconsciência, permitindo uma maior liberdade de escolha deste indivíduo nas próximas situações. A liberdade como capacidade humana é, portanto, o fundamento da ética. Assim agir eticamente, em seu sentido mais profundo, é agir com liberdade, é poder escolher conscientemente entre alternativas, é ter condições objetivas para criar alternativas e escolhas. Por sua importância na vida humana, a liberdade é também um valor, algo que valoramos positivamente, de acordo com as possibilidades de cada FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 40 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI momento histórico. Por tudo isso podemos perceber que a liberdade é também uma questão ética das mais importantes, pois nem todos os indivíduos sociais têm condições de escolher e de criar alternativas de escolha (BARROCO, 2008, 48). Considerando o que estudamos até aqui, pergunto: você consegue se imaginar na prática profissional, intervindo junto ao usuário? Considerando os elementos apresentados até o presente momento? Veja que a intervenção profissional vai além das questões econômicas da sociedade, pois contribuir para a construção do sujeito autômato e crítico também faz parte do cotidiano do assistente social, e, para isso, tanto a Filosofia, a Psicologia Social, a Antropologia, contribuem significativamente. Cabe ao indivíduo decidir como se deve agir, para isso, o Assistente Social se põe como mediador desse processo reflexivo. O homem não só pode como deve ser o mentor de seus atos e saber o que se quer implica num ser maduro, apto a escolher por si só as metas e os valores que regerão sua vida. O ser humano não deve fazer as coisas por mera rotina ou hábito, e, sim, porque acredita que o que faz tem algum valor real para sua vida. Isso se dá em qualquer fase da vida, pois somos seres em permanentemente crescimento e mudança. Isto é liberdade, é o homem contribuir para sua própria evolução, numa constante mudança. Não se pode pensar num homem, que busca sua liberdade como aquele que é “mais” (é superior) que a sociedade, deve-se pensar em liberdade como aquela que “revela-se no ajuste da própria vida com a realidade” (MAY,1987, p.136). May (1987) sintetiza aquilo que acabamos de ver: [...] a liberdade, portanto, não é apenas uma questão de dizer ‘sim’ ou ‘não’ diante de uma decisão específica: é a força de amoldar e criar a nós mesmos. É a capacidade para dizer como Nietzsche, ‘de nos tornarmos o que verdadeiramente somos’(p.137, grifos nossos). A autenticidade consiste em ser livre interiormente e, se assim o for, ele o será exteriormente. Após esta contextualização fica cada vez mais claro o papel dos Fundamentos Filosóficos para a profissão, finalizo esta aula convidando você a ler com bastante o quadro que traz uma apresentação de como consolidar o fazer profissional a partir da construção de práticas reflexivas, sendo este um processo dialético e contínuo. Pois, um profissional é reflexivo quando toma sua atividade como objeto de reflexão (GRANJA, 2011, p.436). FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 41 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI OBJETIVOS PROCESSOS DA PRÁTICA REFLEXIVA Permite a interação dialética entre ação e reflexão A construção teórica exige o autorreconhecimento e a explicitação permanente dos esquemas de pensamento e ação, sob a forma de saberes processuais procedimentos do serviço social, a partir da própria ação. Estes devem demonstrar a capacidade de articulação fecunda entre os saberes teóricos e a prática, em que a teoria orienta e guia a prática e esta, por sua vez, alimenta a teoria, e em que se reorganizem os saberes teóricos em função dos limites e das exigências da prática. Confronta o agir profissional com o crescente conhecimento cientifico e técnico existente e a construção de novas estruturas mentais de saber profissional. Permite a objetivação das práticas, explicita o pensamento em um diálogo reflexivo A ação tem uma lógica de percurso, com passado, presente e futuro, o que exige um processo de reflexão para assegurar sua interdependência. Permite desenvolver a capacidade para nomear e reconstruir os problemas e (re)construir a experiência e repertórios profissionais. Consolida o saber de ação como esquemas de racionalidade específica do grupo para tomar distância, contestar, comparar e verificar a coerência entre variáveis reguladoras dos problemas e as estratégias de ação. Exige o domínio de suportes da linguagem e os repertórios estruturados de experiência para descrever a realidade, interpretá-la e construir representações operacionais. Favorece a construção de conhecimento sobre a disciplina profissional Propõe grades abertas de leitura das experiências e hipóteses operacionais, como esboços da ação, sem a pretensão de encontrar as estratégias infalíveis. Analisa e interpreta as diferentes lógicas dos sistemas e atores, onde e com quem interagem. Confronta os profissionais com os objetivos e resultados de suas escolhas e decisões, modelos e projetos operacionais. Favorece as abordagens multidisciplinares As exigências da prática em toda sua complexidade confrontam o profissional com o fato incontornável da realidade social, que não pode ser explicada por uma única ciência, mas que exige sínteses teóricas complexas em um processo contínuo e dinâmico que se desenvolve no tempo e em vários espaços e exige interação em espaços e campos diversos. Estimula e fortalece as redes relacionais profissionais e de pesquisa Pressupõe interação, atividade cooperativa com colegas e outros atores, participa de processos de decisão, exercício de supervisão, pedido de ajudaou conselho, debate contraditório ou avaliação. Permite a apropriação de referências identitárias que o profissional adota ou recusa para adquirir confiança, suporte e segurança psicológica para agir. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 42 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI Desenvolve a cultura profissional A reflexividade seleciona os usos diferenciados de regras e recursos, transforma-os e transaciona-os para os novos contextos de uso, atribuindo-lhes um sentido contextual fundamentado em uma concepção do saber profissional com valores e crenças associados – a cultura profissional. Quadro 01- Construir saber pela prática reflexiva para consolidar as formas identitárias Fonte: GRANJA (2011, p.436) Obrigada por concluir mais esta etapa do seu processo de formação profissional, e até a próxima! Figura 23- Conquista Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/salto-precip%C3%ADcio-aventura-coragem-5187199/ Isto está na rede Leitura Complementar: A competência reflexiva processual em serviço social na ação profissional junto às populações GRANJA, Berta. A competência reflexiva processual em serviço social na ação profissional junto às populações. Cad. Pesqui., São Paulo , v. 41, n. 143, p. 428-453, Aug. 2011 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0100-15742011000200006&lng=en&nrm=iso>. access on 18 MAR. 2020. https://doi.org/10.1590/S0100-15742011000200006. https://doi.org/10.1590/S0100-15742011000200006 FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 43 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI AULA 4 O HOMEM, O GRUPO E A COMUNIDADE Figura 24- Comunidade Lego Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/lego-estatuetas-brinquedos-multid%C3%A3o-1044891/ O objetivo desta nossa aula é fazermos uma reflexão filosófica e social, acerca do homem e suas necessidades, não abordaremos nenhuma corrente filosófica específica, contudo, é necessário que você, enquanto futuro(a) assistente social, tenha em mente com clareza o porque de vivermos em sociedade, em grupos, e qual a razão deste assunto estar ligado a prática profissional. Está preparado(a)? Mãos à obra! Desde sempre os estudiosos se encantam com os mistérios do homem, dotado de múltiplas características e segredos. O(a) Assistente Social, não pode conceber a sua prática profissional sem entender minimamente que é o sujeito, foco das suas ações, que se transforma em “usuário” do Serviço Social, na medida em que suas necessidades e seus direitos não estão sendo atendidos. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 44 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI Contudo, não basta apenas saber que o usuário possui necessidades é necessário compreender que ele é dotado de múltiplas relações, faz-se necessário saber quais necessidades são essas e quais os caminhos que ele poderá percorrer para conseguir satisfação (dignidade, cidadania, liberdade, igualdade, etc.). é necessário compreender as relações com o grupo e com a comunidade, uma vez que o assistente social não atua somente no particular. A Profissão se gesta em meios aos grupos, às comunidades onde cada indivíduo está inserido, sabendo que este indivíduo recebe influência do grupo e também o influencia. Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/equipe-amizade-grupo-m%C3%A3os-4529717/ Todo profissional no desenvolvimento de sua prática está em contato com o ser humano. Além do usuário, mantém contato direto com os colegas de trabalho (psicólogos, pedagogos, sociólogos, diretores, coordenadores, prefeitos, vereadores, secretários, entre outros), e todos os demais profissionais também se enquadram nessa reflexão, a relação que estabelecemos no nosso cotidiano, não diz respeito somente à demanda e sim a todos aqueles com os quais convivemos. Para isso, esta aula propõe uma reflexão sobre o cotidiano e suas relações, a competência profissional também implica em conhecimento sobre a humanidade e https://pixabay.com/pt/photos/equipe-amizade-grupo-m%C3%A3os-4529717/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 45 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI de como os homens nela se relacionam, conhecendo as estruturas sociais e como se organizam, observando o todo e a totalidade. Vamos neste primeiro momento apontar nossa atenção para a questão: quem é o homem? Lembre-se que todas as demais disciplinas do curso contribuirão de alguma maneira, com algum elemento para essa compreensão. Observando o homem, nota-se que desde sempre ele se apresenta a partir de um corpo físico e, por isso, existe biologicamente nem meio que se define pelas coordenadas do tempo e do espaço. Este meio pode condicioná-lo, determiná-lo em todas as suas manifestações. Este caráter de dependência do homem se verifica inicialmente em relação à natureza, entendendo por natureza tudo aquilo que existe independentemente da ação do homem. Sabemos que o homem depende do espaço físico, clima, vegetação, fauna, solo e subsolo, mas não é só o meio puramente material que o condiciona. Também o meio cultural se impõe a ele inevitavelmente. Já ao nascer, além de uma localização geográfica mais ou menos favorável, o homem se defronta com uma época de contornos históricos precisos, instituições próprias, uma vida econômica peculiar e uma forma de governo ciosa de seus poderes. Figura 26- bebês Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/g%C3%AAmeos-meninos-beb%C3%AAs-mam%C3%B5es-1628843/ Figura 25- Planta mão Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/folha-%C3%A1rvore- jovens-pl%C3%A2ntula-3369412/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 46 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO SERVIÇO SOCIAL PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI Esse é quadro da existência humana e nesse quadro o homem se encaixa e vai estabelecendo relações. O homem é, pois, um ser situado, e essa situação é uma condição humana necessária da possibilidade da existência humana. A vida humana só pode sustentar e se desenvolver a partir de um contexto determinado; é daí que o homem tira os meios de sua sobrevivência. Por isso, ele é levado a valorizar os elementos do meio ambiente (água, terra, fauna, etc.), no domínio da natureza e as instituições, as ciências, as técnicas, etc., no domínio da cultura. Antes mesmo de se dar conta disso o homem está exercendo a atitude axiológica perante tudo o que o cerca. Na verdade, valorizar é não ser indiferente. Assim, a situação compõe-se de uma multiplicidade de elementos que em si mesmos não valem nem deixam valer; simplesmente são, estão aí (SAVIANI, 1996). Entretanto, ao se relacionarem com o homem eles passam a ter significado, passam a valer. Isso nos permite enquanto seres humanos, entender como uma relação de não indiferença entre o homem e os elementos dos quais se cercam. Para refletir: o homem tem necessidades que precisam ser satisfeitas; todos nós temos necessidades. Você já reparou, por exemplo, do que um automóvel precisa para poder funcionar? E uma planta para sobreviver e crescer forte e saudável? As necessidades de um carro são as mesmas de uma árvore? Penso que você já sabe bem a resposta, dessa maneira constatamos que as necessidades variam de acordo com a natureza de cada ser, algumas necessidades são essenciais e outras apenas desejáveis, podendo o indivíduo sobreviver sem elas. Segundo a classificação feita há tempos por Abraham Maslow, a partir da leitura de Beust (1997) podemos perceber que uma determinada necessidade é essencial quando: Ao ser considerada e desatendida instauram-se doenças (mentais ou físicas). A) Suprindo-se as necessidades evitam-se doenças. B) Identificando-se e suprindo-se em uma pessoa enferma a saúde é restaurada. C) A pessoa privada de uma necessidade essencial prefere que essa necessidade seja suprida, em vez de qualquer outra, quando pode escolher livremente. Figura 27- equipe Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/papel-neg%C3%B3cios- finan%C3%A7as-documento-3213924/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA
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