Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS E SUAS POSSÍVEIS INFLUÊNCIAS NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DE PROFESSORES E NA FORMAÇÃO DOCENTE. Ana Paula Vasconcelos da Silva Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Mato Grosso. Maria Denise Dourado da Silva Secretaria Municipal de Goiânia. Resumo O presente estudo tem por objetivo verificar, através da literatura já existente, como os autores tratam o tema de concepções pedagógicas de professores identificando as possíveis influências de tais concepções sobre sua ação docente. E ainda, analisar se a formação docente contribui para a construção das concepções e crenças dos professores e que práticas no ensino superior são favoráveis à essa construção. Quanto aos procedimentos metodológicos recorremos ao tipo de pesquisa bibliográfica, fundamentada nos autores Gil(1999) e Cervo e Bervian(1983), onde foi realizado um levantamento de informações sobre concepções pedagógicas, práticas de ensino e formação docente.Verifica-se que existe entre os autores estudados, uma afirmação dessa relação entre crenças, valores e concepções implícitas ao professor e sua ação pedagógica. Autores referenciados neste trabalho atestam que o professor se molda ou se determina em razão de suas vivências pessoais, profissionais e que estascontribuem para sua formação e desenvolvimento profissional. Dessa forma, entende-se que, além das crenças e processos internos subjetivos ao sujeito, estes fatores também auxiliam para formar quem é este professor, o que ele acredita, onde ele quer chegar e quem ele quer formar, ou seja, a concepção que ele tem acerca do que é o ensino e qualé a função do seu trabalho docente. Sendo assim, infere-se que não só as concepções influenciam a prática mas também ocorre o inverso quando as experiências práticas vividas constituem o processo de construção das crenças dos professores. Quanto à formação docente foi possível compreender que apesar dos alunos já ingressarem nas universidades com crenças e valores formados, a sua concepção acerca do ensino e do seu papel enquanto professor estará em contínua construção em seu processo formativo. Palavras chaves: Concepções Pedagógicas. Prática Pedagógica. Formação Docente. 1- INTRODUÇÃO Investigar as concepções pedagógicas de professores nos faz entender inúmeros aspectos de sua ação em sala de aula, não só no que se refere ao seu planejamento e objetivos a serem alcançados, como também às escolhas das metodologias adotadas e às formas de avaliar seus alunos e seu próprio trabalho. Quando este trabalho faz referência às concepções pedagógicas, estas se referem às crenças que um professor tem acerca do ensino e de sua prática docente. Sendo a hipótese, a afirmação de que essas crenças influenciam diretamente em sua ação docente, acredita-se segundo Clark e Peterson (1986) que o ato de planejar, escolher as metodologias utilizadas, decidir as metas e Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores EdUECE- Livro 2 02025 formas de avaliar perpassa antes da ação concreta por uma série de fatores internos e subjetivos ao sujeito. Foi sobre as crenças, valores e atitudes que este estudo foi desenvolvido, dialogando com obras e autores que abordam de alguma maneira o tema proposto. A partir do estudo dessas variáveis é possível aprofundar discussões de questões como: a formação profissional, a prática do professor nas escolas, o currículo tanto nos cursos de graduação, quanto naqueles adotados pelos responsáveis da disciplina no cotidiano escolar. Conhecer a influência das crenças, valores e teorias implícitas na formação profissional e intervenção pedagógica do professor, certamente realimentará a área da educação com informações que podem conduzir à reformulação de um currículo mais coerente tanto nas escolas quanto nos cursos de graduação, bem como à reflexão dos professores quanto à seleção de conteúdo e estratégias de ensino, com a consciência dos efeitos destas decisões sobre os conhecimentos retidos pelos discentes. Para o ensino superior o tema estudado traz relevantes reflexões, no sentido de fazer melhorar a formação profissional do graduando e auxiliar o professor universitário formador a repensar sua prática a partir de suas crenças sobre o processo educativo neste nível de ensino. Estudar as bases das concepções pedagógicas de professores que atuam em universidades é investigar também que aluno ele pretende formar e que tipo de profissionais estão indo partindo para o exercício profissional nas escolas de educação básica.Sabendo que os alunos chegam à universidade com algumas crenças já formadas mas que estas continuam a sofrer mudanças no processo formativo, vê-se a necessidade de discutir também a construção de tais concepções no âmbito da formação profissional do professor. Sendo assim este estudo objetiva realizar uma revisão bibliográfica para verificar como autores tratam a temática sobre concepções pedagógicas de professores e como elas são relacionadas com as práticas docentes, trazendo tais reflexões para açõesno ensino superior. 2- PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O presente estudo se utiliza de uma abordagem qualitativa, é conceitual e teórico calcado em pesquisa bibliográfica, desenvolvido com base em levantamento de dados encontrados em literatura já existente que abordam o tema em questão. Neste tipo de metodologia permite-se a análise do assunto sobre diferentes enfoques ou abordagens, produzindo novas conclusões. A pesquisa bibliográfica Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores EdUECE- Livro 2 02026 3 explica um problema a partir de referenciais teóricos publicados em documentos. Pode ser realizada independentemente ou como parte da pesquisa descritiva ou experimental. Ambos os casos buscam conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas do passado existentes sobre um determinado assunto, tema ou problema(CERVO E BERVIAN,1983, p.55) Foi realizado um levantamento de informações a partir de artigos, dissertações de mestrado, livros e outras diversas fontes de informação, divulgadas e publicadas sobre o ensino superior e concepções pedagógicas. Para Gil(1999) a pesquisa bibliográfica é desenvolvida mediante material já elaborado, principalmente livros e artigos científicos. A metodologia utilizada oferece meios que auxiliam na definição e resolução de problemas já conhecidos, como também permite explorar novas áreas onde os mesmos ainda não se cristalizaram. Permite que um tema seja analisado sob novo enfoque ou abordagem, produzindo novas conclusões e ainda a cobertura de uma gama de fenômenos de forma mais ampla. 3- RESULTADOS E DISCUSSÕES Este estudo tem como uma de suas bases epistemológicas o Paradigma do Pensamento e Ação do professor proposto por Clark e Peterson (1986) que reúne por um lado, os componentes de ensino associados à ação do professor e seus efeitos observáveis, e por outro, os processos cognitivos do professor que suportam a sua ação pedagógica. O modelo é apresentado em dois grandes círculos de modo que se tenha explícito o grau de inter-relação que elas exercem entre si nos âmbitos intra e Inter domínios (Anexo 1). Em um domínio consideram-se três grandes categorias de processos de pensamento dos professores: (a) as teorias implícitas, concepções e crenças – que representam as formulações internas e convicções - que orientam as decisões didático- pedagógicas do professor; (b) o planejamento do professor – que são as escolhas e decisões antes e depois da prática; (c) e os pensamentos interativos e decisões do professor – que são os processos mentais determinantes das ações no momento da interação na sala de aula. Em outro domínio consideram-se três componentes das ações do professor e efeitos observáveis: (a) o comportamento do professor; (b) o comportamento do aluno; (c) e o rendimentodo aluno. Além disso, o modelo considera as condições favoráveis e limitações no processo de ensino e aprendizagem. O modelo propõe ainda, através do formato circular, uma causalidade recíproca entre as duas grandes dimensões do ensino e seus componentes. Além disso, o pensamento pré e pós-interativo interagem qualitativamente com as decisões do Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores EdUECE- Livro 2 02027 4 professor e as crenças, valores e teorias implícitas que de acordo com outras pesquisas, atuam como suporte no seu ato educativo. Sendo assim, o professor, para tomar suas decisões no processo educativo, baseia-se num quadro de referências pessoais que formam o conhecimento a partir de normas e conceitos bem definidos, oriundos de suas crenças, valores e teorias implícitas. O estudo das crenças e teorias implícitas propõe uma análise do processo ensino- aprendizagem mediante os elementos idiossincráticos, ou seja, o modo como cada indivíduo vê, sente e reage aos fatos, são elementos particulares ao sujeito. No intuito de viabilizar um bom ensino e uma efetiva aprendizagem aos discentes, o professor faz uso de suas crenças e experiências para planejar, selecionar atividades e conteúdos.Não obstante, o conhecimento produzido sobre o sistema de crenças e teorias do professor constitua mais valia sob o ponto de vista técnico, adquirem maior sentido quando considerados em função do contexto psicológico no qual tem lugar o planejamento curricular e as decisões de ensino formuladas pelo professor (CLARK & PETERSON, 1986). Diversas literaturas, como no modelo de pensamento ação do professor proposto por Clark e Peterson(1986), confirmam que as crenças e teorias implícitas têm raízes profundas nas experiências pregressas do indivíduo e tem mostrado, ainda que até mesmo as vivências do sujeito enquanto estudante contribuem para sedimentar valores e crenças pessoais e acabam por influenciar as práticas do ensino. Conhecimento é indissociável das atitudes e crenças de quem assume as responsabilidades pedagógicas da construção ecológica do currículo no 1° ciclo do ensino básico, articulando dimensões de interdependência entre o papel nuclear do professor, a natureza do curriculum e das características das condições de ensino da educação física (NEVES, 2001 apud NEVES, 2006, p. 1, grifo do autor). É interessante destacar também a articulação entre o professor, currículo e condições de ensino, o que denota a essência do estudo das concepções pedagógicas, que é exatamente vislumbrar como os ensinamentos são desenvolvidos com os alunos e como essas aprendizagens são efetivadas em seu ser. Além disso, estudar as crenças dos professores é estudar também como o mesmo planeja, executa ações, como realiza tomada de decisões e como avalia, sendo assim, é estudar também a sua ação docente de forma ampla e global. Assim, a possibilidade de conhecer o que antecede o comportamento do professor permitirá uma reflexão acerca de uma reconstrução também na sua formação docente. Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores EdUECE- Livro 2 02028 5 Estudar as concepções dos professores ou dos alunos é fazer antropologia na nossa própria cultura. Implica salientar os valores, as motivações, os eixos principais do pensamento dos actores fundamentais no processo educativo. Trata-se de um esforço particularmente difícil, tanto pelo caráter elusivo do objecto de estudo como pelo facto dos investigadores estarem eles próprios embebidos na mesma cultura (PONTE,1992. p.190) Verifica-se esta influência em relação entre aquilo que o professor pensa e acredita ser o processo de ensino e aprendizagem e aquilo que ele realiza e concretiza em ações na sala de aula. No entanto além desse valores e crenças implícitas ao sujeito o professor também irá constituir suas concepções por meio de suas vivências e experiências profissionais. Neste sentido, refletir sobre si mesmo é refletir sobre uma ação, uma proposta desafiadora na busca de mudanças e reflexões da prática docente. A prática pedagógica deve ser efetivada com base na experiência profissional, nas intervenções, nas mediações, nos objetivos propostos, nas finalidades e nas crenças e valores vivenciados por eles em momentos e turmas diferenciadas (SOUZA,2005, p.15). O autor supracitado infere sobre os fatores que fazem parte do processo de construção das práticas docentes. Cunha (2004) confirma esta discussão na medida em que reconhece a importância de estudar não apenas aspectos das técnicas do ensino, mas também aqueles que se referem aos aspectos psicológicos e internos ao professor.Na formação docente o professor formador tem o papel de mediar a construção do “ser professor” que consequentemente influenciará na construção de suas práticas educativas. Entretanto, como possibilidade potencial, a contradição se estabelece nos espaços caracterizados pelas ações humanas. Ainda que seja comum identificar-se a presença dos processos regulatórios oriundos das políticas e práticas tradicionais, o professor, conscientemente ou não, junto com seus alunos, resiste a se tornar apenas objeto da ação que desenvolve. Nessa perspectiva dialética é que vale a pena apostar. Uma das formas de fazê-lo é analisar como se constroem as práticas alternativas e os saberes docentes (CUNHA, 2004, p. 532). Nessa construção de saberes docentes em que cita o autor, é que se deve considerar e estudar as concepções pedagógicas, que se baseiam não só nas crenças e valores, mas também são constituídas por meio de vivências e práticas. É então, nesta relação dialética entre a sua ação e seus saberes que se constrói a prática pedagógica. A partir desta ideia, a literatura confirma a relação entre esses fatores que olhados individualmente parecem tão distintos, já que um representa aspectos tão abstratos e internos ao sujeito – crenças – e outros aspetos tão concretos – ação. Tardif(2002) busca relacionar que saberes são mobilizados por professores em sua prática pedagógica em sala de aula. O saber que ele chama de “saberes pessoais do professor” refere-se àqueles adquiridos pelo indivíduo por meio de sua história de vida, Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores EdUECE- Livro 2 02029 6 na família, no ambiente de vida e na educação em seu sentido lato. Logo, sua contribuição para este trabalho é no sentido de ajudar a fundamentar a utilização de fatores tão abstratos na prática profissional do professor. Os alunos passam pelos cursos de formação sem modificar suas crenças anteriores sobre o ensino. E, quando começam a trabalhar como professores, são principalmente essas crenças que eles reativam para solucionar seus problemas profissionais (TARDIF, 2002, p. 261). Para Tardif(2002), a prática é construída epistemologicamente a partir da mobilização de alguns saberes profissionais que apresentam algumas características, dentre elas está a temporalidade. O autor chama tais saberes de temporais justamente porque eles se constroem em função do tempo, seja pelas experiências vividas pelo indivíduo ao longo de sua história de vida, seja pelas experiências vividas no âmbito de sua carreira profissional. Para o autor o estudo dos saberes profissionais supõe um exame crítico das premissas que fundamentam as crenças de uns e de outros em relação à natureza dos conhecimentos profissionais. Dessa forma, o estudo da formação profissional deve ser um estudo contínuo que considere esse caráter mutável das fases da carreira profissional do professor. Tardif afirma que os professores não têm suas crenças alteradas a partir do conhecimento formal com o qual mantêm contato nos cursos de formação e que ao se depararem com problemas no cotidiano recorrem imediantamente às suas crenças construídas anteriormente. Cunha(2004) chama atenção para a necessidade de se analisar como se constroem as práticas pedagógicas na formação docente. Conhecer esse processo de construção é investigar a que saberes o professor universitário lança mão na formação de futuros professores. Muitos acreditam que professores recorrem apenas aos métodos, técnicas e conhecimentos aprendidos nos bancos das universidades (conhecimentos técnicos e específicos), no entanto, a literatura propõe que não são apenas estes aspectos que determinam sua ação enquanto professor. Em outras palavras, um seminário de pesquisa, de acordo com o modo pelo qual é concebido e conduzido, pode colocar os estudantes no coração de uma prática reflexiva ou formá-los como pequenos soldados da ciência. Enquanto se formar os estudantes para a pesquisa fazendo-os recolher e sistematizar dados em função de hipóteses de pesquisa para cuja definição eles não contribuíram, se manterá a ilusão de que se forma pesquisadores quando, na verdade, se treina técnicos (CUNHA, 2004, p. 526). O trecho acima mostra como professores formadores podem atuar para auxiliar na formação de alunos críticos e não apenas detendores ou expectadores de conhecimento. Para tanto, o professor deve se sentir parte e se ver importante nesse Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores EdUECE- Livro 2 02030 7 processo e assim estará fazendo uso do que acredita, de seus valores e de suas concepções em sua prática pedágogica. Nóvoa(2009)sugere algumas propostas para se diminuir a distância existente entre os discursos e as práticas na formação docente. Um apontamento é que a formação de professores deve dedicar uma atenção especial às dimensões pessoais da profissão docente, trabalhando essa capacidade de relação e de comunicação que define o trato pedagógico. Ao longo dos últimos anos, temos dito (e repetido) que professor é a pessoa, e que a pessoa é o professor. Que é impossível separar as dimensões pessoais e profissionais. Que ensinamos aquilo que somos e que, naquilo que somos, se encontra muito daquilo que ensinamos. Que importa por isso, que os professores se preparem para um trabalho sobre si próprios, para um trabalho de auto-reflexão e de auto-analise (NÓVOA,2002, p. 38). Nesta perspectiva é que autores estudiosos dos temas de desenvolvimento e identidade profissional baseiam-se para entender como se dá o processo de construção do ser professor e como ele se desenvolve ao longo do tempo. No que se refere ao desenvolvimento profissional do professor, Marcelo(2009) considera que sua melhor denominação é adequá-la à concepção do professor enquanto profissional do ensino. Para identidade profissional considera toda a vivência do professor inclusive àquelas ligadas às suas crenças. Partindo do princípio que o desenvovimento profissional busca promover a mudança junto aos professores, o autor afirma : A investigação que se tem feito sobre os sistemas de crenças tem tido grande importância, porque tem apontado explicações sobre o porquê de muitas acções de desenvolvimento profissional não terem um impacto real na mudança das práticas de ensino e, menos ainda, na aprendizagem dos alunos. Portanto, se se quer facilitar o desenvolvimento profissional dos docentes, devemos compreender o processo mediante o qual os professores crescem profissionalmente, bem como as condições que ajudam e promovem esse crescimento (MARCELO, 2009,p. 15-16). A formação profissional do professor deve considerar buscar igualmente essas mudanças de práticas, no entanto o motivo de em algumas situações não alcançá-las pode ser melhor compreendida a parir do estudo das crenças e concepções de professores.Behrens faz uma análise sobre paradigmas que permeiam a Educação e definem a concepção que professores apresentam sobre sua visão de mundo, de homem, de sociedade e da própria prática pedagógica que desenvolve em sala de aula. A autora caracterizou os paradigmas da educação na formação de professores sendo apresentados como conservadores e inovadores e os define da seguinte forma: A tentativa de entender os paradigmas da educação que caracterizam cada tempo histórico pode ser alicerçada a partir dos paradigmas da ciência. Ou seja, de um lado, uma abordagem conservadora baseada na racionalidade Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores EdUECE- Livro 2 02031 8 newtoniana cartesiana, e de outro lado, uma abordagem inovadora que atende a uma visão da complexidade, da interconexão e da interdependência. As abordagens paradigmáticas, conservadora e inovadora, permitem apresentar as diferentes denominações para as ações que envolvem a qualificação de professores (BEHRENS, 2007, p. 441). Assim, o paradigma conservador na formação docente acompanhou os professores por muitos séculos e deixou de herança o distanciamento entre teoria e prática e a reprodução do conhecimento. Nesta concepção conservadora o professor preocupa-se com a simples transmissão do conhecimento onde o professor ensina e o aluno aprende, de modo que o professor deve ter total domínio do conteúdo e dos conceitos, e o aluno deve imitá-lo, copiá-lo. Ainda sob a ótica de Behrens, o treinamento, muitas vezes, tem como objetivo a mudança comportamental de conduta na busca da resposta desejada e a submissão dos profissionais às regras estabelecidas. A formação pode ser considerada como convencimento e persuasão o que gera um treino sem abordagem crítica ou reflexiva. Neste sentido, o processo de aprendizagens dos alunos passa a ser um processo de aprimoramento buscando eficiência e eficácia nas tarefas e isto legitima a reprodução, fragmentação e memorização do conhecimento. Já no que diz respeito ao paradigma inovador, a autora revela uma nova proposta de ensinar e aprender. Essa concepção sobre o ensino vai além do transmitir conteúdos, copiar, imitar e reproduzir. Aquilo que a autora chama de paradigma inovador, propõe uma visão crítica, reflexiva e transformadora acerca da Educação, uma visão que exige a interconexão de múltiplas abordagens e abrangências. Dessa forma, busca-se uma superação da lógica linear e da visão dualista e reducionista que ainda perdura nas práticas pedagógicas de professores universitários. Esta concepção exige que o professor busque caminhos que leve à reflexão e ao desafio de modificar e transformar seu papel como docente despertando consciência crítica e reflexiva em seus alunos. Para um curso de graduação ou programa de pós-graduação formar profissionais sob este conceito, não é uma tarefa fácil, pois a sua formação deve ser focada num processo contínuo progressivo e amplo, onde professores envolvem os graduandos numa nova maneira de investigar, ensinar e aprender. Outra autora que traz esta visão dualista é Esteves (2008) que sugere dois tipos de tendências no ensino superior, uma relacionada às metodologias prontas e acabadas onde as respostas são estáticas e muito bem estruturadas, e outra ligada à construção de conhecimento e de respostas. Nesta última o aluno é estimulado a recorrer a um quadro Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores EdUECE- Livro 2 02032 9 de conhecimentos que em conjunto constituirão, talvez, mais de uma resposta. Dessa maneira o conhecimento é articulado e não tem um fim em si mesmo, buscando formar profissionais capazes de utilizar seus conhecimentos em diferentes situações, de serem criativos e ativos na sua formação. Contudo, é forçoso reconhecer que a sociedade parece reclamar dois tipos de produtos bem diferenciados: a formação de quadros meramente executivos que actuam de acordo com conhecimentos consagrados (e que inexoravelmente se desactualizarão em prazos cada vez mais curtos) e a formação de quadros criativos, capazes de inventar soluções novas para problemas existentes ou que venhama existir. A massificação do ensino superior que se verificou já num certo número de sociedades fez avultar a primeira destas tendências, ao mesmo tempo que sistemas cada vez mais sofisticados e pressionantes de avaliação vão identificando como centros de excelência, aqueles que respondem à segunda das exigências acima mencionadas(ESTEVES,2008, p.103). A autora menciona que a massificação do ensino superior tem levado a um ensino tradicional de uma formação acrítica. Destaca-se neste cenário a relevância do estudo das concepções pedagógicas, sobretudo no ensino superior, para que assim, professores universitários fiquem atentos para uma prática social e formação de qualidade, que preza pela formação humanizada e não apenas pelo simples treinamento da técnica. Ao abordar este assunto as autoras, fazem alusão àquilo que o professor acredita, ou seja, às suas crenças e concepções pessoais para, então, entendê-las também no âmbito profissional. Além de outros fatores que influenciam na construção da prática, é neste momento também que começa-se a utilizar daquilo que se acredita para, somente então escolher os caminhos, as metodologias de ensino, os objetivos a serem alcançados dentre outras coisas. Este movimento de transposição de paradigmas advindos da ciência, influencia também a Educação e leva a uma tendência de superação da abordagem conservadora e positivista para dar lugar a uma formação de professores que leve a uma nova maneira de investigar, de ensinar e de aprender. A idéia da formação continuada dos professores precisa ser investigada a partir do entendimento da palavra “formar”. Do ponto de vista pedagógico, “formar” pode carregar uma dimensão reducionista dos treinamentos ou capacitações, ou pode refletir um processo construtivo no qual os professores encontram espaços para a preparação como profissionais que precisam atuar na docência com um paradigma inovador (BEHRENS, 2007, p. 446). A prática docente a partir de uma visão inovadora requer englobar o espírito crítico frente à realidade circundante e com vistas a preparar o docente a agir como um profissional consciente, na busca da transformação da sociedade. Os docentes que atuam nos diferentes níveis de ensino, principalmente os professores do ensino superior, devem Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores EdUECE- Livro 2 02033 10 ser profissionais reflexivos sobre suas próprias ações pedagógicas. Parte-se do pressuposto, que esse processo de reflexão contribuirá na condução de um novo posicionamento quanto à metodologia a ser percorrida. A profissão de professor exige de seus profissionais alteração, flexibilidade, imprevisibilidade. Não há modelos ou experiências modelares a serem aplicadas. A experiência acumulada serve apenas de referência, nunca de padrão de ações com segurança de sucesso. Assim, o processo de reflexão, tanto individual como coletivo,é a base para a sistematização de princípios norteadores de possíveis ações, e nunca de modelos (PIMENTA e ANATASIOU, 2002, p. 102). O professor que leciona em universidades, precisa refletir sobre suas ações e pensar o processo educativo de forma aberta, atual e inovadora para alcançar esses objetivos de maneira eficaz. Nesta percepção o professor deve estimular seu discente para transformá-lo em agente ativo de sua formação e não apenas num depósito de informações. O professor que reflete na sua ação e sobre sua ação certamente alcançará meios para desenvolver um trabalho segundo parâmetros de ensinar e aprender se relacionando com o espaço e mundo que vivemos. Volto a repetir, não se trata de negar as contribuições válidas para o campo científico e social, mas sim de compreender o reducionismo feito e seus desdobramentos nas concepções de conhecimento, ciência e mundo, especialmente com a relação humanidade/natureza, então separada e esvaziada de sentido simbólico, mágico e existencial. Contudo, estas concepções estão entranhadas em nossas vidas e adentram conosco em nossas práticas cotidianas, sem que muitas vezes, delas tenhamos consciência (FERNANDES, 2001, p. 179). A autora acima citada defende que a Educação é concebida como uma prática social e o professor deve se situar historicamente no seu papel de professor universitário. Este pensamento reflete a possibilidade do professor se conhecer enquanto educador e ser humano para só então entender seu papel e formular sua concepção sobre sua função social na universidade, bem como na sociedade. A reflexão (do latim refletere) propõe voltar atrás para examinar melhor, para ver e rever a realidade de forma atenta, compreensiva e abrangente. O processo reflexivo constitui-se em um contínuo indagar sobre o homem e o mundo para melhor entendê-los criticamente. Ao problematizar a realidade, envolvemo-nos com ela responsavelmente, repensando a nossa prática pedagógica, utilizando metodologicamente, alguns procedimentos (ABRAMOWICZ, 2001, p.138). Sendo assim a visão que professores têm sobre a Educação e o Ensino Superior influenciam o processo de ensino-aprendizagem. A maneira que professores entendem o ato educativo, as concepções que firmam sobre o processo de ensino-aprendizagem e as formas que consideram mais indicadas para desenvolvê-lo, bem como sua postura e o Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores EdUECE- Livro 2 02034 11 conhecimento que dispõe sobre a área, influenciam também na construção do profissional que pretendem ser. 4- CONSIDERAÇÕES FINAIS Os autores citados mostram-se favoráveis a pesquisas relacionadas a processos de pensamentos e ações do professor. Mostram ainda em sua pesquisa a reciprocidade entre tais fatores, tornando clara a real relação entre aquilo que o professor pensa e as suas ações e decisões pedagógicas. Com isso é possível perceber também que estudos sobre o pensamento, concepções e crenças dos professores poderão auxiliar no desenvolvimento do conhecimento sobre as ações pedagógicas e formação profissional. Existe também a influência das concepções do professor formador no modo em que eleconduz a formação docente, seja ela inicial ou continuada. Independente da forma como o professor acredita sua prática sendo ela conservadora ou inovadora, vê-se que autores afirmam a influência dessas crenças em sua ação pedagógica tanto na educação básica quanto na formação do professor. É preciso comprometer-se com a profissão de ensinar com a capacidade de investigar a própria atividade para, a partir dela, transformar o trabalho docente num processo contínuo de construção. O professor reflexivo é aquele que reflete a sua prática, questiona a instituição, currículo e trabalho, interpretando o contexto e entendendo a dificuldade do aluno em aprender. Nesta perspectiva o professor torna-se um investigador, refletindo antes, durante e após sua ação, buscando distanciar-se da racionalidade técnica exclusiva e de regras advindas de teorias externas, ou mesmo de prescrições curriculares, passa assim conhecer mais profundamente as peculiaridades de seu trabalho e isto possibilita que se elabore estratégias de ação mais adequadas à realidade. Estudando tais concepções entende-se melhor essa prática para só então interferir objetivando a constante melhora no âmbito pedagógico. Quando os autores referenciados neste trabalho atestam que o professor enquanto profissional se molda ou se determina em razão de suas diferentes destrezas, atitudes, inquietações e interesses e ainda que diferentes fatos, positivos ou negativos que ocorrem em sua trajetória contribuem para sua formação e desenvolvimento profissional, entende-se que são estes fatores também que contribuem para formar quem é este professor, o que ele acredita, aonde ele quer chegar e quem ele quer formar. Além disso, marcando as experiências profissionais e pessoaiscomo aspectos participantes da construção das concepções e crenças que o professor tem acerca do ensino e de seu papel enquanto docente. 5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores EdUECE- Livro 2 02035 12 ABRAMOWICZ, M. A importância dos grupos de formação reflexiva docente no interior dos cursos universitários. In: CASTANHO, Sergio; CASTANHO, Maria Eugênia L. M. (Org.).Temas e textos em metodologia do ensino superior. Campinas: Papirus, 2001. BEHRENS, Marilda Aparecida. O paradigma da complexidade na formação e no desenvolvimento profissional de professores universitários. Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 3 (63), p. 439-455, set./dez. 2007 CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia Científica: para uso dos estudantes universitários. São Paulo: McGrawl Hill do Brasil, 1983. CLARK, C. M.; PETERSON, P. Teachers' thought processes. In: M. Wittrock (Ed.), Handbook of research on teaching (Third ed., pp. 255-296). New York: Macmillan Publishing Company. 1986. CUNHA. M.I.Diferentes Olhares Sobre as Práticas Pedagógicas no Ensino Superior: a docência e sua formação. Educação, Porto Alegre (RS), ano XXVII, n. 3 (54), p. 525- 536, set./dez, 2004. ESTEVES, M. Para a excelência pedagógica do ensino superior. Revista de ciências da educação, Lisboa, nº 7, set/dez. 2008. FERNANDES, C.M.B. Docência universitária e os desafios da formação pedagógica. Interface, Rio Grande do Sul, n.9, agosto, 2001. GIL, Antônio Marcos. Métodos e Técnicas de pesquisa social. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1999. MARCELO,C. Desenvolvimento Profissional Docente: passado e futuro. Revista de ciências da educação · n.º 8 · jan/abr 09 NEVES, R. Contextos pessoais e Formação em Educação Física. Revista Digital efdeportes.com, Buenos Aires, v. 11, n. 95, abr. 2006. PIMENTA, Selma Garrido.; ANASTASIOU, Lea das Graças Camargos. Docência no Ensino superior. São Paulo: Cortez, 2002. PONTE, J. P. (1992). Concepções dos professores de matemática e processos de formação. In Educação Matemática: Temas de Investigação (pp. 185-239). Lisboa: IIE. SANTOS, S. C. O processo de ensino-aprendizagem e a relação professor-aluno: aplicação dos“sete princípios para boa prática na educação do ensino superior”. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 08, n. 01, p.70-82, jan/mar 2001. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 7ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. Anexo1 Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores EdUECE- Livro 2 02036 13 Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores EdUECE- Livro 2 02037
Compartilhar