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2 FERNANDO NUNES FERREIRA fernando_fnf@hotmail.com INFLUÊNCIA DA SUBSTITUIÇÃO PARCIAL DE ESCÓRIA ÀCIDA DE FUNDIÇÃO EM CONCRETO DE CIMENTO PORTLAND Projeto de Pesquisa ao Curso de Graduação em Engenharia Civil, do Centro Universitário UNIAVAN, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel. Profª. Orientadora: MSc. Geisiele Ghisleni Balneário Camboriú 2019 3 FERNANDO NUNES FERREIRA INFLUÊNCIA DA SUBSTITUIÇÃO PARCIAL DE ESCÓRIA CIDA DE FUNDIÇÃO EM CONCRETO DE CIMENTO PORTLAND Este Projeto de Pesquisa foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Engenharia Civil e aprovado em sua forma final pelo Curso de Engenharia Civil, do Centro Universitário UNIAVAN. Balneário Camboriú (SC), 03 de Julho de 2019. _________________________ Profª. MSc. Geisiele Ghisleni. Orientadora _________________________ Prof. Dr. Ricardo André Hornburg Coordenador do Curso Apresentada perante a Banca Examinadora composta pelos Professores _________________________ Profª. MSc. Gisele Marilha Pereira Reginatto _________________________ Prof°. MSc. Victor Eduardo Cury Silva 4 "As pessoas não são lembradas pelo número de vezes que fracassam, mas sim pelo número de vezes que têm sucesso". Thomas Alva Edison (1847-1931). 5 AGRADECIMENTOS Ao concluirmos uma etapa da vida, devemos agradecer á quem se mostrou presente em todos os momentos vivenciados neste ciclo. Pessoas que de alguma forma contribuíram para mais uma conquista pessoal, a todos estes quero prestar os meus sinceros agradecimentos. Aos meus pais, Aparecido e Valdirene, pela vida, carinho sempre demonstrado e pela compreensão das ausências nos encontros familiares. À minha esposa Thainara, pelo amor, carinho e auxilio nesta etapa, sempre me apoiando e motivando a seguir em frente. Aos meus irmãos Leandro, Marcelo, Sara e Raquel, que além de irmãos são verdadeiros amigos. Ao meu amigo Eduardo, pela amizade, pelos anos de aprendizado que obtive ao seu lado e pelo auxílio no projeto de pesquisa desenvolvido. Á minha professora orientadora Geisiele pelo auxilio e paciência que dispôs durante as orientações e a confiança em mim depositada para realização da pesquisa. Aos meus amigos acadêmicos, Ana Laura, Jeferson, José e Leandro, que me acompanharam ao longo desta caminhada. Às empresas, Supremo Secil Cimentos, pela doação da escória ácida de fundição e a Areia Ana, a qual abriu as portas do laboratório técnico para execução do trabalho de pesquisa. Enfim, a todos que de alguma forma contribuíram para a realização desta pesquisa. Aqui meus agradecimentos. 6 TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando o Centro Universitário UNIAVAN, a coordenação do Curso de Engenharia Civil, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. Balneário Camboriú (SC), 03 de Julho de 2019. _______________________ Fernando Nunes Ferreira 7 RESUMO FERREIRA, Fernando Nunes. Influência da Substituição Parcial de Escória Ácida de Fundição em Concretos de Cimento Portland. 2019. 94 f. TCC (Graduação) - Curso de Engenharia Civil, Centro Universitário Uniavan, Balneário Camboriú, 2019. A escória ácida de fundição é um resíduo proveniente das fundições gerado pelo forno cubilô, o qual é responsável pela produção do ferro fundido, este resíduo é, em sua maioria, descartado em aterros. Visando às propriedades pozolânicas deste resíduo, este trabalho tem por objetivo analisar a influência nas resistências mecânicas dos concretos sob a substituição parcial do cimento CP II – F 40 por escória ácida de fundição. Iniciaram-se os ensaios com a caracterização das matérias primas para produção dos concretos. Após, foi elaborado o traço referência utilizando como aglomerante apenas cimento, com base no traço referencia realizou-se a substituição parcial do cimento por porcentagens de 10, 20 e 30% de escória ácida de fundição sobre o peso total de cimento. Confeccionado os quatro traços, foram moldados os corpos de prova que ficaram armazenadas em cura úmida até a data dos ensaios, foram submetidos a ensaios de resistência à compressão, realizado aos 7, 28 e 63 dias de idade e absorção de água por capilaridade, realizado aos 28 dias de idade, aonde foram analisados os resultados obtidos. Os resultados de resistência à compressão apresentaram uma queda nas resistências conforme a substituição parcial aumentava, entretanto, o traço 10 % atingiu resistência, na idade de 63 dias, de pouco mais de 39 Mpa, 1,17 Mpa a menos que o traço referência. Já o traço 30% apresentou resistências interessantes do ponto de vista de consumo de cimento, aonde que com consumos de cimento baixo, como 192 kg de cimento obteve- se uma resistência de 30 Mpa que pelo consumo de cimento, é uma resistência considerável para um concreto convencional. Os resultados de absorção de água por capilaridade apresentaram satisfatórios resultados, não havendo discrepância nos resultados. Com base nos resultados da pesquisa, a substituição do cimento pela escória ácida de fundição em concretos é viável, desde que previamente analisados. Palavras-chave: Escória ácida de fundição. Resíduo de fundição. Escória pozolânica. 8 ABSTRACT FERREIRA, Fernando Nunes. Influence of Partial Substitution of Casting Acid Slag on Portland Cement Concretes 2019. 94 f. TCC (Graduate) - Civil engineering course, University Center Uniavan, Balneário Camboriú, 2019. The acid slag foundry is a residue from the foundries generated by the furnace cupola, which is responsible for the production of the cast iron, this residue is mostly discarded in landfills. Aiming at the pozzolanic properties of this residue, this work has the objective of analyzing the influence on the mechanical strengths of the concretes under the partial substitution of the CP II - F 40 cement for acid melting slag. The tests were started with the characterization of the raw materials for the production of concrete. Afterwards, the reference line was drawn using only cement as a binder, based on the reference trace, the partial replacement of the cement was carried out by percentages of 10, 20 and 30% of acid slag cast on the total weight of cement. Once the four traces were made, the specimens that were stored in wet curing until the date of the tests were molded, were submitted to compressive strength tests, performed at 7, 28 and 63 days of age and water absorption by capillarity, performed at 28 days of age, where the results were analyzed. The results of resistance to compression showed a decrease in the resistances as the partial replacement increased, however, the 10% trait reached resistance, at the age of 63 days, of just over 39 Mpa, 1.17 Mpa less than the reference trait. The 30% trait presented interesting resistance from the point of view of cement consumption, where with low cement consumption, such as 192 kg of cement, a resistance of 30 Mpa was obtained that, due to the consumption of cement, is a considerable resistance to a conventional concrete. The results of water absorption by capillarity presented satisfactory results, with no discrepancy in the results. Based on the results of the research, the replacement of the cement by the acid slag from concrete casting is feasible, since previously analyzed. Keywords: Foundry acid slag. Casting residue. Pozolanic slag.9 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1. – Desenho esquemático de forno cubilô a ar frio. ................................... 22 FIGURA 2. – Representação esquemática da formação da escória no cadinho durante a fusão do metal. .......................................................................................... 26 FIGURA 3. - Fluxograma de Aceitação da Água para Amassamento do Concreto. . 40 FIGURA 4. – Materiais coletados para realização da pesquisa. ............................... 41 FIGURA 5. – Frasco volumétrico LeChatelier para determinação da massa específica do cimento e outros materiais em pó. ...................................................... 43 FIGURA 6. – Comparativo visual da moagem da escória ácida................................ 45 FIGURA 7. – Colorímetro e solução aquosa de hidróxido de sódio para determinação das impurezas orgânicas em agregado miúdo. ......................................................... 48 FIGURA 8 – Curva granulométrica da mescla do agregado miúdo. .......................... 51 FIGURA 9. - Curva granulométrica da mescla do agregado graúdo. ........................ 52 FIGURA 10. – Balança de precisão de 0,1g.............................................................. 53 FIGURA 11. – Balança analítica com precisão de 0,001g. ....................................... 54 FIGURA 12. – Materiais pesados prontos para a mistura. ........................................ 54 FIGURA 13. – Mistura de concreto em betoneira. ..................................................... 55 FIGURA 14. – Determinação da consistência do concreto pelo abatimento do tronco cone. ......................................................................................................................... 56 FIGURA 15. – Corpos de prova moldados. ............................................................... 59 FIGURA 16. – Controle de temperatura da cura úmida. ........................................... 60 FIGURA 17. – Prensa hidráulica. .............................................................................. 61 FIGURA 18. – Curva granulométrica do agregado miúdo (areia fina). ...................... 65 FIGURA 19. – Curva granulométrica do agregado miúdo (areia grossa). ................. 66 FIGURA 20. – Comparação da solução de hidróxido de sódio com o colorímetro. ... 68 FIGURA 21. – Curva granulométrica do agregado graúdo britado n° 0. ................... 69 FIGURA 22. – Curva granulométrica do agregado graúdo britado n°1. .................... 71 FIGURA 23. – Resultados das determinações das consistências dos concretos pelo abatimento do tronco cone. ....................................................................................... 73 FIGURA 24. – Obtenção das massas dos concretos para determinação da massa específica. ................................................................................................................. 74 10 FIGURA 25. – Esquematização do ensaio de compressão de corpos de prova cilíndrico de concreto. ............................................................................................... 76 FIGURA 26. – Comparação das resistências à compressão dos corpos de prova aos 7 dias de idade. ......................................................................................................... 78 FIGURA 27 – Comparação das resistências à compressão dos corpos de prova aos 28 dias de idade. ....................................................................................................... 80 FIGURA 28. – Gráfico da comparação, em porcentagem, das resistências à compressão dos corpos de prova ensaiados aos 63 dias de idade. ......................... 82 FIGURA 29. – Evolução das resistências á compressão dos traços ao longo das idades. ....................................................................................................................... 83 FIGURA 30. – Evolução da absorção por capilaridade nos traços de concreto. ....... 85 11 LISTA DE QUADROS QUADRO 1. Composição química das escórias ácidas de fundição. ....................... 27 QUADRO 2. – Características das escórias ácidas de forno cubilô a ar frio. ............ 28 QUADRO 3. – Resultados de resistência à compressão uniaxial (Mpa) em função do efeito da interação TE x ID, para relação água/aglomerante igual a 0,70. ................ 30 QUADRO 4. – Resistência à compressão média (fc), em Mpa, dos blocos de concreto para pavimentação com substituição parcial de agregado miúdo por EGF. .................................................................................................................................. 31 QUADRO 5. - Designação normalizada, sigla e classe do cimento Portland. ........... 34 QUADRO 6. – Ensaios físicos da pasta de cimento CP II F40.................................. 43 QUADRO 7. – Ensaios químicos do cimento CP II F40. ........................................... 44 QUADRO 8. – Composição química da escória ácida. ............................................. 46 QUADRO 9. - Normas utilizadas para caracterização de agregado miúdo. .............. 47 QUADRO 10. - Normas utilizadas para caracterização de agregado graúdo. .......... 49 QUADRO 11. – Consumo de material aglomerante por traço. .................................. 50 QUADRO 12. – Dosagem dos traços em massa para 1 betonada de 30 litros. ........ 53 QUADRO 13. - Normas utilizadas para caracterização do concreto no estado fresco. .................................................................................................................................. 55 QUADRO 14. - Normas utilizadas para caracterização do concreto no estado fresco. .................................................................................................................................. 59 QUADRO 15 – Resultados dos ensaios realizados no CP II F-40. ........................... 63 QUADRO 16. – Resultado dos ensaios realizados na escória ácida de fundição. .... 64 QUADRO 17. – Resultado da distribuição granulométrica do agregado miúdo (areia fina). .......................................................................................................................... 64 QUADRO 18. – Resultado da distribuição granulométrica do agregado miúdo (areia grossa). ..................................................................................................................... 65 QUADRO 19. - Resultado dos ensaios executados nos agregados miúdos. ............ 67 QUADRO 20. – Resultado dos ensaios executados no agregado graúdo britado n° 0. .................................................................................................................................. 69 QUADRO 21. – Resultado dos ensaios executados no agregado graúdo britado n° 1. .................................................................................................................................. 70 QUADRO 22. – Resultado dos ensaios executados nos agregados graúdos. .......... 71 12 QUADRO 23. – Resultados das determinações das consistências dos concretos pelo abatimento do tronco cone. ....................................................................................... 72 QUADRO 24 – Resultado das massas específicas dos concretos ........................... 74 QUADRO 25. – Resultados de teor de ar dos concretos. ......................................... 75 QUADRO 26. – Resistência à compressão aos 7 dias dos corpos de prova. ........... 77 QUADRO 27. - Resistência á compressão aos 28 dias dos corpos de prova. .......... 79 QUADRO 28. – Resistência á compressão aos 63 dias dos corpos de prova. ......... 81 QUADRO 29. – Resultados da absorção de água por capilaridade. ......................... 84 13 LISTA DE EQUAÇÕES Equação1.................................................................................................................. 56 Equação 2.................................................................................................................. 57 Equação 3..................................................................................................... ............. 58 Equação 4.................................................................................................................. 58 Equação 5.................................................................................................................. 60 Equação 6.................................................................................................................. 62 14 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS a/agl. – Relação água/aglomerante a/c – Relação água/cimento ABCP – Associação Brasileira de Cimento Portland ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ASTM – American Society for Testing and Materials Ca(OH)2 – Hidróxido de cálcio CO2–Dióxido de carbono CP II F – Cimento Portland composto com material carbonático CP II Z – Cimento Portland composto com material pozolânico CP IV – Cimento Portland pozolânico Fck – Resistência característica do concreto aos 28 dias IAB – Instituto Aço Brasil IBRACON – Instituto Brasileiro do Concreto KOH – Hidróxido de potássio Mpa – Megapascals NaOH – Hidróxido de sódio Na2SiO3 – Silicato alcalino de sódio NBR – Norma Brasileira NM – Norma MERCOSUL t – Tonelada 15 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 17 1.1 OBJETIVOS ........................................................................................ 18 1.2 HIPÓTESE .......................................................................................... 19 1.3 JUSTIFICATIVA .................................................................................. 19 1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................ 19 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 21 2.1 INDÚSTRIA DE FUNDIÇÃO ............................................................... 21 2.1.1 Forno Cubilô ..................................................................................... 22 2.1.2 Geração de Resíduos ...................................................................... 23 2.1.2.1 Areia de Fundição ......................................................................... 24 2.1.2.2 Escória de Fundição ..................................................................... 25 2.2 UTILIZAÇÂO DA ESCÓRIA DE FUNDIÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL ............................................................................................................................... 29 2.3 CIMENTO PORTLAND ....................................................................... 31 2.3.1 Fabricação do Cimento Portland ...................................................... 32 2.3.2 Tipos de Cimento Portland ............................................................... 34 2.4 CONCRETOS DE CIMENTO PORTLAND ......................................... 35 2.4.1 Agregados ........................................................................................ 36 2.4.2 Aditivos............................................................................................. 38 2.4.3 Água de amassamento .................................................................... 39 3 METODOLOGIA PROPOSTA ............................................................................... 41 3.1 MATERIAIS EMPREGADOS .............................................................. 41 3.1.1 Cimento Portland ............................................................................. 42 3.1.2 Escória Ácida ................................................................................... 44 3.1.3 Agregado Miúdo ............................................................................... 47 3.1.4 Agregado Graúdo ............................................................................. 48 16 3.1.5 Água de Amassamento .................................................................... 49 3.1.6 Aditivo Plastificante .......................................................................... 50 3.2 DOSAGEM DOS CONCRETOS ......................................................... 50 3.3 CARACTERÍSTICAS DO CONCRETO NO ESTADO FRESCO ......... 55 3.4 CARACTERÍSTICAS DO CONCRETO NO ESTADO ENDURECIDO 59 3.5 METODOLOGIA DE ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS .. 62 4 RESULTADOS E ANÁLISES ................................................................................ 63 4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS MATERIAIS .............................................. 63 4.1.1 Cimento Portland ............................................................................. 63 4.1.2 Escória Ácida ................................................................................... 63 4.1.3 Agregado Miúdo ............................................................................... 64 4.1.4 Agregado Graúdo ............................................................................. 68 4.2 RESULTADO DAS CARACTERÍSTICAS DO CONCRETO NO ESTADO FRESCO ................................................................................................ 72 4.2.1 Determinação da Consistência pelo Abatimento do Tronco Cone ... 72 4.2.2 Determinação da Massa Específica ................................................. 73 4.2.3 Determinação do Teor de Ar. ........................................................... 75 4.3 RESULTADO DAS CARACTERÍSTICAS DO CONCRETO NO ESTADO ENDURECIDO ....................................................................................... 76 4.3.1 Determinação das Resistências à Compressão ............................... 76 4.3.2 Determinação da Absorção de Água por Capilaridade .................... 84 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 86 5.1 SUGESTÔES PARA TRABALHOS FUTUROS .................................. 87 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 89 17 1 INTRODUÇÃO A evolução das tecnologias proporcionou as indústrias o aprimoramento e otimização dos processos produtivos, assim como de seus produtos. Porém, este progresso industrial gerou excesso e proporcionou acúmulos de resíduos, impondo a criação de soluções para estabelecer o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e o meio ambiente (CECCATTO, 2003). A principal fonte de degradação do meio ambiente é a geração de resíduos. Os meios para minimizar os danos gerados por esses resíduos prescrevem-se pela minimização da produção, a reutilização e reciclagem (RESCHKE, 2003). A reciclagem é fundamental para um desenvolvimento sustentável, tento em vista que é impossível visualizar uma sociedade que não gere resíduos. Inserida neste contexto, os processos produtivos da indústria da construção civil tornou-se a maior recicladora da economia, possuindo um grande potencial para aumentar o volume de materiais de reciclagem (JOHN, 2000). Desta forma, a necessidade por se reciclar resíduos industriais motiva cada vez mais a investigação científica, objetivando mitigar os impactos ambientais causados pelo acúmulo destes resíduos. Esta investigação científica aplica-se também à escória ácida de fundição, que tem pouca, ou nenhuma aplicação com valor agregado para a empresa geradora (CECCATTO, 2003). A escória ácida de fundição é um resíduo proveniente das fundições gerado pelo forno cubilô, o qual é responsável pela produção doferro fundido. Estes resíduos gerados mantêm-se estocadas nas indústrias de fundições ocupando grandes áreas até a destinação final, que muitas vezes são encaminhadas a aterros (CECCATTO, 2003). A escória ácida de fundição, por possuir propriedades pozolânicas, pode ser destinada a fabricação de cimento Portland composto, produzindo os cimentos CP IV e CP II-Z, com adições do material pozolânico que variam de 6% a 50%, conforme a NBR 16697:2018. De acordo com estudo de Oliveira e Barros, (2017) a maior parte do custo de fabricação do concreto refere-se ao cimento, a substituição parcial do cimento por um resíduo como a escória ácida de fundição, é uma opção benéfica e econômica, desde que as propriedades do concreto sejam mantidas. 18 De acordo com pesquisa de Massucato, (2005) a substituição parcial do cimento por escória ácida em concreto é capaz de manter as características físicas do concreto. De acordo com Ceccatto, (2003) a correta utilização da escória ácida na fabricação de concreto depende de investigação científica, através da análise de suas propriedades e avaliação da sua utilização. Estas observações reforçam o entendimento de que cada escória ácida proveniente de fundição podem possuir comportamentos diferentes, mesmo que o processo de produção for o mesmo e as ligas sejam semelhantes. O presente trabalho propende a uma destinação correta do resíduo de fundição e análise das propriedades físicas de concretos produzidos com substituição parcial de cimento por escória ácida, com o intuito de responder a seguinte questão: Quais as influências da substituição parcial da escória ácida nas características físicas do concreto produzido com cimento CP II F-40? 1.1 OBJETIVOS Este trabalho tem como objetivo analisar e comparar a substituição de cimento por escoria ácida na produção de concreto verificando suas propriedades mecânicas. Como objetivo geral, este trabalho visa analisar as alterações de comportamento, com relação á propriedades físicas, de concretos produzidos com substituição parcial do cimento Portland por escória ácida de fundição, em relação ao concreto produzido apenas com cimento Portland como material aglomerante. Como objetivos específicos do trabalho, citam-se os seguintes: a) Com base no traço referência, realizar a substituição parcial do cimento Portland por porcentagens de 10%, 20% e 30% de escória ácida, sobre o peso total de cimento; b) Analisar a resistência dos concretos através de ensaio de compressão em corpo de prova cilíndrico com idades de 7, 28 e 63 dias; c) Observar a absorção de água por capilaridade nas amostras referentes aos diferentes traços aos 28 dias; e, 19 d) Por fim, realizar uma análise comparativa entre os diferentes traços identificando qual a mistura que melhor adequa-se com a escória ácida. 1.2 HIPÓTESE A hipótese atribuída ao trabalho é acreditar que a substituição parcial de escória ácida de fundição não altera significativamente as propriedades mecânicas dos concretos, podendo ser utilizada para substituição parcial do cimento em concretos. 1.3 JUSTIFICATIVA Segundo as estimativas anuais de emissões de gases de efeito estufa no Brasil do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (BRASIL, 2014), a indústria cimenteira é responsável por grande quantidade de CO2 emitidos na atmosfera. Resíduo sólido é um grande problema para gerir, devido a sua inevitável origem, sua crescente produção e as condições cada vez mais limitantes para o seu descarte final. Com o aumento da população mundial, o consumo de matérias primas é crescente e, portanto, a geração de resíduos também é crescente (TEIXEIRA, 2000). A importância do estudo deste trabalho é demonstrar que a substituição parcial do cimento Portland por escória ácida em concreto é uma solução por manter as propriedades do concreto, assim como a redução de consumo de cimento e consequentemente na sua produção e emissão de CO2, além de proporcionar um novo destino final a escoria ácida de fundição. A viabilidade da pesquisa se sustenta pelo baixo custo econômico envolvido, fácil acesso aos equipamentos para realização dos ensaios pertinentes ao estudo e o conhecimento elementar do pesquisador sobre a delimitação do tema. 1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO Este trabalho está estruturado em 5 capítulos, além das referências bibliográficas. 20 O capítulo 1 inclui esta introdução onde se estabeleceu as motivações para a realização do trabalho além dos objetivos que se pretende alcançar, hipótese e a justificativa da pesquisa. O capítulo 2 compreende a fundamentação teórica, abordando assuntos para embasamento teórico para o entendimento dos resultados e dados obtidos na pesquisa. O capítulo 3 apresenta os materiais empregados e suas características através de ensaios normalizados, dosagem dos concretos e as características que os concretos devem apresentar no estado fresco e endurecido. O capítulo 4 apresentou toda a parte de resultados e análises das propriedades físicas dos concretos estudados. No capítulo 5 estão as considerações finais do autor sobre os resultados obtidos, acompanhado das sugestões para aprofundamento e prosseguimento da pesquisa. Por fim, o trabalho ainda conta com as referências bibliográficas utilizadas para a elaboração da pesquisa. 21 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Este capítulo serve de orientação para a análise e interpretação dos dados e resultados relacionados à pesquisa. 2.1 INDÚSTRIA DE FUNDIÇÃO No Brasil, as primeiras fundições, principalmente de ferro, instalaram-se em São Paulo e posteriormente em Minas Gerais, entre os séculos XVII e XVIII (SIEGEL, 1982). A indústria de fundição é importante para o desenvolvimento industrial de qualquer país, seus produtos são responsáveis pela fabricação de peças de máquinas em geral e em particular as máquinas automotrizes, operatrizes, tratores, hidroelétricas e agrícolas (SIEGEL, 1982). No cenário mundial, o Brasil é o 9° produtor de fundidos (base 2016), perdendo a 7ª posição no ranking mundial, sendo superado por México e Coréia do Sul (ABIFA, 2018). Ainda de acordo com ABIFA (2019), em fevereiro de 2019 a produção nacional de fundidos foi cerca de 190 mil toneladas (t) e pouco mais de 40% foi produzido pela região Sul do país. Fundidos são ligas ferrosas (aço e ferro fundido) e ligas não ferrosas (alumínio, cobre, zinco, magnésio, entre outros) produzidas por fundição (MORAES, 2000). A produção de ferro fundido no Brasil corresponde em média a 80% da fabricação total de fundidos, aproximadamente 1,83 milhões (t) no ano de 2018 (ABIFA, 2019). De acordo com Caspers (1999), para cada tonelada de ferro fundido produzido gera-se cerca de 50 kg de resíduo, logo, no ano de 2018 a indústria de fundição gerou aproximadamente 91 mil (t) de resíduos sólidos. Para Ângulo et al.(2001), a indústria cimenteira é responsável por reciclar a maioria dos resíduos gerados por outras indústrias que produzem materiais de construção civil, reciclando principalmente escórias de alto forno e cinzas volantes. 22 2.1.1 Forno Cubilô O forno cubilô surgiu na Inglaterra no final do século XVIII, elaborado por John Wilkinson, a partir deste projeto de forno houve uma explosão de produção no setor da indústria de fundição da época (SIEGEL, 1982). De acordo com Siegel (1982), os fornos cubilô desta época eram de características básicas, passando por aperfeiçoamentos até chegar aos fornos modernos, totalmente automatizados, que as fundições utilizam hoje. No Brasil, o primeiro forno cubilô moderno foi instalado em 1982, em São Paulo, pela fundição Sofunge (Sociedade Técnica de Fundições Gerais SA Sofunge) (SOTÈRO, 2017).É um forno vertical feito com chapa de aço, e internamente revestido de cerâmica refratária; a parte superior é aberta para a inserção das matérias primas e o fundo possui portas de ferro fundido permitindo a remoção do coque não consumido e do ferro não fundido após cada ciclo de produção (SIEGEL, 1982). FIGURA 1. – Desenho esquemático de forno cubilô a ar frio. FONTE: PIESKE et al., (1980). 23 De acordo com a Figura 1, na parte superior do forno (7) há uma abertura a qual o combustível é introduzido, o oxigênio necessário para a combustão é soprada pelas ventaneiras (4), após a completa fusão, o ferro fundido e a escória são drenados, o ferro fundido pela bica de sangria (10) e a escória pela bica de sangria (11), eles são separados por diferença de densidade, uma vez que a escória flutua na superfície do ferro fundido (PIESKE et al., 1980). O forno cubilô é o instrumento fundamental para produção de ferro fundido cinzento, funciona por meio da refusão de materiais metálicos ferrosos, que é fundamentado no princípio de contracorrente, isto é, a carga metálica (usualmente ferro fundido, ferro gusa, retorno) e o combustível (usualmente o coque) possuem um fluxo contrário ao do comburente (oxigênio do ar) (PIESKE, et al., 1980). Para Edge (1984), o processo de fusão de ferros dentro do forno cubilô, é um procedimento de troca de calor do combustível, normalmente o coque, com os materiais de carga, e o comburente, que é o ar, é insuflado no forno fornecendo oxigênio necessário para a combustão do coque. 2.1.2 Geração de Resíduos De acordo com a NBR 10004 (2004), resíduos sólidos e semissólidos, são provenientes de indústrias, domicílios, hospitais, comércio, agricultura e serviços. Incluindo também o lodo proveniente de sistema de tratamento de água. Os resíduos industriais, materiais resultantes do processo de produção de qualquer indústria, podem ser reciclados dentro do próprio processo industrial (regeneração), podem ser tratados e caracterizados para serem utilizados como insumos em outros processos industriais (reciclagem), ou serem transformados em rejeitos, evitando que se torne um material contaminante (BINA, et al., 2002). Ainda que a indústria de fundição contribua com a mitigação de impactos ambientais, por consumir diversas sucatas metálicas, em contrapartida gera um grande volume de resíduos sólidos não metálicos (MARIOTTO, 2000). Os resíduos sólidos principais gerados no processo de produção de fundidos são a areia de fundição e a escória granulada de fundição, Moraes (2002), afirma que esses dois resíduos sólidos são responsáveis por aproximadamente 90% da geração dos resíduos da indústria de fundição. 24 2.1.2.1 Areia de Fundição A utilização de areia no processo de produção de fundidos, de modo geral, é consumida para a fabricação de moldes e machos, que dão forma as faces externas e internas das peças fundidas (SILVA, et al., 1999). A moldagem em areia é o método mais utilizado em todo o mundo para a fabricação de peças fundidas (WATANABE, et al., 2002). A areia de fundição, tratada como rejeito pela maioria das fundições, é depositada em aterros monitorados, gerando para as mesmas um custo com o descarte. Além disso, não há aterros suficientes para a disposição destas areias e as exigências da legislação ambiental contribuem para o aumento dos custos das fundições (ARANZABAL, et al., 1999). Objetivando a redução de custos nos processos de produção das fundições, há estudos que comprovam a viabilidade de alternativas ambientais mais adequadas para o gerenciamento dos excedentes de areia, passando a serem menos onerosas, ou até mesmo gerando receitas para as fundições (SILVA, et al., 1999; MARIOTTO, 2000). Pesquisas como a de Moraes (2000), consiste na recuperação das características originais da areia, removendo as folhagens metálicas, através de peneiramento e classificação granulométrica, e pelo processo de regeneração que consiste na limpeza superficial dos grãos de areia de fundição, removendo através de atrito as substâncias aderentes, possibilitando a reutilização das areias no processo de fundição, procrastinando seu descarte final para os aterros. Lahl (1991) evidencia que o processo de regeneração proporciona não apenas vantagens econômicas, mas também ambientais, pelo fato de que as areias de fundição podem conter hidrocarbonetos poliaromáticos (PAH), na maioria deste com alto potencial carcinogênico. O processo de regeneração não é o único viável para a indústria, há também estudos sobre a reciclagem de areia de fundição, principalmente dentro da construção civil, como em cimentos, agregados de construção, asfalto, que representam uma boa alternativa de reciclagem deste resíduo (REGAN, et al., 1998; ARANZABAL, et al., 1999; WATANABE, et al., 2002). 25 Regan, et al., (1998) oportunizam a utilização de areia de fundição como adição de fonte de sílica na fabricação de cimento Portland. De acordo com os autores a sílica é um insumo importante na fabricação do cimento, esta teoria se sustenta pelo fato do cimento ser composto essencialmente por silicato de cálcio. As areias de fundição possuem grande quantidade de sílica em sua composição, sendo uma matéria prima com potencial para sua utilização na fabricação de cimentos. Entretanto, para que a areia de fundição seja viável na fabricação de cimento, deve atender a exigências quanto a sua composição química e física, níveis de álcalis menores que 0,1% e ter mais de 80% de sílica, em massa, em sua composição. Para Aranzabal, et al., (1999) é possível a utilização de areia de fundição como agregado no processo de execução de mistura asfáltica, o experimento constituiu na variação de 10% e 50% de substituição do agregado natural por areia de fundição, a mistura apresentou bons resultados para a substituição de 10% da massa de agregado natural por areia de fundição. Watanabe, et al., (2002) avaliaram a utilização da areia de fundição como agregado para a fabricação de blocos de concreto para utilização em pavimentos em substituição parcial ao agregado natural. Neste experimento os autores variaram a substituição do agregado natural pela areia de fundição em porcentagens de 25%, 50%, 75% e 100% e compararam com um traço referencia (sem utilização de areia de fundição, apenas agregado natural). Através de ensaios de compressão em corpos de prova e avaliação da microestrutura do concreto chegaram a conclusão de que é possível a utilização de 25% de substituição do agregado natural por areia de fundição em blocos de concreto de pavimentação. 2.1.2.2 Escória de Fundição No processo de fusão de cubilô, quantidades de materiais não metálicos são gerados, estes materiais são denominados escória. A cinza do coque, os produtos de oxidação, refratários consumidos e todos os materiais estranhos compõem a escória de fundição (SIEGEL, 1982). A Figura 2 ilustra a esquemática das fases durante a fusão do metal líquido e da formação da escória. As flechas indicam as reações possíveis: (1) solubilidade de gases no metal líquido; (2) reações geradoras de gases no metal e 26 desenvolvimento de vapores; (3) e (4) trocas metal – escória; (5) reações do metal com o cadinho que o contém (SIEGEL, 1982). FIGURA 2. – Representação esquemática da formação da escória no cadinho durante a fusão do metal. FONTE: SIEGEL, (1982). Com a ilustração da Figura 2 é possível visualizar a formação da escória que flutua sob o metal líquido, isto ocorre pela diferença de densidade dos dois materiais, e através da bica de sangria de escória são separados (PIESKE, 1980). A escória é constituída basicamente por três componentes: Al2O3, SiO2 e CaO, a alumina (Al2O3) é originada do desgaste superficialdo refratário interno do forno; a sílica (SiO2) é provêm também do refratário, da areia aderente aos materiais da carga e da cinza do coque; e a cal (CaO) é proveniente da adição de calcário ao processo (PIESKE, 1980). Normalmente as escórias são caracterizadas de acordo com o índice de sua basicidade, que é definido entre soma, em porcentagem, dos componentes básicos sobre a soma dos componentes básicos, quando esta relação é maior que um, a escória é caracterizada como escória básica e quando o resultado da relação é menor que um diz-se que a escória é ácida (PIESKE, 1980). 27 Ainda de acordo com Pieske (1980), as escórias provenientes de fornos cubilô, considera-se a relação CaO/SiO2, já que os óxidos determinam a acidez da escória. Na literatura há divergência sobre a composição química entre as escórias de fundição de caráter ácido, uma vez que os materiais envolvidos no processo e o tipo de metal produzido influenciam nesta composição, conforme demonstra o Quadro 1. Compostos Quantidade (%) SIEGEL (1982) MAHAN (1984) CASPERS (1999) SiO2 38 a 52 40 a 50 50 a 55 Al2O3 6 a 23 10 a 20 14 a 16 CaO 20 a 44 25 a 38 22 a 27 MnO 1,7 a 3,6 1 a 5 2,0 a 3,5 FeO 5 a 15 1 a 8 0,5 a 2,0 QUADRO 1. Composição química das escórias ácidas de fundição. FONTE: SIEGEL (1982); MAHAN (1984); CASPERS (1999). Apesar das divergências na composição química da escória ácida de fundição apresentadas no Quadro 1, o que é comum entre os autores é o alto teor de óxido de silício, que independente da configuração química da escória, deve ser sempre maior que o teor de óxido de cálcio (SIEGEL, 1982; MAHAN (1984); CASPERS 1999). De acordo com Siegel (1982) e Pieske (1980), uma forma básica de analisar se a escória está de acordo, é de forma visual, atentando a sua cor, a cor considerada ideal é um tom de verde escuro, escórias com coloração escura contêm maior teor de óxidos de ferro e com coloração mais clara apresentam maiores porcentagens de óxidos de cálcio e manganês (MnO). Com o aumento do teor de FeO, a escória apresenta uma coloração marrom podendo chegar a um preto. No caso de uma escória preta, a mesma atacará com maior intensidade o refratário, pelo excesso de material oxidante, então o FeO deve ser equilibrado com SiO2 e Al2O3 (PIESKE, 1980). Ainda Siegel (1982) reitera que esta análise visual não torna os ensaios de caracterização de composição química dispensável. 28 Além da coloração, Pieske (1980) apresenta outras características constituintes das escórias ácidas, demonstradas no Quadro 2. Características á observar Observações Fluxo Calmo Viscosidade boa, operação normal Agitado Escória espumosa, operação irregular Basicidade Ácida Fios longos Básica Fios curtos Cor Preta Escória ruim, condições extremamente oxidantes Marrom escuro Escória ruim, condições oxidantes Verde garrafa Operação normal Verde tingido de amarelo Operação normal, mas com excesso de manganês Marrom Escória ruim, excesso de calcário QUADRO 2. – Características das escórias ácidas de forno cubilô a ar frio. FONTE: PIESKE (1980). A característica de fluxo da escória, demonstrado no Quadro 2, está ligado á sua viscosidade, o controle desta propriedade é essencial para determinação da qualidade da escória. De acordo com Mahan (1984), para controlar o fluxo da escória é benéfico a adição de materiais fluidizantes , permitindo a redução da viscosidade e a diminuição da temperatura, contribuindo para maior eficiência de operação do forno. As propriedades pozolânicas e/ou cimentícias das escórias dependem do processo de resfriamento a que são submetidas logo depois de retiradas do forno, que estão a aproximadamente 1.500°C (MASUERO, 2001). O estado físico de uma escória é importante para a consideração de propriedades pozolânicas. Escórias resfriadas lentamente á temperatura ambiente possuem tempo suficiente para que haja um arranjo molecular cristalino, entretanto, esta composição cristalina não possui propriedades pozolânicas. No entanto quando resfriadas rapidamente as moléculas dos compostos não dispõem de tempo para cristalizarem-se e esta estrutura desorganizada é de característica amorfo (vítreo) podendo conferir propriedades pozolânicas as escórias (HOOTON, 1987). 29 2.2 UTILIZAÇÂO DA ESCÓRIA DE FUNDIÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL A reciclagem de resíduos sólidos gerados pelas indústrias é fundamental para busca pelo desenvolvimento sustentável, possibilitando assim a redução da utilização de recursos naturais não renováveis (CECCATTO, 2003). Os resíduos da indústria de fundição, em específico, tornou-se alvo de várias pesquisas para sua utilização principalmente na indústria da construção civil (MORAES, 2002). Ainda de acordo com Moraes (2002), o crescente aumento pela busca da utilização de resíduos sólidos se dá pela exigência do mercado para que as empresas possuam políticas de processamento e aplicabilidade para seus resíduos, visando à obtenção do certificado ISO 14000. As escórias podem ter um maior valor agregado quando utilizadas na construção civil como substituição de matérias primas, como em: concreto e cimento (VIKLUND et al,. 1999). Viklund et al., (1999) reiteram que as propriedades e características das escórias nem sempre são adequadas, limitando assim o seu uso dentro da construção civil. Isto explica o porquê às escórias de fundição ainda são descartadas em aterros. Os autores Viklund et al., (1999) ainda afirmam que as escórias para serem utilizadas dentro da indústria da construção civil devem ser avaliadas quanto a seus parâmetros de utilização, para confirmar sua empregabilidade. De acordo com Moraes (2002), as escórias de fundição, principalmente a produzida por forno cubilô, desde que sejam as escórias que receberam resfriamento rápido quando evacuadas dos fornos, podem ser incorporadas no processo de produção de cimentos e concretos, pois possuem propriedades pozôlanicas, que é a mesma propriedade dos cimentos CP II – Z e CP IV. Ceccatto (2003) avaliou o desempenho de resistências mecânicas de cimento CP II Z produzido com diferentes porcentagens de substituição (0, 10, 30 e 50%) de clínquer por escória de fundição. Como característica de materiais pozolânicos, os teores com menor porcentagem de substituição parcial de escória obtiveram resistências maiores nas idades iniciais, entretanto, a substituição parcial de 50% de clínquer, por escória, foi a que obteve maior ganho de resistência 30 mecânica na idade de 28 dias, obedecendo às especificações da NBR 16697 (2018). Os autores Collins e Sanjayan (1999) afirmam que o potencial de utilização das escórias de fundição é na composição de concretos que necessitem de baixo calor de hidratação, como blocos de fundação, blocos de barragens ou grandes massas de concretagem, pois quando comparado com concretos desenvolvidos apenas com cimento o calor de hidratação é menor, entretanto, concretos que necessitam de resistências mecânicas altas com idades iniciais, este tipo de adição não é recomendada, podendo limitar sua aplicação em determinados tipos de concreto. Como mencionado anteriormente, a utilização da escória deve ser analisada antes de sua utilização, entretanto, alguns autores realizaram comparações entre concretos desenvolvidos com diferentes porcentagens de escória. Ceccatto (2003) utilizou a escória ácida de fundição em substituição parcial do cimento pela escória, conforme demonstra os resultados obtidos pelo autor no Quadro 3. Idade (dias) Relação água/aglomerante Teor de substituição do cimento por escória ácida de fundição (%) 0 10 30 50 Resistências mecânicas (Mpa) 7 0,7 11,3 11,1 7,1 2,6 28 15,7 15,9 12,1 7,8 91 16,9 17,7 14,6 10,6 QUADRO 3.– Resultados de resistência à compressão uniaxial (Mpa) em função do efeito da interação TE x ID, para relação água/aglomerante igual a 0,70. FONTE: CECCATTO (2003). Ceccatto (2003) conclui em sua pesquisa, sobre as resistências mecânicas obtidas, que a utilização de escória de fundição é viável, entretanto, pela sua reação pozolânica, as resistências atingem um melhor aproveitamento, em temos de porcentagem, com idade aos 91 dias, idade em que o autor acredita ser o tempo para que todas as atividades pozolânicas tenham finalizado. 31 Já Pagnussat (2004), realizou um trabalho experimental utilizando a escória ácida de fundição em substituição parcial do agregado miúdo pela escória, os resultados obtidos na pesquisa estão descritos no Quadro 4. Idade (dias) Relação água/aglomerante Teor de substituição do agregado miúdo por escória ácida de fundição (%) 0 10 30 50 Resistências mecânicas (Mpa) 3 0,4 23,8 18,5 16,2 20,8 7 26,7 19,3 16,8 21,9 14 28,2 20,0 16,8 21,9 28 29,1 20,8 18,5 24,0 QUADRO 4. – Resistência à compressão média (fc), em Mpa, dos blocos de concreto para pavimentação com substituição parcial de agregado miúdo por EGF. FONTE: PAGNUSSAT (2004). Pagnussat (2004) conclui que a incorporação da escória de fundição não acarreta em grandes perdas de resistência mecânica nos blocos de concreto, o autor ainda destaca o teor de substituição de agregado miúdo por escória de 50%, sendo o traço, dos que incorporaram a escória, obteve os maiores resultados de resistência mecânica. 2.3 CIMENTO PORTLAND O cimento Portland é um material pulverulento com propriedades aglomerantes, aglutinantes ou ligantes que endurece sob a ação da água, posterior a esta reação química, o processo de endurecimento é irreversível (PETRUCCI, 1987; ABCP, 2002). Patenteado por Joseph Aspdin, o cimento Portland, foi elaborado em 1824 e adquiriu este nome pelo resultado na cor e na dureza assemelhar-se com as pedras provenientes da ilha de Portland situada ao sul da Inglaterra, usualmente utilizadas para construção civil daquela época (PETRUCCI, 1987). O cimento Portland misturado com outros insumos como água, cal e agregados miúdos e/ou graúdos, origina-se produtos como a argamassa e o concreto e as características e propriedades destes produtos originários irão 32 depender da qualidade e proporção dos insumos empregados em sua mistura, entretanto, do ponto de vista químico, o cimento Portland é o mais ativo. (ABCP, 2002). 2.3.1 Fabricação do Cimento Portland O calcário e a argila são matérias primas importantes para fabricação do cimento Portland, que passam por processos específicos e dão origem a um ligante hidráulico chamado de clínquer (BAUER, 2008). O processo de fabricação do cimento inicia com a britagem da rocha calcária, depois o calcário passa por moagem e é misturado em proporções estabelecidas com argila, que também passa pelo processo de moagem (ABCP, 2002). Posteriormente estes insumos serem moídos, são levados até o forno rotativo, aonde são aquecidos juntos, até alcançarem temperatura de 1.450 °C, este processo, conhecido como calcinação, é responsável pelas novas propriedades dos materiais, tornando-os clínquer (NEVILLE, 2016). O clínquer depois de aquecido é resfriado bruscamente e em seguida passa por nova moagem, deixando-o um material pulverulento (NEVILLE, 2016). O processo de calcinação é responsável por aproximadamente 52% das emissões de CO2 do processo de fabricação do clínquer, o restante das emissões são gerados pelo consumo de energia (WORRELL, et al., 2001). Worrell, et al., (2001) ainda afirmam que para cada 1.000 kg de clínquer produzido, gera-se cerca de 815 kg de CO2. De acordo com John (2000), para agravar a situação, a indústria da construção civil é uma das que mais consomem matéria prima natural, aproximadamente 50%. Neste contexto, o concreto é o produto mais consumido no mundo pela indústria da construção civil, com uma produção anual de aproximadamente 20 bilhões de toneladas. Para atender esta demanda, é produzido anualmente cerca de 3,6 bilhões de toneladas de cimento (USGS, 2010). As adições são outras matérias primas que, introduzidas juntamente ao clínquer na etapa de moagem, concebem a produção dos vários tipos de cimento Portland, denominados cimentos compostos. Essas adições são a gipsita (gesso), os 33 materiais pozolânicos, materiais carbonáticos (filler calcário) e as escórias de alto forno (ABCP, 2002). A gipsita tem a importante função de controlar o tempo de pega, isto é, o inicio do enrijecimento do clínquer moído no momento em que entra em contato com água, iniciando suas reações. A não inserção da gipsita ao clínquer inviabilizaria a utilização do cimento, pois quando o cimento entrasse em contato com a água, petrificaria quase que imediatamente. Por este motivo, a gipsita é uma adição aplicada em todos os tipos de cimento Portland (BAUER, 2008). A quantidade de gipsita inserida no cimento é cerca de 3% sendo os outros 97% clínquer (ABCP, 2002). De acordo com ABCP (2002), as adições pozolânicas proveem de rochas vulcânicas, material orgânico fossilizado encontrado na natureza e argilas submetidas a grandes temperaturas, entre 550°C a 900 °C, decorrentes do processo da queima do carvão mineral em usinas termelétricas. Os materiais pozolânicos são partículas muito finas, que apresentam a propriedade de ligante hidráulico (NEVILLE, 2016). A reação entre os ligantes ocorre apenas se, além da água, as adições pozolânicas moídas em grãos finos forem introduzidas com outro material, no caso o clínquer, que no processo de hidratação emite hidróxido de cálcio (cal) reagindo com a pozolana (ABCP, 2002). Os materiais carbonáticos são rochas moídas, contendo carbonato de cálcio em sua composição como o próprio calcário. Essa adição utiliza-se nos concretos e argamassas, tornando-os mais trabalháveis, os grãos ou partículas dos materiais carbonáticos moídos possuem dimensões adequadas para alojar-se entre os grãos ou partículas dos outros materiais constituintes do cimento, atuando similar a um lubrificante (ABCP, 2002). A escória de alto forno é um rejeito não metálico da indústria siderúrgica, advindo, principalmente, do processo de fabricação do ferro gusa, possuindo em sua composição, silicatos de cálcio amorfos, provenientes das impurezas do minério de ferro com os fundentes que são introduzidos juntos no alto forno, dando aspecto granular á escória (MEHTA e MONTEIRO, 1994). As adições destes compostos devem obedecer as especificações normativas da NBR 16697 (2018), que determina os limites mínimos e máximos de adição destes materiais. 34 2.3.2 Tipos de Cimento Portland O primeiro cimento Portland produzido no Brasil foi o do Tipo Comum, um cimento constituído apenas de clínquer e gesso (97% clínquer e 3% gesso), sem qualquer outra adição, este cimento era identificado como CP, atualmente o CP I. Este cimento serviu de referencia para comparação com as propriedades e características dos tipos de cimento produzidos posteriormente. Somente a partir do amplo domínio científico do CP, foi possível o desenvolvimento dos outros tipos de cimentos existentes, objetivando atender as aplicações em obras especiais (PAULA, 2009). Os cimentos existentes diferenciam-se entre si quanto as suas características, bem como ao tipo de adição que será introduzido na mistura com o clínquer que irá definir sua classificação quanto a sua tipologia (RIBEIRO; PINTO; STARLING, 2006). O material cimento Portland é considerado um termo genérico, apresentando propriedades diferentes quando hidratado, sendo o principal causador destas divergências, as adições, possibilitando a fabricação de cimentocom variadas propriedades específica para determinados casos. (NEVILLE, 2013). Há alguns tipos de cimento Portland, para oferecer maior variedade de utilização aos consumidores (ABCP, 2002) conforme descrito no Quadro 5. QUADRO 5. - Designação normalizada, sigla e classe do cimento Portland. FONTE: ABCP (2002). 35 A norma que especifica as características dos vários tipos de cimento é a NBR 16697:2018. Os cimentos são caracterizados pela sigla e classe de resistência á compressão. As siglas representam o prefixo CP acrescido de números romanos I,II,III, IV e V, de acordo com a tipologia do cimento, conforme demonstrado no Quadro 5, sendo as classes de resistência á compressão representadas pelos números 25, 32 e 40. As classes de resistência correspondem a valores mínimos de resistência á compressão em megapascal (Mpa), após 28 dias de cura. A determinação da classe de resistência ARI, é obtida com a compressão do corpo de prova de cimento aos 7 dias de cura. O sufixo RS significa Resistente a sulfatos, indicados para obras executadas em classes de agressividade ambiental agressiva e o sufixo BC vem de Baixo calor de hidratação, indicado para blocos de fundação e de barragens ou peças com grandes volumes de concretagem (PAULA, 2009). 2.4 CONCRETOS DE CIMENTO PORTLAND O concreto é um material de edificação estrutural preparado por uma mistura de aglomerantes com materiais inertes e água. No estado fresco, deve oferecer condições de plasticidade oferecendo facilidade de manuseio ao ser lançado em formas, obtendo ganhos de coesão e resistência, pelas reações químicas que acontecem, entre o aglomerante e a água, com o passar do tempo. (PETRUCCI, 1987). Na mistura do concreto, o Cimento Portland, incorporado com a água, forma uma pasta fluida, de acordo com a quantidade de água adicionada. Essa pasta é responsável por envolver as partículas dos agregados utilizados para produzir o concreto de cimento Portland, que, nas primeiras horas, apresenta-se em estado fresco capaz de serem moldadas em fôrmas das mais variadas formas geométricas. Com o tempo, a mistura endurece pela reação da água com o cimento, adquirindo resistência mecânica, tornando-se um material de excelente desempenho estrutural, sob os mais diversos ambientes de exposição (IBRACON, 2010). De acordo com a NBR 12655 (2015) o concreto de cimento Portland é um material produzido pela mistura homogênea de cimento, agregados miúdos, agregados graúdos e água, com ou sem a inserção de componentes minoritários (aditivos químicos, metacaulim, sílica ativa e outros materiais pozolânicos), que 36 desenvolve suas propriedades pelo endurecimento da pasta de cimento (cimento e água) (ABNT, 2015). 2.4.1 Agregados Agregados são importantes na produção de concreto, são materiais granulares, sem forma ou volume definido, geralmente inerte, de dimensões apropriadas para a utilização em obras de engenharia. Agregados são provenientes de rochas britadas, fragmentos rolados nos leitos de rios e minerais encontrados em jazidas (NEVILLE, 2013). Os agregados desempenham um papel importante em argamassas e concretos, trazendo benefícios econômicos e técnicos, como, o aumento da retenção de água e aumento da resistência ao desgaste sem prejudicar as resistências mecânicas, pois os minerais de agregados de boa qualidade apresentam resistências superiores ao da pasta de cimento (PETRUCCI, 1987). Através da mistura dos agregados com cimento e água se obtém argamassas e concretos, e os agregados compõem aproximadamente 70% do volume de materiais utilizados para o processo de produção dos produtos em que são destinados (RIBEIRO; PINTO; STARLING, 2006). Os agregados podem ser obtidos diretamente na natureza em jazidas ou leito de rios (areias e pedregulhos), ou por procedimentos artificiais como trituração e britagem de matérias-primas oriundas de extração (RIBEIRO; PINTO; STARLING, 2006). Os agregados são classificados em agregado graúdo e agregado miúdo, de acordo com a dimensão de seus grãos, através do peneiramento do agregado de acordo com o conjunto de peneiras sucessivas, que atendem à ABNT NBR NM ISO 3310-1, com as aberturas estabelecidas no Quadro 5. (RIBEIRO; PINTO; STARLING, 2006). Os agregados miúdos detêm seus grãos passantes pela peneira com abertura de malha de 4,75 mm e retidos na peneira com abertura de malha de 150 µm, em ensaio de peneiramento executado em conformidade com a ABNT NBR NM 248 (ABNT, 2009). A distribuição granulométrica dos agregados deve atender aos limites expressos na NBR NM 248 (2003). Agregado miúdo com distribuição granulométrica 37 divergente das zonas expressas na NBR NM 248 (2003), desde que realizado prévios estudos de dosagem comprovando sua aplicabilidade (ABNT, 2009). De acordo com Bauer (2008), os agregados podem conter substâncias nocivas para a durabilidade dos concretos como, material pulverulento e material orgânico, entretanto, não devem exceder os limites descritos na NBR 7211 (2009). Material pulverulento, segundo Bauer (2008), é um material fino que passa através da peneira 75 µm por lavagem é denominado material pulverulento, isto por que é constituído de partículas de argila (< 0,002 mm) e sílte (0,002 a 0,06 mm), principalmente argila. Petrucci (1987), afirma que a argila presente no agregado forma uma película envolvendo cada grão presente no concreto, se esta película não se separar durante a mistura do concreto, sua ação é extremamente prejudicial, mesmo em pequenas proporções. Entretanto, a argila muito fina contribui para o preenchimento dos vazios, fazendo com que a pasta de cimento envolva melhor os grãos do agregado. Petrucci (1987) conclui que para verificar se a argila é prejudicial ao agregado e se deverá ou não ser realizado uma lavagem neste material, impõe-se a realização de ensaios comparativos prévios. Nos últimos anos, notáveis pesquisas foram realizadas para entender o comportamento deste material. Como conclusão, tem sido apresentado que, caso a quantidade do material pulverulento seja fixado, sem sofrer variações bruscas, em estabelecidos limites, há uma contribuição para um melhor desempenho do concreto (DAMO, 2011). Materiais orgânicos são resíduos, comumente provenientes de vegetais, geralmente em forma de partículas ínfimas, entretanto, em altos teores podem escurecer o agregado miúdo (BASÍLIO 1995). Em altas quantidades as impurezas orgânicas retardam a pega do cimento e prejudicam o endurecimento das argamassas e concretos, resultando em perda de resistência, podendo também, causar a má aderência da pasta de cimento com as partículas do agregado (NEVILLE, 2016). 38 2.4.2 Aditivos Aditivos são materiais químicos utilizados na constituição do concreto e/ou argamassa, antes ou durante a mistura, objetivando a melhoria nas propriedades tanto no estado fresco, quanto no endurecido (NEVILLE, 2016). Estes aditivos agem nas características reológicas do concreto alterando as reações de hidratação do cimento, melhorando a trabalhabilidade, modificando a viscosidade, atuando na retenção de água, acelerando ou retardando o inicio de pega e controlando o progresso das resistências mecânicas, entre outras (BAUER, 2008). O efeito de cada aditivo varia conforme sua concentração no concreto, tipo de cimento e dos materiais que compõem o concreto. Além do emprego principal, os aditivos podem apresentar efeitos secundários, alterando algumas outras características no concreto (IBI, 2014). De acordo com a NBR 11768 (2011), existem três segmentos de aditivos, os plastificantes, superplastificantes e retardadores de pega (ABNT, 2011). Os aditivos plastificantes de acordo com o item 3.6 da NBR 11768:2011 trata o aditivo como umredutor de água, que, não modifica a consistência do concreto em seu estado fresco, responsável por reduzir a quantidade de água de amassamento contida em uma mistura de concreto. Quando não alterado a quantidade de água, modifica a consistência do concreto aumentando a fluidez ou abatimento, ou, conferindo estes dois efeitos simultaneamente na mistura (NEVILLE, 2016). Os aditivos plastificantes são polímeros orgânicos, são utilizados para produção de concretos, que ganham resistência por causa da redução no teor de água, ou o concreto pode obter uma resistência específica para um consumo menor de cimento ou, aumentar o abatimento sem alterar o teor da água de amassamento (BAUER, 2008). Os aditivos superplastificantes são semelhantes ao plastificantes, a diferença entre os aditivos é a reatividade de quando entram em contato com a mistura, enquanto que o plastificante de acordo com Collepardi (1998), promove um aumento no abatimento de 50 a 70mm, o superplastificante promove um aumento de 150 a 200mm. Além do teor de água que no superplatificante pode chegar a uma redução de 30% de água na mistura. 39 O requisito para a classificação de um aditivo redutor de água, como os plastificantes e superplastificantes, através do método de ensaio ABNT NBR NM 67 (1998) é que o concreto ensaiado deve ter redução de ≥5% da água em relação ao concreto referencia. O aditivo redutor de água não apresenta funções significativas sobre a pega do cimento (ABNT, 2011). Os aditivos retardadores de pega de acordo com Neville (2016) são úteis em concretagens em temperatura elevadas, conferindo retardo no inicio de pega do cimento evitando juntas frias. Também são úteis em obras que necessitam de um maior tempo de utilização do concreto no estado fresco ou quando necessita de um tempo maior de transporte do concreto. 2.4.3 Água de amassamento As características da água de amassamento aplicada são essenciais para a produção de concreto, pois a existência de impurezas pode ser responsável por efeitos prejudiciais na resistência mecânica do concreto. Desta forma, a água de amassamento não pode conter matéria orgânica indesejável nem substâncias inorgânicas em teores excessivos (BAUER, 2008). Para que a água possa ser considerada adequada para o preparo de concreto deve atender aos requisitos estabelecidos por norma, bem como os métodos para sua avaliação (ABNT, 2009) de acordo com o fluxograma expresso na Figura 3. 40 FIGURA 3. - Fluxograma de Aceitação da Água para Amassamento do Concreto. FONTE: ABNT (2009). O fluxograma da Figura 3 apresenta a sequência de ensaios que fornecem os subsídios necessários para a aceitação ou recusa de uma amostra de água (ABNT, 2009). 41 3 METODOLOGIA PROPOSTA Este capítulo consiste na apresentação de ensaios e procedimentos utilizados para alcançar os objetivos propostos para avaliação da influência da substituição parcial do cimento Portland por escória ácida de fundição em concretos. 3.1 MATERIAIS EMPREGADOS Os materiais empregados na produção dos traços de concreto foram o cimento Portland composto CP II-F-40, a escória ácida moída, agregado miúdo natural (areia fina), agregado miúdo natural (areia grossa), agregado graúdo artificial britado n.º 0, agregado graúdo artificial britado n.º 1, água e aditivo plastificante. FIGURA 4. – Materiais coletados para realização da pesquisa. FONTE: O autor (2019). Os materiais foram coletados e armazenados adequadamente, conforme ilustra a Figura 4, objetivando manter suas características e utilizar sempre o mesmo material, diminuindo a variação dos materiais. Os insumos foram caracterizados de acordo com suas respectivas normas. 42 Os ensaios normalizados especificados a seguir foram realizados em laboratório técnico de indústria de concreto e argamassas, na cidade de Camboriú/SC. 3.1.1 Cimento Portland O cimento Portland utilizado na pesquisa foi o CP II – F40, o cimento foi escolhido porque se destaca pelo alto grau de finura, é indicado tanto para aplicações que necessitam de desforma rápida, bem como para a utilização para fabricação de concreto em centrais dosadoras (ITAMBÉ, 2019). A fábrica cimenteira concentra-se na cidade de Balsa Nova/PR, próximo ao local de estudo, com fácil acesso as amostras fornecidas pela indústria. Foi realizado o ensaio de finura do cimento por peneiramento de acordo com a NBR 11579 (2012). O ensaio de finura, em materiais aglomerantes, determina o material retido na peneira de abertura de malha de 75 µm, este ensaio é importante para caracterizar um material aglomerante quanto a sua superfície de contato, quanto menor a porcentagem de material retido na peneira, maior será sua superfície de contato (BAUER, 2008). Também foi realizado ensaio de massa específica, que de acordo com a norma NBR 16605 (2017) a qual prescreve o método para determinação da massa específica do cimento Portland e outros materiais em pó por meio do frasco volumétrico de Le Chatelier, demonstrado na Figura 5. 43 FIGURA 5. – Frasco volumétrico LeChatelier para determinação da massa específica do cimento e outros materiais em pó. FONTE: O autor (2019). O ensaio de massa específica determina o volume de um corpo é medido através do deslocamento de um líquido, este ensaio determina o volume que o cimento Portland ocupará na mistura de concreto. As características físicas e reológicas da pasta são detalhadas no Quadro 6, os números apresentados são as médias dos meses de janeiro á dezembro do ano de 2018 (ITAMBÉ, 2018). FÍSICOS Tipos de Ensaios Exp. Quente Tempo de Pega (h: min) Cons. Normal Blaine # 200 # 325 Resistência à Compressão (MPa) Índices mm Inicio Fim % cm²/g % % 1 dia 3 dias 7 dias 28 dias Média 0,31 3:13 4:01 30,4 4.474 0,05 0,35 22,9 38,8 45,5 54,1 Sd 0,15 0:24 0:10 0,6 57,43 0,02 0,09 0,6 0,7 0,8 1,2 Min 0,09 2:00 3:41 29,6 4.372 0,03 0,25 22,0 37,6 44,4 51,9 Max 0,60 3:35 4:16 31,4 4.549 0,08 0,57 23,8 40,1 47,1 55,7 QUADRO 6. – Ensaios físicos da pasta de cimento CP II F40. FONTE: Adaptação relatório de ensaios físicos CP II F40 da cimentos Itambé (2018). 44 Tendo em vista as variações que os cimentos apresentam, as características físicas e químicas do CP II F-40 foram introduzidas para simples conferencia da tipologia de cimento utilizado na pesquisa. As composições químicas e potenciais do cimento são detalhadas no Quadro 7, os números apresentados são as médias dos meses de janeiro á dezembro do ano de 2018 (ITAMBÉ, 2018). QUÍMICOS Tipos de Ensaios Al2O3 SiO3 Fe2O3 CaO MgO SO3 Perda ao Fogo CaO L. R. Ins. Eq. Alc. Índices % % % % % % % % % % Média 4,08 18,23 2,86 60,39 3,65 3,16 5,22 0,64 1,06 0,68 Sd 0,06 0,18 0,04 0,26 0,22 0,09 0,13 0,11 0,09 0,02 Min 3,96 17,99 2,80 60,03 3,23 3,03 5,01 0,54 0,86 0,65 Max 4,17 18,52 2,94 60,95 3,90 3,29 5,42 0,91 1,25 0,70 QUADRO 7. – Ensaios químicos do cimento CP II F40. FONTE: Adaptação relatório de ensaios químicos CP II F40 da cimentos Itambé (2018). 3.1.2 Escória Ácida A escória ácida é proveniente de fundição siderúrgica localizada na cidade de Joinville/SC, optou-se por esta fundição pela proximidade com o local de desenvolvimento do trabalho. A escória originalmente é granulada, necessitando assim do beneficiamento de moagem para que a mesma obtenha uma superfície de contado maior, potencializando sua reação pozolânica. A amostra fornecida pela indústria de fundição foi moída em betoneira com auxílio de esferas de aço, mesmas esferas utilizadas no moinho de bolas no processo de fabricação do cimento Portland. 45FIGURA 6. – Comparativo visual da moagem da escória ácida. FONTE: O autor (2019). A Figura 6 compara visualmente o resultado da moagem, a escória ácida granulada (á esquerda) e a escória ácida moída (á direita). A moagem foi realizada em uma etapa, com a inserção de 10 kg de escória ácida e 60 kg de esferas de aço na betoneira e com duração de 4 horas de moagem. Foi realizado ensaio de massa específica, de acordo com a NBR 16605 (2017) o qual determina o volume que a escória ocupará na mistura do concreto. Também foi realizado o ensaio de finura, por peneiramento de acordo com a NBR 11579 (2012), objetivando comparar se sua finura está compatível para material aglomerante. O Quadro 8 apresenta as características químicas da amostra de escória ácida utilizada. 46 Materiais Unidade Fórmula Molecular Resultados Obtidos Resíduo Insolúvel % - 44,62 Óxido de Ferro % Fe₂O₃ 4,67 Óxido de Cálcio % CaO 30,69 Óxido de Potássio % K₂O 0,64 Trióxido de Enxofre % SO₃ 0,49 Dióxido de Silício % SiO₂ 47,03 Óxido de Alumínio % Al₂O₃ 8,26 Óxido de Magnésio % MgO 3,26 Óxido de Sódio % Na₂O 0,23 Óxido de Bário % BaO 0,22 Óxido de Cério % CeO₂ 0,20 Cloro % Cl 0,01 Óxido de Cromo % Cr₂0₃ 0,19 Óxido de Manganês % MnO 2,97 Óxido de Nióbio % Nb₂O₅ 0,02 Pentóxido de Fósforo % P₂O₅ 0,03 Óxido de Estrôncio % SrO 0,15 Dióxido de Titânio % TiO₂ 0,52 Trióxido de Tungstênio % WO₃ 0,15 Óxido de Zinco % ZnO 0,03 Dióxido de Zircônio % ZrO₂ 0,06 Atividade Pozolânica % - 99,02 QUADRO 8. – Composição química da escória ácida. FONTE: Supremo cimento (2018). Os valores informados no Quadro 8 foram fornecidos pela empresa Supremo Cimento, especificando que os resultados apresentados são referentes a amostra de escória ácida fornecida. 47 3.1.3 Agregado Miúdo Os agregados miúdos empregados são oriundos de jazidas naturais da cidade de Araquari/SC, de natureza quartzosa. No Quadro 9, estão descritos os ensaios normalizados que serão realizados para determinar as características relevantes dos agregados miúdos para esta pesquisa. Norma Título Determinação NBR NM 248:2003 Agregados- Determinação da composição granulométrica. Granulometria NBR NM 46:2003 Agregados - Determinação do material fino que passa através da peneira 75 µm, por lavagem. Material Pulverulento NBR NM 52:2009 Agregado miúdo - Determinação da massa específica. Massa específica ASTM Standart C 40 - 99 Test Method for: Organic Impurities in Fine Aggregates for Concrete Matéria Orgânica QUADRO 9. - Normas utilizadas para caracterização de agregado miúdo. FONTE: O autor (2019). A determinação granulométrica é a distribuição, em porcentagem, dos diversos tamanhos de grãos. É a determinação das dimensões das partículas do agregado e de suas respectivas porcentagens de ocorrência (ABNT, 2003). A composição granulométrica tem grande influência nas propriedades das argamassas e concretos, conhecer esta distribuição do agregado e representa-la através de uma curva, chamada de curva granulométrica (PETRUCCI, 1987). A determinação do material fino que passa através da peneira 75 um, por lavagem, este ensaio objetiva a determinação das partículas de argila e outros materiais que através da lavagem passem pela malha da peneira de 75µm (ABNT, 2003). De acordo com a NBR 7211 (2009), os limites máximos aceitáveis de material passante pela malha da peneira de 75µm no agregado miúdo com relação à 48 massa do material são de 5% para concreto protegido de desgaste superficial e de 3% para concreto submetido a desgaste superficial. Foi realizado ensaio de massa específica, de acordo com a norma NBR NM 52 (2009) o qual determina o volume que o agregado miúdo ocupa na mistura de concreto. A ASTM Standart C 40 determina as impurezas orgânicas em agregado miúdo para concreto, adicionando uma solução aquosa de hidróxido de sódio com pureza de 3% junto ao agregado e através de análise visual com o colorímetro avaliar se é possível utilização do agregado no concreto. FIGURA 7. – Colorímetro e solução aquosa de hidróxido de sódio para determinação das impurezas orgânicas em agregado miúdo. FONTE: O autor (2019). A Figura 7 ilustra alguns dos materiais necessários para a execução do ensaio normalizado pela ASTM Standart C 40, como o colorímetro e a solução aquosa de hidróxido de sódio com pureza de 3%. 3.1.4 Agregado Graúdo O agregado graúdo utilizado será proveniente de jazidas de material pétreo de Camboriú/SC, de natureza granítica. 49 No Quadro 10, estão descritos os ensaios normalizados que serão realizados para determinar as características relevantes dos agregados graúdos para esta pesquisa. Norma Título Determinação NBR NM 248:2003 Agregados- Determinação da composição granulométrica. Granulometria NBR NM 46:2003 Agregados - Determinação do material fino que passa através da peneira 75 um, por lavagem. Material Pulverulento NBR NM 53:2009 Agregado graúdo – Determinação da massa específica e massa específica aparente. Massa específica QUADRO 10. - Normas utilizadas para caracterização de agregado graúdo. fonte: O autor (2019). De acordo com a NBR 7211 (2009), os limites máximos aceitáveis de material pulverulento, o passante pela malha da peneira de 75µm no agregado graúdo com relação à massa do material é de 1% para concreto armado. Foi realizado ensaio de massa específica, de acordo com a norma NBR NM 52 (2009) o qual determina o volume que o agregado graúdo ocupa na mistura de concreto. 3.1.5 Água de Amassamento A água que se utilizará na mistura do concreto é de abastecimento público da cidade de Camboriú/SC. A água de amassamento utilizada em concreto deve obedecer aos requisitos da NBR 15900-1 (2009), que determina a aceitação ou não da água para amassamento do concreto. Como a água utilizada na pesquisa é de abastecimento público, de acordo com a NBR 15900-1 (2009) a água está aprovada para utilização, sem necessidade da execução de ensaios. 50 3.1.6 Aditivo Plastificante O aditivo plastificante dosado á mistura de concreto foi disponibilizado pela indústria química da cidade de Vargem Grande/SP. TECHNIFLOW 506 é uma linha de aditivo plastificante multifuncional mid- range de pega normal de alta redução de água, a base de policarboxilato ou hibrido de lignosulfonato mais policarboxilato que apresenta excelente dispersão das partículas de cimento melhorando assim a trabalhabilidade (BAUCHEMIE, 2019). 3.2 DOSAGEM DOS CONCRETOS Para a dosagem dos traços de concreto, elaborou-se um traço referência, sendo sua mistura apenas com cimento, sem substituição de escória. O traço dosado contem as características exigidas pela NBR 6118 (2014), quanto à relação água/aglomerante e ao consumo de cimento. A relação a/a foi fixada em 0,6 e o consumo de aglomerante fixado de acordo com a classe de agressividade ambiental II (moderada), de 280 kg/m³ de acordo com a NBR 6118 (2014). Esta classe de agressividade ambiental foi escolhida por ter maior empregabilidade nas estruturas edificadas em concreto armado no território nacional, pois a classificação do tipo de ambiente para efeito de projeto é urbana. Posteriormente a elaboração do traço referência, foram realizados traços com a substituição parcial do cimento por diferentes porcentagens de escória ácida. O consumo de escória refere-se ao consumo inicial de cimento (280 kg/m³), em substituições parciais de 10, 20 e 30% conforme descrito no Quadro 11. Traços Referência 10% 20% 30% Cimento 280 252 224 196 Escória 0 28 56 84 Total de Aglomerante 280 280 280 280 QUADRO 11. –
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