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EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UMA PERSPECTIVA TRANSVERSAL Caro(a) aluno(a), A Universidade Candido Mendes (UCAM), tem o interesse contínuo em proporcionar um ensino de qualidade, com estratégias de acesso aos saberes que conduzem ao conhecimento. Todos os projetos são fortemente comprometidos com o progresso educacional para o desempenho do aluno-profissional permissivo à busca do crescimento intelectual. Através do conhecimento, homens e mulheres se comunicam, têm acesso à informação, expressam opiniões, constroem visão de mundo, produzem cultura, é desejo desta Instituição, garantir a todos os alunos, o direito às informações necessárias para o exercício de suas variadas funções. Expressamos nossa satisfação em apresentar o seu novo material de estudo, totalmente reformulado e empenhado na facilitação de um construto melhor para os respaldos teóricos e práticos exigidos ao longo do curso. Dispensem tempo específico para a leitura deste material, produzido com muita dedicação pelos Doutores, Mestres e Especialistas que compõem a equipe docente da Universidade Candido Mendes (UCAM). Leia com atenção os conteúdos aqui abordados, pois eles nortearão o princípio de suas ideias, que se iniciam com um intenso processo de reflexão, análise e síntese dos saberes. Desejamos sucesso nesta caminhada e esperamos, mais uma vez, alcançar o equilíbrio e contribuição profícua no processo de conhecimento de todos! Atenciosamente, Setor Pedagógico Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 3 SUMÁRIO UNIDADE I - EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UMA PERSPECTIVA TRANSVERSAL UNIDADE II - REFLEXÕES SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL (EA) .............................5 UNIDADE III - A EDUCAÇÃO AMBIENTAL (EA) E SUA PROPOSTA ..........................19 UNIDADE IV - EDUCAÇÃO AMBIENTAL VOLTADA A FORMAÇÃO DO CIDADÃO .......................................................................................................................................................21 UNIDADE V - EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CURRÍCULO ............................................26 REFERÊNCIAS ...........................................................................................................................60 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 4 INTRODUÇÃO A educação ambiental implica necessariamente considerar problemas relativos a todas as formas de vida existentes. Excluir, segmentar, deixar de incluir aspectos da vida das sociedades, das culturas e dos indivíduos em suas estritas interações com o meio natural leva a incorrer em graves equívocos. Dentro dessa perspectiva, é que a educação ambiental não contém uma especificidade isolada, desconectada de outras práticas educativas: ela só existe enquanto área se considerada na estreita articulação de sua prática de produção e transformação do conhecimento com o conjunto do processo educacional. A educação ambiental não se limita, assim, ao estabelecido em recortes teóricos fechados, por ter a sua maneira de ser numa inserção prática de caráter eminentemente interdisciplinar - um fazer e um interferir educacional que provocam a interseção de múltiplas áreas do conhecimento. Diante dessa natureza prática da educação ambiental, importa, então, repensar-se a formação de professores, redimensionando suas forças de atuação, seu ambiente de trabalho e as interfaces deste com o ambiente externo à sala de aula, aos alunos e à comunidade escolar com um todo. Portanto, a Educação Ambiental visa a formação de cidadãos críticos, conscientes e atuantes, na promoção de uma educação política. Dessa forma, busca-se um entendimento mais abrangente acerca das ações cotidianas, enfatizando a Educação Ambiental como uma ação global, onde o cidadão, ao ter conhecimento dessa realidade, produz um pensamento universal para assim atuar conscientemente como modificador do meio onde está inserido. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 5 UNIDADE I - REFLEXÕES SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL (EA) Para poder aprofundar um pouco mais a discussão sobre Educação Ambiental, existe uma discussão acerca das diversas concepções sobre o termo meio ambiente, explicando que o mesmo está inserido em inúmeros e diversos discursos políticos, sociais, ecológicos e midiáticos. Assim, a Educação Ambiental está relacionada às relações dinâmicas e que estão em constante interação entre aspectos sociais e naturais. A Educação Ambiental está inserida em todos os aspectos que educam o cidadão, dessa forma, é possível percebê-la nos diversos espaços sociais, culturais, políticos e educacionais, dando, cada um, ênfase às suas especificidades. Por perceber a Educação Ambiental em uma perspectiva global, a mesma não poderia ser considerada como disciplina dentro do processo educativo, mas sim, como uma perspectiva que permeie todas as disciplinas. Assim, a Educação Ambiental deve ser abordada nos diversos aspectos e espaços promovendo a percepção do educando como cidadão brasileiro e planetário. Sua abordagem, apesar de ainda ser vista apenas como a transmissão de conhecimento cientifico e a conservação da natureza, precisa levar em conta aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais para que realmente possa ser percebida como Educação Ambiental e não ecologia e/ou ciências biológicas. Dessa forma, são apontados seis objetivos da Educação Ambiental, definidos na Carta de Belgrado (1975): Conscientização; Conhecimento; Comportamento (Atitude); Competência; Capacidade de avaliação; Participação; que se tornam imprescindíveis para um trabalho de Educação Ambiental quais sejam: conscientização, conhecimento, comportamento, competência, capacidade de avaliação e participação. Esses objetivos têm como princípio o esclarecimento e a atuação consciente dos sujeitos frente ao problema ambiental, bem como, a busca um novo comportamento que visa adquirir o sentido dos valores sociais, sensibilizando-os pelo interesse ao meio ambiente. A Educação Ambiental não deve ser limitada a um conteúdo ou disciplina específicos, deve sim transitar entre as diversas áreas do conhecimento, sendo trabalhada independente da idade dos educandos e de acordo com o contexto, possibilitando a mediação e construção do conhecimento em conjunto entre alunos e professores. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 6 A metodologia utilizada pelo (a) professor(a) é, na maioria da vezes, uma escolha individual que deve considerar os diversos espaços e contextos em que o grupo está inserido, buscando sempre instigar a criatividade dos alunos. Existem diversas abordagens metodológicas que podem e são utilizadas nas escolas, entre elas estão o método passivo, descritivo, analítico e ativo, o qual permite ao aluno questionar dados e ideias sobre um tema desenvolvendo progressivamente o seu conhecimento e comportamento em relação a este. Existem outras duas metodologias que podem ser empregadas, quais sejam, Histórias de Vidas, que possibilitam desenvolver a criatividade, as representações, a compreensão de conceito cientifico e de problemas ambientais em discussão e a Pedagogia de Projeto que permite a participação de todos os sujeitos na elaboração, execução e avaliação do mesmo. A avaliação é um componente muito subjetivo e, portanto, se torna um processo extremamente difícil para o professor. Dessa forma, é necessário que a avaliação se direcione não para as incapacidades dos alunos, mas sim para identificar o queprecisa ou não explorar para a solução dos problemas ambientais. Sendo assim, torna-se mais pertinente propor aos alunos o processo de auto avaliação. Os recursos didáticos utilizados na Educação Ambiental podem ser simples ou sofisticados, dependendo da criatividade do professor. Assim, os meios de comunicação, as artes plásticas ou a própria aula são recursos utilizados que visam mediar conhecimento científico e cotidiano na aprendizagem dos alunos. A Educação Ambiental no Brasil apresentou-se em duas faces, a primeira como um modismo desenfreado e através do oportunismo, a segunda como uma opção pedagógica crítica aos modelos vigentes. Em suma, a Educação Ambiental é uma das mais importantes exigências educacionais contemporâneas, explicando que não deve ser utilizada como a transmissão de conhecimento ambiental, mas buscando ampliar a participação política do cidadão. Assim sendo, ela tem como intuito a consolidação da democracia, a solução dos problemas ambientais e a melhora da qualidade de vida partindo da ética e do diálogo entre gerações e culturas. Portanto, a ideia de Educação Ambiental vai além da solução dos problemas ambientais, e aparece como uma nova perspectiva de perceber as relações sociais, políticas e culturais. Essas perspectivas dizem respeito a busca utópica pela concepção de uma nova relação social que busca a formação de cidadão crítico, ético e consciente de que é necessário pensar no global para agir no local. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 7 Mais um pouco!!! FUNDAMENTOS EPISTEMO-METODOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Sônia Maria Marchiorato Carneiro Alertas ambientais das últimas quatro décadas – depleção de recursos, degradação, poluição e precárias condições de vida da maioria da população mundial – tiveram enfática convergência da Rio-92 à Rio+10 (Johannesburgo). Pouco antes deste último evento, notava Vieira (2001, p. 9) que as ações empreendidas para a gestão ambiental e o desenvolvimento sustentável têm-se mostrado "ambíguas, fragmentadas e pouco capazes de fazer justiça à complexidade dos desafios" para reduzir desigualdades intra e entre países, buscando novas gestões institucionais de controle aos riscos da evolução técnica e uma relação simbiótica dos humanos com o meio. Deficientes, pois, também têm sido os critérios referenciais nos processos decisórios, frente à tendência – há muito estabelecida – de exploração dos recursos naturais "a fim de obter ganhos monetários a curto prazo, maximizando uma atividade produtiva" (LAYRARGUES, 2000, p. 92). Daí a urgência de um gerenciamento dos recursos naturais a partir de princípios que fundamentem "a construção de uma racionalidade produtiva sobre bases de sustentabilidade ecológica e de equidade social" (LEFF, 2001a, p. 60); para tanto, a educação é condição-chave, cabendo aos educadores de todos os níveis escolares e programas, desenvolver e exercer uma liderança qualificada na construção de novas relações de reapropriação do mundo, em vista da formação de mentalidades compreensivas ante as complexas inter-relações do meio para ações socioambientais efetivas em contextos histórico-culturais de configuração local e regional, mas sempre de alcance planetário. Nessa linha, o presente texto vem proposto como subsídio de fundamentação às práticas educativas, escolares ou não, no desenvolvimento da Educação Ambiental. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 8 As analogias orgânica e mecânica de natureza A produção do conhecimento sobre o mundo vincula-se a processos histórico-culturais da formação das sociedades humanas, gerando valores, conceitos, crenças, padrões de conduta – modos de vida. Nos primórdios da Civilização Ocidental, entre os Gregos, delineia-se uma concepção do mundo natural: o cosmos harmônico e unitário, vivo e inteligente, como um todo ordenado, orgânico e vital, incluindo seres humanos e não-humanos, dotado de movimento perpétuo e regular, numa dinâmica cíclica, mediante interdependências biológicas, anímicas e materiais – uma analogia com um organismo vivo, um imenso animal (COLLINGWOOD, s. d., p. 10-11, 162-163). A partir do séc. VII a.C., a inquirição sobre o ser e a origem das coisas e do universo supera as visões cosmogônicas mítico-antropomórficas, mas culturalmente essa herança continua (COLLINGWOOD, s. d, p. 49; BRUGGER, 1962, p. 573). Até o séc. IV a.C., o pensamento grego elaborara cosmologias racionais que permitem duas generalizações epistêmicas: a construção de significados para além da linguagem cotidiana, "mais semelhantes a termos técnicos"; e uma primeira produção de pensamentos significativos sobre a "relação do homem e da natureza" (SIMMONS, 2001, p. 260). Na investigação da unidade-multiplicidade das coisas, de transformações-permanências, de relações-dependências, foi fundamental o termo natureza (physis), como princípio (arqué) diferenciador e causativo, inerente a cada coisa ou ser e, ainda, significando o agregado das coisas naturais, o mundo da natureza ou o cosmos (COLLINGWOOD, s. d., p. 47-73). A inquirição nuclear do pensamento grego clássico, incluindo os fins dos próprios conhecimentos para o homem – este, em sua natureza distinta de único ser racional, ético e político – divergia em concepções de método e sistematização, mas confluía sobre o sentido e a finalidade e daí a necessidade, da organização sociopolítica e das questões de justiça e direito, sempre em vista da formação do cidadão (BOWEN; HOBSON, 1974, p. 21-118; COLLINGWOOD, s. d., p. 82-94, 102-133). Na especulação em si cosmológica, destacaram-se as teorias do movimento na natureza (BRUGGER, 1962, p. 574-575), em especial o Atomismo, que concebia infinitas partículas mínimas e indivisíveis, sem princípio de atividade além do peso, em movimento eterno no Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 9 vácuo, combinadas ou ordenadas, mas separadas, possibilitando explicações quantitativo- matematizadas de variabilidade no mundo natural, com modificações de partes sem alteração de outras ou do todo (SIMMONS, 2001, p. 261). A episteme grega, enfim, foi o momento fundante da racionalidade naturalista ocidental, legando um antropocentrismo consequente em seus desdobramentos. A passagem da analogia orgânica à mecanicista teve longa gestação na sociedade ocidental, mediante a instrumentação de trabalho e avanços nas várias ciências em construção. Já no séc. IX circulam traduções árabes e latinas de autores gregos desde a Península Ibérica e, nos séc. XIII a XV, intensifica-se a apropriação do legado cultural da Grécia clássica e de sua continuação no Helenismo, esta prolongando-se até o séc. VI. Mil anos após, sobre o substrato sociopolítico medieval, em conexão ao Mercantilismo e à expansão marítima europeia e, sobretudo, sob forte revivescência do classicismo greco- romano, a partir da Itália eclode o Renascimento – como portal à Idade Moderna, em sua primeira fase, até o final do séc. XVI. A ciência renascentista elaborou-se na perspectiva da epistemologia grega clássica pela temática cosmológica, numa concepção matemático- mecanicista, negando diferenças naturais de qualidade em favor de estruturas geométricas quantitativas e, inclusive, alinhando-se ao atomismo grego. Revolucionária nesta nova ciência foi a teoria heliocêntrica, pelas consequências cosmológicas: "(...) destruía toda a teoria do mundo natural como sendo um organismo" ao pressupor a unidade da matéria do universo e a lei da gravitação e, assim, abrindo caminho a umavisão mecânica da natureza, por analogia com a máquina (COLLINGWOOD, s. d., p. 140- 143). O contexto cultural de época favoreceu tal concepção, na sequência de sucessos técnicos desde a primeira metade do séc. XV – em mineração, metalurgia, manufaturas, imprensa, energia motriz pelo vento e quedas-d'água, bem como na navegação, impulsionando o homem europeu ao máximo domínio sobre o entorno próximo e remoto (MCEVEDY, 1979, p. 94; BRAILOVSKY, 1992, p. 72). Na segunda fase moderna (séculos XVII e XVIII), emerge uma reflexão epistemológica em torno da natureza, na oposição racionalismo-empirismo. Sobressai o racionalismo de Descartes (1596-1650), fundado na dualidade razão-espírito e mundo-matéria, a partir de Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 10 Galileu e pondo o marco extremo da distinção entre homem-sujeito cognoscente e natureza- objeto conhecido, com redução dos processos vitais a mecanismos, ainda que orgânicos; e os animais, privados de racionalidade, sendo entendidos como simples máquinas semoventes. Tal epistemologia dicotômica acarretou uma visão mecanicista ampla dos fenômenos naturais, com enfoque fragmentado de mundo e uma relação de oposição dominadora do homem frente à natureza (PONTING, 1995, p. 245-246; COLLINGWOOD, s. d., p. 15-18). A Revolução Industrial e o Mercantilismo Fisiocrata intensificam o consumo de recursos, frente ao crescimento europeu – a tal ponto que efetua "o domínio do mundo pelo Ocidente" como "acontecimento de magnitude biosférica" (TOYNBEE, apud RHODE, 1996, p. 57). Ocorrem irreparáveis depredações naturais: extinção de espécies vegetais e animais, em ilhas e continentes; poluição ambiental e prejuízos irreversíveis de inteiros ecossistemas (introdução de espécies exóticas e manipulação de ambientes em terras colonizadas); domina a agricultura extensiva, em regiões propícias da Europa e áreas além-mar e, nestas, via mão-de- obra escrava (FONTES, 2005; BRAILOVSKY, 1992, p. 74-79, 88-95; THOMAS, 1988, p. 291- 298). A mais, na última trintena do séc. XVIII, surge o conceito moderno de sociedade, no debate Absolutismo-Republicanismo, indicando uma área autônoma entre as esferas pessoal e política (HONDERICH, 1995, p. 835-836). Ao final do século, as consequências da industrialização pesavam no dia a dia, sobretudo urbano, pela deterioração ambiental e das condições de vida; e no início do séc. XIX, esses problemas atingiam níveis alarmantes (em áreas urbanas, rios e suas bacias e lagos; esgotamento de recursos extrativos locais e dos próprios solos), com problemas graves no âmbito da produção industrial, como trabalho semiescravo ou escravo e a exploração de mão-de-obra feminina e infantil (CARVALHO, 2004a, p. 98-99). E uma nova ciência, a Economia, passa a reger a racionalização dos mecanismos de produção-consumo pela teoria do mercado livre, com a geração de capital na relação custos- lucro. Na passagem à Idade Contemporânea, surge o Romantismo, movimento que se expande a todas as artes em oposição ao objetivismo dos padrões econômicos, em favor de uma visão orgânico-unitária da natureza, associada a uma vida saudável, verdadeira e íntegra (THOMAS, Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 11 1988, p. 309-318; HONDERICH, 1995, p. 778; CARVALHO, 2000, p. 97-98). Ademais, então haviam-se já firmado os estudos históricos modernos, incorporando concepções de mudança, progresso e evolução, que repercutiram também nos estudos naturalistas. No plano filosófico, a dialética hegeliana via a História como o próprio devir do progresso da consciência de liberdade, por estágios contínuos de superação evolutiva, rumo a uma harmonia de interesses individuais e coletivos; já o materialismo histórico, partindo das estruturas materiais de produção, assumiu um pressuposto real para construir relações sociais de produção equitativas e humanamente desejáveis, tanto nas situações de trabalho assim como na partilha de seus benefícios (HONDERICH, 1995, p. 339-343, 356-357, 523-526). E a progressiva especialização de conhecimentos, em curso (GRUN, 1991, p. 374-453), gera a Sociologia, focando a sociedade – e pois, suas estruturas, as dinâmicas e também problemas. Essas novas perspectivas de leitura de homem e mundo demandavam outro paradigma de apreensão da natureza que o matemático-mecanicista e, a mais, economicista, frente aos problemas sociais e ambientais. A epistemologia ambiental De fins do séc. XIX ao XX, como em seu decorrer – no dinamismo da apropriação técnico-produtiva de recursos materiais, com as urgências e consequências de conflitos bélicos graves e constantes e, a mais, com o alarmante curso da crise ambiental – rupturas e articulações científico-conceituais, simbólico-ideológicas e político-econômicas, fazem emergir o objeto próprio de uma epistemologia ambiental: a relação sociedade-natureza. Sua apreensão reflexivo-construtiva dá-se sob focos múltiplos do real, na convergência de diferentes ciências específicas e, portando, pressupondo não só outros paradigmas cognoscitivos, bem como uma nova racionalidade para a apreensão compreensiva do mundo- hoje, justificadamente, a racionalidade socioambiental – incorporando condições eco-espaciais e socioculturais aos processos político-econômicos, como em curso na produção recente de especialistas (VIOLA; LEIS, 1992, p. 92-95; SACHS, 1994, p. 52-53; LEFF, 2001a, p. 109-190). A urgência extrema desta reconcepção de homem e sociedade, não mais situando-se em enfrentamento cognitivo-tecnológico ante a natureza, mas nela inserindo-se em diálogo Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 12 diagnóstico-interpretativo criterioso, teve como momento incisivo a falência da racionalidade economicista neoclássica, tornada evidente sob o impacto do relatório Limites do Crescimento (1972) e, no mesmo ano, com a urgente convocação a uma política ambiental global pela ONU- Conferência de Estocolmo, quando também a Educação Ambiental é firmada como estratégia básica no âmbito das questões ambientais (Princípio 19 da Declaração sobre o Meio Humano). Ações e diretivas da UNESCO, visando à cooperação política, técnica e pedagógica no enfrentamento dessas questões, fazem circular em 1973, na implementação inicial do PNUMA, o termo ecodesenvolvimento, reelaborado em 1974 como estilo de desenvolvimento. Nessa conexão, Nosso Futuro Comum, também Relatório Brundtland (ONU, 1987) propõe desenvolvimento sustentável como crescimento econômico para a equidade social e o equilíbrio ecológico (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1988, p. 9-10, 46-71). Implicações socioeconômicas e políticas, como ecológicas e técnicas da questão ambiental, tornam o desenvolvimento sustentável ambíguo, no contexto amplo da conjuntura tecno-científica hodierna. Pressupostos do paradigma da complexidade (em conexão a uma racionalidade socioambiental e uma epistemologia ambiental) constituem a base de superação aos impasses epistêmicos na relação de desenvolvimento e sustentabilidade, inscrevendo-se o primeiro termo no âmbito das efetuações humanas e, o segundo, no das efetuações naturais; e ambas, numa dinâmica interativa (RHODE, 1996, p. 38-40): a inter-retroatividade organizacional das efetuações naturais: a dinâmica autopoiética dos fluxos de energia, da circulação de matéria e informação genética, por encadeamentos termodinâmicos e físico-químico-biológicos, configurando processos, funções, estruturas, teias ou redes e sistemas, bem como gerando tensões energéticas autógenas, probabilístico-transformativas– desde partículas a seres vivos, ao mundo e ao universo (MORIN, s. d., p. 53; BRANCO, 1989, p. 48-68, 122-124; CAPRA, 2003, 2003, p. 22-23); a inter-retroatividade das efetuações humanas: a dinâmica alopoiética estruturante e condutora de realizações técnico-criativas como derivações científicas, hoje, em múltiplos âmbitos e níveis, em redes e sistemas de articulação e comunicação – desde as Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 13 engenharias básicas até a biotecnologia, área que inclui a autopoiese complexificadora da dinâmica não-linear das redes epigenéticas (CAPRA, 2002, p. 104, 183-185); o princípio da incerteza: o risco e a precaução intrínsecos à inter-retroação de fins e meios nos contextos de ação, constituindo o critério diferencial de superação da ciência clássica, que se constituiu precisamente pela busca da certeza (MORIN, 2003, p. 79-92; PRIGOGINE, 1996, p. 114-134); a pertinência dos conhecimentos: a apreensão de informações e dados, dos níveis contextual, global e multidimensional ao nível complexo, configurando realizações cognitivas pessoais/grupais/coletivo-sociais sem fechamentos disciplinarista e de hiper- especialização, na perspectiva da dimensão histórico-cultural da condição humana e na sua identidade terreno-planetária, mediante sistemas integrados de valores, crenças e regras de conduta (MORIN, 2003, p. 36-45, 63-78; CAPRA, 2002, p. 97-99); por fim, uma orientação antropoética: fundada na consciência da Terra-Pátria e na relação triádica indivíduo/sociedade/espécie, para a construção de um humanismo político-civilizatório, em perspectiva também de uma cidadania planetária (MORIN, 2003, p. 105-115; TREVISOL, 2003, p. 132-135). As implicações éticas da relação desenvolvimento-sustentabilidade emergem nas injunções técnico-operacionais e científico-cosmológicas desses pressupostos, pela conexão entre o conhecimento das dinâmicas naturais e a consciência das possíveis e, de fato, reais interferências antropogênicas sobre as mesmas, de alcance químico-orgânico e com efeitos na biosfera (RHODE, 1996, p. 40-55; CÂMARA, 2003, p. 163-165); daí que a interface ética das decisões tecnológicas, portanto do desenvolvimento, deva ser critério limítrofe nas efetuações sobre a natureza, máxime em situações de pôr em risco condições básicas de sanidade ambiental e da própria vida, negando-lhe sustentabilidade. Prioridade imediata, pois, é a desconstrução epistêmico-cultural do desenvolvimento como progresso hegemônico e globalizante de produção e consumo, que se vem adequando a critérios legais de cuidado ambiental, pragmaticamente, porém, formalizados como simples cálculo de consequências e vazios de conteúdo ético (SOSA, 1989, p. 158-160). A efetividade desse enfrentamento está na atuação cooperativa da sociedade organizada, integrando saberes culturais e conhecimentos científico-técnicos e político-econômicos, em vista Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 14 de decisões-ação criteriosamente escaladas e coordenadas, com referenciação ética e a mediação estratégica da Educação Ambiental. Implicações metodológicas para a educação ambiental O paradigma da complexidade, norteador de uma epistemologia ambiental, implica uma revolução do pensamento hodierno, como mudança de mentalidade na transformação do conhecimento e das práticas educativas, em vista de um mundo socioambientalmente sustentável. Sob foco educacional, o paradigma da complexidade não se relaciona apenas ao aprendizado de fatos novos, mas com a desconstrução dos princípios epistemológicos da ciência moderna e a fundação de uma nova pedagogia apropriadora do conhecimento "(...) a partir do ser do mundo e do ser no mundo", envolvendo a construção de novos saberes e de uma nova racionalidade, que permitam às atuais e futuras gerações novas maneiras de se relacionar com o mundo (LEFF, 2001a, p. 219); porquanto, envolvendo uma educação que reconstrua relações entre pessoas, sociedade e meio natural, sob uma ética de responsabilidade voltada à sustentabilidade socioambiental. A EA, enquanto dimensão fundamental da educação contemporânea, contribui para a construção crítica do conhecimento transformador da realidade socioambiental. A reflexão sobre os fundamentos epistemológicos de uma EA crítica pode ser apoiada por algumas orientações teórico-metodológico (integradas, complementares e adaptativas a níveis e tipos de ensino, sem ordem hierárquico-sequencial entre si), para o desenvolvimento do processo educativo. Nesta linha, quanto ao conhecimento teórico-conceitual: a compreensão de ambiente como conjunto de inter-relações (interações, interdependências, inter-retroações) dos seres humanos entre si (meio social) e destes com a natureza não-humana (meio natural), num contexto espácio-temporal mediado por saberes locais, tradicionais e científicos (CARNEIRO, 1999, p. 62; MORIN, 2003, p. 36- 39; CARVALHO, 2004b, p. 21); um reconhecimento do mundo a partir dos princípios fundamentais da vida (princípios ecológicos), das leis-limite da natureza (processos entrópicos, morte) e da cultura Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 15 (finitude de padrões epocais) e, nessa perspectiva, apreender o ambiente como potencial ecológico da natureza em simbiose com as dinâmicas culturais que mobilizam a construção social da história (LEFF, 2001a, p. 220; CAPRA, 2003, p. 20-33). a apreensão unitária da vida na terra, interligada por redes biológicas (de redes metabólicas intracelulares a teias alimentares de ecossistemas) e redes sociais (comunicação, simbólico-culturais e de funções diversas, inclusive de poder), as quais, se receberem perturbações significativas, podem desencadear múltiplos processos de realimentação, produzindo surgimento de uma nova ordem (mudanças inovadoras) ou um colapso de estruturas existentes (CAPRA, 2002, p. 267-268, 272-273); a problemática socioambiental em suas multi-dimensões (geográficas, históricas, sociais, ecológicas, econômicas, tecnológicas, políticas etc.) e complexidade (inter-relações de componentes/elementos do meio), pois é sob tal foco que os problemas socioambientais tornam-se mais inteligíveis: a visão fracionada dos problemas dificulta e impossibilita a compreensão reflexiva dos mesmos (MORIN, 2003, p. 38-39, 43; CARVALHO, 2004b, p. 21); o fato de que a realidade socioambiental não é facilmente legível, incluindo a incerteza do real; conforme Morin, "saber que há algo possível ainda invisível no real"– o princípio da incerteza remete aos princípios do risco e da precaução (LEFF, 2001a, p. 196, 221; MORIN, 2003, p. 84-92). o entendimento de sustentabilidade socioambiental como racionalidade orientada por novos valores e saberes, em vista de uma gestão político-econômica criteriosa das potencialidades e limites dos recursos naturais, desde âmbitos comunitários à globalidade do Planeta, sob aspectos ecológicos, sociais, culturais e tecnológicos, em vista do bem- estar e qualidade de vida das pessoas, sem comprometer as gerações futuras; sob tal ótica de sustentabilidade importam, basicamente, os processos coletivos na construção de um outro mundo, socialmente justo, democrático e ambientalmente mais seguro (LEFF, 2001b, p. 122-124; CAPRA, 2003, p. 19-20; QUINTAS, 2004, p. 125-126, 130); a interdisciplinaridade, como articulação integradora de diferentes disciplinas e saberes sociais (locais, tradicionais e populares) na construção partilhada do conhecimento frente a problemas socioambientais, comportandoa desconstrução do pensamento disciplinar Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 16 (unitarista-simplificante) e, daí, também de certezas não-sustentáveis e a construção de novos sentidos do ser e de ser no mundo (LEFF, 2001a, p. 219-221; FLORIANI; KNECHTEL, 2003, p. 96-100; CARVALHO, 2004a, p. 130). No âmbito dos fundamentos metodológicos da EA crítica, podem-se, igualmente, apontar algumas orientações ao processo educativo (também adaptativas a níveis e tipos de ensinos, sem hierarquia de precedência ou ordem). Antes de tudo, urge a construção de uma nova linguagem pedagógica de educação do pensamento para a capacidade de raciocinar a complexidade ambiental: em perspectiva sistêmico-relacional, nos âmbitos contextual, global e multidimensional das questões socioambientais, para além da simples identificação e descrição de problemas; sob enfoque crítico-social, desvelando as perspectivas diacrônica (dinâmica da História) e sincrônica (inter-relações presentes) de problemas reais e potenciais, na concretude dos espaços de vida, em sua relevância para a sustentabilidade socioambiental (ORDOÑEZ, 1992, p. 51-53; CARVALHO, 2004a, p. 130.); com abertura frente às incertezas do real, do conhecimento e da ação, ante o imprevisto e inesperado, com revisão de teorias e ideias para escolhas reflexivas e, ainda, com recusa do conhecimento seguro que encubra dificuldades e dúvidas no processo de compreensão do mundo; incorporando simultânea reflexão sobre a unidade e a diversidade do processo planetário, suas complementaridades e antagonismos (como a mundialização, ao mesmo tempo unificadora e conflituosa); e gerando, a partir da complexidade do mundo, novas capacidades cognitivas críticas e criativas, habilidades inovadoras de reapropriação da natureza e redefinição de estilos de vida (quanto ao consumo, desperdício, produção), em prol da sustentabilidade socioambiental (LEFF, 2001a, p. 219; 2001b, p. 111-129; MORIN, 2003, p. 30-39, 64- 70, 83-90; CAPRA, 2003, p. 21; AVANZI, 2004, p. 43). Por consequência, a abordagem de conteúdos deverá voltar-se mais a um foco multicausal dos problemas socioambientais e à busca de soluções alternativas do que a diagnósticos e análise de efeitos presentes; para tanto, impõe-se partir de situações locais e Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 17 regionais para as questões globais, tanto em nível nacional quanto internacional (GONZÁLEZ GAUDIANO, 1997, p. 78; LAYRARGUES, 2000, p. 90-92; GADOTTI, 2000, p. 80-84). E as reflexões socioambientais serão articuladas pelas práticas educativas, mediante as dinâmicas da multidisciplinaridade (nas escolas, tratamento de conteúdos ambientais segundo peculiaridades das disciplinas) e, sobretudo, de interdisciplinaridade – i. é, numa convergência dialógica entre educadores de diferentes áreas (incluindo alunos) no intercâmbio de conhecimentos científicos e saberes sociais (tradicionais, populares), via projetos integradores relacionados a problemas socioambientais do entorno escolar e da realidade de vida dos educandos, em vista da prevenção e solução de problemas; tal processo orienta-se de uma dinâmica interdisciplinar para a transdisciplinaridade, na medida em que se construa uma unidade teórico-prática da dimensão ambiental nas práticas educativas. Esse encaminhamento metodológico nas escolas (e outras instituições) tem efeitos positivos, pois favorece: o trabalho em equipe, envolvendo cooperação, tolerância e respeito mútuo entre educadores e alunos, no esforço partilhado de apreenderem a complexidade das questões socioambientais (múltiplas inter-relações e dimensões da realidade), por meio dos processos diagnósticos e analítico-avaliativos; a aplicação, pelos educandos, de conhecimentos e habilidades aos seus contextos vivenciais, desenvolvendo aprendizagens significativas ante o desafio de pensarem questões reais e, pois, complexas (LEFF, 2001a, p. 220-221; 2001b, p. 116, 121-122; CAPRA, 2003, p. 29-32; AVANZI, 2004, 45-47; CARVALHO, 2004a, p. 120-122, 129- 130); e a formação de condutas positivas (referenciadas aos valores de respeito, solidariedade, cidadania, justiça, prudência, honestidade etc.) em termos de práticas propositivas (resolver/prever problemas), reativas (vencer acomodação/indiferença) e pertinentes ao quotidiano escolar e comunitário, em vista da sustentabilidade socioambiental. Por fim, numa convergência de síntese, a orientação de uma prática avaliativa processual e contínua, quanto à formação e conscientização ambiental, sob três aspectos: centrando-se nas mudanças de atitudes e ações pelos alunos, com base em valores e compreensão crítica das questões socioambientais, evidenciando capacidade de análise e tomadas de decisões quanto ao meio, especialmente o entorno imediato; Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 18 adotando enfoques multi e interdisciplinares nas práticas educativas, com avaliação das atividades e projetos de EA, relativamente aos seus objetivos, marcos conceituais e conexões com as necessidades das comunidades locais; e focando interações educadores-alunos, entre os alunos e, destes, com suas famílias e comunidades do entorno escolar (CARNEIRO, 1999, p. 91-2; TOMAZELLO; FERREIRA, 2001, p. 203-206). O desenvolvimento de uma EA crítica demanda, fundamentalmente, a formação inicial e continuada de educadores, sob perspectiva interdisciplinar. No entanto, conforme Leff (2001b, p. 115), as experiências dos últimos vinte anos apontam obstáculos institucionais que dificultam a formação de educadores críticos para a condução de programas e projetos curriculares de EA. Por vezes institucionalizados, os programas de formação são disciplinaristas e fragmentadores do conhecimento – contrapondo-se ao campo ambiental, que exige leituras global-relacionais do mundo para uma apreensão conjuntiva da realidade, enquanto social e ambiental. Um saber ambiental, superador dos obstáculos referidos, envolve repensar e avaliar os objetivos dos programas curriculares dos educadores de hoje-para-amanhã, nos diversos âmbitos e níveis do conhecimento e, pois, do ensino; há que se ter em vista a responsabilidade pública, política, de fazer Educação Ambiental – para a formação da cidadania ambiental, pessoal e coletiva, no processo de construção da sustentabilidade socioambiental, em toda sua urgência no mundo de hoje. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 19 UNIDADE II - A EDUCAÇÃO AMBIENTAL (EA) E SUA PROPOSTA Após séculos de exploração e uso desordenado dos recursos naturais, eis que, de repente, a preocupação do homem com a natureza adquiriu importância e ocupa lugar destacado no rol de interesses das mais importantes organizações sociais da atualidade. Perceberam que o progresso, entendido apenas como avanço técnico, material e crescimento econômico, está sendo obtido dentro de um padrão de produção, de consumo e de vida insustentável. Neste contexto, a escola brasileira enquanto construtora e reflexo da sociedade, inseriu em seu currículo os chamados "temas transversais" com o intuito de promover "um tratamento didático que contemple sua complexidade e sua dinâmica, dando-lhes a mesma importância das áreas convencionais" (BRASIL, 1998). Tratam de processos que estão sendo intensamente vividos pela sociedade, pelas comunidades, pelas famílias, pelos alunos e educadoresem seu cotidiano. São debatidos em diferentes espaços sociais, em busca de soluções e de alternativas, confrontando posicionamentos diversos tanto em relação à intervenção no âmbito social mais amplo quanto à atuação pessoal. São questões urgentes que interrogam sobre a vida humana, sobre a realidade que está sendo construída e que demandam transformações macrossociais e também de atitudes pessoais, exigindo, portanto, ensino e aprendizagem de conteúdos relativos a essas duas dimensões (BRASIL, 1998, p. 27). Essa proposta tem em seu cerne a difusão de uma nova perspectiva pedagógica inovadora e construtivista no ensino formal, pois trata os temas em todos os componentes curriculares, pois a perspectiva transversal aponta uma transformação da prática pedagógica, pois rompe o confinamento da atuação dos professores às atividades pedagogicamente formalizadas e amplia a responsabilidade com a formação dos alunos. Os Temas Transversais permeiam necessariamente toda a prática educativa que abarca relações entre os alunos, entre professores e alunos e entre diferentes membros da comunidade escolar (BRASIL, 1998, p.29). Os temas transversais dizem respeito a conteúdos de caráter social, que devem ser incluídos no currículo do ensino fundamental, de forma transversal, ou seja: não como uma área de conhecimento específica, mas como conteúdo a ser ministrado no interior das várias áreas estabelecidas. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 20 Os temas transversais são: ética, orientação sexual, pluralidade cultural, saúde e educação ambiental. Como o objetivo deste artigo é por hora voltado para este último, faz-se mister uma breve abordagem de seu conceito e sua finalidade. Para levantar conceitos de EA elaborados por teóricos de renome, é preciso de antemão definir o significado de meio ambiente. Segundo Reigota (1992, p. 94) "tudo que cerca o ser vivo, que o influencia e que é indispensável à sua sustentação constitui o meio ambiente. Estas condições incluem o solo, o clima, os recursos hídricos, o ar, os nutrientes e os outros organismos". A definição acima é disseminada, sobretudo, no ensino formal básico, no qual o meio ambiente é formado em seu bojo pelo meio abiótico e seres irracionais. Todavia, esquece-se do protagonista que em sua recente existência na Terra já modificou o espaço e o homem. É nessa perspectiva que Reigota corrobora afirmando que em 1975, na Conferência Internacional sobre Educação Ambiental em Tibilísi, Geórgia, o meio ambiente foi definido não só como meio físico e biológico, mas também como meio sociocultural e sua relação com os modelos de desenvolvimento adotados pelo homem (1992, p.94). Assim, a EA pode ser conceituada enquanto um "conjunto de ações educativas voltadas para a compreensão da dinâmica dos ecossistemas, considerando os efeitos da relação do homem com o meio, a determinação social, a evolução histórica dessa relação" (DIAS, 1994, p. 23). A EA deve ser tratada de forma holística, isto é, o homem e a vida devem estar intimamente associados. Diante disso, a EA é bifurcada em formal e informal, sendo a primeira tratada numa perspectiva teórica/prática em todos os níveis de educação formal, e a segunda com um viés prático. Contudo, para consumar de fato a Educação Ambiental e seus níveis de abordagem, esta precisa se aliar à cidadania que pode ser conceituada como um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social (DALARI, 1998, p.14). A Educação Ambiental pode ser executada nos âmbitos formal e informal, na qual a primeira está intimamente ligada ao sistema educacional de ensino em seus vários níveis de abrangência, e a última enquanto "as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente." (BRASIL, 1997). Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 21 UNIDADE III EDUCAÇÃO AMBIENTAL VOLTADA A FORMAÇÃO DO CIDADÃO Hoje, entende-se por educação escolar àquela que tem por objetivo final contribuir para a formação dos cidadãos, seja do campo ou da cidade, por isso, nos inquietamos com a qualidade da educação nas escolas do campo, de modo que concordamos com Loureiro (2004, p. 77), quando afirma que: Educar é ação conservadora ou emancipatória (superadora das formas alienadas de existência); pode apenas reproduzir ou transformar-nos como seres pelas relações no mundo, redefinindo o modo como nos organizamos em sociedade, como gerimos seus instrumentos e como damos sentido à nossa vida. A ação educativa não solucionará os problemas que perpetuam a esfera social, por isso não pode ser entendida como salvação, esquecendo as outras instituições sociais que também se preocupam com este ambiente, contudo, a ação educativa pode ser uma prática que contribui para a transformação social, na medida em que somos cidadãos inseridos nas contradições sociais. A educação pode ser um processo libertador das formas de alienação da classe dominante, quando procura emancipar os diferentes sujeitos que participam de uma educação escolar comprometida com seu papel de instituição educacional mais importante da era contemporânea. Uma educação escolar que dá ênfase aos fatos sociais através da leitura superficial desses fatos transmitindo-os como simples informações para enraizar o conhecimento do senso comum que já possuem, não encaminha a libertação dos cidadãos. Ensinar e aprender sobre o ambiente parece fácil, mas exige uma reflexão crítica e posteriormente ação sobre o que ensinar, como ensinar, por que ensinar, enfim, o que se pretende alcançar com esses conhecimentos. O que percebemos na escola é que essas reflexões não são profundas no sentido de buscar conhecer a essência do ato educativo, descrito por Bárcena (2002), como um acontecer dinâmico das lutas cotidianas, sendo que, a vida cotidiana é o lar do sentido. Na maioria das vezes a educação na escola do campo torna-se excludente, no sentido de que não trabalha a política, a economia, a cultura e os interesses dos diversos grupos sociais do local. E quando os aspectos sociais das comunidades do campo são trazidos, para dentro do contexto escolar acabam sendo configurados como relações sociais de perfil ingênuo e, portanto, Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 22 inferior ao perfil da cidade, fazendo com que estes sujeitos continuem subordinados aos interesses de uma sociedade neoliberal. Por isso, é preciso pensar o papel da escola numa sociedade tão desigual que não respeita as diferenças dos grupos sociais e suas peculiaridades, tratando com inferioridade o povo do campo. Partindo desse leque social, remete-se a pensar numa Educação que dê sentido a formação humana. Diante desse fator importante, dizemos que o sentido básico da prática educativa é pensar na formação de sujeitos historicamente enraizados em situações que envolvem relações individuais e coletivas no e do ambiente social e/ou natural. Sendo assim, as opções pedagógicas da escola têm suma importância para o alcance dessa primícias educacional, pois elas são capazes de aproximar ou distanciar esses sujeitos, da realidade vivida por eles. Neste sentido, Carvalho (2004) refere-se à educação, dizendo que ela não deve tomar o indivíduo como unidade básica, isto é, não deve sercentrada no indivíduo, como também, não deve ser direcionada a coletivos abstratos. E ainda ressalta que a formação acontece sobre as relações indivíduo-sociedade, deste modo, só fazem sentido se pensados em relação. Os seres humanos vivem em sociedade e interagem no ambiente natural e social, individual ou coletivamente, por isso a Educação Ambiental Crítica preocupa-se com estas relações e procura através da prática despertar a responsabilidade do sujeito consigo próprio, com os outros, com o ambiente natural e com planeta. De fato ter responsabilidade com o mundo é ser responsável consigo próprio, com os outros e com o ambiente sem dicotomizar essas dimensões. A escola precisa utilizar subsídios teóricos e metodológicos para a prática da Educação Ambiental. Ao usar temas geradores na problematização das situações que envolvem o ambiente, contribui para uma educação libertadora, permitindo aos seus educandos desenvolverem um pensamento crítico, criativo e complexo, uma vez que, são obrigados a formular novos conceitos a respeito do que foi problematizado, assim amplia a sensibilidade e ajuda-os a perceber o discurso ideológico da classe dominante, pois assim conseguirão entender as relações que ocorrem na esfera socioambiental, sendo capazes de fazer suas próprias escolhas, aquelas que julgarem mais adequadas a sua vida. Embora pareçam simples os meios para alcançar essa transformação nos indivíduos, eles não o são. Travassos (2004, p. 49) salienta que: Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 23 Educar é uma tarefa de dedicação e envolve criação de planos de ação considerando conceitos, teorias, reflexões e o uso do bom senso, incluindo também o repensar dos currículos escolares e a ampliação de dinâmicas de avaliação contínua e coerente no processo de ensino-aprendizagem. É então que vemos a importância do professor como facilitador da compreensão das relações que incide na vida dos sujeitos, relações que carecem ser percebidas por diferentes ângulos, com o intuito de ampliar a curiosidade de seus aprendizes, curiosidade que os leva a fazer reflexões sobre a problemática, reflexões que os conduzem ao desenvolvimento da criticidade dos fatos e criticidade que muitas vezes exige mudanças de pensamento, de atitude, de ação individual e coletiva na sociedade, tendo em vista um ambiente de maior qualidade. A prática educativa recebe grande destaque por parte de Paulo Freire, pois procura mostrar a abrangência do que venha ser o papel do professor frente a pessoas com que trabalha. Ele diz que ensinar exige do professor uma série de saberes, dentre os quais, ensinar exige: pesquisa, respeito aos saberes dos educandos, criticidade, estética e ética, corporeificação das palavras pelo exemplo, reflexão crítica sobre a prática, o reconhecimento e a assunção da identidade cultural, entre outras especificidades (FREIRE, 1996). Ser professor na perspectiva de uma Educação Ambiental e de uma Educação do Campo que considere a formação humana, também, como parte dos processos educacionais, não é tarefa fácil, como Freire (1996, p. 79) diz “mudar é difícil mas não impossível”. Sendo assim, o direcionamento que cada professor dá a sua prática de ensino carece ser revisada, por ele mesmo e por outros colegas da área, de modo que perceba o que é necessário mudar para se tornar um educador ambiental ativo. Enquanto professores, sabemos que o conhecimento está em continua construção, sendo preciso sucessivamente nos atualizar para não cairmos na mesmice prejudicando o desenvolvimento das habilidades dos aprendizes, ou para não conduzi-las de maneira errônea. As questões ambientais, hoje, são inseparáveis do processo educativo, entretanto o direcionamento dado a elas pode resultar em uma visão distorcida sobre sua influência na vida de todas as pessoas. A visão de mundo que cada cidadão possui foi e é construída a partir do contato que tiveram e tem com estas questões que estão inseridas na sociedade, seja através da escola, da mídia, da religião e/ou da família. Por essa razão, acreditamos ser indispensável o papel do professor como um agente esclarecedor dessas questões que muitas vezes são aceitas pelos Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 24 cidadãos, como processos normais da vida social, ou acham a vida injusta, mas num senso comum não conseguem entender o porquê de tanta diferença entre as classes sociais ou o que fazer, enquanto cidadãos inseridos neste contexto, para superar esses entraves. Partindo dessa realidade social, numa proposta de Educação Ambiental Transformadora, a escola deve: [...] estabelecer processos educativos que favoreçam a realização do movimento de constante construção do nosso ser na dinâmica da vida como um todo e de modo emancipado. [...] Assim posto, privilegiar somente um dos aspectos que formam a nossa espécie (seja o ético, o estético, o sensível, o prático, o comportamental, o político ou o econômico, enfim, separar o social do ecológico e o todo das partes) é reducionismo, o que pouco contribui para uma visão da educação integradora e complexa do mundo (LOUREIRO, p. 73, 2004). Os cidadãos do campo também necessitam conhecer mais a fundo seu ambiente para fortalecer a sua identidade cultural de camponês como também para compreender as relações que ocorrem na esfera socioambiental local ou não, percebendo não só os resultados dessas relações, mas conhecer como elas surgiram, ou seja, seus efeitos e suas causas. A escola tem papel importante na formação de sujeitos emancipados, por isso não pode deixar de abordar nenhum aspecto que contribui para a formação da identidade cultural de todos os cidadãos. O papel do professor é extremamente importante para consolidação desse processo em que o estudante passa a reconhecer o ambiente social e natural como parte de sua vida à medida que percebe que é ao mesmo tempo um ser natural, social e histórico. Neste direcionamento, Gadotti (2002, p. 24) comenta que “as exigências da sociedade planetária devem ser trabalhadas pedagogicamente a partir da vida cotidiana, a partir das necessidades e interesses das pessoas”. O campo da educação depara-se com diversos perfis de professores, entre estes, destacamos o perfil do professor educador, um professor que trabalha de maneira contextualizada, que não deixa suas aulas se tornarem sem importância para aqueles que num ambiente de aprendizagem buscam em parte a completude de suas vidas, que incentiva o estudante a fazer uma viagem profunda sobre o assunto que está sendo discutido, além da problematização realizada para obter uma aprendizagem significativa, põe em prática aquilo que segundo a sua compreensão é fundamental para se viver no ambiente. Neste sentido, o bom professor é aquele que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento de seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma “cantiga de niná”. Seus alunos cansam mais não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 25 de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas (FREIRE, 1996, p. 86). Esse professor, embora consiga atrair a atenção dos aprendizes para o que ensina, não se acomoda, porquanto está sempre em busca de novos conhecimentos. Conhecimentos que nem sempre são acrescentados como sendo positivo, mas que legitimam aquilo que já acreditava ser importante em sua prática educacional. Olhar o mundo por diferentes posicionamentos é procurar entender como ocorrem os processos de mudanças,seja positiva e negativamente na esfera socioambiental. A realidade social e natural do campo é diferente da realidade da cidade, logo, o professor da escola do campo necessita fazer uma “reciclagem” em sua mente antes de trabalhar com as dimensões sociedade e natureza, para não se tornar apenas um reprodutor dos fatos sociais, mas para que consiga envolver tanto o conhecimento científico como o conhecimento não-científico referente a estas dimensões em sua prática de ensino sem dicotomizá-las e assim, atentar para mudanças de pensamento nos estudantes. Conforme Loureiro (2004, p. 78): Mudança de pensamento pressupõe mudança de percepção, de ligação sensível articulada aos processos racionais; pressupõe vinculação entre teoria e prática, ação e reflexão, entre indivíduo e sociedade, aspectos objetivos e subjetivos que definem nossa unidade social na natureza. A Educação Ambiental procura compreender as relações sociedade/natureza, na expectativa de intervir sobre os problemas e conflitos ambientais, onde destaca uma nova ética ambiental voltada à reconstrução dos valores ético-políticos, ressignificando o cuidado com a natureza e para com os outros. Mesmo porque, as relações sociais que perpetuam o mundo presente, sejam do indivíduo consigo próprio, com o outro ou ainda com o ambiente, são consideravelmente injustas, ecologicamente insustentáveis, economicamente deterministas, politicamente não-democráticas, eticamente utilitárias e que podem ser transformadas em direção contrárias (LIMA, 2004). Para que de fato, a Educação Ambiental na escola contribua para formação do cidadão do campo, é fundamental saber como ela é apresentada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 26 UNIDADE IV - EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CURRÍCULO No Brasil, desde o século XVII, há registro de Leis estabelecidas sobre a proteção do meio ambiente. Conforme o passar dos anos, essas Leis foram evoluindo e estendendo-se no conceito de meio ambiente que de início ficava limitado à proteção da fauna e flora brasileira. Na época presente, o conceito de meio ambiente não está restrito à natureza e ao ser humano, podendo ser dividido em duas partes: meio ambiente natural e construído (ROCCO, 2002). Embora seja possível decidi-lo, não podemos esquecer que, hoje, estas partes estão em contínua relação, visto que, o ser humano é um ser social e natural. Partindo desse princípio, a Lei n. 6.938/81, especificamente, no Artigo 3º, destaca que meio ambiente é “o conjunto de condições, leis, influências e integrações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (VEMAQA, 2000, p. 20). No mundo, notadamente, a partir da década de 70 (setenta) foram realizados encontros em alguns países, inclusive no Brasil, para tratar as questões ambientais dando um enfoque global. Em 1972, ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente: Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente, onde surgiram os princípios básicos para inserir e guiar os povos do mundo na preservação e na melhoria do meio ambiente. O princípio 19 refere-se a educação em assuntos ambientais, para as gerações jovens, para os adultos e dá ênfase especial aos menos favorecidos, ressaltando que proteção e melhoria do meio ambiente em sua plena dimensão humana é de responsabilidade dos indivíduos, empresas e comunidades (VEMAQA, 2000). A cada encontro ficava ainda mais explícita à necessidade de pôr em prática as decisões adotadas sobre as questões ambientais. A realidade do planeta levou vários países a criar leis que dessem um enfoque maior aos problemas ambientais visando minimizar as agressões ambientais existentes tanto na esfera natural quanto na social. Perante essa realidade, o artigo 225 da Constituição brasileira, ressalta que: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: [...] VI. promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; [...] (ROCCO, 2002, p. 36-37). Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 27 A Constituição com a pretensão de garantir a concretização desse direito ressalta, entre outros fatores, a importância da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino, mas é preciso saber o que se entende por Educação Ambiental, que tratamento é necessário dar a ela no currículo escolar e como deve ser trabalhada no âmbito da sala de aula. Além disso, para pôr em prática a Educação Ambiental na escola exige dos professores um conhecimento sobre as questões ambientais a nível local, regional, nacional e mundial, não estamos dizendo que eles devem conhecer a fundo estas questões, porém sabemos que todas elas, seja de uma maneira mais simples ou mais complexa se interligam, por isso é importante que os professores conheçam essas questões. Em consonância com a Constituição, a Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999, que dispõe sobre a Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental, traz nos artigos 1º e 2º as seguintes afirmações: Art. 1º. Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Art. 2º. A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis do ensino e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal (ROCCO, 2002, p. 225). Diante dessas afirmações, podemos compreender que a Educação Ambiental é abrangente, pois percorre diversas instituições governamentais e não-governamentais que propagam a defesa do meio ambiente, sendo este fundamental a todas as formas de vida. Entre essas instituições temos a escola, avaliada como a instituição educacional mais importante da atualidade, portanto, entendemos que a escola deve fazer valer seu papel dentro da sociedade, buscando através do manuseio de diversos componentes educacionais, formar o estudante para a vida em sociedade. A partir do conhecimento dos princípios básicos (artigo 4º.) e dos sete objetivos fundamentais (artigo 5º) da Educação Ambiental descritos na Lei mencionada anteriormente, entendemos o porquê de a Educação Ambiental ser um componente essencial e permanente da educação nacional, pois ela na escola pretende contribuir para a qualidade do meio ambiente, ou seja, qualidade de vida, despertando o estudante para as diferentes situações que envolvem a sua vida. Para isto é indispensável que a escola desenvolva a Educação Ambiental desde a Educação Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 28 Infantil, visto que, o artigo 10 da Lei 9.795/99 expõe que ela “será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidade do ensino formal” (ROCCO, 2002, p. 228). Sabemos que a Educação Ambiental na escola é fundamental para a formação do cidadão, por trazer à luz as múltiplas e complexas relações envolvendo inúmeros aspectos essenciais à vida em sociedade, entretanto, necessitamos conhecercomo ela é apresentada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, para assim, conduzirmos o conhecimento de modo que contribua significativamente na formação do cidadão do campo, ou seja, no desenvolvimento de capacidades que possibilitem aos estudantes intervir na realidade para transformá-la e não para aceitá-la de qualquer forma. O meio ambiente foi contemplado no currículo como um Tema Transversal e interdisciplinar e para estudo do meio é necessário o emprego da Educação Ambiental, uma vez que ela abrange todas as áreas do conhecimento não podendo torna-se uma matéria nem ficar restrita as disciplinas como Geografia, História ou Ciências Naturais, embora tenha um vínculo maior com estas disciplinas, por tratar as diferentes relações que ocorrem na esfera socioambiental, mas também é possível trabalhá-la em outras áreas do conhecimento. Os Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais e ética referem-se ao meio ambiente como Tema Transversal, por conter os seguintes critérios: Urgência social, por tratar as questões graves que se apresentam como obstáculos para a cidadania; Abrangência nacional, ou seja, pertinente a todo o país; possibilidades de ensino e aprendizagem no ensino fundamental, sendo possível o alcance da aprendizagem nessa etapa da escolaridade; favorecer a compreensão da realidade e a participação social, que os alunos possam desenvolver a capacidade de posicionar-se diante das questões que interferem na vida coletiva, superar a indiferença, intervir de forma responsável (BRASIL, 2001). Deste modo, os temas transversais trabalhados de forma contínua e integradora, possibilitam ao estudante desenvolver as capacidades vitais para se situar no mundo como ser natural, histórico e social. Os Temas Transversais devem ser trabalhados na escola através da transversalidade e da interdisciplinaridade para poderem ser abarcados pelos discentes de maneira que possam usar a aprendizagem desses temas em suas vidas. Ao abordar a transversalidade e a Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 29 interdisciplinaridade, os Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais e ética (2001, p. 40) afirmam que: Ambas – transversalidade e interdisciplinaridade – se fundamentam na crítica de uma concepção de conhecimento que toma a realidade como um conjunto de dados estáveis, sujeitos a um ato de conhecer isento e distanciado. Ambas apontam a complexidade do real e a necessidade de se considerar a teia de relações entre os seus diferentes e contraditórios aspectos. Mas diferem uma da outra, uma vez que a interdisciplinaridade refere-se a uma abordagem epistemológica dos objetos de conhecimento, enquanto a transversalidade diz respeito principalmente à dimensão da didática. Neste sentido, a interdisciplinaridade faz questionamento ao fato de um objeto de estudo ser trabalhado em apenas uma área do conhecimento, mesmo que o objeto estudado faça parte da realidade circundante da escola não é possível conhecê-lo se for restrito a uma única disciplina, assim a interdisciplinaridade refere-se, portanto, a uma relação entre disciplinas. E a transversalidade busca através da prática educativa constituir uma relação entre a realidade e os conhecimentos teoricamente sistematizados, isso significa que as questões que envolvem a nossa vida devem ser trazidas para a sala de aula, de modo que possamos aprender sobre a realidade e para a realidade (BRASIL, 2001). Assim, a transversalidade permite ao estudante enxergar um objeto de estudo por diferentes ângulos, como também, dá liberdade à escola para trazer saberes extraescolares presentes na realidade dos estudantes, dando um sentido social aos conhecimentos aprendidos na escola. Na Educação Ambiental, a aprendizagem da realidade socioambiental dar-se-á de maneira interdisciplinar e transversal em cada série do Ensino Fundamental, momentos em que os estudantes estão construindo seus valores, atitudes e reconhecendo normas. Essa construção é dependente das relações interpessoais que estabelecem em diferentes contextos, um deles o escolar, por isso, [...] não só entre o professor e alunos, mas também entre os próprios alunos, o grande desafio é colocar-se no lugar do outro, compreender seu ponto de vista e suas motivações aos interpretar suas ações. Isso envolve a atitude de solidariedade e a capacidade de conviver com as diferenças (BRASIL, 2001, p. 45). Mesmo nos primeiros anos do Ensino Fundamental podemos oferecer informações, vivências e reflexões sobre as causas e as nuanças dos valores que orientam para vida em Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 30 sociedade e que podem ser transformados. O que pretendemos através da Educação Ambiental Popular na escola não é adestrar os estudantes lhes ensinando valores e normas de boa convivência sem permitir-lhes desenvolver um pensamento crítico diante das questões ambientais que de alguma maneira afeta a sua vida, mas através da “[...] relação entre autonomia e autoridade: permitir que valores e normas sejam discutidos, avaliados e reformulados” (BRASIL, 2001, p. 47), mesmo porque “estabelecer relações de autonomia, necessárias à postura crítica, participativa e livre pressupõe um longo processo de aprendizagem até que os alunos sejam capazes de atuar segundo seus próprios juízos” (BRASIL, 2001, p. 47). As relações sociais que ocorre no ambiente da sala de aula, seja professor/estudante(s) e/ou estudante/estudante(s), são oportunidades cruciais para o professor que vê o estudante como um ser historicamente situado, enfatizar os assuntos ambientais de modo a provocar situações que o leve a pensar seu papel no mundo, enquanto ser social, histórico e natural. De acordo com Travassos (2004), os estudantes carecem ser habilitados para conhecerem seu ambiente e agirem em defesa dele, visto que este os afeta ou é afetado por eles, cabendo ao professor, o papel de promover a educação para o meio ambiente. O professor, enquanto facilitador do conhecimento precisa criar situações-problemas que envolvam as questões socioambientais presentes na comunidade onde a escola está inserida, como também as questões planetárias, e que ao longo da história da humanidade gerou e continua gerando problemas drásticos na esfera social de muitas sociedades do mundo. Neste sentido, é preciso ter consciência que apenas ensinar os conteúdos das disciplinas não ajudará os sujeitos a construírem uma identidade cultural com valores ético-políticos ambientais, é necessário repensar a prática educacional voltada para formação de pessoas comprometidas com as relações presentes em seu cotidiano. Os Parâmetros Curriculares Nacionais: meio ambiente: saúde, nos informam que a principal função do trabalho com o tema Meio Ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global. Para isso é necessário que, mais do que informações de valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades e procedimentos. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 31 E esse é um grande desafio para a educação. Comportamentos “ambientalmente corretos” serão aprendidos na prática do dia-a-dia na escola: gestos de solidariedade, hábitos de higiene pessoal e dos diversos ambientes, participação em pequenas negociações podem ser exemplos disso (BRASIL, 2001, p. 29). Portanto, cabe ao professor a responsabilidade de não reproduzir as informações,mas levantar questionamentos sobre as questões ambientais, com a pretensão de abrir os olhos dos estudantes para se perceberem como cidadãos que carecem de novos conhecimentos ou reformular suas ideias para fazerem escolhas, as quais possam avaliar como sendo adequadas as suas necessidades individuais e coletivas, ou seja, à sua vida. Sendo assim, incumbe ao professor à opção de escolher qual Educação Ambiental utilizar para ajudar os estudantes a se tornarem conscientes, críticos, reflexivos e atuantes na sociedade, visando contribuir para uma educação libertadora dos processos de dominação. Mais um pouco!!! QUESTÃO AMBIENTAL E EDUCAÇÃO: CONTRIBUIÇÕES PARA O DEBATE Gustavo da Costa Lima O Problema Este trabalho se inscreve no contexto da questão socioambiental que, nas décadas recentes, vem despertando preocupações e crescente interesse social. Os últimos anos têm testemunhado o caráter problemático que reveste a relação entre a sociedade e o meio ambiente. A questão ambiental, neste sentido, define, justamente, o conjunto de contradições resultantes das interações internas ao sistema social e deste com o meio envolvente. São situações marcadas pelo conflito, esgotamento e destrutividade que se expressam nos limites materiais ao crescimento econômico exponencial; na expansão urbana e demográfica; na tendência ao esgotamento de recursos naturais e energéticos não-renováveis; no crescimento acentuado das desigualdades socioeconômicas intra e internacionais, que alimentam e tornam Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 32 crônicos os processos de exclusão social; no avanço do desemprego estrutural; na perda da biodiversidade e na contaminação crescente dos ecossistemas terrestres, entre outros. São todas realidades que comprometem a qualidade da vida humana em particular e ameaçam a continuidade da vida global do planeta. De fato, a questão ambiental revela o retrato de uma crise pluridimensional que aponta para a exaustão de um determinado modelo de sociedade que produz, desproporcionalmente, mais problemas que soluções e em que as soluções propostas, por sua parcialidade, limitação, interesse ou má fé, acabam por se constituir em novas fontes de problemas. A questão ambiental, por outro lado, agrega à realidade contemporânea um caráter inovador: por sua capacidade de relacionar realidades até então, aparentemente desligadas; de mostrar a universalidade - embora com variações regionais - dos problemas socioambientais contemporâneos e por alertar para a necessidade de se promover mudanças efetivas que garantam a continuidade e a qualidade da vida no longo prazo. Isto significa que, às ameaças sócio-políticas e econômicas de sempre, se acrescem os imperativos ambientais de como se administrar e garantir recursos vitais e finitos como o solo, a água e a energia- para citar os mais óbvios- em um sistema social caracterizado pela desigualdade e insustentabilidade. Além disso, o fato de problematizar a destrutividade potencial da sociedade industrial e a finitude dos recursos naturais traz à tona a fragilidade e a provisoriedade do complexo vital, e nos remete a uma reflexão mais profunda e abrangente sobre o valor de nosso modelo civilizatório, despertando novos sentidos e oportunidades de vida e mudança. A própria natureza da crise ambiental, que coincide com outras mutações históricas significativas no campo econômico, tecnológico, cultural e político, tem propiciado curiosas oportunidades de reflexão e ação, orientadas para novas sínteses que articulam economia e ecologia, ética e política, ciência e religião, cultura e natureza, ciências naturais e sociais, entre outras dicotomias. O momento, portanto, sugere um movimento de transição, um clima de incertezas, um desgaste de velhas fórmulas sociais, uma apreensão angustiada com o futuro e uma possibilidade de novas sínteses. Por essas razões, a questão ambiental tem, gradualmente, conquistado Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 33 reconhecimento social e suscitado debates que buscam compreendê-la e encontrar respostas compatíveis com a magnitude do problema. Mais especificamente, o presente estudo tem por objeto um recorte dessa questão socioambiental mais abrangente, concentrando-se em uma análise da relação entre a educação e o meio ambiente. Neste sentido, se propõe a debater a relação entre educação e questão ambiental através de uma análise das concepções políticas e éticas subjacentes às principais propostas educacionais dirigidas ao meio ambiente. A opção de articular a educação e o meio ambiente se deve a uma série de motivos associados. Figura, em primeiro lugar, a importância da educação enquanto instrumento privilegiado de humanização, socialização e direcionamento social. Está claro que, como toda prática social, ela guarda em si as possibilidades extremas de promover a liberdade ou a opressão, de transformar ou conservar a ordem socialmente estabelecida. Nesse sentido, embora não seja o único agente possível de mudança social, é um dentre outros processos onde essa potencialidade se apresenta (ARANHA, 1989; BRANDÃO, 1995b). Não entendemos a educação como uma panaceia capaz de solucionar todos os problemas sociais, mas também consideramos não ser possível pensar e exercitar a mudança social sem integrar a dimensão educacional. Vernier (1994), analisando a crise ambiental e seus impasses, sugere um conjunto de caminhos que, articulados, podem gerar respostas aos problemas ambientais. Esses caminhos apontam para: o estabelecimento de normas e princípios legais; os estímulos econômico e fiscais; a mobilização dos cidadãos, da opinião pública e associações civis; a educação para o ambiente; a contribuição da pesquisa científica; a iniciativa dos organismos internacionais e a coordenação das políticas públicas favoráveis à qualidade e a defesa da vida (VERNIER, 1994). A questão educacional comporta uma dualidade e pode ser conduzida de uma forma libertadora ou opressora, a depender da luta entre concepções, valores e práticas sociais dos grupos que dividem e disputam o mesmo campo. Assim tanto a educação quanto a questão ambiental, apesar das múltiplas dimensões que envolvem são, em nosso entendimento, questões essencialmente políticas, que comportam visões de mundo e interesses diversificados. Observamos, entretanto, que as propostas educacionais para o meio ambiente têm em geral enfatizado os aspectos técnicos e biológicos da educação e da questão ambiental, em Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 34 detrimento de suas dimensões políticas e éticas. Consideramos essa uma compreensão redutora e equivocada do problema que merece ser debatida e explicitada, já que se reflete na formação e na ação dos indivíduos e grupos envolvidos com o tema e, por extensão, com toda a realidade socioambiental. Buscaremos, assim, debater a relação entre meio ambiente e educação tendo como fio condutor uma análise crítica das propostas educacionais voltadas ao ambiente. Para tanto, desenvolveremos o problema através de alguns passos que se apresentam: seus antecedentes históricos, uma análise das principais tendências da educação para o meio ambiente, a crítica dessas principais propostas e um exercício de construção de uma nova proposta capaz de superar ou minimizar os reducionismos aqui observados. O contexto Histórico Conforme já indicamos, a questão ambiental emerge como problema significativo a nível mundial em torno dos anos 70, expressando um conjunto de
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