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Teorias da História

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Prévia do material em texto

TEORIAS DA 
HISTÓRIA
Professora Me. Giselle Rodrigues
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Diretoria Executiva
Chrystiano Minco�
James Prestes
Tiago Stachon 
Diretoria de Graduação e Pós-graduação 
Kátia Coelho
Diretoria de Permanência 
Leonardo Spaine
Diretoria de Design Educacional
Débora Leite
Head de Produção de Conteúdos
Celso Luiz Braga de Souza Filho
Head de Curadoria e Inovação
Tania Cristiane Yoshie Fukushima
Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Gerência de Processos Acadêmicos
Taessa Penha Shiraishi Vieira
Gerência de Curadoria
Carolina Abdalla Normann de Freitas
Supervisão de Produção de Conteúdo
Nádila Toledo
Coordenador de Conteúdo
Priscilla Campiolo Manesco Paixão
Design Educacional
Camila Zaguini Silva, Fernando Henrique Mendes, 
Nádila de Almeida Toledo, Rossana Costa Giani
Iconografia
Amanda Peçanha dos Santos
Ana Carolina Martins Prado
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Editoração
Fernando Henrique Mendes
Qualidade Textual
Hellyery Agda
Jaquelina Kutsunugi, Keren Pardini, Maria Fernanda 
Canova Vasconcelos, Nayara Valenciano, Rhaysa Ricci 
Correa e Susana Inácio
Ilustração
Robson Yuiti Saito 
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; RODRIGUES, Giselle. 
 
 Teorias da História. Giselle Rodrigues. 
 Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. 
 146 p.
“Graduação - EaD”.
 
 1. História. 2. Função do Historiador. 3. Escolas Históricas. 4. EaD. 
I. Título.
ISBN 978-85-8084-843-4
 CDD - 22 ed. 907
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos 
com princípios éticos e profissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade, 
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos 
em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e 
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos 
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: 
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, 
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos 
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e 
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros 
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por 
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma 
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos 
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos 
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades 
de todos. Para continuar relevante, a instituição 
de educação precisa ter pelo menos três virtudes: 
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de 
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam 
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é 
promover a educação de qualidade nas diferentes 
áreas do conhecimento, formando profissionais 
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento 
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quando 
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou 
profissional, nos transformamos e, consequentemente, 
transformamos também a sociedade na qual estamos 
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de 
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com 
os desafios que surgem no mundo contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica 
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando 
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em 
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado 
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal 
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o 
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento 
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas 
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos 
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. 
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu 
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns 
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe 
de professores e tutores que se encontra disponível para 
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de 
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
Professora Me. Giselle Rodrigues
Sou graduada em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM 
– PR) e mestre pela mesma instituição, mediante o Programa de Pós-
graduação em História. Trabalhei na Educação Básica de ensino, como 
professora de História, nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino 
Médio por dois anos e, desde então, venho atuando no Ensino Superior nas 
modalidades presencial e a distância. 
A
U
TO
R
A
CARO(A) ACADÊMICO(A)!
É com muita satisfação que apresento a você o livro que fará parte da disciplina de Te-
orias da História. Sou a professora Giselle Rodrigues e o preparei com muita dedicação 
para que você conheça as principais concepções aplicadas à pesquisa e à construção 
histórica.
Meu objetivo ao escrever esse livro foi o de discutir o que o historiador Marc Bloch deno-
minou de o “ofício do historiador”, na produção do conhecimento histórico, chamando 
a atenção para os métodos, as técnicas e as práticas de pesquisa demonstradas pelas 
usuais abordagens historiográficas nos últimos cento e cinquenta anos.
Para tanto, nas duas primeiras unidades do livro, discutiremos conceitos historiográficos 
que permeiam o trabalho do historiador e a construção do conhecimento histórico, a 
saber: o conceito de História; os fatos históricos e as fontes históricas; a noção de tempo 
e de memória. Nas demais unidades, apresentaremos, em seus pressupostos teórico-
metodológicos, as mais conhecidas escolas históricas reveladas nos séculos XIX e XX.
Esse percurso que faremos possibilitará a você, acadêmico(a), compreender que a es-
crita da História, bem como o pensar crítico e reflexivo do historiador, envolve neces-
sariamente teorias. Desse modo, é fundamental estudar as diversas teorias que foram 
elaboradas para analisar as múltiplas manifestações humanas ao longo do tempo.
Bom estudo!
Professora Giselle
APRESENTAÇÃO
TEORIAS DA HISTÓRIA
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
O CONCEITO DE HISTÓRIA E A FUNÇÃO DO HISTORIADOR
15 Introdução
16 O Conceito de História e o Trabalho de Historiador 
26 Os Fatos Históricos 
31 As Fontes Históricas 
33 Considerações Finais 
UNIDADE II
O TEMPO E A MEMÓRIA NA PRODUÇÃO HISTÓRICA
39 Introdução
40 A Importância e a Definição de Tempo Histórico 
42 A Representação Simbólica e Coercitiva do Tempo: o Relógio e o 
Calendário
45 A Noção de Tempo nos Diferentes Paradigmas 
53 Definição de Memória 
55 Relação entre História e Memória 
56 Considerações Finais 
SUMÁRIO
UNIDADE III
AS ESCOLAS HISTÓRICAS: O POSITIVISMO
61 Introdução
62 O Surgimento da Escola Positivista 
66 As Características Gerais daEscola Positivista 
70 Langlois e Seignobos e o Método de Pesquisa em História 
72 A Crítica dos Documentos e o Rigor Metodológico 
75 O Modo como se Processa o Conhecimento Histórico: As Operações 
Sintéticas
77 Considerações Finais 
UNIDADE IV
AS ESCOLAS HISTÓRICAS – O MARXISMO
83 Introdução
84 Os Princípios da Escola Marxista e suas Características Gerais 
93 Quem foi Karl Marx? 
98 O Materialismo Histórico e a Produção Historiográfica 
110 Considerações Finais 
SUMÁRIO
11
UNIDADE V
AS ESCOLAS HISTÓRICAS – A ESCOLA DOS ANNALES
115 Introdução
116 Os Princípios da Escola dos Annales e suas Características Gerais 
121 A Primeira Geração: A Elaboração de uma História Problema 
127 A Segunda Geração: O Tempo Múltiplo 
129 A Terceira Geração: A Fragmentação do Conhecimento 
131 Os Campos da Historiografia Atual e seus Pressupostos Teóricos e 
Metodológicos
138 Considerações Finais 
141 CONCLUSÃO
143 REFERÊNCIAS
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Professora Me. Giselle Rodrigues
O CONCEITO DE HISTÓRIA 
E A FUNÇÃO DO 
HISTORIADOR
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Abordar o conceito de História, discutindo seus diversos sentidos.
 ■ Analisar o trabalho do historiador na produção do conhecimento 
histórico.
 ■ Discorrer sobre os fatos históricos e as fontes históricas em diferentes 
abordagens historiográficas, a fim de mostrar como elas atuam no 
conceito de História e no ofício de historiador.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ O conceito de História e trabalho do historiador
 ■ Os fatos históricos
 ■ As fontes históricas
INTRODUÇÃO
A História, enquanto ciência, como dizia Croce (1962), “é contemporânea”, pois 
o interesse para estudar os acontecimentos humanos em um determinado perí-
odo, bem como os métodos que o historiador aplica para explicar esse passado, 
partem da sua realidade social, política, econômica e cultural. 
Desse modo, as motivações que levam o historiador a estudar os comporta-
mentos e pensamentos demonstrados pelos homens do passado, ou mesmo do 
seu presente, associam-se a seu contexto. 
Todavia, essa concepção de pesquisa nem sempre foi assim. Desde o momento 
em que se fundamentou como disciplina e ciência – a partir da segunda metade 
do século XIX – até as primeiras décadas do século XX, a História era entendida 
como uma ciência objetiva, da mesma forma que as exatas, e, por isso, devia se des-
vencilhar das impressões de um presente recente e das interpretações subjetivas.
Nessa direção, o entendimento que o historiador tinha acerca da sua reali-
dade poderia, de forma alguma, interferir no exame do passado. A História era 
entendida, portanto, como uma ciência neutra e não interpretativa. Cabia ao 
historiador apenas narrar o que aconteceu, sem exprimir seus valores. Ao con-
trário, poderia comprometer a verdade dos fatos, assim como a objetividade 
conquistada pela disciplina.
A partir do momento em que a História passou a ser reconhecida como uma 
ciência subjetiva, no decorrer do século XX, muita coisa mudou na construção 
histórica. Assim, os conceitos e métodos considerados inadequados cederam 
lugar a novas ferramentas e objetos, porém, sem perder de vista as conquistas 
do período anterior que imprimiram à História um caráter científico.
Nesta unidade, discutiremos as mudanças pelas quais passou a História, a par-
tir do momento em que angariou o status de ciência no século XIX. Nesse sentido, 
traremos ao nosso estudo, algumas das concepções apresentadas por três grandes 
correntes historiográficas: Escola Positivista, Escola Marxista e Escola dos Annales.
A discussão perpassa por essas correntes porque o objetivo principal desta 
unidade é apresentar o conceito de História e o trabalho do historiador. Assim, 
notar-se-á que cada abordagem apresenta uma visão peculiar sobre esses assun-
tos, conforme o contexto em que foram produzidos.
15
Introdução
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O CONCEITO DE HISTÓRIA E A FUNÇÃO DO HISTORIADOR
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
I
Caro(a) acadêmico(a), ao estudar esse conteúdo, você notará que o conceito 
de História se relaciona a outros conceitos – como homem, investigação, conhe-
cimento, explicação, passado e presente – e que o historiador desempenha seu 
trabalho com base em diversas ferramentas, como os fatos e os documentos. 
O CONCEITO DE HISTÓRIA E O TRABALHO DE 
HISTORIADOR
A palavra “História”, conforme Marc Bloch (2001, p.51), é bastante antiga, pois 
surgiu há mais de dois milênios. Por ser milenar, ao longo dos séculos, vários 
estudiosos tentaram definir seu significado, na medida em que buscaram res-
ponder a pergunta “O que é História?”.
Na Antiguidade, o considerado Pai da História, Heródoto (484-425 a.C), ao 
expor o objetivo principal de sua célebre obra, intitulada História, confirma o 
sentido de “investigação” da palavra História: 
Esta é a exposição das investigações de Heródoto de Halicarnasso, para 
que os feitos dos homens não se desvaneçam com o tempo, nem fiquem 
sem renome as grandes e maravilhosas empresas, realizadas quer pelos 
Helenos, quer pelos Bárbaros; e, sobretudo, a razão porque entraram 
em guerra uns com os outros (HERÓDOTO, 1994, p.53 apud PRIORI, 
2010, p.12).
Como podemos notar, a intenção de Heródoto ao investigar a história dos 
homens, como dos Helenos (em referência aos gregos) e Bárbaros, era evitar que 
as ações humanas desvanecessem com o tempo ou fossem ignoradas ou apaga-
das da memória.
Saltando para a modernidade, a partir do final do século XIX, quando a pro-
dução histórica já havia conquistado o status de ciência, notamos a aparição de 
vários conceitos sobre História.
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O Conceito de História e o Trabalho de Historiador
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O historiador francês Henri-Irénée Marrou (1904-1977) afirmava que “história 
é o conhecimento do passado humano” (1978, p.28). Benedetto Croce (1866-
1952) dizia que a História é a “história contemporânea” (apud CARR, 2006, p.56).
Historiador grego, considerado o “pai da História”: Heródoto
Heródoto nasceu em Halicarnasso 
(485 a.C. – 425 a.C), na atual Turquia, 
e foi um importante historiador da 
antiguidade. Sendo criado por seu 
tio Pamiatis, pôde desfrutar de uma 
boa educação, regada por muitas 
viagens ao interior do mundo anti-
go. Graças a essas viagens, pôde reu-
nir informações sobre os costumes, 
os mitos e as histórias dos diversos 
povos que conheceu, como os ba-
bilônicos, os persas, os macedônicos 
e os egípcios. Teve contato também 
com alguns intelectuais, em especial Sófocles, com o qual desenvolveu uma 
grande amizade. O resultado dessa boa educação certamente favoreceu 
Heródoto a elaborar sua célebre obra “Histórias”, publicada em nove livros, 
entre 430 e 424 a.C. Tal obra trata das guerras entre os gregos e os persas: 
as Guerras Médicas. Em função dessa obra, o romano Cícero o chamou de 
o “Pai da História”. Além de “Histórias”, Heródoto produziu outras obras que 
tratam dos comportamentos humanos e fatos do mundo antigo. É tido tam-
bém como um grande geógrafo. 
Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/biografias/herodoto.jhtm>. 
Acesso em: 14 fev. 2014; <http://www.infoescola.com/biografias/herodo-
to/>. Acesso em: 15 mar. 2014.
http://educacao.uol.com.br/biografias/herodoto.jhtm
http://www.infoescola.com/biografias/herodoto/
http://www.infoescola.com/biografias/herodoto/
O CONCEITO DE HISTÓRIA E A FUNÇÃO DO HISTORIADOR
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
I
 Já o historiador britânico Edward Hallet Carr (1892-1982) dizia que a História 
“se constitui de um processo contínuo de interação entre o historiador e seus 
fatos, um diálogo interminávelentre o presente e passado” (2006, p.65). Por sua 
vez, Marc Bloch (1886-1944), historiador francês, destacava que a História é 
“senão uma ciência dos homens no tempo e que incessantemente tem a neces-
sidade de unir o estudo dos mortos ao dos vivos” (2001, p.67).
Das definições apresentadas, é possível considerarmos que a História se 
relaciona aos seguintes termos: investigação, conhecimento, homem, presente 
e passado. 
Confira alguns significados da palavra Bárbaro: 
No sentido do dicionário, bárbaro pode remeter a diversos sentidos, tais 
como: glamoroso, formidável, estupendo, ignorância, rudeza, crueldade e 
ferocidade. Ao longo das épocas históricas, contudo, a origem dessa palavra 
expressou outros significados. Na antiguidade, por exemplo, os gregos de-
nominavam de bárbaros os povos do norte que apresentavam uma língua 
diferenciada, cujo som que produziam parecia com um “bar-bar”. Por revelar 
essa diferença linguística, o termo bárbaro era empregado para se referir 
aos povos considerados não gregos e não romanos. A partir das invasões 
germânicas, nos primeiros séculos da era cristã, a palavra adquiriu o signi-
ficado de ferocidade, crueldade e desumanidade, tanto que a derivação do 
latim barbarus é brabus, que significa enraivecido e colérico. Por outro lado, 
bárbaro também passou a expressar o sentido de valoroso, corajoso e deste-
mido, em referência ao espírito guerreiro dos guerreiros bárbaros.
Disponível em: http://emdiacomalp.wordpress.com/2008/07/08/origem-da-
-palavra-%E2%80%9Cbarbaro%E2%80%9D/. Acesso em: 2 abr. 2014.
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O Conceito de História e o Trabalho de Historiador
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Para melhor esclarecer essas definições, discutiremos os pontos a seguir:
 ■ História enquanto conhecimento cientificamente elaborado.
 ■ História enquanto pesquisa documental.
 ■ História enquanto investigação seletiva.
 ■ História enquanto explicação.
 ■ História enquanto relação entre presente e passado.
Conforme Kalina Vanderlei Silva e Maciel Henrique Silva, na obra Dicionário 
de conceitos históricos (2010, p.182), “os significados da História estão em 
constante mutação e é preciso que o professor leve a reflexão em torno des-
sa constante mudança para a sala de aula, fornecendo instrumentos para 
que seus estudantes possam compreender a complexidade da História e a 
dificuldade de se responder à pergunta ‘O que é História’? Essa pergunta 
não é nova, e cada corrente de pensamento procura dar sua própria respos-
ta. Por isso, não é possível oferecer uma definição fechada para esse concei-
to. O mais importante é estabelecer as linhas gerais do debate em torno da 
natureza da História”.
©shutterstock
O CONCEITO DE HISTÓRIA E A FUNÇÃO DO HISTORIADOR
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
I
HISTÓRIA ENQUANTO CONHECIMENTO CIENTIFICAMENTE 
ELABORADO
De todas as definições que destacamos sobre o conceito de História, talvez as 
mais elucidativas sejam as descritas por Marrou e por Carr. Respectivamente, os 
dois autores identificam que “a história é o conhecimento do passado humano” 
e que História é “um processo contínuo de interação entre o historiador e seus 
fatos, um diálogo interminável entre o presente e passado”
Na primeira definição, nota-se o termo “humano” e nas duas nota-se o termo 
“passado”. Em relação ao termo “homem”, observar-se-á, conforme Marc Bloch, na 
obra Apologia da História ou o ofício de historiador (2001, p.54), que o objeto da 
História é necessariamente o “homem”, ou melhor, os “homens”, no plural, já que
Por trás dos grandes vestígios sensíveis da paisagem, [os artefatos ou 
máquinas], por trás dos escritos aparentemente mais insípidos e as ins-
tituições aparentemente mais desligadas daqueles que a criaram, são 
os homens que a história quer capturar. Quem não conseguir isso será 
apenas, no máximo, um serviçal da erudição. Já o bom historiador se 
parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali 
está a sua caça.
Em relação ao termo “passado”, pode-
mos refletir: será que o conhecimento 
histórico se relaciona a qualquer 
passado? Conforme Priori (2010, 
p.14), veremos que não, tendo 
em vista que História estuda o 
passado humano, ou seja, “dos 
homens que vivem em socie-
dade, pois, afinal, não existe 
homem no mundo, por mais 
isolado, que não tenha relação 
direta com a sociedade, com a 
humanidade”.
Outra pergunta cabe ainda ser 
feita acerca da palavra “passado”: 
Fonte: <www.priceminister.com>
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O Conceito de História e o Trabalho de Historiador
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será que esse passado humano pode ser revisto de qualquer maneira? A res-
posta, mais uma vez, é não. Deve ser retomado de maneira científica, por meio 
da investigação e pesquisa. Pelo contrário, a História seria fruto da imaginação; 
um conto de fadas.
Portanto, a pesquisa científica acerca do “passado” dos “homens” implica na 
adoção de um rigor metodológico e pressupostos teóricos bem definidos. Além 
disso, “para fazer ciência (pesquisa científica) não basta apenas reunir aquilo 
que já conhecemos e organizá-lo; é preciso buscar mais, descobrir aquilo que 
não conhecemos” (PRIORI, 2010, p.13). Isso significa que o historiador, ao olhar 
para o passado, deve buscar o desconhecido; deve ser curioso.
HISTÓRIA ENQUANTO PESQUISA 
DOCUMENTAL
Nas últimas décadas do século XIX, já diziam 
os historiadores positivistas, Langlois e 
Seignobos, na obra prima Introdução aos 
Estudos Históricos (1946, p.14), que a “his-
tória se faz com documentos”, que “são todos 
os traços que deixaram os pensamentos e os 
atos dos homens do passado”. Em passagem 
mais adiante, os autores afirmam que “onde 
não há documentos não há história.
Apesar de terem sido imensamente cri-
ticados por historiadores que no século XX 
pensaram o passado humano de maneira 
diferente, como Marc Bloch e Edward Hallet 
Carr, muitas das ideias desenvolvidas por 
Langlois e Seignobos continuam válidas até os dias atuais. Isso acontece porque 
o positivismo foi a primeira corrente historiográfica a criar uma metodologia 
de investigação histórica. 
Desse modo, algumas das afirmativas desenvolvidas por esses dois grandes 
O CONCEITO DE HISTÓRIA E A FUNÇÃO DO HISTORIADOR
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
I
nomes do Positivismo continuam válidas e permitem-nos concluir que o conhe-
cimento do passado se faz apenas com documentos e que sem documentos ou 
materiais de pesquisa é impossível investigar o passado. Mas o que são docu-
mentos para o historiador?
Nesse ponto é que se desenvolveu a maior crítica contra os historiadores posi-
tivistas, pois, segundo eles, a construção histórica se fazia apenas com documentos 
escritos, como as leis, os registros, as certidões, as cartas, os decretos e os manuscri-
tos diversos. Contraditoriamente, a historiografia mais recente do século XX, como 
a Escola dos Annales (que estudaremos mais adiante), considera que os documen-
tos são todos os vestígios que apresentam informações sobre as atividades humanas. 
Desse modo, podem ser escritos ou não escritos (BOURDÉ; MARTIN, 2003).
Nessa direção, para a historiografia mais atual, todos os registros que se relacionam 
às atividades humanas, e que permitem extrair informações, são considerados 
documentos. Assim, além dos documentos escritos, são considerados materiais 
de pesquisa para o historiador: vestígios arqueológicos, arquitetônicos, imagé-
ticos, sonoros, orais, e digitais; séries estatísticas etc. Contudo, “o historiador 
precisa saber interpretar esses documentos. Formular as questões adequadas para 
obter as repostas adequadas às suas perguntas” (PRIORI, 2010, p.17). Em suma, o 
documento não fala por si mesmo. Fala apenasquando o historiador o trabalha.
Historiografia é um campo de estudo do qual nenhum historiador pode se 
furtar. É a reflexão sobre a produção e escrita da História. Para Guy Bourdé 
e Hervé Martin, é o exame dos discursos de diferentes historiadores, tam-
bém de como estes pensam o método histórico. Segundo esses autores, a 
perspectiva historiográfica é uma ferramenta para o ofício do historiador, ao 
descrever ‘escolas’ históricas, e como produziram conhecimento ao longo 
do tempo.
Fonte: SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos his-
tóricos. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2010, p.189.
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HISTÓRIA ENQUANTO INVESTIGAÇÃO SELETIVA
A investigação sobre os acontecimentos humanos envolve seleção, ou melhor, 
escolhas, já que o historiador não dá conta de estudar todo o passado humano.
Face à imensa e confusa realidade, o historiador é necessariamente le-
vado a nela recortar o ponto de aplicação particular de suas ferramen-
tas; em consequência, a nela fazer uma escolha que, muito claramente, 
não é a mesma que a do biólogo, por exemplo; que será propriamente 
uma escolha do historiador (BLOCH, 2001, p.52). 
Segundo essa perspectiva, o profissional da História apresenta o poder de definir 
o assunto, a temporalidade e os documentos os quais propõe a abordar.
É o historiador quem decide por suas próprias razões que o fato de Cé-
sar atravessar aquele pequeno riacho, o Rubicão, é um fato da história, 
ao passo que a travessia do Rubicão, por milhares de outras pessoas an-
tes ou desde então não interessa a ninguém em absoluto (CARR, 2006, 
p.47).
Por essa atuação, podemos concluir que o historiador apresenta uma cumplici-
dade com seus objetos de pesquisa.
HISTÓRIA ENQUANTO EXPLICAÇÃO
Para saber investigar os documentos, é necessário saber interpretá-los e explicálos. 
O CONCEITO DE HISTÓRIA E A FUNÇÃO DO HISTORIADOR
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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A explicação histórica se diverge da realizada pelos manuais, dicionários, jor-
nais, revistas, Internet, rádio e televisão, pois esses veículos apenas informam o 
que aconteceu. Desse modo, a História vai além da informação. 
Constitui uma explicação sobre os acontecimentos humanos, em outras palavras, 
representa a interpretação do historiador, profissional que possui a capacidade 
de ler os documentos. 
Nenhum documento pode nos dizer mais do que aquilo que o autor 
pensava – o que ele pensava que havia acontecido, o que devia acon-
tecer ou o que aconteceria, ou talvez apenas o que ele queria que os 
outros pensassem que ele pensava, ou mesmo apenas o que ele próprio 
pensava pensar. Nada disso significa alguma coisa, até que o historia-
dor trabalhe sobre esse material e decifre-o (CARR, 2006, p.52).
Mas, se o historiador tem a propriedade de ler e decifrar os documentos de 
acordo com sua visão de mundo, ou melhor, suas experiências de vida, podemos 
imaginar que a História seja uma construção subjetiva e, por isso, não científica. 
Como estamos tratando da temática informação na produção histórica, se-
gue um texto bastante interessante sobre os suportes informativos.
“Podem-se denominar suportes informativos todo conjunto de signos, prin-
cipalmente de textos, considerados saber constituído e que permitem ser 
vistos e lidos como fonte de informações sobre um objeto determinado – 
um texto de manual, um fragmento de livro, de jornal, um dossiê documen-
tário tratando de um objeto dado, mas também uma curva estatística, um 
quadro, um mapa ou um plano produzido com o objetivo de uma comuni-
cação de informações. Da enciclopédia ao atlas, passando pelo livro escolar, 
todo discurso produzido com intenção de comunicar os elementos do sa-
ber disciplinar pertencem à esfera dos suportes informativos. Esses suportes 
apresentam-se como informativos, descritivos, analíticos ou sintéticos. Por 
oposição aos suportes informativos, definiremos como documentos, todo 
conjunto de signos, visual ou textual, produzido numa perspectiva diferen-
te da comunicação de um saber disciplinar, mas utilizado com fim didático 
– [...] os signos que não são reconhecidos como tais (documentos), senão 
quando inseridos no quadro de uma problemática científica”.
Fonte: SCHMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar História. 
São Paulo: Scipione, 2004. 
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Nada disso. De fato a História é subjetiva, pois não tem como seguir os mode-
los objetivos das ciências exatas, tendo em vista que não trabalha com objetos, 
mas com homens. Nesse sentido:
Os fatos humanos são, por essência, fenômenos muito delicados, entre 
os quais muitos escapam à medida matemática. Para bem traduzi-los, 
portanto para bem penetrá-los (pois será que se compreende alguma 
vez perfeitamente o que não se sabe dizer?), uma grande finesse de lin-
guagem, (uma cor correta no tom verbal) são necessárias. Onde calcu-
lar é impossível, impõe-se sugerir (BLOCH, 2001, p.54-55).
Contudo, apesar de sugerir prováveis explicações para os acontecimentos huma-
nos, a História não deixa de ser uma ciência, tendo em vista que essas explicações 
não decorrem da pura imaginação do historiador, mas de uma análise detida 
sobre os documentos. Essa análise envolve um modelo teórico e metodológico 
bem definido, como discutiremos nas três últimas unidades. 
HISTÓRIA ENQUANTO RELAÇÃO ENTRE PRESENTE E PASSADO
O olhar científico, interpretativo e explicativo que o historiador dirige ao passado 
é um olhar do presente. Isso ocorre porque o profissional de História não pertence 
ao passado, mas sim ao tempo presente, cujo contexto é peculiar. Desse modo:
El historiador, pues, se enfrenta a um pasado que trata de compren-
der a partir 
de su presen-
te. Su punto 
de partida es, 
i n e v i t a b l e -
mente, el pre-
sente en que 
se halla, cuyos 
p r o b l e m a s , 
motivaciones 
y vivencias 
proyecta hacia 
el objeto de su 
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Reprodução proibida. A
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estudio. Comprender esta relación supone comprender, em primer lu-
gar, el carácter de toda obra histórica, en el momento preciso em que 
fue elaborada (PAGÈS, 1983, p.43).
Por pertencer à sua época, necessariamente, as indagações do historiador acerca 
do passado partem do seu presente e, por isso, é uma das obrigações do histo-
riador entender a sua atualidade.
Mas, para interpretar os raros documentos que nos permitem penetrar 
nessa brumosa gênese, para formular corretamente os problemas, para 
até mesmo fazer uma ideia deles, uma primeira condição teve que ser 
cumprida: observar, analisar a paisagem de hoje (BLOCH, 2001, p.67).
Entretanto, embora o presente interfira na elaboração de perguntas para enten-
der os acontecimentos históricos, não devemos (enquanto historiadores) olhar 
para os homens do passado propondo que pensassem ou agissem da maneira 
como acreditamos ser correta. Entre o nosso presente e o passado estudado exis-
tem diferenças. 
OS FATOS HISTÓRICOS
No dicionário da língua portuguesa, encontramos vários sinônimos para a palavra 
“Fato”, tais como: realidade vivida, evento e acontecimento. Na produção histó-
rica, esses sinônimos são imprescindíveis na explicação do passado e expressam 
as ações, as experiências e as ideias dos homens em uma determinada época. 
Desse modo, o fato é a matéria-prima do historiador e aponta a temática a 
qual ele se propõe a estudar, como a Revolução Francesa, a chegada dos europeus 
à América ou a independência dos Estados Unidos. Porém, desde o momento 
em que a História tornou-seciência, no século XIX, a concepção em relação aos 
fatos históricos se transformou. 
Para os autores positivistas da segunda metade do século XIX, como Fustel 
de Coulanges, os fatos falavam por si mesmos, ou seja, não necessitavam da 
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explicação do historiador. No entanto, os 
fatos só transmitem alguma mensagem 
quando o historiador os aborda e interpreta 
(CARR, 2006, p.47).
NUMA DENIS FUSTEL DE 
COULANGES (1830-1889)
Voltando à perspectiva positivista, se os fatos 
falavam por si, o papel do historiador não 
era explicá-los, mas reuni-los e organizá-los, segundo um processo minucioso 
e desprendido de julgamentos. A união entre os fatos, organizados cronologi-
camente, possibilitava a explicação histórica.
Deste modo a construção histórica deve fazer-se com uma massa inco-
erente de pequeninos fatos, uma espécie de poeira de conhecimentos 
pormenorizados. Esta massa se constitui de materiais heterogêneos, 
que diferem por seu objeto, sua situação, seu grau de generalidade ou 
de certeza. Para classificá-los, a prática dos historiadores não conse-
guiu estabelecer um método próprio; a história, nascida de um gênero 
literário, continua a ser a menos metódica das ciências (LANGLOIS; 
SEIGNOBOS, 1946, p.150). 
No momento em que Langlois e Seignobos articularam suas ideias, segunda 
metade do século XIX, já dissemos que a História buscava atingir o status de 
ciência objetiva, tal qual o apresentado pelas ciências exatas. Para isso, precisava 
se desprender das interpretações e buscar incessantemente os fatos, pois esses 
mostravam o que realmente se passou. 
Os positivistas, ansiosos por sustentar sua afirmação da história como 
uma ciência, contribuíram com o peso de sua influência para este culto 
aos fatos. Primeiro verifique os fatos, diziam os positivistas, depois tire 
suas conclusões (CARR, 2006, p.45). 
O CONCEITO DE HISTÓRIA E A FUNÇÃO DO HISTORIADOR
Reprodução proibida. A
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Se os fatos davam conta de explicar o passado humano, a busca desses fatos se 
daria por mentes neutras, pois a interferência da imagem que o historiador pos-
suía acerca da sua realidade poderia alterar o valor ou verdade dos fatos.
O historiador constrói uma imagem dos fatos históricos antigos, pare-
cida com a lembrança dos fatos a que pessoalmente assistiu. Este tra-
balho, que se processa inconscientemente, é para a história uma das 
principais fontes de erro. As coisas passadas, que temos de imaginar, 
não são completamente às coisas presentes, que assistimos; nunca vi-
mos um homem semelhante a Cesar ou Clovis, nem passamos pelos 
mesmos estados anteriores que eles passaram (LANGLOIS; SEIGNO-
BOS, 1946, p.154). 
Contraditoriamente, as abordagens historiográficas que surgiram no século XX, 
baseadas no Marxismo e nas discussões efetuadas pela Escola dos Annales, mos-
tram que os fatos não falam por si, ou melhor, transmitem apenas informações 
que não dão conta de explicar uma realidade. Desse modo, cabe aos historiado-
res questioná-los e investigá-los, como nos recomenda Marc Bloch (2001, p.53):
No século X de nossa era, um golfo profundo, o Zwin, recortava a costa 
flamenga. Depois foi tomado pela areia. A que seção do conhecimento 
levar o estudo desse fenômeno? De imediato, todos designarão a ge-
ologia. Mecanismo de aluvionamento, papel das correntes marinhas, 
mudanças, talvez, no nível dos oceanos: não foi ela criada e posta no 
mundo para tratar de tudo isso? Certamente. Olhando de perto, po-
rém, as coisas não são de modo algum assim tão simples. Tratar-se-ia, 
Os fatos estão disponíveis para o historiador nos documentos, os quais, 
como vimos, podem ser de várias espécies (imagéticos, escritos, esculturais, 
arquitetônicos, orais, sonoros, digitais, estatísticos, arqueológicos etc). No 
entanto, para os positivistas, os fatos poderiam ser encontrados apenas nos 
documentos escritos.
Fonte: BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé. As escolas históricas. 2. ed. Lisboa: 
Publicações Europa-América, 2003.
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em primeiro lugar, de escrutar as origens da transformação? Eis o nos-
so geólogo já obrigado a se colocar questões que não são mais, estri-
tamente, de sua alçada. Pois, sem dúvida, esse assoreamento foi, pelo 
menos, favorecido por construções de diques, desvios de canais, secas: 
diversos atos do homem, resultado de necessidades coletivas e que ape-
nas uma certa estrutura social torna possíveis.
Ao empregar esse exemplo para se referir ao exercício de historiador, Bloch 
(2001) chama a atenção para a questão de que os fatos históricos não devem ser 
estudados de maneira artificial, mas de maneira profunda, pois somente a aná-
lise detalhada possibilita o entendimento do que se passou.
Esse entendimento do autor também se revela em outros autores contempo-
râneos às primeiras décadas do século XX, como Benedetto Croce. Conforme 
Carr (2006, p.56), “o trabalho principal do historiador não é registrar, mas ava-
liar; porque, se ele não avalia, como pode saber o que merece ser registrado?” 
A ideia de interdependência entre presente e passado é outra questão que 
salta do estudo dos fatos. Para as abordagens historiográficas do século XX, este 
estudo é feito de acordo com as preocupações do presente do historiador, ou seja, 
em contraposição a ideia tão fixada na História de que o historiador não devia 
se envolver com sua análise. Mais uma vez, Croce, segundo Carr (2006, p.56), 
foi um pioneiro no refletir dessa questão. 
Toda a história é “história contemporânea”, declarou Croce, querendo 
assim dizer que a história consiste essencialmente em ver o passado 
através dos olhos do presente e à luz de seus problemas.
Para Croce toda interpretação produzida 
pelo historiador acerca dos fatos é con-
temporânea porque “por muito distan-
tes que pareçam cronologicamente os 
fatos por ela referidos, a história se rela-
ciona sempre com a necessidade e a si-
tuação presente, nas quais aqueles fatos 
propagam suas vibrações. Assim, se eu, 
decidindo-me ou recusando-me a um 
ato de expiação, me recolho mentalmen-
te para compreender o que seja – isto é, 
como tenha sido formado e transforma-
do – este intuito ou sentimento [...] são 
parte do drama presente de minha alma 
neste momento e, fazendo expressa ou 
subentendidamente a sua história, faço 
a da situação em que me encontro”. 
Fonte: CROCE, Benedetto. A História: 
pensamento e ação. Trad. Darcy Damas-
ceno. 6. ed. Rio de Janeiro: Zahar Edito-
res, 1962, p.14-15.
Benedetto Croce. Filósofo, historiador e político Italiano, que viveu entre 1866 e 1852. 
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Benedetto_Croce>.
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Mas, se o historiador analisa os fatos segundo sua concepção de vida, assim como 
a pessoa que os registrou, também expressa uma visão de um mundo. Assim, 
poder-se-ia imaginar que os fatos não são apresentados de maneira pura, como 
diziam os positivistas. Nesse caso, revelam-se de maneira transformada, pois:
Os fatos da história nunca chegam a nós ‘puros’, desde que eles não 
existem nem podem existir numa forma pura: eles são sempre refra-
tados através da mente do registrador. Como conseqüência, quando 
pegamos um trabalho de história, nossa primeira preocupação não 
deveria ser com os fatos que ele contém, mas com o historiador que o 
escreveu (CARR, 2006, p.58).
AS FONTES HISTÓRICAS
Dentro da produção histórica, a palavra fonte é sinônima de documento que, 
como vimos anteriormente, representa todos os sinais deixados pelos homense 
que expressa suas ações, ideias e experiências. Desse modo, as fontes históricas 
ou documentos podem ser de várias espécies. Contudo, essa definição de docu-
mento é particular e moderna, tendo em vista que até o início do século XX, os 
historiadores se divergiam quanto a essa colocação. 
É nesse sentido que a utilização das fontes na construção histórica apresenta 
história, “porque os interesses dos historiadores variaram no tempo e no espaço, 
em relação direta com as circunstâncias de suas trajetórias pessoais e com suas 
identidades culturais” (JANOTTI, In: PINSKY, 2005, p.10). 
Segundo Karnal e Tatsch (PINSKY, 2009, p.13), podemos concluir que “não 
existe um fato histórico eterno, mas existe um fato que consideramos hoje um 
fato histórico”. Nessa direção, “é fácil deduzir que o conceito de documento siga 
a mesma lógica. Fato e documento histórico demonstram nossa visão atual do 
passado, em um diálogo entre a visão contemporânea e as fontes pretéritas”. 
Seguindo essa perspectiva, notamos que os positivistas e analistas apresentaram 
concepções diferenciadas sobre documentos.
©brasilescola
O CONCEITO DE HISTÓRIA E A FUNÇÃO DO HISTORIADOR
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Até meados do século XX, as “fontes mais valorizadas pelos pesquisadores” 
(JANOTTI, In: PINSKY, 2005, p.10-11) foram as escritas, as quais eram sub-
metidas a rígido controle metodológico, tendo em vista que à história, desde a 
segunda metade do século XIX, afirmou-se como disciplina acadêmica. As temá-
ticas expressas por essas fontes escritas se ligavam a área política e aos feitos dos 
grandes personagens, como reis, rainhas e heróis.
A partir das concepções desenvolvidas por Karl Marx e Friedrich Engels no 
século XIX – que diziam que as ideias surgiam graças às condições socioeco-
nômicas e não políticas, como antes se assentava – a História ganhou um novo 
rumo, a partir da consideração de novas fontes, ligadas às atividades econômi-
cas e sociais, bem como interpretação dessas fontes. Assim,
 Sob a influência desses parâmetros, desenvolveram-se os estudos de 
Economia e Sociologia, voltando-se à coleta e interpretação de fontes 
– antes focadas na área política e na atuação de grandes personagens 
– para documentos sobre atividades econômicas, devassando-se car-
tórios, processos judiciais, censos, contratos de trabalho, movimento 
de portos, abastecimento e outros e cunho coletivo e reivindicatório 
(JANOTTI, In: PINSKY, 2005, p.11).
A propriedade de interpretar novas fontes ganhou notoriedade na medida em que 
o século XX avançou e trouxe consigo grandes transformações. Para Janotti (2005, 
p.13), os acontecimentos mundiais das primeiras décadas do século em questão, 
como a Revolução de 1917 e o movimento operário, foram fundamentais para os 
historiadores pensarem as transformações que estavam ocorrendo naquela rea-
lidade. Nesse refletir, a formação do grupo dos Annales, em 1929, foi essencial. 
A partir dos Annales, a 
História ganhou novas metodo-
logias de trabalho, criando novas 
possibilidades, como a considera-
ção de novas fontes de pesquisa. 
Para se referir a este fenômeno, 
o historiador Jacques Le Goff, na 
obra A História Nova (1995, p.28), 
empregou o termo “Revolução 
Documental”, que consiste:
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Considerações Finais
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...numa multiplicidade de documentos: escritos de todos os tipos, do-
cumentos figurados, produtos de escavações arqueológicas, documen-
tos orais, etc. Uma estatística, uma curva de preços, uma fotografia, 
um filme, ou, para um passado mais distante, um pólen fóssil, uma 
ferramenta, um ex-voto são, para a história nova, documentos de pri-
meira ordem.
Notar-se-á que a Escola dos Annales – também conhecida nas últimas décadas 
como “História Nova”, por se contrapor à História Positivista tida como tradi-
cional – ampliou imensamente o campo documental, ao valorizar diversos tipos 
de fontes, não necessariamente baseadas em textos escritos.
O que levou à ampliação da noção de documento, conforme Karnal e Tatsch 
(PINSKY, 2009, p.15), foram os novos campos de pesquisa, que surgiram graças 
à ligação que a História estabeleceu com outras áreas do conhecimento, como 
a Sociologia e Antropologia, e que favoreceram a abordagem de novos objetos, 
como as imagens, as crianças e as mulheres.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta primeira unidade, procuramos esclarecer o conceito de História, bem 
como a função do profissional que lida com essa ciência. Vimos que o conceito 
de História se relaciona a diversos outros conceitos – entre eles investigação, 
seleção, pesquisa, passado e presente, conhecimento e homem – e que também 
se transformou ao longo do tempo.
Também notamos que a produção histórica não é feita de qualquer modo. 
Ela segue padrões específicos que obedecem à corrente historiográfica a qual o 
historiador se filia. Desse modo, o trabalho do historiador segue as tendências 
historiográficas, que também sofrem modificações no transcorrer do tempo.
O “tempo”. Esse termo tão difícil de esclarecer será objeto de discussão na 
próxima unidade. Além dele, abordaremos a questão da memória e da teoria 
na História.
1. Conforme a discussão apresentada no primeiro tópico desta unidade, intitulado: 
O conceito de História e Trabalho de Historiador, liste as várias definições da 
palavra HISTÓRIA.
2. Ainda de acordo com o primeiro tópico da unidade, redija um texto de 15 a 20 
linhas, considerando o trabalho de historiador.
3. Segundo a discussão efetuada nos dois últimos tópicos desta unidade, estabe-
leça um contraponto entre a concepção positivista e analista (em referência 
a Escola dos Annales) sobre fato histórico e fontes históricas. 
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Apologia da história
Marc Bloch
Editora:Zahar
Sinopse: Apologia da História, ou o ofício de historiador, 
foi produzida por Marc Bloch antes de ser fuzilado pelos 
nazistas, no contexto da Segunda Guerra Mundial, em 
1944. Mesmo inacabada, a obra em questão foi publicada 
pela primeira vez em 1949, pelo historiador e amigo Lucien 
Febvre. Nela, Bloch evidencia os encaminhamentos 
teóricos e metodológicos da escrita da História, 
segundo a perspectiva da Escola dos Annales, 
corrente historiográfica a qual ele e Lucien Febrve 
haviam iniciado no final da década de 1929 e que tinha 
como propósito fazer oposição às técnicas tradicionais 
demonstradas pela Escola Positivista.
Que É História ?
Edward H. Carr
Editora:Paz e Terra
Sinopse: Nesta obra, o historiador Edward H. Carr 
(1892-1982) também discute o ofício de historiador, 
a partir da apresentação das grandes questões 
teóricas e metodológicas que norteiam a escrita da 
História, segundo o paradigma historiográfico do 
Marxismo.
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Professora Me. Giselle Rodrigues
O TEMPO E A MEMÓRIA NA 
PRODUÇÃO HISTÓRICA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Discutir o conceito e representação do tempo, abordando sua 
importância na escrita da História.
 ■ Compreender a problemática do tempo nos diferentes paradigmas 
do conhecimento.
 ■ Definir o conceito de memória, bem como seu emprego na pesquisa 
histórica.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ A importância e a definição de tempo histórico
 ■ A representação simbólica e coercitiva do tempo: o relógio e o 
calendário
 ■ A noção de tempo nos diferentes paradigmas
 ■ Definição de memória
 ■ Relação entre história e memória
INTRODUÇÃO
Como nos dizia Marc Bloch (2001), em Apologia da História ou o ofício do 
historiador, a História é “senão uma ciência dos homens no tempo e que inces-
santemente tem a necessidade de unir o estudo dos mortos ao dos vivos”.
Ao elaborar essa afirmativa, Bloch (2001) – que era contemporâneo aos prin-
cipais eventos mundiais que marcaram a primeira metade do século XX, comoas duas guerras mundiais, crise econômica de 1929 e regimes fascistas – buscou 
romper com os métodos de análise histórica aplicados pelas vertentes tradicio-
nais, a fim de entender as transformações econômicas, políticas e sociais de seu 
tempo, pois os métodos contemplados pela História tradicional, ou Positivista, 
sugeriam que os acontecimentos humanos só poderiam ser estudados quando 
cristalizados no tempo, ou seja, após muitos anos de terem sido formados. Assim, 
quanto mais distantes do historiador, menor era o risco desse historiador se 
envolver emocionalmente com os fatos. 
Para Bloch (2001), contudo, esse cuidado não garantia o caráter científico 
da história, que tanto os positivistas debatiam, tendo em vista que o historiador 
pertencia à sua época. Desse modo, o fato de o pesquisador se distanciar muitos 
anos do evento nada significava. Agora, o fato dele ser impedido de compreen-
der seu presente mudava tudo.
Observar-se-á, na oposição de Bloch (2001) aos historiadores positivistas, 
que o tempo é uma questão crucial na escrita da história e, por isso, preocupa 
muito os historiadores. Em decorrência disso, desde a Antiguidade, buscou-se 
definir o tempo.
Nesta unidade, apresentaremos, em um primeiro momento, o tempo, com 
o propósito de definir o seu conceito e mostrar sua importância na produção 
histórica. Discutiremos os entendimentos diferenciados que os homens e a dis-
ciplina tiveram, ao longo das épocas, acerca dessa problemática.
Em um segundo momento, discutiremos o conceito de memória e seu 
emprego na historiografia, já que, segundo o jornalista Adauto Novaes (1992, 
p.9), “tempo é memória, é experiência vivida. Esquecer o passado é negar toda 
efetiva experiência de vida; é negar o futuro e abolir a possibilidade do novo a 
cada instante”.
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Introdução
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Ao estudar esses conteúdos, você, acadêmico(a), notará que o tempo e a 
memória são instrumentos valiosíssimos na escrita da História. O tempo, não 
apenas porque delimita temporalmente o período em que a pesquisa será desen-
volvida, mas porque expressa traços do pensamento, das ações e experiências 
humanas em uma determinada época, indispensáveis ao trabalho do historiador. 
A memória, por sua vez, porque constitui uma importante fonte de pesquisa, na 
medida em que retoma o passado mediante as lembranças.
A IMPORTÂNCIA E A DEFINIÇÃO DE TEMPO 
HISTÓRICO
Para poder explicar o passado, o historiador, fundamentalmente, leva em consi-
deração a noção de tempo. O tempo está intimamente ligado à escrita da História, 
tendo em vista que expressa as realizações humanas produzidas diariamente em 
uma determinada época. Conforme Kalina Vanderlei Silva e Maciel Henrique 
Silva, na obra Dicionário de conceitos históricos (2010, p.390), o tempo é tão 
importante para a História que na própria definição dessa ciência ele aparece.
A História – todos nós estamos acostumados com essa definição – é 
o estudo das atividades e produções humanas, ou seja, da cultura, ao 
longo do tempo. Assim, no próprio conceito de História está inserido 
o conceito de tempo, o que nos mostra sua importância. No entanto, 
tempo é uma daquelas noções que perpassa nosso dia a dia e às quais 
damos pouca atenção, a despeito de sabermos de sua importância.
Observar-se-á, portanto, que o tempo é indissociável da História. Porém, definir 
esse conceito não é tão fácil, pois mesmo sabendo que existe – como nas transfor-
mações que ocorrem em nossas vidas com o passar dos anos – não conseguimos 
degustá-lo e visualizá-lo, muito menos tocá-lo ou ouvi-lo (ELIAS, 1998). 
Para o sociólogo alemão Nobert Elias, na obra Sobre o tempo (1998), o 
tempo não é uma construção natural e nem inata ao indivíduo. Pelo contrá-
rio, resulta de um longo processo de aprendizagem, iniciado pela humanidade 
desde seus primórdios. 
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A Importância e a Definição de Tempo Histórico
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Esse aprendizado não foi 
construído isoladamente, 
mas pelos sujeitos reunidos 
em grupos que apresentavam 
características em comum e 
compartilhavam das mesmas 
experiências e ideias. Desse 
modo, a noção de tempo é 
uma convenção construída 
socialmente, desde as épo-
cas mais remotas e, conforme 
Elias (1998, p.8), tem como 
finalidade orientar as comu-
nidades humanas em suas 
atividades sociais.
Até a época de Galileu, o que chamamos ‘tempo’, ou mesmo o que cha-
mamos ‘natureza’, centrava-se acima de tudo nas comunidades huma-
nas. O tempo servia aos homens, essencialmente, como meio de orien-
tação no universo social e como modo de regulação de sua existência 
(ELIAS, 1998, p. 8).
Ao elaborar a noção de tempo, os homens do passado recorreram aos fenôme-
nos periódicos que ocorriam na natureza e que expressavam transformações, 
tais como: nascer e pôr do sol, mudanças da lua, transformação da noite e dia 
e estações do ano. 
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O TEMPO E A MEMÓRIA NA PRODUÇÃO HISTÓRICA
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II
A REPRESENTAÇÃO SIMBÓLICA E COERCITIVA DO 
TEMPO: O RELÓGIO E O CALENDÁRIO
Nas sociedades modernas, o relógio e o calendário representam os grandes sím-
bolos adotados pelos homens para contar e representar o tempo. O relógio marca 
o passar dos segundos, dos minutos, das horas e dos dias. O calendário, o pas-
sar das semanas, dos meses e dos anos. Ambos se inspiram na observação dos 
eventos recorrentes da natureza. 
Nesse sentido, 
“os relógios exercem na sociedade a mesma função que os fenômenos 
naturais – a de meios de orientação para homens inseridos em uma su-
cessão de processos sociais e físicos. Simultaneamente, servem-lhes, de 
múltiplas maneiras, para harmonizar os comportamentos de uns para 
com os outros, assim como para adaptá-los a fenômenos naturais, ou 
seja, não elaborados pelo homem” (ELIAS, 1998, p.8).
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A Representação Simbólica e Coercitiva do Tempo: o Relógio e o Calendário
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Por sua vez, o calendário, segundo 
a abordagem de José Carlos Reis 
(1994, p.114), também foi produzido 
socialmente e também revela “uma 
organização sucessiva da natureza”.
Contudo, em um contexto marcado 
pela modernidade, o calendário e, prin-
cipalmente, o relógio buscaram se distanciar dos fenômenos da natureza que os 
inspiraram, pois as transformações científicas dos séculos XVI, XVII e XVIII – 
baseadas na racionalidade, nas leis da física e da matemática – motivaram um 
estudo mais complexo e detalhado sobre o tempo.
É nesse sentido que Newton, conforme expõe Elias (1998, p.9), buscou explicar 
o tempo racionalmente, ou seja, como uma questão objetiva, criada pelo mundo 
“e que não se distingue, por seu modo de ser, dos demais objetos da natureza, 
exceto, justamente, por não ser perceptível”.
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Isaac Newton (1642 a 1727) foi um físico, matemático e astrônomo, nascido 
na Inglaterra. Na época em que viveu, a produção científica e cultural – muito 
embora tenha sido em parte transformada pelo movimento cultural da Renas-
cença, entre os séculos XV, XVI e XVII, os quais, segundo Arnold Hauser (1995), 
expandiram os princípios da racionalidade e da individualidade que já eram 
experimentados desde a Idade Média, em meados do século XII – era ainda in-
fluenciada pelos preceitos religiosos do catolicismo, pois a sociedade daquela 
época vivia uma fase de transição entre o tradicionalismo, decorrente da Idade 
Média, e a modernidade, fruto dos novos tempos. Desse modo, é possível que 
Newton,produto desse período de transição do tradicionalismo para a moder-
nidade, tenha sofrido grandes embates por fazer descobertas que contrariavam 
a ordem das coisas. Entre suas descobertas, destacamos a lei da gravitação uni-
versal e a teoria das cores. A lei da gravitação universal foi pensada quando New-
ton, sentado em baixo de uma macieira, observou uma maçã caindo e notou 
que havia uma força que a atraia à superfície do chão. Tal força também explica-
va a razão dos corpos celestes, como a Lua, não se afastarem da órbita terrestre. 
Essa descoberta rompeu com a dependência da ação divina. Do mesmo modo, 
a elaboração da teoria das cores, pensada por Newton a partir de um feixe de luz 
direcionado sobre um prisma de vidro, certamente desconstruiu a ideia de que 
alguns fenômenos, como o Arco-Íris, resultavam da ação divina e sobrenatural.
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Não podemos perder de vista, contudo, que, nesse período histórico, a sociedade 
caminhava para um processo de desenvolvimento industrial e capitalista. Desse 
modo, era extremamente concebível que as concepções de tempo baseadas em 
elementos da natureza, que ainda perduravam, fossem desfeitas em favor de um 
tempo cronometrado e voltado à produção de mercadorias.
Buscou-se, então, a partir desse momento, um tempo que aplicasse uma disci-
plina do trabalho e exercesse sobre o ser humano o poder coercitivo, advindo da 
sociedade capitalista, isto é, das pressões por uma maior produtividade. Segundo 
Elias (1998, p.13-14), o indivíduo seria levado, desde criança, a se enquadrar a 
este modelo.
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Ora, o indivíduo não tem a capacidade de forjar, por si só, o conceito 
de tempo. Este, tal como a instituição social que lhe é inseparável, vai 
sendo assimilado pela criança à medida que ela cresce numa socieda-
de em que ambas as coisas são tidas como evidentes. Numa sociedade 
assim, o conceito de tempo não é objeto de uma aprendizagem, em sua 
simples qualidade de instrumento de uma reflexão destinada a encon-
trar seu resultado em tratados de filosofia; ao crescer, com efeito, toda 
criança vai-se familiarizando com o ‘tempo’ como símbolo de uma ins-
tituição social cujo caráter coercitivo ela experimenta desde cedo. Se, 
no decorrer dos seus primeiros dez anos de vida, ela não aprender a 
desenvolver um sistema de autodisciplina conforme a essa instituição, 
se não aprender a se portar e a modelar sua sensibilidade em função do 
tempo, ser-lhe-á muito difícil, se não impossível, desempenhar o papel 
de um adulto no seio dessa sociedade.
Notar-se-á que, para Elias (1998), o tempo introduzido pela modernidade não 
provém de um processo de aprendizagem elaborado socialmente, mas de uma 
dinâmica imposta por uma sociedade coercitiva – ou melhor, por um mercado 
de trabalho – que exige do sujeito uma autodisciplina. Quando esse sujeito destoa 
desse modelo, é considerado pela sociedade que o rodeia como um desajustado.
A NOÇÃO DE TEMPO NOS DIFERENTES PARADIGMAS
No decorrer da história, os homens apresentaram noções diferenciadas sobre o 
tempo. Do mesmo modo, os modelos explicativos, também conhecidos como 
teorias – que foram criados dentro da ciência histórica, para estudar os aconteci-
mentos humanos – mostraram entendimentos diferenciados sobre essa questão.
A existência de múltiplas teorias da história é um reflexo das diversas 
concepções ideológicas assumidas pelos homens. Existe, pois, multi-
plicidade de histórias, como também uma multiplicidade de teorias da 
história e de teorias do conhecimento. Nesta perspectiva, o tempo não 
é pressuposto especulativamente, ele é construído conceitualmente. 
Isso significa que o tempo da história não é um só, não tem uma só 
figura, não é também abstrato, mas plural (ZANIRATO, 1999, p.91). 
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Aristóteles (384 – 322 a.C.) foi um filósofo. Seus pensamentos filosóficos e ideias 
se relacionam a diversas áreas do conhecimento (como a física, a matemática, 
a retórica, a ética, a biologia e a zoologia) e causam influências significativas na 
educação e no pensamento ocidental contemporâneo. É tido como criador do 
pensamento lógico, bem como da filosofia ocidental.
Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/aristoteles/>
Na abordagem de Zanirato, observar-se-á que o tempo na escrita da História 
revelou-se de maneira plural, ou seja, em cada época, foi interpretado de maneira 
peculiar e de acordo com a tendência teórica em voga. Na discussão subsequente, 
trataremos dessa questão.
O TEMPO NOS DIFERENTES PERÍODOS HISTÓRICOS
Começando pela antiguidade, evidencia-se que, nesse período, o tempo era 
encarado como eterno. Nesse sentido, o tempo existia segundo um movimento 
circular, o qual passava por estágios sucessivos que se repetiam com constân-
cia, como no ciclo da vida.
Esse entendimento sobre o tempo pode ser observado, segundo José Carlos 
Reis (1998), no pensamento mítico, poético e filosófico grego, cujas reflexões – 
sobre a ética, a estética, a política e as coisas humanas – estiveram voltadas às 
ideias eternas e aos movimentos regulares e sucessivos. 
Em Zanirato (1999, p.91-92), notamos que esse pensamento aparece em 
Aristóteles, pois ao discutir a física dos corpos, esse filósofo acreditava que o 
tempo era um contínuo que não poderia ser desvencilhado da história. Assim:
Para Aristóteles o Universo é único e finito, eterno, seu movimento é 
circular, é passagem em atos sucessivos. Não tem início, meio ou fim. 
O tempo também se coloca nessa concepção, é eterno, isto é, existe 
sempre, e as coisas é que são temporais, havendo um tempo para cada 
gênero ou espécie. Cada ser tem um tempo: nascimento, desenvolvi-
mento e morte (ZANIRATO, 1999, p.92). 
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Conforme a autora, essa visão aristotélica de tempo circular e eterno foi supe-
rada com o surgimento de novas concepções embasadas nos escritos bíblicos. 
Tais concepções, que se denominam de judaico-cristãs, viam o tempo de maneira 
singular, linear e progressivo, uma vez que havia data exata para começar (cria-
ção divina) e data certa para acabar (juízo final).
Influenciados por essa forma de pensar, o tempo e a 
história passaram a ser vistos como uma sucessão iniciada 
com a criação Divina e predestinada a terminar como o 
Juízo final. Traçou-se uma linha voltada para frente, o 
tempo tornou-se linear e progressivo, seu movimento 
direcionado para o fim (ZANIRATO, 2010, p.24).
Esse modo de ver o tempo foi bastante comum na Idade Média, tendo em vista 
que, nesse período, a sociedade conservou, conforme o historiador da arte 
Arnold Hauser (1995), um caráter espiritual e religioso. Seguindo essa perspec-
tiva, o filósofo e teólogo medievalista Santo Agostinho acreditava, conforme 
Zanirato (1999), que o tempo era estabelecido por Deus, pois o universo havia 
sido criado por ele.
Essa noção de tempo finalista religioso, que sinalizava a criação e o fim dos 
tempos, foi sendo superada com o Renascimento. Esse movimento científico, 
cultural, artístico e filosófico – ocorrido na transição do período medieval para o 
período moderno – provocou mudanças significativas 
no campo do conhecimento, a partir dos princípios 
do racionalismo e cientificismo.
Todavia, para Hauser (1995), é importante res-
saltar que as descobertas do Renascimento já vinham 
sendo ensaiadas desde a Idade Média. Desse modo, o 
que o movimento fez foi apenas avançar, de maneira 
empírica, em relação aosaspectos que vinham sendo 
desenvolvidos nos períodos anteriores, sobretudo, 
a partir dos séculos XI e XII, quando a sociedade e 
a vida econômica passaram a se emancipar dos gri-
lhões do dogma eclesiástico.
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Trazendo essa questão para o campo da História, notar-se-á uma adequação 
a tais mudanças. Nessa perspectiva racional e científica, o entendimento sobre 
o tempo foi transformado. Por outro lado, os princípios de linearidade, de fina-
lidade e de progressividade persistiram, pois o tempo continuou a ser encarado 
de maneira evolutiva e segundo uma linha reta que apresentava começo e fim. 
A diferença é que “Dentro dos princípios racionalistas estabelecidos para o 
entendimento do que vinha a ser ciência, a ideia do progresso apareceu ligada 
ao conhecimento” (ZANIRATO, 1999, p.94), que não seria dado mais por Deus, 
mas pelo homem.
O paradigma positivista, surgido no século XIX, é um forte expoente dessa 
crença de que a racionalidade e cientificidade, advindas do homem, superam 
a providência divina na problemática do tempo, como podemos notar em José 
Carlos Reis (1994, p.93):
No século XIX, portanto, a filosofia e sua influência espiritual, seu tem-
po da alma ou da consciência, começaram a recuar em relação ao avan-
ço da influência do tempo da física sobre o vivido e o conhecimento 
das sociedades. O tempo da ciência começou a se impor ao tempo da 
consciência.
Essa imposição do tempo da ciência, em detrimento do tempo da consciência, 
ocorreu em função da ideia de progresso, cuja finalidade era livrar o homem da 
condição de barbárie e conduzi-lo à civilização. 
A superação de uma etapa para outra, como da barbárie à civilização, mos-
tra que o tempo, para os positivistas, era visto de maneira sucessiva, cumulativa, 
finalista e irreversível. Para Alfredo Bosi (1992, p.20), “essas visões do tempo são 
o sangue mesmo que circula há séculos pelas veias de nossas crenças judeu-cris-
tãs, progressistas, evolucionistas, marxistas ou não”. 
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Vejamos como as questões que abordamos acima aparecem de maneira bastante escla-
recedora em um extrato da obra de José Carlos Reis. 
“O tempo do conhecimento reflete, em geral, o tempo vivido embora nem sempre coin-
cida com ele. Antes do século XIX, o vivido histórico e seu conhecimento foram marca-
dos pelo tempo da ‘alma’, por um tempo ou mitológico, ou teológico, ou filosófico. As 
sociedades míticas, religiosas ou ‘racionalistas’ elaboraram uma forma de conhecimento 
histórico que tinha como base um tempo mítico, religioso e filosófico. O tempo vivido 
era pensado com conceitos como Deus, alma, graça, rei, milagres, salvação, fim do mun-
do, mal/bem, quando a sociedade era religiosa; quando era racionalista, o tempo vivi-
do era pensado com conceitos como espírito, liberdade, história, ação intensão, justiça, 
fases, emancipação, sujeito, homem, etc. Para essas sociedades e modos de saber do 
humano, o tempo natural, se é importante, não é determinante. A história humana não 
é inscrita no tempo cósmico, mas na história divina ou racional, em que o tempo cósmi-
co ganha um sentido cultural. Convivendo com esses tempos, começou a preocupação 
com a datação rigorosa, na Renascença, que perde de vista o lado da alma e da cultura. 
O esforço dos ‘eruditos’ de então era o de adequar a história ao calendário. Esse esforço 
foi prosseguido pelos ‘positivistas’, no século XIX. 
Nesse século, aliás, o tempo físico se impôs sobre todo conhecimento da sociedade. A 
filosofia e sua influência espiritual começaram a recuar em relação ao avanço do tempo 
da física sobre o conhecimento humano. O ‘tempo da ciência’ começava a se impor ao 
tempo da ‘consciência’”. 
Fonte: REIS, José Carlos. Tempo, História e Evasão. Campinas: Papirus, 1994, p.87-88.
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Do mesmo modo que o paradigma judaico-cristão e positivista, o paradigma 
marxista entende o tempo como sucessivo, cumulativo, progressivo, linear e irre-
versível. Contudo, não tem como objetivo conduzir a sociedade para o juízo final 
e nem, tampouco, à civilização. Seu maior objetivo, senão único, é transformar 
a sociedade capitalista em uma sociedade igualitária, mediante a luta de classes.
Com o surgimento de uma nova maneira de se compreender os eventos huma-
nos, paralela ao positivismo e ao marxismo, o tempo histórico passou a ser visto de 
uma forma diferente. Essa nova maneira, denominada de Nova História, surgida 
nas primeiras décadas do século XX, deixou de lado os princípios da progressi-
vidade e da irreversibilidade em favor da simultaneidade (ZANIRATO, 1999).
A Nova História, assim, substituiu o tempo linear, visto em único sentido, por 
um tempo múltiplo e plural, visto em diferentes sintonias. Essa perspectiva será 
observada nas inovadoras ideias desenvolvidas pelo historiador Fernand Braudel.
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O TEMPO MÚLTIPLO
Na obra intitulada História e Ciências Sociais (1990), Braudel aborda que a expli-
cação acerca dos acontecimentos humanos, ou melhor, a escrita da História, se 
desenvolve em uma tripla duração de tempo: curta duração, média duração e 
longa duração.
A curta duração é o tempo do acontecimento, das datas, para as quais se 
busca apenas a narração dramática e ruidosa, sem atentar-se ao estudo das suas 
motivações e significações. Para nosso autor em questão, esse tempo é ilusório, 
porque é passageiro, por isso é próprio dos jornalistas e cronistas.No entanto, a 
história tradicional ou positivista explicava a história dos homens na curta dura-
ção, mediante a reunião de fatos que mantinham alguma significância entre si. 
Acreditava-se que a narração desses fatos organizados cronologicamente, de 
Na última unidade deste livro, voltaremos a discutir sobre Fernand Braudel e 
a temporalidade proposta na produção historiográfica por este importante 
historiador. Mas, até que esta abordagem seja feita, segue uma prévia, com 
algumas informações a seu respeito.
Fernand Braudel (1902 – 1985) foi um historiador francês nascido em Lu-
méville-en-Ornois, na França. Foi um dos mais importantes representantes 
da Escola dos Annales e inovador da noção de tempo aplicado à produção 
histórica. Formado em História na Universidade de Sorbonne, “ensinou em 
uma escola na Argélia (1923-1932), enquanto trabalhava na elaboração de 
sua tese sobre Filipe II de Espanha e o Mediterrâneo. Integrou um grupo de 
intelectuais franceses (1933-1935) que colaborou na organização da Univer-
sidade de São Paulo”. Na época da Segunda Guerra Mundial, de volta à Euro-
pa, foi preso em um campo de concentração coordenado pelos nazistas em 
Lübeck, onde escreveu sua tese, defendida em 1947 e publicada em 1949. 
Ainda em 1949, tornou-se professor do Collège de France e, paralelamente, 
diretor do Centre de Recherches Historiques da École des Hautes Études, 
uma organização não governamental ligada à pesquisa e desenvolvimento 
das Ciências Humanas. Ao longo de sua carreira intelectual e acadêmica, 
dirigiu ainda a revista Annales, Economies, Sociétés, Civilisations. 
Disponível em: <http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/FernBrau.html>; 
<http://www.brasilescola.com/biografia/fernand-braudel.htm>.
O TEMPO E A MEMÓRIA NA PRODUÇÃO HISTÓRICA
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maneira linear, esclarecia o passado. Para Braudel (1990, p.11), entretanto, a sim-
ples narração dos fatos não dava conta de explicar as ações dos homens, tendo 
em vista que:
O passado é, pois, constituído, numa primeira apreensão, por esta mas-
sa de pequenos factos, uns resplandecentes, outrosobscuros e indefini-
damente repetidos; [...]. Mas esta massa não constitui toda a realidade, 
toda a espessura da história, sobre a qual a reflexão científica pode tra-
balhar à vontade. 
Nesta direção,
A ciência social tem quase o horror do acontecimento. Não sem razão: 
o tempo breve é a mais caprichosa, a mais enganadora das durações 
(BRAUDEL, 1990, p.11).
Essa ideia de que a curta duração é enganosa aparece em Alfredo Bosi (1992). 
Para ele, as datas são apenas pontos de orientação, como as pontas de icebergs 
que, quando entendidas de maneira isolada, nada significavam. Para compreen-
dê-las, é preciso mergulhar nas profundezas de sua atividade processual. Assim:
A data é, nessa perspectiva, um número-índice, o elo mais ostensivo de 
uma cadeia dotada de sentido. 1492: Colombo chega às ilhas do Caribe, 
o que significa um momento alto da expansão da cultura européia e do 
catolicismo, de que o Novo Mundo seria continuador. 1792: Tiradentes 
é enforcado após uma abortada conspiração anticolonial; hora cruel, 
sem dúvida, mas prenunciadora de uma nova nacionalidade, o Brasil, 
que trinta anos mais tarde se destacaria de Portugal por obra de um 
príncipe, Pedro, neto daquela mesma dona Maria que ordenara o sa-
crifício dos inconfidentes. 1822: faz sentido como o que veio depois de 
1792. O antes é a semente, o germe, a raiz do depois (BOSI, 1992, p.21). 
Emprestando a analogia de Alfredo Bosi (1992), é possível refletirmos que a 
média duração, também chamada de conjuntura, permite ao historiador mer-
gulhar um pouquinho nesse oceano em que se edifica a ponta do iceberg, pois 
essa ponta, conforme Braudel (1990, p.12), “oferece à nossa escolha uma dezena 
de anos, um quarto de século e, em última instância, o meio século”. 
Ainda dentro dessa analogia sugerida por Bosi (1992), vemos que a longa 
duração são as estruturas sobre as quais é possível notar as mudanças e perma-
nências nos grupos sociais. Desse modo, segundo Braudel (1990, p.14):
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Para nós, historiadores, uma estrutura é, indubitavelmente, um agru-
pamento, uma arquitetura; mais ainda, uma realidade que o tempo 
demora imenso a desgastar e a transportar. Certas estruturas são do-
tadas de uma vida tão longa que se convertem em elementos estáveis 
de uma infinidade de gerações: obstruem a história, entorpecem-na e, 
portanto, determinam o seu decorrer. Outras, pelo contrário, desinte-
gram-se mais rapidamente. Mas todas elas constituem, ao mesmo tem-
po, apoios e obstáculos, apresentam-se como limites (envolventes, no 
sentido matemático) dos quais o homem e as suas experiências não se 
podem emancipar.
Dentro dessa tripla duração sugerida por Braudel (1990), notamos que o tempo 
histórico apresenta uma diversificação, a qual possibilita para a explicação his-
tórica estabelecer uma relação entre os fatos com suas conjunturas e estruturas, 
como se um tempo levasse a outro tempo.
DEFINIÇÃO DE MEMÓRIA
Na formulação das explicações sobre os acontecimen-
tos humanos no tempo, a memória, enquanto fonte 
de pesquisa, desempenha uma importante função. 
Mas antes de abordarmos essa questão é fundamen-
tal definirmos o conceito de memória. 
Notar-se-á, de acordo com as definições sintéti-
cas do dicionário, que a memória é a capacidade de 
recordar e lembrar-se do passado. Pode ainda atrelar-
-se ao registro de dados, como no caso da informática. 
Segundo Lisa Block (2012, p.24), nas mais diver-
sas línguas – como no espanhol, no inglês e no francês 
– a palavra recordar se relaciona ao sentimento, “com 
el corazón, sin apartarse del pensamiento, se recuerda 
com el corazón”. 
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O TEMPO E A MEMÓRIA NA PRODUÇÃO HISTÓRICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
II
Para o historiador Le Goff, na 
obra História e Memória (1992, 
p.419), a recordação, ou melhor, 
a memória representa o conjunto 
de funções psíquicas, as quais 
permitem ao homem conservar 
informações, mediante a atualização 
de “impressões ou informações pas-
sadas, ou que ele representa como 
passadas”.
Do mesmo modo, Moreira 
(2011, p.1) considera que a memória 
“no sentido primeiro da expressão, é a presença do passado”, pois ela é “uma 
construção psíquica e intelectual que acarreta de fato uma representação sele-
tiva do passado, que nunca é somente aquela do indivíduo, mas de um indivíduo 
inserido em um contexto familiar, social, nacional”. 
Nas definições apresentadas, verificamos que a memória é uma construção 
psíquica que permite aos homens reter informações sobre o passado. Porém, 
esse passado não é relembrado de maneira total, mas de maneira parcial, tendo 
em vista que cada indivíduo revela uma lembrança particular, uma interpreta-
ção única sobre o passado. 
Nesse sentido, notamos que a memória é uma construção individual porque 
expressa a imagem que cada pessoa atribui ao passado. Porém, notamos também 
que é uma construção coletiva, já que a soma das diversas imagens individuais 
expressa a representação dos significados que o grupo atribui aos acontecimentos.
Nas duas modalidades de memória, individual e coletiva, observar-se-á o 
papel exercido pela realidade – social, econômica, política e cultural do indiví-
duo e de seu grupo – na transformação da memória. Nesse ponto, vale ressaltar 
que as faculdades do consciente e do inconsciente – como “o interesse, a afetivi-
dade, o desejo, a inibição, a censura” – podem exercer sobre a memória individual 
e coletiva manipulações (LE GOFF, 1992, p.422). 
Essas manipulações podem ocasionar a deturpação da memória, sua modi-
ficação e até mesmo o esquecimento.
55
Relação entre História e Memória
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... num nível metafórico, mais significativo, a amnésia é não só uma 
perturbação no indivíduo, que envolve perturbações mais ou menos 
graves da presença da personalidade, mas também a falta ou a perda, 
voluntária ou involuntária, da memória coletiva nos povos e nas na-
ções, que pode determinar perturbações graves da identidade coletiva 
(LE GOFF, 1992, p.421).
RELAÇÃO ENTRE HISTÓRIA E MEMÓRIA
O emprego da Memória na produção historiográfica passou a ocorrer com a 
chamada “revolução documental”, iniciada pelos Annales, a qual permitiu aos his-
toriadores utilizarem uma imensa variedade de documentos em suas pesquisas. 
Essas transformações ocorridas na historiografia contemporânea, segundo 
Moreira (2011, p.2), desacreditaram os métodos tradicionais e tornaram a História 
e a memória mais complexas, tendo em vista que:
Lembrar o passado e escrever sobre ele não se apresentam como as ati-
vidades inocentes que julgávamos até bem pouco tempo atrás. Tanto 
as histórias quanto as memórias não mais parecem ser objetivas. Num 
caso como no outro, os historiadores aprenderam a considerar fenô-
menos com a seleção consciente ou inconsciente, a interpretação e a 
distorção.
Nessa perspectiva, ao empregar a memória na produção histórica, o historiador 
precisa ter claro que a memória e a História são coisas diferentes. 
A História, embora seja uma ciência subjetiva, “não se contenta com explica-
ções superficiais e infundadas”. Seu compromisso é com a verdade histórica e, por 
esse motivo, “seu objeto de pesquisa deve ser problematizado, contextualizado e 
comparado” (AMÂNCIO et al., 2010, p.46).Nessa direção, a História se esforça 
continuamente “no sentido de explicar, dentro dos limites de suas fontes, a tota-
lidade de seu objeto de investigação histórica” (AMÂNCIO et al., 2010, p.46).
Por sua vez, para Amâncio et al. (2010), a memória não apresenta compro-
misso com a verdade, pois expressa lembranças individuais e coletivas, que variam 
no decorrer do tempo, segundo as experiências vividas, sejam boas ou

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