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TEORIA DA HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA

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Prévia do material em texto

E-BOOK
TEORIA DA HISTÓRIA 
E HISTORIOGRAFIA
O conhecimento histórico científico
APRESENTAÇÃO
A História pode ser mais bem compreendida como disciplina científica a partir de seu 
desenvolvimento ao longo do tempo. Há registros históricos desde os primeiros povos que 
inventaram a escrita. Porém, a forma como eles os escreviam era praticamente a de um gênero 
literário voltado para a constituição da memória, nada tendo de científico. Assim, somente a 
partir do século XIX é que se pode falar da constituição da História como um conhecimento 
científico de fato.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você verá como se deu o processo de consolidação da História 
como ciência e também como surgiu a primeira grande escola histórica, analisando suas 
principais características.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Descrever o conhecimento histórico como ciência no século XIX.•
Caracterizar a Escola Metódica e o método histórico do século XX.•
Identificar a História Científica a partir dos "homens do tempo".•
DESAFIO
Para relembrar a importância de Ranke para a historiografia, o professor José D'Assunção de 
Barros (2013, p. 979) indica que algumas de suas principais contribuições foram a "análise 
integrada das diversas instâncias do documento – entre as quais a autenticidade, a veracidade, os 
modos de análise da própria informação que seriam sofisticados gradualmente [...]". Ou seja, o 
documento é a matéria-prima do trabalho do historiador, e sua análise deve ser feita com 
esmero, seriedade e, acima de tudo, honestidade. Porém, a vida de um historiador muitas vezes é 
levada a situações insólitas, como a que será descrita a seguir.
Veja:
Diante do exposto, e considerando as discussões sobre a Escola Metódica, você classificaria 
o lote em questão como de interesse público ou como assunto pessoal? Explique.
INFOGRÁFICO
A criação da Escola Metódica (fundamental para a constituição da História como saber 
científico) não se deu de forma repentina e abrupta; ela foi resultado de uma série de processos 
que aconteciam na época. Assim como qualquer outro modelo científico, ela também passou por 
um momento de crise, no qual recebeu diversas críticas, até ser superada por um novo modelo 
científico.
No Infográfico a seguir, você verá um resumo da trajetória da Escola Metódica, desde sua 
fundação até as críticas sofridas e a superação de seu modelo de análise.
Confira.
CONTEÚDO DO LIVRO
A consolidação da História como conhecimento científico pode ser mais bem compreendida a 
partir do desenvolvimento da Escola Metódica. Nos tempos antigos, vários povos produziram 
relatos sobre o passado, mas uma ciência que refletisse sobre esse passado só se deu a partir do 
século XX. Assim, é fundamental falar sobre esse século para que se compreenda como a 
História se tornou uma ciência de fato.
Leia o capítulo O conhecimento histórico científico, da obra Teoria da História e 
historiografia, e entenda como o conhecimento histórico se tornou um conhecimento científico, 
a partir da análise do contexto da época e de uma das primeiras escolas de pensamento dentro 
desse ramo: a Escola Metódica Francesa.
Boa leitura.
TEORIA DA 
HISTÓRIA E 
HISTORIOGRAFIA
Nilton Silva Jardim Junior
O conhecimento 
histórico científico
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Descrever o conhecimento histórico como ciência no século XIX.
  Caracterizar a escola metódica e o método histórico do século XX.
  Identificar a história científica a partir dos “homens do tempo”.
Introdução
Apesar de hoje definida como a ciência do homem no seu tempo, a 
história nem sempre foi assim. Durante muitos séculos, a história foi uma 
disciplina muito mais ligada à literatura e à formação da memória. Várias 
civilizações produziram relatos sobre o seu passado, orais ou escritos, mas 
sem preocupação com critérios de cientificidade. Porém, como veremos, 
no século XIX isso mudou.
Neste capítulo, você vai compreender como o movimento de formação 
das ciências sociais do século XIX, o Romantismo e suas relações com as 
unificações tardias do mesmo período contribuíram para a consolidação 
da história enquanto ciência. Para isso, será necessário falarmos não apenas 
da conjuntura do meio histórico e político, mas também do estágio de 
desenvolvimento da história na época e como se constitui a escola que a 
elevou à categoria de ciência. Também veremos as principais influências e ca-
racterísticas dessa escola, além das críticas posteriormente recebidas por ela.
Um século de paixões e o nascimento 
da ciência histórica
Se o século XVIII foi o “Século das Luzes”, o século XIX com certeza foi o 
“Século das Paixões”. Palco de grandes movimentos — como as unifi cações 
tardias (Alemanha e Itália), o movimento neocolonialista/imperialista, as 
guerras napoleônicas, as independências das colônias americanas (inclusive 
o Brasil) — o século XIX foi sem dúvida um período defi nidor da história 
da humanidade. Se a Revolução Francesa e a queda da Bastilha marcaram a 
virada do mundo moderno para o contemporâneo, o “século das paixões” foi 
o responsável pelo desenvolvimento dessa nova era. Não sem motivo, o Ro-
mantismo foi a grande mola propulsora dessa época, infl uenciando a literatura, 
as artes plásticas e, de certa forma, a política. Num mundo onde vários países 
buscavam um sentimento de unidade e identidade, o nacionalismo romântico 
funcionou perfeitamente (HOBSBAWM, 1988).
Surgido no final do século XVIII, o Romantismo foi um movimento artístico, político e 
filosófico que teve seu auge no século XIX. Entre suas principais características estão o 
subjetivismo, o individualismo, o nacionalismo e o sentimentalismo (Figura 1). A partir 
desta última característica, podemos dizer que se contrapunha ao racionalismo do 
Iluminismo (HOBSBAWM, 1988).
Figura 1. A Liberdade Guiando o Povo, de Eugène Delacroix (1830), exposta no Museu 
do Louvre.
Fonte: File... (2019a, documento on-line).
O conhecimento histórico científico2
Para além das fronteiras nacionais e sistemas de governo, é também nesse 
século que outro importante elemento do nosso tempo começa a se definir: a 
ciência. A revolução científica, iniciada com o Iluminismo no século anterior, 
passa a ganhar outros contornos a partir dessa época. Ciências sociais como 
a sociologia e a antropologia começavam a ser reconhecidas como tal (HO-
BSBAWM, 1988). Simultaneamente, a história gradativamente deixava de se 
tornar um ramo da literatura ligado ao que hoje compreendemos (DOSSE, 
2001). Para isso, foi fundamental o conceito de ciência positiva de Auguste 
Comte. Para Comte, a ciência deveria ser acima de tudo a investigação do 
real, feita a partir da observação, experimentação, comparação e classificação 
como métodos. Em sua visão positivista, os fenômenos sociais, assim como 
os fenômenos naturais, também respeitavam leis, o que serviu de base para 
que criasse a ciência que ele chamou de “física social”, e que posteriormente 
se tornou a sociologia. (FONTANA, 2004)
Os trabalhos de Comte tiveram grande eco entre estudiosos da época e serviram 
como referencial básico para a sistematização das ciências humanas. No campo da 
história, essas ideias ganharam força com Leopold von Ranke e, posteriormente, 
com a Escola Metódica na França, que serão analisados mais adiante.
É nesse cenário que a história começa a se moldar como ciência, nessa conjun-
tura que mesclava a consolidação das ciências humanas com a consolidação de 
dois importantes Estados nacionais. Com isso, a história acabará se caracterizando 
como uma ciência que vai buscar no passado elementos que ajudem na construção 
da unidade nacional. E se mantendo fiel ao discurso positivista de Comte, esse 
elementos serão suportados com documentos históricos produzidos na época 
pesquisada, as chamadas fontes primárias. Para Barros (2013, documento on-line):A atenção central à “fonte de época”, e a uma metodologia que a permitisse 
abordar com maior precisão, constituiu o vértice de partida do ideário histori-
cista, cumprindo notar que os historicistas sempre insistiram acertadamente em 
fazer notar que esta atenção às fontes deve ser acompanhada pela consciência 
de que qualquer documento ou texto foi um dia produzido por seres humanos 
sujeitos a contextos históricos e interesses específicos.
Sendo assim, como vemos nessa citação do professor José D'Assunção de 
Barros (2013), graças aos metódicos a imagem do historiador vai se firmar 
como a do profissional que vasculha arquivos e busca em antigos documentos 
embasamento para suas pesquisas. O tratamento das fontes primárias vai 
adquirir suma importância no fazer historiográfico, com a história deixando 
3O conhecimento histórico científico
de ser um gênero literário para se tornar a ciência do homem no seu tempo. 
Com isso, a fidelidade ao documento histórico se torna a raison d'être do 
historiador, sendo necessária a elaboração de toda uma metodologia para a 
extração das informações contidas nos documentos.
A escola metódica e seu método: 
uma história “patriota”
Formada na França, a Escola Metódica tinha como principais nomes Charles-Victor 
Langlois e Charles Seignobos. Essa escola do século XIX tinha fortes características 
patriotas. No contexto da França pós-revolucionária, a ideia era organizar um 
novo modelo de história com base científi ca, capaz de se reconciliasse com um 
passado mais distante e fornecer um novo elemento de unidade nacional para a 
o contexto pós-Restauração a partir de 1815. Esse próprio sentimento de unidade 
nacional também embalava os historiadores franceses que buscavam fazer uma 
história voltada para a identidade nacional. Essa mesma motivação era percebida 
quando da unifi cação da Alemanha e Itália, que tinham como de suma importância 
a construção de uma narrativa que estabelecesse um elemento de unidade para 
nações que após séculos separadas estavam se unifi cando.
Realizadas em 1870 e 1871, as unificações da Itália e da Alemanha são comumente 
chamadas de unificações tardias, por terem ocorrido cerca de 500 anos depois de 
demais movimentos similares no continente europeu. Como forma de criar um senti-
mento de unidade nacional entre os povos das terras que estavam sendo anexadas, o 
resgate de mitos fundadores dos povos germânicos e italianos foi amplamente usado. 
Para entender melhor o caso alemão, você pode acessar o artigo “‘Hail Arminius: o 
pai dos alemães!’: a construção mítica da unificação alemã entre 1808 e 1875” (SILVA; 
ALBUQUERQUE, 2017) no link a seguir.
https://qrgo.page.link/QDtJx
Para isso, foi também fundamental a revista Revue Historique, publicada 
por Gabriel Monod e Gustave Charles Faganiez, a partir de 1876. Eles privi-
legiaram as fontes primárias como matéria-prima do trabalho do historiador, 
O conhecimento histórico científico4
buscando fazer uma história com uma narrativa objetiva e neutra, privilegiando 
o documento e os métodos de análise como forma de comprovação. Gabriel 
Monod vinha propunha uma revista que fosse “[...] uma coletânea de ciência 
positiva e de livre discussão” (DOSSE, 2001, p. 17).
Outra importante influência para a Escola Metódica foi a do historia-
dor Ernest Lavisse, de quem Seignobos fora aluno e protegido (BURKE, 
1992). Nas palavras de François Dosse (2001, p. 18), Lavisse foi “[...] o 
grande mestre que vai reinar do final do século XIX e início do século XX”. 
Herdeiros de Jules Michelet, Lavisse, Monod e seus colaboradores da Revue 
Historique vão somar às ambições de uma história nacionalista uma proposta 
de história científica.
 Nesse contexto, foi de fundamental importância a figura do historiador 
alemão Leopold von Ranke (Figura 2). Seu trabalho influenciou não somente 
seus compatriotas como também os historiadores franceses, como os próprios 
fundadores da Revue Historique entre outros, que tiveram acesso a suas 
ideias quer por meio de publicações e congressos quer indo estudar na própria 
Alemanha, como Seignobos o fez.
Figura 2. Leopold von Ranke.
Fonte: File... (2019b, documento on-line).
5O conhecimento histórico científico
Grande parte desse interesse foi motivado pela derrota da França na guerra 
franco-prussiana, quando tais pensadores viram nesse intercâmbio uma opor-
tunidade de compreender as razões de tal revés, bem como uma forma de fazer 
sua pátria progredir científica e militarmente (PAYEN, 2011).
A guerra franco-prussiana ou franco-germânica foi um confronto entre o Império 
Francês e o Império Prussiano (atual Alemanha), entre 19 de julho de 1870 e 10 de maio 
de 1871. Parte importante do processo de unificação da Alemanha, a guerra começou 
com uma querela envolvendo a sucessão do trono espanhol e terminou com a vitória 
incontestável dos prussianos. Você pode encontrar mais detalhes no artigo “Do Império 
à Comuna: a guerra franco-prussiana e as revoltas de Paris” (VALLE, 2014).
Leopold von Ranke
Fundador da escola histórica alemã e Historiógrafo Real da Corte da Prússia, 
Ranke é frequentemente citado como o fundador da “história científi ca” (até então 
a história era considerada um ramo da literatura, muito mais próximo do que hoje 
chamamos de memória). Como critério de cientifi cidade, Ranke se utilizava da:
[...] análise integrada das diversas instâncias do documento — entre as quais 
a autenticidade, a veracidade, os modos de análise da própria informação 
que seriam sofisticados gradualmente — a própria coleta de documentação 
e constituição de novos tipos de fontes (na época de Ranke, essencialmente 
arquivísticas e ligadas à política, à diplomática e às instâncias institucionais) 
[...] um elemento que trouxe efetivamente um novo tônus àquela historiografia 
que agora se postulava como científica (BARROS, 2013, documento on-line).
Ranke tinha como prioridade o emprego de fontes primárias, o uso da 
história narrativa e foco em mostrar o passado como ele ocorreu. O assunto 
prioritário de suas obras era a política internacional e seus escritos tinham 
como método principal a citação das fontes primárias buscando o que chamava 
de “[...] tendências dominantes em cada século”; porém, ele não se limitava 
exclusivamente à política, escrevendo também sobre a Reforma e a Contrar-
reforma, história da sociedade, da arte e da literatura (BURKE, 1992, p. 18). 
Essa sua abordagem vai influenciar toda a Escola Metódica em sua busca de 
produzir uma história científica.
O conhecimento histórico científico6
Sendo assim, esse novo paradigma historiográfico vai estabelecer que a 
subjetividade deve ser controlada e o documento precisa sofrer dupla crítica: 
uma interna, operando por meio de raciocínio e analogia, e outra externa, 
propiciada pela erudição. Esses valores de objetividade científica atuarão 
também com anseios nacionalistas, como a reconquista de fronteiras exteriores 
e a pacificação do interior do país (DOSSE, 2001).
Uma ciência de homens no seu tempo
Ao amalgamar a busca por uma identidade nacional e o dever de construir uma 
ciência positiva do passado, a história feita pela Escola Metódica vai se fi rmar 
como uma ciência dos homens no seu tempo. Baseados no historicismo alemão, 
os pensadores franceses criaram uma ciência fortemente focada na abordagem 
(e respeito) de fontes primárias e nos grandes nomes da política, como vemos 
nesta passagem de Gabriel Monod (um dos fundadores da Revue Historique):
[...] A história do passado acaba por adquirir uma influência sobre a própria política, 
pois preside a esse movimento das nacionalidades que domina a política contem-
porânea. É pela história que os povos tomam consciência de sua personalidade. 
O movimento nacional alemão, o movimento nacional italiano, o movimento 
nacional tcheco, o movimento nacional húngaro, o movimento nacional eslavo, 
embora não tenham sido criados pela erudição histórica, nela encontraram, ao 
menos, um poderoso auxiliar, um núcleo de excitação,um ativo instrumento de 
propaganda. (MONOD, 1889 apud PAYEN, 2011, documento on-line).
Influenciados pelas ideias de Ranke e Comte, os historiadores faziam 
uma crítica ao modelo que chamado “História Mestra da Vida”. Segundo esse 
modelo, a “[...] história era, antes de mais nada, percebida como provedora 
de modelos de comportamentos. Ela deveria servir à instrução do leitor 
[...] considerada como uma reserva de exempla destinada à instrução e à 
edificação dos leitores” (PAYEN, 2011, documento on-line). Sendo assim, 
a história não tinha uma finalidade meramente explicativa, mas também 
moralizante, já que deveria fornecer exemplos de conduta para os cidadãos 
do país. Esta história de cunho mais analítico era vista pelos românticos como 
uma história “fatalista”, pois se concentrava em explicar os acontecimentos 
como produto de “determinantes sociais” (FONTANA, 2004). O rompimento 
com esse modelo já começara a ser ensaiado na França após a revolução, 
e teve nos trabalhos de Adolphe Thiers e François Mignet importantes 
precursores. No entanto, somente após 1876 é que se dará o rompimento 
7O conhecimento histórico científico
definitivo. Mesmo em importantes trabalhos como A História da França 
(1847), de Jules Michelet, ainda há a presença da abordagem literária, tão 
cara aos românticos, porém com um cunho mais identificado aos ideais do 
liberalismo burguês da França pós-revolucionária.
Foram os metódicos que romperam com essa ideia e se propuseram a fazer 
uma história calcada no rigoroso escrutínio das fontes e na crítica constante ao 
trabalho do historiador. Esses historiadores eram profundamente críticos do 
que denominavam “História Romântica”, pois identificavam nela uma “escrita 
histórica puramente factual desprovida de sentido” (DOSSE, 2001, p. 12).
Essa preocupação com a história como um elemento formador da unidade 
nacional, privilegiando a política e a biografia de grandes homens, já aparecia 
no trabalho de Ranke e do historicismo alemão. Bons exemplos são obras como 
História das Nações Latinas e Teutônicas de 1494 a 1514 (1824), Hardenberg 
e a História do Estado Prussiano de 1793 a 1813 (1877) e Memórias da Casa 
de Brandemburgo e História da Prússia (1847–1848). No caso dos analíticos, 
esse interesse fica evidente em obras como Introdução aos Estudos Históricos 
(Langlois, 1898), História do Povo Romano (Seignobos, 1902) e Estudos 
críticos sobre as fontes da história carolíngia (Monod, 1898). O próprio Ga-
briel Monod também já havia escrito livros de caráter mais biográfico, como 
Gregório de Tours (1872) e outro sobre um importante cronista do século VII, 
Fredegário (1895). Essa preferência pela história política e por uma história 
de grandes homens se tornou o principal foco das críticas feitas por Febvre e 
seu companheiros dos Annales, conforme veremos a seguir.
Para entender melhor sobre as aproximações da história romântica com a literatura tão 
criticadas pela Escola Metódica, uma boa recomendação de leitura é o artigo “Jules 
Michelet: um historiador às voltas com a crítica literária”, de autoria de Maria Juliana 
Gambogi Teixeira, que pode ser acessado pelo link a seguir.
https://qrgo.page.link/XnR4W
Crítica aos metódicos
Posteriormente, a Escola Metódica sofreu críticas, iniciadas por François 
Simiand em sua obra Método Histórico e Crítica Social. Discípulo do soci-
O conhecimento histórico científico8
ólogo Émile Durkheim (um dos “pais da sociologia”, junto com Max Weber 
e Karl Marx), Simiand atacava o que chamava de os três “ídolos da tribo dos 
historiadores”: o “ídolo político” (como ele chamava a eterna preocupação 
de se fazer uma história política, de fatos políticos, guerras, etc.), o “ídolo 
individual” (como ele chamava a ênfase exagerada em grandes homens) e 
o “ídolo cronológico” (como ele chamava o hábito do historiador se perder 
nas origens) (BURKE, 1992). Essas críticas vinham do caráter político, 
individual e cronológico caro aos historiadores dessa escola (em especial 
Charles Seignobos, que foi transformado em símbolo daquilo a que esses 
novos historiadores se opunham) e não tinham o mesmo apreço no âmbito 
das ciências sociais da época.
Além de Simiand, os fundadores da Escola dos Annales, Marc Bloch e Lucien 
Febvre, fizeram novas críticas. Sobre os ombros desses historiadores também 
pesava o trauma da Primeira Guerra Mundial, na qual eles viam o modelo ana-
lítico como parcialmente responsável pelo que viveram. Para Bloch e Febvre, o 
modelo nacionalista e político defendido por Ranke e também pelo metódicos foi 
corresponsável por toda aquela tragédia. O tom dessa crítica ficou meio dividido 
entre esses dois grandes nomes, sendo Febvre mais enfático. Porém, todos eles 
tiveram em comum as críticas ao historicismo alemão, em especial ao que eles 
consideravam uma história política (BRAUDEL, 2007) e uma história narrativa 
(REVEL, 1989). De acordo com Fontana (2004), ficava evidente que esse modelo de 
objetividade científica defendido pelo historicismo alemão e pela Escola Metódica 
era uma máscara para seu verdadeiro propósito de servir à educação das classes 
dominantes e de produzir uma visão de história nacional que pudesse ser ensinada 
e divulgada nas escolas. De qualquer forma, a Escola Metódica foi fundamental 
para elevar a história ao patamar de ciência, o que era inegável até mesmo para 
seus críticos da Escola dos Annales, como Bloch e Febvre.
Um bom exemplo das críticas que Bloch faz ao modelo analítico pode ser encontrado 
no artigo “A Força da Tradição: a persistência do Antigo Regime historiográfico na obra 
de Marc Bloch", de Tiago De Melo Gomes. Nele, porém, o autor fala não apenas das 
críticas que Bloch tinha aos analíticos, como também da presença dos próprios na 
obra dele. Você pode acessar o artigo pelo link a seguir.
https://qrgo.page.link/zgJ5H
9O conhecimento histórico científico
Se, por um lado, a Escola Metódica produziu uma história que pode tanto 
ser acusada de “ingênua” pela sua fé exagerada nos documentos e pela busca 
da neutralidade e imparcialidade quanto de “elitista” por sua predileção pelos 
grandes homens, pela política e pelos grandes fatos nacionais, por outro não 
podemos negar sua importância na maturação do estudo da história, afastando-a 
da literatura e buscando a profissionalização dos historiadores. Seu empenho 
em afastar-se do amadorismo dos historiadores românticos também foi de 
suma importância para o desenvolvimento de toda uma metodologia e uma 
ética de trabalho que, mesmo com certas atualizações e críticas, ainda hoje 
são empregadas. É bem verdade que, desde então, o universo documental 
acabou se ampliando, mas o trabalho do historiador ainda é feito a partir de 
documentos que servem de vestígios da época investigada e que devem ser 
criticados à exaustão. O escopo dos atores sociais também se expandiu, mas 
a história ainda é feita a partir de pessoas que tiveram relevância no período 
estudado (embora a disciplina tenha pedido muito do seu caráter personalista 
e por vezes biográfico). 
É com o final da Primeira Guerra que todo esse pensamento vai ser posto 
em cheque e um novo modelo será elaborado. Nos anos seguintes, a história 
dos metódicos, voltada à política, à narrativa e aos grandes homens, deu 
lugar a uma “nova história” que buscou ser uma história-problema, voltada a 
entender todos os aspectos da sociedade: uma História Total.
BARROS, J. A. Ranke: considerações sobre seu modelo historiográfico. Diálogos, v. 17, n. 
3, p. 977–1.004, 2013. Disponível em: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Dialogos/
article/download/35976/18595. Acesso em: 14 ago. 2019.
BRAUDEL, F. Escritos sobre a história. São Paulo: Editora Perspectiva, 2007.
BURKE, P. A Revolução Francesa da historiografia: a Escola dos Annales 1929–1989. São 
Paulo: Editora UNESP, 1992.
DOSSE, F. A história à prova do tempo: da história em migalhas ao resgate do sentido. 
São Paulo: Editora UNESP, 2001.
FILE: Eugène Delacroix — La liberte guidant le peuple. WikimediaCommons, the free 
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O conhecimento histórico científico10
FILE: Jebens, Adolf — Leopold von Ranke (detail) — 1875. Wikimedia Commons, the free 
media repository, 2019b. Altura: 600 pixels. Largura: 433 pixels. Formato: JPG. Disponível 
em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jebens,_Adolf_-_Leopold_von_Ranke_
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FONTANA, J. A História dos homens. Bauru: EDUSC, 2004.
HOBSBAWM, E. J. A era dos impérios 1875-1914. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
PAYEN, P. A constituição da história como ciência no século XIX e seus modelos anti-
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p. 103–122, 2011. Disponível em: https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/
article/download/250/180. Acesso em: 14 ago. 2019.
REVEL, J. A invenção da sociedade. Lisboa: Difel; Rio de Janeiro: Bertand, 1989.
Leituras recomendadas
GOMES, T. M. A força da tradição: a persistência do antigo regime historiográfico na 
obra de Marc Bloch. Varia Historia, v. 22, n. 36, p. 443–459, 2006. Disponível em: http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-87752006000200011&lng=e
n&nrm=iso. Acesso em: 14 ago. 2019.
SILVA, D. G. G.; ALBUQUERQUE, M. C. “Hail Arminius! O Pai dos Alemães!”: a construção 
mítica da Unificação Alemã entre 1808 e 1875. Topoi (Rio de Janeiro), v. 18, n. 35, p. 330-355, 
2017. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-
-101X2017000200330&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 14 ago. 2019.
VALLE, C. O. Do Império à Comuna: a guerra Franco-Prussiana e as revoltas de Paris. 
In: ENCONTRO REGIONAL DA ANPUH-RIO: Saberes e Práticas Científicas, 16., 2014, Rio 
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rj.anpuh.org/resources/anais/28/1400267970_ARQUIVO_artigocompletoanpuhCami-
laValle.pdf. Acesso em: 14 ago. 2019.
11O conhecimento histórico científico
DICA DO PROFESSOR
Como todo ramo da Ciência, a História obedece a etapas e procedimentos de trabalho, os quais 
têm por finalidade estabelecer critérios de cientificidade para garantir a qualidade e a idoneidade 
da produção de conteúdo.
Para ajudar a compreender como a História se consitituiu em conhecimento científico, nesta 
Dica do Professor, você verá algumas etapas da construção do conhecimento histórico. 
Acompanhe a seguir.
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EXERCÍCIOS
1) O século XIX foi definidor para a formação do mundo contemporâneo e das ciências 
sociais. Diversos acontecimentos mudaram a face do planeta e moldaram o mundo 
para uma nova realidade até então impensada.
Diante disso, pode-se afirmar que os elementos redefinidores característicos dessa 
época foram:
A) a consolidação da Sociologia e da Antropologia como ciências sociais e a Queda da 
Bastilha.
B) a publicação da revista Revue Historique e a Guerra de Independência dos Estados Unidos.
C) a Guerra Franco-Prussiana e a publicação da Declaração dos Direitos do Homem e do 
Cidadão.
D) a unificação da Alemanha e da Itália e a Guerra Franco-Prussiana.
E) a unificação da Alemanha e da Itália e o assasinato do arquiduque Francisco Ferdinando.
2) A noção de ciência positiva, de Auguste Comte, foi crucial para a consolidação da 
História como conhecimento científico. Também chamada de Positivismo, essa 
vertente foi extremamente importante para a sistematização das ciências sociais, 
como a Sociologia e a Antropologia.
Nesse sentido, tal vertente afirmava que:
A) a ciência deveria ser, acima de tudo, a investigação do real, feita a partir de observação, 
experimentação, comparação e classificação como métodos, buscando estudar as leis.
B) a ciência deveria ser, acima de tudo, a investigação do real, feita a partir de observação, 
experimentação, comparação e classificação como métodos, buscando estudar as causas.
C) a ciência deveria ser apenas mais uma entre várias outras narrativas e saberes que 
buscavam explicar a realidade e aceitar que o discurso desses saberes é tão válido quanto o 
dela.
D) a ciência deveria, acima de tudo, buscar encontrar soluções para os diversos problemas da 
sociedade, mais do que pura e simplesmente tentar explicá-la.
E) não importava quais fossem todos os fenômenos, sejam eles sociais, naturais ou de 
qualquer outra origem, estes provêm somente de um único princípio, o qual é sua 
explicação.
Além do Positivismo de Comte, a Escola Metódica Francesa teve muita influência do 
historicismo alemão. Essa corrente científica teve Leopold Von Ranke como seu 
principal expoente, e o periódico Historische Zeitschrift como principal veículo, 
valorizando princípios como veracidade, autenticidade e formas de análise da 
informação.
Nesse cenário, pode-se afirmar que os principais motivos da influência alemã na 
3) 
historiografia francesa foram:
A) o avanço dos problemas decorrentes da industrialização e o reconhecimento de novas 
metodologias aprendidas na Universidade de Berlim.
B) o reconhecimento de um modelo de história total que se preocupasse com todos os 
aspectos da sociedade e o avanço dos problemas decorrentes da industrialização.
C) o avanço dos problemas decorrentes da industrialização e o desejo de buscar uma história 
que desse conta da trajetória dos povos vencidos.
D) a derrota da França na Guerra Franco-Prussiana e o desejo de buscar um modelo 
historiográfico que desse conta de trabalhar com fontes materiais.
E) a derrota da França na Guerra Franco-Prussiana e o desejo de aperfeiçoar as ciências e 
demais saberes no país, por meio do aprendizado com os alemães.
4) A principal busca da Escola Metódica era fazer uma história científica, em oposição à 
história romântica – modelo até então vigente na época –, que estava mais ligada à 
literatura do que à ciência.
É correto afirmar que essa busca por modelos científicos de análise histórica resultou 
em um modelo historiográfico que:
A) privilegiava as fontes primárias de diversas origens (materiais, orais, escritas) como 
matéria-prima do trabalho do historiador, buscando fazer uma história que tentasse 
entender o ponto de vista de grupos marginalizados na sociedade.
B) privilegiava as fontes primárias como matéria-prima do trabalho do historiador, buscando 
fazer uma história com uma narrativa objetiva e neutra, privilegiando o documento e os 
métodos de análise como forma de comprovação.
C) privilegiava as fontes primárias como matéria-prima do trabalho do historiador, buscando 
fazer uma história total e politicamente engajada e cobrir todos os aspectos do período 
tratado.
D) privilegiava as fontes primárias como matéria-prima do trabalho do historiador, buscando 
fazer uma história com uma narrativa marxista e dar um novo tratamento para a cultura, 
tentando entender a luta da classe trabalhadora nos diversos períodos de tempo.
E) privilegiava as fontes primárias orais como matéria-prima do trabalho do historiador, 
buscando fazer história com a reprodução escrita de relatos de testemunhas oculares.
5) Tanto no final do século XIX quanto após a Primeira Guerra Mundial, começaram a 
surgir críticas à Escola Metódica, que eram provenientes de diferentes áreas do 
conhecimento, como cientistas sociais, que viam falhas no modelo científico da 
história metódica desde o início do século XX, e novos historiadores, que vinham com 
um novo modelo, a partir da década de 1920.
Tais críticas acusavam o modelo analítico, afirmando que:
A) seu caráter político e o modelo nacionalista foram corresponsáveis por toda a tragédia da 
Primeira Guerra Mundial.
B) seu caráter factual o tornava prisioneiro do acontecimento e incapaz de determinar 
aspectos estruturantes, o que prejudicava suacientificidade.
C) seu caráter excessivamente relativista acabava por negar a cientificidade da História e 
poderia dar magens a revisionismos perigosos.
D) seu caráter político e economicista deixava pouco espaço para abordagens de ótica cultural 
e dava pouca margem de ação para o livre-arbítrio humano.
seu caráter idealista, voltado para uma finalidade da História como "Mestra da Vida", era E) 
algo pouco científico e ultrapassado.
NA PRÁTICA
Parte do trabalho do historiador concentra-se na organização e no tratamento de instituições 
diversas, como governos, Forças Armadas e até mesmo empresas e ordens religiosas. O ser 
humano está a todo tempo produzindo documentação sobre seu passado, mas nem sempre ela é 
devidamente organizada e catalogada; daí a importância do trabalho do historiador e de outros 
profissionais em organizar todo esse material.
Neste Na Prática, você verá como decorreu o trabalho do Centro de Memória, Pesquisa e 
Documentação de Cantagalo (CMPD), no Rio de Janeiro, em catalogar a documentação dos 
registros de batismo e matrimônio do Santuário Diocesano do Santíssimo Sacramento de 
Cantagalo. Perceba como a metodologia da Escola Metódica pôde ser aplicada nesse caso.
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do 
professor:
O Positivismo Histórico
O Positivismo Histórico foi uma corrente historiográfica que surgiu no século XIX, influenciada 
pelo clima de cientificismo e nacionalismo que marcou o continente europeu naquele período. 
No vídeo a seguir, veja as principais características dessa corrente, também conhecida como 
História Tradicional.
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Seignobos x Simiand: a querela do método histórico com a ciência social no início do 
século XX
Neste artigo, você verá sobre as divergências de Simiand com a Escola Metódica, 
compreendendo quais foram os principais pontos falhos dessa matriz historiográfica. Confira.
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A historiografia francesa do século XIX nas páginas da Revue Historique (1876-1914)
Neste artigo, você vai compreender a influência que a Revue Historique e os periódicos 
científicos, de forma geral, tiveram na divulgação de novas formas do pensamento científico. 
Boa leitura.
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O ofício do historiador
APRESENTAÇÃO
Ofício relativamente recente (sua origem remonta ao século XIX), o historiador teve várias 
vezes seu papel questionado e ampliado ao longo do século passado, ao sabor das diferentes 
correntes históricas que surgiram. Porém, ele se consolidou como o profissional que pesquisa e 
escreve a História. Assim, apesar da metodologia ter mudado ao longo do século, o ofício se 
fixou no decorrer dele.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você verá qual é o ofício do historiador e como as diferentes 
abordagens influenciaram nesse processo de consolidação. Também será discutido como a 
História enquanto disciplina científica foi mudando ao longo do século XX.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Diferenciar a história narrativa da história problema.•
Definir as causas modificadoras do processo histórico nas décadas de 1960-1970.•
Analisar a participação das ciências humanas e sociais na revisão das teorias na pesquisa 
histórica a partir de 1970.
•
DESAFIO
Desde Bloch e Braudel que a proposta de se fazer uma História Total era deixar de olhar 
somente para os fatos e os grandes nomes da História, para se entender como problemas que 
incomodam o historiador no presente eram lidados no passado. Não é à toa que essa modalidade 
também foi conhecida como História problema. Um ponto em comum tanto entre a terceira 
geração da escola dos Annales quanto a Nova Esquerda Britânica é de se dar voz às classes 
subalternas. Essa preocupação (que de certa forma já estava presente também n'Os reis 
taumaturgos, de Bloch) tem por objetivo colocar o povo como protagonista e diversificar as 
fontes de análise histórica, para se ter um quadro mais fiel.
Levando em conta esse contexto, imagine que você é professor de história de uma turma do 
sexto ano do ensino fundamental e, de acordo com o conteúdo planejado para este semestre, 
você deve construir um modelo para uma atividade que busque fazer o aluno reconhecer-se, e 
também a sua comunidade, como protagonista da história.
INFOGRÁFICO
A constituição da Escola dos Annales se deu como uma resposta ao historicismo alemão e à 
escola metódica. Ela veio como uma alternativa a uma proposta cronológica e personalista 
dessas duas escolas, buscando fazer uma História Total que abarcasse os diversos aspectos de 
um período e não somente falasse de política. 
Neste Infográfico, você verá uma cronologia da Escola Metódica, da sua fundação à terceira 
geração, mostrando como a revista foi se atualizando e se moldando aos acontecimentos e às 
críticas ao longo do século XX.
CONTEÚDO DO LIVRO
Como em todo ramo profissional, o ofício do historiador sofreu várias mudanças ao longo de 
seu processo de consolidação. Mesmo sendo legalizado na França desde o final do século XX, o 
ofício do historiador passou por mudanças em resposta aos diversos acontecimentos que 
marcaram a sociedade ao longo do século XX. Sendo a História a ciência do homem no seu 
tempo e o historiador o profissional que a investiga e escreve, o campo e o profissional foram 
reagindo a esses acontecimentos e se adaptando à realidade.
No capítulo O ofício do historiador, da obra Teoria da História e Historiografia, você verá 
como a História continuou evoluindo como ciência ao longo do século XX e como o ofício do 
historiador se adaptou a tudo isso. 
Boa leitura.
TEORIA DA 
HISTÓRIA E 
HISTORIOGRAFIA
Nilton Silva Jardim Junior
O ofício do historiador
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Diferenciar a história narrativa da história problema.
  Definir as causas modificadoras do processo histórico nas décadas 
de 1960 e 1970.
  Analisar a participação das ciências humanas e sociais na revisão das 
teorias na pesquisa histórica a partir de 1970.
Introdução
Nenhuma ciência conta com um modelo definitivo. Todo modelo 
científico passa por períodos de crise, superação e substituição por um 
novo. Com a história não é diferente. Apesar de sua importância e de seu 
pioneirismo inegáveis para a estruturação da disciplina como conheci-
mento científico, a Escola Metódica (e até mesmo o historicismo alemão) 
começou a receber pesadas críticas no início do século XX, até que no 
final dos anos 1920 dois historiadores franceses vieram com uma nova 
proposta de modelo historiográfico.
Neste capítulo, você vai ver como as críticas de Marc Bloch e Lucien 
Febvre à Escola Metódica contribuíram para dar origem a uma nova 
forma de se fazer história e a um dos periódicos mais importantes 
da historiografia. Além disso, você vai compreender a relação dessas 
críticas com o trauma gerado pela Primeira Guerra Mundial e o como 
que eles identificavam a proposta dos metódicos como responsável. 
Por fim, vai entender também as mudanças pelas quais o pensamento 
historiográfico passou ao longo do século XX e sua relação com o que 
acontecia no mundo.
A distinção entre história narrativa 
e história problema
Peter Burke certa vez afi rmou que gostava de pensar nos historiadores como 
guardiões dos esqueletos do armário da memória social (BURKE, 2000). 
Esse ponto de vista diz muito sobre as mudanças e críticas propostas por 
Lucien Febvre e Marc Bloch no fi nal dos anos 1920 (Figura 1). Até então, o 
modelo de “história dos grandes homens”, defendido pelos metódicos, era 
infl uenciado pelo historicismo alemão e pela derrota da França na guerra 
franco-prussiana. Esse grupo liderado por Gabriel Monod, Charles Seignobos 
e Gustave Charles Faganiez tinhacomo proposta uma história científi ca com 
caráter político, voltada para a construção da identidade nacional. Para isso, 
o historiador deveria se dedicar a "escavar" os arquivos e se debruçar sobre os 
documentos, escrutinando-os à exaustão. O signo máximo da cientifi cidade 
se tornou a fi delidade aos documentos. Sendo assim, o historiador deveria ter 
extremo cuidado ao analisá-los.
Figura 1. Marc Bloch e Lucien Febvre.
Fonte: Annales1 ([20--?], documento on-line).
Nesse princípio de século XX, tal escola historiográfica era acusada 
de, sob uma justificativa de cientificidade, ter como verdadeiro propósito 
servir à educação das classes dominantes e produzir uma visão de história 
nacional que pudesse ser lecionada e divulgada nas escolas (FONTANA, 
O ofício do historiador2
2004). Por sua extrema preocupação com essa questão de construir uma 
narrativa contando a história do país ou de uma determinada figura, esse 
modelo historiográfico ficou conhecido como “história narrativa” pelos 
seus críticos da geração dos Annales. Assim, o modelo da história narrativa 
seria “[...] o da organização do caos de eventos em uma Trama da qual, 
antes mesmo da pesquisa, o historiador já conhece o seu fim. Esta narrativa 
linear [...] tem como modelo a biografia unilinear e falsamente coerente, 
com início e fim” (BARROS, 2010, documento on-line). A bem da verdade, 
os annalíticos (como chamaremos daqui por diante os ligados à escola dos 
Annales) não foram os primeiros a criticar o modelo da Revue Historique, 
conforme veremos adiante. 
Comte, por exemplo, referia-se à história narrativa feita pelos metódicos 
como “[...] insignificantes detalhes estudados infantilmente pela curiosidade 
irracional de compiladores cegos de anedotas inúteis”, e defendia que fosse 
feita uma “História sem nomes” (BURKE, 1991, p. 20). Pesavam também 
críticas de Émile Durkheim e François Simiand de que os metódicos tinham 
uma abordagem de caráter excessivamente político, individual e cronoló-
gico (BURKE, 1991). Em geral, o que fica patente em todas as críticas é o 
desinteresse por uma abordagem cronológica, personalista e nacionalista, 
que era a tônica dessa história narrativa feita pelo grupo da Revue Histori-
que. Fazendo justiça aos metódicos, sua preocupação com os documentos 
e os arquivos foi de suma importância para estabelecer as primeiras bases 
do trabalho do historiador como cientista social e para fincar as primeiras 
metodologias científicas da historiografia. Porém, é inegável também que 
as críticas recém-mencionadas são válidas. Sob o argumento de se manter 
uma imparcialidade científica, os metódicos e historicistas construíam, em 
sua maioria, narrativas de origem que deixavam de lado grandes questões, 
privilegiando acima de tudo o fato e o personagem histórico em detrimento 
ao povo e outros segmentos.
Contra isso, dois jovens historiadores franceses vieram com a proposta de 
realizar uma história que se assemelhasse a uma “psicologia social”, abarcando 
diversos aspectos da vida das pessoas. Além disso, seria uma abordagem inter-
disciplinar, que estabelecesse diálogos com outros saberes, como a geografia e 
a psicologia, por exemplo. Com isso, teríamos uma História Total ou História 
Problema, numa clara tentativa de se desvincular do modelo vigente. Como 
o professor José D'Assunção Barros (2010, documento on-line) aponta: “[...] 
constituem a identidade dos Annales como um movimento: a interdisciplina-
ridade, a problematização da história, e as novas proposições nas formas de 
conceber o Tempo”. No próprio número de estreia de sua revista (a Annales 
3O ofício do historiador
d’histoire économique et sociale, de 15 de janeiro de 1929), já era enfatizada a 
necessidade de intercâmbio entre historiadores e cientistas sociais (BURKE, 
1991). Tal proposta ficou conhecida como histoire totale. Como aponta Barros 
(2010, documento on-line): 
Trata-se de reconstruir o vivido através de problemas e motivações da épo-
ca do próprio historiador. Para além disto, trabalhar com um “problema” 
pressupõe o gesto de reconhecer e explicitar para os leitores os conceitos 
e fundamentos que estão por trás do problema e das escolhas historiográ-
ficas, e não esconder estes conceitos dos olhos do leitor, para forjar o mito 
da neutralidade.
Segundo essa nova perspectiva, o fato histórico deixa de ser visto como 
um dado já constituído, para ser encarado como uma construção do histo-
riador, já que o trabalho do historiador passa a ser focado em um problema 
suscitado por ele próprio, a partir das motivações de sua época. Essa será a 
tônica dos Annales: o desenvolvimento de uma história obedecendo a tais 
moldes de problematização. O historiador passa a adotar uma perspectiva 
de Janus (deus grego de duas faces, uma olhando para o passado e outra 
olhando para o futuro), em que mira o passado para entender questões que 
o incomodam no presente. Assim, o historiador não mais se preocupa em 
construir narrativas de origem com viés patriótico, e passa a se debruçar 
em questões que despertam seu interesse no presente para ver como essas 
questões se desenvolveram no passado. Não há como descolar essa nova 
perspectiva da frase de Bloch: “A incompreensão do presente nasce fatalmente 
da ignorância do passado” (BLOCH, 2001, p. 65). Daí a preocupação dele 
e de Braudel em olhar para o passado a partir dos problemas do presente, o 
que se tornou a tônica da revista Annales d’histoire économique et sociale 
em todas as gerações até hoje. Muda-se a metodologia, o foco, mas o norte 
da revista continua sendo o de olhar para o passado a partir de problemas 
do tempo presente.
Tal revista foi (e ainda é) de suma importância para a sistematização da 
proposta de História Problema de Febvre e Bloch, que aconteceria basicamente 
quando “[...] os historiadores atribuem um sentido ao objeto e lhe direcionam 
questionamentos que oportunizam a inversão do que se pensa sobre ele, ex-
pressando um produto inédito” (SANTOS; ANDRADE, 2015, documento 
on-line). Tal objeto deixou de ser as biografias de grandes figuras históricas e os 
fatos políticos de um país, para se voltar para sistemas de crenças, como visto, 
por exemplo, na obra Os reis taumaturgos, de Marc Bloch, ou em Martinho 
Lutero, um destino, de Lucien Febvre.
O ofício do historiador4
A revista sofreu um duro baque quando, em 1944, Marc Bloch foi preso, 
torturado e assassinado pelo governo nazista. Era época da Segunda Guerra 
Mundial e a França se encontrava ocupada pelos nazistas desde 1940. Isso 
obrigou uma série de mudanças na revista, como a alteração de seu título 
para Mélanges d'histoire sociale a partir de 1942 (o que se manteve até 
1944) e o afastamento de Bloch (que era judeu e fora vetado pelo governo 
nazista) do corpo editorial (FONTANA 2004). Mesmo após a morte de Bloch, 
Febvre continuou publicando a revista, que segue até hoje sendo publicada 
e se reinventando constantemente, sob título Annales. Histoire, Sciences 
sociales (Annales HSS).
Para saber mais sobre as interações da abordagem de Febvre e Bloch com a psicologia, 
leia o artigo “A história psicológica de Lucien Febvre e Marc Bloch”, de Lucineide Demori 
Santos e Solange Ramos de Andrade, disponível no link a seguir.
https://qrgo.page.link/eup3i
1960–1970: identificando as mudanças na história
A década de 1960 é conhecida por importantes transformações. A guerra do 
Vietnã, a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, os protestos universitários 
na Sorbonne (França), o golpe militar no Brasil e o surgimento de diversas 
outras ditaduras militares com apoio americano na América Latina foram 
alguns acontecimentos que mudaram a face do planeta, alterando situações 
que se achavam imutáveis. No meio acadêmico, essas alterações tampouco 
passaram despercebidas e causaram grande alvoroço, inspirando diversas novas 
leituras acerca da realidade, mudando a forma de se fazer pesquisa histórica.
Sobre os protestos de 1968, vale a pena dedicarmos um parágrafo à parte 
para compreendersua importância. Na França, esse movimento se originou 
a partir de protestos que ocorreram na Universidade de Paris Nanterre contra 
a divisão de dormitórios masculinos e femininos, além da articulação de 
vários movimentos de esquerda dentro do meio universitário. Em paralelo 
aos protestos franceses, ocorreram diversos outros movimentos ao redor 
do mundo: a mobilização da juventude tanto nos Estados Unidos quanto na 
5O ofício do historiador
Europa contra guerra americana no Vietnã, a revolta dos negros nos Estados 
Unidos, a luta armada na América Latina e na África, a Revolução Cultural na 
China (1966–1969), entre outros (THIOLLENT, 1998). Além disso, ocorreu a 
maior greve geral até então na Europa e diversas manifestações em Berkeley, 
Turim, Londres, Praga, México, entre outros lugares, as quais, nas palavras de 
Varella e Della Santa (2018, documento on-line) “[...] colocaram os ‘de baixo’ 
no epicentro do processo histórico”. Vale lembrar, como as outores destacam:
O baby boom do pós-guerra e o impulso científico e tecnológico, [...] pari passu 
com as conquistas sociais do Estado Social, tinham aberto as universidades 
às classes trabalhadoras, [e] o número de estudantes no ensino superior tinha 
passado de 175 mil para mais de meio milhão em dez anos (entre 1958 e 1968) 
(VARELLA; DELLA SANTA, 2018, documento on-line).
Essa combinação de aumento do número de estudantes universitários 
com o aumento do número de filhos da classe trabalhadora na universidade 
foi fundamental para dar origem a um protesto sem precedentes na história. 
Tais protestos representaram uma ruptura de grande relevância na história 
contemporânea dada a sua forma repentina e radical, mas de difícil mensu-
ração no meio acadêmico. Esses movimentos representaram o que Fontana 
(2001, p. 381) chamou de “reviravolta cultural”, pois uma de suas principais 
características foi “[...] a negação da cultura estabelecida”. Em geral, esses 
movimentos serviram para abalar o estruturalismo presente no meio acadêmico 
e expandir as fronteiras da ciência histórica.
Para o grupo dos annalíticos, a década de 1960 foi um momento de transição. 
Marcou o fim da era sob direção de Fernand Braudel e sua abordagem geo-
-história de longa duração para uma nova geração. Com nomes importantes, 
como Pierre Nora e Jacques Le Goff, essa nova geração marca um período de 
internacionalização dos Annales e de flertes com a antropologia e a sociologia, 
além da ascensão daquilo que ficou conhecido como História das Mentalidades 
e uma abordagem que buscava olhar para pequenos casos a fim de entender 
como funcionavam grandes estruturas em realidades menores, conhecida com 
“micro-história”. Um bom exemplo é o livro Montaillou, povoado occitânico, 
1294–1324, de Emmanuel Le Roy Ladurie (1997). Nessa obra, a partir da his-
tória de um vilarejo na região da Occitânia (França), Ladurie (1997) combinou 
a análise histórica do detalhe com os estudos antropológicos, fazendo o que 
Burke (1991, p. 97) denominou como estudar “[...] o mundo através de um 
grão de areia”. Nas palavras do próprio Burke (1991, p. 96) sobre essa obra:
O ofício do historiador6
A novidade de sua abordagem está em sua tentativa de escrever um estudo 
histórico de comunidade no sentido antropológico — não a história de uma 
aldeia particular, mas o retrato da aldeia escrita nas palavras dos próprios ha-
bitantes, e o retrato de uma sociedade mais ampla, que os aldeãos representam.
Não por acaso, é após esse movimento que surge a geração mais popular dos 
Annales, ganhando espaço até na grande mídia (BURKE, 1991; DOSSE, 2001).
Uma nova esquerda nasce
No outro lado do Canal da Mancha, um importante movimento nasce para 
renovar o pensamento dentro da historiografi a. Descontentes com a invasão 
de Praga e com a ortodoxia marxista no Partido Comunista, seus membros 
se desligam para fundar a New Left Review. Essa revista reuniu brilhantes 
historiadores e cientistas sociais, como Eric Hobsbawm, Stuart Hall, Edward 
Palmer Thompson e Christopher Hill. O grupo buscava entender a história 
da organização das classes populares, suas lutas e ideologias por meio da 
chamada “história social”.
Para isso, tais estudiosos propuseram uma nova abordagem que revia 
alguns pilares da teoria marxista, repensando-a através de uma nova ótica 
sobre a cultura e dando protagonismo às classes operárias. Um bom exemplo 
disso é obra A formação da classe operária inglesa, de Edward Palmer 
Thompson (2012), publicada originalmente em 1963, que quebra com a 
ortodoxia marxista de que uma classe social existe por si só, propondo que 
ela existe somente quando se reconhece como tal e identifica seus adver-
sários. Logo, ela passa por um processo de construção. Além disso, outros 
autores também saem em busca de uma nova ótica para analisar os fatos 
contemporâneos, como foi o caso de Eric Hobsbawm, em sua obra A era 
dos extremos. Para Hobsbawm (1995), o grande acontecimento definidor 
do século XX foi a Guerra Fria; por isso, seu início deve ser delimitado 
pela ascensão da Revolução Russa e seu fim pela queda da URSS. Stuart 
Hall (2005) também buscou entender a globalização sob novas óticas, 
principalmente como ela afeta a questão da identidade nas ex-colônias 
europeias, como podemos ver em obras como A identidade cultural na pós-
-modernidade, em que ele resgata a questão identitária desde o Iluminismo 
para entender como funciona nessa era globalizante. Enfim, os trabalhos 
dessa escola até hoje são de grande relevância e são reconhecidos como obras 
que equilibram rigor científico e engajamento político com equanimidade 
poucas vezes apresentada.
7O ofício do historiador
Conhecido por obras como O Mediterrâneo na época de Filipe II e Escritos sobre 
história, Fernand Braudel sucedeu Lucien Febvre no comando da revista Annales 
d’histoire économique et sociale em 1946, se mantendo até 1968. Tendo que lidar 
com críticas como a do antropólogo Claude Lévi-Strauss, que argumentava que 
a história era uma eterna prisioneira dos acontecimentos, o que a impossibilitava 
de compreender os princípios gerais da sociedade, Braudel (2016) propôs uma 
nova abordagem baseada na longa duração, o que ele chamava de tempo quase 
imóvel. Para conhecer melhor sobre a abordagem de Braudel, leia O Mediterrâneo 
na época de Filipe II, em que ele conta a história do Mar Mediterrâneo, ao invés da 
história do rei espanhol mencionado no título. Embora o tema central continue 
sendo o século XVI, o autor fez incursões em outros períodos históricos, desde a 
Antiguidade até o século XX.
1970: uma época de revisões e influências
Com todas essas mudanças ocorrendo ao longo do tempo, a história vai adqui-
rindo cada vez mais um caráter interdisciplinar. Vale ressaltar que desde fi ns 
dos anos, 1920 a história já fazia intercâmbios com outras ciências. Febvre, 
por exemplo, tinha grande infl uência da geografi a e Bloch tinha interesse por 
psicologia para tentar entender como as estruturas de crença funcionavam. 
O fi m dos anos 1960, com todas as mudanças que já abordamos, propiciou 
intercâmbios da história com áreas como sociologia, antropologia e economia.
É importante destacar que a relação da história com a sociologia não era 
necessariamente amistosa. Comte e Durkheim já faziam críticas à história 
desde fins do século XIX. Tais críticas foram sistematizadas por Simiand e, 
de certa forma, acatadas por Febvre e Bloch, ao construírem sua proposta 
de História Total. Nos anos 1940 e 1950, a crítica viria com toda força da 
antropologia estrutural de Claude Lévi-Strauss, sendo rebatida pela proposta 
da longa duração de Braudel.
As diversas alterações testemunhadas nos anos 1960 obrigaram aos histo-
riadores a repensar o papel da cultura na sociedade. Num primeiro momento, a 
História das Mentalidades, desenvolvida por Nora, Le Goff e outros nomes da 
terceira geração dos Annales, tentou dar conta de como valores perpassavam 
diversos segmentos da sociedade em uma mesma época. Esse movimento 
tambémganhou o apelido de “viragem antropológica” (BURKE, 1991), dado 
o papel que esta ciência exerceu sobre as novas pesquisas então realizadas.
O ofício do historiador8
Com o advento da História Cultural de Roger Chartier (que por vezes é 
considerada uma quarta geração dos Annales), acabou crescendo o intercâmbio 
não apenas com a antropologia, mas também com a literatura. Um dos grandes 
méritos desse novo modelo difundido por Chartier foi ter recuperado a veia 
narrativa/literária da história, mas sem abandonar o seu caráter científico. 
Vale lembrar que a Nova Esquerda do outro lado do Canal da Mancha também 
estava tentando pensar a cultura das classes subordinadas e como isso influen-
ciava em sua mobilização, como e quais valores dessas classes se opunham 
aos dos estratos dominantes e como o colonialismo afetava a identidade dos 
povos diaspóricos. Nesse aspecto, Hall e Thompson foram magistrais. Para 
isso, foram buscar suporte para suas análises tanto na antropologia cultural 
quanto na sociologia da Escola de Chicago (grupo de pensadores surgido na 
Universidade de Chicago na década de 1920, cuja preocupação ia além da busca 
por explicações, interessando-se em encontrar soluções para os problemas da 
sociedade, como criminalidade, exclusão social, etc.).
Todas as edições publicadas dos Annales d’histoire économique et sociale desde o número 
um, em francês, podem ser encontradas no link a seguir.
https://qrgo.page.link/1M5sz 
Sendo assim, se pudéssemos resumir essa história pós-anos 1960, pode-
ríamos dizer que se trata de uma disciplina calcada mais ainda no diálogo 
com outras ciências sociais (em especial a antropologia, no caso francês, e a 
sociologia, no caso inglês). Além disso, é uma história que reflete constan-
temente sobre seu papel e sua relação com o seu objeto de pesquisa: o ser 
humano no seu tempo. Nessa reflexão acerca da relação com o seu objeto, uma 
preocupação constante nessas abordagens que surgiram em ambos os lados do 
Canal da Mancha foi um olhar para os segmentos populares. Lembremos que a 
história romântica, o historicismo alemão e a história metódica francesa eram 
basicamente histórias produzidas por vencedores. Bloch e Febvre começaram 
a identificar isso em trabalhos como, por exemplo, Os reis taumaturgos, em 
que Bloch analisa como a crença do poder de cura dos reis na França contri-
9O ofício do historiador
buía para a manutenção de seu poder na Idade Média. As obras dessa época, 
porém, ainda tinham as classes dominantes como foco principal. A partir 
dessa virada pós-1968, tanto historiadores como antropólogos e sociólogos 
vão buscar colocar o povo, ou melhor, os segmentos subalternos da sociedade, 
como protagonistas históricos, numa perspectiva que ficou conhecida como 
“a história dos vencidos” ou “a história vista de baixo”.
Um bom exemplo de como funcionou essa “viragem antropológica” é o livro A invenção 
do cotidiano, de Michel de Certeau (Figura 2a). Essa obra, que teve muita influência no 
pensamento da terceira geração, examina as maneiras como as pessoas individualizam a 
cultura de massa, alterando coisas desde objetos utilitários até planejamentos urbanos, 
rituais, leis e linguagem, de forma a apropriá-los.
Outro livro importante para entender essas novas formas de abordagem é Costumes 
em comum, de Edward Palmer Thompson (Figura 2b). Sobre esta obra, vale a pena um 
comentário sobre o capítulo “A economia moral”. Nele, o autor analisa uma série de 
protestos contra o aumento no preço do trigo na Inglaterra e como esses atos eram 
guiados por uma moral que diferia totalmente daquela das classes dominantes (para 
se ter uma ideia, muitas vezes os carregamentos de trigo eram cercados, o preço 
negociado e, mesmo se não se chegasse a um acordo, a mercadoria era levada e os 
manifestantes pagavam o preço que consideravam justo).
Figura 2. Capas de edições brasileiras de Michel de Certeau e E. P. Thompson.
Fonte: Certeau (2014); Thompson (1998). 
O ofício do historiador10
ANNALES1. [20--?]. 1 imagem. Altura: 380 pixels. Largura: 336 pixels. Formato: 
JPG. Disponível em: http://1.bp.blogspot.com/-jyx9hgO2qX8/TdUfC4JHLfI/
AAAAAAAAAKo/6NBG6wcsPxU/s1600/annales1-1.jpg. Acesso em: 23 set. 2019.
BARROS, D’A. A escola dos Annales e a crítica ao historicismo e ao positivismo. Revista 
Territórios e Fronteiras, v. 3, n. 1, p. 75-102, 2010. Disponível em: http://www.ppghis.com/
territorios&fronteiras/index.php/v03n02/article/view/56/55. Acesso em: 23 set. 2019.
BLOCH, M. Apologia a história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
BRAUDEL, F. Escritos sobre a história. São Paulo: Perspectiva, 2009.
BRAUDEL, F. O mediterrâneo na época de Filipe II. São Paulo: Edusp, 2016.
BURKE, P. A Revolução Francesa da historiografia: a Escola dos Annales (1929-1989). São 
Paulo: Editora UNESP, 1991.
BURKE, P. Variedades de história cultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
CERTEAU, M. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 2014.
DOSSE, F. A história à prova do tempo: da história em migalhas ao resgate do sentido. 
São Paulo: Editora UNESP, 2001.
FONTANA, J. A história dos homens. Bauru: EDUSC, 2004.
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
HOBSBAWM, E. Era dos extremos: o breve século XX: 1914–1991. São Paulo: Companhia 
das Letras, 1995.
LADURIE, E. L. R. Montaillou, povoado occitânico, 1294-1324. São Paulo: Companhia das 
Letras, 1997.
SANTOS, L. D.; ANDRADE, S. R. A história psicológica de Lucien Febvre e Marc Bloch. In: 
CONGRESSO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA, 7., 2015, Maringá. Anais [...]. Paraná: UEM, 
2015. Disponível em: http://www.cih.uem.br/anais/2015/trabalhos/1120.pdf. Acesso 
em: 23 set. 2019.
THIOLLENT, M. Maio de 1968 em Paris: testemunho de um estudante. Tempo Social, v. 
10, n. 2, p. 63–100, 1998. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ts/v10n2/v10n2a06. 
Acesso em: 23 set. 2019.
THOMPSON, E. P. A formação da classe operária inglesa. São Paulo: Paz & Terra, 2012.
THOMPSON, E. P. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. 
São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
VARELLA, R.; DELLA SANTA, R. O maio de 68 na Europa: estado e revolução. Revista de 
Direito e Práxis, v. 9, n. 2, p. 969–991, 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
php?pid=S2179-89662018000200969&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 23 set. 2019.
11O ofício do historiador
DICA DO PROFESSOR
Além da Escola dos Annales, outra importante escola histórica do século XX foi a New Left 
Review, responsável por dar um novo ânimo à teoria marxista. Esta escola histórica foi 
extremamente importante por revelar toda uma geração de historiadores ingleses que traziam um 
novo olhar sobre os grupos subalternos.
Nesta Dica do Professor, você entenderá um pouco mais da New Left Review, a sua importância, 
as origens dos membros fundadores e algumas disputas internas.
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EXERCÍCIOS
1) Em 1906, François Simiand sistematizou em seu livro Método histórico e ciência social 
várias críticas à História que já vinham desde fins do século XIX. Basicamente, eram 
uma crítica ao personalismo (preocupação com grandes nomes) e à busca pelas 
origens dentro dos trabalhos produzidos pelos historiadores da época. Como a 
proposta de História Total de Febvre e Bloch servia como resposta a essas críticas?
A) Estabelecendo uma História vista de baixo, analisando o perfil e a ideias das classes 
subalternas, travando fortes diálogos com a antropologia, a sociologia e outras ciências 
sociais, e também adaptando as metodologias dessas ciências à abordagem da História.
B) Preocupando-se, por exemplo, com grandes estruturas de crença e fazendo uma História 
que privilegiava mais o funcionamento da sociedade do que se preocupava com biografias 
ou grandes fatos, tentando fazer uma espécie de Psicologia Social.
Buscando uma abordagem que privilegiasse análises de grande duração e um diálogocom 
a geografia, a economia e a estatística, em uma concepção de tempo quase imóvel, 
tentando adaptar uma análise estrutural à pesquisa histórica como forma de identificar 
C) 
estruturas atemporais.
D) Uma abordagem tentando analisar pequenos casos e as suas relações com contextos 
maiores, em uma abordagem que privilegiasse o diálogo com a literatura e a antropologia, 
tentando, assim, estabelecer uma relação entre contextos macro e micro.
E) Uma abordagem que resgatasse o caráter de narrativa/literatura da História, mas sem 
perder o rigor científico, estabelecendo diálogos com a semiótica e a antropologia, porém 
admitindo os limites da História em construir uma narrativa científica de acordo com a 
documentação da época disponível.
2) Ao assumir o comando dos Annales, em 1946, Fernand Braudel veio com uma nova 
proposta de se analisar a História a partir de grandes intervalos de tempo e 
estabelecendo diálogos com a geografia, a estatística e a economia. Um bom exemplo 
é a sua obra O Mediterrâneo e o mundo na época de Filipe II, na qual ele quebra com 
paradigmas construindo uma história sobre o mar Mediterrâneo focada no século 
XVI, mas fazendo conexões até com o século XX. Essa nova abordagem foi uma 
resposta às críticas de Lévi-Strauss que diziam:
A) que a História era prisioneira de três ídolos: a origem, a biografia e a nação, e por isso as 
suas análises eram limitadas e pouco científicas.
B) que a sua análise não dava conta de compreender as classes subalternas da sociedade.
C) que ela não dava conta de grandes estruturas de crença e valores, que serviam como 
elemento de organização da sociedade.
D) que suas análises só serviam para educar as classes dominantes e propagandear 
sentimentos nacionalistas.
E) que a História era "prisioneira do acontecimento", sendo, por isso, impossível de se 
conhecer grandes leis que explicassem o funcionamento da sociedade.
3) As manifestações de maio de 1968 representaram um grande impacto na História e 
nas ciências sociais. A união entre universitários e trabalhadores na França e as 
diversas manifestações no planeta sinalizaram uma virada de paradigma para a 
História. Esses acontecimentos demonstraram uma necessidade de:
A) uma história narrativa acrítica, de caráter mais literário e que seja voltada para exaltar os 
grandes mitos da nação e os grandes fatos históricos, pensando na mobilização dos 
cidadãos do país.
B) os historiadores se apropriarem da antropologia e outras ciências sociais para compreender 
como funcionava a perspectiva e os valores das classes subalternas.
C) uma História voltada para a análise de grandes períodos de tempo, focada na estatística e 
geografia, tentando estabelecer grandes leis que expliquem o funcionamento da sociedade.
D) uma História que desse conta de criar um sentimento de nacionalidade em países 
divididos, mas que tivesse uma abordagem científica valorizando o documento e prezando 
pelo rigor metodológico, vasculhando os arquivos.
E) uma História politicamente engajada que buscasse dar conta das diversas estratégias de 
luta das classes subalternas ao longo do tempo e dar protagonismo a esses grupos.
4) A década de 1960 também foi famosa em revelar para o mundo os pensadores da 
New Left Review. Formada por importantes intelectuais de esquerda da Inglaterra e 
com uma proposta de também ter um olhar diferenciado para as classes populares, a 
New Left Review nasceu de um acontecimento traumático quando esses intelectuais se 
desligaram do Partido Comunista inglês e se uniram para criar a revista. Qual foi 
esse acontecimento?
A) O bombardeio nazista na cidade de Londres.
B) A ocupação da França durante a Segunda Guerra e o governo colaboracionista de Vichy.
C) A invasão de Praga pela URSS.
D) Os protestos de maio de 1968.
E) A eleição da liberal Margaret Thatcher para o cargo de primeira ministra.
5) Apesar de o tocante à questão do engajamento político e da influência da teoria 
marxista serem diametralmente diferentes, a historiografia da Nova Esquerda 
Inglesa e da Nova História da Terceira Geração dos Annales tinha uma importância. 
Além de cronologicamente contemporâneas, as duas correntes eram:
A) a busca da compreensão das classes subalternas, ainda que por meio e razões diferentes.
B) a busca por uma História nacionalista e científica que buscasse valorizar os documentos 
escritos, grandes fatos históricos e grandes nomes da História.
C) a busca por uma história de longa duração tentando dar conta de descobrir grandes 
estruturas que funcionam por eras.
D) a busca por uma História que resgata o papel de narrativa/literatura da História, mas sem 
perder o rigor científico.
E) a busca por uma História que relacione realidades "micro" (pequenas aldeias, vilarejos) 
com estruturas "macro" (Estado, Igreja, festas, etc.), tentando entender como funciona toda 
uma teia de valores e crenças.
NA PRÁTICA
Uma das abordagens que ganhou muita fama neste contexto pós-1968 foi a dos grupos 
tradicionalmente marginalizados na sociedade, ao invés de fazer uma História de Grandes 
Homens, como era o caso da Escola Metódica. Um dos grandes problemas de se fazer esse tipo 
de História é encontrar documentação produzida pelos próprios vencidos.
Na Prática, você conhecerá mais a respeito da escritora Carolina Maria de Jesus, uma mulher 
negra e favelada do início do século XX, cuja a obra constitui um raro exemplo 
de corpus documental produzido por segmentos subalternos da sociedade.
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do 
professor:
Braudel e o tempo
Para entender melhor como era a concepção de tempo para Fernand Braudel e as críticas feitas 
por Lévi-Strauss, veja este vídeo do canal Leitura Obrigahistória.
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Compreendendo os Annales
Assista ao vídeo do canal Leitura Obrigahistória para compreender melhor sobre a relevância da 
Escola dos Annales.
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Apresentação – “A História é uma recolha de experiências”
Para ter uma ideia do painel geral da historiografia, acesse este artigo de Maria Auxiliadora 
Schmidt e Marlene Cainelli e veja como há várias maneiras de se fazer história.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
Stuart Hall e a fundação da New Left Review
Para saber direto de um de seus fundadores como se deu a fundação da New Left Review, veja 
este artigo, de Stuart Hall, traduzido na revista da USP.
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O conceito de história
APRESENTAÇÃO
A história pode ser melhor compreendida enquanto disciplina científica a partir do seu 
desenvolvimento ao longo do tempo. As primeiras tentativas no sentido de uma virada científica 
ocorreram no início do século XIX. No entanto, esses primeiros passos, embora tivessem 
avançado nas questões metodológicas, ao exigir maior rigor no trato das fontes, eram 
insuficientes em termos de filosofias ou teorias da história. E não é possível para o historiador 
exercer a sua tarefa sem refletir sobre a natureza dela e elaborar hipóteses sobre os seus objetos 
de estudo.
Contudo, após esses primeiros momentos, deu-se início uma evolução contínua nos estudos 
historiográficos que, ao longo dos séculos XIX e XX, com as escolas positivista e marxista, 
ganhou densidade tanto em termos metodológicos quanto teóricos e sobre os novos problemas 
de pesquisa que se apresentaram. A partir da década de 1960 ocorre uma nova guinada no 
campo histórico com a ascensão da terceira geração da Escola dos Annales, que investiu em 
novos objetos de estudo.
Uma das grandes conquistas da história, enquanto ciência, foi determinar a importância do 
contexto histórico, de maneira que o historiador não incorra em anacronismos. Junto com o 
estudo dos fatos e da cultura dos povos, deve-se considerar as condições materiais e a 
organização dosgrupos por épocas históricas.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer o contexto em que a história passa a se 
tornar uma ciência e, os seus fundamentos, as principais características de três grandes escolas 
históricas: a positivista, a marxista e a chamada Nova História. Por fim, você poderá reconhecer 
a importância do contexto histórico para a compreensão dos fatos estudados.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Apontar os fundamentos da história como ciência.•
Descrever as correntes historiográficas do Positivismo, Marxismo e Nova História.•
Reconhecer a importância do contexto histórico para a análise dos fatos. •
DESAFIO
Atualmente, no âmbito da história, são muito vivos os debates acerca dos fundamentos 
científicos dessa. De um lado, historiadores vinculados às correntes pós-modernas defendem 
que a história não pode ser considerada uma ciência. Em outra via, historiadores que são 
partidários da história científica argumentam que esta tem teorias próprias e metodologias 
científicas. Outros historiadores tentam ajustar um meio termo, afirmando que a história é sim 
uma ciência, porém uma ciência de tipo peculiar.
Você, como historiador, está participando de um congresso. 
Baseado nesta situação, responda:
a) Quais argumentos você utilizaria para comprovar o seu ponto de vista, caso você precisasse 
defender a história ciência?
b) Quais argumentos você utilizaria para comprovar o seu ponto de vista, caso você precisasse 
defender a não cientificidade da história?
INFOGRÁFICO
O desenvolvimento da história como ciência foi um longo processo iniciado no início do século 
XIX. De lá para cá, grandes escolas históricas surgiram, influenciando gerações de historiadores 
e permitindo a construção de trabalhos históricos dos mais diversificados.
Dessas escolas, três se destacam, principalmente: a positivista, a marxista e a chamada de Nova 
História. O positivismo, como doutrina influente no século XIX, teve papel importante na 
formação da história enquanto ciência. Praticamente contemporâneos a ela, os trabalhos de Karl 
Marx foram os responsáveis pela formação de uma escola histórica própria, muito influente no 
século XX. Por fim, a Nova História diferenciando-se das duas anteriores em seus métodos e 
temas, também exerce influência até hoje nos meios acadêmicos da história. 
Veja, no Infográfico, informações sobre essas três grandes escolas históricas. 
CONTEÚDO DO LIVRO
A discussão sobre se a história é uma ciência, ou não, é algo que precisa ser confrontado pelos 
historiadores como parte de seu trabalho. Desde o início do século XIX, quando pela primeira 
vez esse debate surgiu – e mais que um debate, uma imposição dos tempos sobre o fazer 
histórico – o tema continua sendo pautado nas discussões a respeito do ofício do historiador.
A importância desse diálogo reside no fato de que é fundamental para o profissional da história 
refletir sobre a sua prática. Indo além: determinar os fundamentos científicos da história é 
essencial para que a produção do conhecimento histórico seja racionalizada.
Em meio a diversas tendências historiográficas, o historiador deve buscar incessantemente 
conhecê-las, compreender os seus métodos, dominar as suas teorias e filosofias, enfim, 
apreender a história como ciência. Afinal, montando esse instrumental metodológico e esse 
arcabouço teórico, o historiador terá muito mais capacidade em compreender os diversos 
contextos históricos a fim de evitar o “pecado” do anacronismo.
No capítulo, O conceito de história, da obraTeoria da História e Historiografia, você encontrará 
uma discussão sobre os fundamentos da história e a sua cientificidade, bem como as 
características de três grandes escolas históricas: positivista, marxista e a Nova História. Você 
também irá aprender a importância do contexto histórico e dos conceitos para o trabalho do 
historiador.
Boa leitura.
TEORIA DA HISTÓRIA 
E HISTORIOGRAFIA 
Eduardo Pacheco Freitas
O conceito de história
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Apontar os fundamentos da história como ciência.
  Descrever as correntes historiográficas do positivismo, marxismo
e nova história.
  Reconhecer a importância do contexto histórico para a análise
dos fatos.
Introdução
Definir se a história é ou não é uma ciência faz parte de um debate 
aparentemente eterno dentro do campo da história. Nenhum historiador 
poderá ficar indiferente a esta discussão, devendo confrontar o pro-
blema mais cedo ou mais tarde. A importância de realizar essa reflexão 
é que, a partir dela, o trabalho do historiador pode ganhar contornos 
mais precisos, auxiliando sua tarefa como produtor de conhecimento 
histórico. Em um ramo do conhecimento que possui tantas tendências 
relevantes e diversos paradigmas, conhecê-los e estar apto a fazer sua 
crítica é outra característica essencial para um bom historiador. Ademais, 
o domínio dos conceitos e a sua correta aplicação para evitar o erro 
do anacronismo são fundamentais para o correto desenvolvimento de 
um trabalho histórico.
Neste capítulo, você vai conhecer a discussão sobre a cientificidade 
da história e quais os principais fundamentos da história como ciência. 
Além disso, vai aprender sobre as principais correntes historiográficas 
surgidas a partir do século XIX. Por fim, você vai refletir sobre a impor-
tância do contexto histórico e do uso dos conceitos para a análise dos 
fatos históricos.
Afinal, a história é uma ciência?
Em seus estudos, você descobrirá que até hoje existem historiadores que 
debatem se seu ramo do conhecimento humano se trata de uma ciência ou 
não. Essa discussão envolve sobretudo o questionamento das possibilidades 
de se conhecer objetivamente o passado. Isso signifi ca que, de uma certa 
perspectiva, o uso de teorias e métodos permite que a história seja uma ciência; 
sob outra ótica, pode-se dizer que a escrita da história é apenas um discurso 
autorreferente. Nesta primeira seção, você conhecerá as características de 
ambas as correntes, bem como historiadores que representam cada uma delas. 
Além disso, você conhecerá os fundamentos da história enquanto ciência.
Os primórdios da história científica
A história, como ramo independente do conhecimento humano, existe desde 
a Antiguidade. Os gregos foram os primeiros a produzir trabalhos envol-
vendo a sua própria história e a de outros povos. Nesse sentido, Heródoto de 
Halicarnasso (séc. V a.C.) frequentemente é tido como o “pai” da história. 
Sua obra mais conhecida, Histórias, traz relatos de suas viagens e conversas 
com habitantes de lugares distantes, possibilitando ao autor discorrer sobre 
costumes tanto de gregos quanto de outros povos. Contudo, esse tipo de fazer 
historiográfi co carecia de métodos precisos e de um instrumental teórico. 
Portanto, não se tratava ainda de uma história científi ca. 
A história científica irá surgir somente na virada do século XVIII para o 
século XIX, momento em que a ciência como um todo passa a avançar con-
sideravelmente em pouco tempo. Na história científica, que aparece após a 
Revolução Francesa, exige-se rigor no trato das fontes, cuja autenticidade deve 
ser verificada, e a teoria passa a ocupar papel fundamental para a interpretação 
dos acontecimentos do passado narrado pelo historiador, agora profissiona-
lizado. Portanto, foi somente nos últimos 200 anos que os pesquisadores da 
história buscaram traçar fronteiras mais nítidas entre o discurso narrativo 
histórico e a narrativa literária ou poética. De acordo com Moscateli (2005, 
documento on-line): “[...] o século XIX assistiu ao esforço dos historiadores 
para institucionalizar sua área de estudos por meio de uma ruptura da história 
em relação à arte e à filosofia”.
O nome mais importante na institucionalização da história como ciência foi 
o do alemão Leopold von Ranke (1797–1886). Assim como

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