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06/06/2021 OneNote https://onedrive.live.com/redir?resid=9489A7AB219A28DE%211830&page=Edit&wd=target%281º PERÍODO.one%7C6a7f80b0-35ae-42b9-95c… 1/15 Teorias da História sábado, 15 de maio de 2021 21:45 UNIDADE 1 IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA Esta disciplina tem relevância por fornecer as bases conceituais sobre as quais o historiador desenvolve seu trabalho de pesquisa e entender sobre quais pressupostos a história é escrita. Ao compreender os elementos constitutivos da teoria da história, o profissional será capaz de perceber como a escrita da história se articula e depende dos conceitos que fundamentam o conhecimento histórico transmitido por ele em sala de aula aos seus alunos. OBJETIVOS: • Identificar os conceitos fundamentais da análise histórica. • Identificar o processo de construção da história como disciplina, considerando o tempo e a interdisciplinaridade. • Analisar criticamente a construção da história como ciência ao longo dos séculos XIX e XX. • Analisar as contribuições de Dilthey, Fukuyama, Sader e Mészáros para a teoria da história. IPC: A proposta da disciplina é discutir as questões referentes às especificidades do conhecimento histórico e do ofício do historiador, enfatizando os principais pressupostos da ciência histórica: fontes, objetos e métodos. Aprofunda a importância, principalmente, teórico-metodológica do tempo para o conhecimento histórico e/ou para o profissional da história. Os paradigmas epistemológicos dos estudos históricos, a institucionalização dos estudos históricos nas universidades e institutos de pesquisa, a ciência histórica nos séculos XIX, XX e XXI. O tempo histórico e as manipulações históricas: as construções ideológicas e políticas inerentes à história. AULA 1 - Fato histórico, fontes e métodos FATOS HISTÓRICOS: São considerados faros históricos as ações do homem, marcadas no tempo e no espaço, além do registros significativos da presença humana. FONTES HISTÓRICAS: Antigamente, eram consideradas fontes históricas, todos os documentos oficiais encontrados, como os registros dos atos dos reis, leis promulgadas, declarações de guerras, entre outros documentos. Atualmente, são consideradas fontes históricas, todos os vestígios humanos encontrados pelos historiadores. TIPOS DE FONTES HISTÓRICAS: 1º - Fontes escritas: Documentos, cartas, diários, leis, jornais, livros e outras inscrições. 2º - Fontes Visuais: Fotografias, pinturas, desenhos e obras de arte visual em geral. 3º - Fontes Audiovisuais: Filmes, entrevistas, músicas e gravações diversas. 4º - Fontes Arqueológicas: Vestígios e fragmentos arqueológicos. 5º - Fontes Orais: Relatos verbais, lendas e narrativas. 6º - Fontes Primárias: As primárias são aquelas que remetem diretamente ao fato estudado, como um documento, uma fotografia, um relato ou até mesmo um livro. 7º - Fontes Secundárias: As secundárias são aquelas que, de alguma forma, foram intermediadas por um leitor ou agente. A análise histórica pressupõe que o historiador se debruce sobre os fatos e fontes com um determinado intuito. Na sucessão dos tempos, esse objetivo pode ser traduzido pelo ato de julgar os fatos ocorridos ou de compreender esses mesmos fatos. ANÁLISE HISTÓRICA: O QUE É A HISTÓRIA? História é a ciência que estuda os acontecimentos passados, relacionados seres humanos, a instituições, e as suas atitudes no espaço e tempo, com a intuição de causar reflexão no entendimento do presente. QUAL A UTILIDADE DA HISTÓRIA? 06/06/2021 OneNote https://onedrive.live.com/redir?resid=9489A7AB219A28DE%211830&page=Edit&wd=target%281º PERÍODO.one%7C6a7f80b0-35ae-42b9-95c… 2/15 COMO SELECIONAR FATOS HISTÓRICOS? 1º Regra - Um fato histórico será selecionado conforme a relevância do problema, segundo o objetivo da pesquisa do historiador. 2º Regra - Os métodos de seleção devem ser expostos, tanto aos pesquisadores, quanto aos leitores. Trazer conhecimento do passado, visando o entendimento do presente, criando uma diretriz para o futuro. AULA 2 - Ciência humana: história e sua especificidade OS TIPOS DE MÉTODOS HISTÓRICOS: 1- Modelo nomológico: • Defendem a unidade da ciência; • Relação causal; 2- Modelo compreensivo: • Não há unidade no método científico • Compreensão das relações da vida; 3- Modelo conceitual • Interesse intelectual, sociológico; • Construção de tipos ideias e conceitos; • Organização lógica do passado; 4- Modelo narrativo: • O texto histórico resulta de uma construção teórica; • Histórico - problema, narrar os fatos tal como se passaram; • Mediação entre tempo e narrativa; O QUE É O CONHECIMENTO HISTÓRICO? • O conhecimento histórico é um conhecimento indireto, uma vez que o passado é acessado por meio de testemunhos, de intermediários. • O discurso produzido pelo historiador é criado a partir de sua própria linguagem, não existindo, portanto, uma linguagem específica, que caracterizaria o conhecimento histórico e que impediria que o discurso histórico sofresse os equívocos próprios da linguagem, capaz de reproduzir verdades e mentiras. • O conhecimento histórico não pode ser conhecido a priori, não permite uma relação concreta de causalidade. • É um conhecimento que lê o passado com os olhos do presente, ou seja, está ligado à época de sua produção. AULA 3 - A verdade, o real e sua construção, objetividade e subjetividade no discurso e conhecimento histórico A VERDADE É ÚNICA E ABSOLUTA OU ELA É MUTÁVEL E RELATIVA? 1- Nível ontológico: No nível ontológico, busca-se a verdade como aquilo que é, que não é afetado pela mudança. 2- Nível epistemológico: No nível epistemológico, verdade é aquilo que o ser humano pode formular em linguagem humana com uma relativa segurança sobre objetos delimitados. Nesse sentido, ela é um conhecimento comunicável e controlável, criado a partir da relação entre o sujeito e o objeto. (SUBJETIVO) IPC: Ontológico – Relativo à ou próprio da ontologia, a investigação teórica do ser. Ontologia – Segundo o aristotelismo, parte da filosofia que tem por objeto o estudo das propriedades mais gerais do ser, apartada da infinidade de determinações que, ao qualificá-lo particularmente, ocultam sua natureza plena e integral. Epistemológico – Relativo à epistemologia, à teoria do conhecimento. Epistemologia – Reflexão geral em torno da natureza, etapas e limites do conhecimento humano, especificamente nas relações que se estabelecem entre o sujeito indagativo e o objeto inerte, as duas polaridades tradicionais do processo cognitivo; teoria do conhecimento. O conhecimento histórico se torna objetivo ao tentar esgotar as possibilidades de investigação, fazendo da relatividade, mais um 06/06/2021 OneNote https://onedrive.live.com/redir?resid=9489A7AB219A28DE%211830&page=Edit&wd=target%281º PERÍODO.one%7C6a7f80b0-35ae-42b9-95c… 3/15 "A INTERPRETAÇÃO DO PASSADO E A COMPREENSÃO DAS FONTES SÃO QUESTÕES SUBJETIVAS" recurso de leitura dos fatos históricos. RESUMO DA UNIDADE Nesta unidade você aprendeu que os fatos históricos são os registros significativos da presença humana, situações marcadas no tempo e no espaço, passíveis de serem analisadas em conjunto com outros fatos históricos. Para alcançar a verdade e/ou objetividade desse fato histórico, são utilizadas as fontes históricas, vestígios humanos que podem ser de natureza escrita, visual, audiovisual, arqueológica e oral. Vimos também que elas podem ser classificadas entre primárias (aquelas que responderão diretamente aos questionamentos do historiador) e secundárias (aquelas cujas informações são resultado da intermediação de um leitor ou observador). A abordagem desses fatos e a utilização das fontes são determinadas pelo conhecimento histórico, que determina também a análise histórica. A história insere-se no conjunto das ciências humanas e tem como objeto de estudo o homem no tempo. Para que o conhecimento histórico seja alcançado de forma aceitável enquanto ciência, foram propostos métodosou modelos. Os principais são o nomológico, o compreensivo, o conceitual e o narrativo, que variam em função dos conceitos epistemológicos que fundamentam a história. Como a verdade e o real são conceitos datados, historicamente construídos, é necessário que a metodologia utilizada para estudá-los seja apropriada ao discurso e ao conhecimento histórico que se espera construir. Por isso, a variedade de métodos/modelos. UNIDADE 2 Aula 1 - Perspectiva do tempo histórico como construção social TIPOS DE TEMPO: Tempo Cronológico: Tempo Histórico: O tempo histórico chega para mediar o tempo natural com o tempo filosófico, definindo que a ação humana e sua intervenção na natureza são passíveis de gerar uma significação própria, entendida pelo tempo filosófico, mas descrita e problematizada pela história. Tempo de Deus: Tempo da Filosofia: O tempo da filosofia refere-se ao mundo interior, íntimo. Este não pode ser medido, é irreversível, é intenso porque definido pela qualidade dos fatos vivenciados, experimentados. Tempo Físico: O tempo da física é o que reflete a sucessão dos movimentos naturais, ao mundo exterior, por isso pode ser medido, abstraído, dimensionado e que nunca cessa, uma vez que a renovação constante da natureza pressupõe que nunca haverá um fim. A IMPORTÂNCIA DA PERCEPÇÃO DE TEMPO Fernand Braudel, em seu livro O Mediterrâneo e o mundo Mediterrâneo na Época de Filipe II, apresenta as três durações com que é possível lidar com relação ao tempo: a curta, a média e a longa duração. Dessas, a mais importante é a longa duração, que se relaciona com as estruturas, com as mentalidades. Normalmente, a transformação dessas estruturas e 06/06/2021 OneNote https://onedrive.live.com/redir?resid=9489A7AB219A28DE%211830&page=Edit&wd=target%281º PERÍODO.one%7C6a7f80b0-35ae-42b9-95c… 4/15 mentalidades é muito lenta, e como geralmente não é percebida por aqueles que a estão vivenciando, fica a sensação de que não se alteram. MAS QUAL A IMPORTÂNCIA DESSA ALTERAÇÃO NA PERCEPÇÃO DO TEMPO? Se antes, o tempo era entendido de forma linear, sucessiva, era nessa sucessão que a história deveria estudar os eventos que tinham lugar nessa linha do tempo. Quando os historiadores dos Annales propuseram a utilização do tempo, fizeram-no a partir do presente. É no tempo presente que o historiador se situa, e é a partir desse tempo que o passado é lido. Essa mudança com relação ao tempo abre a possibilidade para que o tempo presente seja também estudado, tornando-se um novo campo de pesquisa para o historiador. No entanto, vimos que, para a filosofia, o conceito de tempo é entendido de forma distinta do modo de interpretação da abordagem histórica, assim como para a física. É interessante partir, então, para os entendimentos das diversas áreas do conhecimento, uma vez que a história, ao estudar as ações do homem no tempo, dialoga com as outras áreas do conhecimento que também estudam as criações ou ações humanas. Este é o tema da próxima aula: a interdisciplinaridade e os campos do saber. Aula 2 - Interdisciplinaridades e campos do saber CIÊNCIAS NATURAIS: "INFLUENCIADA PELO ILUMINISMO" As ciências naturais são aquelas que se dedicam ao estudo da natureza. Tratam dos aspectos objetivos da realidade e podem ser organizados em torno de cinco grandes núcleos: a biologia, a física, a química, a geologia e a astronomia. CIÊNCIAS HUMANAS: As ciências humanas compreendem as áreas do conhecimento que têm como objeto de estudo a ação criativa do homem no mundo. Englobam diversas áreas do conhecimento relativo ao homem, como a filosofia, a sociologia, a antropologia, a história, a geografia, a ciência da religião, letras, teoria da arte, entre várias outras. Algumas dessas ciências também podem ser classificadas como ciências sociais, distintas das chamadas humanidades, uma vez que estudam os aspectos sociais do homem no mundo. OBS: Essa prática da divisão das áreas do conhecimento remonta a modelos da Antiguidade, em que, geralmente, os conhecimentos que se mostravam mais úteis à formação dos homens livres eram organizados para a prática educacional. Na idade média, seguindo o modelo da Antiguidade, instituiu-se o trivium (composto pela lógica, gramática e retórica) e o quadrivium (composto pela aritmética, música, geometria e astronomia), que compunham as artes liberais, estudos para os homens livres, em oposição às artes mecânicas próprias aos servos e escravos. Todo esse conhecimento era, porém, durante o período medieval na Europa, norteado pelo conhecimento religioso proveniente da Igreja Católica. Foi a partir do Renascimento que o estudo e a educação aos poucos se desvincularam da religião e, gradativamente, foram sendo desenvolvidos os conceitos que norteariam a produção do conhecimento no mundo moderno, como o humanismo, o racionalismo, o naturalismo e o cientificismo. AUGUST COMTE - "FUNDADOR DO POSITIVISMO" POSITIVISMO: Corrente filosófica do século XIX que influenciou a organização do pensamento científico de então, já que, no lugar de buscar as causas dos fenômenos, a filosofia positivista busca as leis que regem esses fenômenos. Seus métodos são a observação, a experimentação, a comparação e a classificação. É neste modelo, o do positivismo, que os historiadores do século XIX vão se basear para buscar a cientificidade da história, abandonando o modelo da filosofia da história, no qual as causas e os fins seriam os elementos mais importantes. DE QUE FORMA A HISTÓRIA E A FILOSOFIA PODEM SER COMPLEMENTARES? Da mesma forma que a Filosofia precisa da História da Filosofia e da História dos Homens para enriquecer suas pesquisas, toda pesquisa pressupõe a existência de uma abordagem filosófica, https://a9256-2727411.cluster213.canvas-user-content.com/courses/9256~17802/files/9256~2727411/course%20files/Unidade-2/aula-2.htm#more-info-1 https://a9256-2727411.cluster213.canvas-user-content.com/courses/9256~17802/files/9256~2727411/course%20files/Unidade-2/aula-2.htm#more-info-2 06/06/2021 OneNote https://onedrive.live.com/redir?resid=9489A7AB219A28DE%211830&page=Edit&wd=target%281º PERÍODO.one%7C6a7f80b0-35ae-42b9-95c… 5/15 já que o homem questiona o passado em busca de respostas para o presente. Aí se encontra o caráter interdisciplinar, visto na atualidade entre as diversas ciências humanas. Aula 3 - O tempo histórico, a interdisciplinaridade e a construção da disciplina SOBRE A HISTÓRIA: O termo “história” sempre foi utilizado tanto para se referir aos acontecimentos do passado quanto para dizer da narrativa ou conhecimento construído a partir desse passado. Isso explica o porquê de a história, até o século XIX, ser vista simplesmente como a escrita ou narrativa do acontecido. Essa escrita ou narrativa não era nem inocente, nem neutra, sempre se prestava a alguma ideologia que norteava os interesses dos grupos para quem se dirigia. Foi assim com a história dos santos e dos padres da Igreja, com a escrita da história que serviria de fundamento para a identidade das nações que surgiam, com a memória que se queria preservar dos reinados. Foi somente no século XIX que a história passou por um processo de reflexão e construção da sua prática pensada a partir dos conceitos e preceitos defendidos pelo iluminismo. A busca da razão, da luz, contrária às trevas do antigo regime, à ignorância que se queria abolir, atingiu as diversas áreas do conhecimento da época. E esses intelectuais, imbuídos desses ideais, pretenderam fornecer também as bases para uma história que se prestasse aos novos ideais. Eles não desconheciam o fato de que a verdade e o real podem ser manipulados para atender aos objetivos de pequenos grupos que dominam muitas vezes nações inteiras. Porém, tinham o ideal de chegar a uma verdade plena, pura, absoluta. Como, porém, chegar a essa verdade? COMO ALCANÇAR, COM O MÍNIMO DE FALHAS, A ESCRITA REAL SOBRE O ACONTECIDO? Os historiadores do século XIX chegaram à conclusão de queo melhor caminho para se alcançar essa regularidade em torno do conhecimento produzido pela história seria aplicar aos fatos a serem estudados um método capaz de garantir a regularidade necessária para a percepção das leis que regeriam os fenômenos, os fatos. Esse método, tomado de empréstimo das ciências naturais, modelo que existia àquela época, buscou uma regularidade por meio de uma padronização das fontes a serem utilizadas e de um afastamento da narrativa e da ficção. Falamos um pouco atrás que a história no século XIX foi pensada de forma distinta da ocorrida até a época, e que esse processo se deu com a influência do pensamento iluminista do século XVIII. Alguns filósofos deste século, por motivos diversos, pensaram sobre a história e sua utilidade. MONTESQUIEU: Montesquieu estudou as origens da civilização utilizando, para isso, a história dos sistemas jurídicos. VOLTAIRE: Voltaire acreditava que a história permitiria ao homem o conhecimento da história universal, mas essa história deveria ser alcançada por meio de uma cronologia exata, da consulta aos documentos originais e renovando-se os temas. DIDEROT E D’ALEMBERT: Os enciclopedistas Diderot e d’Alembert demonstram o interesse pela história, isso pode ser percebido nos fatos cotidianos e nas técnicas colocadas em sua enciclopédia, que começavam a ser objeto de interesse dos historiadores. Esses filósofos do século XVIII buscavam na história os conhecimentos necessários para garantir que a humanidade alcançasse o progresso a que estava destinada. A história das civilizações ajudaria a compreender a sua própria época. Foi daí que surgiu a ideia da história como conhecimento para se entender o presente e preparar ou planejar o futuro. Acontece que, a partir do século XIX, a concepção metafísica perdeu o espaço diante do avanço positivista nas ciências. É esse modelo metafísico que o positivismo de Comte vai combater. Os estudiosos passam a entender que o modelo metafísico não é mais capaz de responder às questões propostas pelo homem, somente o que é percebido pelos sentidos poderia ser comprovado, poderia ser considerado real. E é o positivismo que vai fornecer as bases para o desenvolvimento das ciências durante o século XIX. Sobre esse assunto, o conhecimento positivo, Reis cita Lefebvre quando este afirma que competia a esse conhecimento, o positivista, “observar os fatos, constatar suas relações, servir-se delas para a ciência aplicada”. (REIS, 2011, p. 13). Daí a preocupação com a utilização das fontes para se alcançar a cientificidade do conhecimento construído, mesmo que o conhecimento ainda deva se constituir em torno dos grandes fatos, https://a9256-2727411.cluster213.canvas-user-content.com/courses/9256~17802/files/9256~2727411/course%20files/Unidade-2/aula-3.htm#more-info-2 06/06/2021 OneNote https://onedrive.live.com/redir?resid=9489A7AB219A28DE%211830&page=Edit&wd=target%281º PERÍODO.one%7C6a7f80b0-35ae-42b9-95c… 6/15 aqueles significativos para a história da humanidade ou da nação. E, nesses casos, os documentos oficiais ainda eram os mais confiáveis para a história que se queria escrever. Outro elemento importante para se alcançar esse caráter científico relacionava-se à necessidade da narrativa. Isso significava, no século XIX, afastar-se da narrativa. A narrativa era entendida como elemento da literatura, como característica de um modelo de escrita da história que precisava ser revisto. A literatura não era conhecida por sua adesão à verdade, e a busca da verdade deveria ser a primeira preocupação do historiador. Uma verdade que se pretendia absoluta, capaz de ser comprovada pelas fontes consultadas por meio de um método seguro, neutro o suficiente para que o historiador pudesse ser alçado à condição de cientista. RESUMO DA UNIDADE: Nesta unidade, você estudou como o tempo é pensado pela história. As ordenações lógicas que são encontradas em outras áreas do conhecimento com relação ao conceito de tempo não são aplicáveis para a história. Essa inadequação se explica pela utilização do tempo na abordagem do objeto de estudo do historiador. Passado, presente e futuro se articulam de uma forma muito peculiar, em função dos objetivos dos historiadores em sua escrita. Os resultados dessa articulação poderão ser alterados em função da escrita da história adotada nos diversos períodos. Essa relativização ocorre em função de o homem ser dotado de essências múltiplas, objeto de estudo das ciências humanas, desenvolvidas com o objetivo de estudar esse caráter de humanidade do homem, ou como dizem alguns, as ciências do espírito. Foi para estudar a presença do homem e sua ação no tempo que a história se constitui como ciência. No decorrer do tempo, a história vem estabelecendo um diálogo interdisciplinar. Essa característica é justificada pela necessidade de se buscar as várias possibilidades de intervenção humana no tempo. A constituição da história como ciência passou por alguns estágios. Se, num primeiro momento, para garantir sua cientificidade, os historiadores buscaram a objetividade das fontes, a utilização de métodos que garantissem essa objetividade e a abordagem clara dos fatos estudados, a relação com a narrativa, porém, foi fruto de diversas críticas. Durante muito tempo, pensou-se que o uso da narrativa pelos historiadores seria um recurso que empobreceria a história, tirando dela o caráter de objetividade, aproximando-se da narrativa literária a que os historiadores do século XIX entendiam ser necessário negar. De qualquer forma, a reflexão filosófica em torno da história, esteve presente em sua origem e ainda faz parte dos questionamentos sobre a prática do historiador. UNIDADE 3 Aula 1 - Historicismo, materialismo histórico e teoria positivista na história POSITIVISMO HISTÓRICO O positivismo histórico é herdeiro direto do positivismo de August Comte e se desenvolveu principalmente na França do século XIX. Na segunda aula da Unidade 2, foi estudada a relação entre o positivismo de Comte e as filosofias da história. Para Comte, a realidade é o que se pode conhecer mediante a percepção dos sentidos. Essa percepção é a que pode ser alcançada por meio do método científico. No campo científico, a principal questão levantada refere-se ao fato de o positivismo buscar as leis que regem os fenômenos, no lugar de buscar as suas causas. A metodologia utilizada pressupunha a observação, a experimentação, a comparação e a classificação. Essa vertente historiográfica, a positivista, é também conhecida como história tradicional. A aspiração dos historiadores positivistas era construir uma história universal, comum a todos os homens. Para esses historiadores, a história traz o fato propriamente dito e é construída a partir de documentos. Se não existe documento, não existe história, já que não existe a possibilidade de comprovar os fatos. Essa metodologia, perfeitamente aplicável às ciências da natureza, foi, por alguns estudiosos, experimentada com relação ao conhecimento histórico. Esperava-se que o historiador fosse, tal qual o cientista das ciências da natureza, imparcial diante do seu objeto de pesquisa e objetivo na condução da sua pesquisa. No entanto, como o objeto de estudo das ciências humanas é distinto em diversos aspectos daquele das ciências da natureza, a aplicação dessa metodologia foi questionada muito cedo, dentro do próprio século XIX. Os positivistas franceses do século XIX influenciaram a chamada “escola metódica” na França, responsáveis pela criação da revista Revue Historique a partir de 1876. Mantiveram a preocupação em buscar e garantir o caráter científico da história, mas não compartilhavam de forma tão radical os conceitos de objetividade e imparcialidade dos primeiros historiadores positivistas. Os historiadores da escola metódica estavam a meio caminho entre os primeiros positivistas e os historicistas alemães. Essa vertente historiográfica, a positivista, é também conhecida como história tradicional.A aspiração dos historiadores positivistas era construir uma história universal, comum a todos os homens. Para esses historiadores, a história traz o fato propriamente dito e é construída a partir de documentos. Se não existe documento, não existe história, já que não existe a possibilidade de comprovar os fatos. O HISTORICISMO https://a9256-2727411.cluster213.canvas-user-content.com/courses/9256~17802/files/9256~2727411/course%20files/Unidade-2/aula-3.htm#more-info-3 https://a9256-2727555.cluster213.canvas-user-content.com/courses/9256~17802/files/9256~2727555/course%20files/Unidade-3/aula-1.htm#more-info-1 https://a9256-2727555.cluster213.canvas-user-content.com/courses/9256~17802/files/9256~2727555/course%20files/Unidade-3/aula-1.htm#more-info-1 06/06/2021 OneNote https://onedrive.live.com/redir?resid=9489A7AB219A28DE%211830&page=Edit&wd=target%281º PERÍODO.one%7C6a7f80b0-35ae-42b9-95c… 7/15 O historicismo é uma corrente historiográfica que se consolidou no século XIX na Alemanha, mas que não ficou restrito nem a esse século nem a esse país. Veremos posteriormente que as proposições historicistas são extremamente atuais em pleno século XX. Os historiadores que primeiro se opuseram ao modelo positivista acreditavam que, na história, nada estava realmente pronto e acabado. Ao contrário, sendo o homem um ser múltiplo e inacabado, uma vez que está em constante transformação, a história escrita sobre ele não pode ser fechada. O primeiro dos historicistas é o alemão Leopold von Ranke. Nascido em 1795 e falecido em 1886, Ranke se preocupou com o uso maciço de fontes e em narrar os fatos como eles realmente tinham acontecido. Foi um dos maiores historiadores alemães do século XIX. Para ele, foi criada a cátedra de história na Universidade de Berlim. Por sua atuação na renovação dos estudos históricos em seu tempo, é considerado o pai do historicismo. Segundo Bentivoglio e Lopes (2013): "Pode-se dizer que o parâmetro rankeano inclui pelo menos três grandes princípios: o rigor metódico para estabelecer a qualidade da informação extraída das fontes; a amplitude, a articulação e a complementaridade entre os campos de conhecimento (teologia, filologia, antiguidade greco-romana, direito etc.); a recusa de qualquer forma de pensamento dogmático, transcendente ou dualista." Ranke acreditava que somente por meio do conhecimento histórico seria atingida a compreensão total da vida. Os historicistas se opuseram veementemente ao modelo sugerido pelo positivismo histórico, pois não acreditavam na possibilidade de o historiador agir de forma imparcial. Muito pelo contrário, estando ele mesmo inserido em um contexto histórico, sua posição seria sempre a de um pesquisador engajado. Consequentemente, esse horizonte de expectativa que o historiador trazia de sua vivência fazia com que o conhecimento histórico produzido fosse um conhecimento subjetivo. A objetividade que se esperava das ciências humanas, e que os positivistas acreditavam ser possível também encontrar nas ciências humanas em desenvolvimento, esbarrava na complexidade do ser humano, objeto imediato do estudo dessas ciências. Daí a expectativa de um conhecimento subjetivo. Por fim, defendiam que, para as ciências humanas, deveria ser criado um método específico, distinto daquele aplicado às ciências naturais. A principal contribuição do historicismo relaciona-se à autonomia das ciências humanas. A principal discussão dos historiadores vinculados a essa corrente no século XIX dizia respeito à especificidade do conhecimento histórico, e sua preocupação era demarcar o território do campo de conhecimento das ciências humanas. Esse historicismo do século XVIII tem seu início com a tese proposta por Giambattista Vico, anticartesiana, na qual esse filósofo defendia que a física — principal objeto de estudo das ciências naturais àquela época — era um conhecimento limitado da natureza. Uma vez que não foi o homem quem criou a natureza, ele somente poderia ter um conhecimento parcial dela. Com a história, ocorre o contrário, já que ela reflete e estuda as criações humanas, essas, sim, passíveis de serem conhecidas e estudadas pelo homem, seu criador. Reis, analisando a tese de Vico, reforça que “o homem nada é por natureza e recebe forma e conteúdo na história” (2006, p. 221). Dessa forma, o conhecimento mais completo seria, por sua essência, o conhecimento histórico. Leopold von Ranke e outros, seguindo as trilhas abertas pelo pensamento de Vico, vão propor, ao longo do século XIX, uma estruturação do conhecimento histórico partindo exatamente dessa diferenciação clara existente entre as ciências naturais e as humanas ou do espírito. Contudo esse modelo e o do positivismo não são os únicos que tiveram lugar no século XIX. O materialismo histórico veio com uma proposta distinta. MATERIALISMO HISTÓRICO O materialismo histórico surgiu a partir das proposições de Karl Marx e Friedrich Engels. Ao contrário dos modelos positivista e historicista, os quais possuíam uma clara vinculação com a filosofia, o modelo proposto por Marx e Engels dialogava diretamente com a sociologia. É um modelo que traz a proposta de uma história crítica, em que a ação do homem no meio em que se insere é o objeto de estudo. O diálogo com a sociologia se torna claro nesse sentido ao buscar o entendimento das relações que o homem estabelece com outros homens, em outros grupos. Eric Hobsbawm (2013) recorda que a crítica feita por Marx e Engels à filosofia e à ideologia alemãs dirigia-se essencialmente à crença de que a consciência, o pensamento, as ideias e os conceitos determinariam as ações humanas na vida real e, consequentemente, suas condições materiais. Eles defendiam que a vida prática, real, material, é que determinaria a consciência humana. Marx e Engels acreditavam que a sociedade se organizou no decorrer do tempo em função dos elementos econômicos que a norteavam. Conceitos como classe, mais-valia, luta de classe e modos de produção foram propostos exatamente para facilitar o entendimento de como as relações de produção estiveram na base da organização dos povos. O modelo proposto por eles visava ao entendimento dessa organização social, que definiria todas as outras instâncias da existência humana. https://a9256-2727555.cluster213.canvas-user-content.com/courses/9256~17802/files/9256~2727555/course%20files/Unidade-3/aula-1.htm#more-info-3 https://a9256-2727555.cluster213.canvas-user-content.com/courses/9256~17802/files/9256~2727555/course%20files/Unidade-3/aula-1.htm#more-info-5 06/06/2021 OneNote https://onedrive.live.com/redir?resid=9489A7AB219A28DE%211830&page=Edit&wd=target%281º PERÍODO.one%7C6a7f80b0-35ae-42b9-95c… 8/15 Aula 2 - As teorias oriundas da escola dos Annales e suas gerações Em 1929, dois historiadores franceses, Lucien Febvre e Marc Bloch, fundaram uma revista, a qual deram o nome de Anais de História Econômica e Social (Annales d’histoire économique et sociale), com o objetivo de divulgar as pesquisas históricas que eles e o grupo a eles associado desenvolviam. Sua proposta era ver a história de forma distinta à que era vista no panorama estabelecido até então, expandindo as fronteiras dos estudos históricos e rompendo com os limites da história positivista. O grupo que se reuniu em torno da revista criou uma corrente historiográfica que ficou conhecida pelo nome de escola dos Annales. As principais características desse grupo de pesquisadores, o da escola dos Annales, era, segundo Marczal (2016, p. 48), a negação da história tradicional positivista por meio da oposição ao imperativo do político e à perspectiva de uma história-narração. Para Marc Bloch e Lucien Febvre, a história deveria ser escrita a partir do abandono do modelo tradicional positivista, o qual se caracterizava por um pensamento histórico ligado à história política personalista e factual e à narrativa imparcial, pura e simples dos eventos. Marc Bloch e Lucien Febvre propuseram, em contrapartida, uma história que se basearia na resolução deum problema, de uma questão que norteasse os estudos do historiador. Para isso, esses historiadores sugeriram que, para que a história-problema fosse desenvolvida da melhor forma possível, um proveitoso diálogo com as outras áreas de conhecimento das ciências sociais deveria ser estabelecido. Assim, o objeto de estudo ou os eventos pesquisados seriam abordados em sua totalidade, abrangendo o maior número de leituras possível. A proposta metodológica dos Annales era uma diversificação das fontes históricas a serem utilizadas: documentos, cartas, mapas, obras de arte etc. Com essa diversificação, percebeu-se a necessidade de contar com outras áreas do conhecimento, as quais poderiam colaborar para o entendimento do tratamento que essas fontes deveriam receber. A produção historiográfica em torno da escola dos Annales é dividida em três gerações. Vamos nos deter, nesta aula, na primeira e na segunda gerações. A PRIMEIRA GERAÇÃO A primeira corresponde ao período em que Lucien Febvre esteve dirigindo a revista, de 1929 até sua morte, em 1956. Esse período se caracteriza pela ênfase em uma produção histórica de base interdisciplinar, não factual. A proximidade com as ciências sociais e a geografia é clara, e os pesquisadores ligados à escola nesse momento se afastaram deliberadamente da história política, que privilegiava os grandes homens e os grandes fatos ou guerras, prática comum entre os historiadores positivistas. José Carlos Reis apresenta as diferenças e semelhanças entre Lucien Febvre e Marc Bloch, ao descrever as principais características das três gerações dos Annales. "Febvre preferia tratar de sincronias, de estruturas fechadas, de uma história imóvel, e não de uma história linear, progressiva e emancipacionista, como era a iluminista. [...] Bloch também não era plenamente iluminista: neodurkheimiano, também já percebia estruturas, o inconsciente repetitivo, as durações longas, os limites à ação, e já era crítico em relação a teleologias. Ambos procuraram superar dialeticamente o evento, isto é, negá-lo, integrando-o em uma longa duração. Mas ambos ainda guardavam da tradição iluminista o otimismo em relação ao futuro, o humanismo, e faziam ainda de certa forma uma história do sujeito e da consciência." (REIS, 2006, p. 79, grifos do autor) Para Reis, é na atuação dos dois fundadores que a primeira geração apresenta uma relação dos Annales com o iluminismo, guardando o devido distanciamento relativo da atuação dos dois com relação à proposta iluminista, como citado acima. O que esses dois historiadores buscavam era uma história mais abrangente, que incluísse, além dos diálogos com as ciências sociais, reflexões acerca da psicologia e da linguística. Buscaram, ainda, libertar-se da história que pressupunha o uso exclusivo da documentação histórica e a preocupação cronológica dos fatos, antecipando, em parte, discussões que seriam mais aprofundadas pelos estudiosos da segunda e terceira gerações. A SEGUNDA GERAÇÃO FERNAND BRAUDEL A chamada segunda geração da escola dos Annales corresponde ao período em que a direção da revista esteve sob a responsabilidade de Fernand Braudel, entre 1956 e 1968. O diálogo interdisciplinar continuou, mas ampliaram-se as investigações sobre os estudos de história econômica, estendendo os braços à recém-criada história demográfica e a algumas áreas da história social. É também desse período a aproximação mais clara e concreta com a psicologia, por meio dos estudos em torno das mentalidades. Percebe-se, nesse momento, a aproximação da mudança estruturalista. Entretanto, mesmo assim, Fernand Braudel ainda lutava por uma história global. A mudança proposta pelos estruturalistas viria fornecer novos elementos de leitura e abordagem dos fatos históricos a serem estudados. Fernand Braudel foi um dos professores fundadores da Universidade de São Paulo –USP. Convidado para integrar a equipe que coordenaria a fundação da universidade, permaneceu no https://a9256-2727555.cluster213.canvas-user-content.com/courses/9256~17802/files/9256~2727555/course%20files/Unidade-3/aula-2.htm#more-info-1 06/06/2021 OneNote https://onedrive.live.com/redir?resid=9489A7AB219A28DE%211830&page=Edit&wd=target%281º PERÍODO.one%7C6a7f80b0-35ae-42b9-95c… 9/15 Brasil até o ano de 1937, quando retornou a Paris. Em 1938, tomou contato com a proposta metodológica dos Annales de Lucien Febvre, com quem começou a trabalhar. Foi enquanto esteve preso durante a Segunda Guerra Mundial que Braudel começou a trabalhar em sua tese O Mediterrâneo e o mundo mediterrânico na época de Felipe II. Após a morte de Lucien Febvre, dirigiu a revista, tornando-se o principal expoente dela nos anos de 1950 e 1960. ESTRUTURALISMO Linguística: toda abordagem de análise que define os fatos linguísticos a partir das noções saussurianas de estrutura e de sistema; linguística estrutural: teoria segundo a qual o estudo de uma categoria de fatos deve enfocar especificamente as estruturas. Antropologia: movimento associado especificamente a Claude Lévi-Strauss (1908- 2009), que se propõe a analisar as relações sociais em termos de estruturas relacionais abstratas, não raro expressas em simbolismo lógico. Psicologia: teoria que enfatiza as ligações entre os componentes afetivos e o conteúdo vivido. DE NOVO O TEMPO Quando Fernand Braudel escreve O Mediterrâneo, ele apresenta uma conceituação em torno do tempo, a qual será tema de um estudo intitulado A longa duração, publicado em 1965, no número 62 da Revista de História. Nesse artigo, Braudel (1965) defende que a história decompõe o tempo passado, escolhendo uma dentre as suas diversas realidades cronológicas. Contudo, referindo-se às abordagens possíveis, esse autor também defende que campos de conhecimento distintos promovem abordagens distintas com relação ao tempo. O tempo breve ou curto é o tempo do indivíduo, dos acontecimentos. Esse era o tempo tratado pela historiografia tradicional. O tempo lento seria o que se enquadra no objeto de estudo das ciências sociais e econômicas, em que os ciclos sobre os quais oscilam os eventos duram, às vezes, 10, 20, 50 anos ou mais. A história referente a esse tempo seria aquela que estuda as estruturas criadas pela civilização: o tempo da longa duração. Existe, ainda, um tempo que é praticamente imóvel: o tempo dos homens e do ambiente. É na longa duração que Fernand Braudel dialoga com o estruturalismo de Claude Lévi-Strauss. Aula 3 - Ciência histórica e sua construção ao longo dos séculos XIX e XX A HISTÓRIA DAS MENTALIDADES A história das mentalidades busca nos seus estudos o modo de pensar e o modo de agir dos grupos sociais. Dialogando diretamente com a psicologia, buscou temas pouco convencionais. Importantes historiadores da segunda metade do século XX fazem parte desse grupo. Robert Mandrou estudou a persistência dos modos de sentir que incentivaram a prática da feitiçaria e sua repressão. Jean Delumeau estudou o medo em complexos que permitiram, com a superação desses medos, a passagem para o mundo moderno. Philippe Ariès e Michel Vovelle estudaram os sentimentos humanos diante da morte (BARROS, 2005). Porém esses estudos somente foram possíveis devido à utilização de alguns elementos metodológicos próprios a esse campo: a abordagem serial, o recorte temporal e a abordagem extensiva de fontes diversas. Barros explica a necessidade dessa metodologia. Para falar da abordagem serial extensiva de fontes diversas, usa o exemplo de Michel Vovelle nos estudos relativos à morte. Esses estudos envolvidos na proposta da história das mentalidades abriram as portas para outras abordagens. A partir de 1968, evidenciou-se cada vez mais a identidade própria, apesar de ainda em construção, do grupo da terceira geração. A proposta trazida por eles ficou conhecida genericamente como a da nouvelle histoire, ou “nova história”. A NOVA HISTÓRIA Existe uma divergência entre alguns autores no que se refere à continuidade ou ruptura desse grupo da terceira geração,do qual fazem parte Jacques Le Goff, Robert Mandrou, Emmanuel Le Roy Ladurie, Marc Ferro, entre outros. Peter Burke, em A escrita da história, defende a continuidade do programa dos Annales nas três gerações, uma vez que, segundo ele, a ruptura com o modelo da historiografia tradicional ainda era um elemento vital. Além disso, pela leitura que ele faz das pesquisas desenvolvidas no período, foi exatamente a partir desse momento que a historiografia teria rompido por completo com o modelo tradicional positivista, apesar de apresentar de forma revista e sob nova roupagem a história política. 06/06/2021 OneNote https://onedrive.live.com/redir?resid=9489A7AB219A28DE%211830&page=Edit&wd=target%281º PERÍODO.one%7C6a7f80b0-35ae-42b9-95… 10/15 François Dosse, no entanto, em seu livro A história em migalhas, afirma que a nova história teria fragmentado a tal ponto a história que aquela proposta de Lucien Febvre, Marc Bloch e Fernand Braudel de uma história total teria se perdido nesse emaranhado de métodos e abordagens. A novidade nos tópicos ou temas a serem abordados é uma constante nessa terceira geração. Encontramos aí os relacionados ao que ficou conhecido como história vista de baixo — contrariando o ponto de observação anteriormente adotado, ou seja, o das elites — e as novas abordagens da história política. Peter Burke (2011), ao tratar das novas perspectivas da história nesse contexto, reúne uma série de artigos de historiadores renomados no século XX, em que cada um vai abordar um campo temático específico. Encontram-se, em seu livro: a história vista de baixo, a história das mulheres, a história de além-mar, a história oral, a da leitura, a das imagens, a do pensamento político, a do corpo e a dos acontecimentos. É importante ressaltar que, nesse contexto, voltam à cena as discussões em torno do uso da narrativa pelos historiadores. Outro campo também explorado, mas que trataremos aqui em separado, é o da micro-história. Surgida no mesmo contexto dos outros estudos desenvolvidos pelos partidários da nova história, a micro-história, no entanto, ganha maior fôlego na Itália, com os estudos de dois historiadores, Giovanni Levi e Carlo Ginzburg. A MICRO-HISTÓRIA Durante a década de 1980, dois historiadores italianos, Giovanni Levi e Carlo Ginzburg, dirigiram uma coleção intitulada Microstoria. Essa coleção reunia pesquisas que tinham como ponto comum uma abordagem metodológica desenvolvida em artigos e pesquisas publicados durante a década de 1970. Segundo Giovanni Levi (apud BURKE, 2011, p. 135), a micro-história é definida, antes de mais nada, como uma prática historiográfica de referências teóricas variadas, cujo método relaciona- se aos procedimentos reais detalhados que constituem o trabalho, e não necessariamente às microdimensões do tema estudado. Como entender, então, a microdimensão dessa modalidade historiográfica? Giovanni Levi diz que: "Embora a escala como uma característica inerente da realidade certamente não seja um elemento estranho, no debate da micro-história ela é, sem dúvida, tangencial; porque o problema real está na decisão de reduzir a escala de observação para propósitos experimentais. O princípio unificador de toda pesquisa micro-histórica é a crença em que a observação microscópica revelará fatores previamente não observados." (LEVI apud BURKE, 2011, p. 141) É dessa forma que Carlo Ginzburg vai buscar, no estudo de dois processos referentes a um simples moleiro perseguido pela inquisição, os reflexos ou notícias referentes ao modo como a cultura das classes subalternas e das classes dominantes dialogavam no século XVI. No prefácio de O queijo e os vermes, Ginzburg explica a aproximação com o objeto e o propósito da pesquisa. "Passei parte do verão de 1962 em Udine. [...] Pesquisei os julgamentos de uma estranha seita de Friuli, cujos membros os juízes identificaram como bruxas e curandeiros. [...] Uma das acusações feitas a um réu era a de que ele sustentava que o mundo tinha sua origem na putrefação. [...] Em 1970 resolvi tentar entender o que aquela declaração poderia ter significado para a pessoa que a formulara. Durante esse tempo todo a única coisa que sabia a seu respeito era o seu nome: Domenico, Scandella, dito Menocchio. Passei parte do verão de 1962 em Udine. [...] Pesquisei os julgamentos de uma estranha seita de Friuli, cujos membros os juízes identificaram como bruxas e curandeiros. [...] Uma das acusações feitas a um réu era a de que ele sustentava que o mundo tinha sua origem na putrefação. [...] Em 1970 resolvi tentar entender o que aquela declaração poderia ter significado para a pessoa que a formulara. Durante esse tempo todo a única coisa que sabia a seu respeito era o seu nome: Domenico, Scandella, dito Menocchio. Mas é também um homem muito diferente de nós. A reconstrução analítica dessa diferença tornou-se necessária, a fim de podermos reconstruir a fisionomia, parcialmente obscurecida, de sua cultura e contexto social no qual ela se moldou." (GINZBURG, 2006, p. 9) Levi faz algo semelhante em A herança imaterial. 06/06/2021 OneNote https://onedrive.live.com/redir?resid=9489A7AB219A28DE%211830&page=Edit&wd=target%281º PERÍODO.one%7C6a7f80b0-35ae-42b9-95… 11/15 "A história de Chiesa foi não apenas o objeto da narrativa, mas também o pretexto para a reconstituição do ambiente social e cultural da cidade. Ele assumiu conotações que envolveram o funcionamento concreto, em uma realidade específica, de leis gerais que permitem a identificação de elementos constantes e a elaboração de comparações. Os próprios documentos mudaram de sentido, perderam sua obviedade e mostraram como seu uso imediato e literal distorce os significados [...]." (LEVI, 2000, p. 47) Esta era a proposta da micro-história: diminuir a escala de observação para conseguir explorar ao máximo as possibilidades de leitura. RESUMO DA UNIDADE Nesta unidade, você estudou as principais correntes historiográficas dos séculos XIX e XX e como os elementos constitutivos da história foram percebidos e trabalhados por essas correntes. Com relação ao século XIX, período em que a história estava se consolidando enquanto ciência, estudamos que, em um primeiro momento, os historiadores buscaram o modelo positivista aplicado às ciências naturais, com o intuito de alçar o conhecimento histórico à condição de conhecimento científico. Em paralelo a esse movimento, historiadores alemães propuseram uma abordagem distinta, a qual ficou conhecida como historicismo. Os historicistas defendiam o engajamento por parte do historiador, a utilização de uma metodologia própria às ciências humanas e uma abordagem subjetiva dos fatos e fontes. Os positivistas, ao contrário, defendiam uma abordagem objetiva desses fatos e fontes e uma postura imparcial do historiador, características defendidas pela metodologia positivista utilizada já há algum tempo pelas ciências naturais. Ainda no mesmo século, Karl Marx e Friedrich Engels propõem um modelo explicativo da história partindo das estruturas econômicas sobre as quais as sociedades são construídas — o materialismo histórico. Essas são as três correntes historiográficas que tiveram lugar no século XIX. Com relação ao século XX, estudamos as propostas dos historiadores que se relacionaram com a chamada escola dos Annales. Estes, divididos em três gerações segundo suas propostas, começaram suas atividades em 1929, quando Lucien Febvre e Marc Bloch fundaram a revista Anais de História Econômica e Social. Nesse primeiro momento, a preocupação era propor uma alternativa ao modelo historiográfico positivista. À história tradicional, deram a opção da história-problema, em que o diálogo com as ciências sociais, o uso de variadas fontes e a possibilidade de estudar outros temas vieram renovar os estudos históricos. A segunda geração, que teve Fernand Braudel como expoente máximo, trouxe as discussões em torno da temporalidade, em que a “longa duração” buscou, de forma distinta da proposta de Marx e Engels,as estruturas que sustentariam as sociedades, paralelamente aos eventos imediatos de curta duração. A terceira geração, que ficou conhecida como nova história, trouxe, entre outras coisas, a novidade da história das mentalidades e da micro-história. As propostas apresentadas pela escola dos Annales dialogam em grande medida com as propostas do século XIX e ainda norteiam ou influenciam grande parte das pesquisas feitas em história na atualidade. UNIDADE 4 Aula 1 - Diálogo de Dilthey com os contemporâneos (Kant e Annales). WILHELM DILTHEY Dilthey foi um filósofo, psicólogo, historiador, sociólogo e pedagogo alemão. O que caracterizou profundamente sua obra foi sua relação com Kant. Esse fato motivou sua defesa em torno da sistematização das ciências do espírito. José Carlos Reis apresenta-o da seguinte forma: "Dilthey nasceu em 1833, em Biebrich, na Alemanha, e morreu subitamente em 1911. Filho de pastor calvinista, teve uma formação basicamente teológica. Tornou-se pastor, mas logo abandonou essa atividade. “Logo depois da primeira homilia”, afirmam seus biógrafos. E passou a se dedicar à atividade de professor universitário de filosofia. Para exercer o ensino de filosofia na universidade, fez uma tese de doutorado sobre o pensamento escolástico medieval. Como filósofo, conhecia Kant desde os 16 anos. A vida de professor universitário, na Alemanha do século XIX, era nobre. Podia-se viver com bons recursos e muito prestígio. Ele ensinou em várias universidades: Bâle, Kiel, Breslau e Berlim. Seus biógrafos afirmam que trabalhava de 12 a 14 horas por dia! E é provável, levando-se em consideração seu modo discreto de viver." (REIS, 2006, p. 227-228) Sua obra é imensa e, às vezes, de difícil leitura e interpretação. Contudo, traz conceitos e propostas que se apresentam extremamente atuais, segundo os nossos padrões. O PENSAMENTO DE DILTHEY Dilthey combateu o hegelianismo e sua concepção da história foi inspirada nos escritos de Giambattista Vico. Ele entendia a história como “experiência vivida” e, para que ela se 06/06/2021 OneNote https://onedrive.live.com/redir?resid=9489A7AB219A28DE%211830&page=Edit&wd=target%281º PERÍODO.one%7C6a7f80b0-35ae-42b9-95… 12/15 concretizasse enquanto escrita, Dilthey defendia o estudo do contexto histórico, que era local e finito em oposição à visão universalista de Hegel. Dilthey acreditava que a história não deveria ser escrita para oferecer lições de moral, nem tampouco que se prestasse à política. A militância política deveria se ater apenas às questões do presente. Porém, com relação ao passado, ele deveria ser estudado cientificamente. O que diferia, portanto, era a abordagem científica defendida por ele. Inspirado na Crítica da razão pura, de Kant, Dilthey propôs uma teorização sobre o que ele definiu como sendo as ciências do espírito em contraposição às ciências da razão, estudadas por Kant. "O que o interessa em Kant é seu ponto de partida interno para o conhecimento da natureza, isto é, seu ponto de vista transcendental. A ciência é construída a partir do sujeito. Para Kant, não se pode ir além do sujeito e de suas categorias. O sujeito transcendental é posto copernicamente no centro do universo. E, com isso, a metafísica teria sido superada." (REIS, 2006, p. 235) Dilthey não acreditava na possibilidade da existência de leis que pudessem reger os fenômenos das ciências do espírito. Ao contrário, ele acreditava que a compreensão antecedia a criação ou o conhecimento dessas leis, as quais eram estabelecidas no modelo explicativo oferecido às “ciências da razão” ou ciências naturais. Para Dilthey, o sujeito das ciências do espírito era a vida e a história. Ou seja, ele era histórico, portador de uma experiência interna e não apenas racional. As questões subjetivas eram portadoras de significados e elas traduziam-se nas vontades, paixões e intencionalidades com que o sujeito constrói sua vida, ao criar e seguir valores particulares. Por isso, a vida, entendida por ele enquanto sujeito, era ao mesmo tempo histórica e psicológica. Dilthey inspirou-se em Kant para depois abandoná-lo. Seu sujeito não era intelectual, pois partia do conceito de que o sujeito do conhecimento era o homem em sua vida no tempo e em sua historicidade. Foi nesse momento, que ele se aproximou do pensamento dos historiadores da escola dos Annales, ao entender a necessidade de estudar o homem em seu tempo, da mesma forma que Marc Bloch defendeu que a história deveria ser a ciência do homem no tempo. Aula 2 - Fim das metanarrativas e a encruzilhada da história por intermédio do pensamento de Fukuyama e Sader. O QUE SÃO AS METANARRATIVAS? Metanarrativa é um termo literário e filosófico que significa a narrativa para além da própria narrativa. Na filosofia, ela tem o sentido de uma grande narrativa, tão superior que a torna capaz de explicar todo o conhecimento existente ou uma verdade absoluta. A Bíblia e o Alcorão são exemplos de metanarrativas religiosas. Outros exemplos são as ideologias iluministas e marxistas. QUAL O PROBLEMA DAS METANARRATIVAS? Para entender esse problema, é necessário apresentar um dos principais expoentes da pós- modernidade, o francês Jean-François Lyotard. Lyotard foi um filósofo francês que nasceu em 1924 e morreu em 1998. Autor de diversos livros, interessa-nos mais profundamente sua obra A condição pós-moderna, na qual ele fala da fragmentação e multiplicação dos centros, assim como da complexidade das relações sociais entre os homens. Explica ainda que o estado ou condição pós-moderna seria aquele que tomou forma na cultura em geral, depois de transformações súbitas nas regras que definiam o funcionamento das ciências, da literatura e das artes, a partir do século XIX. "...considera-se ‘pós-moderna’ a incredulidade em relação aos ‘metarrelatos’. É, sem dúvida, um efeito do progresso das ciências, mas este progresso, por sua vez, a supõe. Ao desuso do dispositivo metanarrativo de legitimação corresponde sobretudo a crise da filosofia metafísica e a da instituição universitária que dela dependia." (LYOTARD, 1993, p. 3) As metanarrativas foram de fundamental importância na produção e no conhecimento histórico como um todo. Se recordarmos que as ideologias iluministas e marxistas são metanarrativas, elas, enquanto filosofias da história, contribuíram para a consolidação do conhecimento histórico ainda no século XIX. Vale recordar que nos séculos XVIII e XIX, a narrativa histórica, vinculada aos modelos utilizados para construir a história das nações, era defendida por diversos iluministas. E foi percorrendo inicialmente esses caminhos que o conhecimento histórico foi gradativamente sendo alçado à condição de conhecimento científico. Lyotard, ao apresentar sua incredulidade com relação às metanarrativas, exprimiu seu “descrédito a qualquer teoria com aspirações de totalidade sobre o mundo e as experiências humanas” (MARCZAL, 2016, p. 196). Ele partiu do pressuposto de que a mudança no estatuto https://a9256-2727584.cluster213.canvas-user-content.com/courses/9256~17802/files/9256~2727584/course%20files/Unidade-4/aula-1.htm#more-info-1 06/06/2021 OneNote https://onedrive.live.com/redir?resid=9489A7AB219A28DE%211830&page=Edit&wd=target%281º PERÍODO.one%7C6a7f80b0-35ae-42b9-95… 13/15 do saber acompanhava o ingresso das sociedades em uma era pós-industrial e a cultura em um período de pós-modernidade. Esse período caracterizou-se pela reconstrução e pela reorganização do pós-guerra, assim como pelo surgimento de novos problemas e desafios, essenciais na reorganização dos saberes e das maneiras de se entender a realidade (MARCZAL, 2016, p. 195-196). A terceira geração da escola dos Annales já havia demonstrado quão fragmentada se mostrava a realidade humana. O que ainda não havia acontecido, ou seja, o desmoronamento dos grandes modelos políticos, apresentou-se apenas nos últimos anos do século XX. Emir Sader e Francis Fukuyama fizeramalgumas considerações importantes que se identificam com esse movimento da condição pós-moderna, proposto por Lyotard. A produção dos dois autores vem fazer eco ao entendimento de que os modelos que existiam, até a primeira metade do século XX, haviam atingido uma espécie de esgotamento, mostrando- se ineficazes, segundo a proposta a qual se vinculavam. E, em meio a tantas dúvidas, permanece o questionamento. Qual ou quais os caminhos que se podem apresentar à história em meio à decadência dos grandes modelos? Será que se pode esperar ainda alguma coisa, alguma novidade, alguma proposta para o estudo que o homem faz do próprio homem, como queria Dilthey? Ou o que se pode esperar deste tempo em que o homem atualmente está inserido? A história realmente chegou ao seu fim? Aula 3 - Novos e velhos caminhos, a disputa pela história e o olhar de Mészáros. QUAL OU QUAIS OS CAMINHOS QUE SE PODEM APRESENTAR À HISTÓRIA EM MEIO À DECADÊNCIA DOS GRANDES MODELOS? A HISTÓRIA REALMENTE CHEGOU AO SEU FIM? O filósofo marxista Istvan Mészáros escreveu um livro que se intitula O desafio e o fardo do tempo histórico. Nele, ele afirma que: "Indivíduo nenhum e nenhuma forma concebível de sociedade hoje ou no futuro podem evitar as determinações objetivas e o correspondente fardo do tempo histórico, bem como a responsabilidade que necessariamente emerge de ambos. Em termos gerais, talvez a maior acusação contra nossa ordem social dada é que ela degrada o fardo inescapável do tempo histórico significativo — o tempo de vida tanto dos indivíduos como da humanidade — à tirania do imperativo do tempo reificado do capital, sem levar em conta as consequências." (MÉSZÁROS, 2007, p. 33) Se pensarmos nas colocações feitas na última aula com relação ao fim das metanarrativas, Mészáros propôs uma outra chave de leitura. Ele chamou a atenção para o fato de que o tempo histórico, o nosso tempo de vida, seja do indivíduo, seja da humanidade como um todo, estava sendo degradado pelas condições promovidas pela ordem social vigente. Ele ainda defendeu em seu livro a ideia de que as esferas institucionais ou parlamentares eram incapazes de promover a destruição do sistema de domínio social do capital, cujo processo seria necessário para colocar um freio à lógica destrutiva que se vincula a esse sistema. O mundo, enquanto organismo vivo, estava em crise. O fim da história, o último homem e o fim das metanarrativas eram, assim, construções mentais, literárias e intelectuais que refletiam exatamente a crise do mundo. Dessa forma, Mészáros acreditava que somente um movimento de massas, amplo e radical, poderia, talvez, ter a força de se interpor diante desse sistema de domínio social. Acontece que, em algumas situações, antes de começar tudo do zero, vale a pena dar uma olhada nos escombros e reavaliar a situação. Foi isso, de certa forma, que Mészáros fez em Para além do capital. Nesse livro, o autor trabalhou a distinção entre capital e capitalismo, às vezes entendidos como sendo uma e a mesma coisa. Ao propor um novo estudo sobre a proposta de Karl Marx e Friedrich Engels, ele se debruçou sobre a metanarrativa marxista, buscando não mais os modelos explicativos aplicáveis aos diversos momentos da história, mas os elementos que poderiam ainda persistir ou serem ressignificados. Essa era proposta do neo-revisionismo. E ele não foi o único. Paralelo a esse período de crítica pós-moderna, diversos autores ergueram a voz para defender novos usos de antigos projetos. A narrativa voltou a ser pensada para a escrita da história, assim como os modelos biográficos. Até as metanarrativas estavam sendo revisitadas, porém, não mais sob a ótica eurocêntrica, mas pensando-se nas possibilidades do que Frederick Gomes Alves chamou de “discurso emancipador de todas as culturas históricas, cujo elemento comum seria um conceito de humanidade” (2014, p. 1). Nesse contexto do final do século XX e início do século XXI, a história, após ter observado o seu fim decretado, passou a ser vista como em constante construção. Por isso, pode-se entender o caráter de reescrita permanente do conhecimento histórico, mesmo que isso signifique uma prática constante de significação e ressignificação. O paradigma pós-moderno traz alguns elementos muito significativos para a escrita da história, sendo alguns deles já presentes nas discussões que tiveram lugar quando do surgimento da nova história e da micro-história. As narrativas de caráter universal foram gradativamente abandonadas e em seu lugar viu-se o crescimento da defesa dos contextos locais. A história se viu com múltiplas formas de apresentação e de realização da sua prática, e todas elas coexistindo entre si. Contrariamente aos caracteres perenes e contínuos que eram https://a9256-2727584.cluster213.canvas-user-content.com/courses/9256~17802/files/9256~2727584/course%20files/Unidade-4/aula-2.htm#more-info-2 https://a9256-2727584.cluster213.canvas-user-content.com/courses/9256~17802/files/9256~2727584/course%20files/Unidade-4/aula-2.htm#more-info-3 06/06/2021 OneNote https://onedrive.live.com/redir?resid=9489A7AB219A28DE%211830&page=Edit&wd=target%281º PERÍODO.one%7C6a7f80b0-35ae-42b9-95… 14/15 vinculados àquilo que se entendia como digno de ser recordado, os fatos efêmeros ou descontínuos foram vistos enquanto portadores de significado, passíveis de serem agraciados pela memória. E, apesar do fim das metanarrativas, os diversos sentidos da interpretação foram ouvidos. A pós-modernidade dialoga intimamente com o movimento de globalização que nos cerca. Esse movimento permitiu uma série de alterações no campo econômico, como também um diálogo e um conhecimento maior das diversas realidades existentes no mundo. Talvez esse seja o legado tanto da globalização quanto de sua aliada, a pós-modernidade, ou seja, de mostrar que o mundo pode ser lido de forma distinta daquela proposta e seguida por tantos séculos, no qual a Europa era o centro do mundo. Permitir, assim, que outras culturas tenham voz e vez e que teorias antigas possam ser revistas e ressignificadas diante dos novos conhecimentos e acontecimentos. Por fim, entender e aceitar que a escrita da história pode ser muito mais rica do que pensávamos até então. RESUMO DA UNIDADE As propostas apresentadas pela terceira geração da escola dos Annales, a diversificação encontrada na escrita da história a partir da década de 1960, no que se refere às abordagens e aos temas, o retorno da narrativa e a valorização da história do tempo presente contribuíram para que os caminhos da história fossem revistos e repensados. Os grandes modelos que ainda vigoravam no século XIX, relacionados às metanarrativas herdeiras da tradição da filosofia da história, mostraram-se no mínimo questionáveis, e, com certeza, ineficazes. As propostas do iluminismo e do marxismo não explicavam mais a realidade e a escrita da história refletiu essa condição. A segunda metade do século XX assistiu a uma progressiva alteração dos padrões históricos. Os Annales já haviam chamado a atenção para uma escrita da história que se aproximava mais da realidade humana e que dialogava com as outras áreas do conhecimento, partindo do pressuposto de que o ser humano é formado por diversas essências, sendo cada uma delas estudada por áreas distintas do conhecimento. Dessa forma, para que o conhecimento histórico chegasse o mais próximo daquilo que se entendia por real e verdade, seria útil pedir o auxílio das outras ciências. O entendimento de que toda história pode ser contada, ou seja, toda história tem sua importância no conjunto da sociedade, mesmo aquela que se refere a grupos ou pessoas antes marginalizadas, alterou profundamente a dimensão dos temas, que passaram a ser objeto de estudo dos historiadores, seja para dar voz aos excluídos, seja para perceber o alcance das ideias, dos pensamentos e dos conceitos que circulam entre os grupos sociais. Nas últimas décadas do século XX, filósofos e sociólogos, como Fukuyama, Sader e Mészáros, deram suas contribuiçõespara se pensar os novos caminhos da história. Ao mesmo tempo, percebeu-se que o historicismo, proposto no século XIX por Wilhelm Dilthey, dialogava profundamente com os questionamentos apresentados à teoria da história, mostrando-se, assim, profundamente atuais. Portanto, novos caminhos foram apresentados e velhos caminhos foram repensados. E, apesar de ter sido apregoado que a história teria chegado ao fim, ela permanece. ENCERRAMENTO 06/06/2021 OneNote https://onedrive.live.com/redir?resid=9489A7AB219A28DE%211830&page=Edit&wd=target%281º PERÍODO.one%7C6a7f80b0-35ae-42b9-95… 15/15
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