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TEORIAS DA HISTÓRIA

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06/06/2021 OneNote
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Teorias da História 
sábado, 15 de maio de 2021 21:45 
 
 UNIDADE 1 
 
IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA 
 
Esta disciplina tem relevância por fornecer as bases conceituais sobre as quais o historiador desenvolve seu trabalho de
pesquisa e entender sobre quais pressupostos a história é escrita. Ao compreender os elementos constitutivos da teoria da
história, o profissional será capaz de perceber como a escrita da história se articula e depende dos conceitos que
fundamentam o conhecimento histórico transmitido por ele em sala de aula aos seus alunos. 
OBJETIVOS: 
 
• Identificar os conceitos fundamentais da análise histórica. 
• Identificar o processo de construção da história como disciplina, considerando o tempo e a
interdisciplinaridade. 
• Analisar criticamente a construção da história como ciência ao longo dos séculos XIX e XX. 
• Analisar as contribuições de Dilthey, Fukuyama, Sader e Mészáros para a teoria da história. 
 
 
IPC: 
A proposta da disciplina é discutir as questões referentes às especificidades do conhecimento histórico e
do ofício do historiador, enfatizando os principais pressupostos da ciência histórica: fontes, objetos e
métodos. Aprofunda a importância, principalmente, teórico-metodológica do tempo para o
conhecimento histórico e/ou para o profissional da história. Os paradigmas epistemológicos dos estudos
históricos, a institucionalização dos estudos históricos nas universidades e institutos de pesquisa, a
ciência histórica nos séculos XIX, XX e XXI. O tempo histórico e as manipulações históricas: as
construções ideológicas e políticas inerentes à história. 
AULA 1  - Fato histórico, fontes e métodos 
FATOS HISTÓRICOS: São considerados faros históricos as ações do homem, marcadas no
tempo e no espaço, além do registros significativos da presença humana. 
FONTES HISTÓRICAS: Antigamente, eram consideradas fontes históricas, todos os
documentos oficiais encontrados, como os registros dos atos dos reis, leis promulgadas,
declarações de guerras, entre outros documentos. Atualmente, são consideradas fontes
históricas, todos os vestígios humanos encontrados pelos historiadores. 
TIPOS DE FONTES HISTÓRICAS: 
1º - Fontes escritas: Documentos, cartas, diários, leis, jornais, livros e outras inscrições. 
2º - Fontes Visuais: Fotografias, pinturas, desenhos e obras de arte visual em geral. 
3º - Fontes Audiovisuais: Filmes, entrevistas, músicas e gravações diversas. 
4º - Fontes Arqueológicas: Vestígios e fragmentos arqueológicos. 
5º - Fontes Orais: Relatos verbais, lendas e narrativas. 
6º - Fontes Primárias: As primárias são aquelas que remetem diretamente ao fato estudado,
como um documento, uma fotografia, um relato ou até mesmo um livro. 
7º - Fontes Secundárias: As secundárias são aquelas que, de alguma forma, foram intermediadas por
um leitor ou agente. 
 
 
 
 
A análise histórica pressupõe que o historiador se debruce sobre os fatos e fontes com um determinado
intuito. Na sucessão dos tempos, esse objetivo pode ser traduzido pelo ato de julgar os fatos ocorridos
ou de compreender esses mesmos fatos. 
ANÁLISE HISTÓRICA: 
O QUE É A HISTÓRIA? 
História é a ciência que estuda os acontecimentos passados, relacionados seres humanos, a instituições,
e as suas atitudes no espaço e tempo, com a intuição de causar reflexão no entendimento do presente. 
 
QUAL A UTILIDADE DA HISTÓRIA? 
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COMO SELECIONAR FATOS HISTÓRICOS? 
1º Regra - Um fato histórico será selecionado conforme a relevância do problema, segundo o
objetivo da pesquisa do historiador. 
2º Regra - Os métodos de seleção devem ser expostos, tanto aos pesquisadores, quanto aos
leitores. 
Trazer conhecimento do passado, visando o entendimento do presente, criando uma diretriz
para o futuro. 
 
AULA 2 -  Ciência humana: história e sua especificidade 
OS TIPOS DE MÉTODOS HISTÓRICOS: 
1- Modelo nomológico: 
• Defendem a unidade da ciência; 
• Relação causal; 
2- Modelo compreensivo: 
• Não há unidade no método científico 
• Compreensão das relações da vida; 
3- Modelo conceitual 
• Interesse intelectual, sociológico; 
• Construção de tipos ideias e conceitos; 
• Organização lógica do passado; 
4- Modelo narrativo: 
• O texto histórico resulta de uma construção teórica; 
• Histórico - problema, narrar os fatos tal como se passaram; 
• Mediação entre tempo e narrativa; 
O QUE É O CONHECIMENTO HISTÓRICO? 
• O conhecimento histórico é um conhecimento indireto, uma vez que o passado é acessado por meio de testemunhos, de intermediários. 
• O discurso produzido pelo historiador é criado a partir de sua própria linguagem, não existindo, portanto, uma linguagem específica, que
caracterizaria o conhecimento histórico e que impediria que o discurso histórico sofresse os equívocos próprios da linguagem, capaz de
reproduzir verdades e mentiras. 
• O conhecimento histórico não pode ser conhecido a priori, não permite uma relação concreta de causalidade. 
• É um conhecimento que lê o passado com os olhos do presente, ou seja, está ligado à época de sua produção. 
 
 
AULA 3 - A verdade, o real e sua construção, objetividade e subjetividade no
discurso e conhecimento histórico 
A VERDADE É ÚNICA E ABSOLUTA OU ELA É MUTÁVEL E RELATIVA? 
1- Nível ontológico: No nível ontológico, busca-se a verdade como aquilo que é, que não é
afetado pela mudança. 
 
2- Nível epistemológico: No nível epistemológico, verdade é aquilo que o ser humano pode
formular em linguagem humana com uma relativa segurança sobre objetos delimitados. Nesse
sentido, ela é um conhecimento comunicável e controlável, criado a partir da relação entre o
sujeito e o objeto.  (SUBJETIVO) 
IPC: 
Ontológico – Relativo à ou próprio da ontologia, a investigação teórica do ser. 
Ontologia – Segundo o aristotelismo, parte da filosofia que tem por objeto o estudo das
propriedades mais gerais do ser, apartada da infinidade de determinações que, ao qualificá-lo
particularmente, ocultam sua natureza plena e integral. 
 
Epistemológico – Relativo à epistemologia, à teoria do conhecimento. 
Epistemologia – Reflexão geral em torno da natureza, etapas e limites do conhecimento
humano, especificamente nas relações que se estabelecem entre o sujeito indagativo e o
objeto inerte, as duas polaridades tradicionais do processo cognitivo; teoria do conhecimento.  
 
 
O conhecimento histórico se
torna objetivo ao tentar esgotar
as possibilidades de investigação,
fazendo da relatividade, mais um
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"A INTERPRETAÇÃO DO PASSADO E A COMPREENSÃO DAS
FONTES SÃO QUESTÕES SUBJETIVAS" 
recurso de leitura dos fatos
históricos. 
RESUMO DA UNIDADE 
Nesta unidade você aprendeu que os fatos históricos são os registros significativos da presença
humana, situações marcadas no tempo e no espaço, passíveis de serem analisadas em conjunto
com outros fatos históricos. Para alcançar a verdade e/ou objetividade desse fato histórico, são
utilizadas as fontes históricas, vestígios humanos que podem ser de natureza escrita, visual,
audiovisual, arqueológica e oral. Vimos também que elas podem ser classificadas entre
primárias (aquelas que responderão diretamente aos questionamentos do historiador) e
secundárias (aquelas cujas informações são resultado da intermediação de um leitor ou
observador). A abordagem desses fatos e a utilização das fontes são determinadas pelo
conhecimento histórico, que determina também a análise histórica. A história insere-se no
conjunto das ciências humanas e tem como objeto de estudo o homem no tempo. Para que o
conhecimento histórico seja alcançado de forma aceitável enquanto ciência, foram propostos
métodosou modelos. Os principais são o nomológico, o compreensivo, o conceitual e o
narrativo, que variam em função dos conceitos epistemológicos que fundamentam a história.
Como a verdade e o real são conceitos datados, historicamente construídos, é necessário que a
metodologia utilizada para estudá-los seja apropriada ao discurso e ao conhecimento histórico
que se espera construir. Por isso, a variedade de métodos/modelos. 
UNIDADE 2 
Aula 1 - Perspectiva do tempo histórico como construção social 
TIPOS DE TEMPO: 
 
Tempo Cronológico: 
 
Tempo Histórico: 
O tempo histórico chega para mediar o tempo natural com o tempo filosófico, definindo
que a ação humana e sua intervenção na natureza são passíveis de gerar uma significação
própria, entendida pelo tempo filosófico, mas descrita e problematizada pela história. 
 
 
Tempo de Deus: 
 
Tempo da Filosofia: 
O tempo da filosofia refere-se ao mundo interior, íntimo. Este não pode ser medido, é
irreversível, é intenso porque definido pela qualidade dos fatos vivenciados,
experimentados. 
 
Tempo Físico: 
O tempo da física é o que reflete a sucessão dos movimentos naturais, ao mundo exterior,
por isso pode ser medido, abstraído, dimensionado e que nunca cessa, uma vez que a
renovação constante da natureza pressupõe que nunca haverá um fim. 
A IMPORTÂNCIA DA PERCEPÇÃO DE TEMPO 
Fernand Braudel, em seu livro O Mediterrâneo e o mundo Mediterrâneo na Época de
Filipe II, apresenta as três durações com que é possível lidar com relação ao tempo: a curta, a
média e a longa duração. Dessas, a mais importante é a longa duração, que se relaciona com as
estruturas, com as mentalidades. Normalmente, a transformação dessas estruturas e
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mentalidades é muito lenta, e como geralmente não é percebida por aqueles que a estão
vivenciando, fica a sensação de que não se alteram. 
 
 
 
MAS QUAL A IMPORTÂNCIA DESSA ALTERAÇÃO NA PERCEPÇÃO DO
TEMPO? 
 
 
Se antes, o tempo era entendido de forma linear, sucessiva, era nessa sucessão que a história deveria
estudar os eventos que tinham lugar nessa linha do tempo. Quando os historiadores dos Annales
propuseram a utilização do tempo, fizeram-no a partir do presente. 
É no tempo presente que o historiador se situa, e é a partir desse tempo que o passado é lido. Essa
mudança com relação ao tempo abre a possibilidade para que o tempo presente seja também estudado,
tornando-se um novo campo de pesquisa para o historiador. 
No entanto, vimos que, para a filosofia, o conceito de tempo é entendido de forma distinta do modo de
interpretação da abordagem histórica, assim como para a física. É interessante partir, então, para os
entendimentos das diversas áreas do conhecimento, uma vez que a história, ao estudar as ações do
homem no tempo, dialoga com as outras áreas do conhecimento que também estudam as criações ou
ações humanas. Este é o tema da próxima aula: a interdisciplinaridade e os campos do saber. 
 
 
 
 
Aula 2 - Interdisciplinaridades e campos do saber 
 
 
CIÊNCIAS NATURAIS: "INFLUENCIADA PELO ILUMINISMO" 
 
As ciências naturais são aquelas que se dedicam ao estudo da natureza. Tratam dos aspectos
objetivos da realidade e podem ser organizados em torno de cinco grandes núcleos: a biologia,
a física, a química, a geologia e a astronomia. 
 
 
CIÊNCIAS HUMANAS: 
 
As ciências humanas compreendem as áreas do conhecimento que têm como objeto de estudo
a ação criativa do homem no mundo. Englobam diversas áreas do conhecimento relativo ao
homem, como a filosofia, a sociologia, a antropologia, a história, a geografia, a ciência da
religião, letras, teoria da arte, entre várias outras. Algumas dessas ciências também podem ser
classificadas como ciências sociais, distintas das chamadas humanidades, uma vez que estudam
os aspectos sociais do homem no mundo. 
 
 
OBS: 
Essa prática da divisão das áreas do conhecimento remonta a modelos da Antiguidade, em que,
geralmente, os conhecimentos que se mostravam mais úteis à formação dos homens livres
eram organizados para a prática educacional. Na idade média, seguindo o modelo da
Antiguidade, instituiu-se o trivium (composto pela lógica, gramática e retórica) e
o quadrivium (composto pela aritmética, música, geometria e astronomia), que compunham
as artes liberais, estudos para os homens livres, em oposição às artes mecânicas próprias aos
servos e escravos. Todo esse conhecimento era, porém, durante o período medieval na Europa,
norteado pelo conhecimento religioso proveniente da Igreja Católica. Foi a partir do
Renascimento que o estudo e a educação aos poucos se desvincularam da religião e,
gradativamente, foram sendo desenvolvidos os conceitos que norteariam a produção do
conhecimento no mundo moderno, como o humanismo, o racionalismo, o naturalismo e
o cientificismo. 
 
AUGUST COMTE - "FUNDADOR DO POSITIVISMO" 
 
POSITIVISMO: 
Corrente filosófica do século XIX que influenciou a organização do pensamento científico de
então, já que, no lugar de buscar as causas dos fenômenos, a filosofia positivista busca as leis
que regem esses fenômenos. Seus métodos são a observação, a experimentação, a comparação
e a classificação. É neste modelo, o do positivismo, que os historiadores do século XIX vão se
basear para buscar a cientificidade da história, abandonando o modelo da filosofia da história,
no qual as causas e os fins seriam os elementos mais importantes. 
 
 
DE QUE FORMA A HISTÓRIA E A FILOSOFIA PODEM SER
COMPLEMENTARES? 
 
 Da mesma forma que a Filosofia precisa da História da Filosofia e da História dos Homens para
enriquecer suas pesquisas, toda pesquisa pressupõe a existência de uma abordagem filosófica,
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já que o homem questiona o passado em busca de respostas para o presente. Aí se encontra o
caráter interdisciplinar, visto na atualidade entre as diversas ciências humanas. 
 
 
 
 
 
Aula 3 - O tempo histórico, a interdisciplinaridade e a construção da disciplina 
 
 
SOBRE A HISTÓRIA: 
 
O termo “história” sempre foi utilizado tanto para se referir aos acontecimentos do passado
quanto para dizer da narrativa ou conhecimento construído a partir desse passado. Isso explica
o porquê de a história, até o século XIX, ser vista simplesmente como a escrita ou narrativa do
acontecido. Essa escrita ou narrativa não era nem inocente, nem neutra, sempre se prestava a
alguma ideologia que norteava os interesses dos grupos para quem se dirigia. Foi assim com a
história dos santos e dos padres da Igreja, com a escrita da história que serviria de fundamento
para a identidade das nações que surgiam, com a memória que se queria preservar dos
reinados. 
Foi somente no século XIX que a história passou por um processo de reflexão e construção da
sua prática pensada a partir dos conceitos e preceitos defendidos pelo iluminismo. A busca da
razão, da luz, contrária às trevas do antigo regime, à ignorância que se queria abolir, atingiu as
diversas áreas do conhecimento da época. E esses intelectuais, imbuídos desses ideais,
pretenderam fornecer também as bases para uma história que se prestasse aos novos ideais.
Eles não desconheciam o fato de que a verdade e o real podem ser manipulados para atender
aos objetivos de pequenos grupos que dominam muitas vezes nações inteiras. Porém, tinham o
ideal de chegar a uma verdade plena, pura, absoluta. Como, porém, chegar a essa verdade? 
 
 
 
COMO ALCANÇAR, COM O MÍNIMO DE FALHAS, A ESCRITA REAL SOBRE O
ACONTECIDO? 
Os historiadores do século XIX chegaram à conclusão de queo melhor caminho para se alcançar
essa regularidade em torno do conhecimento produzido pela história seria aplicar aos fatos a
serem estudados um método capaz de garantir a regularidade necessária para a percepção das
leis que regeriam os fenômenos, os fatos. Esse método, tomado de empréstimo das ciências
naturais, modelo que existia àquela época, buscou uma regularidade por meio de uma
padronização das fontes a serem utilizadas e de um afastamento da narrativa e da ficção. 
Falamos um pouco atrás que a história no século XIX foi pensada de forma distinta da ocorrida
até a época, e que esse processo se deu com a influência do pensamento iluminista do século
XVIII. Alguns filósofos deste século, por motivos diversos, pensaram sobre a história e sua
utilidade. 
 
 
MONTESQUIEU: 
Montesquieu estudou as origens da civilização utilizando, para isso, a história dos sistemas
jurídicos. 
 
VOLTAIRE: 
Voltaire acreditava que a história permitiria ao homem o conhecimento da história universal,
mas essa história deveria ser alcançada por meio de uma cronologia exata, da consulta aos
documentos originais e renovando-se os temas. 
 
 
DIDEROT E D’ALEMBERT: 
 
Os enciclopedistas Diderot e d’Alembert demonstram o interesse pela história, isso pode ser percebido
nos fatos cotidianos e nas técnicas colocadas em sua enciclopédia, que começavam a ser objeto de
interesse dos historiadores. 
 
Esses filósofos do século XVIII buscavam na história os conhecimentos necessários para garantir
que a humanidade alcançasse o progresso a que estava destinada. A história das civilizações
ajudaria a compreender a sua própria época. Foi daí que surgiu a ideia da história como
conhecimento para se entender o presente e preparar ou planejar o futuro. Acontece que, a
partir do século XIX, a concepção metafísica perdeu o espaço diante do avanço positivista nas
ciências. 
É esse modelo metafísico que o positivismo de Comte vai combater. Os estudiosos passam a
entender que o modelo metafísico não é mais capaz de responder às questões propostas pelo
homem, somente o que é percebido pelos sentidos poderia ser comprovado, poderia ser
considerado real. E é o positivismo que vai fornecer as bases para o desenvolvimento das
ciências durante o século XIX. Sobre esse assunto, o conhecimento positivo, Reis cita Lefebvre
quando este afirma que competia a esse conhecimento, o positivista, “observar os fatos,
constatar suas relações, servir-se delas para a ciência aplicada”. (REIS, 2011, p. 13). Daí a
preocupação com a utilização das fontes para se alcançar a cientificidade do conhecimento
construído, mesmo que o conhecimento ainda deva se constituir em torno dos grandes fatos,
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06/06/2021 OneNote
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aqueles significativos para a história da humanidade ou da nação. E, nesses casos,
os documentos oficiais ainda eram os mais confiáveis para a história que se queria escrever. 
Outro elemento importante para se alcançar esse caráter científico relacionava-se à
necessidade da narrativa. Isso significava, no século XIX, afastar-se da narrativa. A narrativa era
entendida como elemento da literatura, como característica de um modelo de escrita da
história que precisava ser revisto. A literatura não era conhecida por sua adesão à verdade, e a
busca da verdade deveria ser a primeira preocupação do historiador. Uma verdade que se
pretendia absoluta, capaz de ser comprovada pelas fontes consultadas por meio de um método
seguro, neutro o suficiente para que o historiador pudesse ser alçado à condição de cientista. 
 
 
 
RESUMO DA UNIDADE: 
Nesta unidade, você estudou como o tempo é pensado pela história. As ordenações lógicas que são
encontradas em outras áreas do conhecimento com relação ao conceito de tempo não são aplicáveis
para a história. Essa inadequação se explica pela utilização do tempo na abordagem do objeto de estudo
do historiador. Passado, presente e futuro se articulam de uma forma muito peculiar, em função dos
objetivos dos historiadores em sua escrita. Os resultados dessa articulação poderão ser alterados em
função da escrita da história adotada nos diversos períodos. Essa relativização ocorre em função de o
homem ser dotado de essências múltiplas, objeto de estudo das ciências humanas, desenvolvidas com o
objetivo de estudar esse caráter de humanidade do homem, ou como dizem alguns, as ciências do
espírito. Foi para estudar a presença do homem e sua ação no tempo que a história se constitui como
ciência. No decorrer do tempo, a história vem estabelecendo um diálogo interdisciplinar. Essa
característica é justificada pela necessidade de se buscar as várias possibilidades de intervenção humana
no tempo. A constituição da história como ciência passou por alguns estágios. Se, num primeiro
momento, para garantir sua cientificidade, os historiadores buscaram a objetividade das fontes, a
utilização de métodos que garantissem essa objetividade e a abordagem clara dos fatos estudados, a
relação com a narrativa, porém, foi fruto de diversas críticas. Durante muito tempo, pensou-se que o
uso da narrativa pelos historiadores seria um recurso que empobreceria a história, tirando dela o caráter
de objetividade, aproximando-se da narrativa literária a que os historiadores do século XIX entendiam
ser necessário negar. De qualquer forma, a reflexão filosófica em torno da história, esteve presente em
sua origem e ainda faz parte dos questionamentos sobre a prática do historiador. 
 
 UNIDADE 3 
 
 
 
 
Aula 1 - Historicismo, materialismo histórico e teoria positivista na história 
 
 
POSITIVISMO HISTÓRICO 
O positivismo histórico é herdeiro direto do positivismo de August Comte e se desenvolveu
principalmente na França do século XIX. Na segunda aula da Unidade 2, foi estudada a relação
entre o positivismo de Comte e as filosofias da história. Para Comte, a realidade é o que se
pode conhecer mediante a percepção dos sentidos. Essa percepção é a que pode ser alcançada
por meio do método científico. No campo científico, a principal questão levantada refere-se ao
fato de o positivismo buscar as leis que regem os fenômenos, no lugar de buscar as suas causas.
A metodologia utilizada pressupunha a observação, a experimentação, a comparação e a
classificação. 
Essa vertente historiográfica, a positivista, é também conhecida como história tradicional. A
aspiração dos historiadores positivistas era construir uma história universal, comum a todos os
homens. Para esses historiadores, a história traz o fato propriamente dito e é construída a
partir de documentos. Se não existe documento, não existe história, já que não existe a
possibilidade de comprovar os fatos. 
Essa metodologia, perfeitamente aplicável às ciências da natureza, foi, por alguns estudiosos,
experimentada com relação ao conhecimento histórico. Esperava-se que o historiador fosse, tal
qual o cientista das ciências da natureza, imparcial diante do seu objeto de pesquisa e objetivo
na condução da sua pesquisa. No entanto, como o objeto de estudo das ciências humanas é
distinto em diversos aspectos daquele das ciências da natureza, a aplicação dessa metodologia
foi questionada muito cedo, dentro do próprio século XIX. 
Os positivistas franceses do século XIX influenciaram a chamada “escola metódica” na França,
responsáveis pela criação da revista Revue Historique a partir de 1876. Mantiveram a
preocupação em buscar e garantir o caráter científico da história, mas não compartilhavam de
forma tão radical os conceitos de objetividade e imparcialidade dos primeiros historiadores
positivistas. Os historiadores da escola metódica estavam a meio caminho entre os primeiros
positivistas e os historicistas alemães. 
Essa vertente historiográfica, a positivista, é também conhecida como história tradicional.A aspiração
dos historiadores positivistas era construir uma história universal, comum a todos os homens. Para esses
historiadores, a história traz o fato propriamente dito e é construída a partir de documentos. Se não
existe documento, não existe história, já que não existe a possibilidade de comprovar os fatos. 
 
 
O HISTORICISMO 
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O historicismo é uma corrente historiográfica que se consolidou no século XIX na Alemanha,
mas que não ficou restrito nem a esse século nem a esse país. Veremos posteriormente que as
proposições historicistas são extremamente atuais em pleno século XX. 
Os historiadores que primeiro se opuseram ao modelo positivista acreditavam que, na história,
nada estava realmente pronto e acabado. Ao contrário, sendo o homem um ser múltiplo e
inacabado, uma vez que está em constante transformação, a história escrita sobre ele não pode
ser fechada. 
O primeiro dos historicistas é o alemão Leopold von Ranke. Nascido em 1795 e falecido em 1886, Ranke
se preocupou com o uso maciço de fontes e em narrar os fatos como eles realmente tinham acontecido.
Foi um dos maiores historiadores alemães do século XIX. Para ele, foi criada a cátedra de história na
Universidade de Berlim. Por sua atuação na renovação dos estudos históricos em seu tempo, é
considerado o pai do historicismo. 
 
 
 
Segundo Bentivoglio e Lopes (2013): 
"Pode-se dizer que o parâmetro rankeano inclui pelo menos três grandes princípios: o rigor
metódico para estabelecer a qualidade da informação extraída das fontes; a amplitude, a
articulação e a complementaridade entre os campos de conhecimento (teologia, filologia,
antiguidade greco-romana, direito etc.); a recusa de qualquer forma de pensamento
dogmático, transcendente ou dualista." 
 
Ranke acreditava que somente por meio do conhecimento histórico seria atingida a
compreensão total da vida. 
Os historicistas se opuseram veementemente ao modelo sugerido pelo positivismo histórico,
pois não acreditavam na possibilidade de o historiador agir de forma imparcial. Muito pelo
contrário, estando ele mesmo inserido em um contexto histórico, sua posição seria sempre a de
um pesquisador engajado. Consequentemente, esse horizonte de expectativa que o historiador
trazia de sua vivência fazia com que o conhecimento histórico produzido fosse um
conhecimento subjetivo. A objetividade que se esperava das ciências humanas, e que os
positivistas acreditavam ser possível também encontrar nas ciências humanas em
desenvolvimento, esbarrava na complexidade do ser humano, objeto imediato do estudo
dessas ciências. Daí a expectativa de um conhecimento subjetivo. Por fim, defendiam que, para
as ciências humanas, deveria ser criado um método específico, distinto daquele aplicado às
ciências naturais. 
A principal contribuição do historicismo relaciona-se à autonomia das ciências humanas. A
principal discussão dos historiadores vinculados a essa corrente no século XIX dizia respeito à
especificidade do conhecimento histórico, e sua preocupação era demarcar o território do
campo de conhecimento das ciências humanas. 
 
Esse historicismo do século XVIII tem seu início com a tese proposta por Giambattista Vico,
anticartesiana, na qual esse filósofo defendia que a física — principal objeto de estudo das
ciências naturais àquela época — era um conhecimento limitado da natureza. Uma vez que não
foi o homem quem criou a natureza, ele somente poderia ter um conhecimento parcial dela.
Com a história, ocorre o contrário, já que ela reflete e estuda as criações humanas, essas, sim,
passíveis de serem conhecidas e estudadas pelo homem, seu criador. Reis, analisando a tese de
Vico, reforça que “o homem nada é por natureza e recebe forma e conteúdo na história” (2006,
p. 221). Dessa forma, o conhecimento mais completo seria, por sua essência, o conhecimento
histórico. 
Leopold von Ranke e outros, seguindo as trilhas abertas pelo pensamento de Vico, vão propor,
ao longo do século XIX, uma estruturação do conhecimento histórico partindo exatamente
dessa diferenciação clara existente entre as ciências naturais e as humanas ou do espírito.
Contudo esse modelo e o do positivismo não são os únicos que tiveram lugar no século XIX. O
materialismo histórico veio com uma proposta distinta. 
 
MATERIALISMO HISTÓRICO 
O materialismo histórico surgiu a partir das proposições de Karl Marx e Friedrich Engels. 
Ao contrário dos modelos positivista e historicista, os quais possuíam uma clara vinculação com
a filosofia, o modelo proposto por Marx e Engels dialogava diretamente com a sociologia. É um
modelo que traz a proposta de uma história crítica, em que a ação do homem no meio em que
se insere é o objeto de estudo. O diálogo com a sociologia se torna claro nesse sentido ao
buscar o entendimento das relações que o homem estabelece com outros homens, em outros
grupos. 
Eric Hobsbawm (2013) recorda que a crítica feita por Marx e Engels à filosofia e à ideologia
alemãs dirigia-se essencialmente à crença de que a consciência, o pensamento, as ideias e os
conceitos determinariam as ações humanas na vida real e, consequentemente, suas condições
materiais. Eles defendiam que a vida prática, real, material, é que determinaria a consciência
humana. Marx e Engels acreditavam que a sociedade se organizou no decorrer do tempo em função
dos elementos econômicos que a norteavam. Conceitos como classe, mais-valia, luta de classe e modos
de produção foram propostos exatamente para facilitar o entendimento de como as relações de
produção estiveram na base da organização dos povos. O modelo proposto por eles visava ao
entendimento dessa organização social, que definiria todas as outras instâncias da existência humana. 
 
 
 
 
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Aula 2 - As teorias oriundas da escola dos Annales e suas gerações 
 
 
Em 1929, dois historiadores franceses, Lucien Febvre e Marc Bloch, fundaram uma revista, a
qual deram o nome de Anais de História Econômica e Social (Annales d’histoire économique et
sociale), com o objetivo de divulgar as pesquisas históricas que eles e o grupo a eles associado
desenvolviam. Sua proposta era ver a história de forma distinta à que era vista no panorama
estabelecido até então, expandindo as fronteiras dos estudos históricos e rompendo com os
limites da história positivista. O grupo que se reuniu em torno da revista criou uma corrente
historiográfica que ficou conhecida pelo nome de escola dos Annales. 
As principais características desse grupo de pesquisadores, o da escola dos Annales, era,
segundo Marczal (2016, p. 48), a negação da história tradicional positivista por meio da
oposição ao imperativo do político e à perspectiva de uma história-narração. Para Marc Bloch e
Lucien Febvre, a história deveria ser escrita a partir do abandono do modelo tradicional
positivista, o qual se caracterizava por um pensamento histórico ligado à história política
personalista e factual e à narrativa imparcial, pura e simples dos eventos. 
Marc Bloch e Lucien Febvre propuseram, em contrapartida, uma história que se basearia na
resolução deum problema, de uma questão que norteasse os estudos do historiador. Para isso,
esses historiadores sugeriram que, para que a história-problema fosse desenvolvida da melhor
forma possível, um proveitoso diálogo com as outras áreas de conhecimento das ciências
sociais deveria ser estabelecido. Assim, o objeto de estudo ou os eventos pesquisados seriam
abordados em sua totalidade, abrangendo o maior número de leituras possível. 
A proposta metodológica dos Annales era uma diversificação das fontes históricas a serem
utilizadas: documentos, cartas, mapas, obras de arte etc. 
Com essa diversificação, percebeu-se a necessidade de contar com outras áreas do
conhecimento, as quais poderiam colaborar para o entendimento do tratamento que essas
fontes deveriam receber. 
A produção historiográfica em torno da escola dos Annales é dividida em três gerações. Vamos
nos deter, nesta aula, na primeira e na segunda gerações. 
 
 
A PRIMEIRA GERAÇÃO 
 
 
A primeira corresponde ao período em que Lucien Febvre esteve dirigindo a revista, de 1929
até sua morte, em 1956. Esse período se caracteriza pela ênfase em uma produção histórica de
base interdisciplinar, não factual. A proximidade com as ciências sociais e a geografia é clara, e
os pesquisadores ligados à escola nesse momento se afastaram deliberadamente da história
política, que privilegiava os grandes homens e os grandes fatos ou guerras, prática comum
entre os historiadores positivistas. 
José Carlos Reis apresenta as diferenças e semelhanças entre Lucien Febvre e Marc Bloch, ao
descrever as principais características das três gerações dos Annales. 
 
"Febvre preferia tratar de sincronias, de estruturas fechadas, de uma história imóvel, e
não de uma história linear, progressiva e emancipacionista, como era a iluminista.
[...] Bloch também não era plenamente iluminista: neodurkheimiano, também já
percebia estruturas, o inconsciente repetitivo, as durações longas, os limites à ação, e
já era crítico em relação a teleologias. Ambos procuraram superar dialeticamente o
evento, isto é, negá-lo, integrando-o em uma longa duração. Mas ambos ainda
guardavam da tradição iluminista o otimismo em relação ao futuro, o humanismo, e
faziam ainda de certa forma uma história do sujeito e da consciência." 
(REIS, 2006, p. 79, grifos do autor) 
 
 
Para Reis, é na atuação dos dois fundadores que a primeira geração apresenta uma relação dos
Annales com o iluminismo, guardando o devido distanciamento relativo da atuação dos dois
com relação à proposta iluminista, como citado acima. 
O que esses dois historiadores buscavam era uma história mais abrangente, que incluísse, além
dos diálogos com as ciências sociais, reflexões acerca da psicologia e da linguística. Buscaram,
ainda, libertar-se da história que pressupunha o uso exclusivo da documentação histórica e a
preocupação cronológica dos fatos, antecipando, em parte, discussões que seriam mais
aprofundadas pelos estudiosos da segunda e terceira gerações. 
 
 
A SEGUNDA GERAÇÃO ­ FERNAND BRAUDEL 
A chamada segunda geração da escola dos Annales corresponde ao período em que a direção
da revista esteve sob a responsabilidade de Fernand Braudel, entre 1956 e 1968. O diálogo
interdisciplinar continuou, mas ampliaram-se as investigações sobre os estudos de história
econômica, estendendo os braços à recém-criada história demográfica e a algumas áreas da
história social. É também desse período a aproximação mais clara e concreta com a psicologia,
por meio dos estudos em torno das mentalidades. 
Percebe-se, nesse momento, a aproximação da mudança estruturalista. Entretanto, mesmo
assim, Fernand Braudel ainda lutava por uma história global. A mudança proposta pelos
estruturalistas viria fornecer novos elementos de leitura e abordagem dos fatos históricos a
serem estudados. 
Fernand Braudel foi um dos professores fundadores da Universidade de São Paulo –USP.
Convidado para integrar a equipe que coordenaria a fundação da universidade, permaneceu no
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Brasil até o ano de 1937, quando retornou a Paris. Em 1938, tomou contato com a proposta
metodológica dos Annales de Lucien Febvre, com quem começou a trabalhar. Foi enquanto
esteve preso durante a Segunda Guerra Mundial que Braudel começou a trabalhar em sua
tese O Mediterrâneo e o mundo mediterrânico na época de Felipe II. Após a morte de Lucien
Febvre, dirigiu a revista, tornando-se o principal expoente dela nos anos de 1950 e 1960. 
 
 
 
ESTRUTURALISMO 
Linguística: toda abordagem de análise que define os fatos linguísticos a partir das
noções saussurianas de estrutura e de sistema; linguística estrutural: teoria segundo a
qual o estudo de uma categoria de fatos deve enfocar especificamente as estruturas. 
 
Antropologia: movimento associado especificamente a Claude Lévi-Strauss (1908-
2009), que se propõe a analisar as relações sociais em termos de estruturas
relacionais abstratas, não raro expressas em simbolismo lógico. 
 
Psicologia: teoria que enfatiza as ligações entre os componentes afetivos e o
conteúdo vivido. 
 
 
 
DE NOVO O TEMPO 
 
Quando Fernand Braudel escreve O Mediterrâneo, ele apresenta uma conceituação em torno
do tempo, a qual será tema de um estudo intitulado A longa duração, publicado em 1965, no
número 62 da Revista de História. 
Nesse artigo, Braudel (1965) defende que a história decompõe o tempo passado, escolhendo
uma dentre as suas diversas realidades cronológicas. Contudo, referindo-se às abordagens
possíveis, esse autor também defende que campos de conhecimento distintos promovem
abordagens distintas com relação ao tempo. 
O tempo breve ou curto é o tempo do indivíduo, dos acontecimentos. Esse era o tempo tratado
pela historiografia tradicional. O tempo lento seria o que se enquadra no objeto de estudo das
ciências sociais e econômicas, em que os ciclos sobre os quais oscilam os eventos duram, às
vezes, 10, 20, 50 anos ou mais. A história referente a esse tempo seria aquela que estuda as
estruturas criadas pela civilização: o tempo da longa duração. Existe, ainda, um tempo que é
praticamente imóvel: o tempo dos homens e do ambiente. 
É na longa duração que Fernand Braudel dialoga com o estruturalismo de Claude Lévi-Strauss. 
 
 
 
 
Aula 3 - Ciência histórica e sua construção ao longo dos séculos XIX e XX 
 
A HISTÓRIA DAS MENTALIDADES 
A história das mentalidades busca nos seus estudos o modo de pensar e o modo de agir dos
grupos sociais. Dialogando diretamente com a psicologia, buscou temas pouco convencionais.
Importantes historiadores da segunda metade do século XX fazem parte desse grupo. Robert
Mandrou estudou a persistência dos modos de sentir que incentivaram a prática da feitiçaria e
sua repressão. Jean Delumeau estudou o medo em complexos que permitiram, com a
superação desses medos, a passagem para o mundo moderno. Philippe Ariès e Michel Vovelle
estudaram os sentimentos humanos diante da morte (BARROS, 2005). 
Porém esses estudos somente foram possíveis devido à utilização de alguns elementos
metodológicos próprios a esse campo: a abordagem serial, o recorte temporal e a abordagem
extensiva de fontes diversas. 
Barros explica a necessidade dessa metodologia. Para falar da abordagem serial extensiva de
fontes diversas, usa o exemplo de Michel Vovelle nos estudos relativos à morte. 
Esses estudos envolvidos na proposta da história das mentalidades abriram as portas para
outras abordagens. A partir de 1968, evidenciou-se cada vez mais a identidade própria, apesar
de ainda em construção, do grupo da terceira geração. A proposta trazida por eles ficou
conhecida genericamente como a da nouvelle histoire, ou “nova história”. 
 
 
A NOVA HISTÓRIA 
Existe uma divergência entre alguns autores no que se refere à continuidade ou ruptura desse
grupo da terceira geração,do qual fazem parte Jacques Le Goff, Robert Mandrou, Emmanuel Le
Roy Ladurie, Marc Ferro, entre outros. 
Peter Burke, em A escrita da história, defende a continuidade do programa dos Annales nas
três gerações, uma vez que, segundo ele, a ruptura com o modelo da historiografia tradicional
ainda era um elemento vital. Além disso, pela leitura que ele faz das pesquisas desenvolvidas
no período, foi exatamente a partir desse momento que a historiografia teria rompido por
completo com o modelo tradicional positivista, apesar de apresentar de forma revista e sob
nova roupagem a história política. 
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François Dosse, no entanto, em seu livro A história em migalhas, afirma que a nova história
teria fragmentado a tal ponto a história que aquela proposta de Lucien Febvre, Marc Bloch e
Fernand Braudel de uma história total teria se perdido nesse emaranhado de métodos e
abordagens. 
A novidade nos tópicos ou temas a serem abordados é uma constante nessa terceira geração.
Encontramos aí os relacionados ao que ficou conhecido como história vista de baixo —
contrariando o ponto de observação anteriormente adotado, ou seja, o das elites — e as novas
abordagens da história política. Peter Burke (2011), ao tratar das novas perspectivas da história
nesse contexto, reúne uma série de artigos de historiadores renomados no século XX, em que
cada um vai abordar um campo temático específico. Encontram-se, em seu livro: a história vista
de baixo, a história das mulheres, a história de além-mar, a história oral, a da leitura, a das
imagens, a do pensamento político, a do corpo e a dos acontecimentos. É importante ressaltar
que, nesse contexto, voltam à cena as discussões em torno do uso da narrativa pelos
historiadores. Outro campo também explorado, mas que trataremos aqui em separado, é o da
micro-história. Surgida no mesmo contexto dos outros estudos desenvolvidos pelos partidários
da nova história, a micro-história, no entanto, ganha maior fôlego na Itália, com os estudos de
dois historiadores, Giovanni Levi e Carlo Ginzburg. 
 
 
 
A MICRO-HISTÓRIA 
Durante a década de 1980, dois historiadores italianos, Giovanni Levi e Carlo Ginzburg,
dirigiram uma coleção intitulada Microstoria. Essa coleção reunia pesquisas que tinham como
ponto comum uma abordagem metodológica desenvolvida em artigos e pesquisas publicados
durante a década de 1970. 
Segundo Giovanni Levi (apud BURKE, 2011, p. 135), a micro-história é definida, antes de mais
nada, como uma prática historiográfica de referências teóricas variadas, cujo método relaciona-
se aos procedimentos reais detalhados que constituem o trabalho, e não necessariamente às
microdimensões do tema estudado. 
Como entender, então, a microdimensão dessa modalidade historiográfica? 
 
Giovanni Levi diz que: 
 
"Embora a escala como uma característica inerente da realidade certamente não seja
um elemento estranho, no debate da micro-história ela é, sem dúvida, tangencial;
porque o problema real está na decisão de reduzir a escala de observação para
propósitos experimentais. O princípio unificador de toda pesquisa micro-histórica é a
crença em que a observação microscópica revelará fatores previamente não
observados." 
 
(LEVI apud BURKE, 2011, p. 141) 
 
 
É dessa forma que Carlo Ginzburg vai buscar, no estudo de dois processos referentes a um
simples moleiro perseguido pela inquisição, os reflexos ou notícias referentes ao modo como a
cultura das classes subalternas e das classes dominantes dialogavam no século XVI. 
 
No prefácio de O queijo e os vermes, Ginzburg explica a aproximação com o objeto e o
propósito da pesquisa. 
 
 
"Passei parte do verão de 1962 em Udine. [...] Pesquisei os julgamentos de uma
estranha seita de Friuli, cujos membros os juízes identificaram como bruxas e
curandeiros. [...] Uma das acusações feitas a um réu era a de que ele sustentava que
o mundo tinha sua origem na putrefação. [...] Em 1970 resolvi tentar entender o que
aquela declaração poderia ter significado para a pessoa que a formulara. Durante esse
tempo todo a única coisa que sabia a seu respeito era o seu nome: Domenico,
Scandella, dito Menocchio. 
Passei parte do verão de 1962 em Udine. [...] Pesquisei os julgamentos de uma
estranha seita de Friuli, cujos membros os juízes identificaram como bruxas e
curandeiros. [...] Uma das acusações feitas a um réu era a de que ele sustentava que
o mundo tinha sua origem na putrefação. [...] Em 1970 resolvi tentar entender o que
aquela declaração poderia ter significado para a pessoa que a formulara. Durante esse
tempo todo a única coisa que sabia a seu respeito era o seu nome: Domenico,
Scandella, dito Menocchio. 
Mas é também um homem muito diferente de nós. A reconstrução analítica dessa
diferença tornou-se necessária, a fim de podermos reconstruir a fisionomia,
parcialmente obscurecida, de sua cultura e contexto social no qual ela se moldou." 
 
(GINZBURG, 2006, p. 9) 
 
 
Levi faz algo semelhante em A herança imaterial. 
 
 
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"A história de Chiesa foi não apenas o objeto da narrativa, mas também o pretexto
para a reconstituição do ambiente social e cultural da cidade. Ele assumiu conotações
que envolveram o funcionamento concreto, em uma realidade específica, de leis
gerais que permitem a identificação de elementos constantes e a elaboração de
comparações. Os próprios documentos mudaram de sentido, perderam sua obviedade
e mostraram como seu uso imediato e literal distorce os significados [...]." 
 
(LEVI, 2000, p. 47) 
 
 
Esta era a proposta da micro-história: diminuir a escala de observação para conseguir explorar
ao máximo as possibilidades de leitura. 
 
 
RESUMO DA UNIDADE 
Nesta unidade, você estudou as principais correntes historiográficas dos séculos XIX e XX e como os
elementos constitutivos da história foram percebidos e trabalhados por essas correntes. Com relação ao
século XIX, período em que a história estava se consolidando enquanto ciência, estudamos que, em um
primeiro momento, os historiadores buscaram o modelo positivista aplicado às ciências naturais, com o
intuito de alçar o conhecimento histórico à condição de conhecimento científico. Em paralelo a esse
movimento, historiadores alemães propuseram uma abordagem distinta, a qual ficou conhecida como
historicismo. Os historicistas defendiam o engajamento por parte do historiador, a utilização de uma
metodologia própria às ciências humanas e uma abordagem subjetiva dos fatos e fontes. Os positivistas,
ao contrário, defendiam uma abordagem objetiva desses fatos e fontes e uma postura imparcial do
historiador, características defendidas pela metodologia positivista utilizada já há algum tempo pelas
ciências naturais. Ainda no mesmo século, Karl Marx e Friedrich Engels propõem um modelo explicativo
da história partindo das estruturas econômicas sobre as quais as sociedades são construídas — o
materialismo histórico. Essas são as três correntes historiográficas que tiveram lugar no século XIX. Com
relação ao século XX, estudamos as propostas dos historiadores que se relacionaram com a chamada
escola dos Annales. Estes, divididos em três gerações segundo suas propostas, começaram suas
atividades em 1929, quando Lucien Febvre e Marc Bloch fundaram a revista Anais de História
Econômica e Social. Nesse primeiro momento, a preocupação era propor uma alternativa ao modelo
historiográfico positivista. À história tradicional, deram a opção da história-problema, em que o diálogo
com as ciências sociais, o uso de variadas fontes e a possibilidade de estudar outros temas vieram
renovar os estudos históricos. A segunda geração, que teve Fernand Braudel como expoente máximo,
trouxe as discussões em torno da temporalidade, em que a “longa duração” buscou, de forma distinta
da proposta de Marx e Engels,as estruturas que sustentariam as sociedades, paralelamente aos eventos
imediatos de curta duração. A terceira geração, que ficou conhecida como nova história, trouxe, entre
outras coisas, a novidade da história das mentalidades e da micro-história. As propostas apresentadas
pela escola dos Annales dialogam em grande medida com as propostas do século XIX e ainda norteiam
ou influenciam grande parte das pesquisas feitas em história na atualidade. 
 
 UNIDADE 4 
 
 
Aula 1 - Diálogo de Dilthey com os contemporâneos (Kant e Annales). 
 
WILHELM DILTHEY 
Dilthey foi um filósofo, psicólogo, historiador, sociólogo e pedagogo alemão. O que caracterizou
profundamente sua obra foi sua relação com Kant. Esse fato motivou sua defesa em torno da
sistematização das ciências do espírito. 
José Carlos Reis apresenta-o da seguinte forma: 
 
 
"Dilthey nasceu em 1833, em Biebrich, na Alemanha, e morreu subitamente em 1911. Filho de
pastor calvinista, teve uma formação basicamente teológica. Tornou-se pastor, mas logo
abandonou essa atividade. “Logo depois da primeira homilia”, afirmam seus biógrafos. E passou
a se dedicar à atividade de professor universitário de filosofia. Para exercer o ensino de filosofia
na universidade, fez uma tese de doutorado sobre o pensamento escolástico medieval. Como
filósofo, conhecia Kant desde os 16 anos. A vida de professor universitário, na Alemanha do
século XIX, era nobre. Podia-se viver com bons recursos e muito prestígio. Ele ensinou em várias
universidades: Bâle, Kiel, Breslau e Berlim. Seus biógrafos afirmam que trabalhava de 12 a 14
horas por dia! E é provável, levando-se em consideração seu modo discreto de viver." 
 
 
(REIS, 2006, p. 227-228) 
 
 
Sua obra é imensa e, às vezes, de difícil leitura e interpretação. Contudo, traz conceitos e propostas que
se apresentam extremamente atuais, segundo os nossos padrões. 
 
 
O PENSAMENTO DE DILTHEY 
 
Dilthey combateu o hegelianismo e sua concepção da história foi inspirada nos escritos de
Giambattista Vico. Ele entendia a história como “experiência vivida” e, para que ela se
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concretizasse enquanto escrita, Dilthey defendia o estudo do contexto histórico, que era local e
finito em oposição à visão universalista de Hegel. 
Dilthey acreditava que a história não deveria ser escrita para oferecer lições de moral, nem
tampouco que se prestasse à política. A militância política deveria se ater apenas às questões
do presente. Porém, com relação ao passado, ele deveria ser estudado cientificamente. O que
diferia, portanto, era a abordagem científica defendida por ele. 
Inspirado na Crítica da razão pura, de Kant, Dilthey propôs uma teorização sobre o que ele
definiu como sendo as ciências do espírito em contraposição às ciências da razão, estudadas
por Kant. 
 
"O que o interessa em Kant é seu ponto de partida interno para o conhecimento da natureza,
isto é, seu ponto de vista transcendental. A ciência é construída a partir do sujeito. Para Kant,
não se pode ir além do sujeito e de suas categorias. O sujeito transcendental é posto
copernicamente no centro do universo. E, com isso, a metafísica teria sido superada." 
 
 (REIS, 2006, p. 235) 
 
 
Dilthey não acreditava na possibilidade da existência de leis que pudessem reger os fenômenos
das ciências do espírito. Ao contrário, ele acreditava que a compreensão antecedia a criação ou
o conhecimento dessas leis, as quais eram estabelecidas no modelo explicativo oferecido às
“ciências da razão” ou ciências naturais. 
Para Dilthey, o sujeito das ciências do espírito era a vida e a história. Ou seja, ele era histórico,
portador de uma experiência interna e não apenas racional. As questões subjetivas eram
portadoras de significados e elas traduziam-se nas vontades, paixões e intencionalidades com
que o sujeito constrói sua vida, ao criar e seguir valores particulares. Por isso, a vida, entendida
por ele enquanto sujeito, era ao mesmo tempo histórica e psicológica. 
Dilthey inspirou-se em Kant para depois abandoná-lo. Seu sujeito não era intelectual, pois
partia do conceito de que o sujeito do conhecimento era o homem em sua vida no tempo e em
sua historicidade. Foi nesse momento, que ele se aproximou do pensamento dos historiadores
da escola dos Annales, ao entender a necessidade de estudar o homem em seu tempo, da
mesma forma que Marc Bloch defendeu que a história deveria ser a ciência do homem no
tempo. 
 
 
Aula 2 - Fim das metanarrativas e a encruzilhada da história por
intermédio do pensamento de Fukuyama e Sader. 
 
O QUE SÃO AS METANARRATIVAS? 
Metanarrativa é um termo literário e filosófico que significa a narrativa para além da própria
narrativa. Na filosofia, ela tem o sentido de uma grande narrativa, tão superior que a torna
capaz de explicar todo o conhecimento existente ou uma verdade absoluta. A Bíblia e o Alcorão
são exemplos de metanarrativas religiosas. Outros exemplos são as ideologias iluministas e
marxistas. 
 
 
QUAL O PROBLEMA DAS METANARRATIVAS? 
 
Para entender esse problema, é necessário apresentar um dos principais expoentes da pós-
modernidade, o francês Jean-François Lyotard. 
Lyotard foi um filósofo francês que nasceu em 1924 e morreu em 1998. Autor de diversos
livros, interessa-nos mais profundamente sua obra A condição pós-moderna, na qual ele fala
da fragmentação e multiplicação dos centros, assim como da complexidade das relações sociais
entre os homens. Explica ainda que o estado ou condição pós-moderna seria aquele que tomou
forma na cultura em geral, depois de transformações súbitas nas regras que definiam o
funcionamento das ciências, da literatura e das artes, a partir do século XIX. 
 
"...considera-se ‘pós-moderna’ a incredulidade em relação aos ‘metarrelatos’. É, sem dúvida,
um efeito do progresso das ciências, mas este progresso, por sua vez, a supõe. Ao desuso do
dispositivo metanarrativo de legitimação corresponde sobretudo a crise da filosofia metafísica
e a da instituição universitária que dela dependia." 
 
(LYOTARD, 1993, p. 3) 
 
As metanarrativas foram de fundamental importância na produção e no conhecimento
histórico como um todo. Se recordarmos que as ideologias iluministas e marxistas são
metanarrativas, elas, enquanto filosofias da história, contribuíram para a consolidação do
conhecimento histórico ainda no século XIX. 
Vale recordar que nos séculos XVIII e XIX, a narrativa histórica, vinculada aos modelos utilizados
para construir a história das nações, era defendida por diversos iluministas. E foi percorrendo
inicialmente esses caminhos que o conhecimento histórico foi gradativamente sendo alçado à
condição de conhecimento científico. 
Lyotard, ao apresentar sua incredulidade com relação às metanarrativas, exprimiu seu
“descrédito a qualquer teoria com aspirações de totalidade sobre o mundo e as experiências
humanas” (MARCZAL, 2016, p. 196). Ele partiu do pressuposto de que a mudança no estatuto
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do saber acompanhava o ingresso das sociedades em uma era pós-industrial e a cultura em um
período de pós-modernidade. Esse período caracterizou-se pela reconstrução e pela
reorganização do pós-guerra, assim como pelo surgimento de novos problemas e desafios,
essenciais na reorganização dos saberes e das maneiras de se entender a realidade (MARCZAL,
2016, p. 195-196). 
A terceira geração da escola dos Annales já havia demonstrado quão fragmentada se mostrava
a realidade humana. O que ainda não havia acontecido, ou seja, o desmoronamento dos
grandes modelos políticos, apresentou-se apenas nos últimos anos do século XX. Emir
Sader e Francis Fukuyama fizeramalgumas considerações importantes que se identificam com
esse movimento da condição pós-moderna, proposto por Lyotard. 
A produção dos dois autores vem fazer eco ao entendimento de que os modelos que existiam,
até a primeira metade do século XX, haviam atingido uma espécie de esgotamento, mostrando-
se ineficazes, segundo a proposta a qual se vinculavam. E, em meio a tantas dúvidas,
permanece o questionamento. Qual ou quais os caminhos que se podem apresentar à história
em meio à decadência dos grandes modelos? Será que se pode esperar ainda alguma coisa,
alguma novidade, alguma proposta para o estudo que o homem faz do próprio homem, como
queria Dilthey? Ou o que se pode esperar deste tempo em que o homem atualmente está
inserido? A história realmente chegou ao seu fim? 
 
 
Aula 3 - Novos e velhos caminhos, a disputa pela história e o olhar de Mészáros. 
QUAL OU QUAIS OS CAMINHOS QUE SE PODEM APRESENTAR À HISTÓRIA
EM MEIO À DECADÊNCIA DOS GRANDES MODELOS? A HISTÓRIA
REALMENTE CHEGOU AO SEU FIM? 
 
 
O filósofo marxista Istvan Mészáros escreveu um livro que se intitula O desafio e o fardo do
tempo histórico. Nele, ele afirma que: 
 
 
"Indivíduo nenhum e nenhuma forma concebível de sociedade hoje ou no futuro
podem evitar as determinações objetivas e o correspondente fardo do tempo
histórico, bem como a responsabilidade que necessariamente emerge de ambos. Em
termos gerais, talvez a maior acusação contra nossa ordem social dada é que ela
degrada o fardo inescapável do tempo histórico significativo — o tempo de vida tanto
dos indivíduos como da humanidade — à tirania do imperativo do tempo reificado do
capital, sem levar em conta as consequências." 
 
(MÉSZÁROS, 2007, p. 33) 
 
Se pensarmos nas colocações feitas na última aula com relação ao fim das metanarrativas,
Mészáros propôs uma outra chave de leitura. Ele chamou a atenção para o fato de que o tempo
histórico, o nosso tempo de vida, seja do indivíduo, seja da humanidade como um todo, estava
sendo degradado pelas condições promovidas pela ordem social vigente. Ele ainda defendeu
em seu livro a ideia de que as esferas institucionais ou parlamentares eram incapazes de
promover a destruição do sistema de domínio social do capital, cujo processo seria necessário
para colocar um freio à lógica destrutiva que se vincula a esse sistema. 
O mundo, enquanto organismo vivo, estava em crise. O fim da história, o último homem e o fim
das metanarrativas eram, assim, construções mentais, literárias e intelectuais que refletiam
exatamente a crise do mundo. Dessa forma, Mészáros acreditava que somente um movimento
de massas, amplo e radical, poderia, talvez, ter a força de se interpor diante desse sistema de
domínio social. 
Acontece que, em algumas situações, antes de começar tudo do zero, vale a pena dar uma
olhada nos escombros e reavaliar a situação. Foi isso, de certa forma, que Mészáros fez
em Para além do capital. Nesse livro, o autor trabalhou a distinção entre capital e capitalismo,
às vezes entendidos como sendo uma e a mesma coisa. Ao propor um novo estudo sobre a
proposta de Karl Marx e Friedrich Engels, ele se debruçou sobre a metanarrativa marxista,
buscando não mais os modelos explicativos aplicáveis aos diversos momentos da história, mas
os elementos que poderiam ainda persistir ou serem ressignificados. 
Essa era proposta do neo-revisionismo. E ele não foi o único. Paralelo a esse período de crítica
pós-moderna, diversos autores ergueram a voz para defender novos usos de antigos projetos. A
narrativa voltou a ser pensada para a escrita da história, assim como os modelos biográficos.
Até as metanarrativas estavam sendo revisitadas, porém, não mais sob a ótica eurocêntrica,
mas pensando-se nas possibilidades do que Frederick Gomes Alves chamou de “discurso
emancipador de todas as culturas históricas, cujo elemento comum seria um conceito de
humanidade” (2014, p. 1). 
Nesse contexto do final do século XX e início do século XXI, a história, após ter observado o seu
fim decretado, passou a ser vista como em constante construção. Por isso, pode-se entender o
caráter de reescrita permanente do conhecimento histórico, mesmo que isso signifique uma
prática constante de significação e ressignificação. 
O paradigma pós-moderno traz alguns elementos muito significativos para a escrita da história,
sendo alguns deles já presentes nas discussões que tiveram lugar quando do surgimento da
nova história e da micro-história. As narrativas de caráter universal foram gradativamente
abandonadas e em seu lugar viu-se o crescimento da defesa dos contextos locais. 
A história se viu com múltiplas formas de apresentação e de realização da sua prática, e todas
elas coexistindo entre si. Contrariamente aos caracteres perenes e contínuos que eram
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06/06/2021 OneNote
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vinculados àquilo que se entendia como digno de ser recordado, os fatos efêmeros ou
descontínuos foram vistos enquanto portadores de significado, passíveis de serem agraciados
pela memória. E, apesar do fim das metanarrativas, os diversos sentidos da interpretação foram
ouvidos. 
A pós-modernidade dialoga intimamente com o movimento de globalização que nos cerca. Esse
movimento permitiu uma série de alterações no campo econômico, como também um diálogo
e um conhecimento maior das diversas realidades existentes no mundo. 
Talvez esse seja o legado tanto da globalização quanto de sua aliada, a pós-modernidade, ou
seja, de mostrar que o mundo pode ser lido de forma distinta daquela proposta e seguida por
tantos séculos, no qual a Europa era o centro do mundo. Permitir, assim, que outras culturas
tenham voz e vez e que teorias antigas possam ser revistas e ressignificadas diante dos novos
conhecimentos e acontecimentos. Por fim, entender e aceitar que a escrita da história pode ser
muito mais rica do que pensávamos até então. 
 
 
 
RESUMO DA UNIDADE 
As propostas apresentadas pela terceira geração da escola dos Annales, a diversificação
encontrada na escrita da história a partir da década de 1960, no que se refere às abordagens e
aos temas, o retorno da narrativa e a valorização da história do tempo presente contribuíram
para que os caminhos da história fossem revistos e repensados. 
Os grandes modelos que ainda vigoravam no século XIX, relacionados às metanarrativas
herdeiras da tradição da filosofia da história, mostraram-se no mínimo questionáveis, e, com
certeza, ineficazes. As propostas do iluminismo e do marxismo não explicavam mais a realidade
e a escrita da história refletiu essa condição. 
A segunda metade do século XX assistiu a uma progressiva alteração dos padrões históricos. Os
Annales já haviam chamado a atenção para uma escrita da história que se aproximava mais da
realidade humana e que dialogava com as outras áreas do conhecimento, partindo do
pressuposto de que o ser humano é formado por diversas essências, sendo cada uma delas
estudada por áreas distintas do conhecimento. Dessa forma, para que o conhecimento
histórico chegasse o mais próximo daquilo que se entendia por real e verdade, seria útil pedir o
auxílio das outras ciências. 
O entendimento de que toda história pode ser contada, ou seja, toda história tem sua
importância no conjunto da sociedade, mesmo aquela que se refere a grupos ou pessoas antes
marginalizadas, alterou profundamente a dimensão dos temas, que passaram a ser objeto de
estudo dos historiadores, seja para dar voz aos excluídos, seja para perceber o alcance das
ideias, dos pensamentos e dos conceitos que circulam entre os grupos sociais. 
Nas últimas décadas do século XX, filósofos e sociólogos, como Fukuyama, Sader e Mészáros,
deram suas contribuiçõespara se pensar os novos caminhos da história. Ao mesmo tempo,
percebeu-se que o historicismo, proposto no século XIX por Wilhelm Dilthey, dialogava
profundamente com os questionamentos apresentados à teoria da história, mostrando-se,
assim, profundamente atuais. Portanto, novos caminhos foram apresentados e velhos
caminhos foram repensados. E, apesar de ter sido apregoado que a história teria chegado ao
fim, ela permanece. 
 
 
 ENCERRAMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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