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Brasília, DF 2019 Governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha Secretário de Estado de Educação João Pedro Ferraz dos Passos Secretário Executivo Quintino dos Reis Borges Filho Subsecretário de Educação Básica Helber Ricardo Vieira Diretor de Ensino Médio Fernando Wirthmann Ferreira Coordenador Distrital de Currículo Júlio César da Silva Simone Alves Cortes Alessandra Edver Mello dos Santos Coordenador de Etapa – Ensino Médio Richard James Lopes de Abreu LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS Luciano Dartora (Coordenador de área) Adriana Cristina Ferreira Lopes (redatora) Anderson Rodrigues de Miranda (redator) Elison Oliveira Franco (redator) Erla Delane Fonseca Almeida Cassel (redatora) Giovani Fama de Freitas Morato (redator) Patrícia Souza Melo (redatora) Vânia da Costa Amaral (redatora) MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS Érika Botelho Guimarães Rijo Alves (Coordenadora de área) Karynne Hellen Pinto de Oliveira (redatora) Kelen Cristina Pereira de Souza (redatora) CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS Daniel Louzada da Silva (Coordenador de área) Ana Cristina de Almeida (redatora) Elvis Domingues Moreno Seimetz (redator) Lilian Cristina da Ponte e Sousa Sena (redatora) Vitor Rios Valdez (redator) CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS Eric Carneiro dos Santos (Coordenador de área) Alessandra Batista de Oliveira (redatora) Antônio Carlos de Rezende Filho (redator) Gilvan Charles Cerqueira de Araújo (redator) Vinícius Silva de Souza (redator) Vivina Amorim Sousa (redatora) Redatores de textos introdutórios Ana Cristina de Almeida (redatora) Adeir Ferreira Alves (redator) Aldenora Conceição de Macedo (redatora) Amélia Moura Nakao (redatora) Flávia Basso Rebelato (redatora) Hugo de Carvalho Sobrinho (redator) Lúcia Nascimento Andrade (redatora) Mércia Vandecira Nunes de Paiva (redatora) Richard James Lopes de Abreu (redator) Simione de Fátima César da Silva (redatora) Vanessa Pereira Arruda (redatora) Sttela Pimenta Viana (redatora) Valdir Sodré (redator) Articuladores Fernando Wirthmann Ferreira (Articulador de Itinerários Formativos) Paulo Henrique Alves Guimarães (Articulador de Conselho) Simione de Fátima César da Silva (Articulador de Educação Profissional e Técnica) Revisores Giovani Fama de Freitas Morato (Coordenador de Revisão) Alzira Neves Sandoval Deise Librelotto Scherer Estêvão Campos de Paiva Juscelino Francisco do Nascimento Lígia Carolina Santana Catunda Sardinha Kelly Cristina de Almeida Moreira Luciano Dartora Patrícia de Carvalho Galieta Tomaz Sônia Margarida Ribeiro Guedes Colaboradores: Ana Carolina Mendes; Angela Marques Almeida; Bruno Luiz Sousa Clemente; Cilene Rodrigues Carneiro Freitas; Cristiano de Souza Calisto; Daniel Iberê Alves da Silva; David Henrique de Moraes Ribeiro; Euclides Chacon Neto; Flora Laviola Martins Corrêa; Francisco Gomes de Sá; George Amilton Melo Simões; Getúlio Lins Gomes; James Duílio de Sousa Melo; Jean François de Figueiredo Sirino; Joelma Bomfim da Cruz Campos; Juliane Amorim Oliveira; Leonardo Castro de Carvalho; Luís Gustavo Ferrarini Venturelli; Luiza Paula Araújo de Oliveira; Marcio Mello Nobrega Soares; Marco Antônio Custódio Queiroz; Maria do Rosário Cordeiro Rocha; Mariene Helmer Silva Alves; Marine Souza Lima; Natan Ribeiro Alves; Nelson Fernando Inocêncio da Silva; Ozania Vieira de Freitas; Raissa Bisinoto Matias; Samara Madureira Brito Korb; Tiago Gonzaga Peixoto; Vanessa Nascimento Freitas Apoio técnico-administrativo Carlos Roberto do Nascimento Imagem da capa: Pixabay Capa e programação visual Frank Alves SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................... 8 HISTÓRICO E BASES LEGAIS DO CURRÍCULO .................................................................... 9 DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE ................................................. 12 Protagonismo e Identidades ...................................................................................................... 13 Competências do Século XXI ................................................................................................... 15 Pesquisa e Iniciação Científica ................................................................................................. 15 EIXOS TRANSVERSAIS ............................................................................................................ 18 EDUCAÇÃO INTEGRAL ........................................................................................................... 24 Ensino Médio Em Tempo Integral ............................................................................................ 24 PROJETO DE VIDA .................................................................................................................... 27 INTRODUÇÃO À FORMAÇÃO GERAL BÁSICA ................................................................... 31 LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS ............................................................................. 32 LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS - – OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM ........... 41 MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS ............................................................................. 57 MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS - – OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM .......... 64 CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS ........................................................ 70 CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS– OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM ................................................................................................................... 77 CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS ................................................................ 83 CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS – OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 90 ITINERÁRIOS FORMATIVOS ................................................................................................... 96 Objetivos e Princípios ............................................................................................................... 97 Eixos Estruturantes ................................................................................................................... 98 Eixos Estruturantes dos Itinerários Formativos ........................................................................ 98 Formas de Ofertas dos Itinerários Formativos .......................................................................... 99 Estrutura de Oferta .................................................................................................................... 99 Projeto de Vida ........................................................................................................................ 100 Eletivas Orientadas ................................................................................................................. 101 Trilhas de Aprendizagens ........................................................................................................ 104 LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS ........................................................................... 113 LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS – ITINERÁRIOS FORMATIVOS .................... 115 MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS ........................................................................... 117 MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS – ITINERÁRIOS FORMATIVOS ................... 124 CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS ...................................................... 126 CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS – ITINERÁRIOS FORMATIVOS ................................................................................................................................................. 136 CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS .............................................................. 141 CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS – ITINERÁRIOS FORMATIVOS ...... 145 ITINERÁRIO DE EDUCAÇÃOPROFISSIONAL ................................................................... 147 Caracterização da Educação Profissional ................................................................................ 147 Princípios da Educação Profissional ....................................................................................... 149 Organização, Formas e Modalidades de Oferta ...................................................................... 152 Operacionalização ................................................................................................................... 153 EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TÉCNICA – ITINERÁRIOS FORMATIVOS ................ 157 AVALIAÇÃO .............................................................................................................................. 161 CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 8 APRESENTAÇÃO O Currículo em Movimento das Escolas-piloto do Novo Ensino Médio constitui-se como um dos documentos orientadores do processo pedagógico para implementação do Novo Ensino Médio na rede pública de ensino do Distrito Federal. Surge como o instrumento balizador de articulação entre a nova legislação para esta etapa da educação e as intencionalidades pedagógicas da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF) para formação de suas juventudes. O Currículo está organizado em 14 capítulos principais. Em seu capítulo introdutório, Histórico e Bases Legais do Currículo, começa por discorrer sobre seu próprio processo de construção, reafirmando seu compromisso com todos os marcos legais que, a partir da Lei 13.415/2017, passam a nortear a construção de uma nova proposta de educação para o Ensino Médio. Os capítulos seguintes estabelecem os princípios que se espera para a educação de Ensino Médio no Distrito Federal, considerando os aspectos pedagógicos e organizacionais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e também os pressupostos teóricos já estabelecidos em seus próprios documentos. Assim, a SEEDF traz à discussão importantes temáticas, como os Desafios da Educação no Século XIX, o papel dos Eixos Transversais na Educação Básica, sua concepção de Educação Integral, e Projeto de Vida, assunto que ganha destaque e relevância à medida que se apresenta como elo entre os sentidos da educação, a realidade do estudante e suas próprias escolhas. Na operacionalização das aprendizagens, o currículo está organizado em duas partes intercomplementares: a parte de Formação Geral Básica e os Itinerários formativos. A Formação Geral Básica é composta pelas quatro áreas do conhecimento (Linguagens e suas tecnologias, Matemática e suas tecnologias, Ciências da Natureza e suas tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas). Cada área do conhecimento abrange os saberes específicos de seus componentes curriculares. Por sua vez, os Itinerários Formativos, além das quatro áreas da Formação Geral Básica, contempla um quinto itinerário: a Educação Profissional e Técnica. Tanto a Formação Geral Básica quanto os Itinerários Formativos estruturam-se em torno de objetivos de aprendizagem. Estes objetivos foram construídos a partir de uma releitura das habilidades e competências da BNCC, de maneira suplementar às aprendizagens que a SEEDF compreende como essenciais para seu público. Os objetivos de aprendizagem se constituem como importante elemento deste currículo, uma vez que foram constituídos de forma a privilegiar o trabalho interdisciplinar dentro de cada área, ao articular os saberes específicos dos componentes curriculares a partir de um ponto de vista global de determinado campo de saber. Por fim, este Currículo lança um olhar atento ao processo avaliativo. O último capítulo do currículo, Avaliação, trata especificamente deste momento, pois “configura-se como um dos pilares do processo pedagógico”. Neste documento curricular, busca-se, ao tratar de educação, superar antigos paradigmas, em que avaliação é sinônimo de medidas punitivas. Aqui, avaliação é parte do processo educativo, que acompanha todo o processo pedagógico e envolve todos os atores da aprendizagem. Pensado e escrito a muitas mãos, este currículo, ao concretizar-se em sala de aula a partir de sua implementação nas escolas-piloto do Novo Ensino Médio, abre caminhos para construção de novas oportunidades na educação básica no Distrito Federal, fortalecendo sonhos e esperanças para todos aqueles que dele se valerem para construir seus projetos de vida. CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 9 HISTÓRICO E BASES LEGAIS DO CURRÍCULO A construção da primeira edição do Currículo em Movimento da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF) teve início em 2011 e partiu de uma ampla revisão do Currículo Experimental, que era a proposta curricular em discussão na rede desde 2007 (DISTRITO FEDERAL, 2014). Por meio de plenárias públicas e outras instâncias de discussão, foram ouvidos especialistas, professores, estudantes e pais, e, por fim, ao longo dos anos de 2012 e 2013, foram constituídos grupos de trabalho com a finalidade de sistematizar todas as contribuições recebidas durante essas discussões. O resultado foi a primeira edição do Currículo em Movimento, implementado na rede pública a partir de 2014. Em se tratando de Ensino Médio, a intenção era criar uma identidade para essa etapa da educação com a finalidade de atender aos anseios do seu público, que se caracteriza pela diversidade e heterogeneidade e apresenta múltiplos interesses e necessidades que permeiam o horizonte do cidadão contemporâneo (DISTRITO FEDERAL, 2014). Foram, então, definidos objetivos que orientaram o trabalho pedagógico, com a finalidade de reduzir os índices de reprovação e de evasão, para melhorar a qualidade da relação professor-aluno, redimensionar os espaços de formação continuada e aperfeiçoar a troca de experiências e as condições pedagógicas do espaço-tempo escolar (DISTRITO FEDERAL, 2014). Longe da pretensão de tornar-se um currículo ideal, definitivo ou estático, o Currículo em Movimento concretizou-se, no cotidiano escolar, como instrumento indispensável ao processo pedagógico e importante aliado do professor, dos demais profissionais da educação e da comunidade escolar. Com as atualizações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB)1, introduzidas pela Lei n° 13.415/20172 e das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM), alteradas pela Resolução CNE/CEB nº 3/20183, a organização curricular do ensino médio ganha novas possibilidades. Além da Formação Geral Básica, constituída por até 1800 horas, definidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o currículo passa também a ser composto pelos Itinerários Formativos, com o mínimo 1200 horas. Esses itinerários são regulados pela Portaria nº 1.432/20184 e têm a finalidade de flexibilizar as formas de oferta dessa etapa e favorecer as escolhas do estudante de acordo com seus interesses e suas necessidades pedagógicas. Em 2017, após aprovação pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), o Ministério da Educação (MEC) homologou a BNCC para as etapas da Educação Infantil e do Ensino Fundamental. Assim, ao longo de 2018, a SEEDF mobilizou-se para o processo de revisitação do currículo dessas etapas, concluindo o processo em dezembro desse mesmo ano. Na ocasião, foi adotada a opção de dar continuidade aos pressupostos teóricos então vigentes no Currículo 1 Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 2 Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, que altera as Leis nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 11.494, de 20 de junho 2007, que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº5.452, de 1º de maio de 1943, e o Decreto-Lei nº 236, de 28 de fevereiro de 1967; revoga a Lei nº 11.161, de 5 de agosto de 2005; e institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral. 3 Resolução nº 3, de 21 de novembro de 2018, que atualiza as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. 4 Portaria nº 1.432, de 28 de dezembro de 2018, que estabelece os referenciais para elaboração dos itinerários formativos conforme preveem as Diretrizes Nacionais do Ensino Médio. CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 10 em Movimento, considerando seus princípios fundamentais para a formação do público estudantil do Distrito Federal. Desse modo, e respeitando-se a vontade expressa pelo coletivo de profissionais envolvidos na revisitação do Currículo e pela comunidade escolar, foram mantidos os fundamentos teóricos da Pedagogia Histórico-Crítica, assentada sobre as bases da Psicologia Histórico-Cultural, em uma concepção de educação integral e integrada, visando à formação de cidadãos comprometidos com a prática da cidadania, reconhecedores dos valores da democracia, da sustentabilidade, da justiça social e dos direitos humanos: É importante mencionar que a pedra fundamental no processo de análise se deu do próprio currículo que a SEEDF já possuía, na intenção de provocar um diálogo do Currículo em Movimento, lançado em 2014, com a nova legislação. Portanto, este movimento não tem a intenção de desconsiderar o processo coletivo e colaborativo de constituição da primeira edição do Currículo, pois valoriza todo seu processo histórico e que emerge de sua elaboração (DISTRITO FEDERAL, 2018, p. 8). Em 2019, com a homologação da BNCC para o Ensino Médio, os desafios continuam, mas agora com a proposta de revisitação do Currículo em Movimento para essa etapa da educação, que deve considerar as atualizações da legislação vigente, sobretudo o texto da LDB, das DCNEM e dos Referenciais Curriculares para Elaboração de Itinerários Formativos (Portaria nº 1.432/2018), sem perder de vista os princípios basilares da educação expressos na Constituição Federal de 1988. A revisitação do Currículo em Movimento da SEEDF para o Ensino Médio pressupõe desafios variados, tanto de ordem prática quanto de concepção político-pedagógica, principalmente no que diz respeito à definição da proposta de formação de cidadãos conscientes e compromissados com valores humanos e sociais. Nesse sentido, é imprescindível pensar as especificidades da etapa e considerar as experiência atuais para balizar a construção de um novo currículo, sintonizado com os interesses juvenis e com os valores da cidadania, da sustentabilidade, da diversidade e com os desafios do mundo do trabalho. Os pressupostos teóricos do Currículo em Movimento, consagrados na nova edição do currículo para as etapas da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, são cânones da construção de uma educação de qualidade, focada na formação do sujeito crítico, participativo e autônomo, e devem ser considerados. No entanto, ante os desafios da construção de um novo Ensino Médio, pautado pela proposta de flexibilidade, inovação e protagonismo juvenil, faz-se necessária a ampliação de possibilidades teóricas que possam embasar o fazer pedagógico para a etapa, a fim de construir um currículo condizente com os interesses e desafios da sociedade contemporânea. Com esse espírito, no início em 2019, foi formada uma equipe de redatores com representatividade de diversas instâncias da SEEDF para o processo de revisitação do Currículo em Movimento do Ensino Médio, de forma a promover o amplo debate e a articulação de ideias. Em seguida foi criada uma rede de colaboradores com representantes de diversos setores da sociedade civil. Além do trabalho de escuta permanente dos principais atores do cenário da educação no Distrito Federal, houve, no segundo semestre, discussões com as escolas-piloto do Novo Ensino Médio e uma abrangente consulta, aberta a toda a população por meio do sítio da SEEDF. O resultado é um currículo realizado com a colaboração dos diversos atores da educação, voltado aos anseios do público que compõe a etapa final da Educação Básica, promotor da inclusão, dos valores democráticos e sustentáveis, do protagonismo juvenil e alinhado ao uso consciente e produtivo das novas tecnologias. CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 11 Referências DISTRITO FEDERAL. Currículo em Movimento do Distrito Federal: Ensino Médio. 1ª ed. Brasília: SEEDF, GDF, 82 p., 2014. _____. Currículo em Movimento do Distrito Federal: Educação Infantil. 2ª ed. Brasília: SEEDF, GDF, 103 p., 2018. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: 1996. _____. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Altera as Leis nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 [...]. Brasília: 2017. _____. Portaria nº 1.432, de 28 de dezembro de 2018. Estabelece os referenciais para a elaboração dos itinerários formativos conforme preveem as Diretrizes Nacionais do Ensino Médio. Brasília: MEC, 2018. ______. Resolução CNE/CEB nº 3, de 21 de novembro de 2018. Atualiza as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília: MEC, 2018. CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 12 DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE A educação na contemporaneidade possui, em sua configuração, diversos desafios alicerçados nos modelos das escolas modernas, na transitoriedade do tempo e do espaço, nas novas identificações, nos deslocamentos das carreiras e, principalmente, na maneira como apreendemos, percebemos e produzimos conhecimentos. Nos modelos educacionais dos séculos anteriores, a posição do estudante estava pautada no acúmulo de conhecimentos, na racionalidade, na escolha de uma carreira para a vida e na disciplina por meio de prescrições e normatizações de comportamentos, atitudes, hábitos e habilidades. Ou seja, a educação estava voltada para as questões da organização da sociedade do momento, e não para as questões da singularidade do sujeito. Todas essas questões já extrapolaram os muros da escola e estão presentes em estudos e pesquisas da literatura educacional, que discutem suas implicações pedagógicas, bem como sua dimensão histórico- cultural. Green e Bigun (1995) têm se destacado por estabelecer a diferença histórica entre o aluno de ontem e o de hoje. Para eles, os alunos que estão em nossas escolas são radicalmente diferentes dos alunos de épocas anteriores por apresentarem uma “historicidade pós-moderna”, constituída por um conjunto de práticas culturais responsáveis pela “produção” de sujeitos particulares, específicos, com identidades e subjetividades singulares (SOBRINHO, 2010, p. 2). Na contemporaneidade, sabe-se que cada jovem possui uma inteligência diferente. Em vista disso, somos convidados a perceber e a escutar o que ele necessita, garantindo um território de convivências e realidades capaz de gerar a compreensão dos sentidos e a produção e assimilação dos conhecimentos. A educação dispõe, como premissas, das competências do século XXI, que alicerçam a Base Nacional Comum Curricular por meio do pensamento crítico, cooperativo e responsável, promotores da autonomia, da empatia e da cidadania. Na segunda edição do Currículo em Movimento do Ensino Médio, essas premissas consubstanciam-se em objetivos de aprendizagens, que estruturam o saber em todas as áreas do conhecimento e também nos itinerários formativos, os quais compõem a parte flexível do currículo, garantindo que o estudante possa escolher conforme suas potencialidades, seus interesses e suas necessidades pedagógicas. Vale ressaltar que os estudantes estão em um espaço-tempo real e virtual simultaneamente, o que exige da educação e dos docentes processos de ensino e aprendizagem centrados em modelosque entrecruzam conhecimentos, saberes, cultura digital e um olhar atento e sensível. Sobrinho (2010) afirma que o estudante, por sua vez, tem um grande envolvimento com as linguagens e narrativas de caráter virtual, acessando e interagindo com as comunidades virtuais disponíveis nas diferentes redes sociais (SOBRINHO, 2010, p. 10). Questões como os deslocamentos de carreiras e a necessidade de sujeitos criativos, colaborativos, empreendedores e hábeis em resolver problemas têm respaldado uma mudança significativa nas formas e nos modelos educacionais vigentes, da mesma forma que a evasão e os rendimentos desfavoráveis dos estudantes indica, que a educação necessita de alicerces pautados na contemporaneidade e na singularidade do sujeito, a fim de se adequar às competências do século XXI. CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 13 Referências SOBRINHO, A. F. O Estudante não é mais aquele! E agora, Professor? Anais do I Seminário Nacional Currículo em Movimento. Perspectivas Atuais. Belo Horizonte, novembro de 2010. Protagonismo e Identidades Protagonismo é uma palavra de origem grega ‒ “protagonistés” ‒ em que “protos” significa principal ou primeiro e “agonistés” significa lutador ou competidor. É um termo muito usado para referir-se ao personagem principal de uma peça de teatro ou de um romance e foi incorporado à educação, principalmente por Antonio Carlos Gomes Costa, para enfatizar práticas educativas elaboradas para os adolescentes, nas quais eles são o elemento principal. De acordo com Costa (2001, p. 9 apud FERRETI, ZIBAS, TARTUCE, 2004, p. 416), o jovem é o personagem principal do processo educativo, participando de todas as etapas, desde criação, execução e até avaliação de ações propostas. Dessa forma, o protagonismo incentiva a participação social dos jovens com base não apenas no seu desenvolvimento pessoal, mas, sobretudo, no fortalecimento das comunidades em que ele está inserido. Tal perspectiva propõe a atuação do professor na identificação das expectativas e necessidades de crescimento integral de seus estudantes, revelando novos espaços e mais oportunidades, tendo-os como parceiros e colaboradores. Uma dimensão que precisa ser compreendida pelos professores do Ensino Médio é o reconhecimento da juventude, pois, para muitos, trabalhar com as novas gerações representa um grande desafio. Buscar entender o que é a juventude, qual é a relação do jovem com o mundo atual, como as identidades juvenis são construídas socialmente, assim como buscar entender a relação do jovem com as tecnologias, o mundo do trabalho e a escola são elementos importantes para a compreensão e o desenvolvimento do trabalho do docente. Os estudantes devem desenvolver ainda a capacidade de estabelecer diálogos ‒ entre indivíduos, grupos sociais e cidadãos de nacionalidades, saberes e culturas distintas ‒, elemento essencial para a aceitação da alteridade e a adoção de uma conduta ética em sociedade, capaz de relacionar os saberes construídos em sala de aula com o seu cotidiano. Esse compromisso da escola junto à sua prática fortalece a educação ao buscar desenvolver uma consciência reflexiva e transformadora sobre o conhecimento e sua realidade social, histórica e política. A percepção da integração necessária entre os estudantes é peça fundamental para a construção de um cidadão crítico e participativo em sua sociedade, visto que a educação constitui-se em um ato coletivo, solidário, uma troca de experiências, em que cada envolvido discute suas ideias e concepções. A dialogicidade constitui-se no princípio fundamental da relação entre educador e educando. O que importa é que os professores e os alunos se assumam epistemologicamente curiosos (FREIRE, 1996, p. 96). Desse modo, o desafio é passar a compreender os temas e as aprendizagens das áreas do conhecimento em articulação com as experiências e os saberes dos estudantes, a fim de que possam utilizar o conhecimento construído em suas realidades socioculturais, pois “não é possível educar sem ao mesmo tempo ensinar: uma educação sem ensino é vazia e degenera com grande facilidade numa retórica emocional e moral” (ARENDT, 1957, p. 165). Nessa perspectiva, o currículo propõe a formação de indivíduos capazes de lidar com os desafios individuais e coletivos impostos por demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. Para a concretização desse objetivo, é CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 14 necessário um conjunto de conhecimentos, habilidades, valores e atitudes que visem promover o desenvolvimento dos estudantes em suas dimensões intelectual, física, social e cultural. Um ponto imperativo no processo de formação integral dos indivíduos é a compreensão e o manejo das emoções de forma empática e responsável, ou seja, é necessário que os estudantes desenvolvam as competências ligadas a autoconsciência, autogestão, consciência social, empatia, cooperação e tomada de decisões conjuntas e conscientes, nos âmbitos social, ambiental e técnico-científico. Ao fundamentar a prática pedagógica na interdisciplinaridade, por meio das áreas do conhecimento, como previsto na BNCC e nos demais instrumentos normativos e norteadores do Novo Ensino Médio ‒ como a Portaria nº 1432/2018, que versa sobre os Itinerários Formativos do Ensino Médio, a Nota Técnica nº 2/2019 - CEDF, que dispõe sobre a organização curricular do Ensino Médio na proposta pedagógica escolar e a Resolução nº 3/2018, que atualiza as DCNEM ‒, encontramos conexões possibilitadoras de formação solidária, protagonista, crítica e sustentável dos estudantes, para que esses construam um olhar complexo sobre a realidade e os fenômenos sociais, apreendendo a sociedade como um todo integrado, na qual o jovem se insere e se vê como sujeito. Nesse contexto, espera-se que os sujeitos da aprendizagem desenvolvam ações mais autorais e percebam que são protagonistas da própria história, capazes de compreender a sociedade e as desigualdades socioculturais do mundo e, ainda, propor mudanças nas realidades sociais vividas, atuando de forma cidadã, reflexiva, emancipatória e sustentável. Além dos pressupostos da formação integral e holística para o Ensino Médio, os estudantes devem, também, aprender a gerir suas escolhas, refletindo sobre seus objetivos e aprendendo a planejar, estabelecer metas e realizar, com autoconfiança e determinação, seus projetos de vida. Referências ARENDT, H. A crise na educação. New York: Partisan Review, 1957, p. 165. BRASIL. Resolução CNE/CEB nº 3, de 21 de novembro de 2018. Atualiza as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília, 2018a. Disponível em: <http://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/51281622>. Acesso em: 16 ago. 2019. _____. Ministério da Educação. Portaria nº 1.432/18, de 08 de novembro de 2018. Estabelece os referenciais para a elaboração dos itinerários formativos conforme preveem as Diretrizes Nacionais do Ensino Médio. Brasília: MEC, 1996. DISTRITO FEDERAL. Nota Técnica Nº 2/2019-CEDF. Dispõe sobre a organização curricular do Ensino Médio na Proposta Pedagógica. Brasília, 2019. FERRETI, C. J.; ZIBAS, D. M. L.; TARTUCE, G. L. B. P. Protagonismo juvenil na literatura especializada e na reforma do Ensino Médio. Caderno de Pesquisas [online]. 2004, vol. 34, n. 122, pp. 411-423. ISSN 0100-1574. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0100- 15742004000200007>. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. p. 96. CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 15 Competências do Século XXI O século XXI tem sido marcado pelo ritmo dinâmico de mudanças, com tecnologias mais rápidas e ágeis, onde tudo está conectado. Uma descoberta acontece em um lugar e rapidamente reverbera uma onda emtodo o planeta, causando impacto nas ações do cotidiano, no trabalho e principalmente na maneira como apreendemos e percebemos o que nos rodeia. Isso amplifica a complexidade das transformações e das necessidades de novas soluções no modo de viver e conviver. No século XXI, é necessário garantir meta-aprendizagens, conhecimentos relevantes que possam ser aplicados à vida e a um novo patamar de competências para o dia a dia, o convívio e o trabalho por meio das chamadas competências socioemocionais, como o autoconhecimento, a colaboração, a criatividade, a resolução de problemas, o pensamento crítico, a coragem, a abertura para o novo, a responsabilidade no alcance de seus objetivos e a resiliência. A educação é peça-chave para essas mudanças e, por isso, faz-se mais que necessário buscar novos modelos educacionais. Nesse sentido, a expressão “competências para o século XXI” refere-se a um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que preparam os estudantes para a vida acadêmica, profissional, pessoal e em comunidade. Para entender a importância das competências para o século XXI, basta imaginar quais seriam as realidades de um futuro bem próximo. O sujeito da educação do futuro precisa saber lidar com mudanças, aprender coisas novas e trabalhar de forma colaborativa, criativa e crítica. Para o pesquisador e educador Charles Fadel (2016), as competências que os estudantes precisam desenvolver para alcançar sucesso são tanto as cognitivas quanto as socioemocionais. As dez competências apresentadas poderão integrar as áreas de conhecimento de acordo com o mapeamento e a necessidade. O importante é compreender a intersecção da competência, do conhecimento e do sentido para a vida, além de criar ambientes propícios para o desenvolvimento de cada uma das competências, tanto dentro da sala de aula, quanto fora a fim de colaborarem com os estudantes na obtenção de êxito na vida pessoal e profissional. Referências FADEL, C.; BILIAK, M.; TRILLING, B. Educação em quatro dimensões: as competências que os estudantes precisam ter para atingir o sucesso. Trad. Lilian Bacich. São Paulo, SP: Instituto Ayrton Senna, 2016. Pesquisa e Iniciação Científica O conjunto de dez competências gerais da BNCC propõe a transversalização dos grandes temas da educação, buscando a efetivação da formação humana integral com vistas à permanente construção de uma sociedade ética e democrática que promova a inclusão e os direitos humanos. Nesse sentido, a Competência Dois explicita a necessidade de que os estudantes experienciem o pensamento científico, crítico e criativo de forma mais precoce e qualificada com o objetivo de exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas (BRASIL, 2018, p. 09). CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 16 Dessa forma, a BNCC fortalece e amplia as experiências de iniciação científica atualmente em prática em alguns ambientes escolares de Ensino Médio, especialmente se considerar que, até recentemente, a compreensão e o consequente incentivo relacionados à importância do desenvolvimento científico estavam restritos aos estudantes de Ensino Superior (PINZAN, 2014). O mundo contemporâneo exige o constante e crescente exercício do pensamento crítico, de forma que crianças, adolescentes e jovens consigam apreender as novas tecnologias que permeiam o mundo da vida e o mundo do trabalho, utilizando-se de técnicas e metodologias existentes e em ativa criação, com foco na formação humanística e integral para o desenvolvimento da plena cidadania. Entretanto, vivenciar essa competência no processo pedagógico exige entender a pesquisa como princípio educativo, o que, por certo, também exige repensar toda a estrutura curricular, de forma a mudar e qualificar as concepções do ensinar e do aprender, partindo da realidade escolar para o estabelecimento do diálogo, da reflexão, da criatividade, da educação emancipatória e das oportunidades que diminuem as desigualdades (SCHMITT, 2017). A efetivação dessa competência exige o entendimento de que a pesquisa é processo que deve aparecer em todo trajeto educativo, como princípio educativo que é, na base de qualquer processo emancipatório. Se educar é sobretudo motivar a criatividade do próprio educando, para que surja o novo mestre, jamais o discípulo, a atitude de pesquisa é parte intrínseca (DEMO, 2006, p. 16). No entanto, para que a pesquisa e a iniciação científica adentrem o cotidiano da Educação Básica, é preciso desmistificar, nos professores, nos estudantes e em toda a comunidade escolar, o que Demo (2006) alertou ao afirmar que “o processo de pesquisa está quase sempre cercado de ritos especiais, cujo acesso é reservado a poucos iluminados” (DEMO, 2006). Nesse sentido, é pertinente revisitar Bagno (2009), que reforça a premissa básica de que toda a ação humana é precedida de investigação, o que implica duas possibilidades de pesquisa: a pesquisa do dia a dia e a pesquisa acadêmica. O papel da escola e do professor deve ser o de promover no estudante a capacidade de aprender a aprender, entendendo o caráter investigativo das ações cotidianas e, sobretudo, despertando a curiosidade sobre determinada questão, de forma a possibilitar a estruturação do conhecimento e o desenvolvimento da investigação científica (BAGNO, 2009). Para tanto, vale recorrer ao autor Meirieu (1998): Se o papel do professor é fazer com que nasça o desejo de aprender, sua tarefa é “criar o enigma” ou, mais exatamente, fazer do saber um enigma: comentá-lo ou mostrá-lo suficientemente para que se entreveja seu interesse e sua riqueza, mas calar-se a tempo para suscitar a vontade de desvendá-lo (MEIRIEU, 1998 apud DALARME, 2015, p. 2). Assim, faz-se necessário que gestores, docentes, comunidade escolar e, em especial, os próprios estudantes compreendam que todos os espaços e momentos educativos são privilegiados para que a curiosidade científica floresça e se desenvolva. As instituições de Educação Básica, com a ampliação da pesquisa, deixam de ser apenas reprodutoras de conhecimentos, passando a ter mais possibilidades de produzir e disseminar novos e renovados conhecimentos, o que diminui o analfabetismo científico (PINZAN, 2014). Ao proporcionar o precoce contato dos estudantes com as etapas e os elementos precípuos que envolvem o pensamento crítico e reflexivo, abre-se a possibilidade da abordagem dos conhecimentos de forma interdisciplinar, em um processo vivo em que o docente e o estudante vejam sentido no conjunto de componentes curriculares, que interagem e se complementam ao longo do processo de ensino e aprendizagem (SANTIAGO, 2016). É fundamental, ainda, citar a imperativa necessidade de qualificação permanente e continuada dos educadores, para que sua prática em sala de aula – ou em aula sem sala – possa contemplar a gama de métodos que facilitam a integração do binômio teoria-prática sem sobreposições ou hierarquias de conhecimento e, sobretudo, sem sofrimento e frustrações aos envolvidos (DALARME, 2015). A expectativa é que, ao envolver o estudante no mundo da CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 17 pesquisa e da iniciação científica, a escola e o professor despertem a inquietação indagadora descrita por Freire (2013), propulsora de descobertas e novas possibilidades de intervenção na realidade, compreendendo que “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que- fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando” (FREIRE, 1996, p. 32). Portanto, com base no exposto, cabe reafirmar que a evidenciação dessa competência na BNCC institucionalizao fato de que a prática que envolve a curiosidade, a dúvida, a reflexão, a intervenção e o processo investigativo deve ser estimulada em todas as fases da vida e, em especial, na última etapa da formação básica (BRASIL, 2014). Referências BAGNO, M. Pesquisa na escola ‒ o que é, como se faz. 23ª ed. São Paulo: Editora Loyola, 2009. BRASIL. Trajetórias criativas: jovens de 15 a 17 anos no ensino fundamental: uma proposta metodológica que promove autoria, criação, protagonismo e autonomia: caderno 7: iniciação científica [Org. Ítalo Modesto Dutra et al. ]. Brasília: MEC, 2014. 18p.: il. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=16323-seb- traj-criativas-caderno7-iniciacao-cientifica&category_slug=setembro-2014-pdf&Itemid=30192>. _______. Resolução Nº 4, de 17 de dezembro de 2018. Institui a Base Nacional Comum Curricular na Etapa do Ensino Médio (BNCC-EM) como etapa final da Educação Básica. Ministério da Educação/Conselho Nacional de Educação/Secretaria Executiva. Diário Oficial da União. Publicado em: 18 de dezembro de 2018. Edição: 242. Seção: 1. Página 120. DALARME, R. S. L. Pesquisa como princípio educativo: uma proposta de prática pedagógica integradora. Anais do III Colóquio Nacional | Eixo Temático II – Práticas integradoras em Educação Profissional. Natal-RN. 2015. Disponível em: <https://ead.ifrn.edu.br/portal/wp- content/uploads/2016/02/Artigo-4.pdf>. DEMO, P. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez, 2006. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra. Coleção Leitura, 1996. MEIRIEU, P. Aprender... Sim, mas como? Tradução de Vanise Pereira Dresch. 7ª ed. Porto Alegre: Artmed, 1998. PINZAN, M. E.; LIMA, A. P. Iniciação Científica na Educação Básica: uma possibilidade de democratização da produção científica. Anais do IX EPCT – Encontro de Produção Científica e Tecnológica Campo Mourão. 27 a 31 de Outubro de 2014. Disponível em: <http://www.fecilcam.br/nupem/anais_ix_epct/PDF/TRABALHOS-COMPLETO/Anais- CH/10.pdf>. SANTIAGO, M. F. C.; SANTOS, I.; SANTOS, S. C. M. A iniciação científica na educação básica. Publicado em 24 de abril de 2016. Disponível em: <https://livrepensamento.com/2016/04/24/a-iniciacao-cientifica-na-educacao-basica/>. SCHMITT, L. Z.; TRAESEL, N. M. Pesquisa como Princípio Educativo: Proposta de articulação do Conhecimento Escolar no Ensino Médio. Anais do XI Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – XI ENPEC. Universidade Federal de Santa Catarina - Florianópolis/SC. Julho/2017. Disponível em: <http://www.abrapecnet.org.br/enpec/xi- enpec/anais/resumos/R0735-1.pdf>. CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 18 EIXOS TRANSVERSAIS Reconhecendo que as aprendizagens não se limitam a conteúdos e disciplinas predeterminadas, as propostas educativas mais modernas e com vistas a atender o ser humano em sua completude, atentam-se à integração de questões socioculturais, políticas e históricas que permeiam o processo de ensino e aprendizagem. Com isso, respeitam, ao mesmo tempo, as singularidades e as pluralidades presentes no ambiente escolar. Nesse sentido, a existência de Eixos Transversais no currículo diz respeito a compreender que nossas(os) estudantes vivenciam e experimentam diversas questões em suas relações sociais, que não devem ser esquecidas ou silenciadas na escola. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) já orientavam a necessidade de se entender a educação em sua integralidade, voltada para a compreensão e construção da realidade social, dos direitos e das responsabilidades relacionados com a vida pessoal e coletiva e com a afirmação do princípio da participação política (BRASIL, 1997). A característica “transversal” quer justamente apontar para a atuação coletiva e integrada entre todas as disciplinas, por reconhecer que se trata de questões referentes à vida cotidiana e à diversidade característica de uma sociedade tão plural e heterogênea. Eixos Transversais no Currículo em Movimento da SEEDF Acompanhando a perspectiva de uma educação que respeite as especificidades e esteja atenta à evolução da vida em sociedade é que esta Secretaria de Educação dispõe, nos Pressupostos Teóricos do Currículo em Movimento, Eixos Transversais que devem permear conteúdos, disciplinas e práticas pedagógicas. Temas ou conteúdos, integrados ao currículo, tornam-no menos prescritivo, normativo e, desse modo, fomentam oportunidades para reflexão coletiva acerca de temáticas historicamente marginalizadas, o que demanda, por outro lado, capacidade de discussão e estudo para todo corpo de profissionais da educação, e não apenas professoras(es) de disciplinas específicas. O objetivo da integração de Eixos Transversais no currículo é possibilitar a(ao) estudante a ampliação dos referenciais de leitura do mundo, com vivências diversificadas e a construção/reconstrução de saberes específicos de cada ciclo/etapa/modalidade da educação básica. Os conteúdos passam a ser organizados em torno de uma determinada ideia ou eixo que indicam referenciais para o trabalho pedagógico a ser desenvolvido por professores(as) e estudantes, de forma interdisciplinar, integrada e contextualizada (DISTRITO FEDERAL, 2014, p. 36). Os Pressupostos Teóricos do Currículo em Movimento orientam os currículos de todas as etapas e modalidades desta Secretaria de Educação e são estruturados sobre três Eixos Transversais (Educação para a Diversidade, Cidadania e Educação em e para os Direitos Humanos e Educação para a Sustentabilidade) que buscam uma unidade integradora para o currículo e, acima de tudo, demonstram a importância das narrativas da população negra e indígena, das mulheres e crianças, da luta camponesa e quilombola, dentre tantas outras historicamente excluídas dos currículos escolares. Além disso, esta Secretaria entende tais eixos como questões perenes e, ao mesmo tempo, contemporâneas, indispensáveis à consolidação da democracia e do Estado de Direito. CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 19 Educação para a Diversidade As salas de aula são diversas e plurais. Nesse sentido, compreende-se que toda criança, adolescente e pessoa adulta e idosa, ao passar por nossos bancos escolares, é diferente e carrega consigo vivências únicas, estruturadas por marcadores como raça/etnia, gênero, sexualidade, classe e geração, bem como por marcadores de ordem religiosa, geográfica, motora e/ou sensorial. Por essas razões, os Eixos Transversais, na concepção da educação para a diversidade, possuem, por princípio legal, o dever de educar para o reconhecimento das diferenças em diálogo com a universalidade, buscando sempre a preservação, a promoção e a proteção dos direitos de cada estudante. Da mesma forma, eles garantem a equidade, a promoção da diversidade humana, bem como o combate à violação de direitos e o enfrentamento das discriminações de quaisquer naturezas. A diversidade está relacionada, a um só tempo, à diferença de padrões, saberes e culturas hierarquizadas e à desigualdade econômica. Esse atributo nos leva a alguns grupos excluídos que, historicamente, têm vivenciado a desigualdade em virtude de suas diferenças dos padrões preestabelecidos: mulheres, pessoas com deficiências, negros, povos indígenas, população LGBT, quilombolas, pessoas do campo e pobres, entre outros (DISTRITO FEDERAL, 2014, p. 40). No âmbito da diversidade, percebe-se que a discriminação étnico-racial assola as populações negras, originárias da terra (indígenas), quilombolas, ciganas, campesinas, as pessoas em situação de imigração ou refúgio (especialmente de países periféricos) e aquelas que fogem à heteronormatividade. Quanto às questões étnico-raciais, contamos com alguns instrumentos que nos auxiliam a emancipar o ensino e a aprendizagem das narrativas hegemônicas colonialistas, eurocêntricas, excludentese assimétricas: as leis federais nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008, determinantes da obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana, afro-brasileira e indígena na Educação Básica. As referidas leis alteram o artigo 26-A da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e estabelecem que “nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena”. As desigualdades de gêneros presentes em nossa sociedade e as violências a partir delas perpetradas contra nossas meninas, mulheres e pessoas LGBT são estruturantes para as relações de poder que se estabelecem dentro e fora do ambiente escolar. Nesse sentido, para além das normativas internacionais, como a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção Belém do Pará – Decreto nº 1.973/1996), e nacionais, como o Plano Nacional de Política para as Mulheres ‒ PNPM (2004) e a Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), a Secretaria de Educação possui como orientação a Lei Distrital nº 5.806/2017, que “dispõe sobre a valorização das mulheres e o combate ao machismo na rede pública de ensino do Distrito Federal”, e leis mais recentes, como a Lei nº 6.325, de 10 de julho de 2019, que “institui a Semana Maria da Penha nas Escolas” e a Lei nº 6.367, de 28 de agosto de 2019, que “dispõe sobre a inclusão do ensino de noções básicas sobre a Lei Maria da Penha como conteúdo transversal do currículo nas escolas públicas do Distrito Federal”. Tais aparatos legais nos respaldam com o trabalho em sala de aula no sentido de compreender que, se as relações entre homens e mulheres são um fenômeno de ordem cultural, podem ser transformadas, sendo fundamental o papel da educação nesse sentido. Por meio da educação, podem ser construídos valores, compreensões e regras de comportamento em relação ao conceito de gênero e do que venha a ser mulher ou homem em uma CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 20 sociedade, de forma a desconstruir as hierarquias historicamente constituídas (DISTRITO FEDERAL, 2014, p. 41). Ainda nesse sentido, não se podem menosprezar os atos de agressões, de negligência ou de omissão em violências dirigidas à comunidade LGBT, e o fato de que ser alguém desviante da ordem heteronormativa já é um grande empecilho à permanência e ao sucesso escolar. Pensando nisso, esta Secretaria de Educação, por meio da Portaria n° 13, de 9 de fevereiro de 2010, determina a inclusão do nome social de travestis e transexuais nos respectivos registros escolares de todas as instituições educacionais da rede pública de ensino do Distrito Federal, em respeito aos direitos humanos, à pluralidade e à dignidade humana, visando o respeito aos direitos humanos e à inclusão social integral das cidadãs e cidadãos. Cidadania e Educação em e para os Direitos Humanos Devido ao colonialismo europeu sedimentado nas relações hegemônicas do poder, a concepção primitiva e excludente de cidadania vigorou no Brasil por muitos séculos sob o dorso da escravidão negra e do servilismo indígena, impostos aos não europeus dominados. O Estado, por meio de diversas acepções, foi validando sistemas de classes econômicas e raciais que se tornaram impeditivos para as classes mais vulneráveis acessarem os níveis mais avançados de estudos. Após diversas reivindicações históricas de movimentos progressistas e libertários do campesinato, dos negros, das mulheres, dos indígenas, dos quilombolas, dos demais povos tradicionais, dos operários e de seus respectivos sindicatos nas diversas searas de lutas sociais e políticas, bem como na própria Constituinte, promulgou-se a Constituição Cidadã de 1988. Fundado o Estado Democrático de Direito, as diversidades de povos e de etnias, de línguas, de saberes, de culturas foram reconhecidas pelo Estado brasileiro. Nesse sentido, surgiram políticas públicas para a promoção da cidadania, e a Educação Básica é uma delas, uma vez que a educação é compreendida como um direito em si mesmo e um meio indispensável para o acesso a outros direitos. A educação ganha, portanto, mais importância quando direcionada ao pleno desenvolvimento humano e às suas potencialidades, valorizando o respeito aos grupos socialmente excluídos. Essa concepção de educação busca efetivar a cidadania plena para a construção de conhecimentos, o desenvolvimento de valores, atitudes e comportamentos, além da defesa socioambiental e da justiça social (BRASIL, 2007, p. 25). Mesmo sendo as cadeias de legislações ancoradas na Carta Magna Cidadã, ainda vigoram na tessitura social enormes desigualdades de diversas naturezas, que afetam a garantia e o pleno gozo da cidadania preconizada no Estado Democrático de Direito. Diversos segmentos sociais, culturais, políticos, especialmente a educação, estão atrelados ao poder hegemônico do colonialismo (QUIJANO, 2005). Por isso, buscando um caminho que emancipe os subalternizados do universalismo a nova proposta curricular do Ensino Médio, em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e fundada na perspectiva do ensino para a diversidade, para o respeito aos direitos humanos e para a cidadania, apresenta-se como um caminho da potencialização das vocações, respeitando as especificidades e aptidões de cada estudante. Conforme o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH), em termos conceituais: A educação em direitos humanos vai além de uma aprendizagem cognitiva, incluindo o desenvolvimento social e emocional de quem se envolve no processo ensino-aprendizagem [...]. A educação, nesse CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 21 entendimento, deve ocorrer na comunidade escolar em interação com a comunidade local (BRASIL, 2007, p. 31). Educar em e para os direitos humanos implica a necessária compreensão da formação individual, a partir de todos os sujeitos envolvidos, para o coletivo, ou seja, é a mudança partindo dos indivíduos e refletindo em suas relações sociais. É o respeito às diferenças como requisito para a busca de igualdade, princípio que pode possibilitar o alcance de um ambiente mais fraterno, a promoção de uma cultura de paz, o pleno exercício da cidadania e a justiça social. Nessa perspectiva de uma relação dialógica entre os diferentes e diversos atores sociais, nossas(os) estudantes devem ser estimuladas(os) a protagonizarem a construção de sua educação demandando ampliação dos espaços de atuação de forma autorizadora, ativa e emancipatória (DISTRITO FEDERAL, 2014). Educação para a Sustentabilidade De modo geral, o termo “sustentabilidade” é usado para definir ações e atividades humanas que visam suprir as necessidades atuais dos seres humanos e suas relações com o meio ambiente, sem comprometer o futuro das próximas gerações. Refere-se ao estímulo ao uso consciente dos recursos naturais e a novas alternativas e ações em relação ao planeta, tendo em vista o bem-estar coletivo. De acordo com a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA, Lei nº 9.795/99), sustentabilidade é um dos princípios voltados à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, assim como liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social e responsabilidade. A Educação Ambiental pretende trabalhar a concepção de meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o social, o político, o cultural e o econômico sob um enfoque crítico, que valorize os princípios de sustentabilidade. Esse eixo tem como perspectiva a interdisciplinaridade, a multidisciplinaridade e/ou a transdisciplinaridade. De acordo com a Portaria nº 428/2017, que institui a Educação Ambiental Formal da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, dentre os objetivos da educação para a sustentabilidade, destacam-se: desenvolver uma compreensão integrada do meio ambiente emsuas múltiplas e complexas relações, seus aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, geográficos, históricos, sociais, espirituais, científicos, culturais, éticos, estéticos e econômicos, bem como fortalecer uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social com vistas a uma sociedade sustentável. A Educação do Campo como direito: para além de eixo transversal A Educação do Campo é uma modalidade da Educação Básica que compreende todas as suas etapas e modalidades, conforme previsto nas seguintes normativas: Resolução CNE/CEB nº 4/2010, Resolução CEDF nº 1/2018, Plano Distrital de Educação (2015-2024), que apresenta a Meta 8 como garantia da Educação Básica a toda população camponesa do DF, além da Portaria SEEDF nº 419/2018 e das Diretrizes Pedagógicas da Educação Básica do Campo para a Rede Pública de Ensino do Distrito Federal, aprovadas pelo Parecer CEDF nº 140/2019. O conceito de Educação do Campo emerge da luta empreendida pelos sujeitos do campo e suas organizações sociais, visando à superação da situação degradante na qual o meio rural se encontra imerso, como as desigualdades econômicas e sociais, que também são CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 22 desigualdades educacionais e escolares. Essa luta envolve, também, a busca da garantia do direito a uma educação do e no campo, ou seja, pretende-se que os “sujeitos sejam educados no lugar onde vivem e sendo partícipes do processo de construção da proposta educativa, que deve se dar a partir de sua própria história, cultura e necessidades” (DISTRITO FEDERAL, 2014, p. 44). É fundamental romper com a dicotomia urbano/rural e compreender o campo como espaço de produção de vida, cultura e educação, que proporciona formação de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Nesse sentido, a Unidade Escolar do Campo exerce um papel fundamental na construção de vínculos e sentidos em torno da comunidade e dos sujeitos do campo. A Educação do Campo imprime um novo olhar para o campo, valorizando-o, de forma que a população que vive nesse espaço tenha melhores condições de vida. A Organização do Trabalho Pedagógico – OTP e a Organização Curricular na Educação do Campo requerem uma construção dialógica entre teoria e prática, em que os princípios e as matrizes do campo, como trabalho, terra, cultura, história, vivências de opressão, conhecimento popular, organização coletiva e luta social, estejam presentes e articulados na Proposta Pedagógica das Unidades Escolares do Campo (CALDART, 2004; BARBOSA, 2012) . A Educação do Campo engloba, conforme Censo Escolar da SEEDF 1º/2019, 78 (setenta e oito) unidades escolares e atende uma diversidade de sujeitos, entre eles agricultores familiares, extrativistas, pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados e acampados da reforma agrária, trabalhadores assalariados rurais, comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ciganos, caiçaras, caboclos) e demais populações que produzem suas condições materiais de existência a partir do trabalho no meio rural (Portaria SEEDF n° 419/2018 e Diretrizes Pedagógicas da Educação Básica do Campo, SEEDF, 2019). A ampliação da oferta de escolarização aos sujeitos campesinos é um dos desafios da Educação do Campo, principalmente na Educação Infantil, no Ensino Médio e na Educação de Jovens e Adultos, uma vez que o número de unidades escolares para tais etapas e modalidades é menor. Temas Contemporâneos Transversais na BNCC Os currículos da BNCC (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio) trazem temáticas transversais, chamadas de Temas Contemporâneos Transversais (TCT), que são considerados imprescindíveis para o fortalecimento da democracia e da cidadania, uma vez que detêm a condição de explicitar a ligação entre os diferentes componentes curriculares de forma integrada, bem como de fazer sua conexão com situações vivenciadas pelos estudantes em suas realidades, contribuindo para trazer contexto e contemporaneidade aos objetos do conhecimento descritos na BNCC (BRASIL, 2019, s/n). As diferentes questões abordadas nos TCT permitem que os processos de aprendizagem viabilizem a aplicabilidade prática dos conhecimentos contemporâneos aprendidos no cotidiano do estudante, sob a característica transversal que possibilita a integração dos temas e o exercício da participatividade e da cidadania. A substituição de “temas transversais” por “temas contemporâneos” dá-se pela necessidade de contemplar as atualidades, o que implica uma ampliação com relação aos PCNs. Enquanto esses abordam seis temáticas, a BNCC estabelece seis macroáreas temáticas (Cidadania e Civismo, Ciência e Tecnologia, Economia, Meio Ambiente, Multiculturalismo e Saúde), as quais englobam, no total, 15 temas contemporâneos afetos à vida humana em escala local, regional e global. Enquanto nos PCNs atribui-se caráter CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 23 facultativo às temáticas, na BNCC sinaliza-se a obrigatoriedade, de modo que os temas passam a ser considerados conteúdos essenciais para a Educação Básica (BRASIL, 2019). A fundamentação legal dos temas é estruturada em uma perspectiva que integra direitos e conteúdos nos âmbitos político, social e científico. A “BNCC não deve ser vista como um documento que substitui as orientações contidas nos PCN de 1998, mas, sim, como um documento que orienta o processo de revisão curricular à luz da legislação vigente” (BRASIL, 2019, p. 15). A natureza metodológica da transversalidade é, portanto, um mecanismo de difusão dos TCT por todos os conteúdos, em vez da centralização desses nos componentes curriculares, pois, dada a importância desses conteúdos, a BNCC os torna obrigatórios no currículo, empregando, também, como recurso metodológico, três níveis de complexidade: a intra, a trans e a interdisciplinaridade. Referências BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Ensino Médio. (Documento homologado pela Portaria n° 1.570, publicada no DOU de 21/12/2017, Seção 1, pág. 146), 2017. ______. Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos. 76 p. 2007. ______. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. Brasília: MEC/SEB/DICEI, 2013. _______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf>. Acesso em: 26 jun. 2019. _______. Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais, ética. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. _______. Temas Contemporâneos Transversais na BNCC: Contexto Histórico e Pressupostos Pedagógicos 2019. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica, 2019. DISTRITO FEDERAL. Pressupostos Teóricos. Currículo em Movimento da Educação Básica. 2014. ________. Portaria n° 419, de 18 de dezembro de 2019. Institui a Política de Educação do Campo no Distrito Federal. Brasília, 2019. ________. Diretrizes Pedagógicas da Educação Básica do Campo para a Rede Pública de Ensino do DF, aprovada pelo Parecer CEDF nº 140, de 1º de julho de 2019. Brasília, 2019. QUIJANO, A. Colonialidade do poder: Eurocentrismo e América Latina. In: A Colonialidade do Saber: Eurocentrismo e Ciências Sociais. Perspectivas Latino-Americanas. Edgardo Lander (Org.). Colección Sur Sur. CLACSO. Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina, 2005. CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 24 EDUCAÇÃO INTEGRAL A Educação Integral compreende um conjunto de ações de caráter educativo que objetiva formar os estudantes em sua multidimensionalidade. Essas ações abrangem aprendizagens significativas, inovadoras e o uso de metodologias ativas e integradoras, de modo a proporcionaraos estudantes a ampliação das oportunidades educacionais e o desenvolvimento de suas habilidades cognitivas, intelectuais, afetivas, culturais, físicas, éticas e sociais. A ampliação de tempos, espaços e oportunidades educacionais, preconizados para a oferta de educação em tempo integral, traz como fundamento um novo lugar para o estudante. Nessa perspectiva, o ensino e as aprendizagens implicam o deslocamento do papel do estudante para o lugar de protagonista de suas aprendizagens, o que estimula sua participação cidadã e sua autonomia. A organização do trabalho pedagógico para a Educação em Tempo Integral é permeada por ações inovadoras, orientada por metodologias ativas como a pedagogia de projetos e a cultura digital, integrando o cotidiano dos estudantes que vivenciam, simultaneamente, um espaço-tempo real e virtual, que acessam informações e que interagem com o mundo de diferentes formas. As ações ampliam as perspectivas de futuro dos estudantes, aproximando-os do mundo do trabalho, e propiciam o desenvolvimento das habilidades de cooperação, resolução de problemas e criatividade. Partindo-se do pressuposto de que o estudante vivencia novos modos de pensar, sentir e agir atualmente, distanciando-se, portanto, da pedagogia tradicional, a educação baseada por projetos se realiza por meio da interação ativa tanto dos docentes quanto dos estudantes, num processo de ensino e aprendizagem de diferentes conhecimentos e competências do século XXI, articuladamente com as mais diversas experiências, o que possibilita teorizar a prática e praticar a teoria. Os projetos de trabalho permitem colocar os estudantes como protagonistas e o docente como mediador diante de uma ação vinculada à pesquisa/aprendizagem sobre algo emergente e que tem sentido na vida. Isso resulta num trabalho de colaboração e de trocas de experiências porque há de se compartilhar, além de se fortalecer e potencializar o processo pedagógico e as ações da escola. Ensino Médio Em Tempo Integral O Ensino Médio em Tempo Integral – EMTI – foi instituído pelo Ministério da Educação – MEC a partir da Portaria n° 1.145, de 10 de outubro de 2016. Em junho de 2017, o MEC lançou a Portaria nº 727 com o objetivo de apoiar os sistemas de ensino público na operacionalização de ações voltadas à melhoria da qualidade do Ensino Médio em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, de forma a atender as metas 3, 6, 7 e 19 do Plano Nacional de Educação – PNE – e a meta do Plano Distrital de Educação – PDE – no que tange à ampliação da oferta de educação integral. A Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal aderiu ao Programa no final do ano de 2016 e, em 21 de dezembro de 2017, foi editada a Lei nº 6.036, que instituiu o Ensino Médio em Tempo Integral no DF. CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 25 O EMTI fundamenta-se em um conjunto de conhecimentos e práticas que envolvem as capacidades de atingir objetivos, trabalhar colaborativamente e gerir emoções. Nesse sentido, as habilidades cognitivas e socioemocionais se articulam de forma colaborativa no desenvolvimento pessoal e social do estudante e estão dimensionadas em três grupos: o cognitivo, que envolve as habilidades de interpretação, criatividade, criticidade, inventividade e conectividade; o intrapessoal, que envolve a forma como cada indivíduo lida com as próprias emoções; e o interpessoal, que compreende características que ajudam a lidar com outras pessoas, saber passar informações, comunicar-se e ter empatia. O protagonismo dos estudantes é primordial no desenvolvimento das ações educativas no Ensino Médio em Tempo Integral e deve contemplar a escuta sensível ao longo do processo e primordialmente oportunizar a escolha dos Projetos Pedagógicos/Clubes/Projeto de vida, entre outras ações educativas, promovendo a participação na tomada de decisões no âmbito da unidade escolar. Em decorrência da articulação dos conhecimentos, das habilidades socioemocionais e das experiências, o estudante mostra-se disposto à exploração, à pesquisa e à experimentação. São interconexões dos seus saberes, culturas e experiências de vida conectadas aos novos conhecimentos e tecnologias. Essa integração torna a aprendizagem significativa. O EMTI propõe, ainda, que os estudantes tenham domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção e o conhecimento das formas contemporâneas a partir da experimentação, exploração e pesquisa. A educação baseada em projetos integra as áreas do conhecimento em que a prática e a teoria são ensinadas concomitantemente com interatividade e tecnologias. Para o trabalho pedagógico baseado por meio de projetos, as palavras-chave são inovação em educação, o que significa fazer diferente. Isso garante a efetivação dos processos pedagógicos e o protagonismo, além do reconhecimento dos estudantes como parte fundamental do processo educativo, o que contribui para a melhoria dos processos e resultados da aprendizagem dos estudantes. Além disso, o Projeto de Vida se apresenta como um diferencial a ser desenvolvido no Ensino Médio, seja como unidade curricular eletiva dentro da Parte Flexível da Matriz Curricular do Programa EMTI, seja como unidade curricular obrigatória para o Novo Ensino Médio, por compreender que cada estudante é singular, que aprende de forma diversificada e em ritmo diferente, com saberes e culturas pertinentes a cada um, e que pode traçar seu próprio caminho sendo protagonista de sua vida. A proposta para o EMTI atribui ao Projeto de Vida a centralidade das ações, o qual está organizado a partir das seguintes premissas, considerando os interesses e as metas pessoais dos estudantes a partir da orientação do professor: autoconhecimento, autocuidado, habilidades socioemocionais, organização dos planos e projetos, mundo acadêmico e do trabalho, participação e cidadania. A organização pedagógica do Ensino Médio em Tempo Integral prevê, além da Base Comum, uma parte flexível da Matriz Curricular baseada em projetos pedagógicos diversificados, entrelaçando a prática e a teoria, o protagonismo e a autonomia. Os estudantes do Ensino Médio terão uma jornada do ensino regular com a Base Nacional Comum Curricular de 1.800 horas, itinerários formativos de 1.200 horas e a parte flexível com uma Matriz Curricular com projetos pedagógicos de Matemática, projetos pedagógicos de Língua Portuguesa, Projeto de Vida, Projetos Pedagógicos diversificados e integrados, Empreendedorismo e Clubes, entre outras atividades. Referências CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 26 HERNANDEZ. Fernando. Cultura Visual. Mudança educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre. Artmed, 2000. HERNANDEZ. Fernando. Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho. Porto Alegre. Artmed, 1998. PORTES, Kátia Aparecida Campos. A organização do currículo por projetos de trabalho. Porto Alegre. Artmed, 1998. CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 27 PROJETO DE VIDA Em uma sociedade multicultural, constantemente conectada e em transformação, há a necessidade de uma educação que atenda às expectativas dos estudantes, tornando-os protagonistas do seu próprio processo de escolarização. Isso significa proporcionar-lhes uma formação fundamentada em valores que, em sintonia com suas trajetórias, permita-lhes definir seu projeto de vida. Nesse sentido, a partir da Lei Federal nº 13.415/2017, foi acrescida na LDB a obrigatoriedade, nos currículos do Ensino Médio, de um trabalho voltado para a construção de um projeto de vida dos estudantes e para a sua formação integral, abrangendo os aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais. Conforme a Resolução CNE/CEB n° 3/2018, que atualiza as DCNEM e contém os princípios e fundamentos para a orientação das políticas públicas educacionais nessa etapade ensino, o projeto de vida é uma estratégia de reflexão sobre a trajetória escolar na construção das dimensões pessoal, cidadã e profissional do estudante. Desse modo, as propostas curriculares dos sistemas de ensino e as propostas pedagógicas das unidades escolares de Ensino Médio deverão se adequar e contemplar o projeto de vida e a carreira dos estudantes além da sua formação integral. Art. 5º O ensino médio em todas as suas modalidades de ensino e as suas formas de organização e oferta, além dos princípios gerais estabelecidos para a educação nacional no art. 206 da Constituição Federal e no art. 3º da LDB, será orientado pelos seguintes princípios específicos: I - formação integral do estudante, expressa por valores, aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais; II - projeto de vida como estratégia de reflexão sobre trajetória escolar na construção das dimensões pessoal, cidadã e profissional do estudante (BRASIL, 2018a). O projeto de vida é visto como uma estratégia pedagógica cuja intenção é proporcionar o autoconhecimento do estudante e sua dimensão cidadã, de modo a orientar o planejamento da carreira almejada com base em seus interesses, talentos, desejos e potencialidades. Assim, as unidades escolares devem desenvolver ações curriculares que apoiem o desenvolvimento do projeto de vida dos estudantes, as quais ampliem o universo dos estudantes e a percepção desses sobre a vida, discorrendo sobre as possibilidades de escolha presentes em seu itinerário formativo e nas diversas dimensões da vida (BRASIL, 2019a). Com a instituição da BNCC, em 2017, para a Educação Infantil e para o Ensino Fundamental e, em 2018, para o Ensino Médio, a competência “Trabalho e Projeto de Vida” foi elencada no rol de competências gerais a serem desenvolvidas pelos estudantes ao longo de toda a Educação Básica. Tal perspectiva evidencia o protagonismo estudantil e o destaque no seu projeto de vida: Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade (BRASIL, 2018a, p. 9). CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 28 O projeto de vida, como uma metodologia interdimensional, visa desenvolver habilidades cognitivas e socioemocionais capazes de orientar o estudante na realização de um projeto para si. Esse trabalho tem a potencialidade de motivar e despertar o interesse dos estudantes com o objetivo de direcioná-los para a construção do que esperam para si no futuro (BRASIL, 2019b). Ao contemplar o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, a BNCC dá um passo decisivo para a renovação da escola, pressupondo a superação do paradigma de mera transmissora de conhecimento para se transformar em um espaço de crescimento integral do aluno, bem como um fator de proteção à saúde mental dos estudantes e propulsor do seu desenvolvimento como cidadãos e da sua preparação para o trabalho. Além das competências puramente cognitivas, a BNCC espera que sejam desenvolvidas competências socioemocionais, as quais levam os estudantes a desenvolverem habilidades de comunicação, criatividade, autoconhecimento, autocontrole, curiosidade, empatia e, sobretudo, habilidades de relacionamento interpessoal. A ideia é que o estudante esteja preparado para se posicionar diante da volatilidade, da incerteza, da complexidade e da ambiguidade da sociedade contemporânea, cada vez mais dinâmica e desafiadora, a qual cobra do estudante maior protagonismo, respeito às individualidades, bem como um comportamento crítico, analítico e questionador para o mundo do trabalho. As competências socioemocionais, além de ajudarem o estudante a administrar suas emoções, auxiliando-o a superar desafios, melhorar o desempenho acadêmico, conviver com as diferenças e realizar escolhas que façam sentido em sua vida, também diminuem os índices de violência na escola e fazem uma ponte para o mundo do trabalho, mediante o protagonismo juvenil. As competências socioemocionais evocadas na BNCC sugerem o trabalho com os estudantes de: • Autonomia e responsabilidade – agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação para tomar decisões; • Empatia e cooperação – exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação para fazer-se respeitar-se e promover o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade, sem preconceitos de qualquer natureza; • Autoconhecimento e autocuidado – conhecer-se, apreciar-se e compreender-se na diversidade humana para cuidar da saúde física e emocional, reconhecer suas emoções e as dos outros com autocrítica e capacidade para lidar com elas; • Autogestão – valorizar e apropriar-se de conhecimentos e experiências para entender o mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas à cidadania e ao próprio projeto de vida com liberdade, autonomia, criticidade e responsabilidade. A autogestão é consequência do “conhecer-se”, que por sua vez possibilita o desenvolvimento dos talentos pessoais. E por fim, aquele indivíduo que consegue perceber suas limitações e capacidades, conhece suas emoções e os gatilhos que as disparam, consegue ser mais empático e tolerante com os outros a sua volta, pois os reconhece como indivíduos falíveis ao mesmo tempo que talentosos. A educação é mais que o desenvolvimento de conteúdos e habilidades racionais, “faz parte da tarefa docente não apenas ensinar os conteúdos. mas também ensinar a pensar certo” (FREIRE, 1996, p. 146). Esta autonomia de “pensar certo” passa pela gestão do eu de maneira global, entendendo que o sujeito se relaciona e precisa desenvolver respeito e diálogo, para a vida, e não apenas para a futura formação profissional. CURRÍCULO EM MOVIMENTO DAS ESCOLAS-PILOTO DO NOVO ENSINO MÉDIO (2ª VERSÃO) 29 O propósito, e a benfeitoria social, do desenvolvimento emocional dos indivíduos está em um convívio social mais harmônico, menos violento, onde as diferenças podem ser expressas de modo a promover o diálogo, o debate e não a violência, ou reações abruptas e impensadas. Ao mesmo tempo, faz parte deste propósito o incentivo à aceitação mútua e promoção de laços sociais, a diminuição dos casos de depressão e de suicídio. Pois, “se aprendemos a controlar a raiva e procuramos divulgar suas formas de controle na escola, em casa e com os amigos [...] seguramente estaremos contribuindo para um mundo melhor, sem tanta violência.” (SANTOS, 2000, p. 52). Por meio do trabalho com o projeto de vida, são realizadas atividades educativas a respeito do autoconhecimento, do autocuidado, da relação interpessoal, do mundo do trabalho, das profissões, dos processos de escolhas, de transições e de aprendizagem ao longo da vida, utilizando-se da aplicação de técnicas de ensino e aprendizagem (SILVA, 2019). Convém destacar que o Projeto de Vida não trata apenas do processo de escolha profissional, tampouco está dissociado do mundo produtivo, porque contribui para o autoconhecimento, para a capacidade de situar-se no mundo e reconhecer as possibilidades e para o desenvolvimento de competências que contribuam para que o estudante faça escolhas assertivas ao longo da sua trajetória. O projeto de vida traz significado e preenche com valores a formação acadêmica dos demais componentes curriculares. Assim, os processos de ensino e aprendizagem são enriquecidos com o processo de desenvolvimento vocacional e profissional, o que possibilita que os estudantes reflitam e direcionem-se para a construção do que almejam para si e para o seu futuro em todas as dimensões da sua vida (SILVA, 2019). À luz de uma perspectiva crítica, como Carvalho (2014), acredita-se que as escolhas dos indivíduos são multideterminadas
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