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Guia_da_Disciplina - Educação física e esportes

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INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO FÍSICA 
Me. Thiago Rogel Santos Ferreira 
GUIA DA 
DISCIPLINA 
 2020 
 
 
1 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO FÍSICA – Leve introdução 
 
Esta disciplina tem como objetivo apresentar a Educação Física como profissão, 
formação acadêmica, intervenção profissional, área de conhecimento e uma ciência. Para 
isto, os conteúdos foram divididos para que ao final da disciplina seja possível reconhecer: 
• as diferenças entre ocupação e profissão; 
• às áreas de atuação profissional do licenciado em educação física; 
• os conhecimentos que estruturam a formação acadêmica; 
• às raízes epistemológicas da educação física como ciência e prática pedagógica; 
• diferentes teorias e abordagens que revestem a educação física no contexto 
escolar; 
• as práticas corporais que estão presentes nos currículos da educação Física na 
escola; 
• a influência dos aspectos biológicos, psicológicos e socioculturais que envolvem 
o estudo do movimento humano. 
 
O que é a Educação Física? 
 
 
Antes de tudo, Educação Física é Educação... 
 
 
 
2 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1. EDUCAÇÃO FÍSICA: PROFISSÃO CIENTIFICAMENTE ORIENTADA 
 
Antes de iniciar as discussões a cerca da educação física como área de 
conhecimento e suas contribuições na aplicação das práticas pedagógicas, se faz 
importante contextualizar a presença da Educação Física nas instituições de Ensino 
Superior e na formação profissional. 
 
Na maioria das vezes uma profissão começa como uma ocupação e passa por um 
processo de estruturação e aperfeiçoamento denominado de profissão. O que diferencia 
uma ocupação de uma profissão é que na primeira o método de trabalho é dependente de 
tradições ou da tentativa e erro. Enquanto isso, uma profissão o método é fundamentado 
por um conjunto de conhecimentos específicos (LAWSON apud TANI, 2011). 
 
Existem diferentes formas de se classificar uma profissão, dentre elas darei atenção 
as orientações técnicas e cientificas (acadêmicas). As profissões tecnicamente orientadas, 
acontecem por meio das escolas técnicas profissionalizantes, já as profissões 
cientificamente orientadas, são aquelas em que o exercício profissional pressupõe uma 
formação superior, fundamentada por um corpo de conhecimento acadêmico-científicos, 
que orientam profissionais para solução de problemas específicos encontrados na 
sociedade (TANI, 2011). 
 
O Conselho Nacional de Educação-CNE institui as Diretrizes Curriculares Nacionais 
para os cursos de graduação em Educação Física, em nível superior de graduação plena 
mediante a resolução 7/2004. 
 
“Art. 3. Art. 3º A Educação Física é uma área de conhecimento e de intervenção 
acadêmico-profissional que tem como objeto de estudo e de aplicação o movimento 
humano, com foco nas diferentes formas e modalidades do exercício físico, da ginástica, 
do jogo, do esporte, da luta/arte marcial, da dança, nas perspectivas da prevenção de 
problemas de agravo da saúde, promoção, proteção e reabilitação da saúde, da formação 
cultural, da educação e da reeducação motora, do rendimento físico-esportivo, do lazer, da 
gestão de empreendimentos relacionados às atividades físicas, recreativas e esportivas, 
além de outros campos que oportunizem ou venham a oportunizar a prática de atividades 
físicas, recreativas e esportivas.” 
 
 
 
3 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
A formação de profissionais de Educação Física se efetivará em cursos de 
graduação que certificarão os formandos em duas modalidades: licenciatura e bacharelado. 
Em resumo, são duas formações distintas com intervenções profissionais separadas. Para 
o Licenciado é exclusividade atuar especificamente na componente curricular Educação 
Física na educação básica, e ao Bacharelado impossibilitada a atuação docente na 
educação básica. No campo acadêmico a licenciatura habilita para cursos de pós-
graduação e a docência no Ensino Superior. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1. Atuação profissional e acadêmica do Licenciado em Educação Física. 
 
A licenciatura deve tomar como referência, para a constituição de seu currículo, as 
diretrizes estruturadas segundo a Lei de Diretrizes e bases da Educação nacional (LDB) nº 
9394 de 1996. 
 
“Art. 61. Parágrafo único. A formação dos profissionais da educação, de modo a 
atender às especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos objetivos 
das diferentes etapas e modalidades da educação básica, terá como 
fundamentos:” 
I – a presença de sólida formação básica, que propicie o conhecimento dos 
fundamentos científicos e sociais de suas competências de trabalho; 
II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios supervisionados e 
capacitação em serviço 
III – o aproveitamento da formação e experiências anteriores, em instituições de 
ensino e em outras atividades. 
Docência 
Educação 
Educação Física 
Licenciatura Bacharelado 
Demais segmentos 
fora da escola 
Educação infantil 
Ensino 
Fundamental 
Ensino Médio 
Ensino Superior 
Coordenador pedagógica 
Coordenador de esportes 
Gesta escolar 
Pós graduação 
(Strictu/Latu Sensu) 
Ensino Superior 
Atividades 
 Extracurriculares/ 
Enriquecimento 
Curricular 
 
 
4 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
“Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível 
superior, em curso de licenciatura plena, admitida, como formação mínima para o 
exercício do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino 
fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal.” 
 
Logo, a Educação Física integrada a proposta pedagógica da escola é componente 
curricular obrigatório na educação básica, e assim, se caracteriza como uma necessidade 
da sociedade assegurada como direto constitucional, sendo a atuação profissional 
cientificamente orientada. 
 
A escola estabelece-se como um espaço do saber sistematizado, ou seja, da ciência 
e do currículo (MARCCO, 2006). Uma associação entre teoria e prática é visto como uma 
forma de legitimar o exercício da profissão, isto é, a produção de conhecimentos científicos 
deve fundamentar as intervenções pedagógicas, bem como os problemas encontrados na 
prática profissional devem ser solucionados pela produção científica. 
 
Entretanto, alguns problemas vêm sendo reconhecido de forma recorrente entre a 
teoria e a prática: 
I. a identificação de um currículo acrítico com ênfase nos aspectos biológicos e 
rendimento esportivo máximo; 
II. o distanciamento entre o conhecimento produzido por pesquisas científicas e 
suas aplicações práticas na Educação Física Escolar 
III. crise de identidade e legitimidade da educação física como ciência 
 
1.1. Formação profissional 
A Educação Física teve seu início na década de 20 no ensino primário e secundário, 
desde então seus objetivos sofreram mudanças influenciadas por questões políticas e 
ideológicas que serão abordadas mais detalhadamente nas próximas aulas. De uma forma 
geral a Educação foi utilizada como um meio para atingir diferentes fins, sendo a saúde e 
o esporte os mais notáveis. 
 
Diante desta importância atribuída a saúde e ao rendimento no esporte, o currículo 
da Educação Física no Ensino superior foi composto de conhecimentos biológicos 
relacionados as melhoras da aptidão física e conhecimentos práticos no ensino dos 
esportes. Tojal apud Tani (2011) afirma que, via de regra, estes cursos iniciaram suas 
 
 
5 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
atividades com ausência de preocupações na produção de conhecimentos (teóricos) e sim 
na reprodução de conhecimentosempíricos acumulados através das experiências motoras 
culturalmente observadas, isto é, predominando-se um ensino baseado nas tradições. 
 
A fundamentação teórica dos cursos de educação física foi baseada na produção de 
conhecimentos adquiridos nas ciências mães (fisiologia, anatomia, pedagogia) e suas 
implicações no exercício do corpo e no desempenho do esporte. Na década de 80 este 
modelo foi fortemente criticado, influenciado muito provavelmente, pelo início dos cursos 
de pós graduação no Brasil. 
 
Em relação ao debate acadêmico, o aumento gradual das pesquisas tendo como 
objeto de estudo o movimento humano levou à produção de conhecimentos em várias 
dimensões desse fenômeno, biológico, psicológico, social, cultural e filosófico. Esse 
processo levou ao surgimento de várias subdisciplinas que emergiram através de forma 
interdisciplinar (Manoel, 1996). 
 
A estrutura do currículo pode ser observada da seguinte forma: 
Disciplinas 
Ciências mãe 
Disciplinas 
 Práticas 
Subdisciplinas 
Interdisciplinar 
Fisiologia Esportes Fisiologia do Exercício 
Pedagogia Dança Psicologia do esporte 
Biologia Ginásticas História do esporte 
Psicologia Sociologia do Esporte 
Sociologia Psicologia da Educação 
Entre outras... Entre outras... 
 
O currículo de caráter interdisciplinar fez da educação física uma disciplina 
acadêmica dependente da produção de outras áreas, expondo assim uma ausência de 
autonomia na produção de um corpo de conhecimentos centrados em um objeto de estudo 
em comum, uma vez que, estas disciplinas poderiam conter apenas algumas informações 
relevantes a performance humana. Esta lacuna criou uma crise de identidade e de 
legitimidade da Educação Física como ciência, isto é, como a Educação Física poderia ser 
considerada uma ciência sem um objeto de estudo particular? 
 
 
 
6 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
A partir destas discussões, Henry (1964) propôs que a disciplina acadêmica 
Educação Física não poderia ter uma estrutura interdisciplinar e sim transdisciplinar, com 
um objeto de estudo próprio, e consequentemente um corpo de conhecimentos específico. 
Para Henry e outros pesquisadores, garantir a Educação Física como uma ciência a faz 
mais importante. 
 
Diante disso, ao observar as limitações da educação Física como uma área de 
conhecimento, um conjunto de propostas denominados de matriz científica sugere a 
mudança de nomenclatura para atender as necessidades de uma disciplina transdisciplinar. 
Diferentes correntes podem ser observadas na literatura, sendo destacado a Cinesiologia 
(Ciência do Movimento Humano) e a Ciência da Motricidade Humana. 
 
Em contrapartida, um segundo grupo, considera a impossibilidade de que a 
Educação Física se constitua, no atual período histórico, como ciência. Para tanto, tendo 
em vista a especificidade da área, consubstanciada no seu caráter eminentemente 
pedagógico, compreendem-na como uma prática pedagógica que trata/tematiza as 
manifestações da cultura corporal, a qual, entretanto, não deve se eximir de se fundamentar 
no conhecimento científico de outras disciplinas, ou seja, a educação física teria como 
objeto de estudo as práticas pedagógicas e as dificuldades encontradas nesta prática 
pedagógica devem ser resolvidas com a importação de conhecimentos de outras áreas 
(ciências). 
 
Estas duas visões apresentadas, ainda que antagônicas, concordam ao menos que 
a Educação Física se faz uma profissão do saber sistematizado fundamentada 
cientificamente (academicamente), uma vez que, historicamente a ausência da teoria 
resultou em currículos com ênfase na reprodução acrítica e sem significado de atividades 
práticas no contexto escolar. 
 
A dualidade das propostas para a Educação Física reflete questões epistemológicas 
e paradigmáticas. Para Thomas Khun o período de crise é também um período de 
revolução, de mudanças de paradigmas. Um paradigma consiste em uma visão de mundo, 
portanto, diferentes paradigmas são diferentes formas de ver o mundo. A ciência não é 
estática, muda no tempo, logo, a forma de ver a atuação profissional também mudará. 
 
 
7 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Figura 2. Referente a ideia de diferentes paradigmas (visão de mundo) que 
sustentam diferentes formas de entender a educação física. 
 
 
 
 
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. 1996. 
 
MANOEL, E. J. Comportamento Motor e Educação Física: as duas faces de 
Janus. Motriz, Janeiro, 1996. 
 
MARCCO. A. Educação Física: cultura e sociedade. Campinas, Papirus, 2006. 
 
TANI, G. Leituras em Educação Física: Retratos de uma jornada. São Paulo, 
Phorte, 2011. 
 
 
 
 
8 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
2. CINESIOLOGIA: ESTUDO DO MOVIMENTO HUMANO 
 
Nesta aula iremos abordar a Cinesiologia como estrutura transdisciplinar, no qual a 
educação física estaria inserida na atuação profissional fundamentada por um corpo de 
conhecimentos produzidos por meio da pesquisa aplicada. 
 
Uma disciplina acadêmica é normalmente identificada por possuir: (a) um objeto de 
estudo próprio; (b) uma metodologia de estudo especializada, e (c) um paradigma próprio 
identificado por um conjunto de teorias, que resulta num corpo de conhecimentos único. A 
cinesiologia pode ser definida como o estudo do movimento humano ou da atividade física 
como proposto por Karl Newell (NEWELL, 1990a). 
 
Embora existam várias possibilidades para a cinesiologia, Newell sugere que o 
estudo da atividade física possa ser útil e até considerado em quatro dimensões. Essas 
dimensões são: a própria atividade física, a base de conhecimento interdisciplinar, o 
desenvolvimento da qualidade de vida e as profissões da atividade física. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1. Referente as dimensões da Cinesiologia proposta por Newell (2007). 
 
De acordo ainda com o mesmo autor a atividade física deve estar incorporada ao 
contexto, e apresenta uma estrutura hierárquica sobre os contextos de aplicação da 
atividade física, isto é, menor interferência do contexto nos movimentos reflexos e 
Profissões 
Atividade Física 
Conhecimento 
Interdisciplinar 
Desenvolvimento 
qualidade de vida 
Atividade 
Física 
 
 
9 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
espontâneos, ainda que mesmo nos bebês estes movimentos podem ser influenciados pelo 
ambiente. 
 
Dança, exercício, Música, Jogo, Esporte e Trabalho 
Educação do Movimento 
Atividades da vida diária 
Postura, locomoção e manipulação 
Movimentos espontâneos e Reflexos 
 
Para Tani (1996) a cinesiologia é mais do que uma disciplina acadêmica, é uma área 
de conhecimento que tem como objeto de estudo o movimento humano, com o foco de 
preocupações centradas no estudo de movimentos genéricos (postura, locomoção, 
manipulação) e específicos do esporte, exercício, ginástica, jogo e dança. 
 
Para Tani (2011) o movimento não poder se restringir ao aspecto biológico, uma vez 
que se relaciona com o desenvolvimento psicológico, social, cultural e evolutivo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2. Integração dos sistemas perceptivos, motores e cognitivos 
 
A cinesiologia como área de conhecimento apresenta-se com uma peculiaridade de 
estudar o movimento humano desde uma perspectiva microscópica (níveis bioquímicos) ao 
nível macroscópico resultante das inúmeras interações socioculturais, e assim, seria 
dividida em três subdivisões que podem ser agrupadas em três grandes áreas de 
concentração (MANOEL, 1996). 
Organização das percepções 
Movimento Sensação 
Cognição Percepção 
Exploração do meio ambiente 
Integração 
das 
sensações 
Programação 
e controle 
das ações 
 
 
10 Introdução à Educação Físicae Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1. Biodinâmica do Movimento: estuda os mecanismos de sustentação para o 
movimento (bioquímica, fisiológica) bem como de organização motora em seus 
aspectos físicos internos e externos (biomecânica). 
2. Comportamento Motor Humano: estuda os processos neuropsicológicos da 
organização motora em termos de controle, desenvolvimento e aprendizagem 
motora. 
3. Estudos Socioculturais de Movimento Humano: estuda os aspectos sociais, 
antropológicos e filosóficos da atividade motora 
 
A Educação Física por sua vez, seria constituída de duas subáreas: Pedagogia do 
Movimento Humano e Adaptação do Movimento Humano. Frente as diferentes áreas de 
concentração, novas disciplinas emergiram com características de orientação pedagógica, 
como por exemplo aprendizagem motora. Todas estas disciplinas estariam interligadas a 
manifestação do movimento no exercício, ginástica, jogo e dança. 
 
Esta estrutura garante a independência da Educação Física das disciplinas mães, e 
possibilita a emergência um corpo de conhecimento própria da área de conhecimento. 
 
 
A fim de atender as necessidades teóricas e práticas, o modelo proposto diferencia 
a pesquisa básica e aplicada, uma vez que, tem sido apontado um afastamento dos 
achados na pesquisa básica com a realidade das práticas pedagógicas, isto é, o 
distanciamento entre teoria e prática faz com que a produção de conhecimentos não 
contribuam para a atuação profissional na escola. 
 
As pesquisas básicas preocupam-se com problemas teóricos, são realizadas em 
situação de laboratório, exigem condições cuidadosamente controladas o que implica na 
diminuição de seu valor ecológico, ou seja, seu valor prático. Já as pesquisas aplicadas 
Biodinâmica do 
Movimento 
Comportamento 
Motor 
Estudos 
Socioculturais 
Fisiologia do Exercício Aprendizagem motora Sociologia do Esporte 
Bioquímica do Exercício Desenvolvimento Motor História da Educação 
Biomecânica Controle Motor Antropologia 
Cineantropometria Psicologia do Esporte Filosofia da Educação 
 
 
11 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
caracterizam-se por voltar-se a problemas imediatos do mundo real. Estas pesquisas 
fornecem resultados direto para a prática (THOMAS E NELSON, 2002). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Cinesiologia é fundamentada em novos paradigmas da ciência (complexidade e 
sistemas dinâmicos) no qual o movimento é um fator indispensável para o aumento não 
linear de complexidade do comportamento motor e humano. De uma forma mais simplista, 
a Educação Física com foco no estudo do movimento humano (atividade física), permite 
planejar um currículo voltado a Educação do Movimento e uma Educação pelo Movimento, 
isto é, uma criança quando se envolve em um jogo exige adaptações fisiológicas da aptidão 
física, adaptações neuromusculares no desempenho de habilidades motoras diversificadas, 
mas também interage com os seus pares, criam e resolvem conflitos coletivos e por fim são 
apresentados a uma diversidade lúdica na vivência de jogos tradicionais distintos 
culturalmente construídos. 
 
Nos Estados Unidos, a matriz epistemológica da cinesiologia é disciplinar. No Brasil, 
a situação é ambígua, uma vez que educação física é o termo preferido por instituições de 
ensino superior e está presente amplamente na denominação dos programas de pós-
graduação. Todavia, as áreas de concentração desses programas revelam uma hegemonia 
da biodinâmica (MANOEL E CARVALHO, 2011). 
Cinesiologia 
Pesquisa Básica 
Educação Física 
Pesquisa Aplicada 
Biodinâmica do 
Movimento
Comportamento 
Motor 
Estudos 
Socioculturais 
Pedagogia do 
Movimento 
Humano
Adaptação do 
Movimento 
Humano 
 
 
12 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
Com isso, a área dos estudos socioculturais e pedagógicas enfrenta dificuldades e 
perdem espaço nos programas de pós graduação. Para os críticos da Cinesiologia, esta 
proposta ainda que se disponha a estudar aspectos macroscópico na teoria, na prática 
observa-se uma resistência e limitações epistemológicas. Diante a perspectiva dos 
pesquisadores das áreas pedagógicas e socioculturais a cinesiologia acrescenta aos 
problemas relacionado aos conteúdos tradicionais do condicionamento físico, rendimento 
esportivo e a reprodução de movimentos descontextualizados em busca da aquisição de 
padrões de movimentos. 
 
Para Manoel e Carvalho (2011) os conhecimentos produzidos pela cinesiologia em 
geral e pela biodinâmica em particular têm grande potencial de generalização, mas 
as aplicações na resolução de problemas e no desenvolvimento de bens e serviços 
requerem um investimento na pesquisa orientada aos dilemas que as populações 
enfrentam. Os estudos pedagógicos são delineados para responder a tal demanda. 
Restringir essa produção com base em uma política científica que se justifica por 
meio de critérios que valorizam a produtividade quantitativa, em detrimento do 
impacto e da relevância social da produção científica, implica também abdicar das 
pesquisas que legitimam, acadêmica e profissionalmente, a educação física. 
 
A cinesiologia tem uma forte influência dos estudos do comportamento motor, mas 
especificamente da aprendizagem motora, e teve grande importância no Brasil diante da 
formulação de uma proposta para a Educação Física Escolar fundamentada por uma 
abordagem desenvolvimentista, em um momento de crise de epistemológica da educação 
física, que mais adiante seria confrontada por pesquisadores que defendem uma matriz 
pedagógica da educação física. 
 
 
 
MANOEL, E. J. CARVALHO, Y. Pós-graduação na educação física brasileira: a 
atração (fatal) para a biodinâmica. Educação e Pesquisa. v.37, n.2, p. 389-406, 
2011. 
 
NEWELL, K. M. Kinesiology: the label for the study of phisical activity in higher 
education. Quest. v. 12. 269-278, 1990a. 
 
TANI, G. Leituras em Educação Física: Retratos de uma jornada. São Paulo, 
Phorte, 2011. 
 
THOMAS, J. R.; NELSON, J. K. Métodos de pesquisa em Educação física. Porto 
Alegre, Artmed, 2002. 
 
 
 
13 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
3. CIÊNCIA DA MOTRICIDADE HUMANA 
 
Um embate recorrente no meio acadêmico tem, como foco, o conceito de ciência e 
o seu critério de demarcação. Essa discussão assume diferentes magnitudes a depender 
do foco, por exemplo: pesquisa qualitativa vs pesquisa quantitativa, subjetividade vs 
objetividade, holismo vs reducionismo. 
 
Inserida no que podemos chamar de matriz científica a ciência da motricidade 
humana apresenta características diferentes da cinesiologia, a começar pela ruptura de 
uma ciência positivista. A Ciência da Motricidade Humana sugerida e defendida pelo 
português Manuel Sérgio tenta resolver os problemas ontológicos, epistemológicos e 
políticos, deixados pela tradicional Educação Física por meio de um pensamento 
fenomenológico. 
 
A ciência da motricidade humana estuda o movimento intencional da transcendência, 
tendo como objeto de estudo o corpo enquanto forma de desenvolvimento. A 
transcendência significa superação. O ser humano através da sua motricidade prova que 
anseia a transcendência pela capacidade de ser mais e ser melhor. O foco da definição 
está na busca da superação dos limites da realidade dada, dos limites existentes em um 
dado momento, tanto no sujeito como nas circunstâncias. A evolução humana é marcada 
por intensa relação entre o movimento intencional e a flexibilidade das estratégias 
adaptativas de aprendizagem permanente (SÉRGIO, 2019). 
 
Os movimentos dos bebês ainda que espontâneos e 
reflexos são os primeiros movimentos observáveis diretamente, 
sejam reflexos primitivos ou posturais estruturam a emergência de 
movimentos voluntários e desdeentão a motricidade se faz 
presente nas mudanças na complexidade dos movimentos 
corporais, bem como na quantidade de interação com o meio. A 
movimento na criança permite viver diferentes momentos durante 
o seu desenvolvimento, e na maior parte, estes momentos exigem 
um sentido de superação. 
 
Com uma visão mais amplificada no que se refere ao corpo, 
a ciência da motricidade humana tem sido associada a 
 
 
14 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
corporeidade. O conceito de corporeidade corresponde a uma representação que criamos 
em nossa mente, por meio da qual percebemos nossos corpos e, principalmente, os 
compreendemos. Assim, a corporeidade define o ser humano como ser físico/corporal e 
complexo, estando todas as qualidades e dimensões pertencentes ao ser humano 
enraizadas em seu corpo, enquanto uma organização sistêmica (NETO, 2018). 
 
O homem precisa ser visto não apenas enquanto corpo material, mas 
principalmente enquanto um fenômeno corporal, ou seja, enquanto expressividade, 
palavra e linguagem. Somos movimento, gesto, expressividade, presença (Merleau-
Ponty, 1999). 
 
O dualismo entre mente e corpo é outro ponto de diferenciação desta proposta, 
influenciado pelo trabalho de Merleau- Ponty, no qual o corpo juntamente com a realidade 
externa, é a base da consciência, por essa razão, há um inseparável entre o sujeito 
conhecedor e as circunstâncias, onde não se pode separar o corpo como objeto de estudo 
do sujeito, ou seja, não temos um corpo somos um corpo. 
 
A motricidade humana envolve também aspectos antropológicos do 
desenvolvimento, levando em conta heranças culturais, necessidades individuais e sociais 
e questões sociopolíticas. Do homo sapiens aos dias de hoje o corpo e a motricidade 
reveste-se de um conjunto de significados que representam revoluções e conquistas em 
diferentes momentos do tempo e do espaço. A construção de artefatos e a descoberta do 
fogo garantiram não só a sobrevivência da espécie como uma evolução sem precedentes. 
Do nomadismo ao sedentarismo, do trabalho fabril as revoluções da computação, dos jogos 
ao esporte rendimento, do brincar na rua ao brincar em espaços urbanizados e privados, 
do exercício físico ao culto de padrão de beleza midiático, do simples movimento a arte, a 
corporeidade é a expressão de inúmeras mudanças culturais. Diante de uma perspectiva 
cultural, a motricidade é vista como uma linguagem não verbal presente nas atividades 
cotidianas, no rendimento esportivo, na arte, no trabalho, na reabilitação e na educação. 
 
No que se refere à Educação Física como ciência a motricidade reconhece a 
necessidade de objeto de estudo independente as ciências mães, e propõe uma alteração 
da nomenclatura para atender as tais necessidades transdisciplinares, que foi denominado 
de corte epistemológico. A mudança da concepção da Educação Física para motricidade 
humana assim como a cinesiologia amplia as possibilidades de interação, influenciado pelo 
pensamento complexo de Edgar Morin (1991). 
 
 
15 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Sem uma ciência autônoma a Educação Física nada mais é que uma prática 
didática, perde a sua fundamentação teórica, constituída do processo social sem 
que ela (Educação Física) se encontre empenhada (Sérgio, 2019). 
 
Ainda que reconhecida como ciência, a motricidade exige uma prática pedagógica, 
sendo esta prática chamada de educação motora para transcendência em um sentido 
evolutivo de vida. O movimento como fim em si mesmo não é o objetivo desta educação 
motora, pelo contrário, se pensa em um corpo que se movimenta por um conjunto de 
significados. Para Manoel Sérgio, a educação física deve romper com a postura friamente 
analítica, e politicamente neutra, se busca alcançar estes objetivos. 
 
A ciência da motricidade humana estuda o movimento humano intencional da 
superação (o movimento mais autenticamente humano) e como tal concorre a uma 
leitura política do corpo, já que os corpos ricos e os corpos pobres não são o mesmo 
corpo. Cada classe social tem a sua cultura motora. Pobreza, analfabetismo, 
democracia também são problemas teóricos (Sérgio, 2019) 
 
 Para Manoel Sérgio a Educação Física não é redutora apenas enquanto 
terminologia, mas, sobretudo sobre o conteúdo. Os professores de Educação Física e de 
Esporte se expressam como duas realidades completamente diferentes. O autor se 
apropriou do desporto, mais especialmente do futebol para romper a visão reducionista e 
acrítica do corpo. Para Sérgio (2019) o desporto é um excelente exemplo de movimento 
intencional para a transcendência. 
 
Entretanto, o autor propõe algumas mudanças para um novo desporto, mais humano 
e mais crítico. Dentre a cultura do espetáculo que sobrepõe o economicismo aos valores 
culturais, as questões éticas e os valores antropológicos do esporte. Assim o desporto do 
rendimento, que valoriza mais as ciências exatas, que produz o atleta midiático 
esquecendo-se do esporte-educação e os princípios da ética desportiva não está invisível 
aos atentos olhos dos jovens aprendizes, logo, o esporte escolar não pode ser dissociado 
do esporte popular, diante disso a escola é um importante caminho para uma revolução do 
desporto. 
 
O esporte ensinado nas escolas enquanto cópia irrefletida do esporte de competição 
ou de rendimento, só pode fomentar vivências de sucesso para a minoria e o 
fracasso ou a vivência de insucesso para a maioria. Esse fomento de vivências de 
insucesso ou fracasso, para crianças e jovens em um contexto escolar é, no mínimo, 
uma irresponsabilidade pedagógica por parte de um profissional formado para ser 
professor. O esporte de rendimento segue os princípios básicos da “sobrepujança” 
e das “comparações objetivas”, os quais permanecem inalterados mesmo para os 
esportes praticados na escola onde por falta de condições ideais o rendimento não 
se constitui no objetivo maior da aula. Este é um dos motivos que contribui para que 
 
 
16 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
o ensino dos esportes, também, venha a influenciar as crescentes “perda de 
liberdade” e “perda da sensibilidade” do ser humano, pelo “racionalismo” técnico-
instrumental das sociedades industriais modernas (KUNZ, 2006, p. 125). 
 
 A prática esportiva envolve uma busca orgânica a superação, quem hoje corre 
100 metros em 12 segundos, amanhã irá tentar correr em 11 segundos. O esporte é 
um objeto de estudo da ciência da motricidade humana sob a perspectiva de olhar 
sistêmico. Ao fragmentar os conhecimentos da formação a nível superior corre-se o 
risco de não compreender este fenômeno complexo que é a superação, isto é, os 
ajustes fisiológicos e biomecânicos resultantes do treinamento esportivo, ainda que 
ganhem destaque de forma isolada no achados científicos da ciência do esporte, na 
verdade são ajustes que permitem a busca por uma transcendência, que não está em 
sua essência, na busca pelo aumento do volume máximo de oxigênio ou da densidade 
muscular, mas sim, na busca por um significado de superação. 
 
Figura 1. Diferentes manifestações de torcedores aos refugiados em seu país. 
 
 
 
SERGIO, M. Da Ciência à Transcendência: Epistemologia da Motricidade 
Humana. Universidade Católica, Lisboa, 2019. 
 
NETO, A. F. Motricidade Humana: novos olhares e outras práticas, a luz da 
transdisciplinaridade e das Ciências Emergentes. Appriz, Curitiba, 2018. 
 
MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Lisboa: Instituto Piaget, 
1991. 
 
 
 
17 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
4. MATRIZ PEDAGÓGICA: CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO 
 
Nos últimos 30 anos, o campo da Educação Física brasileira foi “palco” para algumas 
viradas epistemológicas. Uma delas pode ser adjetivadade “culturalista”, tendo como um 
de suas principais consequências uma nova maneira de teorizar o corpo. 
 
Antes de qualquer coisa a Educação Física é Educação. Para Bracht apud Betti 
(2013) a educação física não é uma ciência e sim uma prática de intervenção social 
imediata, que obviamente não pode prescindir do conhecimento científico para efetivar sua 
intervenção, não sendo possível satisfazer critérios epistemológicos que permitam 
identificar uma ciência (seja Educação Física, Motricidade Humana, Movimento Humano). 
 
Desta forma, Valter Bracht reconhece as ciências tradicionais, mas entende que as 
ciências aplicadas são difíceis de serem objeto próprio de uma área de conhecimento. Por 
exemplo a Sociologia da Educação, pode ser sociologia, e ao mesmo tempo ciência da 
educação. Ainda assim, diferente da Medicina, a Educação Física tem ainda que justificar 
sua importância social, podendo ser confundida com o esporte, que é um fenômeno que 
lhe dá prestígio. 
 
O profissional parece buscar essa identificação (com a ciência) em outros ramos do 
saber, pressionado pela insegurança e por um desejo de reconhecimento que, em sua 
opinião, seu campo de formação não oferece e não se sabe, mesmo, se virá a oferecer. 
Assim, surgem muitos especialistas em Fisiologia, Psicologia do Esporte, Sociologia do 
Esporte etc., mas poucos em Educação Física (VARGAS E MOREIRA, 2012) 
 
Betti (1996) diagnosticou a existência, no campo de Educação Física, de uma “matriz 
científica” e de uma “matriz pedagógica”. Bracht (1999) realizou significativo avanço para a 
compreensão das relações entre essas duas concepções, ao perceber a Educação Física 
como campo acadêmico responsável pela teorização da prática pedagógica que se propõe 
a tematizar manifestações da cultura corporal de movimento (BETTI, 2013). 
 
Ao revisar e refletir sobre essas diversas considerações à luz da filosofia da ciência, 
Betti (2005a) concluiu que a Educação Física não é uma disciplina científica, mas sim, 
uma área de conhecimento e intervenção profissional-pedagógica que expressa projetos 
social e historicamente condicionados, os quais, por sua vez, levam à construção dos 
 
 
18 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
objetos da pesquisa científica, ao passo que está se exercita e transforma constantemente 
no seio da comunidade acadêmica. Para o autor, na qualidade de prática pedagógica, o 
projeto da Educação Física é a apropriação crítica da cultura corporal de movimento. 
 
Nos termos do antropólogo Clifford Geertz, a cultura é uma teia de significados tecida 
pelo homem. Essa teia orienta a existência humana. Geertz (1989), define símbolo como 
qualquer ato, objeto, acontecimento ou relação que representa um significado. A introdução 
da cultura no debate da educação física trouxe categorias não somente diferentes, mas 
inovadoras para esse debate, tais como a representação social do corpo, os significados 
presentes nas expressões corporais, os sentidos da prática da educação física, as 
influências da cultura na atuação de professores e alunos, a revisão e ampliação do 
conceito de “técnica” na educação física, a consideração dos conteúdos da educação física 
como construções culturais, além de outros (DAOLIO, 2001). 
 
Já a cultura corporal se refere ao “amplo e riquíssimo campo da cultura que abrange 
a produção de práticas expressivo-comunicativas, essencialmente subjetivas que, como tal, 
externalizam-se pela expressão corporal”. Dessa forma, o conceito de cultura defendido por 
Escobar (1995) implica numa apreensão do “processo de transformação do mundo natural 
a partir dos modos históricos da existência real dos homens nas suas relações na sociedade 
e com a natureza”. 
 
A ideia da cultura corporal na escola foi amplamente estuda por Jocimar Daólio, em 
uma perspectiva antropológica, pelo Coletivo de Autores na perspectiva do materialismo 
histórico-dialético e Mauro Betti na perspectiva fenomenológica e semiótica. De uma forma 
geral a cultura pode ser compreendida como um conjunto de significados que podem ser 
expressas por meio da linguagem corporal na dança, no esporte, entre outras atividades 
culturais. A cultura corporal emerge em meio as críticas ao modelo de esportivização da 
Educação Física, como uma proposta mais crítica das práticas pedagógicas. 
4.1. Pedagogia crítica e educação física 
 Para Mclaren a pedagogia crítica é uma forma de pensar, negociar e transformar as 
relações de ensino-aprendizagem, a produção do conhecimento, as estruturas 
institucionais da escola, as relações sociais e materiais mais amplas das comunidades, 
sociedades e nações. Tais mudanças são realizadas com o intuito de eliminar bases 
 
 
19 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
injustas que criam currículos com características sexistas, racistas, homofóbicas, 
classistas, características que são agravadas na sociedade capitalista. 
 
O rompimento com uma posição de neutralidade política da prática pedagógica da 
Educação Física só foi possível graças a uma geração de educadores/as engajados/as em 
entender a Educação Física como “Educação” e não como mera atividade. Constituiu-se, 
com base nisto, uma tendência denominada de pedagogia do conflito, concretizada por 
projetos político-pedagógicos objetivando transformar a ordem vigente em contraposição à 
pedagogia do consenso, que atua em função da manutenção do status quo (NOGUEIRA, 
2003). 
 
A proposta contra hegemônica que emerge no Brasil é a concepção pedagógica 
libertadora, formulada por Paulo Freire. Essa proposta suscita um método pedagógico que 
tem como ponto de partida a vivência da situação popular (1◦passo), de modo a identificar 
seus principais problemas e operar a escolha dos “temas geradores” (2◦ passo), cuja 
problematização (3◦ passo) levaria à conscientização (4◦ passo) que, por sua vez, 
redundaria na ação social e política (livro amostra critica acadêmico). Também 
influenciados por tendências marxistas a pedagogia crítica se colocou a confrontar os 
efeitos da ascensão capitalista na educação, bem como a luta de classes coais mais 
vulneráveis. Essas ideias foram defendidas na educação física pela abordagem crítico-
superadora de Valter Bracht, cujos objetivos caminham para a formação do indivíduo crítico 
e engajado na superação de desigualdades e injustiças sociais. 
 
Desta forma podemos observar que o movimento “culturalista” se contrapôs a 
concepção da cultura corporal mais contemporânea, especificamente a ideia do culto ao 
corpo como forma de consumo e no discurso ideológico e político. Entendendo que algumas 
destas práticas corporais, se adaptaram ao capitalismo, as propostas que envolvem a 
cultura corporal de movimento, busca comtemplar os valores históricos das expressões 
corporais, e de forma crítica discutir tais práticas na escola. 
 
Já no que se refere a produção acadêmica as mudanças resultantes de questões 
ideológicas e políticas levaram ao problema da quantidade e qualidade das produções 
científicas, que passa a ser desde então questionado por pensadores críticos da cultura 
corporal de movimento. 
 
 
 
20 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
O crescimento dos cursos de pós graduação no país resultou no aumento das 
agências de fomento a pesquisa, consequentemente ao aumento no número de 
publicações e periódicos da área. Seguinte uma lógica capitalista de produção, o 
crescimento do número de trabalhos produzidos não foi acompanhado pelo aumento das 
qualidades destes trabalhos na visão da pedagogia crítica. As ciências sob uma perspectiva 
analítica e objetiva do conhecimento dominaram de forma hegemônica o campo da 
publicação científica, sendo reconhecido como produtivíssimo. 
 
O distanciamento das produções em razãode uma perspectiva neoliberal da ciência 
é citado como um fator determinante para o isolamento dos achados científicos apenas 
para uma comunidade cientifica retroalimentada pelas suas próprias produções. A 
fragmentação do conhecimento, bem como a utilização de metodologias com reduzidos 
valores ecológicos, fez emergir uma crise entre a formação cientificamente orientada e a 
prática profissional. 
 
 
 
BETTI, M. Educação Física Escolar: Ensino e Pesquisa-ação. Unijuí, 2013. 
 
DAOLIO, J. A antropologia social e a educação física: possibilidade de encontro. 
In: CARVALHO, Y.M.; RUBIO, K. (Org.). Educação física e ciências humanas. São 
Paulo: Hucitec, 2001. p. 27-38. 
 
GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro, LTC, 1989. 
 
NOGUEIRA, Q. W. C., Educação Física e Pedagogia Crítica: praticar o discurso? 
Perspectiva. v.21, n.01, p. 179-197, 2003. 
 
VARGAS, C. P., MOREIRA, A. F. a crise epistemológica na educação física: 
implicações no trabalho docente. Cadernos de Pesquisa, v.42, n.146, p.408-
427, 2012. 
 
 
 
21 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
5. EDUCAÇÃO FÍSICA, APTIDÃO FÍSICA E SAÚDE 
 
Desde a introdução da Ginástica (nome dado a atual Educação Física nas escolas) 
a saúde é um tema de destaque que reveste as práticas pedagógicas. Não diferente o 
rendimento esportivo, o treinamento físico e as atividades habituais da vida diária envolvem 
um estado de aptidão física. Ainda que esta afirmativa seja de conhecimento popular, ainda 
se faz muita confusão na definição de alguns termos relacionados a aptidão física e saúde. 
Desta forma, antes de discutir estes conceitos na aplicação das práticas pedagógicas se 
faz necessário uma classificação destes conceitos. 
 
Para tal compreensão, devemos considerar o primeiro conceito que se refere a 
atividade física, uma vez que é a partir dela que entenderemos os demais conceitos. Para 
Caspersen (1985) atividade física é definida como toda e qualquer atividade realizada pela 
contração dos músculos esqueléticos que promova um gasto energético acima dos níveis 
de repouso, considerando atividades de lazer, meios de transporte ativo, práticas 
esportivas, exercício físico etc. 
 
A soma do tempo destinado a estas atividades ao longo de um dia resulta no nível 
de atividade física diário, logo, a soma destinada ao período de uma semana indica o nível 
de atividade física semanal e por aí em diante. Níveis reduzidos de atividade física estão 
relacionados com inúmeras implicações para a saúde, desde o aumento do peso corporal 
ao desencadeamento de doenças crônicas e degenerativas como a hipertensão, a 
diabetes, o acidente vascular cerebral, entre outras. 
 
Portanto, níveis mais elevados de atividade física, em especial aquelas que 
apresentam algum planejamento e controle (exercício físico e treinamento físico) de uma 
determinada frequência (quantos dias por semana), duração (quanto tempo por sessão) e 
intensidade (leve, moderada ou intensa) de forma regular, muitas vezes estão relacionadas 
com a melhora do bem estar físico, mental e social, ou seja, com a saúde 
https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/physical-activity. 
 
Já a aptidão não é uma forma de realizar atividade física, mas pode ser considerada 
uma condição e uma reposta a atividade física, sendo esta resposta, relacionada com o tipo 
de atividade física praticada. Este conjunto de atributos ou características que as pessoas 
possuem (genética) e adquirem através da atividade física pode ser temporário, isto é, estar 
https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/physical-activity
 
 
22 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
apto para alguma atividade pode ser uma condição de estado temporal que é diminuído à 
medida que o meu nível de atividade física é reduzido. Portanto, aptidão física é um conceito 
abstrato sendo mensurável pelo desempenho físico e motor, e genérico uma vez que 
engloba inúmeras variáveis voltadas a saúde e à performance. As variáveis da aptidão que 
mais se relacionam com as capacidades orgânicas e funcionais estão diretamente 
relacionadas com a saúde. 
 
Uma criança pode apresentar níveis desejáveis para sua aptidão cardiorrespiratória, 
entretanto, um baixo desempenho da flexibilidade. Assim como, é possível identificar 
pessoas com uma composição corporal saudável, mas com desempenho abaixo do normal 
para os demais componentes da aptidão física relacionada a saúde. E por isso, a forma de 
desenvolver tais capacidades segue um princípio de especificidade, isto é, a melhora da 
aptidão cardiorrespiratória se faz de forma mais eficaz por exercícios predominantemente 
aeróbio. Diante dessa especificidade é possível compreender que o treinamento da 
condição da força muscular não desenvolve a flexibilidade, que por sua vez, quando 
treinada a flexibilidade não irá contribuir para a melhora da aptidão cardiorrespiratória. 
 
Ainda que definidos de forma analítica, sabe-se que o corpo humano funciona de 
forma sistêmica, e por isso, estas diferentes variáveis se relacionam. Como exemplos 
destas relações a agilidade e a velocidade podem ser prejudicadas ou favorecidas de 
acordo com a composição corporal. Abaixo segue uma estrutura para melhor compreender 
tais conceitos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Saúde 
Jogos e 
Brincadeira
s 
Esporte 
Exercício 
Físico 
Atividades 
habituais 
Educação 
Física 
Escolar 
Atividade 
Física 
Aptidão Física relacionada a Saúde 
Aptidão cardiorrespiratória 
Composição Corporal 
Força Muscular 
Flexibilidade 
Aptidão Física relacionada a Performance 
Agilidade 
Tempo de Reação 
Velocidade 
Coordenação 
 
 
 
23 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Figura 1. Relação entre os conceitos de atividade física, aptidão física e saúde no 
contexto escolar. 
 
Após estas definições voltamos o olhar para o contexto escolar. A aptidão física e 
saúde como intervenção profissional nas aulas de educação física podem ser discutidas 
pelas primeiras concepções higienistas e militaristas. Estas concepções tinham como 
objetivo desenvolver o corpo físico e a moral dos alunos por meio de exercícios físicos e o 
reconhecimento de hábitos saudáveis de higiene. Deve-se ressaltar que a preocupação 
com a higiene se dava pelo número de doenças infecciosas e transmissíveis, número este, 
que foi sendo reduzido concomitantemente ao desenvolvimento científico e tecnológico da 
Medicina no Brasil. Já a visão Militarista além de reforçar o conceito de ordem e disciplina 
com um modelo hierárquico fortemente centrado na posição do professor, objetivava 
desenvolver um físico capaz de suportar e atuar na guerra, e assim, selecionar indivíduos 
mais aptos ou “perfeitos” (DARIDO, 2001). 
 
Mais adiante houve a implementação dos métodos ginásticos europeus, que 
visavam desenvolver o físico para a saúde, mas também como preparação laboral, dada a 
revolução industrial e o crescimento do número de indústrias e consequentemente o 
número de operários. Destaca-se aqui uma primeira ruptura epistemológica da educação 
física que se dá pela mudança do nome Ginástica para Educação Física. 
 
A aptidão física se manteve ainda muito presente no período de esportivização da 
educação física, já que o treinamento para o rendimento esportivo visava um projeto de 
desenvolvimento da nação por meio do esporte. Esta concepção da Educação como meio 
de desenvolvimento de um corpo físico foi fortemente criticada como uma visão reducionista 
do ser humano no momento em que um paradigma sistêmico ganhava mais notoriedade 
no campo científico, e deixou de ser foco dos pensadores da área por alguns anos, sendo 
retomada mais fortemente com a abordagem da saúde renovada da educação física. 
 
Especialmente liderado porGuedes (1996) e Nahas (1997) iniciou-se um movimento 
a favor da matriz biológica na educação física, tendo como objetivo desenvolver hábitos 
saudáveis para uma melhor qualidade de vida e saúde. Inspirados em estudos americanos 
os autores defendiam a ideia de que as primeiras atividades físicas vivenciadas na infância 
e adolescência se caracterizam como importantes atributos para o desenvolvimento de 
atitudes positivas na promoção de saúde quando adultos (DARIDO, 2001). 
 
 
24 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Diante desta perspectiva o desenvolvimentos da aptidão física nas crianças seria 
alcançado por um conjuntos de atividades ofertadas na escola que permitissem aos alunos 
desenvolver algum interesse em continuar praticando fora da escola, e ainda, que no ensino 
médio seria possível ensinar as relações entre atividade física, aptidão física e saúde a fim 
de conscientizar a importância da atividade física. Neste sentido, ainda que apresente um 
olhar predominantemente biológico a abordagem da saúde renovada supera o dualismo 
entre corpo e consciência das concepções militarista e higienistas a alcançando alguns 
interesses sociais. 
 
Guedes e Guedes (1997) realizaram um estudo observando 144 aulas de educação 
física do ensino fundamental e médio em diferentes escolas da rede Municipal de Londrina, 
Paraná. Como instrumento de pesquisa foram utilizados monitores cardíacos para medir a 
intensidade das aulas e uma observação direta das aulas para registros das características 
das aulas. Os resultados encontrados indicaram que os escolares se ocuparam por um 
tempo excessivamente longo com tarefas de organização e transição das atividades 
ministradas. Foram oferecidas aos escolares poucas oportunidades de participar em 
atividades voltadas ao desenvolvimento e ao aprimoramento da aptidão física. Os 
professores responsáveis pelas aulas em nenhum momento recorreram a exposição de 
conceitos teóricos associados à prática da atividade física relacionada à saúde. O nível de 
intensidade dos esforços físicos administrados aos escolares foi menor que o limite mínimo 
necessário para que possa ocorrer adaptações funcionais voltadas a um melhor 
funcionamento orgânico. 
 
Esses achados sugerem uma prática descontextualizada do conceito de saúde, e 
ineficaz para o desenvolvimento da aptidão física. Deve-se ressaltar que por mais que 
fossem a intensidade das aulas, elas seriam apenas um contributo para o nível de atividade 
física semanal dos alunos, uma vez que as aulas de educação física acontecem em uma 
carga horária mínima exigida, muito abaixo dos valores recomendados pelas principais 
diretrizes internacionais de atividade física. 
 
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, para crianças e jovens (5-18 
anos), a atividade física inclui brincadeiras, jogos, esportes, transporte, recreação, 
educação física ou exercício planejado, no contexto de atividades familiares, escolares e 
comunitárias. A fim de melhorar a aptidão cardiorrespiratória e muscular, a saúde óssea, 
 
 
25 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
os biomarcadores de saúde cardiovascular e metabólica e reduzir os sintomas de 
ansiedade e depressão, recomenda-se: 
1. Crianças e jovens de 5 a 17 anos devem acumular diariamente pelo menos 60 
minutos de atividade física de intensidade moderada a vigorosa. 
2. Quantidades de atividade física maiores que 60 minutos oferecem benefícios 
adicionais à saúde. 
3. A maior parte da atividade física diária deve ser aeróbica. Atividades de 
intensidade vigorosa devem ser incorporadas, incluindo aquelas que fortalecem 
músculos e ossos, pelo menos 3 vezes por semana. 
 
Entender a educação física como uma forma de desenvolver todas as variáveis da 
aptidão física relacionada a saúde (força, aptidão cardiorrespiratória, composição corporal 
e flexibilidade) em suas práticas pedagógicas se faz uma estratégia ineficaz e inadequada, 
entretanto, é possível esperar que as aulas de educação física somadas as demais práticas 
diárias e a redução dos hábitos sedentários possibilitem uma intervenção no 
desenvolvimento de um comportamento de risco para a saúde física e mental. A 
conscientização da importância da atividade física (dimensão conceitual de aprendizagem), 
a realização das diferentes formas de atividade física (dimensão procedimental de 
aprendizagem) e por fim, a mudança nos hábitos saudáveis das crianças e adolescente no 
tempo dentro e fora da escola (dimensão atitudinal de aprendizagem) se faz coerente 
principalmente se considerámos que a inatividade física se faz hoje um problema de saúde 
pública. 
 
 
CASPERSEN, C. J, POWELL, K. F, CHRISTENSON, G.M. Physical activity, exercise 
and physical fitness: definitions and distinctions for health-related research. 
Public Health Rep. v.100, p. 126-31, 1985. 
DARIDO, S. Educação Física na Escola: questões e reflexões. Guanabara 
Koogan. Rio de Janeiro, 2003. 
GUEDES, J. E. R. P., GUEDES, D. P. Características dos programas de educação 
física escolar. Revista Paulista de Educação Física.v.11, n.1, p.49-62, 1997 
World Health Organization (WHO). Physical Activity. Acessado em 
https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/physical-activity, 
acessado em junho de 2020. 
 
https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/physical-activity
 
 
26 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
6. EDUCAÇÃO FÍSICA E PSICOMOTRICIDADE 
 
A psicomotricidade é uma ciência indicada para a Educação Física, Psicologia, 
Neurologistas, entre outros, tendo seu início voltado ao atraso no desenvolvimento motor e 
intelectual da criança. Atualmente a psicomotricidade se posiciona no contexto escolar 
como uma preposição de um modelo pedagógico na interdependência do desenvolvimento 
motor, cognitivo e afetivo. 
 
O maior influenciador deste pensamento no Brasil foi o francês Le Bouch através da 
publicação de seu livro Educação pelo movimento. Le Bouch apresentou críticas a uma 
Educação Física que não corresponde a uma educação real do corpo, dando ênfase ao 
rendimento mecânico do movimento. Assim, a psicomotricidade advoga por uma ação 
educativa que deve ocorrer a partir dos movimentos espontâneos e das atividades 
corporais, favorecendo a gênese da imagem corporal, núcleo centra da personalidade 
(DARIDO, 2001). 
 
A educação psicomotora deve ser considerada como educação da base na escola 
primária. Ela leva a criança a consciência dos seu corpo, lateralidade, esquema 
corporal e adquirir habilmente a coordenação dos seus gestos e movimentos. A 
educação psicomotora permite prevenir inadaptações, difíceis de corrigir quando já 
estruturadas (Le Bouch, 1968). 
 
Nesse ambiente educativo, o professor deve organizar as atividades, a partir das 
produções das crianças, de seus interesses, das atividades e jogos pelos quais 
demonstram interesse e curiosidade, considerando sempre seu nível de maturidade afetiva 
e cognitiva, e seus limites. O educador será o mediador, o acompanhante que ajudará a 
criança, na evolução e desenvolvimento de suas necessidades individuais. 
 
O pensamento psicomotricista foi o primeiro movimento articulado na década de 70 
a se contrapor aos modelos anteriores, entretanto, atualmente é mais observada sua 
atuação na educação infantil, uma vez que mesmo frente as críticas colocadas a educação 
Física, ela ainda se mantém na escola como disciplina obrigatória no Ensino Básico e 
garantida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB. Uma outra concepção da 
psicologia na pedagogia foi a psicologia do desenvolvimento, mais especificamente o 
pensamento construtivista. 
 
 
 
27 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
6.1. Psicologia do desenvolvimento: construtivismoO corpo e o comportamento são descritos em inúmeras propostas na Educação 
Física Escolar, entretanto, existem diferenças conceituais do termo corpo em duas 
principais visões. Na primeira o corpo é objeto de estudo direto, sendo considerado apenas 
os comportamentos observáveis, investigados por pesquisas quantitativas através de 
métodos empíricos (positivista), já uma segunda perspectiva se contrapõe a ideia da 
dissociação do corpo e consciência, considerando aspectos mais subjetivos, através de 
pesquisas qualitativas e método interpretativo. Logo, pode-se perceber que as duas visões 
apresentam fundamentos teóricos também distintos. 
 
O estudo do comportamento teve grande impulso em pesquisas da psicologia. Os 
psicólogos direcionavam grande parte dos seus esforços à compressão de processos 
mentais, como o raciocínio, a imaginação e o sentimento que define a consciência (mente). 
Estes estudos foram divididos em duas concepções: estruturalismo e funcionalismo. 
 
O estruturalismo direcionou esforços à divisão dos processos mentais. O objetivo do 
estruturalismo era compreender os elementos, isto é, a estrutura da consciência. Já o 
funcionalismo em grande parte, uma reação ao estruturalismo foi influenciada pelo trabalho 
de Charles Darwin, buscou entender os processos mentais observando os motivos que 
impulsionavam o comportamento, isto é, a função do comportamento (LEFRANÇOIS, 
2016). 
 
Após a consolidação dos estudos da mente e do comportamento humano como 
ciência denominada de psicologia, os temas mais subjetivos como mente e pensamento 
foram rejeitados dada a sua limitação empírica, dando origem ao estudo do comportamento 
(behaviorismo), que por sua vez deu origem as teorias da aprendizagem. O behaviorismo 
ofereceu aos estudos do desenvolvimento e da aprendizagem conceitos como o 
condicionamento clássico de Pavlov, o condicionamento operante (Skinner) também 
conhecido como behaviorismo radical. 
 
O condicionamento clássico foi limitado aos comportamentos reflexos (estímulo-
resposta), já o condicionamento operante considerou as consequências das respostas 
como reforçamento positivo e negativo do comportamento. O reforçamento pode ser 
definido como um evento que segue a uma resposta e altera a probabilidade de que uma 
determinada resposta ocorra novamente, ou seja, consequências positivas do movimento 
 
 
28 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
realizado aumentariam a probabilidade de repetição, em contrapartida, consequências 
negativas diminuiriam a probabilidade de ocorrência do mesmo comportamento, podendo 
até mesmo este movimento ser extinto após muitas tentativas frustradas ou após punição 
em consequência a resposta realizada. 
 
O behaviorismo foi criticado por considerar a influência do ambiente e desconsiderar 
o indivíduo e ações cognitivas, como percepção e tomada de decisão. As teorias cognitivas 
surgem como alternativa para essas críticas denominadas de cognitivismo, que por sua vez 
influenciou o nascimento de um conceito muito influente na educação, o construtivismo. 
 
Dentre os pensadores construtivistas Jean Piaget foi sem dúvida o maior destaque, 
seus estudos fundamentados na epistemologia genética buscou explicar como ocorre a 
mudança de um pensamento mais simples para um conhecimento mais complexo 
(esquemas mentais), por meio das interações do indivíduo com o meio em um processo de 
equilíbrio entre as fases de assimilação e acomodação do conhecimento, que por 
adaptação levaria a um estado mais complexo. 
 
De acordo com Piaget se faz importante que o aprendiz participe ativamente do 
processo de aprendizagem, e que os programas de ensino considerem o conhecimento 
prévio do aluno. O jogo como estratégia de ensino foi amplamente difundido, uma vez que, 
por meio do jogo o aprendiz tem a possibilidade de testar possibilidades, isto é, tomar 
decisões. 
 
Outro importante pensador do construtivismo foi Vygotsky, assim como Piaget 
entendia que ao aprendizado ocorre frente as interações do aprendiz. Numa perspectiva 
construtivista-interacionista Vygotsky propôs o conceito de Zona próxima do 
desenvolvimento, que se refere ao momento de suporte ao aprendizado. 
 
A zona proximal de desenvolvimento define a distância entre o nível de 
desenvolvimento real, determinado pela capacidade de resolver um problema sem ajuda e 
o nível de desenvolvimento potencial determinado através de resolução de um problema 
sob a orientação de um adulto ou em colaboração com outro companheiro (uma criança 
mais velha). Para a intervenção pedagógica identificar a zona proximal se faz importante 
para o suporte na aprendizagem. 
 
 
 
29 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Vygotsky, e especialmente Piaget influenciaram muito a Pedagogia como suas 
propostas para uma psicologia do desenvolvimento. No Brasil, o professor João Batista 
Freire apresenta uma proposta para educação física intitulada de Educação para o corpo 
inteiro: Teoria e Prática da Educação. 
 
Influenciado pela psicologia do desenvolvimento de Jean Piaget e do pensamento 
psicomotor de Le Boulch (1982), Freire (1989) defende que na escola deva predominar o 
jogo educativo, adotado como recurso pedagógico para o desenvolvimento de 
comportamentos padronizados: habilidades motoras e cognitivas, noções de tempo e 
espaço, manipulação fina de objetos e o desenvolvimento de lógicas de seriação, 
conservação, classificação, cooperação e respeito às regras (BONETTO et al., 2017). O 
jogo como na ideia de Piaget fortalece a noção de tomada de decisão. Freire defende a 
ideia do resgate dos jogos populares, dada a sua importância cultural em oposição as 
propostas desenvolvimentistas, no qual os movimentos seriam realizados de forma 
descontextualizada de significados, além disso, assim como proposto por Piaget também 
considera o conhecimento já adquirido que cada criança traz para as aulas. 
 
As diferenças [grifo nosso] entre crianças de um grupo aparentemente homogêneo 
são muito grandes. Enquanto a classificação dos objetos em pequenos e médios 
não é problema para algumas, outras só conseguem resolver o problema em 
relação aos muito grandes ou aos muito pequenos (FREIRE, 1989, p. 73). 
 
A educação Física de Corpo inteiro proposta por Freire (1989) foi denominada como 
uma abordagem construtivista-interacionista oriundas dos pensamentos de Piaget, mas ao 
mesmo tempo traz em seu nome (corpo inteiro) uma crítica a visão do corpo e mente de 
forma separada, o que nos faz concluir uma influência de concepções originadas do 
estruturalismo, e mais especificamente da motricidade humana. 
 
 
 
30 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
BONETTO, P. X. R., NEVES, M. R., QUARESMO, F. N., NEIRA, M. G. Diferença 
no currículo psicomotor: uma análise da obra “educação de corpo inteiro. 
CONBRACE, Goiânia, 2017. 
 
FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. 
São Paulo: Scipione, 1989. 
 
LE BOULCH, J. O desenvolvimento psicomotor do nascimento até os 6 anos. 
Porto Alegre: Artes Médicas, 1982. 
 
LEFRANÇOIS, G. Teorias da aprendizagem. São Paulo, Cengage Learning, 
2016. 
 
 
 
 
31 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
7. EDUCAÇÃO FÍSICA E COMPORTAMENTO MOTOR 
 
Após apresentar uma perspectiva da educação física centrada na aptidão física, esta 
aula irá se discutir o movimento de crianças e adolescentes como conteúdo pedagógico da 
educação física escolar. Assim como na aula anterior faremos mais uma revisão de 
conceitos bases, neste caso, do movimento humano. 
 
Os movimentos são realmente um aspecto crítico do desenvolvimento evolucionário, 
pois é mediante a eles que a criança interage com o meio, intercambiandoenergia e 
informação. O movimento nas crianças torna-se aparente durante o início do período fetal, 
resultante de dinâmicas espontâneas, denominadas de reflexos e estereótipos rítmicos. 
Duas funções essenciais dos reflexos primitivos de sobrevivência são buscar nutrição e 
proteção, mais adiante reflexos posturais começam a emergir como precursores de 
movimentos voluntários. Tais movimentos fornecem indícios de que o desenvolvimento 
motor humano é um sistema auto organizado, empenhado em aumentar o controle motor 
(GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; TANI, 2011). 
 
A partir dos três anos de idade observa-se uma predominância em atividades de 
corrida de perseguição (pega-pega) e simulação de lutas no brincar das crianças 
(PELLEGRINE, 1988). Esses comportamentos têm sido amplamente investigados e são 
denominados de “rough and tumble play” ou brincadeiras turbulentas (ELLIOT; 
CONNOLLY, 1974). Nelas as crianças simulam duelos experimentando ou vivenciando 
situações de conflito, dominação e cooperação. A brincadeira turbulenta é um fenômeno 
generalizado nas crianças e sua dinâmica pode fornecer novos mecanismos pelos quais 
sistemas mais complexos de comunicação podem evoluir. 
 
À medida que os jogos e brincadeiras vão se tornando mais complexos, um conjunto 
de regras é postulado para fins de organização. Uma vez que o jogo apresente regras 
institucionalizadas, que se desenvolve com base lúdica, em forma de competições entre 
duas ou mais partes oponentes ou contra a natureza, cujo o objetivo busca através da 
comparação de desempenhos, designar o vencedor exigindo esforço máximo de seus 
participantes, ele se torna um esporte (BETTI, 1999). Isto posto, observa-se que os 
movimentos estão presente desde a evolução de atividades livres às práticas mais 
organizadas, transmutando diversidade e variabilidade de movimentos para seleção e 
especialização, envolvendo ainda, uma rede complexa de aspectos não essencialmente 
 
 
32 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
físicos. Em suma, a experiência motora corresponde ao momento em que diferentes níveis 
de organização (molecular, celular, orgânico, comportamental e social) são vinculados para 
gerar comportamentos (PERROTTI; MANOEL, 2001; MALINA; BOUCHARD, BAR-OR, 
2009). 
 
Movimentar-se na infância além de trazer inúmeros benefícios a saúde, promovem 
também todas as condições necessárias para que as crianças estabeleçam um diálogo 
profícuo com o mundo, com o outro e consigo mesmas, de modo a crescer e realizar 
experiências significativas, isto é, onde existe vida o movimento está presente e onde 
existem crianças o movimento é incessante e vital (MATURANA; GARCÍA, 1998; 
WICKSTROM(1977). 
 
Para Newell (1985) o movimento refere-se ao deslocamento do corpo e/ou membros 
produzidos como uma consequência do padrão espacial e temporal da contração muscular. 
Entretanto, quando falamos dos movimentos intencionais nos referimos de forma mais 
adequada ao termo habilidades motoras. A habilidade motora consiste na capacidade de 
realizar uma ação motora com o máximo de certeza e o mínimo de esforço ou tempo. Já 
as mudanças observáveis nas habilidades ao longo do desenvolvimento infantil é objeto de 
estudo do comportamento motor. 
 
O comportamento motor como visto na aula 2, se caracteriza como uma grande 
subárea de conhecimento da cinesiologia (estudo do movimento ou atividade física). Dentro 
desta subárea, novas três divisões do comportamento motor são destacadas, sendo elas: 
controle motor, aprendizagem motora e o desenvolvimento motor. 
 
O controle motor resulta da integração dos sistemas nervoso, sensorial e músculo 
esquelético na execução de ações motoras. Já o desenvolvimento motor por sua vez pode 
ser definido como um conjunto de mudanças que ocorrem no repertório de movimentos 
resultante da maturação e das experiências ao longo de meses, anos e décadas, isto é, ao 
longo da vida. Por fim, a aprendizagem motora configura-se como um fenômeno oculto, 
inferida por mudanças qualitativas no comportamento motor, relativamente permanente, 
resultante da repetição e feedback, inferida pelo desempenho. Embora seja inadequada a 
separação destes conceitos na prática, farei uma breve fragmentação para melhor 
compreensão no contexto teórico. 
 
 
 
33 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Em primeiro lugar, os conceitos de aprendizagem motora e desenvolvimento motor 
são referentes as mudanças no desempenho motor observável, já que se trata de 
fenômenos ocultos (processos internos) e são influenciadas por processos de maturação, 
prontidão para aprendizagem. O que diferencia estes dois conceitos de forma mais objetiva 
é o aspecto temporal das mudanças, ou seja, a aprendizagem se refere as mudanças 
observadas em um período mais curto e resultante de prática sistemática. Já o 
desenvolvimento motor refere-se as mudanças observáveis espontâneas em um período 
mais longo de tempo, caracterizada por marcos motores, e progressão de fases e estágios 
durante o ciclo de vida. Portanto, nas intervenções pedagógicas nas escolas, o que se 
pretende é contribuir para a aquisição de um repertório habilidades motoras (aprendizagem 
motora), objetivando que este conjunto de aprendizados (experiências) contribuam com o 
desenvolvimento motor das crianças ao longo da vida. 
 
Tani e Manoel (1988) apud Darido (2003) propuseram a abordagem 
desenvolvimentista para a Educação Física escolar com ênfase nos anos iniciais do ensino 
fundamental. Entendeu-se que deveria ser elaborado um currículo de roteiro completo para 
a disciplina, isto é, uma proposta com objetivos, conteúdos e métodos devidamente 
delineados por faixa de escolarização. A abordagem desenvolvimentista parte do 
pressuposto que dentro do ciclo de vida do ser humano é possível identificar uma sequência 
normal nos processos de crescimento, desenvolvimento e aprendizagem, e assim, as 
crianças precisam ser orientadas para atingir estas expectativas e necessidades. Na 
abordagem desenvolvimentista a aprendizagem é vista como um processo de soluções de 
problemas, isso implica em um esforço consciente de elaboração, execução e avaliação 
das ações realizadas. 
 
A abordagem apresenta 
uma preocupação com a 
ausência de um conteúdo 
estruturado de forma progressiva 
nos anos de ensino, e diante 
disso, entendem que o aumento 
da diversificação e complexidade 
dos movimentos ao longo dos 
anos escolares se faz necessária 
para o currículo. 
 
 
34 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Os conteúdos foram fundamentados no modelo de taxionomia proposta por Gallahue 
(1982) e adaptada por Manoel (1994). Tais conteúdos devem ser desenvolvidos segundo 
uma ordem de habilidades, desde os mais simples aos mais complexos (básico-específico). 
As habilidades básicas podem ser divididas em estabilização (equilíbrio estático, giros e 
rotações pelo próprio eixo...) manipulativas (rolar, arremessar, rebater...) e locomotora 
(correr, saltar, esquivar...). Já as habilidades específicas seriam culturalmente 
determinadas a partir da dança, dos esportes, das lutas... 
 
Esta proposta teve grande impacto na Educação Física Escolar no Brasil nas 
décadas de 80/90, e fez oposição a abordagens ou pensamentos sem uma fundamentação 
teórica. A abordagem desenvolvimentista emergiu com o retorno de professores dos cursos 
de pós graduação no exterior e foi marcada por caracterizar-se como uma abordagem 
cientificamente estruturada, tendo como foco o movimento humano. Ainda que os autores 
descrevam que o movimento não pode ser visto de forma dissociada do desenvolvimento 
global da criança, esta proposta seria a frente criticada pelo surgimento de abordagens 
culturalistas que surgem com a pedagogia crítica. 
 
A aquisiçãode habilidade motoras foi descrito pelos seus críticos como uma prática 
descontextualizada dos aspectos sociais, e mera reprodução de movimento sem 
significados. Em contrapartida, os autores rebatem estas críticas, reforçando que esta é 
apenas uma proposta, e que um conjunto de propostas distintas poderiam contribuir para o 
amadurecimento da área. 
 
Fazendo uma reflexão inversa as propostas culturalistas, os defensores da 
abordagem desenvolvimentista devolvem a mesma questão. Qual seria a contribuição 
destas propostas no que se refere ao aprendizado de movimentos? O reducionismo 
biológico estaria sendo substituído por um reducionismo sociocultural? Isto é, ao destacar 
elementos culturais do movimento, estaria os mecanismos de controle e aprendizado dos 
movimentos deixados de lado? 
 
 
 
35 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
BETTI, I. C. R. Esporte na escola: mas é só isso professor? Motriz. v.1, n.1, p.25-
31, Rio Claro, 1999. 
 
ELLIOTT, J. M.; CONNOLY, K. J. Hierarchical structure in skill development. In 
CONNOLLY, K.; (Ed). The growth of competence. London, 1974. 
 
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C.; GOODWAY, J. D. Compreendendo o 
desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescente e adultos. 7 ed, São 
Paulo, Artmed, 2013. 
 
NEWELL KM. Coordination, control, and skill. In: Goodman D, Wilberg RB, 
Franks. In (eds): Differing Perspectives in Motor Learning, Memory, and 
Control. Amsterdam: North-Holland, 1985, p. 299-317. 
 
PELLEGRINI, A. D. Elementary-school children's rough-and-tumble play and 
social competence. Developmental Psychology, v.24, n.6, p.802-806, 1988. 
 
PERROTTI, A. C.; MANOEL, E. J. Uma visão epigenética do desenvolvimento 
motor. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. v.9, n.4, p.77-82, Brasília-
DF, 2001). 
 
WICKSTROM, R. L. Fundamental Motor Patners. 2 ed. Philadelphia, Lea & 
Febiger, 1977. 
 
 
 
36 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
8. EDUCAÇÃO FÍSICA E JOGO 
 
O jogo é considerado um fenômeno sociocultural, pois diz respeito ao conjunto de 
atividades e ambições humanas, apresentando quantidade e variedade infinitas. A 
diversidade de fenômenos considerados como jogo mostra a complexidade em defini-lo, 
não diferente, existem inúmeras maneiras de abordar seu estudo, da pedagogia à 
matemática, passando por Huizinga, Piaget, Vygotssky, Neuman, Nash (Caillois, 2017). Em 
geral, são características eminentes do jogo, uma ação livre, dentro de um contexto social 
e de um conjunto de regras, predominando o simbolismo da realidade e que promove 
diversão e prazer em realizá-la (Huizinga 2003, Kishimoto 1998). 
 
O jogo é temporal e espacialmente limitado, pode ser mais ou menos estruturado e 
capaz de promover a socialização (Huizinga, 2003; Kishimoto, 1998). No jogo, encontramos 
diferentes níveis de organização (molecular, celular, orgânica, comportamental e social) 
que estão ligados para gerar comportamentos, que assumem fortes significados sociais e 
culturais (Gallahue et al., 2013). 
 
Nos últimos anos tem se observado uma diminuição do tempo destinados aos jogos 
e brincadeiras na infância. Esta redução envolve inúmeros fatores, isto é, trata-se um 
problema multidimensional. Entretanto, o processo de urbanização é um fator que 
potencialmente desencadeou diversas condições restritivas ao jogo na infância, dentre 
elas: 
• O aumento populacional das cidades mais desenvolvidas, resultante da busca 
por melhores condições de trabalho fez das cidades urbanas um espaço 
projetado para o automóvel, consequentemente o aumento no fluxo de carros, 
somada ao aumento da violência urbana retirou das crianças o espaço da rua 
como espaço lúdico. 
• A diminuição do tempo livre dos pais em razão do aumento da jornada de 
trabalho, fez com que as crianças passassem mais tempo nas instituições 
educacionais, que por sua vez, também apresentam uma redução do tempo do 
jogo e uma supervalorização do tempo em atividades dirigidas, influenciados por 
uma preocupação evidente com o desempenho escolar das crianças e a 
preparação para um futuro mercado de trabalho. 
 
 
 
37 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Diante disso, observa-se por exemplo, que crianças de 3 a 11 anos perderam 12 
horas por semana de tempo livre, diminuindo o tempo de brincadeira das crianças em 25% 
no período de 1981 a 1997 (Hofferth, 2011). 
 
O jogo se faz essencial para a aquisição de habilidades motoras, melhoria da aptidão 
física e desenvolvimento perceptivo-motor e para o aprendizado não formal e informal. 
 
Para o desenvolvimento dos jogos e brincadeiras o espaço se faz um elemento 
fundamental, sendo o espaço na escola uma alternativa de compensar os espaços 
urbanizados dos bairros na cidade. O uso dos espaços escolares pode estimular o 
desenvolvimento de inúmeras habilidades, como: cooperação, compartilhamento, 
comunicação, resolução de conflitos, autodisciplina, características empreendedoras, 
respeito às regras e respeito à diversidade cultural (National Association of Early Childhood 
Specialists [NAEC ], 2002), no entanto, é necessário criar as condições para que a criança 
possa explorar, imaginar, desfrutar de diferentes ambientes e materiais. 
 
O espaço utilizado da escola é fundamental para otimizar os jogos e brincadeiras 
das crianças e pode ser dividido em espaços naturais e / ou tradicionais em ambientes 
grandes ou pequenos, pobres ou enriquecidos. 
• O ambiente natural é caracterizado pela possibilidade de interação e exploração 
de diferentes tipos de solos, árvores e arbustos que permitem habilidades como 
escalar, pular e se esconder. 
• Os espaços tradicionais são áreas pavimentadas, com a presença de 
equipamentos fabricados e rígidos, que permitem a exploração de forma mais 
estruturada. 
• A dimensão do espaço é um fator crítico para o surgimento de comportamentos 
que envolvem habilidades como correr através dos vários jogos de perseguição. 
Os materiais no ambiente estimulam habilidades de manipulação, como 
arremessar, rolar e chutar a bola. 
• As diferenças na configuração dos espaços e os atributos físicos que eles 
contemplam, a distinção entre espaços verdes e tradicionais, grandes e 
pequenos, e ricos e enriquecidos são determinantes essenciais para a 
estimulação da brincadeira no recreio da escola. 
 
 
 
38 Introdução à Educação Física e Esportes 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Os jogos configuram um importante componente do desenvolvimento humano, uma 
vez que é revestido de aspectos culturais passados de geração em geração. A diversidade 
de jogos amplia o repertório de movimento, contribui para o desenvolvimento da aptidão 
física, fortalece as relações pessoais e possibilita as crianças reconhecer uma cultura 
popular bem como produzir novos significados culturais através de diferentes linguagens e 
símbolos. 
 
A cultura lúdica é outro fator indispensável para o desenvolvimento, já que a 
capacidade de renovação das atividades estressantes do dia a dia e a possibilidade de 
criação são fortemente presentes. O jogo possibilita uma ruptura com a realidade ainda que 
temporariamente. De uma forma geral, os jogos e brincadeiras devem ser encarados como 
ponto crítico de evolução humana. 
 
O jogo na escola emerge inspirada na concepção liberal-democrática, que deu luz a uma 
escola que tinha por base respeitar a personalidade da criança e desenvolvê-la de forma 
integral, através de práticas que possibilitassem o aprendizado brincando. Esta mudança 
de concepção marca a mudança de um conceito anátomo-fisiológico para um conceito 
biossócio-filosófico da Educação Física, isto é, uma passagem da valorização do biológico 
para o sócio-cultural (Darido, 2005). 
 
O jogo foi proposto por diferentes

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