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LETÍCIA VITÓRIA FERNANDES DA SILVA RESUMO COMPLETO DAS TENDÊNCIAS, MOVIMENTOS RENOVADORES E DAS ABORDAGENS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA. TENDÊNCIAS, MOVIMENTOS RENOVADORES E AS ABORDAGENS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA Ghiraldelli (1998), explica que a Educação Física brasileira apresenta concepções históricas, identificando-as em cinco tendências: Higienista (até 1930), Militarista (de 1930 a 1945) Pedagogicista (1945 a 1964) e Competitivista (1964 a 1985). Posteriormente podemos incluir a Educação Física Popular (1985 até os dias atuais) TENDÊNCIA HIGIENISTA (até 1930) A preocupação central eram hábitos de higiene e saúde, valorizando o desenvolvimento físico e moral, a partir do exercício. A ginástica, o desporto, os jogos recreativos devem, antes de qualquer coisa, disciplinar os hábitos das pessoas no sentido de levá-las a se afastarem de práticas capazes de provocar a deterioração da saúde e da moral. Ela dá ênfase em relação à questão da saúde. Para tal concepção, cabe um papel fundamental na formação de homens e mulheres sadios, fortes na saúde individual das pessoas e age como protagonista num projeto de “assepsia social”. A perspectiva da educação higienista vislumbra a possibilidade e a necessidade de resolver o problema da saúde pública pela educação. Sua filosofia é produto do pensamento liberal. EDUCAÇÃO FÍSICA MILITARISTA(1930 – 1945) A educação física militarista não se resume numa prática militar de preparo físico é acima disso uma concepção que visa impor a toda a sociedade a padrões de comportamento estereotipados, frutos da conduta disciplinar própria ao regime da caserna, seu objetivo principal fundamental é a obtenção de uma juventude capaz de suportar o combate, a luta, a guerra. Para tal concepção deve ser suficientemente rígida para “elevar a Nação” à condição de “servidora e defensora da Pátria”. Sua filosofia era o “aperfeiçoamento da raça” seguindo assim as determinações impostas pelas falsas conclusões encetadas pela biologia nazi-fascista. O objetivo fundamental da Educação Física Militarista é a obtenção de uma juventude capaz de suportar o combate, a luta, a guerra; seleciona os indivíduos “perfeitos” fisicamente, aptos e exclui os incapacitados. Funciona como selecionadora de elites condutoras do povo. É uma Educação Física que procura eliminar os fracos e premiar os fortes, no sentido da depuração da raça. Procura dar valor a coragem, a vitalidade, ao heroísmo, a disciplina Segundo Ghiraldelli (1991) a Educação Física Militarista predominou no Brasil entre 1930 e 1945, e influenciou na concepção de treinamento para o esporte de rendimento. Tendo a coragem, a vitalidade, o heroísmo e a disciplina exacerbada como sua plataforma básica, a concepção de treinamento referida pelo autor visava impor a toda sociedade padrões de comportamento estereotipados. Seu objetivo era a obtenção de uma juventude capaz de suportar o combate, a luta e a guerra, colaborando assim, no processo de seleção natural, eliminando os fracos e premiando os fortes. EDUCAÇÃO FÍSICA PEDAGOGICISTA (1945 – 1964) A Educação Física Pedagogicista aparece após a tendência militarista. Ela está ligada intimamente ao crescimento do ensino público nos anos 50 e 60. Tem como função mostrar que a EF pode ter um papel fundamental para a formação do jovem de hoje, visto que seu papel é de promover os jovens como cidadãos críticos. Com a concepção da EF Pedagogicista como uma “disciplina educativa por excelência”, tinha como modelo as escolas de EF Americanas, que visavam promover saúde, desenvolver habilidades fundamentais para a vida, formar caráter, formar o bom cidadão, a preparação vocacional a se tornar um ser pensante e idealizador dos seus atos. Esse modelo, ligado ao trabalho escolar, acaba colocando a EF como “centro vivo” da escola pública, sendo responsável por particularidades educativas que as disciplinas instrutivas não dão conta como fanfarras, jogos, desfiles e etc. Assim, a EF acaba por cumprir um ponto importante da educação liberal: Formar cidadãos. TENDÊNCIA ESPORTIVISTA(1964 – 1985) A partir deste momento a Educação Física, que buscava um avanço como meio educativo, na tendência Pedagogicista, retorna ao biologicismo. Os professores agora deveriam deixar de lado os aspectos sociais, educativos e afetivos e se preocupar somente com o rendimento e o aprimoramento das habilidades esportivas. Educação Física passa a ser dominada pelos esportes, melhor, passa a ser sinônimo de esportes. Há uma exclusão generalizada daqueles que não possuem habilidades, a competição passa a ser o objetivo do processo. A relação professor-aluno passa a ser técnico-atleta. O período que compreende esta tendência na Educação Física é de 1964 a 1985. Nesta tendência da Educação Física a saúde, física, se torna um tema importante, pois é necessário atender aos futuros atletas. A fisiologia e o treinamento esportivo, principalmente, atingem um grande desenvolvimento. Ainda neste período a Educação Física também recebe influências dos discursos econômicos, que preocupados com os problemas de saúde, alertavam para a realização de atividades físicas pela população. O argumento na verdade era o de tornar menos custosa a saúde para os governos. Esse movimento denominado healthism teve sua origem nos Estados Unidos e, anos mais tarde no Brasil, passa a se chamar Movimento da Saúde. Pautado pelo individualismo, em detrimento das questões sociais. Assim, as atividades físicas passam a ser medidas privadas, diferentemente das tendências Higienista e Militarista, onde a ideologia era voltada para o Estado por meio da consecução da eugenia e sua busca incessante pela melhoria da raça. Também conhecida como tendência Competitivista, Mecanicista ou Tecnicista, a tendência Esportivista ainda hoje é muito representativa na área da Educação Física Escolar. Seus métodos, conteúdos, formas e meios se resumem, como o nome já informa, à prática esportiva, com todas as suas normas, técnicas, táticas e busca de performances. TENDÊNCIA POPULAR (1985 - ATUALIDADE ) A Educação Física pautada na tendência Popular é dominada pelos anseios operários de ascensão na sociedade. Conceitos como inclusão, participação, cooperação, afetividade, lazer e qualidade de vida passam a vigorar nos debates da disciplina. O aluno, depois de um longo período, desde a tendência Pedagogicista, entre 1945 e 1964, passa a ser parte do processo, sendo ouvido, podendo sugerir e criticar. A saúde como tema deste período da Educação Física engloba diversos assuntos como o sedentarismo, as doenças sexualmente transmissíveis, o combate às drogas e os primeiros socorros. A força do biologicismo, tão presente em outras tendências da Educação Física, parece declinar. Lesões, traumas, estresse, e uso de drogas para aumentar o rendimento direcionam a atenção da população para os efeitos do esportivismo e de sua busca pelo alto rendimento. Solomon (1991) afirma que somente a dedicação aos exercícios não é suficiente para a prevenção de doenças cardíacas. A afirmação produz um efeito devastador na Educação Física, que inicia então uma nova leitura do seu papel como produtora de saúde. Porém a Educação Física na verdade, entra em crise epistemológica. O que fazer? Não se respira mais os ares do Higienismo e sua assepsia corporal; não se pretende mais produzir futuros soldados, como preconizava a tendência Militarista; não há a necessidade de produzir atletas, pois a escola não possui esta função, como queria a tendência esportivista. Qual a ciência da Educação Física? A que se destina? Qual o verdadeiro papel da saúde na Educação Física? Desta crise, aflorada pela necessidade de sobrevivência, surgem as abordagens da Educação Física. OS MOVIMENTOS RENOVADORES Todas essas tendências nortearam em seus períodos os modos de gerir e pensar a Educação Física. No entanto, com o advento das ciências humanas, começou-se a pensar numa renovação, com o intuito de romper comesses modelos e propor uma nova concepção didático-pedagógica para a Educação Física escolar. Após essa etapa acima mencionada, estudiosos da Educação Física começam a propor os tidos como movimentos “renovadores” da Educação Física escolar. Todos os que começam a propor as mudanças, tentam de alguma forma romper com os antigos paradigmas até então presentes nessa área de conhecimento. A Educação Física escolar vem desde os meados de 1980 numa constante busca de romper com os modelos tradicionais que permearam esta área de estudo, sendo que é nesse momento que a Educação Física passa por um período de valorização dos conhecimentos produzidos pela ciência. A partir desse enfoque dado à Educação Física de ciência com corpo próprio de conhecimento, começam a surgir algumas abordagens pedagógicas da Educação Física escolar. Conforme Darido (2003) todas essas abordagens têm algumas divergências, mas possuem um ponto em comum, todas estão em oposição à vertente tecnicista, esportivista, biologicista e recreacionista até então predominantes na Educação Física escolar. Todos os autores que se desdobraram na difícil tarefa de apresentar novas propostas para a Educação Física desde meados dos anos 1980, estão sugerindo várias transformações de ordem didático-pedagógica. A Educação Física escolar tem por base suas perspectivas e propostas nas abordagens que surgiram visando uma mudança de concepção da área. Conforme Darido (2003) na busca de romper com os moldes tradicionais, surgem várias abordagens, algumas com enfoque mais Psicológico (Psicomotricista, Desenvolvimentista, Construtivista e Jogos Cooperativos), outras com enfoque mais sociológico e político (Crítico- superadora, Crítico emancipatória, Cultural, Sistêmica, e baseada nos PCNs), e também biológico , como a da Saúde Renovada. Dentro dessas abordagens há vários discursos tentando justificar a importância da Educação Física na escola, outros se apoiando em áreas diversas como a Antropologia, a Psicologia, a Sociologia e também a Biologia. Embora com embasamentos teóricos diferentes, discutam e enfatizam seu modo de propor a Educação Física na escola um tanto quanto também diferente, todas as abordagens apresentam significativas contribuições para a Educação Física escolar. ABORDAGENS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA. MOVIMENTO RENOVADOR PSICOMOTRICISTA Nessa abordagem a educação física tem na psicomotricidade seus objetivos funcionais, concebendo que os mecanismos de regulação entre o sujeito e seu meio permitem o jogo da adaptação que implica os processos de assimilação e acomodação. A assimilação é a integração do exterior às estruturas próprias do sujeito; a acomodação, a transformação das estruturas próprias em função das variáveis do meio exterior. A abordagem psicomotricista traz um novo conhecimento ao campo da educação física, a psicologia, ou seja, extrapola os conhecimentos puramente biológicos e de rendimento físico e preocupa-se mais com o conhecimento como um todo, ou seja, a psicomotricidade. Utiliza-se da atividade lúdica como impulsionadora dos processos de desenvolvimento e aprendizagem; trata das aprendizagens significativas, espontâneas e exploratórias da criança e de suas relações interpessoais; busca analisar e interpretar o jogo infantil e seus significados; tem na psicomotricidade seus objetivos funcionais, concebendo que os mecanismos de regulação entre o sujeito e seu meio permitem o jogo da adaptação que implica os processos de assimilação e acomodação. Neste caso, a assimilação está relacionada com a transformação das estruturas próprias em função das variáveis do meio externo. Tal abordagem procura atingir seus objetivos por meio de atividades principalmente lúdicas. ABORDAGEM DESENVOLVIMENTISTA Esta abordagem tem como ideia principal caracterizar a progressão considerada normal do crescimento físico, bem como do desenvolvimento fisiológico, motor, cognitivo, afetivo e social. Baseia-se no desenvolvimento desses aspectos enfatizando a aprendizagem motora. O movimento é o principal meio para o fim da educação física escolar. Procura privilegiar a aprendizagem do movimento, embora possam estar ocorrendo outras aprendizagens decorrentes da prática e vivência das habilidades motoras. Preconiza que sejam proporcionadas ao aluno condições para que seu comportamento motor seja desenvolvido pela interação do aumento da diversidade e da complexidade de movimentos, oferecendo experiências de movimento adequadas ao seu estágio de crescimento e desenvolvimento para que as habilidades motoras sejam alcançadas. A abordagem desenvolvimentista despreza totalmente a concepção materialista da história e afirma-se enquanto base epistemológica com o positivismo, não se preocupando com a formação de cidadãos críticos e participativos para a construção de uma sociedade mais democrática e mais justa se dá aula de acordo com a faixa etária dos estudantes. ABORDAGEM CONSTRUTIVISTA O Objetivo da Abordagem Construtivista da Educação Física é o desenvolvimento de habilidades que permitem se expressar no mundo, através da interação com o meio, com foco na criação de conflitos e resolução de problemas motores. O professor deve levar em conta o conhecimento que o aluno já possui, que ele adquiriu através da interação com o meio social e cultural no qual ele vive. A partir dos interesses dos alunos o professor deve criar conflitos, mostrar outros pontos de vista, sugerir outros conceitos, criar problemas a serem resolvidos, e através da interação do aluno com o meio (as atividades, os jogos, brincadeiras, esportes, o espaço, os acessórios, outros alunos e professor) ele vai desenvolver o conhecimento e as habilidade motoras, afetivas e cognitivas. O aluno é o ativo no processo de aprendizagem, ele deve ser estimulado a interagir com o meio, resolver problemas, assimilar, acomodar e criar novos esquemas intelectuais, novas habilidades. O professor é o facilitador, o mediador do processo de aprendizagem, não deve interferir na solução dos problemas criados pelos alunos. A avaliação na Abordagem Construtivista da Educação Física é não-punitiva e vinculada ao processo de construção do conhecimento ou desenvolvimento de habilidades, não é padronizada buscando um determinado resultado ideal. Dessa forma, a avaliação considera o estágio inicial do aluno e seu desenvolvimento, considerando o erro parte do processo de aprendizagem, e não a condenação do aluno. O processo de auto avaliação pode ser utilizado. CRÍTICO EMANCIPATÓRIA A abordagem Crítico Emancipatória na Educação Física escolar é um proposta didático pedagógica da Educação Física com viés crítico, que questiona o caráter alienante existente nas aulas de Educação Física, baseadas na padronização das práticas esportivas. Propõe a libertação do aluno de uma visão unicamente individualista, competitiva e autoritária do esporte e dos jogos, transformando essa visão em uma visão pautada em valores e normas que assegurem a todos o direito à participação. Essa abordagem tem como objetivo ensinar através de atividades com movimento corporal, desenvolvendo competências como a autonomia, a competência social (interação social) e a competência objetiva (ler, interpretar e criticar a realidade através da linguagem), sendo o conteúdo principal do trabalho pedagógico da Educação Física Escolar o Movimento Humano (cultura de movimento). O ensino na abordagem Crítico emancipatória na Educação Física escolar implica três aspectos: Trabalho = Competência objetiva: Os alunos recebem informações e conhecimentos para vivenciar a prática esportiva de forma mais ampla. Interação = Competência social: Os alunos devem entender as relações no contexto social de forma mais ampla, entendendo os diferentes papéis sociais dos indivíduos. Linguagem = Competência comunicativa: O alunos devem ser ensinados a ler, interpretar e criticar a realidade na sua relação com os esportes, se expressando verbalmente ou corporalmente.APTIDÃO FÍSICA / SAÚDE Essa abordagem coloca em discussão o papel da Educação Física escolar no que diz respeito à promoção de qualidade de vida e bem estar. Apesar de ser uma perspectiva biológica da Educação Física, não se limitam a isso, colocando as questões de cunho social que envolvem a saúde geral dos indivíduos. A prática de atividades físicas nas aulas de Educação Física escolar deve influenciar crianças e adolescentes para um comportamento na fase adulta mais saudável, estimulando assim uma vida mais ativa e com hábitos que promovem a saúde. Tem como objetivo ensinar os conceitos básicos da relação entre saúde e atividade física, e isso deve ser feito incluindo todos os alunos, o que é uma preocupação importante colocada nessa abordagem, sendo adepta do princípio da inclusão. Dessa forma, os sedentários, obesos, portadores de necessidades especiais e outros devem sempre participar das aulas. É uma concepção de Educação Física que não se baseia apenas na costumeira prática dos Esportes, sendo assim promove a compreensão de conceitos relacionados à saúde e o entendimento dos benefícios de uma vida ativa fisicamente. Sendo esses conceitos assimilados e incorporados pelos alunos, estes poderão ser adultos mais conscientes da importância de um estilo de vida ativo que promove a saúde. CRÍTICO SUPERADORA A Abordagem Crítico Superadora na Educação Física é uma concepção de Educação Física escolar que se opõe ao antigo modelo mecanicista baseado no desempenho físico, na seleção de talentos esportivos, no militarismo e no higienismo. Tem como objetivo na Educação Física escolar permitir que os alunos assimilem de forma crítica sua Cultura Corporal, a partir de um resgate do histórico do tema, contextualizando e contestando sua realidade, relacionando-os com temas atuais, contestando também o senso comum, com o objetivo final de superar uma realidade que é desfavorável socialmente para aquele classe social. Exemplificando, se na década de 1970 as aulas de Educação Física escolar no Brasil tivessem como objetivo o desempenho esportivo, obviamente que havia a exclusão dos menos habilidosos. O professor dentro da abordagem Crítico Superadora na Educação Física escolar deve adotar uma postura de diálogo, mediando e problematizando os conteúdos da Cultura Corporal e suas relações com a sociedade. O professor deve confrontar o conhecimento do senso comum com o conhecimento científico. Também deve incentivar a curiosidade, a criticidade e a criatividade. A avaliação na abordagem Crítico Superadora prioriza o processo de ensino-aprendizagem, se contrapondo completamente ao modelo de avaliação baseada no desempenho físico e esportivo, nos testes físicos, na seleção de atletas, etc. Alguns instrumentos que podem ser utilizados para avaliação dos alunos dentro da abordagem Crítico Superadora são: prova de conteúdo não objetiva, trabalho em grupo, trabalho de pesquisa, dramatizações, organização de eventos, autoavaliação entre outros.
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