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ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 1 ARTUR TORRES Pós-Doutor em Direito Processual Civil (UNISINOS); Doutor, Mestre e Especialista em Direito Processual Civil (PUC/RS); Laureado Dom Antonio Zattera (UCPel); Professor de Direito Processual Civil da PUCRS; Advogado. CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. (Volume II) De acordo com as Leis 13.105⁄2015, 13.256⁄2016 e 13.363⁄2016. Porto Alegre 2017 ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 116 LIVRO II DO PROCESSO DE EXECUÇÃO TÍTULO I DA EXECUÇÃO EM GERAL CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS 1. A tutela executiva serve, ao fim e ao cabo, à realização prática do direito. Quer dizer: considerada a vedação à justiça de mão própria, revelando-se necessário à satisfação de certo direito (não satisfeito de maneira espontânea, porém, já estampado em um título executivo), o interessado poderá requerer ao Estado-juiz providência jurisdicional capaz de satisfazê-lo in concreto. Nessa linha de raciocínio já se afirmou outrora, com razão, que "a necessidade de transformação do mundo físico é a matriz da função jurisdicional executiva (...) Em sede cognitiva, a missão judicial transforma o fato em direito; na execução, o direito, ou seja, a regra jurídica concreta, há de traduzir-se em fatos." (ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 11 ed. São Paulo: RT, 2007. p. 89). 2. À prestação jurisdicional executiva, como é intuitivo (e também expresso – art. 771 do CPC⁄2015), aplicam-se os princípios e valores que disciplinam o processo judicial como um todo, de maneira subsidiária. Considerada sua razão de ser, contudo, possui ela (a tutela executiva) principiologia própria. Revelam-se dignos de nota, dentre eles, os princípios da (a) autonomia, (b) do título, (c) da responsabilidade patrimonial, (d) do resultado, (e) da disponibilidade, (f) da adequação, e, por fim, (g) da menor gravosidade, sem prejuízo de outros. 3. Princípio da autonomia. A tutela executiva é inconfundível com as demais ofertadas pelo ordenamento jurídico, nada obstante, não raro, possa ser requerida, e prestada, no mesmo processo em que o fora a tutela cognitiva (sendo essa, inclusive, a regra a ser observada para a satisfação forçada do títulos judiciais – noção de processo sincrético). Ainda assim, não há negar, segundo pensamos, a autonomia da pretensão executiva em relação àquela inerente à declaração de um direito em juízo (fruto, por definição, da tutela do conhecimento). Cada qual, para além de nascer em momento diverso, sujeita-se, inclusive, a prazo prescricional diverso: a prescrição que poderá incidir sobre a possibilidade de se reivindicar em juízo, grosso modo, a declaração de um direito não se confunde, à evidência, com a que poderá ser declarada em relação ao pleito de execução desse mesmo direito, já confirmado. A despeito dos diversos argumentos que aqui poderiam ser suscitados no afã de justificar o princípio sob comento, por ora, a notícia que se pretende dar diz, pois, com a noção de que a tutela executiva possui, ao menos do ponto de vista de sua razão de ser, vida própria, ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 117 quer dizer, conceitos, princípios, fundamentos próprios, o que não representa dizer que tramitará, sempre, em autos diversos daqueles em que o título se formou. 4. Princípio do título. Nulla executio sine titulo. A despeito do atual debate acerca do tema (fundado na redação atribuída à parte final do art. 771, caput) 31, encontra-se mantido entre nós, à luz do CPC⁄2015, o princípio do título (elemento necessário e suficiente a toda e qualquer execução). Todas as possibilidades ensejadoras de legítima tutela executiva encontram fundamento, pois, na certeza, na liquidez e na exigibilidade de determinada posição jurídica. Não há negar, ainda que no âmbito do cumprimento de sentença, ser ele (o título executivo) requisito indispensável à realização de toda e qualquer execução (autônoma ou não), sendo essa, inclusive, a adjetivação que lhe confere a lei (Capítulo IV, Título I, Livro II da Parte Especial do CPC⁄2015). 5. Princípio da responsabilidade patrimonial. A responsabilidade civil encontra limite no patrimônio do devedor ou do responsável pela satisfação da obrigação. Segundo expresso texto de lei (vide art. 789 do CPC⁄2015), o devedor responde com todos os seus bens, “presentes e futuros”, por suas obrigações, ressalvadas as restrições legais. Apenas episodicamente é que o direito pátrio admite a coerção pessoal (arts. 911 e 528, ambos do CPC⁄2015 – Execução de Alimentos). 6. Princípio do resultado⁄utilidade da execução. Art. 836 do CPC⁄2015. A tutela executiva, consoante anunciado alhures, serve à satisfação do exequente, contudo, prevê o artigo acima referido que não “se levará a efeito a penhora quando ficar evidente que o produto da execução dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execução.” Extrai-se, daí, historicamente, o princípio sob comento. Os atos executivos (em sentido largo) devem, no mínimo, retratar a possibilidade de obtenção de resultado prático em relação à tutela requerida, cumprindo, ainda que parcialmente, com sua razão de ser: satisfazer o credor. À margem desse desiderato, ou seja, não sendo hábeis a tanto, deverão ser indeferidos ou revogados. 7. Princípio da disponibilidade. O princípio sob comento deve, para sua melhor compreensão, ser examinado, pelo menos, a partir de dois distintos enfoques. Num primeiro deles, vale lembrar que a tutela executiva (autônoma ou sincrética) depende, por definição, de ato volitivo do interessado. Portanto, não há, no processo civil pátrio, à exemplo do que ocorre no processo do trabalho, falar em execução de ofício, dependendo ela, como regra, de manifestação do interessado. 31 “O CPC⁄2015 admite execução fundada em título executivo, ou não.” MEDINA, José Miguel Garcia. Direito Processual Civil Moderno. São Paulo: RT, 2015. p. 915. ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 118 Nessa quadra, como é intuitivo, parte-se de um olhar vinculado ao pedido de tutela executiva; num segundo, fundado na desistência do pedido de tutela executiva, o princípio sob comento, à evidência, também se faz sentir. A desistência da ação autônoma de execução, do pedido de cumprimento de sentença, ou de qualquer outro ato inerente ao pleito executivo, não depende de anuência alheia, competindo tão somente ao “exequente”, por ocasião de juízo de conveniência próprio, gozar tal prerrogativa (vide art. 775 do CPC⁄2015). E isso se dá, pois, em respeito ao princípio dispositivo. 8. Princípio da adequação. Com base no direito fundamental à tutela adequada, é possível afirmar que a tutela executiva, espécie de tutela jurisdicional que é, encontra-se adstrita ao princípio sob comento. A legislação processual tratou, em homenagem ao direito fundamental supra referido, e considerada a natureza da obrigação executada (pagar quantia certa, entregar coisa, fazer, não fazer), de desenhar “procedimentos” distintos para a satisfação de cada qual, uma vez que o ordenamento jurídico pátrio garante ao credor, vale recordar, o direito à tutela específica da obrigação. 9. Princípio da menor gravosidade para o executado. A despeito de servir ao exequente, a tutela executiva não tem por objetivo, como se sabe, o “massacre”do devedor. Assim sendo, o CPC⁄2015 preconiza, “em alto e bom som”, que, quando “por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado.” Consoante abaixo referido (comentários ao art. 805), o legislador, embora atento ao princípio em tela, inovou em relação ao CPC⁄73 (que, também, já o retratava em seu art. 620), impondo ao executado que o alegar a indicação de “outros meios mais eficazes e menos onerosos” capazes de tornar efetiva a tutela executiva, “pena de manutenção dos atos executivos já determinados.” Art. 771. Este Livro regula o procedimento da execução fundada em título extrajudicial, e suas disposições aplicam-se, também, no que couber, aos procedimentos especiais de execução, aos atos executivos realizados no procedimento de cumprimento de sentença, bem como aos efeitos de atos ou fatos processuais a que a lei atribuir força executiva. Parágrafo único. Aplicam-se subsidiariamente à execução as disposições do Livro I da Parte Especial. 1. Ao Livro III, da Parte Especial do CPC⁄2015, coube disciplinar o procedimento da execução fundada em título extrajudicial (vide rol do art. 784), hipótese em que a tutela executiva é prestada mediante a propositura de demanda própria. ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 119 2. A tutela executiva dos títulos judiciais, por sua vez, encontra-se adstrita ao regime estabelecido para o cumprimento de sentença (art. 513⁄538), ao qual se aplica, subsidiariamente, os ditames do Livro sob comento. 3. Aplica-se o regramento sob comento, outrossim, aos procedimentos especiais de execução, bem como, aos atos ou fatos processuais a que a lei atribua força executiva. 4. Ao processo autônomo de execução, aplica-se, subsidiariamente, as prescrições que regem o procedimento comum e o cumprimento de sentença. Art. 772. O juiz pode, em qualquer momento do processo: I - ordenar o comparecimento das partes; II - advertir o executado de que seu procedimento constitui ato atentatório à dignidade da justiça; III - determinar que sujeitos indicados pelo exequente forneçam informações em geral relacionadas ao objeto da execução, tais como documentos e dados que tenham em seu poder, assinando-lhes prazo razoável. 1. Consoante anunciado por ocasião dos comentários feitos aos denominados “vetores do CPC⁄2015” (em especial ao teor de seus primeiros onze artigos), não pode surpreender a afirmativa de que ao julgador toca, por definição, zelar pela melhor prestação jurisdicional. No afã de cumprir seu mister, o legislador faculta ao julgador uma série de providências, capazes, em tese, de contribuir com o cumprimento de tal diretriz. Ao julgador é facultado, dentre outros, (a) determinar, a qualquer tempo, o comparecimento das partes em juízo (exequente⁄executado), para que contribuam com a entrega da melhor prestação jurisdicional possível, independentemente da posição processual que ocupem; (b) advertir o executado, preventiva ou repressivamente, de que determinada conduta constitui ato atentatório à dignidade da justiça (sendo, portanto, passível de punição); bem como (c) determinar que terceiros, indicados pelo exequente, forneçam informações acerca do objeto da execução, assinando-lhes prazo razoável para, sendo o caso, auxiliarem o juízo. Art. 773. O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessárias ao cumprimento da ordem de entrega de documentos e dados. ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 120 Parágrafo único. Quando, em decorrência do disposto neste artigo, o juízo receber dados sigilosos para os fins da execução, o juiz adotará as medidas necessárias para assegurar a confidencialidade. 1. É inerente ao poder jurisdicional, no afã de ver concretizada (essa ou qualquer outra) ordem de apresentação de dados ou documentos (ou com objeto diverso), determinar as medidas a serem observadas, no intuito de ver concretizado o comando judicial. 2. Face à obtenção de dados sigilosos que sirvam à execução (recebidos por decorrência da colaboração de terceiro ou mediante operacionalização de medidas determinadas pelo juiz – por exemplo, sucesso em busca e apreensão), o julgador diligenciará em manter a confidencialidade das informações se assim o exigir o interesse dos envolvidos. Art. 774. Considera-se atentatória à dignidade da justiça a conduta comissiva ou omissiva do executado que: I - frauda a execução; II - se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e meios artificiosos; III - dificulta ou embaraça a realização da penhora; IV - resiste injustificadamente às ordens judiciais; V - intimado, não indica ao juiz quais são e onde estão os bens sujeitos à penhora e os respectivos valores, nem exibe prova de sua propriedade e, se for o caso, certidão negativa de ônus. Parágrafo único. Nos casos previstos neste artigo, o juiz fixará multa em montante não superior a vinte por cento do valor atualizado do débito em execução, a qual será revertida em proveito do exequente, exigível nos próprios autos do processo, sem prejuízo de outras sanções de natureza processual ou material. 1. Ao art. 774 coube, mediante a apresentação de rol exemplificativo, inventariar algumas das ações e⁄ou omissões consideradas, pelo CPC⁄2015, atentatórias à dignidade da justiça. Vale lembrar que, segundo o sistema codificado, a prática de atos dessa natureza encontram-se, pois, sujeitos a sanção processual. 2. Considera-se atentatório à dignidade da justiça, sem prejuízo de outros atos prejudiciais a prestação da melhor jurisdição, a (a) fraude à execução; (b) a oposição maliciosa ao sucesso da execução; (c) as ações ou omissões do executado capazes de dificultar ou causar embaraço a realização da penhora; (d) a resistência injustificada ao cumprimento das ordens judiciais; (e) o silêncio do executado quando, ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 121 devidamente intimado, deixa de indicar quais são e onde estão os bens sujeitos à penhora, e seus respectivos valores, bem como, quando deixa de exibir prova de sua propriedade e, sendo o caso, certidão negativa de ônus. 3. Ato atentatório à dignidade da justiça. Punição. É passível de multa, no limite de 20% do valor atualizado do débito, a ação e⁄ou omissão do executado que vise a frustrar o sucesso do pleito executivo. A multa, sendo o caso, será revertida ao exequente, e é passível de execução nos próprios autos em que fora estipulada. Art. 775. O exequente tem o direito de desistir de toda a execução ou de apenas alguma medida executiva. Parágrafo único. Na desistência da execução, observar-se-á o seguinte: I - serão extintos a impugnação e os embargos que versarem apenas sobre questões processuais, pagando o exequente as custas processuais e os honorários advocatícios; II - nos demais casos, a extinção dependerá da concordância do impugnante ou do embargante. 1. A tutela executiva serve, por definição, ao exequente. A ele é facultado, independentemente de concordância alheia, desistir do pedido executivo (seja da ação autônoma executiva sob comento, seja do pedido de cumprimento de sentença, examinado no volume I deste trabalho), total ou parcialmente, ou, ainda, tão somente algumas medidas executivas (por exemplo, o exequente desiste da penhora de certo bem da vida). 2. Ação executiva. Desistência. Consequências. Ao executado é facultado, no afã de defender-se de execução ilegítima, a promoção de demanda destinada a tanto. Em se tratando de execução fundada em título extrajudicial, a resistência do executado ocorrerá mediante o oferecimentode embargos do devedor (que será distribuído por dependência ao processo de execução). Versando estes tão somente sobre questões processuais, a desistência da execução ensejará sua extinção imediata, hipótese em que o exequente (réu nos embargos à execução – o embargado) será condenado ao pagamento das custas judiciais, bem como de honorários advocatícios em favor dos patronos do executado (autor nos embargos à execução – o embargante). 3. Ação executiva. Desistência. Consequências. Quando os embargos à execução não se limitarem a debater questão processual, a despeito da desistência do pleito executivo (reitere-se: que não depende de ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 122 concordância alheia), a extinção dos embargos à execução depende, necessariamente, da anuência do embargado. 4. “A desistência da execução ou de alguma das medidas executivas não importa renúncia ao direito a executar. Vale dizer: não implica renúncia aos ‘valores contemplados no título.” (STJ, 2ª Turma, Resp 715.692/SC, j. em 16.06.2005, DJ 15.08.2005. p. 285) Art. 776. O exequente ressarcirá ao executado os danos que este sofreu, quando a sentença, transitada em julgado, declarar inexistente, no todo ou em parte, a obrigação que ensejou a execução. 1. O pronunciamento judicial que põe fim ao processo de execução denomina-se sentença, consoante expressa previsão do art. 203, §1o do CPC⁄2015. 32 Dentre as suas possibilidades, o julgado pode declarar inexistente, parcial ou totalmente, a obrigação que serviu de base à propositura da demanda executiva. Ao artigo sob comento coube, visando a afastar quaisquer dúvidas, reafirmar a (ampla e irrestrita) responsabilidade (objetiva) do exequente pela execução que promove, destacando seu dever de ressarcir o executado, pelos danos a que se sujeitou, nos casos em o pleito executivo se afigure infundado. Art. 777. A cobrança de multas ou de indenizações decorrentes de litigância de má-fé ou de prática de ato atentatório à dignidade da justiça será promovida nos próprios autos do processo. 1. Eventuais punições pecuniárias a que forem submetidas as partes serão cobradas nos próprios autos em que fixadas. 2. O teor do art. 777 deve ser observado, inclusive, para a cobrança da indenização oriunda da incidência do comando contido no art. 776. CAPÍTULO II DAS PARTES Art. 778. Pode promover a execução forçada o credor a quem a lei confere título executivo. § 1o Podem promover a execução forçada ou nela prosseguir, em sucessão ao exequente originário: I - o Ministério Público, nos casos previstos em lei; 32 Acerca do tema, vide: TORRES, Artur. Sentença, Coisa Julgada e Recursos Cíveis Codificados: de acordo com as Leis 13.105⁄2015 e 13.256⁄2016. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2017. p. 24⁄47. ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 123 II - o espólio, os herdeiros ou os sucessores do credor, sempre que, por morte deste, lhes for transmitido o direito resultante do título executivo; III - o cessionário, quando o direito resultante do título executivo lhe for transferido por ato entre vivos; IV - o sub-rogado, nos casos de sub-rogação legal ou convencional. § 2o A sucessão prevista no § 1o independe de consentimento do executado. 1. Legitimidade ativa. Tem legitimidade originária para promover o pedido de tutela executiva o credor, “a quem a lei confere título executivo”. Poderão, outrossim, promover a execução ou nela prosseguir sucedendo o legitimado originário (a) o parquet, havendo previsão legal autorizativa; (b) o espólio, os herdeiros ou os sucessores do credor, sempre que, por morte do exequente, lhes for transmitido o direito resultante do título executivo; (c) o cessionário, quando o direito resultante do título executivo lhe for transferido por ato entre vivos e; (d) o sub-rogado, nos casos de sub-rogação legal ou convencional. As hipóteses de sucessão acima inventariadas não dependem de consentimento do executado. Art. 779. A execução pode ser promovida contra: I - o devedor, reconhecido como tal no título executivo; II - o espólio, os herdeiros ou os sucessores do devedor; III - o novo devedor que assumiu, com o consentimento do credor, a obrigação resultante do título executivo; IV - o fiador do débito constante em título extrajudicial; V - o responsável titular do bem vinculado por garantia real ao pagamento do débito; VI - o responsável tributário, assim definido em lei. 1. Legitimidade passiva. Ao artigo sob comento coube disciplinar a legitimidade passiva no processo de execução. A demanda deve ser promovida, sendo o caso, em face do (a) devedor, reconhecido como tal no título executivo; (b) do espólio, dos herdeiros ou dos sucessores do devedor, em caso de falecimento do devedor; em face do (c) “novo” devedor que assumiu, com o consentimento do credor, a obrigação resultante do título executivo; (d) do fiador do débito constante em título extrajudicial; (e) do responsável titular do bem vinculado por garantia real ao pagamento do débito ou, ainda; (f) do responsável tributário, tal e qual definido em lei. ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 124 2. “O fiador extrajudicial garante atos de direito material – e não processual, como é o caso do fiador judicial – por força de lei ou convenção. O fiador extrajudicial (convencional ou legal), ao contrário do judicial, somente pode integrar o polo passivo da execução se figurar em título executivo extrajudicial ou, no caso de cumprimento de sentença, se tiver participado da fase de conhecimento (art. 513, §5o, NCPC). Em síntese, o fiador extrajudicial (legal ou convencional) deve figurar no título executivo, judicial ou extrajudicial. (...) Com o advento dessa nova regra, a execução poderá ser promovida diretamente contra o responsável garantidor, destacando-se, quanto ao fiador, que lhe assiste em matéria de defesa o benefício de ordem sempre que não houver expressamente renunciado (art. 794, caput, e §3o, NCPC)” DONIZETTI, Elpídio. Novo Código de Processo Civil Comentado. São Paulo: Atlas, 2015. p. 581. Art. 780. O exequente pode cumular várias execuções, ainda que fundadas em títulos diferentes, quando o executado for o mesmo e desde que para todas elas seja competente o mesmo juízo e idêntico o procedimento. 1. Cumulação de ações executivas. Requisitos. É facultado ao exequente, revelando-se idêntico o juízo competente para processar e julgar cada um dos pleitos executivos sujeitos ao mesmo procedimento, cumular, em face do mesmo devedor, tantas quantas demandas lhe interessar. CAPÍTULO III DA COMPETÊNCIA Art. 781. A execução fundada em título extrajudicial será processada perante o juízo competente, observando-se o seguinte: I - a execução poderá ser proposta no foro de domicílio do executado, de eleição constante do título ou, ainda, de situação dos bens a ela sujeitos; II - tendo mais de um domicílio, o executado poderá ser demandado no foro de qualquer deles; III - sendo incerto ou desconhecido o domicílio do executado, a execução poderá ser proposta no lugar onde for encontrado ou no foro de domicílio do exequente; IV - havendo mais de um devedor, com diferentes domicílios, a execução será proposta no foro de qualquer deles, à escolha do exequente; ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 125 V - a execução poderá ser proposta no foro do lugar em que se praticou o ato ou em que ocorreu o fato que deu origem ao título, mesmo que nelenão mais resida o executado. 1. Ao artigo 781 coube disciplinar a competência para processar e julgar o processo autônomo de execução (oriundo de um pedido de tutela executiva fundada em título executivo extrajudicial). Seus incisos, ao que tudo indica, não estabelecem uma ordem a ser observada. O exequente, in concreto, deve optar por uma das possibilidades que lhe confere o legislador. A livre escolha é possível, segundo pensamos, desde que não cause maior prejuízo ao executado. Art. 782. Não dispondo a lei de modo diverso, o juiz determinará os atos executivos, e o oficial de justiça os cumprirá. § 1o O oficial de justiça poderá cumprir os atos executivos determinados pelo juiz também nas comarcas contíguas, de fácil comunicação, e nas que se situem na mesma região metropolitana. § 2o Sempre que, para efetivar a execução, for necessário o emprego de força policial, o juiz a requisitará. § 3o A requerimento da parte, o juiz pode determinar a inclusão do nome do executado em cadastros de inadimplentes. § 4o A inscrição será cancelada imediatamente se for efetuado o pagamento, se for garantida a execução ou se a execução for extinta por qualquer outro motivo. § 5o O disposto nos §§ 3o e 4o aplica-se à execução definitiva de título judicial. 1. O julgador, na condição de “gestor” do processo, é o responsável por determinar os atos executivos a serem resalizados in concreto. Seu cumprimento, via de regra, fica a cargo do meirinho, que se encontra habilitado a cumprir seu mister, inclusive, nas comarcas vizinhas, bem como naquelas que se situam em idêntica região metropolitana. Exemplo: nada obstante lotado na comarca de Porto Alegre⁄RS, por determinação do juiz, pode o oficial de justiça arrestar bens do devedor que se encontrem na comarca de São Leopoldo⁄RS, integrante da grande Porto Alegre. 2. No afã de tornar efetivo seu comando, o julgador pode, sendo necessário, requisitar força policial. 3. Visando a constranger o executado a satisfazer a obrigação que deu ensejo ao pleito executivo, o CPC⁄2015 passa a permitir que, a requerimento, o juiz determine a inclusão do nome do executado em cadastro restritivo de crédito, devendo tal anotação, de imediato, ser ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 126 cancelada por ocasião (a) da comprovação da satisfação da obrigação executada, (b) da garantia do juízo ou (c) da extinção do pleito executivo (fundada em título judicial ou extrajudicial), independentemente de sua motivação. CAPÍTULO IV DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA REALIZAR QUALQUER EXECUÇÃO Seção I Do Título Executivo Art. 783. A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível. 1. A propositura de ação executiva tem como pressuposto e fundamento a existência de um título executivo. São elementos indispensáveis à conformação de título passível de ser executado a certeza, a liquidez e a exigibilidade da obrigação. 2. “(...) título executório, ato que se apresenta como condição necessária e suficiente, não só para iniciar, mas também para conduzir a seu termo a execução (...)contém acumulada – digamos assim – em si mesmo, toda energia necessária para que o credor possa eficazmente exigir e o órgão público possa efetivamente desenvolver a atividade destinada a atingir o resultado prático que, pelo teor do próprio título, se deve considerar conforme o direito.” LIEBMAN, Enrico Tullio. Estudos sobre o Processo Civil Brasileiro. São Paulo: Bestbook, 2004. p. 44. 3. Certeza. “Obrigação certa é aquela definida, aquela que existe suficientemente para fins de execução, aquela que define, suficientemente, os elementos subjetivos e objetivos da obrigação, isto é, quem é o credor, quem é o devedor (...), o que se deve, quanto se deve e quando se deve (...)” (BUENO, Cássio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela executiva. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 104); “O direito do credor ‘é certo quando o título não deixa dúvida em torno de sua existência (...)’ (CARNELUTTI, Francesco. p. 164); “Não está a certeza, portanto, no plano da vontade ulterior das partes, mas na convicção que o órgão judicial tem de formar diante do documento que lhe é exibido pelo credor. (...) A certeza que permite ao juiz expedir o mandado executivo é a resultante do documento judicial ou de outros documentos que a lei equipare à sentença condenatória.” (THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 39 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, v. III. p. 149). ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 127 4. Liquidez. “A liquidez importa expressa determinação do objeto da obrigação.”; “Mas, quanto ao título extrajudicial, ele ou é líquido, e portanto, título; ou não é líquido, e, por isso, escapa ao gabarito de título executivo.” ASSIS, Araken de. Manual da execução. 11 ed. Porto Alegre: RT, 2007. p. 150⁄151. 5. Exigibilidade. Há “exigibilidade, quando o seu pagamento não depende de termo ou condição, nem está sujeito a outras limitações”. (THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 39 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, v. III. p. 149); “Obrigação exigível é aquela que é passível de cumprimento porque não sujeita a nenhuma condição ou termo.” (BUENO, Cássio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela executiva. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 104). 6. “Vale dizer, o título deve necessariamente expressar certeza, liquidez e exigibilidade da obrigação a que visa executar: CERTEZA diz respeito à existência da obrigação; LIQUIDEZ, corresponde à determinação do valor ou da individuação do objeto da obrigação, conforme se trate de obrigação de pagar em dinheiro, de entrega de coisa, de fazer ou não fazer; EXIGIBILIDADE tem o sentido de que a obrigação, que se executa, não depende de termo ou condição, nem está sujeita a outras limitações.” (SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 229. v.3) Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais: I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque; II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas; IV - o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal; V - o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de garantia e aquele garantido por caução; VI - o contrato de seguro de vida em caso de morte; VII - o crédito decorrente de foro e laudêmio; VIII - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio; ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 128 IX - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei; X - o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas; XI - a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei; XII - todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva. § 1o A propositurade qualquer ação relativa a débito constante de título executivo não inibe o credor de promover-lhe a execução. § 2o Os títulos executivos extrajudiciais oriundos de país estrangeiro não dependem de homologação para serem executados. § 3o O título estrangeiro só terá eficácia executiva quando satisfeitos os requisitos de formação exigidos pela lei do lugar de sua celebração e quando o Brasil for indicado como o lugar de cumprimento da obrigação. 1. Ao artigo 784 coube inventariar quais são os documentos a que o legislador atribui força de título executivo extrajudicial, servindo, pois, de elemento necessário e suficiente à promoção da demanda autônoma de execução. 2. O CPC⁄2015, uma vez comparado ao CPC⁄73, alargou o rol de títulos executivos extrajudiciais. O inciso X retrata, pois, significativa novidade. Consoante sabido aos quatro cantos, os condomínios edilícios sobrevivem das contribuições de seus condôminos (ordinárias e extraordinárias). Historicamente, face ao inadimplemento de cota condominial, o credor (o condomínio) necessitava promover ação de cobrança, sendo obrigado, para obter título que amparasse pedido de tutela executiva, a “atravessar” a tortuosa linha de desenvolvimento do processo de conhecimento. 33 O legislador de 2015 optou por inserir o crédito previsto em convenção condominial ou aprovada em assembleia geral, desde que documentada, no rol dos títulos extrajudiciais. Doravante, pois, a obrigação de pagar quantia certa ora exemplificada poderá (porque nada impede que o credor, mesmo possuidor de título extrajudicial, opte pelo processo de conhecimento – art. 785 do CPC⁄2015) ser exigida mediante a propositura de ação autônoma de execução. Tal pleito, face à natureza da obrigação 33 Acerca da expressão e seu conteúdo, vide o Volume I do presente trabalho. ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 129 exequenda, obedecerá o disposto no Capítulo IV, Título II, Livro II da Parte Especial do CPC⁄2015, denominado Da execução por quantia certa. 3. Consoante expressa anotação legal, a propositura de demanda que se oponha a crédito retratado em título executivo extrajudicial não impede a promoção do pleito executivo pelo credor nele apontado. Imagine-se, exemplificativamente, que o devedor, independentemente do fundamento jurídico alegado, pretenda revisar a existência de certa dívida estampada em documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas (art. 784, II do CPC⁄2015). O oferecimento de ação revisional (promovida pelo devedor), não obsta a promoção da execução pelo credor, ainda que esse figure na condição de réu na aludida demanda (ação revisional). 4. A utilização do sistema dos títulos executivos extrajudiciais não é, à evidência, exclusividade pátria. O legislador optou por isentar o titulo executivo extrajudicial estrangeiro de quaisquer expedientes homologatórios, exigindo-lhes, para que entre nós produzam efeitos, tão somente (a) que sua formação atenda aos requisitos exigidos pelo ordenamento jurídico de seu país de origem (o Estado estrangeiro) para a formação de título executivo, bem como (b) que o Brasil tenha sido indicado como lugar para cumprimento da obrigação. Art. 785. A existência de título executivo extrajudicial não impede a parte de optar pelo processo de conhecimento, a fim de obter título executivo judicial. 1. O teor do artigo sob comento vai de encontro à entendimento jurisprudencial e doutrinário há muito consolidado entre nós. Existente o título extrajudicial, a falta de interesse de agir era, rotineiramente, declarada pelos tribunais, sob a alegação que o resultado da demanda proposta (o processo de conhecimento), na melhor das hipóteses alcançaria ao autor vitorioso um título executivo, algo que, embora extrajudicial, o mesmo já possuíra. O art. 785 fulmina, pois, a aludida tese, permitindo ao titular de título extrajudicial, querendo, promover pleito cognitivo, no afã de obter título executivo judicial, situação que o habilitará a fazer uso do cumprimento de sentença. Seção II Da Exigibilidade da Obrigação Art. 786. A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível consubstanciada em título executivo. ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 130 Parágrafo único. A necessidade de simples operações aritméticas para apurar o crédito exequendo não retira a liquidez da obrigação constante do título. 1. Para além de reforçar a lição de que o título executivo é elemento necessário (e suficiente) a legitimar pedido de tutela executiva, o artigo sob comento expurga qualquer dúvida acerca da liquidez da obrigação que dependa de mera operação aritmética para a apuração do quantum debeatur. Art. 787. Se o devedor não for obrigado a satisfazer sua prestação senão mediante a contraprestação do credor, este deverá provar que a adimpliu ao requerer a execução, sob pena de extinção do processo. Parágrafo único. O executado poderá eximir-se da obrigação, depositando em juízo a prestação ou a coisa, caso em que o juiz não permitirá que o credor a receba sem cumprir a contraprestação que lhe tocar. 1. A petição inicial do processo de execução de título extrajudicial possui, dependendo da natureza da obrigação executada (pagar quantia certa, entregar coisa, fazer ou não fazer) requisitos próprios a serem observados. A exigência prescrita pelo artigo sob comento, sem prejuízo da lição supra, diz com a reciprocidade de obrigações, ou seja, versa sobre casos em que, face à peculiaridade do vínculo que subjaz o objeto da execução, só se pode exigir do executado o adimplemento da obrigação assumida após a satisfação de certa contraprestação. Nesses casos, pois, ampliam-se os elementos indispensáveis ao deferimento do petitório exordial. O exequente deve provar, já em sede inicial, que satisfez a prestação a que se obrigou. Não o fazendo de plano, a demanda executiva deve ser extinta, não sem antes, em homenagem ao modelo constitucional do processo civil pátrio e aos vetores do CPC⁄2015, facultar ao exequente a produção da prova que lhe é exigida por lei. 2. Quando o executado, ciente da demanda proposta em seu desfavor, cumprir a obrigação que serve de fundamento à execução, a satisfação do exequente deverá, presente a a peculiaridade da relação de direito material apontada no caput, restar sobrestada até que o mesmo (o próprio exequente) comprove nos autos o adimplemento da prestação a que se obrigou a cumprir paralelamente a que figura como objeto da execução. Art. 788. O credor não poderá iniciar a execução ou nela prosseguir se o devedor cumprir a obrigação, mas poderá recusar o recebimento da ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 131 prestação se ela não corresponder ao direito ou à obrigação estabelecidos no título executivo, caso em que poderá requerer a execução forçada, ressalvado ao devedor o direito de embargá-la. 1. Consoante sabido aos quatro cantos, o direito material, de um lado, confere a todo e qualquer devedor o direito de satisfazer a obrigação assumida, visando a dela libertar-se. De outro, garante a todo e qualquer “credor” o direito à tutela específica da obrigação. O teor do art. 788 condensa, pois, ambas as posições jurídicas. 2. Uma vez exercido, pelo executado, o direito ao “pagamento” (quer dizer: satisfaça ele a obrigação que lhe toca), não pode o “credor” promover ou prosseguir na execução já em andamento. Mas, para que o comando sob comento tenha eficácia, é indispensável que o executado cumpra a obrigação assumidatal e qual prevista no título, satisfazendo, em última análise, o direito do credor à tutela específica da obrigação. Fora daí, pois, é legítimo ao credor⁄exequente dar seguimento ao pleito executivo. CAPÍTULO V DA RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei. 1. Princípio da responsabilidade patrimonial. A responsabilidade civil encontra limite no patrimônio do devedor ou do responsável pela satisfação da obrigação. Segundo expresso texto de lei (vide art. 789 do CPC⁄2015), o devedor responde com todos os seus bens, “presentes e futuros”, por suas obrigações, ressalvados as restrições legais. Apenas episodicamente é que o direito pátrio admite a constrição pessoal (arts. 911 e 528, ambos do CPC⁄2015 – Execução de Alimentos). 2. “Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor.” Art. 391 da Lei 10.406⁄02. 3. Acerca das restrições estabelecidas em lei, vide art. 832⁄833 do CPC⁄2015, bem como o teor da Lei 8.009⁄90. 4. “Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei. Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 137 TÍTULO II DAS DIVERSAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 797. Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o concurso universal, realiza-se a execução no interesse do exequente que adquire, pela penhora, o direito de preferência sobre os bens penhorados. Parágrafo único. Recaindo mais de uma penhora sobre o mesmo bem, cada exequente conservará o seu título de preferência. 1. O artigo 797 confirma velha máxima inerente ao pedido de tutela executiva (incidente ou autônoma): a execução, por definição, serve ao “credor”. 2. Consoante anotado alhures, produz efeitos entre nós o princípio da responsabilidade patrimonial (art. 789 do CPC⁄2015). O devedor responde pelo cumprimento de suas obrigações com seus bens presentes e futuros. Coube ao instituto processual denominado penhora (adiante examinado microscopicamente – Seção III, Capítulo IV, Título II, Livro II da Parte Especial do CPC⁄2015) a tarefa de individualizar e afetar, in concreto, o patrimônio que servirá à satisfação da execução. O legislador não deixa espaço para dúvidas: com a penhora, o exequente adquire o direito de preferência sobre os bens penhorados. 3. “A penhora é o ato executivo que afeta determinado bem à execução, permitindo sua ulterior expropriação, e torna os atos de disposição do seu proprietário ineficazes em face do processo.” ASSIS, Araken de. Manual da execução. 11 ed. São Paulo: RT, 2007. p. 592. 4. É intuitivo, pois, que determinado bem da vida possa (considerada sua expressão econômica) figurar como objeto de potencial satisfação de mais de uma execução (logo, poderá ser penhorado em mais de um caso concreto). Daí decorre, pois, a necessidade legislativa de esclarecer a existência de espécie de “ordem” de penhora. Quer dizer: a cada penhora realizada, o requerente (da penhora) passa a ocupar uma posição na aludida “ordem”, de modo que, uma vez satisfeito o crédito daquele que o antecede na lista, o bem da vida penhorado, ou o produto de sua alienação (no que sobejar), por exemplo, servirá à satisfação do próximo credor (na ordem estabelecida pelas várias penhoras). ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 138 5. A primeira parte do art. 797, cominada com o teor do art. 1.052, ambos do CPC⁄2015, mantiveram vivo entre nós o CPC⁄73. Consoante expressa previsão legal, até “a edição de lei específica, as execuções contra devedor insolvente, em curso ou que venham a ser propostas, permanecem reguladas pelo Livro II, Título IV, da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973.” Art. 798. Ao propor a execução, incumbe ao exequente: I - instruir a petição inicial com: a) o título executivo extrajudicial; b) o demonstrativo do débito atualizado até a data de propositura da ação, quando se tratar de execução por quantia certa; c) a prova de que se verificou a condição ou ocorreu o termo, se for o caso; d) a prova, se for o caso, de que adimpliu a contraprestação que lhe corresponde ou que lhe assegura o cumprimento, se o executado não for obrigado a satisfazer a sua prestação senão mediante a contraprestação do exequente; II - indicar: a) a espécie de execução de sua preferência, quando por mais de um modo puder ser realizada; b) os nomes completos do exequente e do executado e seus números de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica; c) os bens suscetíveis de penhora, sempre que possível. Parágrafo único. O demonstrativo do débito deverá conter: I - o índice de correção monetária adotado; II - a taxa de juros aplicada; III - os termos inicial e final de incidência do índice de correção monetária e da taxa de juros utilizados; IV - a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso; V - a especificação de desconto obrigatório realizado. 1. Ao art. 798 coube, dentre outros, inventariar os elementos indispensáveis à petição inicial da execução autônoma. O exequente deve, independentemente da espécie de obrigação executada (pagar quantia certa, entregar coisa, fazer ou não fazer), instruir seu petitório com o título executivo (no caso, extrajudicial) em que se funda a ação, uma vez que o aludido documento representa, consoante dito alhures, ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 139 elemento necessário e suficiente a autorizar a tutela jurisdicional sob comento. 2. Em se tratando de execução cuja obrigação diga com pagamento de quantia certa, o exequente deverá instruir a petição inicial, pena de ter de emendá-la, com o demonstrativo atualizado do débito (planilha de cálculo, segundo a linguagem forense) até a data da propositura da demanda. O demonstrativo apontará, obrigatoriamente, (a) o índice de correção monetária adotado; (b) a taxa de juros aplicada; (c) os termos inicial e final de incidência do índice de correção monetária e da taxa de juros utilizados; (d) a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso, bem como; (e) a especificação de desconto obrigatório realizado. Inteligência do art. 798, I, b e parágrafo único do CPC⁄2015. 3. Dependendo a exigibilidade do crédito da verificação de condição (acontecimento futuro e incerto) ou termo (acontecimento futuro e certo), incumbe ao exequente, já em sede exordial, comprová-los. 4. Nos casos em que o executado apenas deva cumprir a obrigação objeto da execução mediante contraprestação a cargo do exequente, deverá este, ao tempo da propositura da ação, comprovar que a satisfez. 5. Incumbe ao exequente, outrossim, sem prejuízo do exposto pelo art. 799, indicar (I) a espécie de execução eleita, quando a satisfação de seu crédito puder se realizar de mais de uma maneira (exemplo: execução de alimentos pelo rito da prisão ou da expropriação?); (II) para além de qualificar lato sensu as partes, informar, estando ao seu alcance, o número do CPF ou do CNPJ de todos os envolvidos; (III) quais são os bens, segundo sua ciência, sujeitos à penhora. Art. 799. Incumbe ainda ao exequente: I - requerer a intimação do credor pignoratício, hipotecário,anticrético ou fiduciário, quando a penhora recair sobre bens gravados por penhor, hipoteca, anticrese ou alienação fiduciária; II - requerer a intimação do titular de usufruto, uso ou habitação, quando a penhora recair sobre bem gravado por usufruto, uso ou habitação; III - requerer a intimação do promitente comprador, quando a penhora recair sobre bem em relação ao qual haja promessa de compra e venda registrada; IV - requerer a intimação do promitente vendedor, quando a penhora recair sobre direito aquisitivo derivado de promessa de compra e venda registrada; ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 140 V - requerer a intimação do superficiário, enfiteuta ou concessionário, em caso de direito de superfície, enfiteuse, concessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso, quando a penhora recair sobre imóvel submetido ao regime do direito de superfície, enfiteuse ou concessão; VI - requerer a intimação do proprietário de terreno com regime de direito de superfície, enfiteuse, concessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso, quando a penhora recair sobre direitos do superficiário, do enfiteuta ou do concessionário; VII - requerer a intimação da sociedade, no caso de penhora de quota social ou de ação de sociedade anônima fechada, para o fim previsto no art. 876, § 7o; VIII - pleitear, se for o caso, medidas urgentes; IX - proceder à averbação em registro público do ato de propositura da execução e dos atos de constrição realizados, para conhecimento de terceiros. Art. 800. Nas obrigações alternativas, quando a escolha couber ao devedor, esse será citado para exercer a opção e realizar a prestação dentro de 10 (dez) dias, se outro prazo não lhe foi determinado em lei ou em contrato. § 1o Devolver-se-á ao credor a opção, se o devedor não a exercer no prazo determinado. § 2o A escolha será indicada na petição inicial da execução quando couber ao credor exercê-la. 1. Obrigação alternativa. Há, nesses casos, vínculo único entre os sujeitos da obrigação sub judice. A alternatividade a que alude o artigo sob comento diz respeito à prestação a ser realizada. Segundo o ordenamento material, “se outra coisa não se estipulou”, a escolha do bem da vida apto a libertar o obrigado, cabe ao devedor (Art. 252 do CC/02). Assim sendo, realizando o devedor ao menos uma das prestações pactuadas (distintas e independentes entre si), considera-se satisfeito o direito do credor. 2. Exemplo de obrigação alternativa: João (empresário) contrata os serviços de Mauro (empreiteiro) para construir sua nova residência. Mauro, para além de erguê-la, compromete-se, ao cabo, ou (1) a providenciar a colocação do piso ou (2) a providenciar sua pintura interna. Construída a moradia, Mauro (contratado) dá por finalizado o serviço (e cumprida sua obrigação), sem, contudo, realizar quaisquer das prestações complementares acima referidas. João, diante da resistência de Mauro, face à existência de título extrajudicial (por exemplo, instrumento privado que retrate obrigação certa, líquida e exigível, ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 141 firmado pelos contratantes e duas testemunhas), executa-o. Tocando a escolha da prestação a Mauro, o julgador, ao deferir a petição inicial, determinará a observância do teor do art. 800. 3. O CPC⁄2015 mantém incólume, também no âmbito da tutela executiva autônoma, o direito de escolha do devedor, quando existente. Em se tratando de título executivo extrajudicial cuja origem seja a assunção (e descumprimento) de obrigação alternativa, o executado, quando a ele tocar a individualização da prestação, será citado e, ato contínuo, intimado (a) para “exercer a opção” (quer dizer: gozar do direito de escolha) e (b), em 10 dias, satisfazer o interesse do exequente, “se outro prazo não lhe foi determinado em lei ou em contrato.” O prazo fixado em lei específica ou convencionado entre os contratantes deve preponderar em relação ao decêndio previsto pelo Código. 4. Silente o executado, ao exequente será oportunizado “escolher”, observadas as prestações pactuadas, qual delas pretende ver concretizada. Art. 801. Verificando que a petição inicial está incompleta ou que não está acompanhada dos documentos indispensáveis à propositura da execução, o juiz determinará que o exequente a corrija, no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de indeferimento. 1. Toda e qualquer petição inicial encontra-se sujeita a denominada atividade saneadora inicial, quer dizer, a juízo de deferimento. Como visto alhures (comentários ao art. 319 e seguintes), visando a “salvar” o processo, o Código determina que o julgador, em sede de atividade saneadora inicial, deparando-se com “defeitos” ou “irregularidades” capazes de dificultar o enfrentamento da causa, determine a intimação da parte para saná-los, quando sanáveis. Em sede de tutela executiva a exigência não é diferente. Constatada a incompletude do petitório exordial ou estar ele desacompanhado dos documentos indispensáveis à regular tramitação do feito executivo (por exemplo, inexistência de planilha de cálculo atualizado nas execuções de quantia; a falta do próprio título em se funda a execução, etc.), o juiz determinará a intimação do exequente para, no prazo da lei, diligenciar na correção dos vícios constatados, pena de extinção da demanda. Art. 802. Na execução, o despacho que ordena a citação, desde que realizada em observância ao disposto no § 2o do art. 240, interrompe a prescrição, ainda que proferido por juízo incompetente. Parágrafo único. A interrupção da prescrição retroagirá à data de propositura da ação. ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 142 1. Citação válida. Efeitos. Ainda quando ordenada por juízo incompetente, a citação válida (a) serve ao reconhecimento de litispendência, (b) torna litigiosa a coisa e (c) constitui em mora o devedor. A interrupção da prescrição, por sua vez, dá-se por ocasião do pronunciamento judicial que ordena a realização do ato citatório, considerando-se ter o autor abandonado seu estado de inércia à data da propositura da demanda. Art. 803. É nula a execução se: I - o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida e exigível; II - o executado não for regularmente citado; III - for instaurada antes de se verificar a condição ou de ocorrer o termo. Parágrafo único. A nulidade de que cuida este artigo será pronunciada pelo juiz, de ofício ou a requerimento da parte, independentemente de embargos à execução. 1. Ao art. 803 coube inventariar as causas de nulidade do processo de execução. O sistema de nulidades processuais civis encontra-se fundado nos pilares, a saber: (a) princípio anti-torpeza, (b) da finalidade, (c) anti- prejuízo e (d) do melhor aproveitamento dos atos processuais. Vide, sobre o tema, comentários aos artigos 276⁄283. 2. O teor do inciso I desnuda, em última análise, a adoção, pelo ordenamento pátrio, do princípio do título. Nulla executio sine titulo. Consoante apontado alhures, sem prejuízo do atual debate doutrinário (fundado na redação atribuída à parte final do art. 771, caput) 34 , encontra-se mantido entre nós, à luz do CPC⁄2015, o princípio do título (elemento necessário e suficiente a toda e qualquer execução). Todas as possibilidades ensejadoras de legítima tutela executiva encontram amparo, pois, na certeza, na liquidez e na exigibilidade de determinada posição jurídica. A inexistência de título fere “de morte” o pleito executivo. 3. O inciso II. Em se tratando de demanda autônoma, a regular citação do executadoé conditio sine qua non para o legítimo prosseguimento da demanda executiva fundada em título extrajudicial. Não há falar em “citação” no âmbito do cumprimento de sentença, instituto desenhado para atender as peculiaridades inerentes à satisfação dos títulos judiciais. 34 “O CPC⁄2015 admite execução fundada em título executivo, ou não.” MEDINA, José Miguel Garcia. Direito Processual Civil Moderno. São Paulo: RT, 2015. p. 915. ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 143 4. Face à inexigibilidade da obrigação, é nula, pois, a execução promovida antes de verificada a condição ou o termo a que estiver sujeita a pretensão do exequente. O artigo 798, alínea c, inclusive, insere “a prova de que verificou a condição ou ocorreu o termo” dentre os elementos a serem comprovados pelo exequente, sendo o caso. 5. Exceção de pré-executividade. Nem uma novidade forense, a rigor, traz o conteúdo do parágrafo único do art. 803. De longa data, é possível afirmar, doutrina e jurisprudência já haviam consolidado os pilares sobre os quais se funda a denominada exceção de pré-executividade. “Por se tratar de matérias de ordem pública, não sujeitas, portanto, à preclusão, as situações inseridas no art. 803 podem ser conhecidas a qualquer tempo, independentemente do manejo de embargos à execução. Tal dispositivo, em verdade, positiva um instituto muito utilizado na prática forense, mas que, até então, tinha respaldo apenas doutrinário e jurisprudencial. Trata-se da exceção ou objeção de pré-executividade, cabível para fins de discussão de matérias cognoscíveis de ofício (pressupostos processuais e vícios objetivos do título, por exemplo) e que não demandem dilação probatória.” 35 6. “AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. CADERNETA DE POUPANÇA. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. (...). AÇÃO COLETIVA. INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (IDEC). EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. INADEQUAÇÃO. REJEIÇÃO. Exceção de pré-executividade: esse incidente é admitido em situações excepcionais, quando há matéria de ordem pública sobre a qual o juiz pode se pronunciar de ofício, sem desafiar a prévia segurança do juízo, tais como condições da ação e pressupostos processuais, sendo necessária a existência de prova pré-constituída, pois é impossível a dilação probatória. Sendo alegado excesso de execução, por equívoco no termo inicial de fluência dos juros moratórios, se mostra equivocado o remédio jurídico utilizado (...). (Agravo de Instrumento Nº 70061872867, Primeira Câmara Especial Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Alex Gonzalez Custodio, Julgado em 01/02/2017). Art. 804. A alienação de bem gravado por penhor, hipoteca ou anticrese será ineficaz em relação ao credor pignoratício, hipotecário ou anticrético não intimado. § 1o A alienação de bem objeto de promessa de compra e venda ou de cessão registrada será ineficaz em relação ao promitente comprador ou ao cessionário não intimado. 35 DONIZETTI, Elpídio. Novo Código de Processo Civil Comentado. São Paulo: Atlas, 2015. p. 602⁄603. ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 144 § 2o A alienação de bem sobre o qual tenha sido instituído direito de superfície, seja do solo, da plantação ou da construção, será ineficaz em relação ao concedente ou ao concessionário não intimado. § 3o A alienação de direito aquisitivo de bem objeto de promessa de venda, de promessa de cessão ou de alienação fiduciária será ineficaz em relação ao promitente vendedor, ao promitente cedente ou ao proprietário fiduciário não intimado. § 4o A alienação de imóvel sobre o qual tenha sido instituída enfiteuse, concessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso será ineficaz em relação ao enfiteuta ou ao concessionário não intimado. § 5o A alienação de direitos do enfiteuta, do concessionário de direito real de uso ou do concessionário de uso especial para fins de moradia será ineficaz em relação ao proprietário do respectivo imóvel não intimado. § 6o A alienação de bem sobre o qual tenha sido instituído usufruto, uso ou habitação será ineficaz em relação ao titular desses direitos reais não intimado. Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado. Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medida executiva mais gravosa incumbe indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já determinados. 1. Princípio da menor gravosidade para o executado. A despeito de servir ao exequente, a tutela executiva não tem por objetivo, como se sabe, o “massacre” do devedor. Assim sendo, o CPC⁄2015 preconiza, “em alto e bom som”, que, quando “por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado.” O legislador, embora atento ao princípio em tela, inovou em relação ao CPC⁄73 (que, também, já o retratava em seu art. 620), impondo ao executado que o alegar a indicação de “outros meios mais eficazes e menos onerosos” capazes de tornar efetiva a tutela executiva, “pena de manutenção dos atos executivos já determinados.” ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 154 CAPÍTULO IV DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA Seção I Disposições Gerais Art. 824. A execução por quantia certa realiza-se pela expropriação de bens do executado, ressalvadas as execuções especiais. 1. O capítulo sob comento disciplina a execução dos títulos extrajudiciais cujo a obrigação nele estampada diga com o pagamento de quantia certa; possui, outrossim, aplicação (subsidiária) ao cumprimento de sentença fundado em obrigação de idêntica natureza, bem como, as demais espécies de execução quando, independentemente de sua razão ser, a tutela específica da obrigação não for alcançada ao exequente, tendo o mesmo direito ao valor da coisa ou a correspondência econômica da obrigação executada. 2. Ao asseverar que a execução por quantia certa realiza-se pela expropriação dos bens do executado (por vezes devedor; por vezes do responsável), o legislador, grosso modo, disciplina como ocorrerá o avanço estatal sobre o patrimônio do demandado, no afã de ver satisfeita a obrigação objeto do pedido de tutela executiva. Art. 825. A expropriação consiste em: I - adjudicação; II - alienação; III - apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros bens. 1. Ao artigo 825 coube definir os meios expropriatórios propriamente ditos. A satisfação do exequente, ausente o pagamento espontâneo, dar-se pela (a) adjudicação, (b) pelo produto da alienação de certo bem da vida ou (c) pela apropriação de frutos e rendimentos oriundos de bens pertencentes ao demandado. Art. 826. Antes de adjudicados ou alienados os bens, o executado pode, a todo tempo, remir a execução, pagando ou consignando a importância atualizada da dívida, acrescida de juros, custas e honorários advocatícios. 1. Remição. O devedor (em sentido largo) tem o direito de libertar-se das obrigações que sobre ele recaiam. Consoante expressa previsão legal, antes de adjudicados ou alienados os bens sujeitos à execução, pode o ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 155 executado exercer o direito acima alegado, remindo a execução. Quer dizer: antes de efetivamente expropriado o patrimônio que servirá à satisfação da obrigação exequenda,o demandado tem o direito de satisfazê-la, efetuando o pagamento ou consignando o montante atualizado da dívida. 2. O executado deve, ao remir a execução, observar os acréscimos (diretos e indiretos) oriundos de sua mora. O principal deve ser atualizado (até a data do efetivo pagamento), acrescido de juros legais, custas processuais e honorários advocatícios, pena de não “liberação” do executado, e dos bens sujeitos à execução. Seção II Da Citação do Devedor e do Arresto Art. 827. Ao despachar a inicial, o juiz fixará, de plano, os honorários advocatícios de dez por cento, a serem pagos pelo executado. § 1o No caso de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias, o valor dos honorários advocatícios será reduzido pela metade. § 2o O valor dos honorários poderá ser elevado até vinte por cento, quando rejeitados os embargos à execução, podendo a majoração, caso não opostos os embargos, ocorrer ao final do procedimento executivo, levando-se em conta o trabalho realizado pelo advogado do exequente. 1. Ao deferir o petitório exordial (o que se dá, reitere-se, mediante a realização de atividade saneadora inicial), o julgador, incontinenti, fixará honorários advocatícios, que serão suportados pelo executado, observando, pois, o percentual mínimo de 10% do valor executado. Vale reprisar: os honorários a que alude o Código pertencem ao advogado do exequente, não ao exequente (art. 85, §14). Trata-se, em última análise, de remuneração ao serviço do profissional jurídico que patrocina a demanda, quando ao executado assistir razão. 2. “Art. 85 (...) § 14. Os honorários constituem direito do advogado e têm natureza alimentar, com os mesmos privilégios dos créditos oriundos da legislação do trabalho, sendo vedada a compensação em caso de sucumbência parcial.” Sepultando debate outrora suscitado, o CPC⁄2015, em “alto e bom tom”, visando a tutelar à dignidade da advocacia, prescreve, primeiro, pertencer ao advogado (e não à parte vitoriosa) os honorários sucumbenciais; segundo, que tal verba possui natureza alimentar (e remuneratória do trabalho desenvolvido pelo advogado) e goza, sobretudo, dos (idênticos) privilégios atribuídos aos créditos oriundos da legislação laboral; terceiro, que são insuscetíveis de ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 156 compensação, sob quaisquer hipóteses, em caso de sucumbência parcial. Nada obstante tal lição, o legislador segue a realizar, como se diz por aí, “gentileza com o chapéu alheio”, uma vez que o §1o do artigo sob comento prevê a redução da verba honorária (de natureza alimentar) em 50% do valor previamente fixado para o caso de pagamento “espontâneo” do todo pelo executado. 3. O Código prescreve, outrossim, os critérios a serem observados para a majoração da verba honorária, pautado, ao que tudo indica, no “maior” ou “menor” trabalho do advogado. A dicção legal não é das melhores. Utiliza-se o legislador da expressão “poderá” dando margem à interpretação no sentido de tratar-se a majoração honorária de faculdade atribuída ao julgador, quando, na verdade, o “poderá” diz com a limitação percentual da condenação (havendo “mais” trabalho a majoração é devida, podendo, pois, alcançar até 20% do valor executado. Segundo o Código o percentual máximo deve ser observado quando “rejeitados os embargos à execução” ou, quando não opostos, a atuação do patrono, pelas “dificuldades” encontradas até a efetiva satisfação do crédito, denunciar o seu merecimento. Nesse caso a majoração será confirmada ao cabo procedimento executivo. Art. 828. O exequente poderá obter certidão de que a execução foi admitida pelo juiz, com identificação das partes e do valor da causa, para fins de averbação no registro de imóveis, de veículos ou de outros bens sujeitos a penhora, arresto ou indisponibilidade. § 1o No prazo de 10 (dez) dias de sua concretização, o exequente deverá comunicar ao juízo as averbações efetivadas. § 2o Formalizada penhora sobre bens suficientes para cobrir o valor da dívida, o exequente providenciará, no prazo de 10 (dez) dias, o cancelamento das averbações relativas àqueles não penhorados. § 3o O juiz determinará o cancelamento das averbações, de ofício ou a requerimento, caso o exequente não o faça no prazo. § 4o Presume-se em fraude à execução a alienação ou a oneração de bens efetuada após a averbação. § 5o O exequente que promover averbação manifestamente indevida ou não cancelar as averbações nos termos do § 2o indenizará a parte contrária, processando-se o incidente em autos apartados. 1. Deferida a inicial, é lícito ao exequente requerer a expedição de certidão hábil a ser averbada perante órgãos registrais. A ideia é (a) dar ciência a terceiros acerca da existência da dívida, evitando-se, por consequência, aquisições de boa-fé dos bens que possam servir à satisfação da execução (Art. 828, “§ 4o Presume-se em fraude à execução a alienação ou a oneração de bens efetuada após a ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 157 averbação”), bem como, (b) constranger o executado, na melhor acepção da palavra, a satisfazer a obrigação objeto da execução o quanto antes. 2. Incumbe ao exequente, sendo o caso, no prazo de 10 dias a contar de sua concretização, informar ao juízo competente as averbações efetivamente realizadas perante os órgãos registrais. Penhorados bens suficientes para satisfazer a execução à integralidade (principal, atualização, juros, custas e honorários – art. 831), é tarefa do exequente, outrossim, observado o decêndio subsequente à penhora, promover o cancelamento das averbações relativas aos bens não constritos. O juiz, em caso de inércia do exequente, determinará o aludido cancelamento, de ofício ou a requerimento. O exequente que promover averbação manifestamente indevida ou deixar de cancelar as averbações indenizará a parte contrária, processando-se o incidente em autos apartados. Art. 829. O executado será citado para pagar a dívida no prazo de 3 (três) dias, contado da citação. § 1o Do mandado de citação constarão, também, a ordem de penhora e a avaliação a serem cumpridas pelo oficial de justiça tão logo verificado o não pagamento no prazo assinalado, de tudo lavrando-se auto, com intimação do executado. § 2o A penhora recairá sobre os bens indicados pelo exequente, salvo se outros forem indicados pelo executado e aceitos pelo juiz, mediante demonstração de que a constrição proposta lhe será menos onerosa e não trará prejuízo ao exequente. 1. O executado será citado e, ato contínuo, intimado para satisfazer a obrigação de pagar quantia certa no prazo de 03 dias. O CPC⁄2015, pois, inova em relação ao dies a quo para o cômputo do prazo legal, não deixando dúvidas: doravante, o prazo inicia-se no primeiro dia útil subsequente a citação válida. A regra da “juntada” fora, ao menos no cenário em tela, abandonada pelo legislador de 2015. 2. O mandado judicial conterá, igualmente, ordem de penhora e avaliação. Tais atos, pois, serão cumpridos pelo meirinho tão logo escoado o prazo para pagamento “espontâneo”. 3. Consoante demonstrado alhures, sendo possível, o exequente indicará os bens sujeitos à penhora. Eis o que preconiza o teor do artigo 798, inciso II, c. Assim sendo, excetuados os casos em que alegado e provado, pelo executado, e, oportunamente deferido pelo julgador (motivado não só pelo princípio da menor onerosidade, mas, certo da inexistência de prejuízo ao exequente), a penhora deve recair sobre os bens apontados pelo exequente. ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 158 Art. 830. Se o oficial de justiça não encontrar o executado, arrestar-lhe-á tantos bens quantos bastem para garantir a execução. § 1o Nos 10 (dez) dias seguintes à efetivação do arresto, o oficial de justiça procurará o executado 2 (duas) vezes em dias distintos e, havendo suspeita de ocultação, realizará a citação com hora certa, certificando pormenorizadamente o ocorrido. § 2o Incumbe ao exequente requerer a citação por edital, uma vez frustradas a pessoal e a com hora certa. § 3o Aperfeiçoada a citação e transcorrido o prazo de pagamento, o arresto converter-se-á em penhora, independentemente de termo. 1. Pré-penhora. O melhor enfrentamento do teor do art. 830 exige, pois, compreensão apriorística acerca da (in)adequada nomenclatura utilizada pelo legislador. “Embora designe a lei de ‘arresto’ à constrição, a oportuna providência semelha antes com à penhora antecipada ou pré-penhora, regulada no direito alemão (...), ressalva feita a algumas diferenças procedimentais. (...) Em virtude da circunstância de a pré- penhora pressupor a ausência do executado, parte relevante da doutrina brasileira conferiu, no direito anterior, natureza cautelar à medida contemplada no art. 830. Ora, a pré-penhora outorga ao credor o direito de preferência (art. 797, caput, parte final) no instante mesmo em que se efetiva o ato. Esta eficácia, intrínseca à constrição dos bens do executado e, no caso, antecipada à própria conversão em penhora, operada nos termos do art. 830, §3o, é elemento satisfativo estranho ao verdadeiro arresto. O autêntico arresto cautelar não se transmuda automaticamente em penhora, ao contrário da pré-penhora, dependendo da realização de outro ato para essa finalidade. (...) Em realidade, o art. 830 prevê a consumação de ato de natureza executiva, caracterizado pela inversão da ordem natural subsumida no art. 829, caput, porque coloca antes da citação do devedor a apreensão de seus bens. ” ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2 ed (e-book). São Paulo: RT, 2016. p. 632. 2. Não localizado o executado, o oficial de justiça, antes mesmo proceder em sua citação, “arrestar-lhe-á tantos bens quantos bastem para garantir a execução.” Nesses casos (de desencontro entre o oficial e o demandado), o meirinho deve, no decêndio subsequente à pré- penhora (ou sua tentativa), procurar o executado em pelo menos duas ocasiões diversas, em “dias distintos” expressa o Código. A suspeita de ocultação (do executado) autoriza, pois, a utilização do expediente citatório por hora certa. 3. “O §1o, em consonância com o entendimento construído pela doutrina e pela jurisprudência, passa a admitir a realização de citação ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 159 por hora certa do devedor⁄executado. Se a citação por hora certa não lograr êxito, deverá o exequente requerer a citação por edital (...) para que, afeiçoada a citação ficta, inicie-se a contagem do prazo de 3 dias para pagamento (...).” DONIZETTI, Elpídio. Novo Código de Processo Civil Comentado. São Paulo: Atlas, 2015. p. 618. 4. Da conversão da pré-penhora em penhora (art. 830, § 3o), deve o executado, necessariamente, ser intimado (art. 841), pena de violação ao devido processo de direito. ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 159 para pagamento (...).” DONIZETTI, Elpídio. Novo Código de Processo Civil Comentado. São Paulo: Atlas, 2015. p. 618. 4. Da conversão da pré-penhora em penhora (art. 830, § 3o), deve o executado, necessariamente, ser intimado (art. 841), pena de violação ao devido processo de direito. Seção III Da Penhora, do Depósito e da Avaliação Subseção I Do Objeto da Penhora Art. 831. A penhora deverá recair sobre tantos bens quantos bastem para o pagamento do principal atualizado, dos juros, das custas e dos honorários advocatícios. 1. No sistema expropriatório a penhora exerce papel dos mais importantes, uma vez que a ela cumpre o mister de individualizar o patrimônio que servirá, sendo necessário, a satisfação da obrigação objeto da execução. Ao art. 831 coube delimitar sua extensão: recaíra, pois, sobre tantos bens quantos bastem para a satisfação do todo devido, podendo alcançar diversos bens. Art. 832. Não estão sujeitos à execução os bens que a lei considera impenhoráveis ou inalienáveis. 1. O legislador, não raro atento à dignidade da pessoa humana (elemento estruturante do Estado brasileiro), realiza um recorte no que tange à operacionalização da responsabilidade patrimonial do executado. E o faz, como é intuitivo, mediante o impedimento de que certos bens da vida sejam alcançados pela penhora. 2. Consoante abaixo examinado, há casos, porém, em que não se pode, ao menos diretamente, atribuir a impenhorabilidade dos bens protegidos por lei à dignidade humana, uma vez que proteção jurídica, inclusive, apenas pode ser suscitada por pessoa jurídica. É o caso, exemplificativamente, das previsões contidas nos incisos IX e XI, do artigo 833. 3. A impenhorabilidade dos bens depende, por definição, de previsão expressa de lei. Inteligência do art. 832 do CPC⁄2015. Art. 833. São impenhoráveis: ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 160 I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução; II - os móveis, os pertences e as utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou os que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida; III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor; IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2o; V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício da profissão do executado; VI - o seguro de vida; VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas; VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família; IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social; X - a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários-mínimos; XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos por partido político, nos termos da lei; XII - os créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime de incorporação imobiliária, vinculados à execução da obra. § 1o A impenhorabilidade não é oponível à execução de dívida relativa ao próprio bem, inclusive àquela contraída para sua aquisição. § 2o O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de penhora para pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua origem, bem como às importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais, devendo a constrição observar o disposto no art. 528, § 8o, e no art. 529, § 3o. § 3o Incluem-se na impenhorabilidade prevista no inciso V do caput os equipamentos, os implementos e as máquinas agrícolas pertencentes a pessoa física ou a empresa individual produtora rural, exceto quando tais bens tenham sido objeto de financiamento e estejam vinculados em ARTUR TORRES Versão Digital “1.0” CPC passado à limpo: procedimentos especiais, processo de execução e o processo nos tribunais. Volume II. 161 garantia a negócio jurídico ou quando respondam por dívida
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