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FBEUD Resumo das Obras Completas LIVRARIA ATHENEU EDIÇÕES ATHENEU SÉRIE PSIQUIATRIA, PSICOLOGIA, PSICANÁLISE ANDRADE ANDRADE ARAUJO LEITÃO ASTRUP BAUNT BICKERSTAFF DENBER FENICHEL FREUD GRUNSPUN GRUNSPUN GRUNSPUN HEBB JASPERS JUNG KNOBEL KRINSKY LA PORTA LEME LOPES LIEF AI ACHADO AIALDONADO/ CANELLA MANHÃES MATHES MUNJACK PERESTRELLO SALVADOR SHADERS SIECUS SPOERRI Manual de Hifmose Médica e Odontológica-Texto Básico Parapsicologia- Panorama Atual das Funções PSJ Paralisia Cerellral-Diagnóstico, Terapia, Reabilitação Psiquiatria Pavloviana-A Rejlexologia Atual na Prática Médica O Médico, seu Paciente e a Doença Exame Neurológico na Prática Médica Compêndio de Psicofarmacologia Clínica Teoria Psicanalítica das Neuroses Resumo das Ollras Completas Distúrbios Neuróticos da Criança Distúrbios Psiquiátricos da Criança Distúrbios Psicossomáticos da Criança Psicologia (2 vols.) Psicopatologia Geral (2 vols.) Resumo das Ollras Completas A Adolescência e a Família Atual-Visão Psicanalítica Defu:iência Mental Estudo Psicanalítico dos Rituais Afro-Brasileiros O Delírio-Perspectivas e Tratamento Sexualidade Humana-Orientação Médica e Psicológica Atual N euroanatomia Funcional Relação Médico-Cliente em Ginecologia e Obstetrícia Psicologia da Mulher Epilepsia Guia e Tratamento Médico-Psicológico dos Problemas Sexuais A Medicina da Pessoa Curso de Psicopatologia Manual de Terapêutica Psiquiátrica Cadernos de Educação Sexual Compêndio de Psiquiatria Sigmund Freud Resumo das Obras Completas COORDENAÇÃO EDITORIAL Carrie Lee Rothgeb National Clearinghouse for Mental Health Infonnation Estados Unidos da América do Norte TRADUÇÃO Paulo da Costa Rzezinski Especialista em Psiquiatria, Instituto de Psiquiatria, UFRJ Do Instituto de Psicanálise da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro LIVRARIA ATHENEU- Rio de Janeiro- S. Paulo- 1984 LIVRARIA ATHENEU Rio de Janeiro - Rua Bambina, 74 Te/s.: 266-1295 - 226-4793 Rua Senador Dantas, 56-8 Te/.: 240-4036 São Paulo - Rua Jesuíno Pascoal, 30 Te/.: 220-9186 PLANEJAMENTO GRÁFICO Equip.e Atheneu CAPA E. Veiga Digitalização para PDF: Zekitcha Brasília (DF), 19 de fevereiro de 2017. FREUDS. Resumo das Obras Completas direitos de tradução cedidos por U. S. Department of Hea/th, Education and Welfare. Estados Unidos.da América do Norte © edição em língua portÜguesa • Livraria Atheneu- Rio de Janeiro • São Paulo 1984 Introdução Os problemas de saúde mental em nossa nação estão sendo combatidos de vária� formas. Uma das mais ünportan(es é a divulgação e integração dos conhecimentos existentes. · Nós do Instituto Nacional de Saúde Mental estamos convictos de que os responsáveis pela pesquisa e treinamento em saúde mental, indepen<Jente de suas convicções teóricas, venham a beneficiar-se da infusão de novos conhecimentos a estimular seus processos críticos e a contribuir pS;lra o corpo de conhecimentos científicos que está crescendo, através dé novas avaliações. Estes benefícios e contribuições são ic_entuados e facilitados quando interpretados e seguidos à luz do saber at�al. Um objetivo importante do Instituto, através da Câmara Nacional de Informação sobre Saúde Mental, é colocar estes conhecimentos à disposição, de forma a encorajar o seu uso. Com este espírito, a Câmara colaborou com a Associação Psicanalítica Americana num esforço pioneiro pata resumir a Edição Padrão de Freud. Embora reconheçamos que os conceitos teóricos de Freud são representativos apenas de uma escola de pensamento em psiquiatria, certamente são únicos nos diálogos que estimularam, na pesquisa que promoveram, e na contribuição que deram aos principais esforços terapêuticos. Este é entãp um passo em direção ao nosso objetivo final de favorecer o acesso ao conhecimento, que promoverá um maior número de investigações nas diversas filosofias e linhas de abordagem. O Resumo da Edição Padrão de Freud é uma compilação compreendida de sinopses, ligada aos conceitos psicanalíticos, que se encontram lia Edição Padrão de Freud editada por James Strachey. O índice designa-se a servir de guia �to para os profissionais como para os leigos. Achamos .que o resumo incitará novas pesquisas que levarão a Outras investigações mais eficientes. Este volume é um símbolo do esforço do Instituto Nacional de Saúde Mental, através da Câmara Nacional de Informação sobre Saúde Mental, para auxiliar o processo de comunicação. Neste caso, o vigésimo quinto ano de aniversário do Ato Nacional de Saúde Mental, está coincidindo não só com o fato de procurarmos progressos futuros nas ciências mentais, mas também de conseguirmos uma maior perspectiva das contribuições passadas. Esta obra serve de modelo do que pode· ser feito e do que será feito de forma crescente pelo Instituto e, com igual importância, por outros. BERTRAM S. BROWN, M.D. Diretor Prefácio A publicação, durante QS últimos 18 meses, da edição inglesa definitiva dos trabalhos psicológicos de Sigmund Freud, foi uma conquista marcante para a psicanálise, para as ciências comportamentais e para o progresso do pensamento científico e avanço intelectual em geral. Os 23 volumes da Edição Padrão (espera-se para breve a publicação de um vigésimo quarto volume-índice), com ·sua tradução cuidadosa e fluente e as notas editoriais sintetizadoras, extensivas e reflexivas, feitas pelo falecido James Strachey e seus colaboradores, tornaram-se uma fonte educacional e de pesquisa única para psicanalistas em formação, para aqueles que possuem muitos anos de prática em psicanálise, pesquisadores, bem como para os estudantes e trabalhadores ligados à ampla área das ciências comportamentais. O presente volume, consistindo de sinopses de todos os artigos e notas do editor que compreendem a Edição Padrão completa. é fruto do interesse e esforço persistentes e combinados do Comitê de Indexação da Associação Americana de Psicanálise e da Câmara Nacional de Informação sobre Saúde Mental. O Trabalho do Comitê de Indexação na preparação e controle de qualidade destas sinopses, recebeu um forte apoio e foi consistentemente encorajado pela Diretoria, Conselho Executivo e pela totalidade dos membros da Associação Americana de Psicanálise. Devemos compreender que qualquer tentativa de resumir os trabalhos de Sigmund Freud, de caráter literário único com seus exemplos clínicos claros e relevantes (às vezes vívidos), é uma tarefa desafiadora e extremamente difícil. Se a revisão da tradução da Standard por si só constituiu um desafio, em termos de precisão e significado, as dificuldad�s em r�i-la foram igualmente monumentais. O fato de termos tentado o resumo já é uma conquista e um tributo para os que aceitaram o desafio, especialm�nte a Câmara Nacional de Informação sobre Saúde· �ental e o serviço profissional de resumo com que trabalhou. Para os estudantes conscienciosos e experientes dos escritos e conceitos de Freud, haverá certas lacunas e áreas incompletas em algumas das sinopses, em parte, devido às dificuldades intrínsecas mencionadas acima e, em parte, devido às solicitações e rigorosidade de um importante e complexo projeto de computação, que visa a fazer o índice e resumir a literatura científica comportamental (com a limitação de um máximo de 350 palavras para cada sinopse). · No decorrer do projeto de resumo, foram sugeridas várias revisões e acréscimos pelo Comitê de Indexação, auxiliado pela Divisão de Educação Psicanalítica, pelo Centro Médico Estadual, pela Universidade do Estado de Nova York e pelo Instituto Psicanalítico de Nova York; na medida do possível, .estas correções foram incorporadas ao texto final. Apesar destas limitações, as sinopses, em sua forma atual, são de valor inestimável para as pessoas interessadas numa compreensão inicial dos conceitos principais da psicanálise, vistos num contexto histórico, como foram desenvolvidas por Sigmund Freud. Serãoum auxílio em termos de referência e visão gerais para o psicanalista formado e ao mesmo tempo oferecerão inúmeras vantagens para todos que trabalham nas ciências comportamentais. Aqui, podemos incluir os psiquiatras, os residentes em instituições psiquiátricas, os assistentes sociais vinculados a estabelecimentos psiquiátricos e os psicólogos, bem como os estudantes diplomados e os estudantes de medicina, que estão desenvolvendo uma compreensão e interesse maior e mais profundo pel& psicanálise clássica. Entre outros usos incidentais mais importantes.das sinopses, está a sua contribuição para o desenvolvimento e a publicação de um índice adicional para a Edição Padrão. A publicação destas sinopses por ocasião do vigésimo quinto aniversário do Ato Nacional de Saúde Mental, parece uma forma inusitadamente feliz e apropriada de homenagear Sigmund Freud, a Psicanálise e o espírito do ato legislativo, que promoveu o reconhecimento nacional do significado da solução dos problemas de saúde mental, que afetam o povo dos Estados Unidos. BERNARD D. FINE, M.D., F.A.P.A. Catedrático do ·comitê de lndices da Associaçào Psicanalítica Americana Palavras do Coordenador Editorial O trabalho começou pelas sinopses da Ediçâo Padrâo das Obras Psicológicas de Sigmund Freud (James Strachey, ed., Hogarth Press, Londres), de forma a torná-las disponíveis através do si.stema de pesquisa do computador da Câmara Nacional de Informação sobre Saúde Mental. Logo ficou evidente que sua utilidade poderia aumentar muito, se fosse providenciado um volume impresso com todas as sinopses e um índice de matérias. Portanto, esta publicação destinou-se a preencher uma necessidade premente, implicando uma referência posterior à obra de Freud. A Câmara Nacional de Informação sobre Saúde Mental agradece ao Dr. Bernard D. Fine, Catedrático do Comitê de Indexação da Associação Psicanalítica Americana, pela elaboração da lista de unidades para resumo e pela assistência na revisão das sinopses e ao Dr. George H. Klumpner, Coordemtdor do Grupo de Pesquisa Psicanalítica de Indexação de Chicago, pela elaboração dos índices remissivos da numeração de Tyson-Strackey para a Ediçâo Padrâo e pelo auxílio no preparo do índice PCFC. CARRIE LEE ROTHGEB Chefe do Setor de lnji>rmaçâo Técnica da Câmara Naciona(para lnji>rmaçâo de Saúde Mental. Sumário VOL.I VOL. II VOL. III VOL. IV VOL. V Publicações pré-psicanalíticas e rascunhos não publicados ( 1886-1899)- 3 Estudos sobre a Histeria (1895-1895)- 19 Primeiras Publicações Psicanalíticas ( 1893-1899)- 24 A Interpretação dos Sonhos (I) ( 1900) - 3 I A I nterpretàção dos Sonhos ( 11) e Sobre os Sonhos (1900-1901)- 37 VOL. VI A Psicopatologia da Vida Quotidiana ( 1901)--,---- 43 VOL. VII Um Caso de Histeria. Três Ensaios sobre a Sexualidade e VOL. VIII VOL. IX VOL. X VOL. XI Outros Trabalhos (1901-1905)- 47 Chistes e sua Relação com o Inconsciente ( 1905)- 57 "Gradiva" de Jensen e Outros Trabalhos ( 1906-1908)- 62 Os Casos do "Pequeno Hans" e do "Homem dos Ratos" ( 1909)- 68 Cinco Lições de Psicanálise, Leonardo e Outros Trabalhos ( 1910)- 72 VOL. XII O Caso de Schreber, Artigos sobre Técnica e Outros Trabalhos(I911-1913)- 79 VOL. XIII Totem e Tabu e Outros Trabalhos ( 1913-1914)- 87 VOL. XIV A História do Movimento Psicanalítico, Artigos sobre Metapsicologia e Outros Trabalhos ( 1914-1916)- 94 VOL. XV Conferências Introdutórias à Psicanálise (Partes I e 11) (1915-1916)-104 ·VOL. XVI Conferências Introdutórias à Psicànálise (Parte 111) (1916-1917)-108 VOL.. XVII Uma. Neurose Infantil e Outros Trabalhos (1917-1919)- 113 VOL. XVIII Além do Princípio do Prazer, Psicologia de Grupo e Outros Trabalhos ( 1920-1922) -121 VOL. XIX O Ego e o Id e Outros Trabalhos (1923-1925)- 132 VOL. XX Um Estudo Autobiográfico, Inibições, Sintomas e Angústia, a Análise Leiga e Outros Trabalhos ( 1925-1926) -144 VOL. XXI O Futuro de uma Ilusão, o Mal-Estar da Civilização e Outros Trabalhos (1925-1926)-155 VOL. XXII Novas Conferências Introdutórias à Psicanálise e Outros Trabalhos (193 2-1936) -164 VOL. XXIII Moisé.s e o Monoteísmo, Esboço de Psicanálise e Outros Trabalhos (1937-1939)-169 Resumo VOLUME I. Publicaç6es Pré-Psicanalíticas e Esboços não Publicados ( 1886-1 889) 1/xxi- 1/13 Prefácio ( 1966) O objetivo deste trabalho é incluir a totalidade dos escritos psicológicos de Freud já publicados nas Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Edição Pa drão). A Edição Padrão não inclui a correspondência de Freud. Nem contém qualquer relato ou sumário publica do em jornais da época sobre conferências ou disserta ções feitas por Freud em seus primeiros dias nas reuniões de várias sociedades médicas em Viena. O conteúdo to tal da Gesamme/te Werke aparece na Edição Padrão. Em geral, cada volume contém todas as obras que pertencem a um período espedfico de anos. As traduções baseiam se nas últimas edições alemãs publicadas enquanto Freud era vivo. Esta edição foi planejada tendo em mente o estudante consciencioso. Os comentários na Edição Pa drão são de vários tipos. Primeiro há as notas puramen te textuais. Seguem-se várias e numerosas alusões histó ricas e locais e citações literárias feitas por Freud. Outra classe de anotações é o índice remissivo. Por último e mais raramente, há as notas explanatórias das observa ções de Freud. Cada trabalho separado vem com uma nota introdutória. Usa-se a regra de tradução uniforme que se estende a frases e passagens inteiras. São apre sentados alguns termos técnicos, cuja tradução necessi te comentário. 1 /3- 1/35 Relatos sobre os estudos de Freud em Paris e Berlim (1 886) Apresenta-se um relatório de Freud sobre algumas atividades em Paris e Berlim. A Salpetriere em Paris foi transformada em lar para senhoras de idade e forne ceu abrigo para 5.000 pessoas. As doenças nervosas crô nicas aparecem com freqüência especial. Abriu-se uma seção clínica na qual eram admitidos para tratamento tanto os pacientes homens quanto mulheres. No seu es tudo sobre a histeria, Charcot, detentor da Cátedra de Neuropatologia na Salpetriêre partiu dos casos mais patentes. Começou reduzindo a conexão da neurose com o sistema genital a uma proporção correta, demons trando a freqüência insuspeitada de casos de histeria masculina e especialmente de histeria traumática. Nes tes casos típicos, encontrou em seguida uma quanti dade de sinais somáticos que lhe permitiram estabelecer o diagnóstico de histeria com segurança, na base de in dicações positivas. Fazendo um estudo científico do hip notismo, um setor da neuropatologia que teve de ser arrancado, por um lado, do ceticismo e por outro, da fraude, ele mesmo chegou a uma espécie de teoria da sin tomatologia histérica. Por seus esforços, a histeria foi retirada do caos das neuroses e diferenciada de outras condições de aspecto similar. Em Berlim, havia uma ampla oportunidade para examinar crianças que sofriam de doenças nervosas, em ambulatórios. · 1/19 - 1/53 Prefácio da Tradução das conferências de Charcot sobre doenças do sistema nervoso ( 1886) No inverno de 1885, o Professor Charcot já não es tava mais estudando as doenças que se baseavam em al terações orgânicas e se dedicava exclusivamente à pesqui sa sobre as neuroses e especialmente à histeria. Charcot deu permissão a Freud para fazer uma tradução alemã de suas conferências. O âmago deste livro de conferên cias traduzidas está nas conferências fundamentais e ma gistrais sobre a histeria que, juntamente com 'autor, se 3 esperava que abrissem uma nova época na avaliação des ta neurose pouco conhecida e muito maligna. 1/23 - 1/59 Observação de um caso grave de hemianestesia em um paciente histérico (1886) É apresentada a observação feita por Freud de um caso grave de hemianestesia num homem histérico. O paciente era um gravador de 29 anos; um homem inte ligente, que prontamente se ofereceu para ser examinado na esperança de uma recuperação rápida. O paciente desenvolveu-se nonnalmente na inf"'ancia. Com a idade de 8 anos foi atropelado na rua. Disso resultou uma ligeira perda auditiva. Sua doença remontava há 3 anos, época em que ele teve uma briga com um irmão dissoluto que se recusou a devolver-lhe um empréstimo em dinheiro. Esse innã'o ameaçou apunhalá-lo, correndo ele para casa onde ficou inconsciente cerca de duas horas. A sensibi lidade na parte esquerda de seu corpo pareceu alterar-se e sua visã'o passou a se fatigar facilmente no trabalho. Com algumas oscilações, esta condiçã"o pennaneceu idên tica durante 3 anos, até 7 semanas atrás, quando uma nova agitação trouxe uma mudança para pior. Uma mu lher acusou o paciente de roubo, e este teve palpitações violentas e ficou tão deprimido durante cerca de uma quinzena que pensou em suicidar-se; ao mesmo tempo estabeleceu-se grave tremor na extremidade esquerda. Do lado esquerdo o único que não foi afetado foi a audição. A anestesia também se manifestou no braço esquerdo, no tronco e na perna. Seus reflexos eram mais rápidos que o nonnal, e mostravam-se pouco consistentes entre si. De acordo com a hemianestesia histérica, o paciente exibia tanto espontaneamente como sob pressão, áreas dolorosas no que seria o lado insensível de seu corpo, que são as conhecidas zonas histerogênicas, embora neste caso não fosse marcante sua conexão com · a provocação de ataques. O lado direito do corpo não estava totalmente livre da anestesia embora aí fosse leve e parecesse afetar somente a pele. 1 /35 - 1/7 1 Duas revisões breves. Neurastenia Aguda de Averbeck e Neurastenia e Histeria de Weir Mitchell (1887) Apresenta-se uma revisão feita por Freud da Die Akute Neurasthenia. Podemos descrever a neurastenia como a doença mais comum na sociedade. Ela complica e agrava a maioria dos outros quadros clínicos nos pacien tes das classes mais altas, e/ou é encarada por eles como um modo novo de conteúdo arbitrariamente composto. 4 A neurastenia nã"o é quadro clínico no sentido dos ma nuais que se baseiam exclusivamente em anatomia pl\to lógica: deveria ser descrita como um tipo de reação do sistema nervoso. É apresentada uma revisão do Die Behandlung Gewisser Formen von Neurasthenie und Hysterie de Weir Mitchell. O método terapêutico pro posto por Weir Mitchell foi recomendado pela primei ra vez na Alemanha por Bukart e teve pleno reconheci mento durante o ano anterior numa conferência feita por Leyden. Este método, por uma combinação de re pouso na cama, isolamento, alimentação, massagem e tratamento elétrico de fonna estritamente regrada, melhora os estados graves e duradouros de exaustão nervosa. 1 /39 - 1/79 Histeria (1888) O nome histeria origina-se dos primórdios da me dicina e é um resultado do preconceito que liga as neuro ses às doenças do aparelho genital feminino. A histeria é uma neurose no sentido estrito da palavra. É fundamen talmente diferente da neurastenia e oposta a ela. A sinto matologia da grande histeria se compõe de uma série de sintomas que inclui os seguintes ataques convulsivos, zonas histerogênicas, distúrbios da sensibilidade, distúr bios da atividade sensorial, paralisia e contrações. A sin tomatologia da histeria tem uma série de características ge rais. As manifestações histéricas têm a característica de serem exageradas. Ao mesmo tempo, qualquer sintoma particular pode ocorrer isoladamente: a anestesia e para lisia não vêm acompanhadas pelo fenômeno geral que, no caso das lesões orgânicas, evidenciam a afecção ce rebral e que via de regra por sua importância deixam ocultos os sintomas localizados. É especialmente carac terístico da histeria que um distúrbio se apresente alta mente desenvolvido e ao mesmo tempo extremamente limitado. Além disso, os sintomas histéricos produzem alterações que desde o seu estabelecimento exclui-se qualquer suspeita de lesão física. Em acréscimo aos sin tomas físicos da histeria, observa-se uma série de distúr bios psíquicos. São estes: mudanças no fluxo e na asso ciação das idéias, inibições da atividade volutiva, aumen to e supressão dos sentimentos, etc. A histeria antes re presenta uma anomalia constitucional que uma doença circunscrita. Os primeiros sinais aparecem provavelmen te no início da juventude. A histeria pode vir associa da a várias outras doenças nervosas e orgânicas e tais casos apresentam grandes dificuldades de análise. Do ponto de vista de tratamento devemos separar três tare fas: o tratamento da disposição histérica, de crises his téricas e de sintomas histéricos individuais. 1/61 - 1/105 Artigos sobre hipnotismo e sugestão (Introdução do Edi tor) (1966) Depois da volta de Freud de Paris para Viena em 1886, ele devotou muita atenção por algun� anos ao es tudo do hipnotismo e sugestão. Freud tinha uma expe riência clínica vasta com hipnotismo. Enquanto era ainda estudante assistiu a uma exibição pública de Han sen o magnetizador e se convenceu da autenticidade do fenômeno da hipnose. Depois de se estabelecer em Viena como especialista dos nervos, fez tentativas de usar vários métodos, tais como eletroterapia, hidroterapia, curas pelo repouso para tratar as neuroses mas, no fi. nal, recaiu no hipnotismo. Logo parou de usá-lo; toda via seu interesse na teoria do hipnotismo e sugestão durou mais que o uso propriamente dito do hipnotis mo. Apesar do abandono prematuro da hipnose como método terapêutico, Freud nunca hesitou durante sua vida em expressar sua admiração por ela. 1/73 - 1/117 Prefácio da tradução do trabalho de Bernheim sobre su gestão (1888) O trabalho do Dr. Bernheim de Nancy fornece uma introdução admirável ao estudo do hipnotismo, li gando-o a fenômenos familiares da vida psicológica nor mal e do sono. O assunto do hipnotismo foi recebido de modo bem desfavorável entre os líderes de formação médica alemã. A posição predominante era de dúvida quanto à realidade do fenômeno hipnótico e buscava ex plicar os relatos apresentados como se devendo a uma combinação de credulidade por parte dos observadores e de simulaçilo por parte dos indivíduos que realizavam os experimentos. Outra posição de argumentação hostil â hipnose rejeita-a como sendo perigosa para a saúde mental do indivíduo e rotula-a de psicose produzida expe rimentalmente. O livro de Bernheim; Hypnotism and Suggestion, discute outra questão, que divide os que apóiam o hipnotismo em 2 grupos opostos. Um dos par tidos, cujo porta-voz é o Dr. Bernheim, sustenta que todos os fenômenos do hipnotismo têm a mesma ori gem; surgem de uma sugestão, isto é, uma idéia cons� ciente, que foi introduzida na mente da pessoa hipnoti zada por uma influência externa e foi aceita por ela como se surgisse espontaneamente. Deste ponto de vis ta todas as manifestações hipnóticas seriam fenômenos psíquicos efeitos de sugestões. O outro partido, ao con trário, é da opinião que o mecanismo de pelo menos al gumas das manifestações do hipnotismo se baseia nas mudanças fisiológicas que ocorrem sem a participação das partes que operam com consciência; falam, por con seguinte, dos fenômenos físicos ou fisiológicos da hipnose. A hipnose, quer seja produzida de uma for ma ou outra, é sempre a mesma e mostra as mesmas características. 1/89 - 1/136 Revisão do livro de Augusto Forel (so�re hipnotismo) (1889) O livro de Forel, Hipnotism, Its Significance, and lts Management é conciso, expresso com grande clareza e de forma decisiva, e sobre o campo inteiro de fenôme nos e problemas compreendidos sob o título de teoria do hipnotismo. Nas seções introdutórias de seu livro, Forel procura tanto quanto possível fazer a distinção en tre fatos, teorias, conceitos e terminologia. A caracterís tica principal do hipnotismo é a de ser possível colocar uma pessoa num estado mental específico que se asseme lha ao sono. Este estado é conhecido como hipnose. Um segundo conjunto de fatos é a maneira comose inicia (e termina) este estado. E um terceiro conjunto de fatos se refere ao desempenho da pessoa hipnotizada. Outros fatos inquestionáveis são a dependência em que fica a atividade mental do indivíduo hipnotizado com relação â atividade mental do hipnotizador e a produção do que conhecemos como efeitos pós-hipnóticos no hipnoti zado. Foram elaborados três teorias fundamentalmente diferentes para explicar o fenômeno da hipnose. A mais antiga acha que, no ato de hipnotizar, ocorre a passa gem de um material imponderável do hipnotizador para o organismo hipnotizado (magnetismo). Uma segunda teoria, somática, explica o fenômeno hipnótico com base nos reflexos medulares; considera a hipnose como uma condição fisiológica do sistema nervoso que está alterada e que surge por estímulos externos. Forel se firma numa terceira teoria. De acordo com esta, todos os fenômenos da hipnose são efeitos psíquicos, efeitos de idéias que são provocadas no indivíduo hipnotizado seja de forma intencional ou não. A segunda seção do livro, lida com a sugestão e cobre todo o campo de fenômenos psíqui cos que foram observados em indivíduos sob hipnose. O volume se encerra com uma seção sobre o significado dialético e legal da sugestão. 1/103 - 1/154 Hipnose (1891) A técnica de hipnotizar é um método médico tão difícil quanto qualquer outro. O tratamento hipnótic0 não deveria ser aplicado a sintomas que têm uma bas, · orgânica e deveria ser reservado apenas para distúrbios nervosos, simplesmente funcionais, para desordens de origem psíquica, e para hábitos de natureza tóxica ou outra. É útil para o paciente que vai ser hipnotizado ver outras pessoas sob hipnose, aprender por imitação como 5 deve se comportar, e tomar conhecimento pelos outros quanto ã natureza das sensações durante o estado hipnó tico. O que é de importância decisiva é apenas se o paciente ficou em estado sonambúlico ou não; quer dizer, se o estado de consciência iniciado na hipnose está isola do do estado normal de forma bastante nítida para que a memória do que ocorreu durante a hipnose esteja ausen te depois do despertar. O verdadeiro valor terapêutico da hipnose reside na sugestão feita durante a mesma. Atra vés da sugestão, tentamos obter seja um efeito imediato, especialmente ao se tratar de paralisias, contrações, etc., ou visamos um efeito pós-hipnótico; quer dizer, um efei to estipulado para um determinado tempo depois de des pertar. A duração da hipnose é determinada de acordo com necessidades práticas: a manutenção comparativa mente longa de um indivíduo sob hipnose durante várias horas, certamente não desfavorece o sucesso. A profun didade da hipnose não está sempre em proporção direta de seu sucesso. O campo do tratamento hipnótico é bem mais extenso do que outros métodos de tratar as doenças nervosas. Se a hipnose obteve sucesso, a estabilidade da cura depende dos mesmos fatores que a estabilidade de qualquer cura obtida por outro método. 1 /1 15 - 1 /171 Um caso de tratamento por hipnose bem sucedido (1892-3) � apresentado um caso de tratamento bem sucedi do, por hipnose. A paciente era uma mulher jovem en tre 20 a 30 anos. Tivera dificuldade de amamentar seu primeiro filho e o bebê fmalmente fora entregue a uma ama-de-leite. Três anos depois, nasceu seu segundo fi lho, e novamente ela teve dificuldade em amamentar a criança. Não tinha leite, não retinha alimento algum, e estava bem desolada com sua incapacidade de ama mentar. Depois de duas sessões de hipnose foi capaz de amamentar o bebê e assim o fez até os 8 meses. No ano seguinte, com o nascimento do terceiro filho, ela mais uma vez não foi capaz de amamentar. Novamente, depois da segunda sessão de hipnose, os sintomas desapa receram tão radicalmente que não foi necessária uma ter ceira sessão. Esta criança também foi amamentada sem nenhum problema e a mãe gozou de boa saúde durante todo o período. Há certas idéias que possuem um afeto de expectativa a elas associado. Podem ser de dois tipos: intenções e expectativas. O afeto ligado a estas idéias depende de dois fatores: primeiro, do grau de importân cia associada ao resultado, e segundo, do grau de incer teza inerente ã expectativa deste resultado. A incerteza subjetiva (a contra-expectativa) é representada por um conjunto de idéias chamadas idéias antitéticas perturba doras. Nas neuroses, onde existe primariamente uma tendência a depressão e uma diminuição da autoconfian- 6 ça, o paciente presta muita atenção às idéias antitéticas contra suas intenções. Quando esta intensificação das idéias antitéticas se relaciona a expectativa, caso trate se de um estado nervoso simples, o efeito se apresenta como um quadro mental pessimista generalizado; no caso de neurastenia, as associações com as mais for tuitas sensações ocasionam as numerosas fobias dos neurastênicos. 1/131 - 1/191 Prefácio e notas ao pé de página da tradução das Le çons du Mardi de Charcot (1892-4) As Leçons du Mardi de Charcot contêm tanto material novo que não há ninguém, mesmo entre os espe cialistas, que as leia sem um aumento substancial de conhecimento. Estas conferências devem seu encanto especial ao fato de serem inteiramente, ou em grande parte, improvisadas. O Professor não conhece o paciente que lhe trazem, ou conhece-o apenas superficialmente. Indaga o paciente, examina um sintoma ou outro, e des ta forma determina o diagnóstico do caso, fazendo-lhe restrições ou confirmando-o após novos exames. O in teresse por uma conferência só surgia quando o diagnós tico já havia sido feito e o caso, tratado de acordo com suas peculiaridades. Depois disto, Charcot tirava partido da liberdade que este método de ensino lhe proporcio nava de forma a fazer observações sobre casos similares que lhe vinham à lembrança e para introduzir discussões da maior importância sobre os tópicos genuinamente clínicos da sua etiologia, hereditariedade e conexão com outras doenças. São apresentados trechos das notas ao pé de página da tradução das Leçons du Mardi de Charcot. 1 /147 - 1/207 Esboço sobre as Comunicações Preliminares de 1893 Sobre a teoria dos ataques histéricos. Numa carta de Freud a Josef Breuer, são apresen tadas as seguintes teorias da histeria: o teorema relativo ã constância da soma de excitação; a teoria da memória e o teorema que estabelece que os conteúdos dos dife rentes estados de consciência não estão associados entre si. As recordações que estão por trás do fenômeno his térico são inaccessíveis à memória do paciente, enquan to que sob hipnose elas podem ser revividas com a cla reza de uma alucinação. A terapia consiste em resultados das idéias que não sofreram ab-reação, seja revivendo o trauma em estado de sonambulismo, abrangendo e corri gindo-o, ou trazendo-o à consciência normal sob hipnose relativamente leve. Adquiriu-se esse conhecimento so bre ataques histéricos tratando-se indivíduos histéricos por meio de sugestão hipnótica e interrogando-os sob os efeitos da hipnose, investigando, deste modo, seus pro cessos psíquicos durante o ataque. O conteúdo constan te e essencial de um ataque histérico (recorrente) é o retomo a um estado psíquico já experimentado ante riormente pelo paciente. A lembrança que forma o con teúdo de um ataque histérico não é meramente casual; consiste no retorno ao fato que desencadeou a histeria ou seja, o trauma psíquico. A lembrança que forma o conteúdo de um ataque histérico é inconsciente; isto é, faz parte do segundo estado de consciência presente em toda histeria. Se um indivíduo histérico busca intencio nalmente esquecer uma experiência ou compulsivamente repudia, inibe e suprime uma intenção ou uma idéia, estes atos psíquicos entram num segundo estado de cons ciência, de onde produzem efeitos permanentes e a memória destes atos retoma sob a forma de ataque histé rico. 1/157 - 1/223 Alguns pontos para um estudo comparativo da paralisia motora histérica com aparalisia motora orgânica (1893) A neurologia clínica reconhece duas espécies de paralisia motora: a paralisia periférico-medular (bulbar) e a paralisia cerebral. Ao primeiro tipo pertencem a pa ralisia facial, a paralisia de Bell, a paralisia da poliomieli te infantil aguda, etc. A paralisia cerebral, ao contrário, é sempre uma desordem que afeta uma grande porção da periferia, um membro, um segmento de uma extremida de ou um aparelho motor complexo. Atribui-se à histe ria uma capacidade de simular vários distúrbios nervosos orgânicos. Só as paralisias histéricas flácidas nunca afe tam um músculo separadamente (exceto quando o mús culo em questão é o único utilizado por determinada fuQção ). Instalam-se sempre em massa e neste aspecto correspondem à paralisia orgânica cerebral. A paralisia histérica pode ser mais dissociada ou mais sistematizada que a paralisia cerebral. A histeria é uma doença de ma nifestações exageradas, tendendo a produzir os sintomas com a maior intensidade possível. Esta característica se mostra não só nas paralisias como também nas contra toras e anestesias. A paralisia histérica caracteriza-se por delimitações precisas e intensidade excessiva. Possui si multaneamente estas duas qualidades, ao passo que na paralisia orgânica cerebral, estas duas características não se apresentam associadas entre si. As paralisias histéricas vêm acompanhadas com muito mais freqüência por de sordens de sensibilidade que as paralisias orgânicas. A lesão nas paralisias histéricas consiste em nada mais que a impossibilidade de acesso, do órgão ou função em questão, às associações do ego consciente. Esta altera ção puramente funcional é causada pela fixação desta idéia, em associação subconsciente, à memória do trau ma, e esta idéia não será liberada nem se tomará acces- sível enquanto a quota de afeto do trauma psíquico não tiver sido eliminada por uma reação motora adequada ou por uma atividade psíquica consciente. 1 /173 - 1/243 Extratos dos relatos a Fliess (1892-1899) Wilhelm Fliess, dois anos mais novo que Freud, foi um otorrinolaringologista, residente em Berlim, com quem Freud correspondeu uma troca volumosa de car tas íntimas entre 1887 e 1902. Fliess era um homem de grande capacidade, com um amplo interesse em biologia geral; contudo as teorias por ele formuladas neste campo são consideradas hoje excêntricas e completamente in sustentáveis. Freud comunicava-lhe seus pensamentos com a maior liberdade e o fazia não só em cartas como também em relatos sobre os vários pontos que vinha de senvolvendo. Estes relatos permaneceram totalmente desconhecidos até a Segunda Guerra Mundial. Freud não pretendia que o material destes esboços e cartas demons trasse uma expressão ponderada de suas opiniões, e na sua maior parte se apresentam de modo altamente condensado. 1 /177 - 1 /245 Esboço A. Etiologia das neuroses atuais (1892) Alguns dos problemas no estudo da histeria são apresentados. A angústia das neuroses de angústia pro vém da inibição sexual ou da angústia ligada à sua etio logia? Até que ponto. um indivíduo normal reage aos traumas sexuais da idade adulta, de forma diferente de alguém não sadio? Haverá uma neurastenia inata, acom panhada de debilidade sexual também inata ou será to da neurastenia adquirida na juventude? O que se mostra relevante na etiologia da depressão periódica? A frigidez sexual nas mulheres será algo além de um simples resulta do de impotência? As teses propõem: 1) não há neuraste nia ou neurose análoga sem distúrbio da função sexual; 2) isto tem um efeito causal imediato ou atua como dis posição para outros fatores; 3) a neurastenia nos homens vem acompanhada de uma relativa impotência; 4) a neurastenia nas mulheres é conseqüência direta da neu rastenia nos homens; 5) a depressão periódica é uma for ma de neurose de angústia; 6) a neurose de angústia é, em parte, conseqüência da inibição da função sexual; 7) a histeria, nas neuroses neurastênicas, indica a supres são dos afetos concomitantes. Foram propostos os se guintes grupos para observação: homens e mulheres normais, mulheres estéreis, mulheres com infecção go norréica, homens de vida libertina, também infectados por gonorréia, membros de famtlias gravemente con- 7 taminadas que permaneceram saudáveis, e observação de países onde determinadas aberrações sexuais são endê micas. Os fatores etiológicos incluem: exaustão devida à satisfação normal, inibição da função sexual, afetos que acompanham estas práticas e traumas sexuais anterio res à idade da razão. 1/179 - 1/247 Esboço 8. A etiologia das neuroses (1893) A etiologia das neuroses é discutida. A neuraste nia é conseqüência freqüente de uma vida sexual anor mal. A neurastenia nos homens é adquirida na puberda de, porém somente se manifesta no período após os vin te anos. Sua causa é a masturbação, cuja freqüência se apresenta paralela à freqüência da neurastenia masculi na. As mulheres são mais firmes e dificilmente tornam-se neurastênicas: isto também é válido no caso das jo vens recém-casadas, apesar de todos os traumas sexuais deste período da vida. Em casos relativamente raros a neurastenia surge em mulheres casadas e em mulheres solteiras mais velhas em sua forma mais pura; nestes casos deve ser considerada como tendo surgido espon taneamente. A neurose mista das mulheres deriva-se da neurastenia dos homens, em todos os casos freqüentes, em que o homem, neurastênico sexual, sofre de potên cia diminuída. A mistura de histeria resulta diretamente da · contenção da excitação no ato sexual. Todo caso de neurastenia vem marcado por uma certa diminuição da autoconfiança, por expectativas pessimistas e por uma tendência a idéias perturbadoras. A neurose de angústia se apresenta sob duas formas: como um esta do crônico e como crises de angústia. Os sintomas crô nicos são: 1) ansiedade relativa ao próprio corpo (hipo condria); 2) ansiedade relativa ao funcionamento do corpo (agorafobia, claustrofobia, fobia de alturas); e 3) ansiedade relativa a decisões e à memória. Outra forma de neurose de angústia é a depressão periódica, uma crise de angústia que dura semanas ou meses. Conclui-se que as neuroses são tão perfeitamente evitá veis, quanto totalmente incuráveis. A tarefa do médico é, portanto, inteiramente voltada para a proftlaxia. 1/184 - 1/255 Carta 14. O coito interrompido como um fator etioló gico (1893) Discutem-se quatro casos novos cuja etiologia, como demonstram os dados cronológicos, foi dada, como coito interrompido. O primeiro caso mostra uma mulher de 41 anos. Era muito inteligente e não re- 8 ceava ter filhos. Seu diagnóstico foi o de uma neurose de angústia simples. O segundo caso apresenta uma mu lher de 24 anos. Descrita como uma boa mulher, mas pouco inteligente, sofrendo de forte angústia. Passado algum tempo, tornou-se histérica pela primeira vez. O terceiro caso trata de um homem de 42 anos, com neu rose de angústia e sintomas cardíacos. Era um homem muito potente e fumava excessivamente. O quarto caso consiste em um homen de 34 anos sofrendo de po tência moderada (sem haver-se masturbado). 1/186 - 1 /257 Esboço D. Sobre a etiologia e teoria das grandes neuro ses (1894) A etiologia e teoria das grandes neuroses são apre sentadas neste esboço. As seguintes categorias são in cluídas na morfologia das neuroses: neurastenia e pseu doneurastenia, neurose de angústia, neurose obsessiva, histeria, melancolia e mania, as neuroses mistas e as ra mificações das neuroses e estado de transição para o nor mal. A etiologia das neuroses abrange as seguintes: neu rastenia, neurose de angústia, ne.urose obsessiva e histe ria, melancolia e neuroses mistas. Engloba também: a fórmula etiológica básica, os fatores sexuais em seu sig nificado etiológico, um exame dos pacientes, objeções e provas, e o comportamento dos indivíduos assexua dos. Planejou-se uma discussão a respeito da relação entrea etiologia e a hereditariedade. Os seguintes pon tos deveriam ser incluídos numa discussão da teoria: os pontos de contato com a teoria da constância, o proces so sexual à luz da teoria da constância, o mecanismo das neuroses, o paralelo entre as neuroses da sexuali dade e as neuroses. 1/188 - 1/259 Carta 18. O efeito dos danos sexuais (1894) Sl'o apresentados três mecanismos das neuroses: a transformação do afeto (histeria de conversão), o des locamento do afeto (obsessões) e a troca de afeto (neu rose de angústia e melancolia). Em todos estes casos parece que a excitação sexual sofre estas alterações, mas nem sempre o que as impele é algo de natureza sexual. Nos casos de neurose esta é sempre adquirida, por in termédio de distúrbios da vida sexual; contudo há indi víduos cujo comportamento dos afetos sexuais é pertur bado hereditariamente, e que desenvolvem formas corres pondentes de neuroses hereditárias. Os aspectos mais ge rais, segundo os quais podemos classificar as neuroses são: degeneração, senilidade, conflito e conflagração. 1 /189 - 1 /261 Esboço E. Como a aug6stia se origina (1894) A angástia do paciente neurótico tem muito a ver com a sexualidade e, em particular, com o coito inter rompido. A neurose de angústia afeta com a mesma fre qüência tanto mulheres que são frígidas durante o coito quanto as que se excitam com a relaçlo. $lo apresentados vários casos nos quais a angástia teve uma causa sexual: angástia em indivíduos virgens, angústia em indivíduos intencionalmente abstinentes, angústia em indivíduos forçados à abstinência, angústia em mulheres que vivem sob o regime de coito interrompido, angústia em homens que vlo além do próprio desejo ou capacidade e angús tia em homens ocasionalmente abstinentes. A neurose de angústia é uma neurose de obstruçlo como a histeria. Na neurose de angústia deve haver um déficit aparente do afeto sexual na libido psíquica. Quando se apresenta esta conexlo às pacientes femininas elas ficam sempre indignadas e declaram que, ao contrário, no momento se acham totalmente desprovidas de desejo sexual. Os pacientes masculinos muitas vezes confirmam, sob for ma de uma observaçlo, que desde que passaram a sofrer de angústia nlo mais sentiram desejo sexual. Quando ocorre um aumento demasiado de tensão física, e esta não pode se transformar em afeto por elaboração psí quica, a tenslo sexual se transforma em angústia. Parte disto deve-se ao acúmulo de tenslo física e ao impedi mento da descarga na direção psíquica. Há uma espécie de converslo nas neuroses de angústia assim como ocorre na histeria; mas na histeria trata-se de uma exci tação psíquica que segue um caminho errado voltado para o campo somático, enquanto na outra consiste em uma tensão física que, não podendo introduzir-se no campo psíquico, permanece no campo físico. 1 /195 - 1 /269 Esboço F. Coleção DI. Dois relatos de casos (1894) Slo apresentados dois casos e a discusslo de am bos. No primeiro caso, trata-se de um homen de 27 anos, havia disposiçã'o hereditária, seu pai sofria de melancolia e sua irmf de uma neurose de angústia típica. A libido do paciente vinha diminuindo há algum tempo; os prepa rativos para o uso de um preservativo eram o bastante para faze-lo sentir o ato sexual, na sua totalidade, como algo imposto e seu prazer como algo a qqe era persuadi do. O medo de infecção e a decisão de usar preservativos constituíram as bases para o que foi descrito como o fa tor de alienaçã'o entre o somático e o psíquico. O efeito seria o mesmo no caso do coito interrompido para ho mens. O paciente causou uma debilidade sexual em si mesmo, uma vez que ele próprio estragou o coito. Per- manecendo sua saúde física e produção de estímulos sexuais intactas, a situação propicia a geração de angús tia. O segundo caso envolve um homem saudável, de 44 anos. Queixava-se de estar perdendo o entusiasmo e ânimo, de um modo tão intenso que nfo era natural num homem de sua idade. O caso foi descrito como le ve, porém muito característico de depressão periódica, melancolia. Os sintomas de apatia, inibição, pressão intra craniana, dispepsia e insônia completam o quadro. 1 /199 - 1 /274 Carta 21 . Dois relatos de casos (1894) São apresentados e discutidos dois casos. O primei ro, um médico de 34 anos, há vários anos sofria de uma alteraçlo da sensibilidade orgânica dos olhos: ofusca mento, escotoma, fosfeno (flashes), etc. Isto agravou-se tanto a ponto de forçá-lo a parar de trabalhar. Foi diag nosticado como um caso típico de hipocondria num ór gão determinado, num indivíduo que se masturbava em períodos de excitaçfo sexual. O segundo caso é o de um rapaz de 28 anos, proveniente de uma família altamente neurótica. Sofreu durante algumas semanas de lassidão, pressão intracraniana, joelhos trêmulos, potência reduzi da, ejaculação precoce, e inícios de perversão. Alegava que, desde o início, sua virilidade se mostrara caprichosa, admitiu masturbação, mas não muito prolongada e que no momento vinha de um período de abstinência. Antes disso, sofria de estados de angústia à noite. Houve algu ma dúvida quanto à sua sinceridade. 1/200 - 1/275 Esboço G. Melancolia (1895) Há conexões marcantes entre a melancolia e a fri gidez. A melancolia provém de uma intensificação da neurastenia, através da masturbação. A melancolia pare ce ser uma espécie de combinação típica, ligada a uma violenta angústia. O tipo e forma extrema da melancolia parece ser a forma hereditária periódica ou cíclica. A afeto correspondente é o de luto. A neurose de nutrição paralela à melancolia é a anorexia. Os indivíduos poten tes facilmente adquirem neuroses de angústia; os impo tentes tendem à melancolia. Uma descrição dos efeitos da melancolia inclui: inibição psíquica, com empobre cimento das pulsões e sofrimento correspondente. A frigidez sexual parece reforçar a melancolia; todavia isto não implica na atuação desta como causa, porém como uma indicaçio de predisposição à melancolia. 9 1/W6 - 1/283 Esboço H. Paranóia (1895) Em psiquiatria, idéias delirantes se situam, do mes mo modo que as idéias obsessivas, como desordens pura mente intelectuais, e a paranóia se mostra, da mesma for ma que o distúrbio obsessivo, como uma psicose intelec tual. A paranóia, em sua forma clássica, é um modo de defesa patológica como a histeria, a neurose obsessiva e a confusão mental. Os indivíduos tomam-se paranóicos por fatos que não conseguem suportar, desde que pos suam uma disposição psíquica peculiar à paranóia. O propósito da paranóia é isolar uma idéia incompatível com o ego, projetando seu conteúdo no mundo externo. A transposição se efetua de modo muito simples. Tra ta-se do uso desmedido de um mecanismo psíquico usa do habitualmente na vida normal: a transposição ou projeção. A paranóia é o abuso do mecanismo de proje ção com fmalidade de defesa. Algo análogo ocorre com as idéias obsessivas. O mecanismo de substituição é nor mal. Este mecanismo é exageradamente utilizado nas idéias obsessivas com fmalidades de defesa. A idéia de lirante é mantida com a mesma energia com a qual outra idéia, intoleravelmente aflitiva, se mantém afasta da do ego. Amam seu delírio como amam a si mesmos. A paranóia e a confusão mental são as duas psicoses de defesa ou de oposição. 1/21 3 - 1/291 Carta 22. Analogia entre um sonho e a psicose onírica da sra. "D" diurno (1895) Apresenta-se uma breve analogia. Rudi Kaufrnann, sobrinho de Breuer, muito inteligente e estudante de medicina costumava levantar-se tarde. Sua criada se en carregava de acordá-lo porém este relutava em atender. Uma certa manhã ela o chamou pela segunda vez e como não obtivesse resposta, chamou-o pelo nome: "Senhor Rudi". Isto provocou-lhe uma alucinação de um car tão de identificação sobre uma cama de hospital com o nome "Rudolf Kaufmann" escrito, e disse para si mesmo: "R. K. já está no hospital, logo não preciso ir lá" e con tinuoudormindo. 1/214 -1/292 Esboço I. Enxaqueca: Pontos estabelecidos (1895) Os pontos estabelecidos com respeito à enxaqueca são apresentados. Há um intervalo de horas ou dias entre a instigação e o surgimento dos sintomas. Mesmo sem uma instigação há a impressão de que existe um estí mulo que se acumula e que está presente em quantida de mínima no início do intervalo e em quantidade má xima próximo ao final. A enxaqueca parece ser um so- 10 matório, no qual a suscetibllidade a fatores etiológicos depende da altura do nível do estímulo já presente. A enxaqueca tem uma etiologia complicada, talvez siga o padrão de uma etiologia em cadeia, onde uma causa aproximada pode ser produzida por inúmeros fatores direta e indiretamente, ou segue o padrão da etiologia somatória onde, ao lado de uma causa específica, outras causas remotas podem atuar como substitutos quantita tivos. A enxaqueca que é pouco comum nos homens sa dios e normais, restringe-se exclusivamente ao período sexual ativo da vida e aparece freqüentemente em indiví duos cuja tensão sexual está sendo mal descarregada. A en xaqueca pode também ser produzida por estímulos quí micos, tais como: emanações humanas tóxicas, ventos quentes corno o siroco, fadiga e odores. A enxaqueca cessa durante a gravidez. A dor de uma neuralgia geral mente encontra descarga na tensão tônica. Por conse guinte não é completamente impossível que a enxaque ca inclua no seu quadro uma inervação espástica dos músculos dos vasos sangüíneos na esfera reflexa da re gião durai. 1/215 - 1/295 Esboço J. Frau P. J. (27 anos) (1895) O objeto deste estudo é uma mulher de 27 anos. Casara há três meses e seu marido, viajando a serviço, tivera de deixá-la poucas semanas após o casamento. Ela sentia muito sua falta e ansiava por tê-lo de volta. Para passar o tempo, sentou-se ao piano e enquanto can tava sentiu um súbito mal-estar no abdômen e estômago, ficou tonta, começou a sentir uma opressão, angústia e parestesia cardíaca; pensou que ia enlouquecer. No dia seguinte, a criada lhe disse que uma mulher que morava na mesma casa enlouquecera. Desta época em diante, ela nunca mais se livrou da obsessão, acompanhada de angústia de que também iria enlouquecer. Admitiu-se que seu estado era o de uma crise de angústia: o desejo sexual liberado transformou-se em angústia. Observando se a paciente, descobriu-se que tivera outra crise 4 anos antes, também quando estava cantando. Fez-se um es forço para determinar que outras idéias estavam presen tes e quais poderiam ser responsáveis pela liberação do desejo sexual e pelo medo. Todavia, em vez de revelar estes elos intermediários, ela discutiu seus motivos. 1/219 - 1/299 Nota. Por Strachey (1966) Durante todo o fmal do ano de 1895 Freud se ocupou inteiramente com o problema teórico fundamen tal da relação entre a neurologia e a psicologia. Suas re flexões conduziram-no ao trabalho, que não chegou a se completar, intitulado: Projeto de uma Psicologia Científica. Foi escrito em setembro e outubro de 1895, • e deveria aparecer, cronologicamente, na publicação dos relatos a Fliess. Todavia, apresenta-se nitidamente distinto de todos os outros, e constitui por si s6 uma obra tão formidável e abrangente que foi publicada num encarte especial no fmal do primeiro volume da Edição Padrão. Uma das cartas, de n9 39, escrita a primeiro de janeiro de 1896 mostra-se tão intimamente relacionada com o Projeto que também teve de ser removida da or dem da correspondência e impressa como um apêndice ao Projeto. Freud durante este período, também esteve preocupado com os aspectos clínicos de seu trabalho, o que é demonstrado conclusivamente pelo fato de no mesmo dia em que enviou esta carta a Fliess, também lhe remeteu o Esboço K. 1 /220 - 1/299 Esboço K. As neuroses de defesa: Um conto de Natal (1896) São discutidas as neuroses de defesa. Há quatro ti pos de neurose de defesa. Faz-se uma comparação en tre três estados emocionais diferentes: histeria, neurose obsessiva e uma forma de paranóia. Apresentam muito em comum. Todos são aberrações patológicas de estados afetivos normais: de conflito (histeria), de auto-recrimi nação (neurose obsessiva), de mortificação {paranóia), de luto (delírio alucinatório agudo). O que difere nestes afetos consiste em não proporcionarem nenhuma solu ção mas sim danos permanentes ao ego. A hereditarie dade constitui uma pré-condição na medida em que faci lita e aumenta o afeto patológico. Esta pré-condição é que possibilita as gradações entre o caso normal e o ex tremo. Há uma tendência normal para defesa; todavia, esta tendência torna-se prejudicial quando dirigida con tra idéias que permitem descarregar sob a forma de me mórias, um desprazer recente como no caso das idéias sexuais. A doença, nas neuroses de defesa, toma quase sempre o mesmo curso: 1) há uma experiência sexual traumática e prematura que será recalcada. 2) seu recal camento, em alguma ocasião posterior, desperta uma lem brança de experiência; ao mesmo tempo, há formação de um sintoma primário. 3) há um estágio de defesa bem-su cedido, que é equivalente à saúde, exceto pela existência de um sintoma primário. 4) o último estágio é aquele no qual as idéias recalcadas retomam e no qual, durante a luta entre elas e o ego, formam-se novos sintomas que pertencem .à doença propriamente dita; isto é, um está gio de adaptação, outro de derrota e outro de recupera ção, ficando o paciente portador de um defeito. Nas neu roses obsessivas, a experiênria primária vem acompanha da de prazer. Na paranóia, a experiência primária parece ser de natureza similar à da neurose obsessiva; o recalque ocorre depois que sua lembrança libera desprazer. A his teria pressupõe uma experiência primária de desprazer da natureza passiva. 1 /229 - 1/3 1 1 Carta 46 . Quatro fases da vida e etiologia (1896) Apresentam-se as seguintes soluções para a etiolo gia das psiconeuroses. Estabelece a distinção das quatro fases da vida: até os 4 anos, pré-consciente; até os 8 anos, infantil; até os 14 anos, pré-púbere ; e daí para diante, maturidade. As fases entre os 8 e 10, e 13 aos 17, são fa ses da transição durante os quais ocorre o recalcamento. As cenas propícias à histeria ocorrem no primeiro perío do da inf'ancia (até os 4 anos), no qual os resíduos mnemônicos não são traduzidos em imagens verbais. Dis to decorre a histeria, na sua forma de conversão. As ce nas .que acarretam a neurose obsessiva ocorrem no pe ríodo infantil. Aquelas ligadas â paranóia ocorrem na fase pré-púbere e manifestam-se na maturidade. Neste caso, a defesa se manifesta por uma descrença. A histe ria é a única neurose na qual há possibilidade do apa recimento de sintomas mesmo sem a interferência da de fesa. A consciência, no que se refere a memórias, consis te na consciência verbal que lhes pertence, isto é, no acesso às representações verbais a elas associadas. A cons ciência não é ligada exclusiva e inseparavelmente ao campo inconsciente ou campo consciente, de forma que estes nomes talvez devam ser rejeitados. A consciência é determinada por um compromisso entre as diferentes forças psíquicas que entram em conflito entre si quando ocorre recalcamento. Estas forças incluem : a força quan titativa, sendo atraída de acordo com certas regras e re pelida de acordo com as leis da defesa. Os sintomas sur gem do conflito entre os processos psíquicos mentalmen te inibidos e desinibidos. Surge um tipo de perturbação psíquica se a força dos processos desinibidos aumenta; e surge um outro tipo de perturbação se a força da inibi ção do pensamento se afrouxa. 1/233 - 1/316 Carta 50. Sonho do enterro (1896) Freud apresenta o relato de um sonho: Eu estava em algum lugar público e lá eu vi um aviso: "Favor fe char os olhos". Reconheci o lugar como a barbearia onde ia todos os dias. No dia do enterro eu fiquei retido lá e, portanto, cheguei tarde ao velório. A esta alturaminha família estava descontente comigo porque eu havia provi denciado um funeral calmo e simples, embora mais tarde concordassem ter sido o mais adequado. Também leva ram a mal o fato de eu chegar tarde. A frase no aviso tinha um duplo sentido, e em ambos significava: "Cada um deve cumprir seu dever para com os mortos" (uma desculpa, como se eu não o tivesse cumprido e minha conduta necessitasse ser perdoada, e o dever, tomado li teralmente). Assim, o sonho é um escape para a tendên cia a auto-recriminação, habitualmente presente entre os que permanecem vivos. 1 1 Í/234 - 1/317 Carta 52. Estratificaçio dos traços de mem6ria (1896) :e apresentada uma tese de que a memória se apre senta nlo s6 uma vez, mas repetidamente, que ela se assenta em vários tipos de indicação. Ht pelo menos 3 registros, provavelmente mais. Os diferentes registros tamb6m slo separados (nlo necessariamente de modo to pográfico) de acordo com os neurônios que funcionam como veículo. As percepções slo neurônios, nos quais se 'Originam, e aos quais a consciéncia se liga, mas que ret!m em si mesmos qualquer traço do sucedido. A cons ciência e a memória slo mutuamente exclusivas. A indi cação da percepção é o prhneiro registro das percepções; é incapaz de chegar à consciência e se organiza de acordo com as associações, por shnultaneidade. A inconsciência é o segundo registro, organizada de acordo com outras relações (talvez causais). Os traços da inconsciência cor· respondem às memórias conceituais, igualmente inacces síveis à consciência. A pré-consciência é a terceira trans crição, ligada a representaçaes verbais e correspondendo ao ego oficial. Os investimentos provenientes da pré· consciência tomam-se conscientes conforme certas re· gras, e esta consciência de pensamento secundária é sub· seqüente no tempo, e provavelmente ligada à ativação alucinatória das representações verbais, de modo que os neurônios da consciência novamente seriam neurônios perceptivos, desprovidos de memória. Os registros suces sivos representam as realizações psíquicas de sucessivas épocas da vida. No limite entre duas dessas épocas, ocorre uma tradução do material psíquico. A falha na tradução é conhecida como recalcamento. Há 3 grupos de psico neuroses sexuais: histeria, neurose obsessiva e paranóia. Lembranças recalcadas se relacionam ao que se sucedeu, no caso da histeria, entre a idade de 1 ano e meio a 4 anos, na neurose obsessiva, entre 4 e 8 anos e, na para nóia, entre 8 e 14 anos. 1/240 - 1/324 Carta 55. Determiuantes ela psicose (1897) Duas idéias, baseadas em descobertas analíticas slo expostas nesta carta. O determinante de uma psicose (de· lírio ou um estado de confusão mental), em lugar de uma neurose parece ser o abuso sexual que ocorre an tes do fmal do primeiro estágio intelectual (antes dos 15 até os 18 meses). :e possível que este abuso tenha ocorri do em data tio remota que estas experiências fiquem es condidas atrás de outras mais recentes. A epilepsia re monta ao mesmo período. As perversões geralmente con duzem à- zoofilia e possuem um caráter animal. Pode-se explicá-las nlo pelo funcionamento de zonas erógenas, abandonadas posteriormente, mas pela operação de sen· sações erógenas que perdem esta força mais tarde. O principal sentido nos animais é o faro, que perdeu a im· 1 2 portância nos seres humanos. À medida que o olfato (ou o paladar) seja predominante, o cabelo, o rostQ, e toda a superfície do corpo têm um efeito sexualmente excitante. O aumento do sentido do olfato, na histeria, está indubitavelmente, relacionado a este fato. 1/242 - 1/327 Carta 56. Histeria e bruxas (1897) A teoria medieval da possessão, sustentada pelos tribunais eclesitticos é considerada idêntica à teoria do corpo estranho e à clivagem da consciência. As cruel dades tomaram possível entender alguns sintomas da histeria até entlo obscuros. Os inquisidores furavam com agulhas, para descobrir os estigmas do Diabo e, em situa ção semelhante, as víthnas repetiam a mesma antiga e cruel estória (auxiliada pela disshnulação do sedutor). Asshn, nlo s6 as vítimas como também os carrascos re cordavam sua mais remota infância. 1/243 - 1/328 Carta 57. Bruxas e simbolismo (1897) O reexame das bruxas ganha força. Detalhes co meçam a surgir em profusão e seu vôo é explicado; a vas soura em que voam provavelmente é o grão-senhor Pênis. Seus encontros secretos, com danças e outros diverti mentos podem ser observados a qualquer hora nas ruas onde as crianças brincam. Da mesma forma que o vôo e a flutuação no ar podem ser comparados aos feitos acrobá ticos de meninos em ataques histéricos. As ações perver sas são sempre as mesmas. Possuem um significado e um padrão que um dia serlo compreendidos. O sonho per tence a uma religião demoníaca prhnitiva, cujos ritos são executados secretamente. Há um conjunto de in divíduos paranóicos, que contam histórias semelhantes a estas de bruxas. Estes paranóicos se queixam de que colocam fezes em sua comida, maltratam-nos à noite da forma mais abominável, no sentido sexual, etc. Há uma distinção entre ilusão de memória e ilusões interpretati vas. As óltimas estio relacionadas à indefmiçlo caracte rística referente a malfeitores, que se ocultam pela defe. sa. Nos pacientes histéricos, vemos os pais por trás .de seus altos padrões no amor, sua humildade com relação a seus amantes ou do fato de nlo se casarem porque seus ideais não foram atingidos. 1/244 - 1/331 Carta 59. Idade das fantasias histéricas (1897) O ponto que me escapou na solução da histeria re side na descoberta de uma nova fonte de onde surge um novo elemento de produção inconsciente. O que tenho em mente são as fantasias histéricas que, geralmente, ao que me parece remontam a coisas que as crianças ouviram numa idade bem tenra e s6 tam a ser compreendidas pos teriormente. A idade a partir da qual reatstram informa ções desta e�cie � notável: de 6 a 7 meses em diante. 1/245 - 1/331 Carta 60. Sonho com Fliess (1897) Apresenta-se e discute-se um sonho. A causa que provocou o sonho foram os acontecimento do dia ante rior. O sonho era uma mensagem telegráfica que dizia: Via, Casa Secemo� Villa. A interpretação do sonho foi de que coletara todos os aborrecimentos inconsciente mente presentes no sonhador. A interpretação com�leta ocorreu apenas depois que uma casualidade feliz trouxe uma nova confirmação da etiologia paterna. Este era um caso comum de histeria, com os sintomas usuais. 1/247 - 1/334 Carta 61 . Estrutura da histeria (1897) Apresenta-se a estrutura da histeria. Tudo remon ta à reprodução de cenas, algumas das quais podemos atingir diretamente mas outras somente por meio de fantasias. As fantasias derivam-se de coisas que foram ouvidas mas que só foram ouvidas mas que só foram en tendidas posteriormente e todo seu material é autêntico. Funcionam como estruturas protetoras, sublimação de fatos, embelezamento dos mesmos e simultaneamente exonerações. A origem que os precipita talvez sejam as fantasias masturbatórias. Uma outra peça importante de insight é que as estruturas psíquicas que, na histeria, são afetadas pelo recalcamento não se tratam, na realidade, de memórias mas sim de impUlsos que surgem das cenas originárias. Todas as 3 neuroses (histeria, neurose obses siva, e paranóia) exibem os mesmos elementos Gunto com a mesma etiologia), isto é, fragmentos mnêmicos, impulsos (derivados da memória) e ficções protetoras. A penetração destes na consciência e a formação de com promissos (isto e, de sintomas) ocorrem em diferentes pontos nas 3 neuroses. Na histeria, as memórias; na neurose obsessiva, os impUlso perversos; na paranóia, as ficções protetoras (fantasias) representam aquilo que pe netra na vida normal distorcido pelo comprom�so. 1/248 - 1/335 Esboço L. Arquitetura da histeria (1897) A arquitetura da histeria é apresentada neste es boço. O objetivo da histeria parece ser ode retomar às cenas originárias. Em alguns casos isto é conseguido de forma direta, mas em outros por um caminho de subter fúgios. As fantasias são fachadas psíquicas construídas de forma a barrar o acesso a estas memórias. As fantasias ao mesmo tempo servem também à tendência de depurar as coisas ouvidas, das quais se fará uso subseqüentemen- te; assim, combinam algo já experimentado com algo percebido. Uma enorme carga de culpa, e consciancia autocrítica, toma-se possível devido à identificaçlo com gente de moral duvidosa, freqüentemente recordadas como mulheres indignas que mantiveram relações se xuais com o pai ou um irml'o. Havia o caso de uma me nina que tinha medo de colher flores ou até mesmo co gumelos, porque era contrário aos mandamentos de Deus, o qual não deseja destruição dos seres vivos. Na histeria, foram examinados os seguintes acontecimentos e tópicos: o papel desempenhado por criadas, cogume los, dores, multiplicidade de personalidades psíquicas, embalagens, edições múltiplas de fantasias e sonhos rea lizadores de desejos. 1/250 - 1/339 Esboço M. A repressão na histeria (1897) A arquitetura da histeria é apresentada neste es boço. Algumas das cenas são diretamente accessíveis, outras só por meio de fantasias. As cenas se organizam na ordem de aumento da resistência: as de menor recal camento vêm à luz primeiro, porém de forma incomple ta por conta de sua associação com as outras, mais in tensamente recalcadas. Deve-se suspeitar que o elemento essencialmente recalcado é sempre o que é feminino. As fantasias surgem de uma combinação inconsciente, de acordo com certas tendências, de coisas experimen tadas e ouvidas. Estas tendências objetivam tomar inaccessível a memória da qual o sintoma emergiu ou pode emergir. As fantasias se constroem por um proces so de amalgamação e distorção análoga à decomposição de um composto químico. Todos os sintomas de angús tia (fobias) derivam-se das fantasias. Os tipos de desloca mento comprometidos são: o deslocamento por asso ciação, na histeria; deslocamento por semelhança (con ceitual), .na neurose obsessiva (característica do lugar on de a defesa ocorre, e talvez também do momento); e des locamento causal. Na paranóia o recalcamento se dirige inversamento ao tempo, afetando primeiro os aconteci mentos mais recentes. As fantasias, na paranóia, são sis temáticas, todas em harmonia entre si. E as fantasias, na hlsteria, são independentes entre si e contraditórias. 1 /253 - 1/343 Carta 64. Dois sonhos (1897) Freud relatou e discutiu dois sonhos. O primeiro revelava sentimentos de intensa afeição por Matilde, só que esta era chamada de Hella, e depois a palavra Hella aparecia impressa em negrito. A solução foi a de que Hella é o nome de uma sobrinha americana. Matilde podia ter sido chamada de Hella porque, recentemente, lamentara muito as derrotas gregas. Ela demonstra gran- 1 3 de entusiasmo pela mitologia da antiga Helade e, natural mente, considera todos os Helenos como heróis. O sonho mostra a realização do desejo de imputar ao pai a causa da neurose e, desta forma, acabar com as dúvidas que ainda persistem. O segundo sonho tratava a respeito de subir uma . escada vestido muito sumariamente. O sonhador movia-se com grande agilidade . . Súbito, uma mulher entra em cena, fazendo com que ele experimente a sensação de estar grudado ao mesmo local. O senti mento não foi de angústia, mas de excitação erótica. I 1 /254 - 1/344 Esboço N. Impulsos, fantasias e sintomas (1897) Os impulsos hostis contra os pais são componentes integrantes das neuroses. Vêm à luz da consciência como idéias obsessivas. Na paranóia, os delírios de perseguição correspondem a estes impulsos. São recalcados numa época em que é ativa a compaixão pelos pais. Nestas ocasiões, é uma manifestação de pesar recriminar-se pela morte deles ou punir-se, de forma histérica, com os mes mos sintomas de doenças que eles tiveram. Ao que pa rece este desejo de morte, nos ftlhos, se dirige contra o pai e, nas ftlhas, contra a mie. As memórias parecem bi furcar: uma parte delas é posta de lado e substituída por fantasias; outra parte, mais accessível, parece conduzir diretamente aos impulsos. A crença (e a dúvida) é um fenômeno que pertence inteiramente ao sistema do ego e não tem equivalência no inconsciente. Nas neuro ses, a crença é deslocada, e será enviada ao material re calcado e transportada para o material de defesa, como forma de punição, se for forçada a se reproduzir. O me canismo da poesia é o mesmo que aquele das fantasias histéricas. A recordação nunca é um motivo mas ape nas um caminho, um método. O primeiro motivo para a construção de sintomas é, cronologicamente, a libido. Desta maneira, os sintomas, como os sonhos, represen tam a realização de um desejo. O recalcamento dos im pulsos parece produzir não uma angústia mas depressão, melancolia. Desta forma as melancolias estão relaciona das com a neurose obsessiva. A santidade fundamenta-se no fato de que os seres humanos, para benefício da co munidade, sacrificaram uma parte de sua liberdade se xual e a liberdade de se entregarem a perversões. 1/257 - 1/348 Carta 66. A defesa contra as memórias (1897) A defesa contra as memórias não impede que elas originem estruturas psíquicas superiores que, após subsis tirem por algum tempo, são finalmente submetidos à de fesa. Isto, todavia, ocorre de forma altamente especí fica, precisamente cOmo nos sonhos, que contêm, de modo reduzido, a psicologia das neuroses em geral. O 1 4 mais seguro ainda parece ser a explicação dos sonhos, que se acha cercada por inúmeros obstinados enigmas. As questões organológicas esperam por uma solução. Relata-se um sonho interessante de estar vagando entre estranhos, total ou parcialmente despido, com senti mentos de vergonha e ansiedade. As pessoas não se apercebem do fato. Este material onírico, que remonta ao exibicionismo infantil, vem sendo mal compreendido e sua elaboração didática conduziu a um conhecido con to de fadas. 1/259 - 1/350 Carta 67. Dúvida sobre a teoria das neuroses (1897) A carta refletia vários sentimentos pessoais de Freud. As coisas estavam fermentando mas nada estava acabado. A psicologia atingira um grau satisfatório·, mas havia sérias dúvidas sobre a teoria das neuroses. A men te andava vagarosa. Sucedendo um período de entusias mo, surgiu uma época de mau humor. A histeria bran da, muito agravada pelo trabalho, fora resolvida, porém o restante ainda estava em compasso de espera. 1/260 - 1/350 Carta 69. Dúvidas sobre a teoria das neuroses (1897) O autor não mais sustenta a teoria traumática das neuroses. A teoria original. Há 4 razões alegadas para seu abandono: 1) as contínuas decepções nas tentati· vas de trazer a análise a uma conclusão real, o afasta mento de pessoas que, por algum tempo, pareciam estar apoiando a ausência de sucessos completos e a possibilidade de explicar os sucessos parciais de outras maneiras. 2) Em todos os casos o pai teria de ser acusa do de pervertido. 3) A descoberta de que não há indica ções da realidade no inconsciente, de forma que não se pode distinguir entre a verdade e a ficção premeditada de afeto. 4) A reflexão de que nas psicoses mais profun das as memórias de inconscientes não vêm à tona, de forma que o segredo da experiência infántil não é delatado mesmo nos delírios mais confusos. Estas dúvidas formam o resultado em um esforço intelectual honesto e trabalhoso. 1/261 - 1/353 Carta 70. Memórias antigas de Freud na sua auto-análi se (1897) A auto-análise de Freud, que ele considerava in dispensável para esclarecer certos problemas, prosseguiu por meio dos sonhos e forneceu várias inferências e pis tas valiosas. Em resumo, parece que o pai não qesem penhou uma parte ativa no caso, mais por analogia a ele, fez-se uma inferência. A origem primeira foi uma mulher feia, velha, porém inteligente, que lhe ensinou muito so-bre Deus Todo-Poderoso e o Inferno, e que lhe incutiu um alto conceito quanto às suas próprias capacidades. Mais tarde, entre os 2 e 2 1/2 anos de idade, a libido ati vou-se em direçlo à mie. Relata-se um sonho envolvendo sua professora em assuntos sexuais, que o repreende por ser desajeitado, lava-o numa água vennelha e obriga-o dar-lhe moedas de prata. Resume isto como "mau trata mento" e alude à sua impotência como terapeuta, já que recebe dinheiro pelo mau tratamento que oferece a seus pacientes. 1/263 - 1/356 Carta 71. Uniwrsalidade do complexo de �po (1897) A auto-análise parecia ser a tarefa mais essencial para Freud. A interpretaçlo de um sonho foi confumada por uma conversa com a mie. Concluiu ser boa prática manter-se completamente honesto consigo mesmo. Con siderou que o amor pela mlie e ciúmes do pai constitui um acontecimento universal da primeira infância. P<_?r es ta razlio, pode-se entender a intensa força de Edipo Rei &peculou-se que Hamlet tinha o mesmo tipo de sentimentos com relaçio a seu pai e sua mie. 1/266 - 1/360 Carta 72. As resistências refletem a inf'ancia (1897) A resistência, que acaba por estacionar o trabalho, nada mais é que o primitivo caráter degenerado da crian ça, que (como resultado daquelas experiências que en contramos presentes conscientemente nos ditos casos de generados) desenvolveu-se ou poderia ter se desenvolvi do, mas que se encobre com a ocorrência do recalcamen to. Este caráter infantil se desenvolveu durante o perío do de "nostalgia", depois que a criança foi afastada das experiências sexuais. A "nostalgia" é o principal traço de caráter da histeria bem como a frigidez constitui seu principal sintoma. Durante este período de "nostal gia", constroem-se as fantasias e pratica-se a masturba çio, o que futuramente conduz ao recalcamento. Se este não se processa, então nlo há histeria; a descarga da exci tação sexual remove, em sua maior parte, a possibilidade de histeria. 1/267 - 1/360 Carta 73. Crianças falam durante o sono (1897) Sua análise prossegue e continua sendo o interesse principal de . Freud. Tudo é ainda obscuro, mesmo os problemas, mas há uma sensaçlo reconfortante de que basta procurar dentro de si próprio para encontrar, mais cedo ou mais tarde, o que necessitamos. O mais desagra dável são os estados de espírito que, com freqüência, en- cobrem completamente a realidade. Para alguém como ele, a excitaçlo sexual na:o serve mais. Relata a fala de uma criança de 1 ano e 1/2 e a interpreta como a realiza ção de um desejo. A pequena Ana teve que ficar um dia sem comer por ter passado mal de manhã, o que atri bui-se a uma quantidade excessiva de morangos. Durante a noite seguinte, ela citou um menu completo: "Molan gos, molangos silvestles, ombelete, podium". 1/268 - 1/361 Carta 75. Zonas er6genas (1897) Há algo orgânico que tem um papel no recalca mento. Esta noçio se liga à mudança, representada pe las sensações do olfato; a postura ereta que foi adota da. O nariz afastou-se do chlio ao mesmo tempo que inúmeras sensações interessantes, resultantes da proximi dade do solo, tornaram-se repulsivas por um processo desconhecido. As zonas que nio mais produzem uma descarga da sexualidade nos seres humanos normais e maduros devem ser as zonas do ânus, da boca e gargan ta. O aspecto e a idéia destas zonas nio mais produzem um efeito excitante, e as sensações internas delas prove nientes não contribuem para a libido, como os órgãos sexuais o fazem. Nos animais estas zonas sexuais conti nuam ativas em ambos os aspectos: se isto persiste no ser humano, o resultado é uma perverslio. Da mesma fonna como afastamos a cabeça e o nariz repulsivamen te, nossa pré-consciência e nosso sentido consciente se afastam da memória. Isto é o recalcamento. As experiên cias da infância que afetam simplesmente os órgãos geni tais nunca produzem neuroses em homens (ou mulheres masculinas), mas somente masturbação compulsiva e li bido. A escolha da neurose obsessiva, ou paranóia, de pende da natureza do estágio de desenvolvimento (isto é, da localizaçlo cronológica) que pennitirá a ocorrên cia do recalcamento. 1/272 - 1/367 Carta 79. Masturbaçlio, vício e neurose obsessiva (1897) A masturbação é um hábito de grande vulto, o ''vício primário" e os outros vícios como álcool, fumo, morfina, etc. surgem como substitutos dele . O papel desempenhado por este vício na histeria é enonne, e é talvez na masturbação que se possa encontrar seu prin cipal obstáculo. No que se refere à neurose obsessiva, é fato confinnado que o local em que o recalcado irrom pe é na representaçlio verbal e não no conceito a ela li gado. Daí as coisas mais disparatadas se unirem rapi damente como uma idéia obsQSiva, sob uma só pala vra de inúmeros significadQJ. As idéias obsessivas apre sentam, freqüentemente,. uma admirável indefinição ver bal de modo a permitirem um emprego múltiplo. 1 5 1/274 - 1/369 Carta 84. Sonhos e mOifnele (1898) Numa carta, Freud escreveu que o livro dos sonhos estava novamente parado e que o problema fora aprofun· dado e se expandira. A teoria da realização de desejos trouxe apenas uma saluçlo psicológica e nio biológica, ou, melhor, uma solução m�tafísica. Biologicamente, a vida onírica parece derivar inteiramente dos resíduos do período pré-histórico da vida, período este que é a fonte do inconsciente e que, por si s6, contém a etiologia de todas as psiconeuroses; um período normalmente carac· terizado por uma amnésia análoga à amnésia histérica. Foi sugerida a seguinte fórmula: o que é visto no pe· ríodo pré-histórico produz sonhos; o que é ouvido, pro· duz fantasias; e o que é experimentado sexualmente, produz as psiconeuroses. A repetição do que foi experi· mentado naquele período constitui em si a realização de um desejo: um desejo recente s6 conduz a um sonho se puder estabelecer uma conexão com o material des te período pré-histórico, se for um derivativo ou se lo grar ser aceito por um destes desejos pré-históricos. 1/27S - 1/371 Carta 97. Enureae infantil (1898) O sujeito deste novo caso é um jovem de 25 anos, que mal pode andar devido a rigidez das pernas, espas mos, tremores, etC. A angústia paralela a esSes sintomas, que o faz grudar-se às saias da mãe, é uma garantia con tra a possibilidade de um erro de diagnóstico. A morte de seu irmã'o e de seu pai psic6tico precipitaram o esta belecimento de seu estado, presente desde os 14 anos. Sente vergonha diante de qualquer pessoa que veja andar desta forma e considera isso natural. Seu modelo é um tio tabético, com quem se identificou aos 13 anos por conta de uma etiologia aceita (levar uma vida disso · luta). A vergonha consiste apenas num acréscimo aos sin· tomas e deve relacionar-se ao outro fator precipitante. Seu tio não tinha o menor constrangimento pelo seu modo de andar. A conexão entre a vergonha e seu andar era racional, há vários anos atrás, quando teve gonorréia, nitidamente perceptível pela sua maneira de andar, e mesmo alguns anos antes, quando ereções constantes (sem razio aparente) interferiam no seu caminhar. Toda a história de sua juventude apresenta, por um lado, seu clímax nos sintomas da perna e, por outro, libera o afeto concomitante e os dois sfo ligados apenas para efeito de sua percepção interna. 1/276 - 1/�72 Carta 101. Fantasias retroSpectivas (1899) �, Nesta carta, Freud escreveu que um elemento da sua auto-análise evoluiu e confirmou que as fantasias são 1 6 produtos de períodos posteriores, sendo projetadas do entlo presente para a mais remota tnfincia, e a forma como isto ocorre emergiu, uma vez mais sob a forma de uma associaçio verbal. Encontrou-se um outro elemento psíquico de importância geral, tamb6m considerado como sendo um estágio preliminar dos sintomas. O pa· drão onírico é capaz das mais generalizadas aplicações, e a chave da histeria, na realidade, também se encontra nos sonhos. 1/277 - 1/373 Carta
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