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FREUD - Resumo das Obras Completas

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FBEUD 
Resumo das 
Obras Completas 
LIVRARIA ATHENEU 
EDIÇÕES ATHENEU 
SÉRIE PSIQUIATRIA, PSICOLOGIA, PSICANÁLISE 
ANDRADE 
ANDRADE 
ARAUJO LEITÃO 
ASTRUP 
BAUNT 
BICKERSTAFF 
DENBER 
FENICHEL 
FREUD 
GRUNSPUN 
GRUNSPUN 
GRUNSPUN 
HEBB 
JASPERS 
JUNG 
KNOBEL 
KRINSKY 
LA PORTA 
LEME LOPES 
LIEF 
AI ACHADO 
AIALDONADO/ 
CANELLA 
MANHÃES 
MATHES 
MUNJACK 
PERESTRELLO 
SALVADOR 
SHADERS 
SIECUS 
SPOERRI 
Manual de Hifmose Médica e Odontológica-Texto Básico 
Parapsicologia- Panorama Atual das Funções PSJ 
Paralisia Cerellral-Diagnóstico, Terapia, Reabilitação 
Psiquiatria Pavloviana-A Rejlexologia Atual na Prática Médica 
O Médico, seu Paciente e a Doença 
Exame Neurológico na Prática Médica 
Compêndio de Psicofarmacologia Clínica 
Teoria Psicanalítica das Neuroses 
Resumo das Ollras Completas 
Distúrbios Neuróticos da Criança 
Distúrbios Psiquiátricos da Criança 
Distúrbios Psicossomáticos da Criança 
Psicologia (2 vols.) 
Psicopatologia Geral (2 vols.) 
Resumo das Ollras Completas 
A Adolescência e a Família Atual-Visão Psicanalítica 
Defu:iência Mental 
Estudo Psicanalítico dos Rituais Afro-Brasileiros 
O Delírio-Perspectivas e Tratamento 
Sexualidade Humana-Orientação Médica e Psicológica Atual 
N euroanatomia Funcional 
Relação Médico-Cliente em Ginecologia e Obstetrícia 
Psicologia da Mulher 
Epilepsia 
Guia e Tratamento Médico-Psicológico dos Problemas 
Sexuais 
A Medicina da Pessoa 
Curso de Psicopatologia 
Manual de Terapêutica Psiquiátrica 
Cadernos de Educação Sexual 
Compêndio de Psiquiatria 
Sigmund Freud 
Resumo 
das Obras 
Completas 
COORDENAÇÃO EDITORIAL 
Carrie Lee Rothgeb 
National Clearinghouse for Mental Health Infonnation 
Estados Unidos da América do Norte 
TRADUÇÃO 
Paulo da Costa Rzezinski 
Especialista em Psiquiatria, Instituto de Psiquiatria, UFRJ 
Do Instituto de Psicanálise da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro 
LIVRARIA ATHENEU- Rio de Janeiro- S. Paulo- 1984 
LIVRARIA ATHENEU 
Rio de Janeiro - Rua Bambina, 74 
Te/s.: 266-1295 - 226-4793 
Rua Senador Dantas, 56-8 
Te/.: 240-4036 
São Paulo - Rua Jesuíno Pascoal, 30 
Te/.: 220-9186 
PLANEJAMENTO GRÁFICO Equip.e Atheneu 
CAPA E. Veiga 
Digitalização para PDF: Zekitcha 
Brasília (DF), 19 de fevereiro de 2017. 
FREUDS. 
Resumo das Obras Completas 
direitos de tradução cedidos por U. S. Department of Hea/th, Education and Welfare. 
Estados Unidos.da América do Norte 
© edição em língua portÜguesa • Livraria Atheneu- Rio de Janeiro • São Paulo 1984 
Introdução 
Os problemas de saúde mental em nossa nação estão sendo combatidos de 
vária� formas. Uma das mais ünportan(es é a divulgação e integração dos 
conhecimentos existentes. 
· 
Nós do Instituto Nacional de Saúde Mental estamos convictos de que os 
responsáveis pela pesquisa e treinamento em saúde mental, indepen<Jente de 
suas convicções teóricas, venham a beneficiar-se da infusão de novos 
conhecimentos a estimular seus processos críticos e a contribuir pS;lra o corpo de 
conhecimentos científicos que está crescendo, através dé novas avaliações. 
Estes benefícios e contribuições são ic_entuados e facilitados quando 
interpretados e seguidos à luz do saber at�al. Um objetivo importante do 
Instituto, através da Câmara Nacional de Informação sobre Saúde Mental, é 
colocar estes conhecimentos à disposição, de forma a encorajar o seu uso. 
Com este espírito, a Câmara colaborou com a Associação Psicanalítica 
Americana num esforço pioneiro pata resumir a Edição Padrão de Freud. 
Embora reconheçamos que os conceitos teóricos de Freud são representativos 
apenas de uma escola de pensamento em psiquiatria, certamente são únicos nos 
diálogos que estimularam, na pesquisa que promoveram, e na contribuição que 
deram aos principais esforços terapêuticos. Este é entãp um passo em direção ao 
nosso objetivo final de favorecer o acesso ao conhecimento, que promoverá um 
maior número de investigações nas diversas filosofias e linhas de abordagem. 
O Resumo da Edição Padrão de Freud é uma compilação compreendida de 
sinopses, ligada aos conceitos psicanalíticos, que se encontram lia Edição 
Padrão de Freud editada por James Strachey. O índice designa-se a servir de 
guia �to para os profissionais como para os leigos. Achamos .que o resumo 
incitará novas pesquisas que levarão a Outras investigações mais eficientes. 
Este volume é um símbolo do esforço do Instituto Nacional de Saúde Mental, 
através da Câmara Nacional de Informação sobre Saúde Mental, para auxiliar o 
processo de comunicação. 
Neste caso, o vigésimo quinto ano de aniversário do Ato Nacional de Saúde 
Mental, está coincidindo não só com o fato de procurarmos progressos futuros 
nas ciências mentais, mas também de conseguirmos uma maior perspectiva das 
contribuições passadas. Esta obra serve de modelo do que pode· ser feito e do 
que será feito de forma crescente pelo Instituto e, com igual importância, por 
outros. 
BERTRAM S. BROWN, M.D. 
Diretor 
Prefácio 
A publicação, durante QS últimos 18 meses, da edição inglesa definitiva dos 
trabalhos psicológicos de Sigmund Freud, foi uma conquista marcante para a 
psicanálise, para as ciências comportamentais e para o progresso do pensamento 
científico e avanço intelectual em geral. 
Os 23 volumes da Edição Padrão (espera-se para breve a publicação de um 
vigésimo quarto volume-índice), com ·sua tradução cuidadosa e fluente e as notas 
editoriais sintetizadoras, extensivas e reflexivas, feitas pelo falecido James 
Strachey e seus colaboradores, tornaram-se uma fonte educacional e de pesquisa 
única para psicanalistas em formação, para aqueles que possuem muitos anos de 
prática em psicanálise, pesquisadores, bem como para os estudantes e 
trabalhadores ligados à ampla área das ciências comportamentais. 
O presente volume, consistindo de sinopses de todos os artigos e notas do 
editor que compreendem a Edição Padrão completa. é fruto do interesse e 
esforço persistentes e combinados do Comitê de Indexação da Associação 
Americana de Psicanálise e da Câmara Nacional de Informação sobre Saúde 
Mental. 
O Trabalho do Comitê de Indexação na preparação e controle de qualidade 
destas sinopses, recebeu um forte apoio e foi consistentemente encorajado pela 
Diretoria, Conselho Executivo e pela totalidade dos membros da Associação 
Americana de Psicanálise. 
Devemos compreender que qualquer tentativa de resumir os trabalhos de 
Sigmund Freud, de caráter literário único com seus exemplos clínicos claros e 
relevantes (às vezes vívidos), é uma tarefa desafiadora e extremamente difícil. 
Se a revisão da tradução da Standard por si só constituiu um desafio, em termos 
de precisão e significado, as dificuldad�s em r�i-la foram igualmente 
monumentais. O fato de termos tentado o resumo já é uma conquista e um 
tributo para os que aceitaram o desafio, especialm�nte a Câmara Nacional de 
Informação sobre Saúde· �ental e o serviço profissional de resumo com que 
trabalhou. 
Para os estudantes conscienciosos e experientes dos escritos e conceitos de 
Freud, haverá certas lacunas e áreas incompletas em algumas das sinopses, em 
parte, devido às dificuldades intrínsecas mencionadas acima e, em parte, devido 
às solicitações e rigorosidade de um importante e complexo projeto de 
computação, que visa a fazer o índice e resumir a literatura científica 
comportamental (com a limitação de um máximo de 350 palavras para cada 
sinopse). 
· 
No decorrer do projeto de resumo, foram sugeridas várias revisões e 
acréscimos pelo Comitê de Indexação, auxiliado pela Divisão de Educação 
Psicanalítica, pelo Centro Médico Estadual, pela Universidade do Estado de 
Nova York e pelo Instituto Psicanalítico de Nova York; na medida do possível, 
.estas correções foram incorporadas ao texto final. 
Apesar destas limitações, as sinopses, em sua forma atual, são de valor 
inestimável para as pessoas interessadas numa compreensão inicial dos 
conceitos principais da psicanálise, vistos num contexto histórico, como 
foram desenvolvidas por Sigmund Freud. Serãoum auxílio em termos de 
referência e visão gerais para o psicanalista formado e ao mesmo tempo 
oferecerão inúmeras vantagens para todos que trabalham nas ciências 
comportamentais. Aqui, podemos incluir os psiquiatras, os residentes em 
instituições psiquiátricas, os assistentes sociais vinculados a estabelecimentos 
psiquiátricos e os psicólogos, bem como os estudantes diplomados e os 
estudantes de medicina, que estão desenvolvendo uma compreensão e interesse 
maior e mais profundo pel& psicanálise clássica. Entre outros usos incidentais 
mais importantes.das sinopses, está a sua contribuição para o desenvolvimento e 
a publicação de um índice adicional para a Edição Padrão. 
A publicação destas sinopses por ocasião do vigésimo quinto aniversário do 
Ato Nacional de Saúde Mental, parece uma forma inusitadamente feliz e 
apropriada de homenagear Sigmund Freud, a Psicanálise e o espírito do ato 
legislativo, que promoveu o reconhecimento nacional do significado da solução 
dos problemas de saúde mental, que afetam o povo dos Estados Unidos. 
BERNARD D. FINE, M.D., F.A.P.A. 
Catedrático do ·comitê de lndices 
da Associaçào Psicanalítica 
Americana 
Palavras do Coordenador Editorial 
O trabalho começou pelas sinopses da Ediçâo Padrâo das Obras Psicológicas 
de Sigmund Freud (James Strachey, ed., Hogarth Press, Londres), de forma a 
torná-las disponíveis através do si.stema de pesquisa do computador da Câmara 
Nacional de Informação sobre Saúde Mental. Logo ficou evidente que sua 
utilidade poderia aumentar muito, se fosse providenciado um volume impresso 
com todas as sinopses e um índice de matérias. Portanto, esta publicação 
destinou-se a preencher uma necessidade premente, implicando uma referência 
posterior à obra de Freud. 
A Câmara Nacional de Informação sobre Saúde Mental agradece ao Dr. 
Bernard D. Fine, Catedrático do Comitê de Indexação da Associação 
Psicanalítica Americana, pela elaboração da lista de unidades para resumo e pela 
assistência na revisão das sinopses e ao Dr. George H. Klumpner, Coordemtdor 
do Grupo de Pesquisa Psicanalítica de Indexação de Chicago, pela elaboração 
dos índices remissivos da numeração de Tyson-Strackey para a Ediçâo Padrâo e 
pelo auxílio no preparo do índice PCFC. 
CARRIE LEE ROTHGEB 
Chefe do Setor de lnji>rmaçâo Técnica da Câmara 
Naciona(para lnji>rmaçâo de Saúde Mental. 
Sumário 
VOL.I 
VOL. II 
VOL. III 
VOL. IV 
VOL. V 
Publicações pré-psicanalíticas e rascunhos não publicados 
( 1886-1899)- 3 
Estudos sobre a Histeria (1895-1895)- 19 
Primeiras Publicações Psicanalíticas ( 1893-1899)- 24 
A Interpretação dos Sonhos (I) ( 1900) - 3 I 
A I nterpretàção dos Sonhos ( 11) e Sobre os Sonhos 
(1900-1901)- 37 
VOL. VI A Psicopatologia da Vida Quotidiana ( 1901)--,---- 43 
VOL. VII Um Caso de Histeria. Três Ensaios sobre a Sexualidade e 
VOL. VIII 
VOL. IX 
VOL. X 
VOL. XI 
Outros Trabalhos (1901-1905)- 47 
Chistes e sua Relação com o Inconsciente ( 1905)- 57 
"Gradiva" de Jensen e Outros Trabalhos ( 1906-1908)- 62 
Os Casos do "Pequeno Hans" e do "Homem dos Ratos" 
( 1909)- 68 
Cinco Lições de Psicanálise, Leonardo e Outros Trabalhos 
( 1910)- 72 
VOL. XII O Caso de Schreber, Artigos sobre Técnica e Outros 
Trabalhos(I911-1913)- 79 
VOL. XIII Totem e Tabu e Outros Trabalhos ( 1913-1914)- 87 
VOL. XIV A História do Movimento Psicanalítico, Artigos sobre 
Metapsicologia e Outros Trabalhos ( 1914-1916)- 94 
VOL. XV Conferências Introdutórias à Psicanálise (Partes I e 11) 
(1915-1916)-104 
·VOL. XVI Conferências Introdutórias à Psicànálise (Parte 111) 
(1916-1917)-108 
VOL.. XVII Uma. Neurose Infantil e Outros Trabalhos (1917-1919)-
113 
VOL. XVIII Além do Princípio do Prazer, Psicologia de Grupo e Outros 
Trabalhos ( 1920-1922) -121 
VOL. XIX O Ego e o Id e Outros Trabalhos (1923-1925)- 132 
VOL. XX Um Estudo Autobiográfico, Inibições, Sintomas e 
Angústia, a Análise Leiga e Outros Trabalhos ( 1925-1926) 
-144 
VOL. XXI O Futuro de uma Ilusão, o Mal-Estar da Civilização e 
Outros Trabalhos (1925-1926)-155 
VOL. XXII Novas Conferências Introdutórias à Psicanálise e Outros 
Trabalhos (193 2-1936) -164 
VOL. XXIII Moisé.s e o Monoteísmo, Esboço de Psicanálise e Outros 
Trabalhos (1937-1939)-169 
Resumo 
VOLUME I. Publicaç6es Pré-Psicanalíticas e Esboços não 
Publicados ( 1886-1 889) 
1/xxi- 1/13 
Prefácio ( 1966) 
O objetivo deste trabalho é incluir a totalidade dos 
escritos psicológicos de Freud já publicados nas Obras 
Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Edição Pa­
drão). A Edição Padrão não inclui a correspondência de 
Freud. Nem contém qualquer relato ou sumário publica­
do em jornais da época sobre conferências ou disserta­
ções feitas por Freud em seus primeiros dias nas reuniões 
de várias sociedades médicas em Viena. O conteúdo to­
tal da Gesamme/te Werke aparece na Edição Padrão. Em 
geral, cada volume contém todas as obras que pertencem 
a um período espedfico de anos. As traduções baseiam­
se nas últimas edições alemãs publicadas enquanto Freud 
era vivo. Esta edição foi planejada tendo em mente o 
estudante consciencioso. Os comentários na Edição Pa­
drão são de vários tipos. Primeiro há as notas puramen­
te textuais. Seguem-se várias e numerosas alusões histó­
ricas e locais e citações literárias feitas por Freud. Outra 
classe de anotações é o índice remissivo. Por último e 
mais raramente, há as notas explanatórias das observa­
ções de Freud. Cada trabalho separado vem com uma 
nota introdutória. Usa-se a regra de tradução uniforme 
que se estende a frases e passagens inteiras. São apre­
sentados alguns termos técnicos, cuja tradução necessi­
te comentário. 
1 /3- 1/35 
Relatos sobre os estudos de Freud em Paris e Berlim 
(1 886) 
Apresenta-se um relatório de Freud sobre algumas 
atividades em Paris e Berlim. A Salpetriere em Paris 
foi transformada em lar para senhoras de idade e forne­
ceu abrigo para 5.000 pessoas. As doenças nervosas crô­
nicas aparecem com freqüência especial. Abriu-se uma 
seção clínica na qual eram admitidos para tratamento 
tanto os pacientes homens quanto mulheres. No seu es­
tudo sobre a histeria, Charcot, detentor da Cátedra de 
Neuropatologia na Salpetriêre partiu dos casos mais 
patentes. Começou reduzindo a conexão da neurose 
com o sistema genital a uma proporção correta, demons­
trando a freqüência insuspeitada de casos de histeria 
masculina e especialmente de histeria traumática. Nes­
tes casos típicos, encontrou em seguida uma quanti­
dade de sinais somáticos que lhe permitiram estabelecer 
o diagnóstico de histeria com segurança, na base de in­
dicações positivas. Fazendo um estudo científico do hip­
notismo, um setor da neuropatologia que teve de ser 
arrancado, por um lado, do ceticismo e por outro, da 
fraude, ele mesmo chegou a uma espécie de teoria da sin­
tomatologia histérica. Por seus esforços, a histeria foi 
retirada do caos das neuroses e diferenciada de outras 
condições de aspecto similar. Em Berlim, havia uma 
ampla oportunidade para examinar crianças que sofriam 
de doenças nervosas, em ambulatórios. 
· 
1/19 - 1/53 
Prefácio da Tradução das conferências de Charcot sobre 
doenças do sistema nervoso ( 1886) 
No inverno de 1885, o Professor Charcot já não es­
tava mais estudando as doenças que se baseavam em al­
terações orgânicas e se dedicava exclusivamente à pesqui­
sa sobre as neuroses e especialmente à histeria. Charcot 
deu permissão a Freud para fazer uma tradução alemã 
de suas conferências. O âmago deste livro de conferên­
cias traduzidas está nas conferências fundamentais e ma­
gistrais sobre a histeria que, juntamente com 'autor, se 
3 
esperava que abrissem uma nova época na avaliação des­
ta neurose pouco conhecida e muito maligna. 
1/23 - 1/59 
Observação de um caso grave de hemianestesia em um 
paciente histérico (1886) 
É apresentada a observação feita por Freud de um 
caso grave de hemianestesia num homem histérico. O 
paciente era um gravador de 29 anos; um homem inte­
ligente, que prontamente se ofereceu para ser examina­do na esperança de uma recuperação rápida. O paciente 
desenvolveu-se nonnalmente na inf"'ancia. Com a idade de 
8 anos foi atropelado na rua. Disso resultou uma ligeira 
perda auditiva. Sua doença remontava há 3 anos, época 
em que ele teve uma briga com um irmão dissoluto que 
se recusou a devolver-lhe um empréstimo em dinheiro. 
Esse innã'o ameaçou apunhalá-lo, correndo ele para casa 
onde ficou inconsciente cerca de duas horas. A sensibi­
lidade na parte esquerda de seu corpo pareceu alterar-se 
e sua visã'o passou a se fatigar facilmente no trabalho. 
Com algumas oscilações, esta condiçã"o pennaneceu idên­
tica durante 3 anos, até 7 semanas atrás, quando uma 
nova agitação trouxe uma mudança para pior. Uma mu­
lher acusou o paciente de roubo, e este teve palpitações 
violentas e ficou tão deprimido durante cerca de uma 
quinzena que pensou em suicidar-se; ao mesmo tempo 
estabeleceu-se grave tremor na extremidade esquerda. Do 
lado esquerdo o único que não foi afetado foi a audição. 
A anestesia também se manifestou no braço esquerdo, 
no tronco e na perna. Seus reflexos eram mais rápidos 
que o nonnal, e mostravam-se pouco consistentes entre 
si. De acordo com a hemianestesia histérica, o paciente 
exibia tanto espontaneamente como sob pressão, áreas 
dolorosas no que seria o lado insensível de seu corpo, 
que são as conhecidas zonas histerogênicas, embora neste 
caso não fosse marcante sua conexão com 
·
a provocação 
de ataques. O lado direito do corpo não estava totalmente 
livre da anestesia embora aí fosse leve e parecesse afetar 
somente a pele. 
1 /35 - 1/7 1 
Duas revisões breves. Neurastenia Aguda de Averbeck e 
Neurastenia e Histeria de Weir Mitchell (1887) 
Apresenta-se uma revisão feita por Freud da Die 
Akute Neurasthenia. Podemos descrever a neurastenia 
como a doença mais comum na sociedade. Ela complica 
e agrava a maioria dos outros quadros clínicos nos pacien­
tes das classes mais altas, e/ou é encarada por eles como 
um modo novo de conteúdo arbitrariamente composto. 
4 
A neurastenia nã"o é quadro clínico no sentido dos ma­
nuais que se baseiam exclusivamente em anatomia pl\to­
lógica: deveria ser descrita como um tipo de reação do 
sistema nervoso. É apresentada uma revisão do Die 
Behandlung Gewisser Formen von Neurasthenie und 
Hysterie de Weir Mitchell. O método terapêutico pro­
posto por Weir Mitchell foi recomendado pela primei­
ra vez na Alemanha por Bukart e teve pleno reconheci­
mento durante o ano anterior numa conferência feita 
por Leyden. Este método, por uma combinação de re­
pouso na cama, isolamento, alimentação, massagem 
e tratamento elétrico de fonna estritamente regrada, 
melhora os estados graves e duradouros de exaustão 
nervosa. 
1 /39 - 1/79 
Histeria (1888) 
O nome histeria origina-se dos primórdios da me­
dicina e é um resultado do preconceito que liga as neuro­
ses às doenças do aparelho genital feminino. A histeria 
é uma neurose no sentido estrito da palavra. É fundamen­
talmente diferente da neurastenia e oposta a ela. A sinto­
matologia da grande histeria se compõe de uma série de 
sintomas que inclui os seguintes ataques convulsivos, 
zonas histerogênicas, distúrbios da sensibilidade, distúr­
bios da atividade sensorial, paralisia e contrações. A sin­
tomatologia da histeria tem uma série de características ge­
rais. As manifestações histéricas têm a característica de 
serem exageradas. Ao mesmo tempo, qualquer sintoma 
particular pode ocorrer isoladamente: a anestesia e para­
lisia não vêm acompanhadas pelo fenômeno geral que, 
no caso das lesões orgânicas, evidenciam a afecção ce­
rebral e que via de regra por sua importância deixam 
ocultos os sintomas localizados. É especialmente carac­
terístico da histeria que um distúrbio se apresente alta­
mente desenvolvido e ao mesmo tempo extremamente 
limitado. Além disso, os sintomas histéricos produzem 
alterações que desde o seu estabelecimento exclui-se 
qualquer suspeita de lesão física. Em acréscimo aos sin­
tomas físicos da histeria, observa-se uma série de distúr­
bios psíquicos. São estes: mudanças no fluxo e na asso­
ciação das idéias, inibições da atividade volutiva, aumen­
to e supressão dos sentimentos, etc. A histeria antes re­
presenta uma anomalia constitucional que uma doença 
circunscrita. Os primeiros sinais aparecem provavelmen­
te no início da juventude. A histeria pode vir associa­
da a várias outras doenças nervosas e orgânicas e tais 
casos apresentam grandes dificuldades de análise. Do 
ponto de vista de tratamento devemos separar três tare­
fas: o tratamento da disposição histérica, de crises his­
téricas e de sintomas histéricos individuais. 
1/61 - 1/105 
Artigos sobre hipnotismo e sugestão (Introdução do Edi­
tor) (1966) 
Depois da volta de Freud de Paris para Viena em 
1886, ele devotou muita atenção por algun� anos ao es­
tudo do hipnotismo e sugestão. Freud tinha uma expe­
riência clínica vasta com hipnotismo. Enquanto era 
ainda estudante assistiu a uma exibição pública de Han­
sen o magnetizador e se convenceu da autenticidade do 
fenômeno da hipnose. Depois de se estabelecer em 
Viena como especialista dos nervos, fez tentativas de usar 
vários métodos, tais como eletroterapia, hidroterapia, 
curas pelo repouso para tratar as neuroses mas, no fi. 
nal, recaiu no hipnotismo. Logo parou de usá-lo; toda­
via seu interesse na teoria do hipnotismo e sugestão 
durou mais que o uso propriamente dito do hipnotis­
mo. Apesar do abandono prematuro da hipnose como 
método terapêutico, Freud nunca hesitou durante sua 
vida em expressar sua admiração por ela. 
1/73 - 1/117 
Prefácio da tradução do trabalho de Bernheim sobre su­
gestão (1888) 
O trabalho do Dr. Bernheim de Nancy fornece 
uma introdução admirável ao estudo do hipnotismo, li­
gando-o a fenômenos familiares da vida psicológica nor­
mal e do sono. O assunto do hipnotismo foi recebido 
de modo bem desfavorável entre os líderes de formação 
médica alemã. A posição predominante era de dúvida 
quanto à realidade do fenômeno hipnótico e buscava ex­
plicar os relatos apresentados como se devendo a uma 
combinação de credulidade por parte dos observadores 
e de simulaçilo por parte dos indivíduos que realizavam 
os experimentos. Outra posição de argumentação hostil 
â hipnose rejeita-a como sendo perigosa para a saúde 
mental do indivíduo e rotula-a de psicose produzida expe­
rimentalmente. O livro de Bernheim; Hypnotism and 
Suggestion, discute outra questão, que divide os que 
apóiam o hipnotismo em 2 grupos opostos. Um dos par­
tidos, cujo porta-voz é o Dr. Bernheim, sustenta que 
todos os fenômenos do hipnotismo têm a mesma ori­
gem; surgem de uma sugestão, isto é, uma idéia cons� 
ciente, que foi introduzida na mente da pessoa hipnoti­
zada por uma influência externa e foi aceita por ela 
como se surgisse espontaneamente. Deste ponto de vis­
ta todas as manifestações hipnóticas seriam fenômenos 
psíquicos efeitos de sugestões. O outro partido, ao con­
trário, é da opinião que o mecanismo de pelo menos al­
gumas das manifestações do hipnotismo se baseia nas 
mudanças fisiológicas que ocorrem sem a participação 
das partes que operam com consciência; falam, por con­
seguinte, dos fenômenos físicos ou fisiológicos da 
hipnose. A hipnose, quer seja produzida de uma for­
ma ou outra, é sempre a mesma e mostra as mesmas 
características. 
1/89 - 1/136 
Revisão do livro de Augusto Forel (so�re hipnotismo) 
(1889) 
O livro de Forel, Hipnotism, Its Significance, and 
lts Management é conciso, expresso com grande clareza 
e de forma decisiva, e sobre o campo inteiro de fenôme­
nos e problemas compreendidos sob o título de teoria 
do hipnotismo. Nas seções introdutórias de seu livro, 
Forel procura tanto quanto possível fazer a distinção en­
tre fatos, teorias, conceitos e terminologia. A caracterís­
tica principal do hipnotismo é a de ser possível colocar 
uma pessoa num estado mental específico que se asseme­
lha ao sono. Este estado é conhecido como hipnose. Um 
segundo conjunto de fatos é a maneira comose inicia (e 
termina) este estado. E um terceiro conjunto de fatos 
se refere ao desempenho da pessoa hipnotizada. Outros 
fatos inquestionáveis são a dependência em que fica a 
atividade mental do indivíduo hipnotizado com relação 
â atividade mental do hipnotizador e a produção do que 
conhecemos como efeitos pós-hipnóticos no hipnoti­
zado. Foram elaborados três teorias fundamentalmente 
diferentes para explicar o fenômeno da hipnose. A mais 
antiga acha que, no ato de hipnotizar, ocorre a passa­
gem de um material imponderável do hipnotizador para 
o organismo hipnotizado (magnetismo). Uma segunda 
teoria, somática, explica o fenômeno hipnótico com base 
nos reflexos medulares; considera a hipnose como uma 
condição fisiológica do sistema nervoso que está alterada 
e que surge por estímulos externos. Forel se firma numa 
terceira teoria. De acordo com esta, todos os fenômenos 
da hipnose são efeitos psíquicos, efeitos de idéias que 
são provocadas no indivíduo hipnotizado seja de forma 
intencional ou não. A segunda seção do livro, lida com 
a sugestão e cobre todo o campo de fenômenos psíqui­
cos que foram observados em indivíduos sob hipnose. 
O volume se encerra com uma seção sobre o significado 
dialético e legal da sugestão. 
1/103 - 1/154 
Hipnose (1891) 
A técnica de hipnotizar é um método médico tão 
difícil quanto qualquer outro. O tratamento hipnótic0 
não deveria ser aplicado a sintomas que têm uma bas, · 
orgânica e deveria ser reservado apenas para distúrbios 
nervosos, simplesmente funcionais, para desordens de 
origem psíquica, e para hábitos de natureza tóxica ou 
outra. É útil para o paciente que vai ser hipnotizado ver 
outras pessoas sob hipnose, aprender por imitação como 
5 
deve se comportar, e tomar conhecimento pelos outros 
quanto ã natureza das sensações durante o estado hipnó­
tico. O que é de importância decisiva é apenas se o 
paciente ficou em estado sonambúlico ou não; quer dizer, 
se o estado de consciência iniciado na hipnose está isola­
do do estado normal de forma bastante nítida para que a 
memória do que ocorreu durante a hipnose esteja ausen­
te depois do despertar. O verdadeiro valor terapêutico da 
hipnose reside na sugestão feita durante a mesma. Atra­
vés da sugestão, tentamos obter seja um efeito imediato, 
especialmente ao se tratar de paralisias, contrações, etc., 
ou visamos um efeito pós-hipnótico; quer dizer, um efei­
to estipulado para um determinado tempo depois de des­
pertar. A duração da hipnose é determinada de acordo 
com necessidades práticas: a manutenção comparativa­
mente longa de um indivíduo sob hipnose durante várias 
horas, certamente não desfavorece o sucesso. A profun­
didade da hipnose não está sempre em proporção direta 
de seu sucesso. O campo do tratamento hipnótico é bem 
mais extenso do que outros métodos de tratar as doenças 
nervosas. Se a hipnose obteve sucesso, a estabilidade da 
cura depende dos mesmos fatores que a estabilidade de 
qualquer cura obtida por outro método. 
1 /1 15 - 1 /171 
Um caso de tratamento por hipnose bem sucedido 
(1892-3) 
� apresentado um caso de tratamento bem sucedi­
do, por hipnose. A paciente era uma mulher jovem en­
tre 20 a 30 anos. Tivera dificuldade de amamentar seu 
primeiro filho e o bebê fmalmente fora entregue a uma 
ama-de-leite. Três anos depois, nasceu seu segundo fi­
lho, e novamente ela teve dificuldade em amamentar a 
criança. Não tinha leite, não retinha alimento algum, 
e estava bem desolada com sua incapacidade de ama­
mentar. Depois de duas sessões de hipnose foi capaz de 
amamentar o bebê e assim o fez até os 8 meses. No 
ano seguinte, com o nascimento do terceiro filho, ela 
mais uma vez não foi capaz de amamentar. Novamente, 
depois da segunda sessão de hipnose, os sintomas desapa­
receram tão radicalmente que não foi necessária uma ter­
ceira sessão. Esta criança também foi amamentada sem 
nenhum problema e a mãe gozou de boa saúde durante 
todo o período. Há certas idéias que possuem um afeto 
de expectativa a elas associado. Podem ser de dois tipos: 
intenções e expectativas. O afeto ligado a estas idéias 
depende de dois fatores: primeiro, do grau de importân­
cia associada ao resultado, e segundo, do grau de incer­
teza inerente ã expectativa deste resultado. A incerteza 
subjetiva (a contra-expectativa) é representada por um 
conjunto de idéias chamadas idéias antitéticas perturba­
doras. Nas neuroses, onde existe primariamente uma 
tendência a depressão e uma diminuição da autoconfian-
6 
ça, o paciente presta muita atenção às idéias antitéticas 
contra suas intenções. Quando esta intensificação das 
idéias antitéticas se relaciona a expectativa, caso trate­
se de um estado nervoso simples, o efeito se apresenta 
como um quadro mental pessimista generalizado; no 
caso de neurastenia, as associações com as mais for­
tuitas sensações ocasionam as numerosas fobias dos 
neurastênicos. 
1/131 - 1/191 
Prefácio e notas ao pé de página da tradução das Le­
çons du Mardi de Charcot (1892-4) 
As Leçons du Mardi de Charcot contêm tanto 
material novo que não há ninguém, mesmo entre os espe­
cialistas, que as leia sem um aumento substancial de 
conhecimento. Estas conferências devem seu encanto 
especial ao fato de serem inteiramente, ou em grande 
parte, improvisadas. O Professor não conhece o paciente 
que lhe trazem, ou conhece-o apenas superficialmente. 
Indaga o paciente, examina um sintoma ou outro, e des­
ta forma determina o diagnóstico do caso, fazendo-lhe 
restrições ou confirmando-o após novos exames. O in­
teresse por uma conferência só surgia quando o diagnós­
tico já havia sido feito e o caso, tratado de acordo com 
suas peculiaridades. Depois disto, Charcot tirava partido 
da liberdade que este método de ensino lhe proporcio­
nava de forma a fazer observações sobre casos similares 
que lhe vinham à lembrança e para introduzir discussões 
da maior importância sobre os tópicos genuinamente 
clínicos da sua etiologia, hereditariedade e conexão com 
outras doenças. São apresentados trechos das notas ao 
pé de página da tradução das Leçons du Mardi de Charcot. 
1 /147 - 1/207 
Esboço sobre as Comunicações Preliminares de 1893 
Sobre a teoria dos ataques histéricos. 
Numa carta de Freud a Josef Breuer, são apresen­
tadas as seguintes teorias da histeria: o teorema relativo 
ã constância da soma de excitação; a teoria da memória 
e o teorema que estabelece que os conteúdos dos dife­
rentes estados de consciência não estão associados entre 
si. As recordações que estão por trás do fenômeno his­
térico são inaccessíveis à memória do paciente, enquan­
to que sob hipnose elas podem ser revividas com a cla­
reza de uma alucinação. A terapia consiste em resultados 
das idéias que não sofreram ab-reação, seja revivendo o 
trauma em estado de sonambulismo, abrangendo e corri­
gindo-o, ou trazendo-o à consciência normal sob hipnose 
relativamente leve. Adquiriu-se esse conhecimento so­
bre ataques histéricos tratando-se indivíduos histéricos 
por meio de sugestão hipnótica e interrogando-os sob os 
efeitos da hipnose, investigando, deste modo, seus pro­
cessos psíquicos durante o ataque. O conteúdo constan­
te e essencial de um ataque histérico (recorrente) é o 
retomo a um estado psíquico já experimentado ante­
riormente pelo paciente. A lembrança que forma o con­
teúdo de um ataque histérico não é meramente casual; 
consiste no retorno ao fato que desencadeou a histeria 
ou seja, o trauma psíquico. A lembrança que forma o 
conteúdo de um ataque histérico é inconsciente; isto é, 
faz parte do segundo estado de consciência presente em 
toda histeria. Se um indivíduo histérico busca intencio­
nalmente esquecer uma experiência ou compulsivamente 
repudia, inibe e suprime uma intenção ou uma idéia, 
estes atos psíquicos entram num segundo estado de cons­
ciência, de onde produzem efeitos permanentes e a 
memória destes atos retoma sob a forma de ataque histé­
rico. 
1/157 - 1/223 
Alguns pontos para um estudo comparativo da paralisia 
motora histérica com aparalisia motora orgânica (1893) 
A neurologia clínica reconhece duas espécies de 
paralisia motora: a paralisia periférico-medular (bulbar) 
e a paralisia cerebral. Ao primeiro tipo pertencem a pa­
ralisia facial, a paralisia de Bell, a paralisia da poliomieli­
te infantil aguda, etc. A paralisia cerebral, ao contrário, 
é sempre uma desordem que afeta uma grande porção da 
periferia, um membro, um segmento de uma extremida­
de ou um aparelho motor complexo. Atribui-se à histe­
ria uma capacidade de simular vários distúrbios nervosos 
orgânicos. Só as paralisias histéricas flácidas nunca afe­
tam um músculo separadamente (exceto quando o mús­
culo em questão é o único utilizado por determinada 
fuQção ). Instalam-se sempre em massa e neste aspecto 
correspondem à paralisia orgânica cerebral. A paralisia 
histérica pode ser mais dissociada ou mais sistematizada 
que a paralisia cerebral. A histeria é uma doença de ma­
nifestações exageradas, tendendo a produzir os sintomas 
com a maior intensidade possível. Esta característica se 
mostra não só nas paralisias como também nas contra­
toras e anestesias. A paralisia histérica caracteriza-se por 
delimitações precisas e intensidade excessiva. Possui si­
multaneamente estas duas qualidades, ao passo que na 
paralisia orgânica cerebral, estas duas características não 
se apresentam associadas entre si. As paralisias histéricas 
vêm acompanhadas com muito mais freqüência por de­
sordens de sensibilidade que as paralisias orgânicas. A 
lesão nas paralisias histéricas consiste em nada mais que 
a impossibilidade de acesso, do órgão ou função em 
questão, às associações do ego consciente. Esta altera­
ção puramente funcional é causada pela fixação desta 
idéia, em associação subconsciente, à memória do trau­
ma, e esta idéia não será liberada nem se tomará acces-
sível enquanto a quota de afeto do trauma psíquico não 
tiver sido eliminada por uma reação motora adequada ou 
por uma atividade psíquica consciente. 
1 /173 - 1/243 
Extratos dos relatos a Fliess (1892-1899) 
Wilhelm Fliess, dois anos mais novo que Freud, 
foi um otorrinolaringologista, residente em Berlim, com 
quem Freud correspondeu uma troca volumosa de car­
tas íntimas entre 1887 e 1902. Fliess era um homem de 
grande capacidade, com um amplo interesse em biologia 
geral; contudo as teorias por ele formuladas neste campo 
são consideradas hoje excêntricas e completamente in­
sustentáveis. Freud comunicava-lhe seus pensamentos 
com a maior liberdade e o fazia não só em cartas como 
também em relatos sobre os vários pontos que vinha de­
senvolvendo. Estes relatos permaneceram totalmente 
desconhecidos até a Segunda Guerra Mundial. Freud não 
pretendia que o material destes esboços e cartas demons­
trasse uma expressão ponderada de suas opiniões, e 
na sua maior parte se apresentam de modo altamente 
condensado. 
1 /177 - 1 /245 
Esboço A. Etiologia das neuroses atuais (1892) 
Alguns dos problemas no estudo da histeria são 
apresentados. A angústia das neuroses de angústia pro­
vém da inibição sexual ou da angústia ligada à sua etio­
logia? Até que ponto. um indivíduo normal reage aos 
traumas sexuais da idade adulta, de forma diferente de 
alguém não sadio? Haverá uma neurastenia inata, acom­
panhada de debilidade sexual também inata ou será to­
da neurastenia adquirida na juventude? O que se mostra 
relevante na etiologia da depressão periódica? A frigidez 
sexual nas mulheres será algo além de um simples resulta­
do de impotência? As teses propõem: 1) não há neuraste­
nia ou neurose análoga sem distúrbio da função sexual; 
2) isto tem um efeito causal imediato ou atua como dis­
posição para outros fatores; 3) a neurastenia nos homens 
vem acompanhada de uma relativa impotência; 4) a 
neurastenia nas mulheres é conseqüência direta da neu­
rastenia nos homens; 5) a depressão periódica é uma for­
ma de neurose de angústia; 6) a neurose de angústia é, 
em parte, conseqüência da inibição da função sexual; 
7) a histeria, nas neuroses neurastênicas, indica a supres­
são dos afetos concomitantes. Foram propostos os se­
guintes grupos para observação: homens e mulheres 
normais, mulheres estéreis, mulheres com infecção go­
norréica, homens de vida libertina, também infectados 
por gonorréia, membros de famtlias gravemente con-
7 
taminadas que permaneceram saudáveis, e observação de 
países onde determinadas aberrações sexuais são endê­
micas. Os fatores etiológicos incluem: exaustão devida à 
satisfação normal, inibição da função sexual, afetos que 
acompanham estas práticas e traumas sexuais anterio­
res à idade da razão. 
1/179 - 1/247 
Esboço 8. A etiologia das neuroses (1893) 
A etiologia das neuroses é discutida. A neuraste­
nia é conseqüência freqüente de uma vida sexual anor­
mal. A neurastenia nos homens é adquirida na puberda­
de, porém somente se manifesta no período após os vin­
te anos. Sua causa é a masturbação, cuja freqüência se 
apresenta paralela à freqüência da neurastenia masculi­
na. As mulheres são mais firmes e dificilmente tornam-se 
neurastênicas: isto também é válido no caso das jo­
vens recém-casadas, apesar de todos os traumas sexuais 
deste período da vida. Em casos relativamente raros a 
neurastenia surge em mulheres casadas e em mulheres 
solteiras mais velhas em sua forma mais pura; nestes 
casos deve ser considerada como tendo surgido espon­
taneamente. A neurose mista das mulheres deriva-se da 
neurastenia dos homens, em todos os casos freqüentes, 
em que o homem, neurastênico sexual, sofre de potên­
cia diminuída. A mistura de histeria resulta diretamente 
da
· 
contenção da excitação no ato sexual. Todo caso 
de neurastenia vem marcado por uma certa diminuição 
da autoconfiança, por expectativas pessimistas e por 
uma tendência a idéias perturbadoras. A neurose de 
angústia se apresenta sob duas formas: como um esta­
do crônico e como crises de angústia. Os sintomas crô­
nicos são: 1) ansiedade relativa ao próprio corpo (hipo­
condria); 2) ansiedade relativa ao funcionamento do 
corpo (agorafobia, claustrofobia, fobia de alturas); e 
3) ansiedade relativa a decisões e à memória. Outra 
forma de neurose de angústia é a depressão periódica, 
uma crise de angústia que dura semanas ou meses. 
Conclui-se que as neuroses são tão perfeitamente evitá­
veis, quanto totalmente incuráveis. A tarefa do médico 
é, portanto, inteiramente voltada para a proftlaxia. 
1/184 - 1/255 
Carta 14. O coito interrompido como um fator etioló­
gico (1893) 
Discutem-se quatro casos novos cuja etiologia, 
como demonstram os dados cronológicos, foi dada, 
como coito interrompido. O primeiro caso mostra 
uma mulher de 41 anos. Era muito inteligente e não re-
8 
ceava ter filhos. Seu diagnóstico foi o de uma neurose 
de angústia simples. O segundo caso apresenta uma mu­
lher de 24 anos. Descrita como uma boa mulher, mas 
pouco inteligente, sofrendo de forte angústia. Passado 
algum tempo, tornou-se histérica pela primeira vez. O 
terceiro caso trata de um homem de 42 anos, com neu­
rose de angústia e sintomas cardíacos. Era um homem 
muito potente e fumava excessivamente. O quarto caso 
consiste em um homen de 34 anos sofrendo de po­
tência moderada (sem haver-se masturbado). 
1/186 - 1 /257 
Esboço D. Sobre a etiologia e teoria das grandes neuro­
ses (1894) 
A etiologia e teoria das grandes neuroses são apre­
sentadas neste esboço. As seguintes categorias são in­
cluídas na morfologia das neuroses: neurastenia e pseu­
doneurastenia, neurose de angústia, neurose obsessiva, 
histeria, melancolia e mania, as neuroses mistas e as ra­
mificações das neuroses e estado de transição para o nor­
mal. A etiologia das neuroses abrange as seguintes: neu­
rastenia, neurose de angústia, ne.urose obsessiva e histe­
ria, melancolia e neuroses mistas. Engloba também: a 
fórmula etiológica básica, os fatores sexuais em seu sig­
nificado etiológico, um exame dos pacientes, objeções 
e provas, e o comportamento dos indivíduos assexua­
dos. Planejou-se uma discussão a respeito da relação 
entrea etiologia e a hereditariedade. Os seguintes pon­
tos deveriam ser incluídos numa discussão da teoria: os 
pontos de contato com a teoria da constância, o proces­
so sexual à luz da teoria da constância, o mecanismo 
das neuroses, o paralelo entre as neuroses da sexuali­
dade e as neuroses. 
1/188 - 1/259 
Carta 18. O efeito dos danos sexuais (1894) 
Sl'o apresentados três mecanismos das neuroses: 
a transformação do afeto (histeria de conversão), o des­
locamento do afeto (obsessões) e a troca de afeto (neu­
rose de angústia e melancolia). Em todos estes casos 
parece que a excitação sexual sofre estas alterações, mas 
nem sempre o que as impele é algo de natureza sexual. 
Nos casos de neurose esta é sempre adquirida, por in­
termédio de distúrbios da vida sexual; contudo há indi­
víduos cujo comportamento dos afetos sexuais é pertur­
bado hereditariamente, e que desenvolvem formas corres­
pondentes de neuroses hereditárias. Os aspectos mais ge­
rais, segundo os quais podemos classificar as neuroses são: 
degeneração, senilidade, conflito e conflagração. 
1 /189 - 1 /261 
Esboço E. Como a aug6stia se origina (1894) 
A angástia do paciente neurótico tem muito a ver 
com a sexualidade e, em particular, com o coito inter­
rompido. A neurose de angústia afeta com a mesma fre­
qüência tanto mulheres que são frígidas durante o coito 
quanto as que se excitam com a relaçlo. $lo apresentados 
vários casos nos quais a angástia teve uma causa sexual: 
angástia em indivíduos virgens, angústia em indivíduos 
intencionalmente abstinentes, angústia em indivíduos 
forçados à abstinência, angústia em mulheres que vivem 
sob o regime de coito interrompido, angústia em homens 
que vlo além do próprio desejo ou capacidade e angús­
tia em homens ocasionalmente abstinentes. A neurose de 
angústia é uma neurose de obstruçlo como a histeria. Na 
neurose de angústia deve haver um déficit aparente do 
afeto sexual na libido psíquica. Quando se apresenta 
esta conexlo às pacientes femininas elas ficam sempre 
indignadas e declaram que, ao contrário, no momento 
se acham totalmente desprovidas de desejo sexual. Os 
pacientes masculinos muitas vezes confirmam, sob for­
ma de uma observaçlo, que desde que passaram a sofrer 
de angústia nlo mais sentiram desejo sexual. Quando 
ocorre um aumento demasiado de tensão física, e esta 
não pode se transformar em afeto por elaboração psí­
quica, a tenslo sexual se transforma em angústia. Parte 
disto deve-se ao acúmulo de tenslo física e ao impedi­
mento da descarga na direção psíquica. Há uma espécie 
de converslo nas neuroses de angústia assim como 
ocorre na histeria; mas na histeria trata-se de uma exci­
tação psíquica que segue um caminho errado voltado 
para o campo somático, enquanto na outra consiste em 
uma tensão física que, não podendo introduzir-se no 
campo psíquico, permanece no campo físico. 
1 /195 - 1 /269 
Esboço F. Coleção DI. Dois relatos de casos (1894) 
Slo apresentados dois casos e a discusslo de am­
bos. No primeiro caso, trata-se de um homen de 27 anos, 
havia disposiçã'o hereditária, seu pai sofria de melancolia 
e sua irmf de uma neurose de angústia típica. A libido 
do paciente vinha diminuindo há algum tempo; os prepa­
rativos para o uso de um preservativo eram o bastante 
para faze-lo sentir o ato sexual, na sua totalidade, como 
algo imposto e seu prazer como algo a qqe era persuadi­
do. O medo de infecção e a decisão de usar preservativos 
constituíram as bases para o que foi descrito como o fa­
tor de alienaçã'o entre o somático e o psíquico. O efeito 
seria o mesmo no caso do coito interrompido para ho­
mens. O paciente causou uma debilidade sexual em si 
mesmo, uma vez que ele próprio estragou o coito. Per-
manecendo sua saúde física e produção de estímulos 
sexuais intactas, a situação propicia a geração de angús­
tia. O segundo caso envolve um homem saudável, de 
44 anos. Queixava-se de estar perdendo o entusiasmo e 
ânimo, de um modo tão intenso que nfo era natural 
num homem de sua idade. O caso foi descrito como le­
ve, porém muito característico de depressão periódica, 
melancolia. Os sintomas de apatia, inibição, pressão intra­
craniana, dispepsia e insônia completam o quadro. 
1 /199 - 1 /274 
Carta 21 . Dois relatos de casos (1894) 
São apresentados e discutidos dois casos. O primei­
ro, um médico de 34 anos, há vários anos sofria de uma 
alteraçlo da sensibilidade orgânica dos olhos: ofusca­
mento, escotoma, fosfeno (flashes), etc. Isto agravou-se 
tanto a ponto de forçá-lo a parar de trabalhar. Foi diag­
nosticado como um caso típico de hipocondria num ór­
gão determinado, num indivíduo que se masturbava em 
períodos de excitaçfo sexual. O segundo caso é o de um 
rapaz de 28 anos, proveniente de uma família altamente 
neurótica. Sofreu durante algumas semanas de lassidão, 
pressão intracraniana, joelhos trêmulos, potência reduzi­
da, ejaculação precoce, e inícios de perversão. Alegava 
que, desde o início, sua virilidade se mostrara caprichosa, 
admitiu masturbação, mas não muito prolongada e que 
no momento vinha de um período de abstinência. Antes 
disso, sofria de estados de angústia à noite. Houve algu­
ma dúvida quanto à sua sinceridade. 
1/200 - 1/275 
Esboço G. Melancolia (1895) 
Há conexões marcantes entre a melancolia e a fri­
gidez. A melancolia provém de uma intensificação da 
neurastenia, através da masturbação. A melancolia pare­
ce ser uma espécie de combinação típica, ligada a uma 
violenta angústia. O tipo e forma extrema da melancolia 
parece ser a forma hereditária periódica ou cíclica. A 
afeto correspondente é o de luto. A neurose de nutrição 
paralela à melancolia é a anorexia. Os indivíduos poten­
tes facilmente adquirem neuroses de angústia; os impo­
tentes tendem à melancolia. Uma descrição dos efeitos 
da melancolia inclui: inibição psíquica, com empobre­
cimento das pulsões e sofrimento correspondente. A 
frigidez sexual parece reforçar a melancolia; todavia isto 
não implica na atuação desta como causa, porém como 
uma indicaçio de predisposição à melancolia. 
9 
1/W6 - 1/283 
Esboço H. Paranóia (1895) 
Em psiquiatria, idéias delirantes se situam, do mes­
mo modo que as idéias obsessivas, como desordens pura­
mente intelectuais, e a paranóia se mostra, da mesma for­
ma que o distúrbio obsessivo, como uma psicose intelec­
tual. A paranóia, em sua forma clássica, é um modo de 
defesa patológica como a histeria, a neurose obsessiva e 
a confusão mental. Os indivíduos tomam-se paranóicos 
por fatos que não conseguem suportar, desde que pos­
suam uma disposição psíquica peculiar à paranóia. O 
propósito da paranóia é isolar uma idéia incompatível 
com o ego, projetando seu conteúdo no mundo externo. 
A transposição se efetua de modo muito simples. Tra­
ta-se do uso desmedido de um mecanismo psíquico usa­
do habitualmente na vida normal: a transposição ou 
projeção. A paranóia é o abuso do mecanismo de proje­
ção com fmalidade de defesa. Algo análogo ocorre com 
as idéias obsessivas. O mecanismo de substituição é nor­
mal. Este mecanismo é exageradamente utilizado nas 
idéias obsessivas com fmalidades de defesa. A idéia de­
lirante é mantida com a mesma energia com a qual 
outra idéia, intoleravelmente aflitiva, se mantém afasta­
da do ego. Amam seu delírio como amam a si mesmos. A 
paranóia e a confusão mental são as duas psicoses de 
defesa ou de oposição. 
1/21 3 - 1/291 
Carta 22. Analogia entre um sonho e a psicose onírica da 
sra. "D" diurno (1895) 
Apresenta-se uma breve analogia. Rudi Kaufrnann, 
sobrinho de Breuer, muito inteligente e estudante de 
medicina costumava levantar-se tarde. Sua criada se en­
carregava de acordá-lo porém este relutava em atender. 
Uma certa manhã ela o chamou pela segunda vez e como 
não obtivesse resposta, chamou-o pelo nome: "Senhor 
Rudi". Isto provocou-lhe uma alucinação de um car­
tão de identificação sobre uma cama de hospital com o 
nome "Rudolf Kaufmann" escrito, e disse para si mesmo: 
"R. K. já está no hospital, logo não preciso ir lá" e con­
tinuoudormindo. 
1/214 -1/292 
Esboço I. Enxaqueca: Pontos estabelecidos (1895) 
Os pontos estabelecidos com respeito à enxaqueca 
são apresentados. Há um intervalo de horas ou dias entre 
a instigação e o surgimento dos sintomas. Mesmo sem 
uma instigação há a impressão de que existe um estí­
mulo que se acumula e que está presente em quantida­
de mínima no início do intervalo e em quantidade má­
xima próximo ao final. A enxaqueca parece ser um so-
10 
matório, no qual a suscetibllidade a fatores etiológicos 
depende da altura do nível do estímulo já presente. A 
enxaqueca tem uma etiologia complicada, talvez siga 
o padrão de uma etiologia em cadeia, onde uma causa 
aproximada pode ser produzida por inúmeros fatores 
direta e indiretamente, ou segue o padrão da etiologia 
somatória onde, ao lado de uma causa específica, outras 
causas remotas podem atuar como substitutos quantita­
tivos. A enxaqueca que é pouco comum nos homens sa­
dios e normais, restringe-se exclusivamente ao período 
sexual ativo da vida e aparece freqüentemente em indiví­
duos cuja tensão sexual está sendo mal descarregada. A en­
xaqueca pode também ser produzida por estímulos quí­
micos, tais como: emanações humanas tóxicas, ventos 
quentes corno o siroco, fadiga e odores. A enxaqueca 
cessa durante a gravidez. A dor de uma neuralgia geral­
mente encontra descarga na tensão tônica. Por conse­
guinte não é completamente impossível que a enxaque­
ca inclua no seu quadro uma inervação espástica dos 
músculos dos vasos sangüíneos na esfera reflexa da re­
gião durai. 
1/215 - 1/295 
Esboço J. Frau P. J. (27 anos) (1895) 
O objeto deste estudo é uma mulher de 27 anos. 
Casara há três meses e seu marido, viajando a serviço, 
tivera de deixá-la poucas semanas após o casamento. 
Ela sentia muito sua falta e ansiava por tê-lo de volta. 
Para passar o tempo, sentou-se ao piano e enquanto can­
tava sentiu um súbito mal-estar no abdômen e estômago, 
ficou tonta, começou a sentir uma opressão, angústia e 
parestesia cardíaca; pensou que ia enlouquecer. No dia 
seguinte, a criada lhe disse que uma mulher que morava 
na mesma casa enlouquecera. Desta época em diante, 
ela nunca mais se livrou da obsessão, acompanhada de 
angústia de que também iria enlouquecer. Admitiu-se 
que seu estado era o de uma crise de angústia: o desejo 
sexual liberado transformou-se em angústia. Observando­
se a paciente, descobriu-se que tivera outra crise 4 anos 
antes, também quando estava cantando. Fez-se um es­
forço para determinar que outras idéias estavam presen­
tes e quais poderiam ser responsáveis pela liberação do 
desejo sexual e pelo medo. Todavia, em vez de revelar 
estes elos intermediários, ela discutiu seus motivos. 
1/219 - 1/299 
Nota. Por Strachey (1966) 
Durante todo o fmal do ano de 1895 Freud se 
ocupou inteiramente com o problema teórico fundamen­
tal da relação entre a neurologia e a psicologia. Suas re­
flexões conduziram-no ao trabalho, que não chegou a 
se completar, intitulado: Projeto de uma Psicologia 
Científica. Foi escrito em setembro e outubro de 1895, 
• 
e deveria aparecer, cronologicamente, na publicação 
dos relatos a Fliess. Todavia, apresenta-se nitidamente 
distinto de todos os outros, e constitui por si s6 uma 
obra tão formidável e abrangente que foi publicada num 
encarte especial no fmal do primeiro volume da Edição 
Padrão. Uma das cartas, de n9 39, escrita a primeiro de 
janeiro de 1896 mostra-se tão intimamente relacionada 
com o Projeto que também teve de ser removida da or­
dem da correspondência e impressa como um apêndice 
ao Projeto. Freud durante este período, também esteve 
preocupado com os aspectos clínicos de seu trabalho, o 
que é demonstrado conclusivamente pelo fato de no 
mesmo dia em que enviou esta carta a Fliess, também lhe 
remeteu o Esboço K. 
1 /220 - 1/299 
Esboço K. As neuroses de defesa: Um conto de Natal 
(1896) 
São discutidas as neuroses de defesa. Há quatro ti­
pos de neurose de defesa. Faz-se uma comparação en­
tre três estados emocionais diferentes: histeria, neurose 
obsessiva e uma forma de paranóia. Apresentam muito 
em comum. Todos são aberrações patológicas de estados 
afetivos normais: de conflito (histeria), de auto-recrimi­
nação (neurose obsessiva), de mortificação {paranóia), de 
luto (delírio alucinatório agudo). O que difere nestes 
afetos consiste em não proporcionarem nenhuma solu­
ção mas sim danos permanentes ao ego. A hereditarie­
dade constitui uma pré-condição na medida em que faci­
lita e aumenta o afeto patológico. Esta pré-condição é 
que possibilita as gradações entre o caso normal e o ex­
tremo. Há uma tendência normal para defesa; todavia, 
esta tendência torna-se prejudicial quando dirigida con­
tra idéias que permitem descarregar sob a forma de me­
mórias, um desprazer recente como no caso das idéias 
sexuais. A doença, nas neuroses de defesa, toma quase 
sempre o mesmo curso: 1) há uma experiência sexual 
traumática e prematura que será recalcada. 2) seu recal­
camento, em alguma ocasião posterior, desperta uma lem­
brança de experiência; ao mesmo tempo, há formação de 
um sintoma primário. 3) há um estágio de defesa bem-su­
cedido, que é equivalente à saúde, exceto pela existência 
de um sintoma primário. 4) o último estágio é aquele 
no qual as idéias recalcadas retomam e no qual, durante 
a luta entre elas e o ego, formam-se novos sintomas que 
pertencem .à doença propriamente dita; isto é, um está­
gio de adaptação, outro de derrota e outro de recupera­
ção, ficando o paciente portador de um defeito. Nas neu­
roses obsessivas, a experiênria primária vem acompanha­
da de prazer. Na paranóia, a experiência primária parece 
ser de natureza similar à da neurose obsessiva; o recalque 
ocorre depois que sua lembrança libera desprazer. A his­
teria pressupõe uma experiência primária de desprazer 
da natureza passiva. 
1 /229 - 1/3 1 1 
Carta 46 . Quatro fases da vida e etiologia (1896) 
Apresentam-se as seguintes soluções para a etiolo­
gia das psiconeuroses. Estabelece a distinção das quatro 
fases da vida: até os 4 anos, pré-consciente; até os 8 anos, 
infantil; até os 14 anos, pré-púbere ; e daí para diante, 
maturidade. As fases entre os 8 e 10, e 13 aos 17, são fa­
ses da transição durante os quais ocorre o recalcamento. 
As cenas propícias à histeria ocorrem no primeiro perío­
do da inf'ancia (até os 4 anos), no qual os resíduos 
mnemônicos não são traduzidos em imagens verbais. Dis­
to decorre a histeria, na sua forma de conversão. As ce­
nas .que acarretam a neurose obsessiva ocorrem no pe­
ríodo infantil. Aquelas ligadas â paranóia ocorrem na 
fase pré-púbere e manifestam-se na maturidade. Neste 
caso, a defesa se manifesta por uma descrença. A histe­
ria é a única neurose na qual há possibilidade do apa­
recimento de sintomas mesmo sem a interferência da de­
fesa. A consciência, no que se refere a memórias, consis­
te na consciência verbal que lhes pertence, isto é, no 
acesso às representações verbais a elas associadas. A cons­
ciência não é ligada exclusiva e inseparavelmente ao 
campo inconsciente ou campo consciente, de forma que 
estes nomes talvez devam ser rejeitados. A consciência é 
determinada por um compromisso entre as diferentes 
forças psíquicas que entram em conflito entre si quando 
ocorre recalcamento. Estas forças incluem : a força quan­
titativa, sendo atraída de acordo com certas regras e re­
pelida de acordo com as leis da defesa. Os sintomas sur­
gem do conflito entre os processos psíquicos mentalmen­
te inibidos e desinibidos. Surge um tipo de perturbação 
psíquica se a força dos processos desinibidos aumenta; e 
surge um outro tipo de perturbação se a força da inibi­
ção do pensamento se afrouxa. 
1/233 - 1/316 
Carta 50. Sonho do enterro (1896) 
Freud apresenta o relato de um sonho: Eu estava 
em algum lugar público e lá eu vi um aviso: "Favor fe­
char os olhos". Reconheci o lugar como a barbearia onde 
ia todos os dias. No dia do enterro eu fiquei retido lá e, 
portanto, cheguei tarde ao velório. A esta alturaminha 
família estava descontente comigo porque eu havia provi­
denciado um funeral calmo e simples, embora mais tarde 
concordassem ter sido o mais adequado. Também leva­
ram a mal o fato de eu chegar tarde. A frase no aviso 
tinha um duplo sentido, e em ambos significava: "Cada 
um deve cumprir seu dever para com os mortos" (uma 
desculpa, como se eu não o tivesse cumprido e minha 
conduta necessitasse ser perdoada, e o dever, tomado li­
teralmente). Assim, o sonho é um escape para a tendên­
cia a auto-recriminação, habitualmente presente entre os 
que permanecem vivos. 
1 1 
Í/234 - 1/317 
Carta 52. Estratificaçio dos traços de mem6ria (1896) 
:e apresentada uma tese de que a memória se apre­
senta nlo s6 uma vez, mas repetidamente, que ela se 
assenta em vários tipos de indicação. Ht pelo menos 3 
registros, provavelmente mais. Os diferentes registros 
tamb6m slo separados (nlo necessariamente de modo to­
pográfico) de acordo com os neurônios que funcionam 
como veículo. As percepções slo neurônios, nos quais 
se 'Originam, e aos quais a consciéncia se liga, mas que 
ret!m em si mesmos qualquer traço do sucedido. A cons­
ciência e a memória slo mutuamente exclusivas. A indi­
cação da percepção é o prhneiro registro das percepções; 
é incapaz de chegar à consciência e se organiza de acordo 
com as associações, por shnultaneidade. A inconsciência 
é o segundo registro, organizada de acordo com outras 
relações (talvez causais). Os traços da inconsciência cor· 
respondem às memórias conceituais, igualmente inacces­
síveis à consciência. A pré-consciência é a terceira trans­
crição, ligada a representaçaes verbais e correspondendo 
ao ego oficial. Os investimentos provenientes da pré· 
consciência tomam-se conscientes conforme certas re· 
gras, e esta consciência de pensamento secundária é sub· 
seqüente no tempo, e provavelmente ligada à ativação 
alucinatória das representações verbais, de modo que os 
neurônios da consciência novamente seriam neurônios 
perceptivos, desprovidos de memória. Os registros suces­
sivos representam as realizações psíquicas de sucessivas 
épocas da vida. No limite entre duas dessas épocas, ocorre 
uma tradução do material psíquico. A falha na tradução 
é conhecida como recalcamento. Há 3 grupos de psico­
neuroses sexuais: histeria, neurose obsessiva e paranóia. 
Lembranças recalcadas se relacionam ao que se sucedeu, 
no caso da histeria, entre a idade de 1 ano e meio a 4 
anos, na neurose obsessiva, entre 4 e 8 anos e, na para­
nóia, entre 8 e 14 anos. 
1/240 - 1/324 
Carta 55. Determiuantes ela psicose (1897) 
Duas idéias, baseadas em descobertas analíticas slo 
expostas nesta carta. O determinante de uma psicose (de· 
lírio ou um estado de confusão mental), em lugar de 
uma neurose parece ser o abuso sexual que ocorre an­
tes do fmal do primeiro estágio intelectual (antes dos 15 
até os 18 meses). :e possível que este abuso tenha ocorri­
do em data tio remota que estas experiências fiquem es­
condidas atrás de outras mais recentes. A epilepsia re­
monta ao mesmo período. As perversões geralmente con­
duzem à- zoofilia e possuem um caráter animal. Pode-se 
explicá-las nlo pelo funcionamento de zonas erógenas, 
abandonadas posteriormente, mas pela operação de sen· 
sações erógenas que perdem esta força mais tarde. O 
principal sentido nos animais é o faro, que perdeu a im· 
1 2 
portância nos seres humanos. À medida que o olfato 
(ou o paladar) seja predominante, o cabelo, o rostQ, e 
toda a superfície do corpo têm um efeito sexualmente 
excitante. O aumento do sentido do olfato, na histeria, 
está indubitavelmente, relacionado a este fato. 
1/242 - 1/327 
Carta 56. Histeria e bruxas (1897) 
A teoria medieval da possessão, sustentada pelos 
tribunais eclesitticos é considerada idêntica à teoria do 
corpo estranho e à clivagem da consciência. As cruel­
dades tomaram possível entender alguns sintomas da 
histeria até entlo obscuros. Os inquisidores furavam com 
agulhas, para descobrir os estigmas do Diabo e, em situa­
ção semelhante, as víthnas repetiam a mesma antiga e 
cruel estória (auxiliada pela disshnulação do sedutor). 
Asshn, nlo s6 as vítimas como também os carrascos re­
cordavam sua mais remota infância. 
1/243 - 1/328 
Carta 57. Bruxas e simbolismo (1897) 
O reexame das bruxas ganha força. Detalhes co­
meçam a surgir em profusão e seu vôo é explicado; a vas­
soura em que voam provavelmente é o grão-senhor Pênis. 
Seus encontros secretos, com danças e outros diverti­
mentos podem ser observados a qualquer hora nas ruas 
onde as crianças brincam. Da mesma forma que o vôo e 
a flutuação no ar podem ser comparados aos feitos acrobá­
ticos de meninos em ataques histéricos. As ações perver­
sas são sempre as mesmas. Possuem um significado e um 
padrão que um dia serlo compreendidos. O sonho per­
tence a uma religião demoníaca prhnitiva, cujos ritos 
são executados secretamente. Há um conjunto de in­
divíduos paranóicos, que contam histórias semelhantes 
a estas de bruxas. Estes paranóicos se queixam de que 
colocam fezes em sua comida, maltratam-nos à noite da 
forma mais abominável, no sentido sexual, etc. Há uma 
distinção entre ilusão de memória e ilusões interpretati­
vas. As óltimas estio relacionadas à indefmiçlo caracte­
rística referente a malfeitores, que se ocultam pela defe. 
sa. Nos pacientes histéricos, vemos os pais por trás .de 
seus altos padrões no amor, sua humildade com relação 
a seus amantes ou do fato de nlo se casarem porque 
seus ideais não foram atingidos. 
1/244 - 1/331 
Carta 59. Idade das fantasias histéricas (1897) 
O ponto que me escapou na solução da histeria re­
side na descoberta de uma nova fonte de onde surge um 
novo elemento de produção inconsciente. O que tenho 
em mente são as fantasias histéricas que, geralmente, ao 
que me parece remontam a coisas que as crianças ouviram 
numa idade bem tenra e s6 tam a ser compreendidas pos­
teriormente. A idade a partir da qual reatstram informa­
ções desta e�cie � notável: de 6 a 7 meses em diante. 
1/245 - 1/331 
Carta 60. Sonho com Fliess (1897) 
Apresenta-se e discute-se um sonho. A causa que 
provocou o sonho foram os acontecimento do dia ante­
rior. O sonho era uma mensagem telegráfica que dizia: 
Via, Casa Secemo� Villa. A interpretação do sonho foi 
de que coletara todos os aborrecimentos inconsciente­
mente presentes no sonhador. A interpretação com�leta 
ocorreu apenas depois que uma casualidade feliz trouxe 
uma nova confirmação da etiologia paterna. Este era um 
caso comum de histeria, com os sintomas usuais. 
1/247 - 1/334 
Carta 61 . Estrutura da histeria (1897) 
Apresenta-se a estrutura da histeria. Tudo remon­
ta à reprodução de cenas, algumas das quais podemos 
atingir diretamente mas outras somente por meio de 
fantasias. As fantasias derivam-se de coisas que foram 
ouvidas mas que só foram ouvidas mas que só foram en­
tendidas posteriormente e todo seu material é autêntico. 
Funcionam como estruturas protetoras, sublimação de 
fatos, embelezamento dos mesmos e simultaneamente 
exonerações. A origem que os precipita talvez sejam as 
fantasias masturbatórias. Uma outra peça importante de 
insight é que as estruturas psíquicas que, na histeria, são 
afetadas pelo recalcamento não se tratam, na realidade, 
de memórias mas sim de impUlsos que surgem das cenas 
originárias. Todas as 3 neuroses (histeria, neurose obses­
siva, e paranóia) exibem os mesmos elementos Gunto 
com a mesma etiologia), isto é, fragmentos mnêmicos, 
impulsos (derivados da memória) e ficções protetoras. 
A penetração destes na consciência e a formação de com­
promissos (isto e, de sintomas) ocorrem em diferentes 
pontos nas 3 neuroses. Na histeria, as memórias; na 
neurose obsessiva, os impUlso perversos; na paranóia, as 
ficções protetoras (fantasias) representam aquilo que pe­
netra na vida normal distorcido pelo comprom�so. 
1/248 - 1/335 
Esboço L. Arquitetura da histeria (1897) 
A arquitetura da histeria é apresentada neste es­
boço. O objetivo da histeria parece ser ode retomar às 
cenas originárias. Em alguns casos isto é conseguido de 
forma direta, mas em outros por um caminho de subter­
fúgios. As fantasias são fachadas psíquicas construídas 
de forma a barrar o acesso a estas memórias. As fantasias 
ao mesmo tempo servem também à tendência de depurar 
as coisas ouvidas, das quais se fará uso subseqüentemen-
te; assim, combinam algo já experimentado com algo 
percebido. Uma enorme carga de culpa, e consciancia 
autocrítica, toma-se possível devido à identificaçlo com 
gente de moral duvidosa, freqüentemente recordadas 
como mulheres indignas que mantiveram relações se­
xuais com o pai ou um irml'o. Havia o caso de uma me­
nina que tinha medo de colher flores ou até mesmo co­
gumelos, porque era contrário aos mandamentos de 
Deus, o qual não deseja destruição dos seres vivos. Na 
histeria, foram examinados os seguintes acontecimentos 
e tópicos: o papel desempenhado por criadas, cogume­
los, dores, multiplicidade de personalidades psíquicas, 
embalagens, edições múltiplas de fantasias e sonhos rea­
lizadores de desejos. 
1/250 - 1/339 
Esboço M. A repressão na histeria (1897) 
A arquitetura da histeria é apresentada neste es­
boço. Algumas das cenas são diretamente accessíveis, 
outras só por meio de fantasias. As cenas se organizam 
na ordem de aumento da resistência: as de menor recal­
camento vêm à luz primeiro, porém de forma incomple­
ta por conta de sua associação com as outras, mais in­
tensamente recalcadas. Deve-se suspeitar que o elemento 
essencialmente recalcado é sempre o que é feminino. 
As fantasias surgem de uma combinação inconsciente, 
de acordo com certas tendências, de coisas experimen­
tadas e ouvidas. Estas tendências objetivam tomar 
inaccessível a memória da qual o sintoma emergiu ou 
pode emergir. As fantasias se constroem por um proces­
so de amalgamação e distorção análoga à decomposição 
de um composto químico. Todos os sintomas de angús­
tia (fobias) derivam-se das fantasias. Os tipos de desloca­
mento comprometidos são: o deslocamento por asso­
ciação, na histeria; deslocamento por semelhança (con­
ceitual), .na neurose obsessiva (característica do lugar on­
de a defesa ocorre, e talvez também do momento); e des­
locamento causal. Na paranóia o recalcamento se dirige 
inversamento ao tempo, afetando primeiro os aconteci­
mentos mais recentes. As fantasias, na paranóia, são sis­
temáticas, todas em harmonia entre si. E as fantasias, na 
hlsteria, são independentes entre si e contraditórias. 
1 /253 - 1/343 
Carta 64. Dois sonhos (1897) 
Freud relatou e discutiu dois sonhos. O primeiro 
revelava sentimentos de intensa afeição por Matilde, só 
que esta era chamada de Hella, e depois a palavra Hella 
aparecia impressa em negrito. A solução foi a de que 
Hella é o nome de uma sobrinha americana. Matilde 
podia ter sido chamada de Hella porque, recentemente, 
lamentara muito as derrotas gregas. Ela demonstra gran-
1 3 
de entusiasmo pela mitologia da antiga Helade e, natural­
mente, considera todos os Helenos como heróis. O 
sonho mostra a realização do desejo de imputar ao pai 
a causa da neurose e, desta forma, acabar com as dúvidas 
que ainda persistem. O segundo sonho tratava a respeito 
de subir uma . escada vestido muito sumariamente. O 
sonhador movia-se com grande agilidade . . Súbito, uma 
mulher entra em cena, fazendo com que ele experimente 
a sensação de estar grudado ao mesmo local. O senti­
mento não foi de angústia, mas de excitação erótica. 
I 
1 /254 - 1/344 
Esboço N. Impulsos, fantasias e sintomas (1897) 
Os impulsos hostis contra os pais são componentes 
integrantes das neuroses. Vêm à luz da consciência como 
idéias obsessivas. Na paranóia, os delírios de perseguição 
correspondem a estes impulsos. São recalcados numa 
época em que é ativa a compaixão pelos pais. Nestas 
ocasiões, é uma manifestação de pesar recriminar-se pela 
morte deles ou punir-se, de forma histérica, com os mes­
mos sintomas de doenças que eles tiveram. Ao que pa­
rece este desejo de morte, nos ftlhos, se dirige contra o 
pai e, nas ftlhas, contra a mie. As memórias parecem bi­
furcar: uma parte delas é posta de lado e substituída por 
fantasias; outra parte, mais accessível, parece conduzir 
diretamente aos impulsos. A crença (e a dúvida) é um 
fenômeno que pertence inteiramente ao sistema do 
ego e não tem equivalência no inconsciente. Nas neuro­
ses, a crença é deslocada, e será enviada ao material re­
calcado e transportada para o material de defesa, como 
forma de punição, se for forçada a se reproduzir. O me­
canismo da poesia é o mesmo que aquele das fantasias 
histéricas. A recordação nunca é um motivo mas ape­
nas um caminho, um método. O primeiro motivo para a 
construção de sintomas é, cronologicamente, a libido. 
Desta maneira, os sintomas, como os sonhos, represen­
tam a realização de um desejo. O recalcamento dos im­
pulsos parece produzir não uma angústia mas depressão, 
melancolia. Desta forma as melancolias estão relaciona­
das com a neurose obsessiva. A santidade fundamenta-se 
no fato de que os seres humanos, para benefício da co­
munidade, sacrificaram uma parte de sua liberdade se­
xual e a liberdade de se entregarem a perversões. 
1/257 - 1/348 
Carta 66. A defesa contra as memórias (1897) 
A defesa contra as memórias não impede que elas 
originem estruturas psíquicas superiores que, após subsis­
tirem por algum tempo, são finalmente submetidos à de­
fesa. Isto, todavia, ocorre de forma altamente especí­
fica, precisamente cOmo nos sonhos, que contêm, de 
modo reduzido, a psicologia das neuroses em geral. O 
1 4 
mais seguro ainda parece ser a explicação dos sonhos, 
que se acha cercada por inúmeros obstinados enigmas. 
As questões organológicas esperam por uma solução. 
Relata-se um sonho interessante de estar vagando entre 
estranhos, total ou parcialmente despido, com senti­
mentos de vergonha e ansiedade. As pessoas não se 
apercebem do fato. Este material onírico, que remonta 
ao exibicionismo infantil, vem sendo mal compreendido 
e sua elaboração didática conduziu a um conhecido con­
to de fadas. 
1/259 - 1/350 
Carta 67. Dúvida sobre a teoria das neuroses (1897) 
A carta refletia vários sentimentos pessoais de 
Freud. As coisas estavam fermentando mas nada estava 
acabado. A psicologia atingira um grau satisfatório·, mas 
havia sérias dúvidas sobre a teoria das neuroses. A men­
te andava vagarosa. Sucedendo um período de entusias­
mo, surgiu uma época de mau humor. A histeria bran­
da, muito agravada pelo trabalho, fora resolvida, porém 
o restante ainda estava em compasso de espera. 
1/260 - 1/350 
Carta 69. Dúvidas sobre a teoria das neuroses (1897) 
O autor não mais sustenta a teoria traumática das 
neuroses. A teoria original. Há 4 razões alegadas para 
seu abandono: 1) as contínuas decepções nas tentati· 
vas de trazer a análise a uma conclusão real, o afasta­
mento de pessoas que, por algum tempo, pareciam 
estar apoiando a ausência de sucessos completos e a 
possibilidade de explicar os sucessos parciais de outras 
maneiras. 2) Em todos os casos o pai teria de ser acusa­
do de pervertido. 3) A descoberta de que não há indica­
ções da realidade no inconsciente, de forma que não 
se pode distinguir entre a verdade e a ficção premeditada 
de afeto. 4) A reflexão de que nas psicoses mais profun­
das as memórias de inconscientes não vêm à tona, de 
forma que o segredo da experiência infántil não é 
delatado mesmo nos delírios mais confusos. Estas 
dúvidas formam o resultado em um esforço intelectual 
honesto e trabalhoso. 
1/261 - 1/353 
Carta 70. Memórias antigas de Freud na sua auto-análi­
se (1897) 
A auto-análise de Freud, que ele considerava in­
dispensável para esclarecer certos problemas, prosseguiu 
por meio dos sonhos e forneceu várias inferências e pis­
tas valiosas. Em resumo, parece que o pai não qesem­
penhou uma parte ativa no caso, mais por analogia a ele, 
fez-se uma inferência. A origem primeira foi uma mulher 
feia, velha, porém inteligente, que lhe ensinou muito so-bre Deus Todo-Poderoso e o Inferno, e que lhe incutiu 
um alto conceito quanto às suas próprias capacidades. 
Mais tarde, entre os 2 e 2 1/2 anos de idade, a libido ati­
vou-se em direçlo à mie. Relata-se um sonho envolvendo 
sua professora em assuntos sexuais, que o repreende por 
ser desajeitado, lava-o numa água vennelha e obriga-o 
dar-lhe moedas de prata. Resume isto como "mau trata­
mento" e alude à sua impotência como terapeuta, já que 
recebe dinheiro pelo mau tratamento que oferece a seus 
pacientes. 
1/263 - 1/356 
Carta 71. Uniwrsalidade do complexo de �po (1897) 
A auto-análise parecia ser a tarefa mais essencial 
para Freud. A interpretaçlo de um sonho foi confumada 
por uma conversa com a mie. Concluiu ser boa prática 
manter-se completamente honesto consigo mesmo. Con­
siderou que o amor pela mlie e ciúmes do pai constitui 
um acontecimento universal da primeira infância. P<_?r es­
ta razlio, pode-se entender a intensa força de Edipo 
Rei &peculou-se que Hamlet tinha o mesmo tipo de 
sentimentos com relaçio a seu pai e sua mie. 
1/266 - 1/360 
Carta 72. As resistências refletem a inf'ancia (1897) 
A resistência, que acaba por estacionar o trabalho, 
nada mais é que o primitivo caráter degenerado da crian­
ça, que (como resultado daquelas experiências que en­
contramos presentes conscientemente nos ditos casos de­
generados) desenvolveu-se ou poderia ter se desenvolvi­
do, mas que se encobre com a ocorrência do recalcamen­
to. Este caráter infantil se desenvolveu durante o perío­
do de "nostalgia", depois que a criança foi afastada das 
experiências sexuais. A "nostalgia" é o principal traço 
de caráter da histeria bem como a frigidez constitui 
seu principal sintoma. Durante este período de "nostal­
gia", constroem-se as fantasias e pratica-se a masturba­
çio, o que futuramente conduz ao recalcamento. Se este 
não se processa, então nlo há histeria; a descarga da exci­
tação sexual remove, em sua maior parte, a possibilidade 
de histeria. 
1/267 - 1/360 
Carta 73. Crianças falam durante o sono (1897) 
Sua análise prossegue e continua sendo o interesse 
principal de . Freud. Tudo é ainda obscuro, mesmo os 
problemas, mas há uma sensaçlo reconfortante de que 
basta procurar dentro de si próprio para encontrar, mais 
cedo ou mais tarde, o que necessitamos. O mais desagra­
dável são os estados de espírito que, com freqüência, en-
cobrem completamente a realidade. Para alguém como 
ele, a excitaçlo sexual na:o serve mais. Relata a fala de 
uma criança de 1 ano e 1/2 e a interpreta como a realiza­
ção de um desejo. A pequena Ana teve que ficar um dia 
sem comer por ter passado mal de manhã, o que atri­
bui-se a uma quantidade excessiva de morangos. Durante 
a noite seguinte, ela citou um menu completo: "Molan­
gos, molangos silvestles, ombelete, podium". 
1/268 - 1/361 
Carta 75. Zonas er6genas (1897) 
Há algo orgânico que tem um papel no recalca­
mento. Esta noçio se liga à mudança, representada pe­
las sensações do olfato; a postura ereta que foi adota­
da. O nariz afastou-se do chlio ao mesmo tempo que 
inúmeras sensações interessantes, resultantes da proximi­
dade do solo, tornaram-se repulsivas por um processo 
desconhecido. As zonas que nio mais produzem uma 
descarga da sexualidade nos seres humanos normais e 
maduros devem ser as zonas do ânus, da boca e gargan­
ta. O aspecto e a idéia destas zonas nio mais produzem 
um efeito excitante, e as sensações internas delas prove­
nientes não contribuem para a libido, como os órgãos 
sexuais o fazem. Nos animais estas zonas sexuais conti­
nuam ativas em ambos os aspectos: se isto persiste no 
ser humano, o resultado é uma perverslio. Da mesma 
fonna como afastamos a cabeça e o nariz repulsivamen­
te, nossa pré-consciência e nosso sentido consciente se 
afastam da memória. Isto é o recalcamento. As experiên­
cias da infância que afetam simplesmente os órgãos geni­
tais nunca produzem neuroses em homens (ou mulheres 
masculinas), mas somente masturbação compulsiva e li­
bido. A escolha da neurose obsessiva, ou paranóia, de­
pende da natureza do estágio de desenvolvimento (isto 
é, da localizaçlo cronológica) que pennitirá a ocorrên­
cia do recalcamento. 
1/272 - 1/367 
Carta 79. Masturbaçlio, vício e neurose obsessiva (1897) 
A masturbação é um hábito de grande vulto, o 
''vício primário" e os outros vícios como álcool, fumo, 
morfina, etc. surgem como substitutos dele . O papel 
desempenhado por este vício na histeria é enonne, e é 
talvez na masturbação que se possa encontrar seu prin­
cipal obstáculo. No que se refere à neurose obsessiva, 
é fato confinnado que o local em que o recalcado irrom­
pe é na representaçlio verbal e não no conceito a ela li­
gado. Daí as coisas mais disparatadas se unirem rapi­
damente como uma idéia obsQSiva, sob uma só pala­
vra de inúmeros significadQJ. As idéias obsessivas apre­
sentam, freqüentemente,. uma admirável indefinição ver­
bal de modo a permitirem um emprego múltiplo. 
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1/274 - 1/369 
Carta 84. Sonhos e mOifnele (1898) 
Numa carta, Freud escreveu que o livro dos sonhos 
estava novamente parado e que o problema fora aprofun· 
dado e se expandira. A teoria da realização de desejos 
trouxe apenas uma saluçlo psicológica e nio biológica, 
ou, melhor, uma solução m�tafísica. Biologicamente, a 
vida onírica parece derivar inteiramente dos resíduos do 
período pré-histórico da vida, período este que é a fonte 
do inconsciente e que, por si s6, contém a etiologia de 
todas as psiconeuroses; um período normalmente carac· 
terizado por uma amnésia análoga à amnésia histérica. 
Foi sugerida a seguinte fórmula: o que é visto no pe· 
ríodo pré-histórico produz sonhos; o que é ouvido, pro· 
duz fantasias; e o que é experimentado sexualmente, 
produz as psiconeuroses. A repetição do que foi experi· 
mentado naquele período constitui em si a realização 
de um desejo: um desejo recente s6 conduz a um sonho 
se puder estabelecer uma conexão com o material des­
te período pré-histórico, se for um derivativo ou se lo­
grar ser aceito por um destes desejos pré-históricos. 
1/27S - 1/371 
Carta 97. Enureae infantil (1898) 
O sujeito deste novo caso é um jovem de 25 anos, 
que mal pode andar devido a rigidez das pernas, espas­
mos, tremores, etC. A angústia paralela a esSes sintomas, 
que o faz grudar-se às saias da mãe, é uma garantia con­
tra a possibilidade de um erro de diagnóstico. A morte 
de seu irmã'o e de seu pai psic6tico precipitaram o esta­
belecimento de seu estado, presente desde os 14 anos. 
Sente vergonha diante de qualquer pessoa que veja 
andar desta forma e considera isso natural. Seu modelo 
é um tio tabético, com quem se identificou aos 13 anos 
por conta de uma etiologia aceita (levar uma vida disso­
· luta). A vergonha consiste apenas num acréscimo aos sin· 
tomas e deve relacionar-se ao outro fator precipitante. 
Seu tio não tinha o menor constrangimento pelo seu 
modo de andar. A conexão entre a vergonha e seu andar 
era racional, há vários anos atrás, quando teve gonorréia, 
nitidamente perceptível pela sua maneira de andar, e 
mesmo alguns anos antes, quando ereções constantes 
(sem razio aparente) interferiam no seu caminhar. Toda 
a história de sua juventude apresenta, por um lado, seu 
clímax nos sintomas da perna e, por outro, libera o afeto 
concomitante e os dois sfo ligados apenas para efeito de 
sua percepção interna. 
1/276 - 1/�72 
Carta 101. Fantasias retroSpectivas (1899) 
�, 
Nesta carta, Freud escreveu que um elemento da 
sua auto-análise evoluiu e confirmou que as fantasias são 
1 6 
produtos de períodos posteriores, sendo projetadas do 
entlo presente para a mais remota tnfincia, e a forma 
como isto ocorre emergiu, uma vez mais sob a forma de 
uma associaçio verbal. Encontrou-se um outro elemento 
psíquico de importância geral, tamb6m considerado 
como sendo um estágio preliminar dos sintomas. O pa· 
drão onírico é capaz das mais generalizadas aplicações, 
e a chave da histeria, na realidade, também se encontra 
nos sonhos. 
1/277 - 1/373 
Carta

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