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Estudos sobre os impactos urbanos gerados com a implementação do Condomínio Residencial Nico Baracat em Sinop - MT Survey about urban impacts produced by Nico Baracat Residential Condominium in Sinop - MT Resumo: O presente trabalho tem como objetivo analisar e apontar impactos na implantação do Condomínio Residencial Ernandy Maurício Baracat de Arruda, um condomínio residencial de baixa renda localizado no Setor Industrial da cidade de Sinop, Mato Grosso, o qual pretende comtemplar mais de 3.700 famílias com a casa própria em um complexo habitacional vertical com mais de 220 prédios financiados pelo programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) do Governo Federal. Foram realizadas vistorias no local e levantadas informaçoes junto a Prefeitura Municipal de Sinop e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente – SEMA/MT a fim de verificar quais impactos serão gerados com a implantação do referido empreendimento, sendo verificado através de análise e consulta bibliográfica que, além das questões ambientais, a demanda de equipamentos urbanos comunitários como creches, escolas e U.B.S., é superior a quantidade projetada inicialmente a ser ofertada após a implantanção do empreendimento, considerando a densidade habitacional do local. Palavras-chave: : impactos; condomínio residencial; baixa renda; Minha Casa Minha Vida. Abstract: This scientific paper proposes to analyze and show the impacts in the implantation of a low-income residential condominium in Sinop, Mato Grosso. The Ernany Maurício Baracat Residential Condominium, located on the Industry Sector of the city, intends to offer more than 14.000 houses for families in a vertical habitational complex who has more than 200 buildings financed by the Federal Government Program known as Minha Casa Minha Vida. Visits were made and information was collected from the City Hall of Sinop and Secretaria de Estado de Meio Ambiente - SEMA / MT to verify what impacts will be generated with the implementation of said enterprise, being verified through analysis and bibliographic consultation that , in addition to environmental issues, the demand for community-based urban equipment such as nurseries, schools and UBS is higher than the amount projected initially to be offered after the implementation of the project, considering the housing density of the place. Keywords: impacts; residential condominium; low-income; Minha Casa Minha Vida. 1. Introdução A moradia é um direito básico de qualquer cidadão, defendido pela ONU na Declaração das Nações Unidas em 1948. Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar, a si e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle (ONU, 1948). A principal função de uma habitação é de abrigar os homens das intempéries e dos intrusos. Neste caso a casa deve oferecer segurança, de modo que o morador se sinta abrigado. Porém sua função deve ser além de abrigo, os habitantes precisam estar inseridos no território, pertencer ao grupo, como a vizinhança. Sendo habitação uma necessidade básica, uma aspiração do ser humano. A própria moradia, juntamente com o alimento e o vestuário se resume no principal investimento para a constituição de um patrimônio, além de relacionar-se, ao sucesso econômico junto a uma posição social mais elevada (BOLAFI, 1977). 2. Contextualizando a Cidade de Sinop Aos senhores Ênio Pepino e João Pedro Moreira de Carvalho, sócios proprietários da Colonizadora SINOP S.A., empresa fundada em 1948 na cidade de Maringá, são atribuídos os primeiros esforços para o surgimento da cidade de Sinop. Em 1972, Ênio Pepino chegou na região do Núcleo de Consolidação Celeste que somava 654 mil hectares de terras e pertencente ao município de Chapada dos Guimarães. A floresta cortada pela rodovia BR-163 desde 1970 começou a ser aberta para dar espaço aos núcleos de povoamento de Cláudia, Santa Carmem, Sinop e Vera (SOUZA, 2008). Apesar do núcleo de Vera ter sido o primeiro a ser fundado (1972) e ter sido considerado o primeiro centro de apoio para os colonos que chegavam principalmente da região Sul e Sudeste, a localização estratégica de Sinop as margens da rodovia federal BR-163 que liga Cuiabá, no extremo sul do estado de Mato Grosso, a Santarém, no interior do estado do Pará, fez de Sinop (1974) o polo de desenvolvimento do projeto. A área onde hoje se encontra a cidade de Sinop foi aberta seguindo um minucioso projeto de autoria do engenheiro Roberto Brandão, contendo com um detalhado memorial descritivo, inclusive com um estudo explicativo da potencialidade de Sinop como um ponto estruturador para o desenvolvimento do Norte do estado (CARIGNANI, 2017). Com um traçado retilíneo e ortogonal, o desenho urbano proposto por Brandão fragmentava as terras de Sinop segundo um cinturão verde destinada para a cultura agrícola ao redor de um centro político- administrativo urbano (SOUZA, 2008). Oficialmente, Sinop foi inaugurada em 14 de setembro de 1974 contando com a presença do então Ministro do Interior Rangel Reis como o paraninfo. Em 27 de junho de 1979, a Lei nº 3.754 define Sinop como distrito oficial de Chapada dos Guimarães. Entretanto, o artigo I da Lei Estadual nº 4.156 criou o município de Sinop em 17 de dezembro de 1979, assegurando sua sede na localidade do mesmo nome a partir do desmembramento de suas terras dos municípios de Chapada dos Guimarães e Nobres (FERREIRA, 2001). Configurado como a mais importante cidade do norte e a quarta maior do estado, Sinop é considerada um polo econômico regional devido a força do agronegócio, da indústria e pela diversidade de serviços oferecidos, além de uma importante rota para o escoamento de mercadorias pela sua proximidade com a rodovia BR-163. Segundo o estudo Região de Influência das Cidades feito pelo IBGE (2007), a cidade de Sinop se caracteriza como um centro sub-regional “A” juntamente com mais outras 70 cidades brasileiras, fazendo parte de uma categoria mediana em expoente de influência e polariza mais de 35 municípios, dentre eles alguns paraenses, somando mais de 1 milhão de habitantes e extravasando as fronteiras territoriais dos mato-grossenses. Estima-se que em 2018 a cidade tenha apresentado população com pouco mais de 130.000 mil habitantes, sendo que mais de 90% da população está concentrada na área urbana. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para o município indica 0,807, este número elevado integra poucas cidades do país. Sinop, um município com crescimento econômico expoente e constante crescimento territorial durante os anos, vem cada vez mais necessitando e implantando bairros com habitações de interesse social para amenizar as distorções sociais. Até os dias atuais, segundo a Secretaria de Habitação Social do município, foram 07 (sete) loteamentos de interesse social entregues à população, sendo oferecidos 2.676 unidades habitacionais para população de baixa renda. 3. Metodologia Para a elaboração do presente trabalho, foram realizadas consultas bibliográficas e levantamento de dados junto a Prefeitura Municipal de Sinop e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente – SEMA/MT sobre o conjunto habitacional, visitas ao empreendimento ainda em fase de obras durante a realização deste trabalho, a fim de verificar e constatar quais impactos serão gerados com a implantação do referido empreendimento. Posteriormente foram confrontados os dados obtidos com a literatura urbanística e ambiental, o que permitiu compreender melhor a magnitude do objeto de estudo a nível de levantar as discuções que precisam ser consideradas. 4. O Condomínio Nico Baracat Com dados do Projeto de Partido Urbanístico cedido pelo Núcleo de Projetos e DesenvolvimentoUrbanos de Sinop (PRODEURBS), o Condomínio Residencial Ernandy Maurício Baracat de Arruda, comumente conhecido como Nico Baracat, é uma obra do Programa Habitacional MCMV e aprovado em 2013 pelos órgãos municipais, caracterizado como um Condomínio Habitacional Multifamiliar. Localizado na Estrada Rosália às margens da rodovia de acesso a cidade de Santa Carmem, no Setor Industrial da cidade, o empreendimento imobiliário apresenta 223 blocos com 4 andares cada. São 4 unidades de moradia por andar, o que totalizam 3.728 apartamentos, a ser construído em 12 etapas. Construídos com concreto moldado in loco, 102 blocos possuem 1 apartamento para portador de necessidades especiais (P.N.E.) em seus pavimentos térreos. A construtora responsável pela execução do projeto é a Ávida Construtora e Incorporadora S.A. de Cuiabá, Mato Grosso, que obteve o direito de desenvolver o projeto a partir de licitação pública. Abaixo (figura 1), segue dados técnicos do projeto que pretende entregar a primeira fase do projeto ainda no ano de 2019. Figura 1 - Quadro de áreas QUADRO DE ÁREAS GERAL Itens Áreas (m²) Área total 464.983,19 Área de APP não edificável 8.194,57 Área total parcelada edificável 456,788,62 100% Sistema viário de acesso 64.152,69 14,04% Área total dos condomínios 254.512,82 55,72% Área comercial 7.869,43 1,72% Área equipamento público 83.418,71 18,26% Área verde 46.834,97 10,25% Fonte: PRODEURBS, 2013. Alterado pelos autores. O empreendimento também pretende entregar em suas instalações 05 (cinco) creches, 02 (duas) escolas de ensino fundamental, 01 (uma) escola de ensino médio, 02 (duas) unidades básicas de saúde (U.B.S.), 01 (um) posto policial e 01 (um) centro comunitário. O custo de cada apartamento está estipulado em torno de R$ 61.000,00 contando com os serviços básicos de água, luz, pavimentação asfáltica e esgoto. As parcelas para quem adquirir uma unidade habitacional deve ser de pelo menos 5% da renda do comprador, que deve estar enquadrado na faixa 1 do programa MCMV, compreendida por famílias com renda mensal de até R$ 1.600,00. Cada unidade habitacional tem 45,66 m² e contém dois quartos, uma sala, uma cozinha com área de serviço e um banheiro. 5. Análise de Impactos do empreendimento Qualquer atividade ou empreendimento mais expressivo desenvolvida na área urbana geram impactos em suas imediações e, para uma boa gestão do tecido urbano é de extrema necessidade a elaboração de Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) previamente a aprovação e implementação de atividades e empreendimentos de grande expressão. O Ministério das Cidades (2016) anuncia que: O Estudo de Impacto de Vizinhança baseia- se no princípio da distribuição dos ônus e benefícios da urbanização, funcionando com um instrumento de gestão complementar ao regramento ordinário de parcelamento, uso e ocupação do solo, no processo de licenciamento urbanístico, o EIV possibilita a avaliação previa das consequências da instalação de empreendimentos de grande impacto em suas áreas vizinhas, garantindo a possibilidade de minimizar os impactos indesejados e favorecer impactos positivos para coletividade. (M. CIDADES, 2016) Desta forma, esta sessão apresenta uma análise sobre alguns dos impactos a serem gerados com a implantação do Condomínio Nico Baracat. 5.1 Adensamento populacional Um dos impactos mais relevantes a ser gerado com a implantação do conjunto habitacional Nico Baracat certamente será o adensamento populacional numa área até então pouco povoada, utilizada basicamente pelo setor industrial madeireiro ao longo dos anos. Conhecer a densidade residencial é de suma importância para realizar o dimensionamento e localização da infraestrutura dos equipamentos sociais, e de serviços públicos como esgoto, luz, água, escolas, transporte coletivo, dentre outros, parâmetros esses a serem discutidos ao longo do trabalho. O empreendimento pretende entregar para a população sinopense um total de 3.728 moradias e assim contemplar 14.912 pessoas com casa própria. Como já é sabido, a área total do empreendimento é de 464.393,19 m² (46,44 ha). Com isso, a densidade populacional no bairro nestas condições será entorno de 321 hab./ha, muito próximo a uma das regiões mais densamente povoadas do País, o centro de São Paulo, que possui cerca de 400 hab./ha. Em súmula, avalia-se de forma positiva o adensamento populacional proporcionado com a implantação do empreendimento, caso o mesmo consiga cumprir com seu papel social e tornar-se economicamente sustentável. Se houver maior planejamento, a cidade pode ser beneficiada com a criação de comunidades urbanas mais conectadas, dinâmicas e sustentáveis. 5.2 Equipamentos públicos comunitários A Lei Federal nº 6.766/1979, que dispõe sobre o parcelamento do solo para fins urbanos, define equipamentos públicos comunitários como aqueles destinadas as atividades de educação, cultura, saúde, lazer e similares, enquanto os equipamentos públicos urbanos são os destinados ao abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, energia elétrica, coleta de águas pluviais, rede telefônica e gás canalizado. Há uma expressiva diferenciação entre esses dois tipos de equipamentos urbanos, porém ambos são muito importantes para a manutenção da vida nas cidades. Segundo Gouveia (2002), para a construção de cidades mais inclusivas e com condições favoráveis de habitá-las, alguns índices devem ser seguidos quanto a instalação de equipamentos públicos urbanos e comunitários. Aplicando os conceitos apontados pelo autor para o Residencial Nico Baracat, um conjunto habitacional de baixa renda que pretende abrigar 14.912 pessoas, tem-se os seguintes números (figura 2): Figura 2 - Demanda de equipamentos comunitários. Equipamento público comunitário Índice base para o cálculo Quantidade necessária Raio de influência por unidade Número de atendimento por equipamento Equipamentos de educação infantil Número de vagas igual a 24,5 % da população 3.654 vagas para alunos de até 6 anos 300 m 300 alunos Equipamentos de ensino fundamental Número de vagas igual a 23,4% da população 3.490 vagas para alunos de 7 a 14 anos 1.500 m 1.500 alunos Equipamentos de ensino médio Número de vagas igual a 5,08% da população 758 vagas para alunos a partir de 14 anos e adultos 3.000 m 3.000 alunos Postos de saúde 1 unidade a cada 3.000 habitantes 5 unidades 8.000 m 1 a cada 3.000 pessoas Postos policiais 1 a cada 20.000 habitantes 1 unidade - 1 a cada 20.000 habitantes Fonte: GOUVEIA, 2002. Alterado pelos autores. É de suma importância que tais quantidades de vagas de escolas e a quantidade de postos de saúde sejam respeitadas e distribuídas pelo terreno de forma a garantir equidade na oferta destes serviços em toda a extensão do empreendimento, facilitando o acesso a todos e diminuindo os deslocamentos se comparados a um cenário de concentração de cada serviços em único lugar. É importante também observar a abrangência e a área de influência desses equipamentos comunitários favorecendo sua distribuição de forma equânime. A partir da análise do projeto, foi observado que os dois postos de saúde previstos não estão condizentes com a demanda do novo bairro, uma vez que seria necessário a presença de pelo menos 05 (cinco) unidades de saúde básicas para o empreendimento. Em relação aos centros de ensino infantil, foi identificado que as creches a serem construídas no bairro são cinco do tipo-B com capacidade de atendimento de até 224 crianças em dois turnos ou 112 crianças em 1 turno integral. De antemão, é possível identificar que as creches irão oferecer 1.120 vagas para crianças de até 6 anos, cerca de 3,25x inferior ao recomendado. As escolas de ensino fundamental são 02 (duas) com 12 salas de aula cada, com 45 alunos por sala, o que seria considerado uma lotação aceitável. Estasescolas oferecerão 960 vagas para estudantes de 7 a 14 anos, apresentando um déficit de 2.530 vagas em relação ao recomendado. O mesmo cenário se repete com as escolas de ensino médio, que será ofertada apenas uma no bairro e deve oferecer um pouco mais de 500 alunos em suas 12 salas, atendendo assim apenas ¾ da demanda exigida. Já o posto policial é suficiente para a ocasião, haja vista que um único posto atende até 20.000 pessoas, número superior a quantidade de moradores que terá o empreendimento posterior sua implantação total. 6. Licenciamento ambiental A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, é o diploma legal criador do instituto do Licenciamento Ambiental no Brasil, estando em vigor até os dias atuais, embora editada pela Carta promulgada da Constituição Federal de 1988, pois foi recepcionada pela Carta da República. O licenciamento ambiental é o procedimento no qual o poder público, representado por órgãos ambientais, autoriza e acompanha a implantação e a operação de atividades, que utilizam recursos naturais ou que sejam consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras. É uma obrigação legal prévia à instalação de qualquer empreendimento ou atividade que utilize recursos ambientais considerados efetiva ou potencialmente poluidores ao meio ambiente. O inciso I, do Artigo 1º da Resolução CONAMA nº 237/97, define o licenciamento ambiental como sendo: O procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso (CONAMA, 1997). É obrigação do empreendedor, prevista em lei, buscar o licenciamento ambiental junto ao órgão competente, desde as etapas iniciais de seu planejamento e instalação até a sua efetiva operação. Antunes (2006), conceitua o licenciamento ambiental como sendo: Um dos diferentes procedimentos de controle ambiental, adotados pelo Estado, cujo objetivo é o de assegurar que as atividades a ele submetidas gerem o menor impacto ambiental possível. O procedimento de licenciamento ambiental tem origem a requerimento do interessado, ou de ofício, e se encerra coma concessão ou a negativa do alvará respectivo, isto é, uma licença ou autorização ambiental, conforme o caso (ANTUNES, 2006). No Estado de Mato Grosso, o procedimento encontra- se disciplinado pelo artigo 17 do Código Estadual do Meio Ambiente (Lei Complementar nº 38, de 21 de novembro de 1995) e pelos artigos 30 e 31 da Lei Complementar nº 592, de 26 de maio de 2017, bem como pela Portaria nº 04, de 12 de janeiro de 2006 e Termos de Referência específicos constantes no site da Secretaria Estadual de Meio Ambiente – SEMA/MT. A respeito da atividade de Edificações, a Lei Complementar nº 232, de 26 de maio de 2005, em seu Artigo 22, Parágrafo único, acrescentou ao Código Estadual do Meio Ambiente uma importante exigência quanto ao percentual de 10% (dez por cento) de área verde, incluindo praças públicas, parques e canteiros centrais para a averbação do mesmo. Ainda no que tange ao licenciamento ambiental, a Resolução CONSEMA nº 85 de 24 de setembro de 2014, dispõe sobre as atividades a serem licenciadas pelo município, a depender do porte, potencial poluidor e da natureza da atividade. Sinop é um dos 46 municípios no Estado de Mato Grosso já aptos a fiscalizar e emitir licenças ambientais de impacto local, chamados municípios descentralizados (SEMA/MT, 2019). Quanto a atividade do condomínio residencial Nico Baracat, a Resolução CONSEMA nº 85/2014, em seu Anexo Único, limita ao município quanto ao licenciamento ambiental para Condomínio Vertical Plurifamiliar, em 100 (cem) apartamentos. Assim, coube à Secretaria de Estado do Meio Ambiente – SEMA/MT analisar e emitir as devidas licenças. Conforme o Artigo 1º, II da Resolução CONAMA nº 237/97, licença ambiental é o: Ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental (CONAMA, 97). Após a obtenção das licenças, deu-se início às obras e considerando os pontos a serem analisados durante o processo de licenciamento ambiental, para esta atividade e, principalmente, considerando-se a população 14.912 habitantes, tem-se estimado que o empreendimento irá gerar diariamente 14.912,0 m³ de efluentes líquidos domésticos, considerando a população de baixa renda e o valor de 100 litros/pessoa/dia estabelecido pela NBR 7229 de setembro de 1993. Oliveira & Henkes (2016), afirmaram que, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), cada pessoa necessita de 3,3 m³/mês (cerca de 110 litros de água por dia) para atender às necessidades de consumo e higiene. No entanto, no Brasil, o consumo por pessoa pode chegar a mais de 200 litros/dia, sendo que Bruni (1993), considera essa média de consumo em torno de 250 litros/dia por pessoa. No processo ambiental protocolizado junto à SEMA/MT foi apresentada a proposta de um sistema de tratamento de efluentes domésticos composto por rede coletora e encaminhamento dos efluentes a uma ETE compacta tipo Reatores UASB, Tanque de Aeração por Ar Difuso, Decantador Secundário com Filtragem Mista, Sistema de Floculação/Coagulação, Filtração e Desinfecção por Cloro Saluta, sendo caracterizado como um tratamento biológico de sistema contínuo, sendo este aprovado pela referida Secretaria. O sistema contará ainda com tratamento preliminar com a finalidade de reter o material grosseiro como plásticos, papéis e areia do efluente, Estação Elevatória de Esgoto e Caixa Divisora de Vazão. Segundo o projeto da ETE compacta apresentado, a eficiência de tratamento do sistema proposto é superior a 90% no que diz respeito a remoção da carga orgânica. O tratamento do efluente doméstico foi dimensionado para que, havendo um aumento de contribuição de vazão e carga orgânica, possa ser ampliado em módulos e estes módulos terão etapas anaeróbias, etapas aeróbias (aeração mecânica), decantação e desinfecção. O lodo gerado pelo tratamento será direcionado ao aterro sanitário, enquanto que o biogás gerado será direcionado ao queimador de gases ou filtro desodorizante. A vazão final do plano de operação da ETE será de 720,00 m³/dia de esgoto. A área para instalação do sistema será de 512,00 m², para uma população a ser atendida de 6.000 usuários. O lançamento dos efluentes tratados será através de emissário junto ao Córrego Nádia, afluente do Córrego Nalva, conforme outorga de lançamento emitida através da Portaria nº 702, de 06 de setembro de 2017, localizado nas coordenadas geográficas S 11º54’46,00” e W 56º03’03,36”, com vazão máxima diária de lançamento de 0,015 m³/s (ou, 0,015m³/s x 3.600s x 24h → 1.296,00 m³/dia, para no máximo 12.960 habitantes, considerando dados da NBR 7229/1993 de 0,1 m³/pessoa/dia), válida até 30 de agosto de 2027. A respeito da Portaria de Outorga nº 702/2017, constatou-se que as coordenadas geográficas informadas não correspondem ao real local a ser lançado os efluentes tratados, estando esta a aproximadamente 62 km do possível local de lançamento proposto pelo empreendedor no Córrego Nádia (figura 3). Figura 3 - Mapa de localização da ETE segundo o licenciamento existente. Fonte: Google Earth Pro®, 2019. Alterado pelos autores. Diante da constatação, foi encaminhado via correio eletrônicoà Gerência de Outorga – GOUT/SEMA/MT, através do endereço gerenciadeoutorga@sema.mt.gov.br a observação feita na realização deste trabalho para que possam tomar as devidas providências a respeito. 7. Conclusão A partir das análises feitas, é possível inferir que a densidade populacional do empreendimento Condomínio Residencial Nico Baracat, quando implantado em sua totalidade, será de cerca de 321 hab/ha, muito acima da densidade habitacional do município que está em 2,8 pessoas/ha, segundo último CENSO de 2010. Ao referir-se aos equipamentos públicos comunitários, é possível observar que apesar de o bairro estar previamente planejado com escolas e creches, a quantidade de vagas a serem oferecidas está abaixo do recomendado por Gouveia (2002). O autor traz índices urbanísticos que, ao serem trazidos para a realidade do objeto de estudo, revela que a demanda por escolas e creches é muito maior que a quantidade de vagas a serem oferecidas. A mesma realidade foi encontrada na oferta de serviços públicos, que a partir das análises feitas, é possível constatar que a quantidade de U.B.S. é inferior ao recomendado pelo autor. Por fim, ao que tange ao licenciamento ambiental, o empreendimento possui Licença de Instalação vigente (LI nº 69279/2018, válida até 05 de setembro de 2021), cabendo ao órgão ambiental competente realizar fiscalizações regularmente para que, quando em operação, o empreendimento venha a causar menos impactos possíveis ao meio ambiente local. Ressalva-se ainda que para a entrega dos apartamentos, o empreendedor deverá solicitar à SEMA/MT a devida Licença de Operação, a qual somente será emitida após o término das obras. 8. Referências ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 2006. 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