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Perícia Forense - Documentoscopia Aula 03 - Fraude Documental INTRODUÇÃO Você já esteve diante de uma falsificação documental? Seria capaz de identificar um documento idôneo que sofreu uma fraude? Ou afirmar que o tal documento não sofreu fraude, mas sim, produzido “totalmente do zero” pelo falsário, ou seja, que é um documento “inventado”? Nesta aula, você irá reconhecer os principais tipos de fraude documental, a saber: as falsificações, as autenticidades e as alterações; bem como suas características e diferenças entre elas. OBJETIVOS Identificar as diferentes categorias de fraude documental; Diferenciar falsificação material e falsificação ideológica; Identificar os diferentes tipos de autenticidades; Identificar os diferentes tipos de alterações. A fim de facilitar o entendimento, antes de adentrarmos na matéria propriamente dita, adiantaremos o conceito de Padrão de Confronto e Peça Questionada. PADRÕES DE CONFRONTO • Consiste no modelo que se toma como ponto de partida para as comparações. • Trata-se de peças autênticas, sobre as quais não há qualquer dúvida de sua autenticidade ou autoria. • Qualquer peça pode servir de padrão. • Quando se trata de grafismo (lançamentos manuscritos), têm-se os padrões gráficos ou lançamentos padrões. PEÇAS QUESTIONADAS Referem-se a documentos ou escritas, sejam elas mecanografadas ou grafadas manualmente (os grafismos) sobre os quais recai a suspeição de falsidade. São os documentos questionados que serão submetidos aos exames periciais a fim de confirmar (ou não) a suspeição da falsidade dos mesmos. Os referidos exames periciais, a que são submetidos os Documentos Questionados, nada mais são do que analises comparativas entre eles e os Documentos Padrões (ou Padrões de Confronto). Havendo convergência entre Documentos Questionados e Padrões, pode-se tratar de que a suspeita de falsidade que recai sobre o Documento Questionado não se sustenta (quando a assinatura presente no documento é, de fato, autêntica, não tendo sofrido falsificações ou alterações, como alegava seu autor visando fugir de alguma responsabilidade), ou também, pode-se estar diante da autoria de uma falsificação (quando se descobre o autor de uma falsificação). No caso de divergência, pode-se estar diante de um Documento Inautêntico (neste caso, a divergência decorre do fato de que a assinatura presente do documento questionado não ser oriunda do mesmo punho da vítima, ou seja, a pessoa detentora da competência de assinar o documento). A FRAUDE DOCUMENTAL Ela pode ser distribuída por três categorias: falsificações, alterações e autenticidades. Tipos de fraude documental TIPOS DE FALSÁRIOS Os falsários podem ser divididos em dois grandes grupos: OCASIONAIS OU EVENTUAIS São aqueles que não fazem da falsificação um meio de vida. Quando surge a oportunidade, valem- se da falsificação para se locupletarem desonestamente. FALSIFICAÇÕES • Sem imitação; • De memória; • Servil; • Exercitada; e • Por decalques (glossário) – direto e indireto ALTERAÇÕES Podem ser: Físicas: por meio de rasuras ou acréscimos cursivos e mecanográficos; Químicas: por meio de lavagem química. UTENTICIDADES bdividem-se em: ervil; Autofalsificação; imulação do falso; Negativa de autenticidade; e ransplante (glossário). PROFISSIONAIS Tanto podem agir isoladamente com em quadrilha, em que cada elemento tem uma função. TIPOS DE FALSIFICAÇÕES Falsificação sem imitação • É a reprodução de assinatura, sem se preocupar em imitar as formas das assinaturas legítimas, que se desconhece. Este processo é utilizado por falsários eventuais ou primários. • É o caso do desocupado que, encontrando um talão de cheques, preenche escrevendo o nome do proprietário do referido talão. O lançamento falso não guarda semelhança formal com a assinatura do proprietário do cheque e, por isso, não passa em uma verificação de firma em um estabelecimento bancário, por exemplo. • Nas falsificações sem imitação, não se encontram coincidências genéticas nem mesmo nos elementos formais. • A prova de autoria é relativamente fácil, pois o falsário simplesmente escreve o nome do terceiro com seu próprio grafismo. • Podem ser introduzidos artificialismos, prejudicando as formas, mas os elementos genéticos do falsário ali estão para a prova de autoria. Falsificação de memória É aquela em que o falsário, estando familiarizado com a assinatura de sua vítima, procura reproduzi-la sem ver o modelo, valendo-se da memória. • É praticado por pessoas que manuseiam os cheques de seus patrões, por exemplo. • O falsário guarda de memória os gestos mais aparentes da assinatura que vai reproduzir, como as letras iniciais, maiúsculas, as cetras (traços ornamentais que arrematam as assinaturas), mas não memoriza o conjunto todo. • O traçado dessas falsificações é híbrido: há traços morosos, aqueles que estão sendo reproduzidos pela memória e outros mais rápidos, que são resultantes da própria escrita do falsário. • O êxito desse tipo de falsificação é relativo e vai depender da atenção do verificador de firmas. • Nas perícias oficiais, o embuste é desmascarado sem grande dificuldade. • O confronto mostra dissociações genéticas. Podem ser registradas pequenas semelhanças formais, contudo as discrepâncias são em número maior. Imitação servil É o mais pobre dos processos: o falsário, fiel ao modelo, o reproduz no documento que está forjando. • Copiar não é fácil, depois de cada gesto, o falsário é obrigado a parar e olhar o modelo, voltando a fazer outro trecho do lançamento. • A comparação entre a assinatura legítima e o produto da imitação mostra diferença na qualidade do traçado e total discrepância dos elementos genéticos. Há apenas coincidências de ordem formal. • Alguns retoques podem ser realizados pelo falsário após a execução da cópia, deixando mais marcas. Falsificações exercitadas É o mais perigoso e difícil tipo de falsificação. O falsário se apossa de um modelo autêntico e, depois de cuidadoso treino, o reproduz. • O confronto entre uma falsificação exercitada com o modelo guarda coincidência na qualidade do traço. • Pode haver semelhança quanto aos elementos formais. • Antagonismo gráfico: O lançamento questionado apresenta traçado relativamente rápido. Os gestos mais aparentes apresentam alguma semelhança. Pode haver algum retoque, mas a gênese (movimentação do punho escritor) apresentará conflito. Decalques: são processos primários de falsificação, pois os resultados são grosseiros. Subdividem- se em: Direto: o modelo é colocado sob o suporte da peça que se prepara, e por transparência: o traçado é recoberto. • Apresentam semelhança formal com o modelo, mas o seu traçado é bem lento, cheio de trêmulos e hesitações, com paradas do instrumento escrevente e subsequente retomada do traço. • Os elementos genéticos ficam prejudicados pela operação (cópia). • Quando examinado isoladamente, o decalque se confunde com as falsificações servis, porém, ao se verificar uma série de documentos, a perfeita superposição das várias assinaturas entre si evidencia o processo. • Para se demonstrar a fraude basta fotografar as duas assinaturas e copiá-las, em mesmo grau de ampliação, e fazer a prova de superposição. Indireto: O falsário reproduz o modelo primeiramente a lápis, ou transfere, com emprego de papel carbono, para depois recobrir. • O produto resultante, consequentemente, apresenta vícios dessas operações. O traço é vagaroso, eivado de trêmulos e indecisões. Apresenta paradas anormais do instrumento e vestígios de texto subjacente. • Há de se acrescentar que os decalques (diretos e indiretos) não permitem a prova da autoria, ou seja, não permitem a identificação dos autores da falsificação. OUTROS TIPOS DE FALSIFICAÇÃO Falsificação por recorte Chamada de découpage (glossário), consiste na montagem de um texto, com recortes de letras, grupos de letras e palavras, retiradas do manuscrito da pessoa a que se deseja atribuir a autoria. Esta falsificação pode deixar vestígios, tais como:• Desigualdade no calibre das letras que formam as palavras e o texto em geral, pois o falsário recorta palavras de textos distintos cujos caracteres apresentam calibres desiguais entre si; e • Choques da inclinação axial (glossário) dos caracteres que integram o texto. Na colagem dos recortes, podem ocorrer erros, modificando a inclinação axial dos caracteres. Falsificação ideológica Um documento pode ser falso sob dois aspectos: • Falsificação material: Quando o vício recai sobre a exterioridade do documento. Os vícios incidem sobre a integridade do documento escrito, como a prática de rasuras, de acréscimos e a falsificação da assinatura; • Falsificação ideológica: Quando o vício recai sobre o teor do documento. O documento não possui vícios materiais, mas apenas uma mentira reduzida à escrita. Na falsificação ideológica, a assinatura é verdadeira, mas o teor da peça não representa a vontade do seu subscritor. O estudo do cruzamento de traços entre o texto e as assinaturas pode permitir desmascarar esta fraude. Os anacronismos também são considerados, porém, a presença de expressões que na data do documento não eram utilizadas ou fatos narrados de épocas diferentes são mais eficientes em provar a falsidade do documento. Outros indícios de falsificação ideológica são: • Discordância de um ato de outros precedentes; • Silêncio ou segredo acerca do contrato em questão, no tempo que deveria ter dado ou tido conhecimento dele; • Diversidade de estilo na construção de frases etc. Assinatura à mão guiada É um tipo raro de fraude que pode ou não ser de má-fé. Podem ser de três tipos: • À mão inerte: Terceiros guiam a mão do indivíduo paralítico, por exemplo, para exarar sua assinatura, a seu pedido; • À mão ajudada: A pessoa impossibilitada de escrever pede a terceiros que a ajudem a assinar; e • À mão forçada: O indivíduo tem sua mão guiada contra sua vontade. O resultado, nos três casos, é a falsidade do registro. Autofalsificação O falsário exara sua assinatura modificando a sua fisionomia para lesar sua vítima. Para isso, ele reduz a velocidade do lançamento, deforma os caracteres, muda a inclinação do eixo gramatical habitual, introduz trêmulos, e, depois, com base nesses vícios, afirma a falsidade da assinatura. Os elementos formais objetivos e alguns subjetivos são passíveis de modificações que podem ser provocadas pelo próprio escritor como, por exemplo: • o calibre das letras; • o seu desenho; • a sua inclinação axial; • a firmeza do punho; • a velocidade do lançamento. Entretanto, o escritor não pode controlar a gênese de sua escrita, uma vez que a gênese é referente a movimentos ditados pelo cérebro. A análise pericial, neste caso, não pode se basear na semelhança ou não dos elementos gerais da escrita, pois estes são elementos secundários. O resultado do exame se baseia na coincidência da gênese gráfica da peça questionada com a do padrão de confronto, para a afirmação da autenticidade e, na repulsa, no caso de falsidade. Simulação do falso O escritor lança sua assinatura habitual, para, em seguida, eivá-la de vícios, que serão depois apontados para sustentar a sua ilegitimidade. A diferença entre a autofalsificação e a simulação é que na primeira os vícios são introduzidos no ato de lançar a assinatura e, na segunda, depois dela ter sido exarada. Os exames deverão mostrar uma convergência total dos elementos genéticos, o suficiente para se provar que o lançamento é idôneo. O próprio escritor pode retocar sua assinatura sem a intenção da simulação do falso, contudo, na simulação, os retoques são feitos cautelosamente, para que não fiquem evidentes, pois o falsário não deseja que eles sejam percebidos. Negativa de autenticidade O escritor lança normalmente a sua assinatura e depois, para fugir à responsabilidade advinda do teor do documento, alega a sua falsidade. O confronto mostra afinidades na gênese gráfica e nos elementos formais. O escritor, ao negar a autenticidade, pode não estar agindo de má-fé, como, por exemplo, em uma folha em branco assinada. Alterações Na falsificação material de um documento, há de se distinguir duas formas: As alterações se classificam em: A FALSIFICAÇÃO Quando o documento passa a existir como resultado do trabalho do falsário. O falsário cria o documento. A ALTERAÇÃO Caso em que o documento preexiste à ação do forjador, que nele insere modificações, subtraindo ou adicionando lançamentos, dando à peça sentido diverso do primitivo. O falsário adultera um documento que anteriormente era autêntico. Física (rasuras) Consistem na remoção de dizeres de um texto com o emprego de uma borracha ou instrumento similar. As rasuras podem ser de três tipos: Superficiais: Neste tipo de rasura, a borracha é aplicada sem exercer grande pressão contra o suporte. Somente os traços feitos com leveza de punho, sobretudo a lápis, podem ser removidos por esta operação. A ação da borracha provoca solução de continuidade no brilho da superfície do papel, percebido com utilização de luz incidente. Nas rasuras superficiais, nem sempre a borracha remove todo o texto, restando vestígios do texto apagado, chamado texto subjacente. Rasas: A borracha é atritada com maior pressão, em uma tentativa de remover todo o texto. Em consequência, as fibras do papel se libertam e pode ocorrer que fiquem vestígios do texto subjacente. Caso a tinta utilizada no novo texto seja fluida, as fibras em liberdade, por capilaridade, ficam por ela tingidas. Profundas: Neste tipo de rasura, a aplicação de borracha é feita com energia. O levantamento das fibras remove parte da polpa do suporte tornando-o mais delgado o que permite maior filtragem de luz. Os textos subjacentes são raros. É evidenciada através da transparência do papel. Por acréscimo São lançamentos presentes em textos datilografados ou confeccionados em escrita cursiva. Nos textos cursivos, os acréscimos podem ser feitos nos seguintes espaçamentos: • Intervocabulares; • Interlineares; • Para substituir palavra retirada mediante rasura; • No final das linhas, quando estas se distanciam da margem; • Entre o final do texto e o início do registro de data ou de assinaturas. Constatação da alteração feita por acréscimo Tintas diferentes: O falsário pode intercalar um termo usando tinta da mesma cor, porém de tipo diferente. Tintas de cores diferentes tornam a prova mais fácil; • Punhos diferentes: Fazer o confronto entre os punhos é a melhor maneira de se comprovar o acréscimo; • Aglutinações: Ocorre quando a palavra a ser acrescida ocupa um campo maior do que o falsário dispõe para a fraude, obrigando o falsário a reduzir o calibre das letras. • No caso do espaço maior, ocorrerá uma quebra dos espaçamentos interliterais, abrindo os espaços entre as letras; • Reflexo de evitamento: usado para impedir que o texto aduzido caia sobre o original subsequente, assim, o falsário muda a orientação da escrita, tornando-a ascendente ou descendente. Química (lavagem química) Esta fraude é feita por meio da aplicação de um reagente químico para retirar o lançamento presente no documento. Geralmente, são utilizados produtos a base de cloro. No caso das canetas esferográficas, a fim de removê-las, a lavagem pode ser com a utilização de álcool ou acetona. Os papéis de segurança (tais como papel moeda) não comportam lavagens nem rasuras, pois a ação do reagente provoca descoramento do suporte. ATIVIDADE Assista ao filme Os falsários. Este filme narra a história do falsário Karl Markovics no período da 2ª Guerra Mundial. Durante o conflito, Karl Markovics foi capturado e preso pelos nazistas. Na prisão, viu-se obrigado a colaborar com eles em uma grande operação de falsificação de dinheiro. EXERCÍCIOS Questão 1: A imitação servil é aquela onde: Ocorre a reprodução de assinatura, sem se preocupar em imitar a forma das assinaturas legítimas, que se desconhece. O falsário, estando familiarizado com a assinatura da vítima, procura reproduzi-la sem ver o modelo, valendo-se da memória. O falsário,fiel a um modelo, o reproduz no documento que está forjando. O falsário se apossa de um modelo autêntico e, depois de cuidadoso treino, o reproduz. O falsário reproduz a assinatura a assinatura primeiramente a lápis, ou a transfere com emprego de papel carbono, para depois recobrir. Justificativa Questão 2: Quando a assinatura é verdadeira, mas o teor ou conteúdo do documento não representa a vontade do seu subscritor, temos um curso de: Falsificação material Simulação de falso Negativa de autenticidade Falsificação ideológica N.D.A. Justificativa Questão 3: Quando o escritor lança sua assinatura habitual, para depois eivá-la de vícios, teremos um caso de: Autofalsificação Simulação de falso Negativa de autenticidade Falsificação ideológica N.D.A. Justificativa Questão 4: Quando o escritor lança normalmente a sua assinatura e depois, para fugir à responsabilidade advinda do teor do documento, alega a sua falsidade, teremos um caso de: Autofalsificação Falsificação material Falsificação ideológica Simulação de falso Negativa de autenticidade Justificativa Questão 5: Trata-se de um tipo de falsificação onde a perfeita superposição das várias assinaturas entre si evidencia o processo, entretanto, não é possível identificar o autor do processo: Decalque Autofalsificação Exercitada Transplante Découpage Justificativa Glossário DECALQUES Ação de decalcar, de transferir uma imagem, desenho ou pintura, para outra superfície por pressão ou cópia. TRANSPLANTE Em documentoscopia, refere-se na implantação, em determinado documento, de um elemento extraído de outro documento, como por exemplo, um selo, uma assinatura etc. DÉCOUPAGE Montagem de um texto, com recortes de letras, grupos de letras e palavras, retiradas do manuscrito da pessoa a que se deseja atribuir a autoria. INCLINAÇÃO AXIAL Inclinação própria de cada letra. Inclinação do traço “vertical” de cada letra. CAPILARIDADE Fenômeno de atração e repulsão que se verifica no contato dos líquidos com um sólido e que o faz subir ou descer, em um tubo capilar, acima ou abaixo da superfície do líquido em que está mergulhado. [Física] A causa desses fenômenos. LUZ INCIDENTE Luz rasante.