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Maria Beatriz Machado PEDIATRIA – AULA 14 – DESIDRATAÇÃO E HIDRATAÇÃO ENDOVENOSA 1. DISTRIBUICÃO DA ÁGUA CORPORAL O ser humano é formado basicamente por água (80 – 85%), e a proporção de água é muito maior na criança do que no adulto. A água do nosso corpo é dividida entre água intracelular e extracelular Também temos uma certa quantidade de água nos ossos e músculos. 2. DESIDRATAÇÃO Definição: É um distúrbio decorrente da perda de água e eletrólitos, frequente em criança por vários motivos, principalmente por diarreia e vômitos. A desidratação NÃO É UMA DOENÇA, ela é um QUADRO CLÍNICO provocado por uma patologia. Essa patologia vai gerar um desequilíbrio entre a entrada e saída de líquidos do corpo, e surgirá a diarreia. Podemos classificar a desidratação de forma qualitativa (tipo de desidratação) e quantitativa (quantidade de líquido perdida). Classificação qualitativa: De acordo com a quantidade de sódio sérico Isonatrêmica: Na entre 130 – 150 Maior parte das vezes Hiponatrêmica: Na < 130 Hipernatrêmica: Na > 150 Classificação quantitativa: De acordo com o peso perdido na criança 1º grau: D1 (leve) 2º grau: D2 (moderado) 3º grau: D3 (grave) 2.1. OSMOLARIDADE PLASMÁTICA A osmolaridade plasmática envolve 3 elementos: Uréia (proteínas), glicose e sódio. O sódio é o PRINCIPAL RESPONSÁVEL pela osmolaridade plasmática, e por isso uma das formas de classificar a desidratação é de acordo com a quantidade sérica dele. Osm = (Na x 2) + (Uréia/2,8) + (Glicose/18) Valor de referência do Na: 136-145 mEq/L. Solução isotônica: Se a solução for isotônica a nível plasmático, não teremos troca entre os compartimentos intra e extracelular (nosso normal) Solução hipotônica: Se a solução for hipotônica a nível plasmático, ela tem a osmolaridade diminuída, então a tendência da água será sair do extravascular e entrar no interior da célula Solução hipertônica: Se a solução for hipertônica a nível plasmático, ela tem a osmolaridade aumentada, então a tendência da água será sair do interior da célula para o exterior Maria Beatriz Machado 2.2. CLASSIFICACÃO DE ACORDO COM O TIPO DE DESIDRATAÇÃO 2.2.1. DESIDRATACAO ISOTÔNICA OU ISONATRÊMICA – IMPORTANTE!!! Na: 130 - 150 mEq/L É o tipo de desidratação mais comum, sendo cerca de 80 – 85% dos casos de desidratação. O que ocorre: Teremos uma perda de líquido “total” no organismo, ou seja, além de perder água, perderemos também sódio, e por isso a osmolaridade permanece inalterada. Como essa osmolaridade está igual, não teremos troca de líquido entre o meio intra e extracelular (célula não edemacia e nem murcha, permanece igual) Então: Redução do extracelular Nenhuma alteração do intracelular Quadro clínico: Não há troca de água entre os compartimentos. O quadro clínico vai depender da intensidade da perda de água. Sinais de espoliação do interstício/extravascular (o primeiro compartimento comprometido é o extravascular): Depressão de fontanela Olhos encovados (fundos) Mucosas secas (boca fica seca) Diminuição da elasticidade cutânea Diminuição do turgor do subcutâneo Sinais de espoliação do liquido intravascular (quando a criança não é tratada e a desidratação evolui): Comprometimento do líquido dentro dos vasos Alteração do estado geral Inquietude Prostração Palidez Colapso circulatório: Extremidades frias e cianóticas, pulso rápido e fraco, oligúria e anúria. 2.2.2. DESIDRATACAO HIPOTÔNICA OU HIPONATRÊMICA (Na: < 130 mEq/L) 8 – 20% dos casos Na < 130 Ocorre mais em desnutridos Causas: Reposição com solução hipotônica (cálculo errado do soro) Perda excessiva do suco gástrico: Dreno, sonda nasogástrica, vômitos em excesso O que ocorre: Nesse tipo de desidratação a criança tem uma perda de líquido, porém ela perde mais sódio do que líquido, fazendo com que o meio extravascular fique hipotônico. Isso faz com que a água desse meio Maria Beatriz Machado a migre para o interior da célula (porque a água tem pressão osmótica menor e vai para o meio de maior osmolaridade). Portanto, a criança terá manifestações tanto por perda de líquido extravascular, tanto por perda de líquido do meio extravascular para o intravascular (célula fica edemaciada). Osmolaridade do plasma < 280 mOsm/L Diminuição do sódio no líquido extracelular: Porque a água tem uma pressão osmótica menor Entrada de água para o meio intracelular Quadro clínico (devido a passagem de água para o meio intracelular, edemaciando a célula): Agitação Convulsão Coma (edema das células do SNC) Os sinais de desidratação são mais precoces devido a entrada de líquido na célula. 2.2.3. DESIDRATACAO HIPERTÔNICA OU HIPERVOLÊMICA (Na: 150 mEq/L) Apenas 2 – 10% dos casos Ocorre mais em recém-nascidos (principalmente nos pré-termos porque possuem imaturidade renal) Teremos maior perda de água do que eletrólitos Causas: Reposição com solução hipertônica Diabetes insipidus Uso de diuréticos osmóticos O que ocorre: A criança terá maior perda de líquido do que sódio, tornando o meio extravascular hipertônico. Isso faz com que a água do meio intravascular migre para esse meio extravascular, levando a desidratação da célula. Osmolaridade plasmática > 310 mLsm/L (AUMENTADA) Maior concentração de sais no EC. Quadro clínico: Febre alta Sede intensa Irritabilidade Meningismo Convulsões e coma Os sinais de desidratação são mais tardios devido a saída de água da célula. 2.3. CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM O GRAU DE DESIDRATAÇÃO Essa classificação do grau de desidratação é baseada na perda de peso da criança. Ela é um pouco difícil de ser aplicada porque muitas vezes os responsáveis não sabem referir o peso anterior da criança para comparar com o peso no momento da consulta. Por essa razão, além de verificar a perda de peso, também vamos verificar outras manifestações clínicas que ela vai apresentar em cada grau de desidratação. Maria Beatriz Machado Classificação: Grau I (leve): Perda de até 5% do peso corporal O meio intravascular está preservado (a desidratação ocorre somente no extravascular) Grau II (moderado): Perda de 5 - 10% do peso corporal Os meios intra e extravascular estão comprometidos Grau III (grave): Perda de 10 - 15% do peso corporal SINAIS GRAU I GRAU II GRAU III Estado geral Alerta, com sede Agitada, com muita sede Letárgica Boca e língua Seca, com língua seca e saburrosa Muito seca, lábios as vezes cianóticos Lábios cianóticos Olhos Normais ou pouco encovados Encovados Muito encovados Lágrimas Presentes Ausentes ou diminuídas Ausentes Fontanela Plana Deprimida Muito deprimida Pele/turgor Quente, seca, elasticidade normal Extremidades frias, elasticidade diminuída Fria, acinzentada, e elasticidade diminuída Pulsos Normais Finos Muito finos Enchimento capilar Normal < 3s Lentificado 3 – 10s Muito lentificado > 10s Perda ponderal Até 5% Entre 5 – 10% > 10% Déficit estimado Até 50ml/kg 50 – 100ml/kg > 100ml/kg Qual a diferença entre D1 e D2? Em D1 não temos comprometimento intravascular, e o tempo de enchimento capilar se encontra normal. Em D2 temos o comprometimento do intravascular, e o tempo de enchimento capilar também está comprometido. Quais manifestações clínicas evidenciam o comprometimento intravascular? Pressão arterial (hipotensão) Pulso (pulso acelerado e mais fino) Tempo de enchimento capilar (3 segundos ou mais) 2.4. TRATAMENTO DA DESIDRATAÇÃO ISOTÔNICA/ISONATRÊMICA Soro de expansão (hidratação endovenosa): Volume de infusão: O volume de soro a ser infundido depende do grau de desidratação Cada 1% de peso que a criança perde, equivale a 10ml/kg de água EX: Criança de com desidrataçãograu I (até 5%) = Então ela perde até 50ml/kg EX: Criança com grau de desidratação II (5 - 10%) = Então ela perde 50 - 100ml/kg EX: Criança com grau de desidratação III (10 – 15%) = Então ela perde de 100 – 150ml/kg Dose de infusão: 20ml/kg/30 min até melhora do quadro A cada 20ml infundidas vamos reavaliar a criança. Qual soro utilizar: Soro fisiológico 0,9% ou Ringer Lactato Soro fisiológico: Sódio 154mEq/L Cloro 154 mEq/L Maria Beatriz Machado Ringer lactato: Leve hipotonia Sódio 130m Eq/L Potássio 4 mEq/L Cálcio 3 mEq/L Lactato 28 mEq/L Cloro 109 mEq/L Na prática preferimos o SORO FISIOLÓGICO, porque o Ringer lactato é levemente hipotônico em relação ao soro fisiológico, e além disso, o ringer lactato possui cálcio e lactato, dois elementos que se forem infundidos muito rápido podem causar arritmia. O Ringer lactato é bom em casos de desidratação por diarreia, porque nesses casos a criança perdeu muito bicarbonato, e o lactato ajuda a repor o bicarbonato. 2.5. TRATAMENTO DA DESIDRATAÇÃO HIPOTÔNICA/HIPONATRÊMICA Nestes casos geralmente utilizamos soro fisiológico. 2.6. TRATAMENTO DA CRIANÇA HIDRATADA COM PERDAS ANORMAIS Quando temos uma criança que está hidratada, porém está tendo perdas anormais de líquido, utilizamos o soro de reposição. Causas: Taquipneia: 10-45 ml/100 cal Fototerapia: 10 ml/100 cal Febre: 10 ml/100 cal Sudorese excessiva: 20-40 ml/100 cal Diarreia (causa mais frequente): 50 - 100 ml/100 cal
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