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Fisioterapia na Saúde da Família Aula 1: Trajetória histórica da saúde pública no Brasil Apresentação A história dos cuidados com saúde do brasileiro passa, necessariamente, pela �lantropia. Mais ainda pelo cunho �lantrópico religioso, a caridade, como estudaremos nesta aula. O Estado fazia algumas campanhas de saúde diante de epidemias, como ações de vacinação e/ou de saneamento básico, que ocorreram no �nal do século XIX e início do XX, com o saneamento do Rio de Janeiro e a grande campanha de vacinação contra varíola. Somente no �nal de 1963, na 3ª Conferência Nacional de Saúde, após vários estudos, pensou-se na criação de um sistema de saúde e duas bandeiras dessa conferência: um sistema de saúde para todos (saúde, direito de todos os cidadãos) e organizado descentralizadamente (protagonismo do município). Objetivos Analisar a trajetória histórica da criação assistencial da saúde pública no Brasil; Relacionar os principais fatores políticos, sociais e econômicos da trajetória histórica da criação do Sistema Único de Saúde. Do Descobrimento do Brasil (1500) até o primeiro reinado Um país colonizado, basicamente por degredados e aventureiros desde o descobrimento até a instalação do império, não dispunha de nenhum modelo de atenção à saúde da população, nem mesmo interesse, por parte do governo colonizador de Portugal, em criá-lo, certo? A saúde limitava-se aos próprios recursos da terra (plantas e ervas) e, àqueles que, por conhecimentos empíricos (curandeiros), desenvolviam suas habilidades na arte de curar. Com a chegada da família real portuguesa e de sua corte ao Brasil, em 1808, houve a necessidade de uma organização sanitária mínima, capaz de dar suporte às pessoas ligadas ao poder que se instalava na cidade do Rio de Janeiro. Os portugueses, com sua vinda para o Brasil, estimularam o crescimento industrial. E, com isso, a criação de estradas, abertura de bancos, renovação dos portos. Nessa época, surgiram os cursos para as formações em Medicina, Cirurgia e Química. Como eles estavam instalados no Rio de Janeiro, a primeira escola surgiu nessa cidade — Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro. Na mesma época, foi inaugurado o Colégio Médico-Cirúrgico no Real Hospital Militar de Salvador. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Até 1850, as atividades de saúde pública estavam limitadas ao seguinte: 1 Delegação das atribuições sanitárias as juntas municipais. 2 Controle de navios e saúde dos portos. A carência de pro�ssionais médicos no Brasil Colônia e no Brasil Império era enorme. No Rio de Janeiro, em 1789, só existiam quatro médicos exercendo a pro�ssão. Nesse período, a população pobre era atendida por hospitais �lantrópicos e igrejas (santas casas). Surgiram os boticários, trabalhando com mazelas físicas e funcionais por meio dos conhecimentos populares. Início da República: 1889 a 1930 A República do Brasil foi instaurada com o golpe militar que derrubou Dom Pedro II. A necessidade de reforma urbana e sanitária da cidade do Rio de Janeiro levou o sanitarista Oswaldo Cruz a iniciar uma fase de mudanças na saúde pública brasileira. Ele implementou um modelo intervencionista com campanhas de vacinação no país e foi designado para o Departamento Nacional de Saúde Pública. Esse modelo de ação ocorreu por conta das constantes epidemias (febre amarela, peste bubônica e varíola) que afetavam a população de baixa renda. Essa forma de intervenção gerou a Revolta da Vacina. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Saiba mais Assista ao vídeo sobre a Revolta da Vacina. javascript:void(0); Com o crescimento industrial e o sistema de saúde baseado em consultas particulares, necessitávamos de uma assistência em casos de acidentes, remuneração nas férias ou qualquer legislação trabalhista. Apesar dos avanços, não se via uma evolução para a população em geral. Em 1920, Carlos Chagas, assumiu o lugar de Oswaldo Cruz reestruturando o Departamento Nacional de Saúde, ligado ao Ministério da Justiça e introduzindo a propaganda e a educação sanitária na rotina de ação. Nesse período, surgiu a Previdência Social, pela Lei Eloi Chaves, em 24 de janeiro de 1924, em que determinava que os previdenciários tivessem o “privilégio” do atendimento e cuidado de saúde. As caixas de aposentadoria e pensões (CAPs), que eram mantidas e geridas por empresas, ofereciam serviços médicos aos funcionários e a suas famílias, e também descontos em medicamentos, com aposentadoria e pensão para herdeiros. O meio rural foi esquecido. Nada aconteceu nas regiões não urbanizadas, mais afastadas e destinadas à agricultura. Também não houve preocupação com a população desempregada. No começo da década de 1930, ocorrem três fatos importantes do quadro político brasileiro: 1930 Rompimento da república café com leite por Getúlio Vargas. 1937 Promulgada nova constituição (ditadura), com imposição de um sindicato único. 1939 Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Com o movimento político de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas ao governo, o governo federal passou a concentrar funções e aumentar o controle. Alguns fatores propiciaram a instauração da segunda fase do período republicano. A quebra da bolsa de Nova York, em outubro de 1929, provocou a queda da compra do café brasileiro pelos países europeus e Estados Unidos. O café era o principal produto exportado pelo Brasil, e a redução das vendas das safras afetou a economia. O Ministério da Educação e Saúde foi criado nessa época. Evidenciava-se algumas medidas de controle sanitário, mas a prioridade era dada para o sistema educacional. As caixas de aposentadoria e pensão foram substituídas pelos institutos de aposentadoria e pensões (IAPs), deixando de ser gerenciados pelas empresas e passando a ser controlados por entidades sindicais. A constituição de 1934 garantia a assistência médica, a licença-maternidade e jornadas de trabalho de 8 horas. Lei Orgânica A Lei Orgânica da Previdência Social, instaurada em 1960, uni�cava os IAPs de cada sindicato em um só regime e consolidava as leis trabalhistas. Mas, ainda era evidente a exclusão dos trabalhadores rurais, empregados domésticos e funcionários públicos. Os institutos criados na época podiam ser vistos como resposta, por parte do estado, às lutas e reivindicações dos trabalhadores de indústrias que cresciam no Brasil. O componente de assistência médica ocorria em parte por meio de serviços próprios, mas, principalmente, por meio da compra de serviços do setor privado (REIS; ARAUJO; CECILIO, 2019). Em 1967, no contexto do regime autoritário de 1964, criou- se o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), que uni�cou os IAPS. Com isso, a uni�cação por parte das categorias pro�ssionais venceu as resistências dos que tinham institutos mais ricos. O INPS consolidou o componente assistencial, com marcada opção de compra de serviços assistenciais do setor privado, concretizando o modelo assistencial hospitalocêntrico, curativista e médico- centrado, que terá uma forte presença no futuro SUS (REIS; ARAUJO e CECILIO, 2019). Trabalhadores e aposentados na fila do INPS. A demanda da população por serviços de saúde ultrapassava a capacidade de oferta do governo. O dé�cit era coberto pelo sistema privado por meio de repasses �nanceiros. E isso gerava um grande crescimento da rede privada de hospitais. Em 1977, foi criado o Sistema Nacional de Assistência e Previdência Social (SINPAS), e, dentro dele, o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), que passou a ser o grande órgão governamental prestador da assistência médica – basicamente à custa de compra de serviços médico-hospitalares e especializados do setor privado. Com isso, o foco da saúde pública �cou limitado ao processo curativo, sem muitos investimentos em promoção e prevenção e é possível a�rmar que tal lógica do INAMPS, que sobreviveu como órgão até a criação do SUS, ainda se reproduz em muitos locais no interior do país, no sistema único,mesmo depois de mais de 30 anos desde sua criação. Implantação do Programa de Ações Integradas de Saúde (PAIS) Em 1982, foi efetivado o Programa de Ações Integradas de Saúde (PAIS). Ele dava ênfase na atenção primária, sendo o início do pensamento da rede ambulatorial como porta de entrada do sistema de saúde. O PAIS: • Visava à integração das instituições públicas da saúde mantidas pelas diferentes esferas de governo, em rede regionalizada e hierarquizada; • Propunha a criação de sistemas de referência e contra referência e a atribuição de prioridade para a rede pública de serviços de saúde, com complementação pela rede privada, após sua plena utilização; • Previa a descentralização da administração dos recursos e a simpli�cação dos mecanismos de pagamento dos serviços prestados por terceiros e seu efetivo controle; • Viabilizava a realização de convênios entre o Ministério da Saúde, Ministério da Previdência e Assistência Social e Secretarias de Estado de Saúde, com o objetivo de racionalizar recursos utilizando capacidade pública ociosa. Podemos reconhecer nas AIS os principais pontos do programa na criação do SUS (REIS; ARAUJO e CECILIO, 2019). Transição democrática A saúde pública �nalmente ganhou um olhar mais social na reforma sanitarista. Isso só ocorreu nos últimos anos da ditadura militar. Com maior participação da sociedade na política, foram criados alguns conselhos: CONASP Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária. CONASS Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde. CONASEMS Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde – em um movimento que, no fim, gerou a criação do SUS. Esse período foi marcado por grandes movimentos sociais de diversas categorias pro�ssionais. Lutavam por seus direitos civis e sociais. 1978 A Conferência Internacional sobre Atenção Primária à Saúde foi realizada em Alma-Ata, no Cazaquistão, que debateu o �m da elitização da prática médica e a inacessibilidade dos serviços médicos à população carente. 1986 Aconteceu a 8ª Conferência Nacional de Saúde, que debateu a criação de um sistema único de saúde,igualitário e com intervenção popular. 1988 A realização da 8ª Conferência Nacional de Saúde teve intensa participação social. Ela ocorreu logo após o �m da ditadura militar iniciada em 1964, e consagrou uma concepção ampliada de saúde e o princípio da saúde como “direito universal e como dever do Estado”, que seria plenamente incorporados na Constituição de 1988. Foi aprovada a Constituição Federal que homologou a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Constituição de 1988 Com a promulgação da Constituição Federal Brasileira, em 1988, houve a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Ponto principal da criação do SUS e sua maior prerrogativa: ser de todos e para todos. A constituição de 1988 estabeleceu a saúde como um direito de todos e um dever do estado, formando a base para o sistema público e universal atual. O SUS é sustentado por um tripé. Nele constam a descentralização, a integralidade e a participação popular. O Sistema Único de Saúde conseguiu ter como prioridade, naquele momento, a atenção primária e as medidas com foco educativo. Também estavam presentes ações de promoção à saúde e de prevenção, como campanhas de vacinação. A saúde como um direito de todos e dever do Estado foi resultado da luta incansável de segmentos da sociedade civil organizada. Por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), o estado compromete-se a oferecer a todos os brasileiros, indiscriminadamente, um atendimento integral à saúde. Pode ser considerada a trajetória e a consolidação do maior período democrático e do maior sistema de inclusão social da história do país. Ao longo desses 30 anos, o SUS resiste. Evidencia-se na sua história cortes orçamentários, críticas e boicotes. Mas, ele se mantém �rme para garantir o cumprimento dos princípios constitucionais de universalidade, equidade e integralidade. Identi�cam-se também problemas e distorções. Vários desa�os a serem enfrentados pelo Sistema, que necessita da participação comunitária e social. Essa participação começou pela saúde e vem se estendendo para outras políticas públicas. Os conselhos de saúde trouxeram os movimentos populares e sociais para dentro das discussões em relação ao SUS. "A democratização preconizada pela Constituinte não foi suficiente para romper com a cultura política que, no Brasil, a gente chama de híbrida, porque é democrática, mas também muito conservadora nas suas bases. Ou seja, a sociedade se democratizou, mas o Estado não." - Maria do Socorro, presidente do Conselho Nacional de Saúde (2015) Saiba mais Assista ao vídeo com Maria do Socorro de Souza. Em cada conferência nacional de saúde, é necessário fazer um balanço dos avanços no SUS e avaliarmos o que deve ser feito para garantir o acesso de todos à saúde. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online javascript:void(0); Atividade 1) (MS CONCURSOS - 2018 - SAP-SP) Um século atrás, Oswaldo Cruz empreendeu, no Brasil, uma obra saneadora que se converteria num dos episódios mais comoventes da história da saúde pública mundial. O grande sanitarista estabeleceu um modelo de ação e deixou um exemplo que ainda inspiram o PNI. Marque a alternativa correta quanto ao signi�cado da sigla PNI. a) Programa Nacional de Imunizações b) Política Nacional de Imunizações c) Partido Nacional de Imunizações d) Programa Nacional do Índio e) Política Nacional do Índio 2) De acordo com o princípio da integralidade, um dos princípios fundamentais do SUS é: a) Todos os hospitais do país devem integrar o SUS. b) Deve ser garantido ao usuário o acesso a todos os níveis de complexidade oferecidos pelo SUS. c) Homens e mulheres são iguais no momento do atendimento em serviços de saúde. d) Toda a população do país deve ser atendida em serviços de saúde próprios. e) As doenças de pouca complexidade devem ser tratadas nos serviços de atenção básica. 3) O SUS tem que executar as ações de saúde. É incumbência do SUS, explicitada na CF e na Lei 8.080. Como o SUS é reconhecido como Sistema Público de Saúde, deve, portanto, exercer ações públicas. Antigamente, quando se falava em ações públicas de saúde, pensava-se na concepção antiga da saúde pública: ações mais coletivas e de promoção e proteção à saúde e para as doenças de maior interesse coletivo e com pouco apelo comercial, como tuberculose, hanseníase, malária, febre amarela, doença mental etc. Hoje, com o SUS, a concepção e o campo da saúde pública, é abrangente, incluindo o individual e o coletivo, com ações de promoção, proteção e recuperação da saúde em todos os campos e fazendo todos os campos como vigilância sanitária, epidemiológica, saúde do trabalhador, alimentação e nutrição, saúde da pessoa portadora de de�ciência e todos os procedimentos: consultas, exames, urgências, internações, cirurgias, transplantes, UTI etc. Faça uma pesquisa sobre o assunto e responda: quais são as diretrizes e princípios fundamentais do SUS? Referências BRASIL. Ministério da Saúde. História da saúde pública no Brasil. Disponível em: https://www.youtube.com/watch? reload=9&v=L7NzqtspLpc LEMOS, Tatiana. Fisioterapia na Saúde da Família. Rio de Janeiro: SESES, 2015. Próxima aula Evolução do processo de saúde-doença-cuidado na história da humanidade; javascript:void(0); Itens conceituais do processo saúde-doença-cuidado para a formação de políticas de saúde no Brasil e no mundo; Bases conceituais e políticas do termo promoção em saúde e prevenção de doenças. Explore mais Leia o relatório �nal da 8ª Conferência Nacional de Saúde. Assista ao vídeo A história da saúde pública no Brasil – 500 anos na busca de soluções. javascript:void(0); javascript:void(0);
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