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Direito Civil - Verbo Jurídico- 2020 mpdft

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DIREITO CIVIL E EMPRESARIAL 
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DIREITO CIVIL E EMPRESARIAL 
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SUMÁRIO 
 
1. LINDB. PESSOAS NATURAIS E JURÍDICAS ............................................................................... 04 
2. DOMICÍLIO .............................................................................................................................. 57 
3. BENS ........................................................................................................................................ 59 
4. NEGÓCIO JURÍDICO................................................................................................................. 72 
5. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA ................................................................................................ 101 
6. OBRIGAÇÕES ......................................................................................................................... 116 
7. ATOS UNILATERAIS .............................................................................................................. 153 
8. RESPONSABILIDADE CIVIL ................................................................................................... 155 
9. CONTRATOS .......................................................................................................................... 172 
10. DIREITO DA EMPRESA ........................................................................................................ 250 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO CIVIL E EMPRESARIAL 
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DIREITO CIVIL E EMPRESARIAL 
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LINDB. PESSOAS NATURAIS E JURÍ-
DICAS 
 
 
A Lei de Introdução ao Código Civil – LICC (Decreto-Lei 
4.657/42) teve sua denominação alterada pela Lei 12.376/10 
passando a ser chamada de Lei de Introdução às Normas do 
Direito Brasileiro - LINDB. A alteração é pertinente porque a 
Lei de Introdução não se reporta apenas à codificação civil, 
mas a todo o ordenamento jurídico nacional, definindo re-
gras gerais de vigência, limites de incidência, métodos de 
integração e aplicação da norma jurídica. 
 
A primeira regra definida na Lei de Introdução diz res-
peito ao momento em que a lei passa a operar efeitos. Lei em sentido estrito é ato normativo 
geral e abstrato emanado do Poder Legislativo. Lei em sentido amplo é, por exemplo, leis com-
plementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos, regulamentos, por-
tarias (atos normativos do Poder Executivo). Promulgada (ato de sancionar a lei) ele ingressa 
no universo jurídico. Publicada ela neutraliza o não conhecimento e pode ter sua observância 
exigida, pois ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece (art. 3º, LINDB). 
 
 CARACTERÍSTICAS 
 Generalidade: a lei dirige-se potencialmente a todas as pessoas ou categorias de 
pessoas; 
 Abstração: não regula apenas uma situação individual, mas cria hipótese de inci-
dência ampla; 
 Obrigatoriedade: todos são obrigados a cumpri-la, sob pena de imposição de uma 
sanção. O Direito, quando quer uma conduta, impõe; quando não quer, proíbe. No 
Direito Civil a norma não se impõe de forma irresistível em todos os casos (normas 
dispositivas). A possibilidade de adoção de outra conduta não contradiz a obrigatori-
edade, mas é um limite à extensão de sua aplicação; 
 Persistência ou Permanência: não se exaure com apenas uma aplicação; 
 Existência de Sanção: a sanção está presente na lei ou no ordenamento de modo 
indireto (Bobbio). Há, contudo, diversas normas sem sanção (aqueles que atribuem 
direitos, regulam a capacidade e a personalidade, normas de competência, normas 
programáticas, normas conceituais); 
 Estatualidade: devem emanar de autoridade competente. 
 
 CLASSIFICAÇÃO 
 QUANTO À DURAÇÃO 
a) Temporárias: são aquelas que possuem vigência determinada (depois caducam). 
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b) Permanentes ou Perpétuas: são aquelas que estão aptas a produzirem seus efei-
tos até que outra norma a revogue. 
 
 QUANTO À AMPLITUDE DO CAMPO DE ATUAÇÃO OU ALCANCE 
a) Gerais (comuns): regulam em toda sua amplitude e de modo genérico, determina-
das relações jurídicas. 
b) Especiais: trata com maior especificidade certas relações jurídicas (ex. CDC, Lei de 
Locações, Lei de Registros Públicos). 
c) Excepcionais: normas de exceção que contradizem as regras gerais. 
 
 QUANTO À IMPERATIVIDADE 
a) Normas Cogentes: podem ser imperativas (determina uma conduta positiva – o 
que se deve fazer) ou proibitivas (determinam uma abstenção – conduta negativa 
sob pena de sanção). 
b) Normas Dispositivas: podem ser subsidiárias ou integrantes (suprem a vontade do 
indivíduo, pois certas situações não podem ficar sem regulação) ou hipotéticas ou au-
torizantes (a vontade do indivíduo se declara no sentido da autorização legal). 
 
 QUANTO À SANÇÃO 
a) Perfeitas: a violação importa nulidade do ato sem sanção pessoal. 
b) Mais que perfeitas: a violação importa nulidade do ato e imposição de uma pena 
de ordem pessoal. 
c) Imperfeitas: não decretam invalidade nem impõe sanção de ordem pessoal. 
d) Menos que perfeitas: não decretam nulidade do ato, mas impõe sanção. 
 
 QUANTO À ORIGEM E CAMPO TERRITORIAL DE INCIDÊNCIA 
a) Federais/Nacionais: atingem todo território nacional e vinculam Estados e Muni-
cípios 
b) Federais em sentido estrito: aplicam-se ao âmbito da União e podem atingir todo 
o território nacional 
c) Estaduais: aplicam-se no âmbito do Estado 
d) Municipais: aplicam-se no âmbito do Município 
 
A lei é a fonte formal direta ou imediata do direito e, salvo disposição contrária, começa 
a vigorar em todo o país 45 (quarenta e cinco) dias depois de oficialmente publicada, sendo 
que nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia 3 
(três) meses depois de oficialmente publicada (art. 1º, LINDB). 
 
Conforme definido pelo art. 2o, LINDB, não se destinando à vigência temporária, a lei te-
rá vigor até que outra a modifique ou revogue. A lei posterior revoga a anterior quando ex-
pressamente o declare (revogação expressa), quando seja com ela incompatível ou quando 
regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior (revogação tácita). A lei nova, que 
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estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a 
lei anterior. Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revoga-
dora perdido a vigência. Em outras palavras, proíbe-se a repristinação automática. Se, contu-
do, a lei revogadora for declarada inconstitucional, tem sido reconhecida pela jurisprudência a 
restauração da eficácia da lei revogada. 
 
O legislador ao realizar seu ofício tem os olhos voltados ao presente e ao futuro, mas a 
contingência e riqueza da vida evidenciam a impossibilidade de previsão de todos os fenôme-
nos sociais. Assim, existirão fatos desprovidos de regulação jurídica. É o que Gastón Morin 
definiu como revolta dos fatos contra os códigos. Temos, então, o difícil problema das lacunas 
da lei - note-se que o ordenamento jurídico não tem lacunas lógicas, mas axiológicas, segundo 
o princípio ontológico do Direito. Havendo lacunas na lei, deve o aplicador do direito recorrer 
aos mecanismos de integração normativa que determinam ao juiz a observância, ao decidir, da 
analogia, dos costumes e dos princípios gerais de direito (art. 4º da LINDB). Parte da doutrina 
considera que deve ser preservada a ordem dos meios de integração. Contudo, consideramos 
que o juiz tem a liberdade de optarpelo método de integração que considere mais adequado à 
solução da controvérsia. Considere-se ainda que na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins 
sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum (art. 5º, LINDB). 
 
 ANALOGIA 
A analogia consiste num processo lógico pelo qual o aplicador do Direito estende o pre-
ceito legal aos casos não diretamente compreendidos em seu dispositivo, mas que guardem 
identidade de razão (Caio Mário). O direito romano era sensível a este fenômeno e intuitiva-
mente já anunciava que onde há a mesma razão há o mesmo direito. Não é propriamente fon-
te do Direito, mas instrumento técnico de que se vale o juiz para suprir lacunas, em outras 
palavras, meio de integração normativa. A norma dele resultante é norma jurisprudencial pra-
eter legem. 
 
 REQUISITOS 
a) inexistência de dispositivo legal disciplinando a hipótese; 
b) semelhança fática entre a relação não contemplada e a outra regulada pela lei; 
c) identidade de fundamentos jurídicos. 
 
 ESPÉCIES 
1. Analogia legis: estende-se a aplicação do dispositivo legal a um caso não previsto. 
Regra isolada. 
 
2. Analogia iuris: não há dispositivo específico que regule caso semelhante. O aplica-
dor, então, extrai a norma buscando isolar a razão jurídica presente em um conjunto 
de normas afins, um instituto, ou em acervo de diplomas legislativos, para aplicá-la 
ao caso não regulado. 
 
 COSTUME 
Comparado à lei trata-se o costume de fonte de menor objetividade, pois a produção 
normativa se dá através de um procedimento difuso que não se reduz a um ato básico (a pro-
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mulgação). Promulgada, a lei passa a ter existência jurídica. O costume, todavia, não se pro-
mulga; “ele se cria, se forma, se impõe sem que neste processo se localize um ato sanciona-
dor”.1 
 
Orlando Gomes define o costume como os usos de determinada comunidade juridica-
mente obrigatórios. São práticas reiteradas, constantes, notórias, observada com apoio na 
convicção de corresponder a uma necessidade jurídica. 
 
Savigny, representante da Escola Histórica, considera o costume o elemento mais auto-
rizado de criação do direito, por ser revelação espontânea da consciência jurídica da coletivi-
dade. 
 
O costume possui elementos objetivo e subjetivo. O elemento objetivo ou externo con-
siste no uso continuado (constância na repetição dos mesmos atos, observância uniforme de 
um mesmo comportamento). O elemento subjetivo ou interno é a convicção (geral) de obriga-
toriedade (opinio necessitatis sive obligationis ou opinio juris et necessitatis). 
 
As normas consuetudinárias se fazem impositivas, pois são dotadas de validade e eficá-
cia, como as normas legais. Sua validade, todavia, não deflui de normas de competência, mas 
da convicção de obrigatoriedade. 
 
Como inexiste um ato formal que atesta o ingresso da norma costumeira no sistema ju-
rídico, surge a dúvida do momento em que se inicia sua vigência. A prova do costume não tem 
como foco o início da vigência da norma, mas se ela, de fato existe ou não, competindo àquele 
que alega provar-lhe a existência. Assim, não se prova a vigência, mas a existência. 
 
 CLASSIFICAÇÃO 
1. Secundum legem: se acha referido ou ratificado em lei. 
 
2. Praeter Legem: complementa a lei preenchendo lacunas (regra de integração - art. 
4º da Lei de Introdução) 
 
3. Contra Legem: opõe-se ao preceito legal. Trata-se do costume ab-rogatório (con-
suetudo ab-rogatória) e o desuso2 (esquecimento de certas prescrições legais). No 
caso de costume contra legem surge a dúvida sobre qual deve prevalecer: ele ou a 
lei? Entendem que prevalece a lei Orlando, Carlos Maximiliano e Caio Mário, com 
apoio no art. 2º da Lei de Introdução e na convicção da existência de hierarquia entre 
as fontes e de preponderância da lei. Consideram que deve prevalecer o costume 
Enneccerus, Machado Neto, Serpa Lopes. 
 
 PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO 
Podem ser definidos como o substrato comum de diversas normas positivas (Caio Má-
rio); como regras gerais induzidas do sistema jurídico dotada do caráter da universalidade (Or-
lando Gomes); ou, ainda, como componentes que estruturam o sistema mantendo sua coesão 
(Tércio Sampaio Ferraz Jr.); 
 
 
1 Tércio Sampaio Ferraz. 
2 Desuetudo ou dissuetudo 
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Distribuem-se em 3 categorias: 
a) princípios que seriam a base para organização social e política; 
b) princípios decorrentes das instituições sociais formulados pela doutrina; 
c) brocardos, máximas, aforismos, em suma, os provérbios jurídicos; são representa-
ções vivas de verdades jurídicas de grande valor expressivo e retórico. 
 
Os princípios instituem o dever de adotar comportamentos necessários à realização de 
um estado de coisas. Os princípios, então, situam-se no plano deontológico, prescrevendo a 
obrigatoriedade de observância de certos comportamentos necessários à promoção gradual 
de certo objetivo. 
 
O artigo 6º, caput, da Lei de Introdução define regra fundamental sobre aplicação da lei 
no tempo que consagra o princípio da irretroatividade das leis; e está em consonância com o 
artigo 5º do texto constitucional. Respectivamente: 
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfei-
to, o direito adquirido e a coisa julgada. 
 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garan-
tindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do 
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos 
seguintes: 
(...) 
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa jul-
gada; 
 
Assim, a regra é a seguinte: a lei nova não atinge os fatos anteriores ao início de sua vi-
gência. Em consequência, os fatos anteriores à vigência da lei nova regulam-se pela lei do 
tempo em que foram praticados (tempus regit actum). 
 
Em seguida, enuncia-se a definição legal: 
- Ato Jurídico Perfeito: ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efe-
tuou. 
- Direito Adquirido: aquele que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como 
aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida 
inalterável, a arbítrio de outrem. 
- Coisa Julgada: decisão judicial de que já não caiba recurso. 
 
Sobre o tema da aplicação da lei no tempo, deve, ainda, ser observada a regra de transi-
ção do art. 2.035, CC, segundo a qual: 
Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da 
entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas 
no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos 
preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determi-
nada forma de execução. 
Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de or-
dem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função 
social da propriedade e dos contratos. 
 
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Defende-se a incidência de normas de ordem pública destinadas a assegurar a função 
social da propriedade e dos contratos que poderão atingir os efeitos dos contratos constituí-
dos sob a égide do Código anterior. 
 
Em seguida, aborda a Lei de Introdução a aplicação da lei no espaço. Define-se que a lei 
do país em que for domiciliada a pessoa (lex domicilii) determina as regras sobre o começo e o 
fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. 
 
Na hipótese de casamento, sendo ele realizado no Brasil,será aplicada a lei brasileira 
quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração. Tendo os nubentes 
domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio con-
jugal. Possível também o casamento de estrangeiros perante autoridades diplomáticas e con-
sulares do país de ambos os nubentes (§§ 1º, 2º e 3º do art. 7º, LINDB). 
 
O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os nu-
bentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal. O estrangeiro casado, 
que se naturalizar brasileiro com a anuência do cônjuge pode adotar o regime de comunhão 
parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente regis-
tro. 
 
Em caso de divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasi-
leiros, só será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se houver 
sido antecedida de separação judicial por igual prazo. A homologação da sentença estrangeira 
é feita pelo Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, “i” da CF), mas a execução será do juiz fe-
deral de 1ª instância, seja qual for a matéria (art. 109, X, CF). O artigo 216-N da Emenda Regi-
mental n. 18, de 17 de Dezembro de 2014 estabelece que: A sentença estrangeira homologada 
será executada por carta de sentença no Juízo Federal competente. A homologação deve ser 
feita apenas após o trânsito em julgado da sentença estrangeira, segundo entendimento do 
STF: 
Súmula 420. Não se homologa sentença proferida no estrangeiro sem prova do 
trânsito em julgado. 
 
Os bens e as relações a eles concernentes serão regulados pela lei do país em que esti-
verem situados, exceção feita aos bens móveis destinados a transporte para outros lugares ou 
trazidos pelo proprietário quando deverá ser aplicada a lei do país de seu domicílio (art. 8º, 
LINDB)3. 
 
Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem 
(locus regit actum). Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de 
forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos 
requisitos extrínsecos do ato. A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no 
lugar em que residir o proponente (art. 9º, LINDB). Esta última regra vale para os contratos 
internacionais, pois para os contratos nacionais incide o art. 435, CC, que considera celebrado 
o contrato no lugar em que foi proposto. 
 
A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o de-
funto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens. A sucessão de 
bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônju-
ge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorá-
 
3 O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a coisa apenhada 
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vel a lei pessoal do de cujus. Assim, se a lei estrangeira for mais favorável ao cônjuge e filho 
brasileiro ela deverá ser aplicada. A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capaci-
dade para suceder (art. 10º da Lei de Introdução). 
 
É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil 
ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação. Só à autoridade judiciária brasileira compete co-
nhecer das ações relativas a imóveis situados no Brasil. A autoridade judiciária brasileira cum-
prirá, concedido o exequatur e segundo a forma estabelecida pela lei brasileira, as diligências 
deprecadas por autoridade estrangeira competente, observando a lei desta, quanto ao objeto 
das diligências. A concessão de exequatur às cartas rogatórias é feita pelo Superior Tribunal de 
Justiça (art. 105, I, “i” da CF), mas a execução de carta rogatória, após o exequatur, será do juiz 
federal de 1ª instância (art. 109, X, CF). A Emenda Regimental n. 18/14, assim prescreve: 
Art. 216-V. Após a concessão do exequatur, a carta rogatória será remetida ao Juí-
zo Federal competente para cumprimento (...).
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A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto 
ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei 
brasileira desconheça (art. 13, LINDB). Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir 
de quem a invoca prova do texto e da vigência. Quando se houver de aplicar a lei estrangeira, 
ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão por ela feita a outra 
lei. (arts. 14 e 16, LINDB) 
 
Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reúna os seguintes 
requisitos: a) haver sido proferida por juiz ou autoridade competente; b) terem sido os partes 
citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia; c) ter passado em julgado e estar revesti-
da das formalidades necessárias para a execução no lugar em que foi proferida; d) estar tradu-
zida por intérprete autorizado (tradução por tradutor oficial ou juramentado no Brasil); e) ter 
sido homologada pelo Superior Tribunal de Justiça. A Emenda Regimental n. 18/14 regulamen-
ta este dispositivo da Lei de Introdução e acrescenta a necessidade de estar autenticada a sen-
tença estrangeira pela autoridade consular. 
 
As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, 
não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os 
bons costumes (art. 17, CC). A homologação requer a avaliação destes requisitos negativos: 
“HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA. ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. 
DIVÓRCIO, COM ACORDO HOMOLOGADO SOBRE GUARDA, VISITAÇÃO E PENSÃO 
DOS FILHOS. REQUISITOS PREENCHIDOS. 1. Não se constitui em óbice à homologa-
ção de sentença estrangeira o fato de o Requerido, regularmente citado em territó-
rio estadunidense, não ter sido representado por advogado - mormente porque, se 
quisesse, poderia ter advogado público. Ademais, conforme bem anotado no pare-
cer ministerial, calcado em jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, "não 
há como impor à Justiça norte-americana a observância de regras próprias do or-
denamento processual brasileiro, no que tange à representação processual por in-
termédio de advogado." Ausência de ofensa à ordem pública. 2. Restaram atendi-
dos os requisitos regimentais com a constatação da regularidade da citação para 
processo julgado por juiz competente, cuja sentença, transitada em julgado, foi au-
 
4 Art. 216-V. Após a concessão do exequatur, a carta rogatória será remetida ao Juízo Federal competente para cumprimento. § 1º 
Das decisões proferidas pelo Juiz Federal competente no cumprimento da carta rogatória caberão embargos, que poderão ser 
opostos pela parte interessada ou pelo Ministério Público Federal no prazo de dez dias, julgando-os o Presidente deste Tribunal. § 
2º Os embargos de que trata o parágrafo anterior poderão versar sobre qualquer ato referente ao cumprimento da carta rogató-
ria, exceto sobre a própria concessão da medida ou o seu mérito. 
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tenticada pela autoridade consular brasileira e traduzida por profissional juramen-
tado no Brasil, com o preenchimento das demais formalidades legais. 3. Pedido de 
homologação deferido. Custas ex lege. Condenação do Requerido ao pagamento 
dos honorários advocatícios.” (SEC 7.137/EX, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ES-
PECIAL, julgado em 14/06/2012, DJe 29/06/2012) 
 
“SENTENÇA ESTRANGEIRA. AÇÃO DE DIVÓRCIO. HOMOLOGAÇÃO. 1. Alegação de 
nulidade de citação não procede quando há certidão de oficial de justiça estrangei-
ro que comprovao cumprimento da diligência citatória. 2. Sentença estrangeira 
que não viola a soberania nacional, os bons costumes e a ordem pública e que pre-
enche as condições legais deve ser homologada. 3. A jurisprudência do STJ e do STF 
autoriza a homologação de sentença estrangeira que, decretando o divórcio, conva-
lida acordo celebrado pelos ex-cônjuges quanto à partilha de bens. 4. Sentença es-
trangeira e acordo firmado entre as partes homologados.” (SEC 3.269/EX, Rel. Mi-
nistro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, CORTE ESPECIAL, julgado em 07/05/2012, DJe 
22/05/2012) 
 
Tratando-se de brasileiros, são competentes as autoridades consulares brasileiras para 
lhes celebrar o casamento e os demais atos de Registro Civil e de tabelionato, inclusive o regis-
tro de nascimento e de óbito dos filhos de brasileiro ou brasileira nascido no país da sede do 
Consulado (art. 18 da Lei de Introdução). 
 
Segundo o art. 11 da Lei de Introdução as organizações destinadas a fins de interesse co-
letivo, como as sociedades e as fundações, obedecem à lei do Estado em que se constituírem. 
Não poderão, entretanto, ter no Brasil filiais, agências ou estabelecimentos antes de serem os 
atos constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei brasileira. Os Go-
vernos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer natureza, que eles tenham consti-
tuído, dirijam ou hajam investido de funções públicas, não poderão adquirir no Brasil bens 
imóveis ou susceptíveis de desapropriação. Os Governos estrangeiros podem adquirir a pro-
priedade dos prédios necessários à sede dos representantes diplomáticos ou dos agentes con-
sulares. 
 
 LEI 13.655/18 - NORMAS SOBRE SEGURANÇA JURÍDICA E EFI-
CIÊNCIA NA CRIAÇÃO E NA APLICAÇÃO DO DIREITO PÚBLICO 
A Lei nº 13.655/2018 incluiu na LINDB os arts. 20 a 30 prevendo regras sobre segurança 
jurídica e eficiência na criação e na aplicação do direito público. Vale ressaltar que o art. 25 foi 
vetado. 
 
A interpretação dos arts. 20 a 30, portanto, deve ser a de que eles se aplicam para te-
mas de direito público, mais especificamente para matérias de Direito Administrativo, Finan-
ceiro, Orçamentário e Tributário. 
 
Tais regras não se aplicam, portanto, para temas de direito privado. 
 
Segue uma análise artigo por artigo: 
 
DECISÃO COM BASE EM VALORES JURÍDICOS ABSTRATOS 
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Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com ba-
se em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências 
práticas da decisão. 
 
O art. 20 da LINDB tem por finalidade reforçar a ideia de responsabilidade decisória es-
tatal diante da incidência de normas jurídicas indeterminadas, as quais sabidamente admitem 
diversas hipóteses interpretativas e, portanto, mais de uma solução. 
 
O dispositivo proíbe motivações decisórias vazias, apenas retóricas ou principiológicas, 
sem análise prévia de fatos e de impactos. Obriga o julgador a avaliar, na motivação, a partir 
de elementos idôneos coligidos no processo administrativo, judicial ou de controle, as conse-
quências práticas de sua decisão. 
 
Esfera administrativa: Consiste na instância que se passa dentro da própria Administra-
ção Pública, normalmente em um processo administrativo. 
Esfera controladora: Aqui a Lei está se referindo precipuamente aos Tribunais de Con-
tas, que são órgãos de controle externo. 
Esfera judicial: São os processos que tramitam no Poder Judiciário. 
 
Esse dispositivo não proíbe que se decida com base em valores jurídicos abstratos, mas 
prevê que toda vez que isso ocorrer, deverá ser feita uma análise prévia de quais serão as con-
sequências práticas dessa decisão. 
 
Em outras palavras, a análise das consequências práticas da decisão passa a fazer parte 
das razões de decidir. É como se o legislador introduzisse uma condicionante para a força 
normativa dos princípios: eles somente podem ser utilizados para fundamentar uma decisão 
se o julgador considerar “as consequências práticas da decisão”. 
 
Trata-se, portanto, de uma reação retrógrada à força normativa dos princípios constitu-
cionais. 
 
O parágrafo único do art. 20 diz que: 
Art. 20. (...) 
Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida 
imposta ou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administra-
tiva, inclusive em face das possíveis alternativas. 
 
O administrador, conselheiro ou magistrado quando for impor alguma medida ou invali-
dar ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, deverá demonstrar que a decisão 
tomada é necessária e a mais adequada, explicando, inclusive, as razões pelas quais não são 
cabíveis outras possíveis alternativas. 
 
DECISÃO QUE ACARRETE INVALIDAÇÃO DE ATO, CONTRATO, AJUSTE, PROCESSO OU 
NORMA ADMINISTRATIVA 
A Lei nº 13.655/2018 demonstrou uma preocupação muito grande com decisões que 
acarretem invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa. Por isso, 
inseriu na LINDB dois dispositivos para tratar sobre o tema: o parágrafo único do art. 20 e o 
art. 21. 
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Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decre-
tar a invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá 
indicar de modo expresso suas consequências jurídicas e administrativas. 
 
O art. 21 exige o exercício responsável da função judicante do agente estatal. Invalidar 
atos, contratos, processos configura atividade altamente relevante, que importa em conse-
quências imediatas a bens e direitos alheios. Decisões irresponsáveis que desconsiderem situ-
ações juridicamente constituídas e possíveis consequências aos envolvidos são incompatíveis 
com o Direito. É justamente por isso que o projeto busca garantir que o julgador (nas esferas 
administrativa, controladora e judicial), ao invalidar atos, contratos, processos e demais ins-
trumentos, indique, de modo expresso, as consequências jurídicas e administrativas decorren-
tes de sua decisão. 
 
A invalidação de um ato, contrato, ajuste, processo ou norma pode acarretar graves pre-
juízos para a parte envolvida, para a própria Administração e também para terceiros. Pensan-
do nisso, o parágrafo único do art. 21 trata sobre o tema, assim como sobre a possibilidade de 
regularização da situação: 
Art. 21. (...) 
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for 
o caso, indicar as condições para que a regularização ocorra de modo proporcional 
e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não se podendo impor aos sujei-
tos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do caso, sejam a-
normais ou excessivos. 
 
INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS SOBRE GESTÃO PÚBLICA 
Primado da realidade 
Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os 
obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a 
seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados. 
§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajus-
te, processo ou norma administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas 
que houverem imposto, limitado ou condicionado a ação do agente. 
 
Uma das principais teses de defesa dos administradores públicos nos processos que 
tramitam nos Tribunais de Contas ou nas ações de improbidade administrativa é a de que não 
cumpriram determinada regra por conta das dificuldades práticas vivenciadas, em especial 
quando se trata de Municípios do interior do Estado. 
 
Em geral, tais argumentos não são acolhidos porque os Tribunais de Contas e o Poder 
Judiciário entendem que essas dificuldades são previamente conhecidas e que os administra-
dores públicos já deveriam se preparar para elas. 
 
Assim, o objetivodo dispositivo foi o de tentar “abrandar” essa jurisprudência pugnando 
que o órgão julgador considere não apenas a literalidade das regras que o administrador tenha 
eventualmente violado, mas também as dificuldades práticas que ele enfrentou e que possam 
justificar esse descumprimento. 
 
Critérios para aplicação de sanções 
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§ 2º Na aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da infra-
ção cometida, os danos que dela provierem para a administração pública, as cir-
cunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes do agente. 
 
Critérios a serem considerados na aplicação das sanções: 
a) Natureza e gravidade da infração cometida; 
b) Danos causados à Administração Pública; 
c) Agravantes; 
d) Atenuantes; 
e) Antecedentes. 
 
Sanções de mesma natureza deverão ser consideradas 
§ 3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria das de-
mais sanções de mesma natureza e relativas ao mesmo fato. 
 
MUDANÇA DE INTERPRETAÇÃO OU ORIENTAÇÃO E MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA DE-
CISÃO 
Art. 23. A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer interpre-
tação ou orientação nova sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo novo 
dever ou novo condicionamento de direito, deverá prever regime de transição 
quando indispensável para que o novo dever ou condicionamento de direito seja 
cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem prejuízo aos interes-
ses gerais. 
 
Se houver uma mudança na forma como tradicionalmente a Administração Pública, os 
Tribunais de Contas ou o Poder Judiciário interpretavam determinada norma, deverá ser pre-
visto um regime de transição. 
 
Este regime de transição representa a concessão de um prazo para que os administrado-
res públicos e demais pessoas afetadas pela nova orientação possam se adaptar à nova inter-
pretação. É como se fosse uma modulação dos efeitos. 
 
Cabe ao órgão julgador a análise do preenchimento dos requisitos, sendo passível de re-
curso caso o interessado entenda que deveria ter direito ao regime de transição. 
 
REVISÃO DEVERÁ LEVAR EM CONTA A ORIENTAÇÃO VIGENTE NA ÉPOCA DA PRÁTICA 
DO ATO 
Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à va-
lidade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já 
se houver completado levará em conta as orientações gerais da época, sendo ve-
dado que, com base em mudança posterior de orientação geral, se declarem invá-
lidas situações plenamente constituídas. 
 
Algumas vezes demoram anos para que a Administração Pública (controle interno), o 
Tribunal de Contas ou o Poder Judiciário examine a validade de um ato ou contrato adminis-
trativo (em sentido amplo) que já tenha se completado. Nesse período, pode acontecer de o 
entendimento vigente ter se alterado. Caso isso aconteça, o ato deverá ser analisado conforme 
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as orientações gerais da época e as situações por elas regidas deverão ser declaradas válidas, 
mesmo que apresentem vícios. 
 
A norma fortalece a ideia de irretroatividade do direito em prejuízo de situações jurídi-
cas perfeitas, constituídas de boa-fé, em coerência com o ordenamento à época vigente. Visa 
dar segurança no longo prazo para situações jurídicas plenamente constituídas à luz de um 
entendimento geral válido. 
 
Art. 24. (...) 
Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e especifica-
ções contidas em atos públicos de caráter geral ou em jurisprudência judicial ou 
administrativa majoritária, e ainda as adotadas por prática administrativa reiterada 
e de amplo conhecimento público. 
 
O parágrafo único procura conceituar o que seriam “orientações gerais”. No entanto, a 
conceituação é por demais vaga e emprega expressões abstratas e genéricas. 
 
COMPROMISSO PARA ELIMINAR IRREGULARIDADE, INCERTEZA JURÍDICA OU SITUA-
ÇÃO CONTENCIOSA NA APLICAÇÃO DO DIREITO PÚBLICO 
O art. 26 da LINDB prevê a possibilidade de a autoridade administrativa celebrar um a-
cordo (compromisso) com os particulares com o objetivo de eliminar eventual irregularidade, 
incerteza jurídica ou um litígio (situação contenciosa). 
 
Para que esse compromisso seja realizado, é indispensável a prévia manifestação do ór-
gão jurídico. Em alguns casos de maior repercussão, é necessária também a realização de au-
diência pública. 
 
Confira a redação do caput do art. 26: 
Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na 
aplicação do direito público, inclusive no caso de expedição de licença, a autorida-
de administrativa poderá, após oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso, após 
realização de consulta pública, e presentes razões de relevante interesse geral, ce-
lebrar compromisso com os interessados, observada a legislação aplicável, o qual 
só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial. 
 
Requisitos do termo de compromisso 
Art. 26. (...) 
§ 1º O compromisso referido no caput deste artigo: 
I - buscará solução jurídica proporcional, equânime, eficiente e compatível com os 
interesses gerais; 
II - (VETADO); 
III - não poderá conferir desoneração permanente de dever ou condicionamento de 
direito reconhecidos por orientação geral; 
IV - deverá prever com clareza as obrigações das partes, o prazo para seu cumpri-
mento e as sanções aplicáveis em caso de descumprimento. 
§ 2º (VETADO). 
 
IMPOSIÇÃO DE COMPENSAÇÃO 
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Art. 27. A decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, 
poderá impor compensação por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou in-
justos resultantes do processo ou da conduta dos envolvidos. 
§ 1º A decisão sobre a compensação será motivada, ouvidas previamente as partes 
sobre seu cabimento, sua forma e, se for o caso, seu valor. 
§ 2º Para prevenir ou regular a compensação, poderá ser celebrado compromisso 
processual entre os envolvidos. 
 
O dispositivo em questão visa evitar que partes, públicas ou privadas, em processo na 
esfera administrativa, controladora ou judicial aufiram benefícios indevidos ou sofram prejuí-
zos anormais ou injustos resultantes do próprio processo ou da conduta de qualquer dos en-
volvidos. O art. 27 tomou o cuidado de exigir que a decisão que impõe compensação seja mo-
tivada e precedida da oitiva das partes. Há, também nesse caso, a possibilidade de celebração 
de compromisso processual entre os envolvidos. 
 
RESPONSABILIDADE DO AGENTE PÚBLICO 
Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões 
técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro. 
 
O art. 28 quer dar a segurança necessária para que o agente público possa desempenhar 
suas funções. Por isso afirma que ele só responderá pessoalmente por suas decisões ou opini-
ões em caso de dolo ou erro grosseiro (o que inclui situações de negligência grave, imprudên-
cia grave ou imperícia grave). 
 
Apesar disso, o art. 28 da LINDB vai de encontro ao art. 37, § 6º da CF/88. 
 
Se um servidor público, no exercício de suas funções, pratica ato ilícito que causa prejuí-
zo a alguém, ele poderá ser responsabilizado, no entanto essa responsabilidade é subjetiva 
(terá que ser provado o dolo ou a culpa do servidor) e regressiva (primeiro o Estado terá que 
ser condenado a indenizar a vítima e, em seguida, o Poder Público cobra do servidor a quantia 
paga). 
 
Esse regime de responsabilidade está previsto na parte final do § 6º do art. 37 da Consti-
tuição: 
Art. 37. (...) 
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de 
serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes,nessa qualidade, cau-
sarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos 
de dolo ou culpa. 
 
O art. 28 abranda o regime constitucional ao exigir erro grosseiro 
O art. 28 da LINDB afirma que o agente público responderá pessoalmente em caso de 
dolo ou erro grosseiro. Este dispositivo se afasta da regra constitucional em dois pontos: 
1. Para que o agente público responda, o art. 28 exige que ele tenha agido com dolo ou 
erro grosseiro. Ocorre que a CF/88 se contenta com dolo ou culpa. 
 
O erro grosseiro é sinônimo de culpa grave. Assim, é como se o art. 28 dissesse: o agen-
te público somente responde em caso de dolo ou culpa grave. 
 
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2. O art. 37, § 6º da CF/88 exige que a responsabilidade civil do agente público ocorra de 
forma regressiva. O art. 28, por seu turno, não é explícito nesse sentido, devendo, no 
entanto, ser interpretada a responsabilidade como sendo regressiva por força da Consti-
tuição e daquilo que a jurisprudência denomina de teoria da dupla garantia: 
“A vítima somente poderá ajuizar a ação contra o Estado (Poder Público). Se 
este for condenado, poderá acionar o servidor que causou o dano em caso 
de dolo ou culpa. O ofendido não poderá propor a demanda diretamente 
contra o agente público.” 
 
CONSULTA PÚBLICA 
Art. 29. Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade 
administrativa, salvo os de mera organização interna, poderá ser precedida de con-
sulta pública para manifestação de interessados, preferencialmente por meio ele-
trônico, a qual será considerada na decisão. 
§ 1º A convocação conterá a minuta do ato normativo e fixará o prazo e demais 
condições da consulta pública, observadas as normas legais e regulamentares es-
pecíficas, se houver. 
§2º (VETADO). 
 
O art. 29, ao prever a consulta pública prévia à edição de atos normativos por autorida-
de administrativa, procura trazer transparência e previsibilidade à atividade normativa do Exe-
cutivo. Trata-se de medida consentânea com as melhores práticas. 
 
INSTRUMENTOS PARA AUMENTAR A SEGURANÇA JURÍDICA 
Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica 
na aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administra-
tivas e respostas a consultas. 
Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter vin-
culante em relação ao órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão. 
 
VIGÊNCIA 
A Lei 13.655/18 entrou em vigor na data de sua publicação (26/04/2018). Isso significa 
que os artigos por ela acrescentados já estão produzindo efeitos, com exceção do art. 29 da 
LINDB, que possui vacatio legis de 180 dias. 
 
 DAS PESSOAS 
 PESSOAS NATURAIS: PERSONALIDADE E CAPACIDADE 
Comecemos com alguns conceitos nucleares. 
Pessoa é todo ser, ente físico ou coletivo, susceptível de adquirir direitos e contrair obri-
gações. A ideia de pessoa identifica-se com a noção de sujeito de direito. 
 
Personalidade é a aptidão genérica que tem a pessoa de adquirir direitos e contrair o-
brigações. Toda pessoa tem personalidade jurídica. 
 
Capacidade é a aptidão que tem uma pessoa de exercer pessoalmente atos da vida civil, 
ou seja, de exigir, por si, a observância de seus direitos e de cumprir suas obrigações. A 
capacidade poderá ser de direito ou de gozo ou poderá ser nominada de capacidade de 
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fato ou de exercício. A primeira identifica-se com a noção de personalidade e consiste 
na capacidade para adquirir direitos e obrigações na ordem civil. Já a capacidade de fato 
ou de exercício consiste na medida da personalidade jurídica, ou seja, trata-se de uma 
restrição legal genérica imposta a determinadas pessoas, em função de situação pessoal 
que atinge em certa medida seu discernimento, que limita em maior ou menor grau a 
pratica de atos da vida civil. A incapacidade absoluta impede que o titular do direito o 
exerça direita ou pessoalmente, devendo ele ser representado. A incapacidade relativa 
permite que o titular do direito o exerce direta ou pessoalmente, desde que devidamen-
te assistido. 
 
A incapacidade deriva da lei, sendo as normas a ela concernentes cogentes. Não consti-
tui, pois, incapacidade a limitação decorrente de ato inter vivos ou mortis causa como a cláusu-
la de inalienabilidade imposta pelo doador ou testador 
 
 CAPACIDADE E LEGITIMAÇÃO 
Legitimação diz respeito a uma proibição legal de praticar certos atos da vida civil impos-
ta a determinadas pessoas em razão da especial posição jurídica que ocupam, ou seja, trata-se 
de uma limitação circunstancial, episódica. Assim, o tutor ou curador não estão legitimados a 
adquirir bens do tutelado ou curatelado, bem como não estão legitimados, assim como os 
demais administradores de bens alheios, a dar em comodato tais bens, salvo em caso de espe-
cial autorização; bem assim, o cônjuge não está legitimado a alienar bens imóveis sem anuên-
cia do seu consorte (salvo no regime da separação absoluta); o indigno não está legitimado a 
suceder; o ascendente não pode vender bens ao descendente sem a anuência dos demais des-
cendentes. 
 
 INÍCIO DA PERSONALIDADE CIVIL 
Segundo o texto legal, adquire-se a personalidade jurídica pelo nascimento com vida, 
mas a lei põe a salvo os interesses do nascituro desde a concepção. O nascituro é o ente con-
cebido que está para nascer (infans conceptus). 
 
São basicamente 3 as teorias que tratam do início da personalidade: 
1. Teoria Natalista: Os doutrinadores que se filiam a esta corrente defendem a tese 
de que nosso sistema legislativo adota esta teoria, pois prescreve que a aquisição da 
personalidade se dá com o nascimento com vida, possuindo o nascituro, portanto, 
expectativa de direito.5 A teoria tem sofrido duras críticas por não responder satisfa-
toriamente questões relativas à condição jurídica do nascituro e sobre a titularidade 
de diretos da personalidade. 
 
2. Teoria da Personalidade Condicional: Serpa Lopes, Arnoldo Wald, Oertmann de-
fendem a teoria da personalidade condicional que apresenta a seguinte tese: o nasci-
turo tem personalidade que está condicionada ou evento nascimento com vida, ten-
do assim o nascituro direitos sob condição suspensiva. 
 
3. Teoria Concepcionista: Clóvis Beviláqua, Teixeira de Freitas, Silmara Chinelato, 
dentre outros eminentes civilistas, defendem a teoria concepcionista, segundo a qual 
o nascituro desde a concepção tem personalidade jurídica, sendo, portanto, pessoa. 
 
5 A Espanha, fiel à fonte romanística, exige a forma humana e a viabilidade para aquisição da personalidade 
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Trata-se de corrente que tem prevalecido no Direito Civil Contemporâneo6, sobretu-
do, por apresentar respostas satisfatórias quanto à condição jurídica do nascituro e a 
titularidade de direitos da personalidade. Maria Helena Diniz desdobrando o tema 
defende a tese da personalidade jurídica formal e material, esclarecendo que tem o 
nascituro a titularidade dos direitos da personalidade desde a concepção (personali-
dade jurídica formal), adquirindo os direitos patrimoniais com o nascimento com vida 
(personalidade jurídica material). 
 
O enunciado nº 1 do CJF revela tendência à adoção da teoria concepcionista e o enunci-
ado nº 2 recomenda a adoção de um estatuto próprio para definição da situação jurídica do 
embrião7. 
Enunciado nº 1 do CJF
8
: Art. 2º: a proteção que o Código defere ao nascituro alcan-
ça o natimorto no que concerneaos direitos da personalidade, tais como nome, 
imagem e sepultura. 
 
Enunciado nº 2 do CJF: Art. 2º: sem prejuízo dos direitos da personalidade nele as-
segurados, o art. 2º do Código Civil não é sede adequada para questões emergen-
tes da reprogenética humana, que deve ser objeto de um estatuto próprio. 
 
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem precedente importante sobre o te-
ma, reconhecendo o direito do nascituro à indenização por dano moral, ipsis litteris: 
“DIREITO CIVIL. DANOS MORAIS. MORTE. ATROPELAMENTO. COMPOSIÇÃO FÉR-
REA. AÇÃO AJUIZADA 23 ANOS APÓS O EVENTO. PRESCRIÇÃO INEXISTENTE. INFLU-
ÊNCIA NA QUANTIFICAÇÃO DO QUANTUM. PRECEDENTES DA TURMA. NASCITURO. 
DIREITO AOS DANOS MORAIS. DOUTRINA. ATENUAÇÃO. FIXAÇÃO NESTA INSTÂN-
CIA. POSSIBILIDADE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. I - Nos termos da orienta-
ção da Turma, o direito à indenização por dano moral não desaparece com o decur-
so de tempo (desde que não transcorrido o lapso prescricional), mas é fato a ser 
considerado na fixação do quantum. II - O nascituro também tem direito aos danos 
morais pela morte do pai, mas a circunstância de não tê-lo conhecido em vida tem 
influência na fixação do quantum. III - Recomenda-se que o valor do dano moral se-
ja fixado desde logo, inclusive nesta instância, buscando dar solução definitiva ao 
caso e evitando inconvenientes e retardamento da solução jurisdicional.” (REsp 
399028/SP, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julga-
do em 26/02/2002, DJ 15/04/2002, p. 232) 
 
 
 INCAPAZES 
Até 03 de janeiro de 2016, este era o rol de incapazes definido nos artigos 3º e 4º do 
Código Civil: 
Incapacidade absoluta. Rol dos absolutamente incapazes: a) menor de 16 anos; b) en-
fermos ou deficientes mentais que em razão desta circunstância não tiverem necessário dis-
cernimento para a prática de atos civis; c) aqueles que não puderem exprimir sua vontade, 
mesmo por causa transitória. 
 
 
6 Constatação a que chega Flávio Tartuce in Manual de Direito Civil: volume único. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 
2011, p. 70. 
7 O tema foi tratado na Lei de Biossegurança (Lei nº 11.105/2005). 
8 A referência aos enunciados far-se-á de forma concisa, indicando-se apenas o seu número e a remissão ao Conselho da Justiça 
Federal (CJF) órgão responsável pela realização das Jornadas de Direito Civil, evento que reúne vários especialistas que debatem 
sobre as propostas encaminhadas e, uma vez aprovadas, tornam-se enunciados. 
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Incapacidade relativa. Rol dos relativamente incapazes: a) maiores de 16 e menores de 
18 anos; b) ébrios habituais, toxicômanos e deficientes mentais com discernimento reduzido; 
c) excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; d) pródigos. 
 
Com a entrada em vigor da Lei nº 13.146/2015, em 4 de janeiro de 2016, ocorreu uma 
mudança impactante na Parte Geral do Código Civil com repercussão em alguns ramos do Di-
reito e, particularmente, no vasto campo do Direito Privado. 
 
O Estatuto da Pessoa com Deficiência provocou profundas modificações no regime das 
incapacidades. O portador de transtorno mental foi retirado da condição de incapaz, passando 
a ter um regime próprio de proteção. Assim, aqueles que não tiverem o necessário discerni-
mento para a prática dos atos da vida civil, por deficiência ou enfermidade (i); os que, por defi-
ciência mental, tenham o discernimento reduzido (ii); os excepcionais, sem desenvolvimento 
mental completo (iii), não serão automaticamente qualificados como incapazes. Mas isso não 
quer dizer que o portador de transtorno mental não sofrerá limitações no exercício de sua 
capacidade. Poderá, inclusive, ser submetido ao regime protetivo da curatela.9 
 
Com o término da vacatio legis, assim ficou a redação dos arts. 3º e 4º, CC: 
Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil 
os menores de 16 (dezesseis) anos. 
I - (Revogado); 
II - (Revogado); 
III - (Revogado). 
 
Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: 
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; 
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; 
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua 
vontade; 
IV - os pródigos. 
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. 
 
A primeira conclusão decorrente da alteração legislativa é que só teremos uma hipótese 
de incapacidade absoluta: os menores de 16 anos. 
 
A segunda conclusão é que aqueles que por deficiência mental tenham o discernimento 
reduzido e os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo, não constam do rol dos 
relativamente incapazes. Sendo possível expressarem a sua vontade, deverá ser a manifesta-
ção reputada válida; não sendo possível exprimirem a vontade, incidirá a regra contida no inci-
so III do art. 4º, CC. 
 
O Estatuto da Pessoa com Deficiência provocou uma mudança de paradigma na forma 
como se dá a proteção dos portadores de deficiência. Agora, a pessoa com deficiência tem 
assegurado o direito ao exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições com as 
demais pessoas (art. 84, EPD). Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à 
curatela, conforme a lei. Mas a definição de curatela de pessoa com deficiência constitui me-
dida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e 
 
9 REQUIÃO, Maurício. Estatuto da Pessoa com Deficiência altera regime civil das incapacidades. Publicado no site da Revista Con-
sultor Jurídico em 20 de julho de 2015. <<http://www.conjur.com.br/2015-jul-20/estatuto-pessoa-deficiencia-altera-regime-
incapacidades>>. In verbis: “A mudança apontada não implica, entretanto, que o portador de transtorno mental não possa vir a ter 
a sua capacidade limitada para a prática de certos atos. Mantém-se a possibilidade de que venha ele a ser submetido ao regime de 
curatela. O que se afasta, repise-se, é a sua condição de incapaz”) 
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durará o menor tempo possível (art. 84, §§ 1º e 3º, EPD). Além disso, a curatela afetará tão 
somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial, não alcançando 
o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, 
ao trabalho e ao voto (art. 85, caput e §§ 1º, EPD). 
 
Ainda na parte geral, no campo probatório, as mudanças repercutem, pois operou-se a 
revogação dos incisos II e III do art. 228, CC. A lei vedava a admissão como testemunha daque-
les que, por enfermidade ou retardamento mental, não tivessem discernimento para a prática 
dos atos da vida civil e dos cegos e surdos, quando a ciência do fato que se quer provar depen-
da dos sentidos que lhes faltam. A vedação expressa foi substituída pela possibilidade de a 
pessoa com deficiência testemunhar em igualdade de condições com as demais pessoas, sen-
do-lhe assegurados todos os recursos de tecnologia assistiva (recursos que permitem ampliar 
as habilidades funcionais dos portadores de deficiência). Ou seja, a condição pessoal por si só 
não é suficiente para subtrair do portador de necessidades especiais a capacidade para teste-
munhar. 
 
No direito de família, foram alterados dispositivos concernentes à capacidade para casar 
e às invalidades do casamento. O curador não poderá mais revogar a autorização para o casa-
mento (art. 1518, caput, CC). Foi revogado o inciso I do art. 1.548, CC, que dispunha ser nulo o 
casamento contraído pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atosda 
vida civil. 
 
Houve modificações quanto à disciplina do erro essencial sobre a pessoa do cônjuge. Foi 
revogado o dispositivo que considerava hipótese de erro essencial sobre a pessoa a ignorância, 
anterior ao casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, torne insuportável a 
vida em comum ao cônjuge enganado. Foi também alterado o inciso III do art. 1.557, ficando 
com a seguinte redação: 
Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge: 
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não ca-
racterize deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por he-
rança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência; 
 
Sobre a teoria da prescrição, sabemos que tanto ela como a decadência não correm con-
tra os absolutamente incapazes (arts. 198, I e 208, caput, CC). Considerando-se a literalidade 
da norma, esta regra, a partir dar entrada em vigor do EPD, apenas beneficiará o menor de 16 
anos. O EPD neste ponto é menos protetivo que o CC. Jurisprudência e doutrina terão de cons-
truir juntas uma solução que não prejudique aqueles que, por enfermidade ou deficiência 
mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática dos atos civis, bem como os 
que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade. 
 
O assunto ainda renderá grandes debates no campo da teoria do negócio jurídico, espe-
cialmente, quanto aos temas da representação e a teoria das nulidades. 
 
As manifestações de vontade que emanem dos absolutamente incapazes não devem ser 
a priori desconsideradas. Há situações, sobretudo, reguladas pelo direito de família e que te-
nham implicação direta sobre aspectos existenciais da criança ou adolescente, nas quais a von-
tade do incapaz deve ser devidamente avaliada. 
 
Enunciado nº 138, CJF. Art. 3º. A vontade dos absolutamente incapazes, na hipóte-
se do inc. I do art. 3o, é juridicamente relevante na concretização de situações exis-
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tenciais a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento bastante para 
tanto. 
 
Incapacidade Relativa. Consiste também em limitação genérica imposta pela lei à práti-
ca de certos atos da vida civil. Porém a limitação é menos drástica que na incapacidade absolu-
ta. O relativamente incapaz poderá realizar por si atos da vida civil (exceto aqueles que, por 
causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade), desde que devidamente 
assistido. E, como exceção, poderá praticar atos sem a presença do assistente. A não interven-
ção do assistente, como regra, acarreta a anulabilidade do ato, mas em certas situações pode-
rá ele ser ratificado. 
 
Sobre a redução da idade para se alcançar a capacidade civil plena e sua repercussão em 
outros ramos do direito, especialmente o previdenciário, vale a leitura do enunciado abaixo 
transcrito: 
Enunciado nº 3, CJF. Art. 5º. A redução do limite etário para a definição da capaci-
dade civil aos 18 anos não altera o disposto no art. 16, I, da Lei n. 8.213/91, que re-
gula específica situação de dependência econômica para fins previdenciários e ou-
tras situações similares de proteção, previstas em legislação especial. 
 
Algumas regras importantes: 
a) o menor de 18 anos e maior de 16 não poderá invocar sua idade para eximir-se de 
obrigação se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte ou se espon-
taneamente declarou-se maior; 
b) a incapacidade relativa de uma das partes não pode ser alegada pela outra em be-
nefício próprio (o negócio anulável produz regularmente seus efeitos); 
c) a incapacidade relativa de uma das partes não aproveita os cointeressados capa-
zes, exceto se o objeto de direito ou a obrigação comum for indivisível; 
d) ninguém poderá reclamar o que pagou a um incapaz por obrigação anulada, exce-
to se provar que a importância paga reverteu-se em seu proveito; 
e) a incapacidade não é excludente absoluta de responsabilidade patrimonial; 
f) o incapaz responderá pelos prejuízos que causar se o seu responsável legal não 
puder ou não tiver a obrigação de fazê-lo (art. 928, CC). 
 
Atos que podem ser realizados por menores de 16 e maiores de 18 sem a presença do 
assistente: 
a) aceitar mandato (art. 666, CC); 
b) fazer testamento (art. 1.860, parágrafo único, CC); 
c) ser testemunha em atos jurídicos (art. 228, I, CC); 
d) exercer empregos públicos compatíveis com sua idade; 
e) realização de contrato de trabalho; 
f) ser eleitor. 
 
 PROTEÇÃO DOS INCAPAZES 
Representação e assistência são os mecanismos de proteção dos incapazes, através dos 
quais se supre a incapacidade. 
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1. Representação: Substituição do incapaz por uma pessoa capaz para a prática de 
atos da vida civil. Os representantes podem ser os pais, tutores ou curadores; 
 
2. Assistência: Os assistentes do relativamente incapaz praticam determinado ato ju-
rídico conjuntamente com o assistido ou ratificam determinado ato por ele pratica-
do. 
 
 CESSAÇÃO DA INCAPACIDADE 
Cessa a incapacidade pelo decurso do tempo ou quando desaparece sua causa. Aos 18 
anos cessa a incapacidade em relação à menoridade. Com a emancipação também. 
 
 SITUAÇÃO DOS ÍNDIOS 
A capacidade dos índios é regulada pela Lei 6.001/73. O Estatuto do Índio estabelece em 
seu art. 8º que “são nulos os atos praticados entre o índio não integrado e qualquer pessoa 
estranha à comunidade indígena quando não tenha havido assistência do órgão tutelar com-
petente”. Excepciona-se a regra “no caso em que o índio revele consciência e conhecimento do 
ato praticado, desde que não lhe seja prejudicial, e da extensão dos seus efeitos”. Existe, por-
tanto, um regime tutelar especial que se assemelha, mas não se identifica com a tutela do 
direito comum, tomando-lhe de empréstimo, no que for compatível, seus princípios e regras. 
 
Ressalte-se que qualquer índio poderá requerer ao Juiz competente a sua liberação do 
regime tutelar, investindo-se na plenitude da capacidade civil, desde que preencha os requisi-
tos seguintes: 
a) idade mínima de 21 anos; 
b) conhecimento da língua portuguesa; 
c) habilitação para o exercício de atividade útil, na comunhão nacional; 
d) razoável compreensão dos usos e costumes da comunhão nacional. (art. 9º, Lei 
6.001/73). 
 
 EMANCIPAÇÃO 
É a aquisição da plena capacidade de fato antes da idade legal. Modo de cessação da in-
capacidade. 
 
São espécies de emancipação: 
1. Voluntária. Por concessão dos pais ou de um deles na falta do outro, mediante ins-
trumento público devidamente inscrito no Registro Civil competente, independente 
de homologação judicial, se o menor tiver 16 anos.10 
 
2. Judicial. Concedida pelo juiz, ouvido o tutor, se tiver o menor 16 anos. Neste caso o 
juiz, de ofício, deve comunicar a emancipação ao oficial do Registro Civil, para que se 
efetive o registro. Sem ele a emancipação não produz efeitos. 
 
3. Legal 
 
10 Enunciado nº 397 do CJF. Art. 5º. A emancipação por concessão dos pais ou por sentença do juiz está sujeita a desconstituição 
por vício de vontade. 
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- Casamento. Podem casar o homem e a mulher a partir dos 16 anos com a auto-
rização dos pais ou representantes legais. 
- Exercício de emprego público efetivo. Cargo em comissão, cargo de confiança, 
contrato temporário, não determinam a perda da incapacidade. 
- Colação de grau em curso superior. 
- Estabelecimento civil ou comercial ou relação de emprego que lhe garanta uma 
economia própria. 
 
Sobre o tema, merece destaque o enunciado530 da VI Jornada de Direito Civil do CJF: 
Enunciado nº 530, CJF. A emancipação, por si só, não elide a incidência do Estatuto 
da Criança e do Adolescente. 
 
 
 DIREITOS DA PERSONALIDADE 
Os direitos da personalidade são atributos inerentes 
à pessoa que possuem natureza extrapatrimonial. Na An-
tiguidade já existiam mecanismos de repressão a ações 
atentatórias aos direitos da personalidade, por exemplo, 
em Roma, aquele que fosse vítima de agressões físicas ou 
morais poderia intentar contra o causador do dano a actio 
injuriarum. Com o Cristianismo, as ideias de proteção à 
pessoa humana e de fraternidade universal contribuíram 
para um novo redimensionamento dos direitos da perso-
nalidade. Na Modernidade, as guerras, sobretudo as do século XX, chamaram a atenção para 
uma maior tutela dos direitos da personalidade em razão dos abusos cometidos. 
 
Os direitos da personalidade são direitos subjetivos excludenti alios, dirigidos a exigir um 
comportamento negativo dos outros, reagindo em face de uma agressão injusta. 
 
 CARACTERÍSTICAS 
São os direitos da personalidade: 
- Absolutos: Oponíveis erga omnes, criando um dever geral de abstenção. 
- Gerais: Outorgados a qualquer pessoa pelo fato de existirem. 
- Extrapatrimoniais: São insusceptíveis de aferição econômica, embora sua violação 
enseje reparação civil e sua utilização específica proporcione uma contraprestação 
em pecúnia. 
- Intransmissíveis: não podem migrar para a esfera jurídica de outrem. 
- Vitalícios: Nascem e extinguem-se com seu titular, sendo dele inseparáveis. 
- Indisponíveis: São insusceptíveis de disposição. Trata-se, no entanto, de regra que 
admite algumas exceções, por exemplo: determinada pessoa pode explorar sua ima-
gem na divulgação de algum produto ou serviço; alguém pode ceder parte do corpo 
(órgão ou tecido) para fins terapêuticos. 
- Irrenunciáveis: Consequência natural da indisponibilidade, não podem os direitos 
de personalidade ultrapassarem a esfera jurídica de seu titular. 
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- Imprescritíveis: Os direitos da personalidade não se extinguem pelo não uso ou pe-
la inércia na pretensão de defendê-los. 
- Impenhoráveis: Como regra, não podem ser objeto de constrição judicial (direitos 
autorais e cessão de direito de imagem podem ser penhorados). 
- Ilimitados: Impossibilidade de estabelecer hipóteses taxativas dos referidos direi-
tos. 
 
Importante destacar alguns enunciados do CJF pertinente às características dos direitos 
da personalidade: 
Enunciado nº 4, CJF. Art.11. O exercício dos direitos da personalidade pode sofrer 
limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral. 
 
Enunciado nº 139, CJF. Art. 11. Os direitos da personalidade podem sofrer limita-
ções, ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos 
com abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons 
costumes. 
 
Enunciado nº 274, CJF. Art. 11. Os direitos da personalidade, regulados de maneira 
não-exaustiva pelo Código Civil, são expressões da cláusula geral de tutela da pes-
soa humana, contida no art. 1º, III, da Constituição (princípio da dignidade da pes-
soa humana). Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os 
demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação. 
 
Limongi França apresenta sistematização dos direitos da personalidade, assim classifi-
cando-os: 
 DIREITO À INTEGRIDADE FÍSICA 
- Direito à vida 
- Direito a alimentos 
- Direito ao próprio corpo vivo ou morto e suas partes separadas. 
 
 DIREITO À INTEGRIDADE INTELECTUAL 
- Direito à liberdade de pensamento. 
- Direito à autoria científica, artística e literária. 
 
 DIREITO À INTEGRIDADE MORAL 
- Liberdade civil, política e religiosa. 
- Direito à honra. 
- Direito ao recato (privacidade e intimidade) 
- Direito ao segredo pessoal doméstico e profissional 
- Direito à imagem. 
- Direito à identidade pessoal (nome), familiar e social. 
 
Enunciado nº 531, CJF. A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da 
informação inclui o direito ao esquecimento. 
 
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Enunciado nº 576, CJF. O direito ao esquecimento pode ser assegurado por tutela 
judicial inibitória. 
 
Os referidos direitos da personalidade podem ser alvo de ameaça ou violação. O titular 
do direito ou outro legitimado poderão exigir que cesse a ameaça ou que seja reparado o dano 
causado, sem prejuízo de outras sanções cabíveis11. Em se tratando de morto, o cônjuge so-
brevivente, qualquer parente em linha reta ou colateral até o 4º grau poderão exigir as medi-
das de proteção mencionadas. Esta regra estende-se ao companheiro, in verbis: 
Enunciado nº 275, CJF. – Arts. 12 e 20. O rol dos legitimados de que tratam os arts. 
12, parágrafo único, e 20, parágrafo único, do Código Civil também compreende o 
companheiro. 
 
Enunciado nº 398, CJF. Art. 12, parágrafo único. As medidas previstas no art. 12, 
parágrafo único, do Código Civil podem ser invocadas por qualquer uma das pesso-
as ali mencionadas de forma concorrente e autônoma. 
 
É vedado, salvo exigência médica, o ato de disposição do próprio corpo que importe di-
minuição permanente da integridade física ou contrarie os bons costumes. Contudo, permite-
se que tal disposição ocorra em se tratando de transplante de órgãos duplos, ou de tecidos ou 
órgãos regeneráveis. A doutrina admite, inclusive, a realização de cirurgias de “transgenitaliza-
ção” e a cessão gratuita de material biológico para fins de pesquisa científica: 
Enunciado nº 6, CJF. – Art. 13. A expressão “exigência médica” contida no art. 13 
refere-se tanto ao bem-estar físico quanto ao bem-estar psíquico do disponente. 
 
Enunciado nº 276, CJF. – Art.13. O art. 13 do Código Civil, ao permitir a disposição 
do próprio corpo por exigência médica, autoriza as cirurgias de transgenitalização, 
em conformidade com os procedimentos estabelecidos pelo Conselho Federal de 
Medicina, e a conseqüente alteração do prenome e do sexo no Registro Civil. 
 
Enunciado nº 401, CJF. Art. 13. Não contraria os bons costumes a cessão gratuita 
de direitos de uso de material biológico para fins de pesquisa científica, desde que 
a manifestação de vontade tenha sido livre e esclarecida e puder ser revogada a 
qualquer tempo, conforme as normas éticas que regem a pesquisa científica e o 
respeito aos direitos fundamentais. 
 
Enunciado nº 532. É permitida a disposição gratuita do próprio corpo com objeti-
vos exclusivamente científicos, nos termos dos arts. 11 e 13 do Código Civil. 
 
É permitida a disposição gratuita do próprio corpo para depois da morte com objetivo 
científico ou altruístico. Tais atos de disposição podem ser revogados a qualquer tempo (§ 
único, art. 14, CC). 
 
Enunciado nº 277, CJF. Art.14. O art. 14 do Código Civil, ao afirmar a validade da 
disposição gratuita do próprio corpo, com objetivo científico ou altruístico, para 
depois da morte, determinou que a manifestação expressa do doador de órgãos 
em vida prevalece sobre a vontade dos familiares, portanto, a aplicação do art. 4º 
da Lei n. 9.434/97 ficou restrita à hipótese de silêncio do potencial doador. 
 
 
11 Enunciado nº 140 do CJF. Art. 12. A primeira parte do art. 12 do Código Civil refere-se às técnicas de tutela específica, aplicáveis 
de ofício, enunciadas no art. 461 do Código de Processo Civil, devendo ser interpretada com resultado extensivo. 
 
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Enunciadonº 402, CJF. Art. 14, parágrafo único. O art. 14, parágrafo único, do Có-
digo Civil, fundado no consentimento informado, não dispensa o consentimento 
dos adolescentes para a doação de medula óssea prevista no art. 9º, § 6º, da Lei n. 
9.434/1997 por aplicação analógica dos arts. 28, § 2º (alterado pela Lei n. 
12.010/2009), e 45, § 2º, do ECA. 
 
A norma estabelece que ninguém poderá ser submetido a tratamento médico ou inter-
venção cirúrgica que importe risco de vida (art. 15, CC). O tema é bastante controvertido 
quando envolve questões referentes à inviolabilidade de consciência e de crença, sobretudo, 
quanto a pessoas que não estão em condições plenas de emitir uma declaração de vontade 
livre e consciente, tais como: menores, pessoas acometidas por enfermidades mentais ou sem 
desenvolvimento mental completo, etc. Por isto a importância do enunciado, nº 403, abaixo 
transcrito: 
Enunciado nº 403, CJF. Art. 15. O Direito à inviolabilidade de consciência e de cren-
ça, previsto no art. 5º, VI, da Constituição Federal, aplica-se também à pessoa que 
se nega a tratamento médico, inclusive transfusão de sangue, com ou sem risco de 
morte, em razão do tratamento ou da falta dele, desde que observados os seguin-
tes critérios: a) capacidade civil plena, excluído o suprimento pelo representante ou 
assistente; b) manifestação de vontade livre, consciente e informada; e c) oposição 
que diga respeito exclusivamente à própria pessoa do declarante. 
 
Enunciado nº 533, CJF. O paciente plenamente capaz poderá deliberar sobre todos 
os aspectos concernentes a tratamento médico que possa lhe causar risco de vida, 
seja imediato ou mediato, salvo as situações de emergência ou no curso de proce-
dimentos médicos cirúrgicos que não possam ser interrompidos. 
 
O nome e o pseudônimo adotado em atividades lícitas não podem ser empregados em 
publicações ou representações que exponham a pessoa ao desprezo público, ainda que inexis-
ta a intenção difamatória (Art. 17, CC). Não se pode utilizar o nome em propaganda comercial 
sem autorização. 
 
Enunciado nº 278, CJF. Art.18. A publicidade que venha a divulgar, sem autoriza-
ção, qualidades inerentes a determinada pessoa, ainda que sem mencionar seu 
nome, mas sendo capaz de identificá-la, constitui violação a direito da personalida-
de. 
 
Sobre o direito à imagem temos a imagem-retrato que é o conjunto de características fí-
sicas que individualizam a pessoa e a imagem-atributo que é o conjunto de características 
morais que formam a reputação da pessoa. 
 
O direito à imagem traduz-se na ideia de que ninguém está obrigado a tolerar a exposi-
ção de seu retrato em público ou comercializado sem o seu consentimento e de não ter sua 
personalidade alterada material ou intelectualmente, causando prejuízo à sua reputação. 
 
A ordem jurídica impede a publicação, divulgação de escritos, transmissão da palavra, 
exposição ou utilização da imagem que venham a atingir a honra, a boa-fama e a respeitabili-
dade da pessoa ou a ser utilizadas para fins comerciais, podendo ser impedida sua divulgação e 
pleiteada indenização, salvo se autorizada, ou se necessária à administração da justiça ou à 
preservação da ordem pública.12 
 
12 Sobre o tema há importante julgado do STF(ADI nº 4815): “É inexigível o consentimento de pessoa biografada relativamente a 
obras biográficas literárias ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária a autorização de pessoas retratadas como coadjuvantes 
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São partes legítimas para se tutelar a imagem de pessoa morta: o cônjuge, os ascenden-
tes e descendentes. Esta regra, conforme já explicitado, estende-se ao companheiro(a). 
 
Registramos que as medidas gerais de proteção aos direitos da personalidade previstas 
no artigo 12 do CC estendem-se ao artigo 20 do mesmo Código, pois têm caráter geral, ressal-
vada apenas a legitimidade para requerer a tutela. 
 
Enunciado nº 5, CJF. Arts. 12 e 20. 1) as disposições do art. 12 têm caráter geral e 
aplicam-se, inclusive, às situações previstas no art. 20, excepcionados os casos ex-
pressos de legitimidade para requerer as medidas nele estabelecidas; 2) as disposi-
ções do art. 20 do novo Código Civil têm a finalidade específica de regrar a projeção 
dos bens personalíssimos nas situações nele enumeradas. Com exceção dos casos 
expressos de legitimação que se conformem com a tipificação preconizada nessa 
norma, a ela podem ser aplicadas subsidiariamente as regras instituídas no art. 12. 
 
Sobre o tema, confira-se ainda: 
Enunciado nº 279, CJF. Art.20. A proteção à imagem deve ser ponderada com ou-
tros interesses constitucionalmente tutelados, especialmente em face do direito de 
amplo acesso à informação e da liberdade de imprensa. Em caso de colisão, levar-
se-á em conta a notoriedade do retratado e dos fatos abordados, bem como a ve-
racidade destes e, ainda, as características de sua utilização (comercial, informati-
va, biográfica), privilegiando-se medidas que não restrinjam a divulgação de infor-
mações. 
 
Enunciado nº 399, CJF. Arts. 12, parágrafo único, e 20, parágrafo único. Os pode-
res conferidos aos legitimados para a tutela post mortem dos direitos da personali-
dade, nos termos dos arts. 12, parágrafo único, e 20, parágrafo único, do CC, não 
compreendem a faculdade de limitação voluntária. 
 
Enunciado nº 400, CJF. Arts. 12, parágrafo único, e 20, parágrafo único. Os pará-
grafos únicos dos arts. 12 e 20 asseguram legitimidade, por direito próprio, aos pa-
 
ou de familiares, em caso de pessoas falecidas ou ausentes. Essa a conclusão do Plenário, que julgou procedente pedido formula-
do em ação direta para dar interpretação conforme à Constituição aos artigos 20 e 21 do CC (“Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se 
necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a 
publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da 
indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. Pará-
grafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes 
ou os descendentes. Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as 
providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma”), sem redução de texto, em consonância com os 
direitos fundamentais à liberdade de pensamento e de sua expressão, de criação artística, de produção científica, de liberdade de 
informação e de proibição de censura (CF, artigos 5º, IV, V, IX, X e XIV; e 220). O Colegiado asseverou que, desde as Ordenações 
Filipinas, haveria normas a proteger a guarda de segredos. A partir do advento do CC/1916, entretanto, o quadro sofrera mudan-
ças. Ademais, atualmente, o nível de exposição pública das pessoas seria exacerbado, de modo a ser inviável reter informações, a 
não ser que não fossem produzidas. Nesse diapasão, haveria de se compatibilizar a inviolabilidade da vida privada e a liberdade de 
pensamento e de sua expressão. No caso, não se poderia admitir, nos termos da Constituição, que o direito de outrem de se 
expressar, de pensar, de criar obras biográficas — que dizem respeito não apenas ao biografado, mas a toda a coletividade, pelo 
seu valor histórico — fosse tolhido pelo desejo do biografado de não ter a obra publicada. Os preceitos constitucionais em aparen-
te conflito conjugar-se-iam em perfeita harmonia, de modo que o direito de criação de obras biográficas

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