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Disciplina: Perícia Forense - Medicina Legal Aula 4: Traumatologia Forense 1 – Energia Mecânica Apresentação Prezado aluno, você está iniciando seus estudos na área de traumatologia médico- legal; para melhor compreendê-la, se faz necessário conhecer a classificação dos agentes vulnerantes. Nesse primeiro momento, vamos estudar a energia mecânica e seus efeitos no corpo humano. Para se inserir nesse contexto, vamos apresentar a ordem mecânica e suas ações com base nas particularidades dos agentes vulnerantes. Destaca-se nessa ordem a balística e seus efeitos. Objetivos Classificar os agentes vulnerantes em ordens de acordo com suas energias; Especificar e diagnosticar as lesões provenientes da energia mecânica; Vincular a balística aos seus efeitos no corpo humano. Classificação dos agentes vulnerantes Os agentes vulnerantes, em medicina legal, são classificados em ordens na forma que se segue: mecânica, física, química, bioquímica, biodinâmica, físico-química e mista. A cada ordem se pressupõe uma energia. Nesta aula, vamos abordar os agentes ou instrumentos da ordem mecânica. Cada instrumento da ordem mecânica tem uma energia potencial com capacidade para alterar o estado inercial de um corpo. Esse instrumento em movimento pode lesionar o homem por um mecanismo particular (em deslizamento, por pressão, por percussão, por explosão etc.) através de um meio (água, ar, vácuo). Atenção Da física se extrai que a energia cinética guarda relação com a massa e a velocidade. Ordem mecânica Os instrumentos desta ordem são: Agulha cilíndrica Instrumento perfurante de pequeno calibre. Age pela ponta. Lesão puntiforme; furador de gelo: instrumento perfurante de médio calibre. Age pela ponta. Lesão em “casa de botão”; Faca de 1 gume e uma faca de 2 gumes Instrumento cortante. Age pelo gume. Lesão incisa; Porrete Instrumento contundente. Age pela superfície. Lesão contusa; Agulha triangular ou faca de ponta e gume Instrumento perfurocortante. Age pela ponta e gume. Lesão perfuro-incisa; Machado Instrumento corto-contundente. Age pelo gume e pela superfície, considerando seu peso ou sua força. Lesão corto-contusa; Projétil de arma de fogo Instrumento perfurocontundente. Age pela ponta e pela superfície. Lesão perfuro-contusa. Agente perfurante São agentes alongados e com diâmetro transverso reduzido. Agem por pressão pela ponta percutindo ou perfurando. Afastam as fibras. São de pouco sangramento – e sua lesão é puntiforme se o instrumento for de pequeno calibre - ou tomam a aparência de casa de botão - se o instrumento for de médio calibre. As lesões provocadas pelos instrumentos perfurantes de médio calibre obedecem a três leis: 01 1ª Lei de Filhos (lei da semelhança): as lesões produzidas por instrumentos perfurantes de médio calibre tomam a aparência de “casa de botão”, assemelhando-se às lesões produzidas por instrumentos cortantes de dois gumes; 02 2ª Lei de Filhos (lei do paralelismo): as lesões produzidas por instrumentos perfurantes de médio calibre em áreas de mesma direção e no sentido de linhas de força guardam uma relação de paralelismo entre si, ou seja, com a mesma direção e sentido, acompanhando as linhas de força; 03 Lei da Langer: as lesões produzidas por instrumentos perfurantes de médio calibre em áreas de confluência de linhas de força, com direção e sentidos diferentes, tomam um aspecto triangular ou de um quadrilátero. Agente cortante São agentes que agem por um gume, seja por um mecanismo de deslizamento ou penetrando no corpo. Cortam fibras, estruturas e vasos sanguíneos. São de sangramento evidente, as bordas e as vertentes das lesões são regulares e a lesão é dita incisa. Atenção A lesão incisa na porção anterior do pescoço se chama esgorjamento, enquanto na porção posterior do pescoço se chama degola. A decapitação se dá quando da separação da cabeça do corpo. O esgorjamento pode ser suicida ou homicida: Esgorjamento suicida No esgorjamento suicida, a linha de incisão é oblíqua de cima para baixo e da esquerda para a direita se a vítima for destra. A lesão é mais profunda no início da ação do instrumento. Esgorjamento homicida No esgorjamento homicida, a linha de incisão é horizontal e tem profundidade igual em toda a extensão da ferida, podendo, além de seccionar vasos, seccionar nervos e traqueia. Atividade 1. Qual a energia vinculada a um instrumento que age pelo gume? a) Físico-química b) Biodinâmica c) Bioquímica d) Mecânica e) Física Agente contundente São agentes que agem pela superfície. Os mecanismos por pressão, percussão e explosão são alguns exemplos. As lesões podem ser fechadas ou abertas. Lesões fechadas • Rubefação:lesão mais fugaz. Hiperemia de resolução rápida; • Tumefação: trata-se de edema com empalidecimento na área de impacto. Constata-se a tríplice reação de Lewis (hiperemia na área de impacto que se estende, circunscrevendo a região traumatizada, e palidez central); • Equimose: infiltração de sangue nas malhas de tecido provenientes de vaso sanguíneo roto. Apresentam-se puntiformes (petéquias) e confluentes (sugilação), estriadas (víbices), em placas com diversas formas, em ampla área (sufusão) ou ocupando grande extensão (equimoma). • Entorse: estresse nos ligamentos articulares; • Luxação: perda da congruência das peças ósseas que se articulam; • Fratura fechada: solução de continuidade óssea. Saiba mais Para saber mais sobre Equimose <galeria/aula4/anexo/1.pdf> , leia este texto. Lesões abertas • Ferida contusa: lesão com a forma, as bordas e vertentes irregulares. Os ângulos da lesão são obtusos e por vezes apresentam retalhos de tecido unindo uma borda à outra da lesão; • Escoriações: são lesões na pele que podem comprometer somente a epiderme (serosa) ou a derme superficial (sero-hemática) ou a derme profunda (hemática). Assim, se apenas a epiderme for lesionada, temos o que se chama de escoriação típica, cujo fenômeno de recuperação tecidual se dá por regeneração ou reepitelização. • Fratura aberta ou exposta: quando expõe o osso fraturado. Saiba mais Para saber mais sobre Escoriações <galeria/aula4/anexo/2.pdf> , leia este texto. http://10.8.0.71/disciplinaportal/2018.2/pericia_forense_medicina_legal__GON917/galeria/aula4/anexo/1.pdf http://10.8.0.71/disciplinaportal/2018.2/pericia_forense_medicina_legal__GON917/galeria/aula4/anexo/2.pdf Atividade 2. Qual o efeito primário do tiro? a) Esfumaçamento b) Queimadura c) Tatuagem d) Equimose e) Fuligem Agente perfurocortante e agente cortocontundente AGENTE PERFUROCORTANTE São agentes que agem pela ponta e pelo gume, como as espadas cortantes e as agulhas de extremidade cortante triangular. A lesão também é em casa de botão, porém com profundidade. Espada Medieval cortante com dois gumes (Fonte: Shutterstock / Por shimonfoto) AGENTE CORTOCONTUNDENTE São agentes que agem pelo gume e pela superfície. Exemplos desses instrumentos são o machado e a guilhotina. São instrumentos que se valem de seu peso ou de sua força. Os dentes pela força da mordida também são corto-contundentes. A lesão se chama corto-contusa. Dentes de tubarão (Fonte: Shutterstock / Por Warpaint) Agente perfurocontundente São agentes que agem pela ponta e pela superfície. O agente mais marcante é o projétil de arma de fogo. A balística é o ramo da mecânica que trata dos projéteis, estudando os mecanismos de expulsão deles pelo cano da arma (balística interna), sua trajetória (balística externa) e seus efeitos no alvo – trajeto (balística dos efeitos). Nesta aula, vamos tratar somente da balística dos efeitos desde a entrada, o seu trajeto e, se for o caso, sua saída. Tiro de arma de fogo atravessando uma laranja (Fonte: Shutterstock / Por eddystocker) Projétil O cartucho é composto de projétil e cápsula. Há cartuchos com um projétil ou cartuchos com múltiplos projéteis (balins). Aqui, vamos descrever os efeitos provenientes do cartucho com um projétil. O projétil, que compõe com a cápsula o cartucho,para sair do cano da arma, precisa ser impulsionado. Esse impulso é favorecido pelos elementos deflagradores do tiro. Uma mistura iniciadora contida na espoleta gera uma faísca quando da percussão do pino percutor da arma na bigorna. Essa faísca queima a pólvora. Ao se queimar, ela eleva a temperatura interna do cartucho em um compartimento fechado, elevando, consequentemente, a pressão. Dessa queima, são gerados resíduos químicos representados pelos seguintes sais: carbonato de cálcio (praticamente 50%), sulfito (25%), sulfato (16%), sulfocianetos, tiossulfatos e carbonato de amônio. Cartucho com projéteis (Fonte: Shutterstock / Por VDjokich) Comentário Um tipo de pólvora atualmente mais utilizada é a pólvora branca ou piroxilada (pólvoras químicas). É uma mistura de clorato de sódio (NaClO3 – 50%) e açúcar branco refinado (50%). A pólvora branca é um propelente denominado de pólvora sem fumaça, cuja composição varia de simples, constituído somente de nitrocelulose (algodão pólvora), ou sob a forma de base dupla – cordite (mistura de nitrocelulose com nitroglicerina). Portanto, o desenrolar do disparo se fundamenta na queima de uma fonte de energia química (propelente ou carga de projeção), representada pela pólvora, que deflagra uma explosão, liberando gases que impulsionam o projétil para adiante. Com a pressão elevada, o projétil se desgarra da cápsula e segue adiante – e, junto com ele, os elementos deflagradores do tiro: a pólvora combusta e incombusta, a chama e as partículas de metal. Saiba mais Leia o texto Efeitos do Tiro <galeria/aula4/anexo/3.pdf> para saber mais sobre este assunto. Atividade 3. Qual o efeito secundário do tiro? a) Tronco de cone b) Escoriação c) Tatuagem d) Equimose e) Enxugo Referências FRANKLIN, R. Perguntas com respostas comentadas de medicina legal. Rio de Janeiro: Rúbio, 2014. p. 167, 175-178, 192. http://10.8.0.71/disciplinaportal/2018.2/pericia_forense_medicina_legal__GON917/galeria/aula4/anexo/3.pdf Próximos Passos • As ordens física, química, bioquímica, biodinâmica e mista; • As lesões e vincular aos tipos de energias; • As sevícias. Explore mais • Traumatologia. Disponível em: http://portal.damasio.com.br/Arquivos/Apresentacao/IDG_medlegal_aula0 3_PauloVasques.pdf <http://portal.damasio.com.br/Arquivos/Apresentacao/IDG_medlegal_aula 03_PauloVasques.pdf> . Acesso em: 30 jun. 2018. http://portal.damasio.com.br/Arquivos/Apresentacao/IDG_medlegal_aula03_PauloVasques.pdf
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