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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 3 2 PSICOTERAPEUTA .......................................................................... 5 2.1 Características do psicoterapeuta ............................................... 6 2.2 Estrutura básica da psicoterapia ................................................. 8 3 EFETIVIDADE DA PSICOTERAPIA .................................................. 9 4 O FUNCIONAMENTO DA PSICOTERAPIA .................................... 10 5 FASES DE MUDANÇAS DO PACIENTE ......................................... 10 6 FASES DA TERAPIA ....................................................................... 11 7 MECANISMOS DE MUDANÇAS EM PSICOTERAPIA ................... 12 8 EFEITOS DA PSICOTERAPIA ........................................................ 15 9 TIPOS DE PSICOTERAPIA ............................................................. 16 10 CLASSIFICAÇÕES SOB ASPECTOS FORMAIS ........................ 16 11 CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM A PERSPECTIVA TEÓRICA.... ..................................................................................................... 17 12 ABORDAGENS TRANSTEÓRICAS ............................................. 19 13 PSICOTERAPIA POR COMPUTADOR ........................................ 20 14 ARTIGO PARA REFLEXÃO... ...................................................... 21 14.1 O que é ser um “bom” psicoterapeuta? .................................. 21 15 BIBLIOGRAFIA ............................................................................. 37 3 1 INTRODUÇÃO A psicoterapia é um processo que envolve a relação humana, em que estão presentes sentimentos, crenças e valores de duas pessoas. A neutralidade (um dos critérios de exigência científica) não pode ser absoluta. Entretanto, cabe ao psicólogo saber manejar tais sentimentos inconscientes que possam interferir no bom andamento da psicoterapia, até para evitar uma possível interrupção. Nossa personalidade só se expressa na relação. Eu me reconheço a partir do outro. A construção da identidade só é feita na relação com o outro. Portanto, é na relação que a pessoa se trata. Atualmente, o foco na psicoterapia está voltado para a dupla terapêutica (paciente-terapeuta) e não apenas para as características somente do paciente. Estão em jogo as ansiedades, expectativas e o inconsciente da dupla. Na psicoterapia, Santiago (1995) aponta que a relação da dupla terapêutica é assimétrica. Isso significa que cada um da dupla tem funções diferentes. Neste momento o terapeuta sabe mais que o paciente. É ele quem delimita os honorários, horários, assim como é ele quem pode compreender o sofrimento do paciente. Quando o paciente toma a iniciativa de procurar ajuda por si só, esse já é um bom prognóstico. Supõe que a pessoa percebe que está sofrendo, não concorda com seus sintomas e tem o desejo de mudança. Este tipo de paciente é chamado de egodistônico. Em contrapartida, aquela pessoa que vem ao consultório, encaminhada por outros profissionais ou pelos pais, supõe-se que se trata de um paciente do tipo egosintônico. Isto é, ele não sente que está sofrendo, as queixa é o do outro. Nesse sentido o prognóstico já não é bom, pois não está disposto à mudança. É importar, enquanto terapeutas, nos atentarmos para os desejos, as necessidades e as expectativas nossas e as do paciente. Nem sempre elas coincidem. O desejo interno do tratamento não ocorre só por parte do paciente, mas também por parte do psicólogo. O terapeuta deve identificar as expectativas do paciente em relação à psicoterapia, à disponibilidade interna para se tratar, às fantasias e ansiedades durante o tratamento. Esses sentimentos são constantes o tempo todo. 4 Quanto ao paciente, este também tem suas expectativas, uma vez que buscou ajuda porque está sofrendo. Algumas expectativas estão relacionadas a algumas questões: será que o paciente vem buscar a solução mágica para seus problemas? Será que está disposto a ter uma postura ativa no tratamento, ou espera mais do psicólogo? No terapeuta, segundo Santiago (1995) as suas atitudes podem oscilar entre a onipotência e a impotência. O psicólogo, especialmente quando é iniciante, sente-se muitas vezes inseguro para atender determinado caso. Fonte: advancegestao.com.br Na prática da Psicoterapia espera-se do profissional o clássico tripé: embasamento teórico, análise pessoal e supervisão. O primeiro requisito trata-se da formação profissional. Serra (2004) sugere que o psicoterapeuta tenha um amplo conhecimento acerca de sua abordagem teórica, psicopatologia, desenvolvimento humano, além de conhecer áreas afins, como a psicofarmacologia, psiquiatria, dentre outras. Além disso, faz-se necessário também compreender como funciona a cultura e os hábitos de vida dos seus pacientes. O instrumento de trabalho do psicoterapeuta é seu inconsciente, sua própria personalidade. Portanto, sua mente precisa estar tratada. No processo de análise pessoal – que é o segundo requisito – ele passará pelas etapas psicossexuais do desenvolvimento descritas por Freud: fase oral, anal, fálica, genital, complexo de Édipo. Conforme afirma Jung (1985), no processo de 5 análise, o paciente irá se desenvolver até onde a mente do terapeuta estiver desenvolvida. Os conteúdos inconscientes do paciente e do terapeuta estão em jogo, claro que cada qual com sua função. Com isso, torna-se cada vez mais importante a análise pessoal do terapeuta, de modo que seus “pontos cegos” passem a se tornar claros. Vale o alerta de Keidann (2000): nem todos os terapeutas estão em condições de tratar todos os tipos de pacientes. O terapeuta precisa ter claro quais são suas limitações, pontos-cegos, enfim, suas dificuldades internas. Do contrário, poderá ocorrer a interrupção do tratamento. Finalizando o tripé, é de fundamental importância que o profissional realize supervisão dos seus casos clínicos com um profissional mais experiente, que lhe possibilitará um novo olhar para seu trabalho. Segundo Ribeiro (1988) a empatia também é considerada uma ferramenta importante. Trata-se da capacidade de colocar-se no lugar do outro, sendo sensível ao sofrimento, sem, entretanto, misturar-se com esse outro. É a flexibilidade de estar junto do outro, mantendo uma distância ótima, suficiente para ajudar e não sofrer como a pessoa. Outros requisitos valiosos constam no Código de Ética Profissional do Psicólogo (2005). São eles: a ética, o sigilo, a responsabilidade e o respeito ao ser humano. 2 PSICOTERAPEUTA A psicoterapia (do grego psykhē - mente, e therapeuein - curar) é um tipo de terapia, cuja finalidade é tratar os problemas psicológicos, tais como depressão, ansiedade, dificuldades de relacionamento, entre outros problemas de saúde mental. É um processo dialético efetuado entre um profissional, o psicoterapeuta - que pode ser psicólogo ou psiquiatra -, e o cliente ou paciente. 6 Fonte: www.boreas.com.br Por ser uma da área da saúde mental, a psicoterapia é a principal linha de tratamento para qualquer assunto referente ao psiquismo. Para isso, propõem intervenções psicológicas, cujos objetivos centrais são: Restabelecer o funcionamento psíquico ótimo do paciente; Permitir que o paciente compreenda as causas do que lhe acomete, para que possa encontrar recursos psíquicos para lidar com suas dificuldades, problemas, etc.; Desenvolver meios de agir no mundo, redefinindo seus traços de personalidade. Solucionar problemas pontuais, que o afligem, bem como, observar questões de cunho mais existencial. 2.1 Características do psicoterapeuta Como todas as formas de intervenção em psicologia clínica e medicina (psiquiatria), a psicoterapia: É executada por profissionais licenciados,junto aos conselhos de Psicologia, para prover tratamentos aos distúrbios e transtornos mentais, melhorar o autoconhecimento, melhorar a convicção nas decisões do cotidiano, caminhar em busca da autonomia existencial, entre outras. As modalidades possíveis são: psicoterapia extensa, psicoterapia breve e aconselhamento 7 psicológico clínico. Outros profissionais podem prover apenas aconselhamento não clínico; É comumente precedida de um psicodiagnóstico, sendo a definição do diagnóstico, apresentada em codificação internacional, sendo utilizada preferencialmente a CID-X da OMS, por se tratar de uma linguagem comum entre profissionais de saúde. Em situações de crise, como no luto ou na perda de um emprego, procede-se a uma entrevista inicial, que pode durar até no máximo três sessões, para que se verifique a demanda e a queixa do paciente; É um tratamento efetuado em ambiente clínico através de consultas de 50 min (normalmente 1 x por semana), porém a gravidade do paciente pode determinar um número maior de sessões, tendo o profissional autoridade para isto; Usa exames, testes e técnicas psicológicas para atingir o objetivo que varia desde a cura, passando pela diminuição do sofrimento (distresse, burn-out, crises de raiva, etc.), restabelecimento de uma capacidade perdida, até a compreensão de si mesmo. Neste caso, as técnicas e testes usados são determinados pela formação de origem do profissional - Medicina ou Psicologia -, lembrando que testes psicológicos são de uso exclusivo de Psicólogos, regulamentados por leis federais no Brasil, podendo o profissional não psicólogo, que os usar, sofrer processo por exercício ilegal da profissão. Baseia-se no corpo teórico-científico da Ciências Psicológicas, que faz parte das neurociências; É aplicado em um determinado contexto formal (individual, casal, grupal, individual com a presença de familiares, mediação de conflitos, de acordo com a indicação). Em linguagem técnica, o termo "psicologia" refere-se à ciência e "psicoterapia" ao uso clínico do conhecimento obtido por ela. Da mesma forma, costuma haver confusão entre os termos "psicoterapia" e "psicanálise", enquanto que a psicoterapia refere-se ao trabalho psicoterapêutico baseado no corpo teórico da ciência da psicologia como um todo, e a psicanálise refere-se 8 exclusivamente ao trabalho baseado nas teorias oriundas do trabalho de Sigmund Freud; "psicoterapia" é, assim, um termo mais abrangente, englobando todas as linhas teórico-científicas (com métodos e resultados) da Psicologia Moderna. 2.2 Estrutura básica da psicoterapia Fonte: www.google.com.br Os vários tipos de psicoterapia, em todas as suas diferentes formas e métodos, possuem uma série de características em comum. Somente tendo em mente tais características, se pode compreender o funcionamento da psicoterapia em geral e as qualidades que definem cada uma das diferentes escolas. Orlinsky e Howard procuraram descrever a interação dinâmica dos diferentes fatores que influenciam a psicoterapia, independentemente da linha específica. Primeiramente as condições da terapia são organizadas por determinadas circunstâncias sociais que determinam, por um lado, a oferta de terapeutas, as instituições que oferecem terapia, o acesso (físico e financeiro) da população (estrutura do sistema de saúde), e, por outro, a formação dos psicoterapeutas e a aceitação de terapia por parte da população (fatores socioculturais). Sobre esse pano de fundo, filtrado pela presença de outras partes interessadas (pais, família, supervisores etc.), se desenrola então o processo terapêutico: entre o terapeuta e o paciente (em determinadas escolas chamado cliente), cada um dos quais possuindo determinadas características profissionais e de personalidade, se fecha um contrato terapêutico, que define 9 as regras do trabalho terapêutico para ambas as partes. Dois elementos, a técnica terapêutica e o relacionamento terapêutico, representam a base de trabalho e são ambas influenciadas por atributos tanto do terapeuta como do paciente. O trabalho técnico do terapeuta, por outro lado, só poderá dar frutos se o paciente mostrar abertura a esse trabalho. Os efeitos da terapia se apresentam em diferentes níveis, tanto em relação aos padrões de funcionamento do indivíduo quanto em relação a seus relacionamentos interpessoais. 3 EFETIVIDADE DA PSICOTERAPIA Fonte: www.google.com.br A disciplina que se dedica ao estudo - desenvolvimento, avaliação, melhoramento, explicação teórica - da psicoterapia é a pesquisa psicoterapêutica (Psychotherapieforschung). A pesquisa empírica (ou seja, usando métodos científicos) sobre a psicoterapia começou nos anos 1950, depois de o psicólogo britânico Hans Eysenk (1952) ter afirmado que psicoterapia não tinha efeito nenhum, ou seja, que era melhor ficar em casa do que buscar um terapeuta. Essa afirmação de Eysenk, de que ele próprio mais tarde (1993) se distanciou, foi o impulso necessário, para que a busca de uma compreensão mais aprofundada do processo terapêutico começasse. A pesquisa dos efeitos da psicoterapia, baseada nos padrões da pesquisa farmacêutica, busca diferenciar o efeito da terapia em si, o efeito placebo, ou seja, a melhora nos sintomas devido à expectativa do paciente (e 10 não à terapia em si), e a remissão espontânea, ou seja, a cura dos sintomas por si sós. Uma resposta à questão do efeito da psicoterapia não se dá, no entanto, com apenas meia dúzia de estudos; pelo contrário, são necessários muitos deles, que são então reunidos em uma meta-análise, ou seja, um estudo que reúne e resume um grande número de estudos. Com base em várias meta análises pode-se afirmar hoje que a psicoterapia, pelo menos em suas formas tradicionais, é realmente efetiva - ou seja, tem efeitos mais fortes sobre a saúde psíquica do que o efeito placebo e a remissão espontânea. Cabe, no entanto observar com Klaus Grawe (1998) que a questão do efeito placebo se apresenta de maneira diferente em psicoterapia e em farmácia, pois enquanto nesta se trata de um efeito indesejável (se quer de fato que o medicamento funcione por si mesmo), em psicoterapia trata-se de um forte efeito psicológico, que deve ser compreendido e que pode ser utilizado como parte da própria terapia. 4 O FUNCIONAMENTO DA PSICOTERAPIA Uma vez confirmado o efeito positivo da psicoterapia sobre a saúde mental dos pacientes, a pesquisa empírica começou a voltar a sua atenção a uma pergunta muito mais difícil de ser respondida: como, com que mecanismos, é que ela funciona? 5 FASES DE MUDANÇAS DO PACIENTE O processo terapêutico começa, para o paciente, antes da terapia em si e termina somente muito depois de sua conclusão formal. Prochaska, DiClemente e Norcross (1992) propuseram um modelo em seis fases que descreve esse processo: Fase "pré-contemplativa" (precontemplation stage): é a fase da despreocupação. O paciente não tem consciência de seu problema e não tem a intenção de modificar o seu comportamento - apesar de as pessoas a sua volta estarem cientes do problema. Nesta fase os pacientes só procuram terapia se obrigados; 11 Fase "contemplativa" (contemplation stage): é a fase da tomada de consciência. O paciente se dá conta dos problemas existentes, mas não sabe ainda como reagir. Ele ainda não está preparado para uma terapia: está ainda pesando os prós e os contras; Fase de preparação (preparation): é a fase da tomada de decisão. O paciente se decide pela terapia - nesta fase o meio social pode desempenhar um papel muito importante; Fase da ação (action): o paciente investe - tempo, dinheiro, esforço - na mudança. É a fase do trabalho terapêutico propriamente dito; Fase da manutenção (maintenance): é a fase imediatamente após o fim da terapia. O paciente investe na manutençãodos resultados obtidos por meio da terapia e introduz as mudanças no seu dia-a- dia; Fase da estabilidade (termination): é a fase da cura. Nesta fase o paciente solucionou o seu problema e o risco de uma recaída não é maior do que o risco de outras pessoa para esse transtorno específico. De acordo com o desenvolvimento do paciente através das diferentes fases se classificam quatro tipos de progressão: (1) o transcurso estável, em que o paciente se estagna em uma fase; (2) o transcurso progressivo, em que o paciente se movimenta de uma fase para a próxima; (3) o transcurso regressivo, em que o paciente se movimenta para uma fase em que já esteve, e (4) o transcurso circular (recycling), em que o paciente muda à direção do movimento pelo menos duas vezes. 6 FASES DA TERAPIA A terapia em si se desenvolve em quatro fases consecutivas, cada qual com objetivos próprios: Definição do diagnóstico, por médico ou psicólogo (Ambos têm habilitação para isto): decisão que define a prescrição terapêutica a ser desenvolvida (medicamentosa, exclusiva do psiquiatra no 12 Brasil, psicoterápica, ambos os profissionais, médico ou psicólogo, psicodiagnóstico, exclusivo do psicólogo no Brasil); Estabelecimento de um contrato de trabalho verbal: Promoção de um relacionamento terapêutico e trabalho de clarificação do problema: a estruturação dos papéis (terapeuta e paciente), desenvolvimento de uma expectativa de sucesso, promoção do relacionamento entre paciente e terapeuta, transmissão de um modelo etiológico do problema; Desenvolvimento do trabalho psicoterapêutico: no que se refere às abordagens teóricas: aquisição de novas competências (terapia cognitivo-comportamental), análise e experiência de padrões de relacionamento (psicanálise), reestruturação da autoimagem (terapia centrada na pessoa), mas é preciso observar que, particularmente, na Psicologia, existem as especialidades psicológicas, que se sobrepõem às abordagens, como Psicologia do Organizacional ou do Trabalho, Psicologia do Trânsito (inclui porte de armas), Psicologia Clínica, Neuropsicologia, Emergência e Urgência psicológicas (Ainda não reconhecida pelo CFP, mas plenamente operante no Brasil), Psicologia Hospitalar, etc.; Avaliação: verificação do atingimento dos objetivos propostos, estabilização dos resultados alcançados, fim formal da terapia e da relação paciente-terapeuta. As decisões tomadas na fase 1 não devem necessariamente permanecer imutáveis até o fim da terapia. Pelo contrário, o terapeuta deve estar atento a mudanças no paciente, a fim de adaptar seu métodos e suas decisões de trabalho à situação do paciente, que nem sempre é clara no começo da terapia. A isso se dá o nome de indicação adaptável. 7 MECANISMOS DE MUDANÇAS EM PSICOTERAPIA Vários autores se dedicaram à questão do funcionamento da psicoterapia: o que é que leva à mudança no paciente. 13 K. Grawe (2005) descreve cinco mecanismos básicos de mudança (Grundmechanismen der Veränderung) comuns a todas as escolas psicoterapêuticas: Relacionamento terapêutico (therapeutische Beziehung): a qualidade do resultado de uma terapia é em grande parte influenciada pela qualidade do relacionamento entre o terapeuta e o paciente. Ativação de recursos (Ressourcenaktivierung): a psicoterapia auxilia o paciente a mobilizar a força interna que ele possui para realizar a mudança necessária e estabilizá-la. Atualização do problema (Problemaktualisierung): a psicoterapia expõe o paciente ao seu padrão normal de comportamento, como modo de tornar esses padrões conscientes e assim modificáveis. Exemplos são o trabalho com meios teatrais, como no psicodrama; os treinamentos de competências sociais, que podem ser contados como parte integrante da terapia comportamental; a técnica de focusing de Gendlin, e o trabalho com transferência e contratransferência, típico da psicanálise e de outras escolas psicodinâmicas; Esclarecimento motivacional (Motivationale Klärung) ou Clarificação e transformação de interpretações (Klärung und Veränderung der Bedeutungen): a psicoterapia auxilia a clarificação de ambiguidades e obscuridades na experiência pessoal do paciente, ajudando-o a encontrar um sentido para aquilo que ele experiência. Exemplos são os métodos de clarificação típicos da terapia centrada no cliente e os métodos de reestruturação cognitiva da terapia cognitiva; Competência na superação dos problemas (Problembewältigung): a psicoterapia capacita o paciente a adquirir a capacidade de adaptação à realidade psíquica e social, típico dos transtornos psíquicos. Exemplo típico de métodos que usam esse mecanismo de maneira explícita são os métodos de exposição, comuns à terapia comportamental; 14 Uma outra abordagem do problema oferecem Prochaska et al. (1992), ao descreverem dez processos de mudança diferentes. Tais processos são definidos como atividades e experiências pessoais que o paciente, de maneira direta ou indireta, realiza na tentativa de modificar seu comportamento problemático. Esses processos são: (1) Autoexploração ou autorreflexão (conscious raising), ou seja, o paciente procura se conhecer melhor, o que leva a uma (2) auto reavaliação, (3) autolibertação da convicção de que uma mudança não é possível, (4) contra condicionamento, ou seja, a substituição do comportamento problemático por outro, mais adequado, (5) controle dos estímulos, ou seja, o evitar ou combater estímulos que levam ao comportamento problemático, (6) Administração de reforços, ou seja, o paciente se dá uma recompensa cada vez em que se comporta da maneira desejada (ver condicionamento operante), (7) relacionamentos auxiliadores, ou seja, o paciente se abre à possibilidade de falar sobre seus problemas com uma pessoa de confiança (de maneira especial o terapeuta), (8) alívio emocional através da expressão de sentimentos em relação ao problema e as suas soluções, (9) reavaliação ambiental, ou seja, o paciente percebe como o seu problema provoca estresse não apenas para si mas também para as pessoas à sua volta, e (10) libertação social, ou seja, o paciente realiza gestos construtivos para seu ambiente social (família, amigos, sociedade em geral). Em seu modelo transteórico da psicoterapia Prochaska et al. (1992) unem os processos acima descritos a seu modelo das fases de mudança (ver acima): os diferentes processos estão intimamente às diferentes fases e determinados processos são completamente inócuos se realizados em uma fase inadequada. 15 8 EFEITOS DA PSICOTERAPIA Fonte: babyboomers.com.br Ainda sob um ponto de vista geral, ou seja, comum a todas as escolas psicoterapêuticas, os efeitos da psicoterapia podem ser analisados sob dois aspectos: O aspecto processual, isto é, que se refere ao trabalho terapêutico em si. Aqui podem se observar os seguintes efeitos: o fortalecimento do relacionamento terapêutico, a intensificação da expectativa de sucesso do paciente, sensibilização do paciente a fatores que ameaçam sua estabilidade psíquica, um mais profundo conhecimento de si mesmo (autoexploração) e a possibilidade de novas experiências pessoais. O aspecto final, isto, que se refere às consequências da terapia na vida do paciente. Aqui se diferenciam os micro efeitos dos macro efeitos. Os micro efeitos referem-se aos pequenos progressos que acontecem durante a terapia, entre as sessões: o paciente experiência novas situações, emoções, novas facetas de si, novas formas de comportamento. Já os macro efeitos dizem respeito às consequências em longo prazo e às mudanças mais profundas, relacionadas às estruturas mais centrais da personalidade e do funcionamento psíquico: a pessoa adquire novas posturas em relação a si mesma e aos demais, adquire novas capacidades e 16 competências. Sobretudo, umaterapia realizada com sucesso conduz a um aumento da auto eficácia (self-efficacy), ou seja, da convicção do paciente de ser capaz de lidar com os problemas que o faziam sofrer, que leva a um aumento da autoestima. Outros efeitos são ainda uma compreensão maior dos problemas que afligem o paciente e da história de vida, que conduziu a eles. Tanto os micro como os macro efeitos se podem dar em três níveis: (1) melhora do bem-estar, (2) modificação dos sintomas e (3) modificação da estrutura da personalidade. Mudanças na estrutura da personalidade só são possíveis depois de uma melhora do bem-estar e dos sintomas. 9 TIPOS DE PSICOTERAPIA Apesar de terem tanto em comum, os diferentes tipos de psicoterapia se diferenciam na ênfase que dão em cada um desses aspectos comuns. Antes de serem concorrentes, os diferentes tipos de psicoterapia possibilitam uma maior adaptabilidade do tratamento às características individuais do paciente e podem ser classificados sob diversos pontos de vista: 10 CLASSIFICAÇÕES SOB ASPECTOS FORMAIS De acordo com o número de pessoas: psicoterapia individual, de casal, familiar ou de grupo; De acordo com a duração: terapias curtas (ca.6-15 sessões) e longas (até três ou mais anos); De acordo com o setting (contexto): online ou pessoalmente; De acordo com a delegação do "poder terapêutico": terapias diretivas (power to the terapist), em que o terapeuta trabalha com apenas um paciente; terapias de mediação (power to the mediator), em que o auxílio não é direcionado ao paciente diretamente, mas a pessoas relevantes para ele (pais, parceiro, etc.); grupos de auto- ajuda (power to the person), em que pessoas os mesmos 17 problemas procuram juntas se ajudar mutuamente na superação do problema; Alguns métodos têm por objetivo mudanças intrapessoais (nas funções psíquicas do indivíduo), outros têm por fim mudanças em sistemas interpessoais disfuncionais (pares, famílias, grupos de trabalho…); De acordo com o fim da terapia: alguns tipos de psicoterapia têm por fim a superação de um problema(problembewältigungsorientiert), outras objetivam uma clarificação dos motivos e objetivos pessoais do paciente (motivational-klärungsorientiert) e por fim outras buscam enfatizar as ressources do paciente, dando atenção mais às partes saudáveis da pessoa. 11 CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM A PERSPECTIVA TEÓRICA Fonte: rodrezpsic.blogspot.com.br M. Perrez e U. Baumann (2004),[2] baseados em trabalhos anteriores, classificam quatro grande famílias psicoterapêuticas: Psicoterapias psicodinâmicas: explicam os problemas psíquicos com base em conflitos inconscientes originados na infância e seu 18 objetivo é superação de tais conflitos. Para isso elas procuram compreender o presente a partir do passado e trabalham com métodos interpretativos. Objetos de interpretação podem ser as livres-associações, os fenômenos transferenciais, os atos falhos, os sonhos etc. Ver também psicanálise e analítica; ou ainda Sigmund Freud, Anna Freud, Melanie Klein, Lacan, Bion, Winnicott,Carl G. Jung, Alfred Adler, Erik Erikson Psicoterapias cognitivo-comportamentais: explicam os transtornos mentais baseadas na história de aprendizado do indivíduo e nas interações dele com seu meio, e têm por objetivo o restabelecimento das competências do paciente de controlar seu comportamento e de influenciar suas emoções e percepções. Apesar de também ter um olho voltado para o passado, este grupo de terapias se concentra sobretudo no presente e trabalha com métodos como treinamentos, condicionamento operante, habituação, reestruturação cognitiva, o diálogo socrático, métodos psicofisiológicos, entre outros. Ver também: Terapia cognitivo-comportamental; neurofeedback, ou ainda Aaron Beck. Psicoterapias existencial-humanistas: Esse tipo de terapia parte do princípio de que todo ser humano possui em si uma força interna que, se não for impedida por influência externa, o conduz à sua plena realização. Elas explicam assim os transtornos psíquicos como fruto da incongruência entre a autoimagem e a experiência pessoal e buscam fomentar as forças de autorrealização (selfactualisation) do indivíduo. Esse grupo de terapias se concentra na experiência atual da pessoa e procuram métodos de trabalho que possibilitem ao cliente (como é chamado por elas a pessoa que busca a terapia) desenvolver-se de maneira congruente a suas necessidades. Ver terapia centrada no cliente, gestaltoterapia, logoterapia ou ainda Carl Rogers, Fritz Perls, Viktor Frankl, Maslow, Rollo May 19 Psicoterapias orientadas na comunicação: consideram os transtornos do comportamento como expressão de estruturas de comunicação disfuncionais e buscam uma reorganização de tais estruturas ou a formação de novas, mais construtivas. Também tais terapias preocupam-se sobretudo com a situação presente e trabalham com métodos que possam gerar novas formas de compreensão da realidade e de si mesmo. Ver psicoterapia sistêmica ou ainda Paul Watzlawick, escola de Milão (psicoterapia) Essa classificação, apesar de possibilitar uma visão geral da área da psicoterapia, é no entanto muito genérica para englobar todas as formas existentes, sobretudo porque muitas são formas híbridas, que juntam em si elementos de diferentes tendências. A página anexa Lista de psicoterapias oferece uma lista de diferentes tipos de psicoterapia e conduz aos respectivos artigos. 12 ABORDAGENS TRANSTEÓRICAS Apesar de toda a complementariedade das diferentes escolas e linhas da psicoterapia - e apesar de muitos psicoterapeutas fazerem usos de ideias e técnicas de diferentes linhas - a relação entre elas está longe de ser amigável. As escolas psicodinâmicas e existencial-humanistas são muitas vezes atacadas por não serem suficientemente empiricamente fundamentadas enquanto as cognitivo-comportamentais são acusadas de serem mecânicas, cansativas e superficiais. A tentativa de proporcionar à prática psicoterapêutica uma base comum é feita por diferentes autores de diferentes maneiras: Integração: é a busca de uma unificação da base teórica das diferentes escolas (Arkowitz, 1992). Ecletismo: é uma posição mais prática. O objetivo é reunir os elementos efetivos das diferentes escolas, sem levar em conta possíveis diferenças teóricas. A busca de variáveis transteóricas, que são os fatores comuns a todas as escolas, mas que recebem em cada uma delas um papel 20 mais ou menos central. Ver acima "Mecanismos de mudança em psicoterapia". A busca de uma psicoterapia geral (allgemeine Psychotherapie, Grawe et al., 1997), que é a formação de uma estrutura teórica básica, que oferece uma possibilidade de localizar e descrever as diferentes escolas. No curso de graduação de medicina, existe uma cadeira que estuda a contribuição da Psicologia nas doenças, e nos processos de recuperação da saúde, a qual dá-se o nome de Psicologia Médica. Ainda não existe uma teoria geral que abarque todas as formas de psicoterapia. A moderna psicoterapia é um sistema aberto que tem ainda muito a se desenvolver por meio da pesquisa científica. Um importante papel na pesquisa atual desempenham os tratamentos voltados para transtornos específicos e não terapias genéricas.[2] Exemplos de trabalhos transteóricos podem ser encontrados em diferentes novas abordagens de terceira geração países europeus, entre eles a Suíça. 13 PSICOTERAPIA POR COMPUTADOR A Resolução CFP nº 012/2005 limita a psicoterapia por computador a experimentos de pesquisa gratuitos, sendo portanto uma prática profissional proibida ao psicólogo. Porém é permitido utilizar e-mails e outros recursos da internet de forma acessória ao tratamento, desde questões éticas como confidencialidade e autenticidade. É permitido a utilização de testes psicológicos virtuaisaprovados pelo CFP e serviços de orientação psicológica e afetivo- sexual, orientação profissional, orientação de aprendizagem e escolar desde que adequadamente cadastrados, administrados por psicólogo regulamentado e fiscalizados pelo CFP conforme as resoluções profissionais. Esta resolução foi substituída por uma de 2012, que expande estes serviços para até 20 sessões de orientação psicológica on-line (Psico-educação), podendo-se incluir sessões de aconselhamento clínico, mas não de psicoterapia. Para tanto, o profissional de psicologia deve cadastrar seu site, junto ao CFP. 21 14 ARTIGO PARA REFLEXÃO... 14.1 O que é ser um “bom” psicoterapeuta? Texto de Márcia Michele de Souza; Rita Petrarca Teixeira; Aletheia 2004 RESUMO Este estudo teve por objetivo conhecer as percepções de psicoterapeutas e pacientes em psicoterapia psicanalítica acerca das características essenciais ao exercício da psicoterapia. Participaram da pesquisa cinco profissionais da área e cinco pacientes em tratamento nesta mesma abordagem teórica. O método utilizado para análise dos dados foi o qualitativo, de acordo com Bardin (1998). Os resultados apontam que o psicoterapeuta é visto como quem possui condições pessoais e técnicas que envolvem disponibilidade, capacidade de escuta e estudo teórico. Ser um bom psicoterapeuta envolve uma construção que se dá a partir de modelos de identificação, prática, estudo, supervisão e tratamento pessoal. Os pacientes percebem estas características de forma sutil, o que demonstram permanecendo em tratamento, principalmente quando o profissional lhes transmite confiança. Palavras-chave: Psicoterapia, Características do psicoterapeuta, Formação do psicoterapeuta. ABSTRACT The present study has the objective of learning the perceptions of psychotherapists and patients in psychoanalytic psychotherapy about the essential characteristics in the exercise of psychotherapy. Five of these professionals and five patients in treatment in this same theoretical approach participated in this research. The method used to analyze the data was the qualitative, according to Bardin (1998). The results point out that the psychotherapist is seen as someone that possesses personal and technical conditions, which involve availability, hearing capacity and theoretical study. To be a good psychotherapist involves a construction that happens throughout models of identification, practice, study, supervision and personal treatment. The 22 patients perceive these characteristics in a subtle way, and they demonstrate this by staying in treatment, especially when the professional transmits confidence to them. Key words: Psychotherapy, Psychotherapist’s characteristics, Psychotherapy training. INTRODUÇÃO As psicoterapias podem ser identificadas como métodos de tratamento para os problemas emocionais. Estes métodos são utilizados por pessoas treinadas, que irão estabelecer uma relação profissional com aquele que busca ajuda, visando retirar ou modificar os sintomas que este apresenta, ou ainda prevenir que eles apareçam. Tem como propósito também, corrigir padrões disfuncionais de relacionamentos que estas pessoas construíram, bem como promover o crescimento e o desenvolvimento da personalidade (Wolberg citado por Cordioli, 1998). Abreu (1997) refere que a psicoterapia alcançou uma identidade muito clara, e que são exigidos certos requisitos para que seja reconhecida como uma intervenção psicoterapêutica profissional. Este mesmo autor menciona que a psicoterapia se desenvolveu ao longo destes anos, passando por períodos iniciais de estudo que evidenciaram a efetividade dos tratamentos psicoterápicos. Etchegoyen (1987) descreve os traços característicos que destacam a psicoterapia. Dentre estes traços estão o seu método, no qual a psicoterapia se dirige à psique através da comunicação, e o seu instrumento de comunicação, que é a linguagem verbal e a pré-verbal. Além disso, cita o marco da psicoterapia, ou seja, a relação interpessoal médico-paciente. E, finalmente, a finalidade da mesma, que é curar, pois todo o processo de comunicação que não tenha este propósito, não pode ser considerado psicoterapia. Existem diferentes tipos de psicoterapia que variam conforme as técnicas que utilizam, às teorias que se baseiam, aos seus objetivos, a freqüência das sessões e ao tempo de duração (Cordioli, 1998). Para Bloch (1999), qualquer psicoterapia tem a intenção de permitir que uma pessoa satisfaça suas necessidades de afeto e reconhecimento, bem como ajudá-la a corrigir atitudes, 23 emoções e comportamentos desadaptativos que a impedem de obter satisfações. Ainda para este autor, mesmo que todas psicoterapias tenham sua atenção voltada para os aspectos da vida pessoal, variam conforme sua ênfase, ou seja, são ordenadas conforme seu alvo primário, sua orientação temporal. Além disso, diferenciam-se na medida em que procuram mudar essencialmente pensamentos e atitudes, estados emocionais ou comportamentos. Tendo em vista que este estudo visa verificar as características necessárias para ser um bom psicoterapeuta de orientação psicanalítica, serão apontados os conceitos de psicoterapia relacionados à teoria psicanalítica. Conforme Goldstein (citado por Cordioli, 1998), na psicoterapia psicanalítica o paciente é orientado a expressar seus pensamentos, sentimentos, fantasias e sonhos, livremente, bem como as associações que lhe ocorrerem. No entanto, um pouco diferente do método psicanalítico, as associações livres do paciente são dirigidas pelo psicoterapeuta para questões- chave da terapia. Não há utilização do divã, as sessões são menos freqüentes, há menos regressão e a transferência não se desenvolve com a mesma intensidade que na psicanálise. Segundo Pessanha (2000), o bom desempenho na profissão de psicoterapeutas exige destes profissionais qualidades definidas e específicas, e esta “vocação” deve estar alicerçada em conhecimento e exercida com talento. Abreu (1997) salienta que a pessoa do psicoterapeuta compõe uma importante variável que intermedia mudanças, sem depender tanto de uma determinada teoria ou de uma técnica específica. Por isso, a importância do psicoterapeuta tem sido mais estudada. Uma vez que a formação do psicoterapeuta de orientação psicanalítica está muita próxima daquela exigida pela psicanálise, algumas variáveis tidas como obrigatórias para o psicanalista serão também necessárias ao psicoterapeuta. A identidade de um analista é definida por um conjunto de conhecimentos e pelo desenvolvimento de vários atributos pessoais. Estes conhecimentos são adquiridos e desenvolvidos através do tratamento pessoal, da própria prática 24 clínica, da realização de cursos teóricos e seminários clínicos, de supervisões e reuniões científicas, como refere Leviski (citado por Outeiral, 1995). O mesmo autor menciona que na construção da identidade profissional, erros, ansiedades, angústias é dúvidas são uma constante neste processo evolutivo até que se alcance uma relativa tranquilidade interna. Aos poucos vai se descobrindo a gratificação e o sabor do que pode ser considerado um “certo dom”. Como precursor da psicanálise, Freud (1912/1980) já apontava questões relacionadas às qualidades necessárias ao analista para que este exerça sua profissão. Inicialmente descreve a técnica que alcançou através de sua própria experiência. Para este autor, o analista se defronta com a árdua tarefa de se lembrar de inúmeros nomes, datas e conteúdos de cada paciente no decurso de seus tratamentos, por isso aponta a técnica como forma de solucionar este problema. Cita que a mesma, consiste em não se fixar em algo específico no relato do paciente, mas sim em manter uma atenção uniformemente suspensa. Utilizando-se desta, o analista poupa seu esforço, pois caso contrário,se houver a concentração exagerada da atenção, haverá a seleção do material que lhe é apresentado. Ao fazer esta seleção, o analista estará seguindo suas expectativas ou inclinações, o que lhe impediria de descobrir além do que já sabe. Para este mesmo autor, para que a análise tenha eficácia, é necessário que o analista volte seu próprio inconsciente, como um órgão receptor, na direção do inconsciente do paciente (órgão transmissor). Assim como o paciente relata tudo o que sua auto-observação possa detectar, sem fazer seleções de conteúdos, o analista deve fazer uso de tudo que lhe é dito para fins de interpretação e identificar o material inconsciente oculto, não fazendo seleções. Para que isto ocorra o analista deverá utilizar o próprio inconsciente como instrumento de análise. Segundo Zimerman (1999) preparar-se teórica e tecnicamente não é suficiente para a eficácia de uma análise, pois mais do que esta necessária bagagem de conhecimentos (seminários, estudos continuados) e de uma competente habilidade (resultante de supervisões), o psicanalista precisa ter uma atitude psicanalítica que é composta pelos atributos naturais e os 25 desenvolvidos pela análise pessoal. Esta última consiste em o analista possuir as condições mínimas necessárias, postuladas por Bion (1992), para enfrentar as angústias e os imprevistos que podem ocorrer durante a análise, provindos do inconsciente do paciente e do próprio analista. Rocha (1995) aponta que para alguém se tornar um psicanalista, é necessário que antes tenha sido paciente. Com isso, pode-se inferir que a formação do psicanalista não se dá por uma vocação e, sim, por um processo de construção. Ainda sobre a importância da análise pessoal, Pessanha (2000) refere que os psicoterapeutas preparados pelo método psicanalítico, devem submeter- se a mesma, pois através desta podem reconhecer e superar seus próprios problemas. Além disso, este trabalho confere ao profissional autoconhecimento indispensável para poder ver em seus pacientes aquilo que vê em si mesmo. Leviski (citado por Outeiral, 1995) refere que quanto mais profunda tenha sido a análise pessoal, maiores serão as possibilidades de o analista compreender os conteúdos mais remotos da mente do seu paciente. No entanto, para que isto ocorra, é necessário que este profissional tenha entrado em contato e elaborado os seus conteúdos conflituosos, pois se estes não forem resolvidos podem ser projetados inconscientemente sobre o paciente. Segundo Grinberg (1975), é aconselhável a análise pessoal periodicamente, sendo que o psicoterapeuta precisa tolerar uma sobrecarga imensa nas suas atividades. Mas, além da análise pessoal é necessário possuir outros requisitos, tais como: conhecimento, intuição, talento e empatia. Levisky (citado por Outeiral, 1995) coloca outros atributos desejáveis ao psicanalista. Dentre estes estão a curiosidade em relação às coisas e aos mistérios da mente, bem como o interesse, a necessidade e a sensibilidade em ir ao encontro do sofrimento psíquico do paciente. Zimerman (1995) baseado nas ideias de Bion descreve que as condições mínimas necessárias para uma análise eficaz são representadas por uma série de atributos do analista, e entre estes está a identidade analítica. A identidade analítica implica a capacidade que o analista tem de se manter basicamente o mesmo, apesar das pressões provindas de fora e de dentro dele. 26 Rocha (1995) menciona que neutralidade é uma suspensão dos valores morais do analista face à problemática do paciente. Sendo assim, o termo neutralidade é considerado uma afirmação de que o paciente não deve ser julgado pelo psicanalista, a partir de atributos ou de valores morais deste último, tendo em vista que o propósito da psicanálise não é voltado para a conduta ou o comportamento moral. Para Pessanha (2000) o psicoterapeuta deve ter paciência e tolerância, pois os benefícios de uma psicoterapia surgem após longo tempo de convívio e dependem muito do interesse do paciente. Para este autor os profissionais precisam ter capacidade para amar e suportar as agressões e os fracassos decorrentes do tratamento. O autor cita ainda, que o psicoterapeuta é alguém capaz de se dedicar ao paciente sem preocupar-se consigo mesmo, ou seja, sem desejos nos resultados. Goulart (2003) aponta a importância da criatividade mesclada com a técnica na prática psicanalítica. A verdade emerge entre o analista e o paciente, sendo que no momento em que ocorre a compreensão se produz uma mudança em ambos. Para que esta verdade possa aparecer, é necessário que a dupla tolere suas ignorâncias, abandone o supostamente já sabido e as preconcepções, o que foi chamado de capacidade negativa. O mesmo autor salienta que quando a criatividade surge no setting, é preciso que o analista faça uso da mesma, orientando suas interpretações com intuição e empatia, mas sem distanciar-se da técnica que lhe dá segurança. Reforça esta ideia referindo que uma sólida base teórica e técnica introjetadas, juntamente com uma análise pessoal bem sucedida, são pré requisitos na busca deste equilíbrio. Zimerman (1995) também se refere à capacidade negativa como possibilidade do analista conviver com as incertezas e dúvidas na experiência da situação analítica. Derivado do atributo de capacidade negativa, Bion (2000) enfatiza que no transcurso da sessão analítica, o analista deve permanecer em uma condição a qual denominou de sem memória, sem desejo e sem compreensão. Esta condição tem como finalidade que a mente do analista não fique saturada com a memória, os desejos e a necessidade de compreensão 27 imediata, para que os órgãos dos sentidos não predominem, possibilitando assim emergir a capacidade de intuição do analista. Seguindo a mesma premissa de Bion, Dallaroza (2001) expõe que se o profissional não puder tolerar o “não saber”, poderá usar da interpretação apenas para preencher espaços vazios, confabulando sobre o material incompreensível. Para que isto não ocorra, é necessária uma modificação na atitude interna do psicoterapeuta, ou seja, este deve privar-se dos órgãos dos sentidos, aumentando suas possibilidades de intuição. De acordo com Dallaroza (2001) a intuição é uma antecipação e um reconhecimento dos sentimentos que vão ocorrer no paciente. É a capacidade do terapeuta de ligar-se em fatos que não podem ser captados pelos órgãos dos sentidos. É a intuição que possibilita chegar à aproximação das verdades incognoscíveis. Conforme Bion (1992) a empatia é uma característica essencial sendo esta a capacidade que o psicanalista deve ter de se colocar no papel do paciente, entrar dentro dele e sentir junto dele o seu sofrimento. A empatia é resultante da capacidade do analista de poder utilizar as fortes cargas das identificações projetivas, como uma forma de comunicação primitiva do paciente. Destaca, também, a capacidade de ser continente, possuindo as condições de acolher as necessidades e as angústias do paciente, contendo-as dentro de si o tempo suficiente para decodificá-las e entendê-las, reconhecendo um significado e um nome para então devolvê-las ao paciente desintoxicadas e em forma de interpretação. A pessoa do psicoterapeuta é considerada por Wolberg (citado por Cardoso, 1985) a variável mais importante no processo terapêutico, pois sua personalidade e experiência atuam sobre os resultados. O terapeuta eficiente tem qualidades que transmitem ao paciente confiança, esperança, vontade e liberdade para responder. Além disso, para Wolberg (citado por Cardoso, 1985), o psicoterapeuta deve ser possuidor de uma compreensão empática e de confiança naquilo que faz. Fromm Reichmann (citado por Cardoso, 1985), resume os requisitos básicos que compõem a personalidade e aptidões pessoais do psicoterapeuta, 28 mencionando que o psicanalistaé alguém que deve saber escutar. A escuta que a autora se refere, é considerada por ela como uma arte que não se adquire sem a formação adequada que envolve autoconhecimento, estudo, prática e especialmente vida pessoal que contenha fontes de satisfação e segurança, para que o profissional não venha a usar o seu paciente como fonte de gratificações. MÉTODO Identificar as percepções de psicoterapeutas e pacientes acerca das características necessárias para ser um bom psicoterapeuta foi o problema proposto por este estudo. Em torno dele algumas questões norteadoras serviram para ampliar o conhecimento acerca da temática, sendo as seguintes: Quais as características que os profissionais percebem como essenciais para a formação do psicoterapeuta? Quais as características que profissionais e pacientes percebem como sendo essenciais para o psicoterapeuta ser um bom profissional? As características são inatas ou adquiridas pela formação? Profissionais e pacientes concordam acerca das características tidas como necessárias para ser um bom psicoterapeuta? Tomando a complexidade do objeto de estudo definido anteriormente, o estudo teve como método de pesquisa, o qualitativo, sendo que as verbalizações dos sujeitos foram analisadas a partir da análise de conteúdo sugerida por Bardin (1988). As descrições das verbalizações foram agrupadas em unidades de sentido, sendo estas reescritas em sínteses que formaram as categorias a posteriori. Participaram do estudo cinco psicoterapeutas de orientação psicanalítica (Grupo 1) e cinco pacientes desta mesma abordagem psicoterápica (Grupo 2). Cabe salientar que os integrantes do Grupo 2 não foram pacientes dos profissionais que compõem o Grupo 1. 29 Os psicoterapeutas entrevistados têm formação reconhecida pelos pares e os pacientes estão em tratamento há, no mínimo, 6 meses, com freqüência mínima semanal. Ambos os grupos foram contatados a partir dos critérios de indicação e acessibilidade. O instrumento utilizado foi uma entrevista semiestruturada específica para cada grupo. O roteiro utilizado para o Grupo 1 continha questões como ser psicoterapeuta, características necessárias para o profissional, modelos de identificação e sobre a relação com o paciente. O roteiro de entrevista utilizado com o Grupo 2 continha questões acerca do que seja psicoterapia, sobre as características importantes do psicoterapeuta e sobre a escolha em fazer psicoterapia. Devido a questões éticas, os sujeitos participantes do estudo receberam em duas vias, termo de consentimento livre e esclarecido, anterior ao início da entrevista, os quais assinaram. Apresentação dos resultados Através da análise de conteúdo, foi possível dividir as entrevistas em quatro categorias e quatro subcategorias, especificadas abaixo. Categoria 1 – Ser psicoterapeuta 30 1.1 – Ser psicoterapeuta na percepção do próprio psicoterapeuta 1.2 – Ser psicoterapeuta na percepção do paciente Categoria 2 – Características de um bom psicoterapeuta 2.1 – Características de um bom psicoterapeuta na percepção do próprio psicoterapeuta 2.2 – Características de um bom psicoterapeuta na percepção do paciente Categoria 3 – Características inatas e construídas Categoria 4 – A percepção dos psicoterapeutas acerca do que pensam os seus pacientes Os profissionais depoentes foram identificados por T1, T2, T3, T4, T5 e os pacientes entrevistados por P6, P7, P8, P9 e P10. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS O Grupo 1 define ser psicoterapeuta (subcategoria 1.1) como um profissional que se coloca em uma posição de ajuda, pois se dispõe a entender os processos psíquicos de uma pessoa para que assim possam pensar juntos (terapeuta/paciente) e transformar algumas coisas na vida desta pessoa que procura a ajuda. Sendo assim, o psicoterapeuta permite que o outro possa construir sua própria história. Para isso, é necessário que este profissional possua condições tanto pessoais como técnicas para exercer satisfatoriamente este papel. Além disso, é mencionado que o psicoterapeuta necessita estar disposto a receber coisas novas e ser alguém que goste e tenha um perfil para lidar com seres humanos, o que é percebido como algo delicado, necessitando, portanto, de muito estudo e treino. Um dos principais aspectos apontados pela bibliografia é a capacidade de escuta que o profissional deve ter. Tal capacidade de escuta é referida pelos profissionais como algo essencial no exercício da psicoterapia e está relacionada com a técnica do psicoterapeuta, por isso deve sempre estar sendo aperfeiçoada através do estudo, da prática e do próprio tratamento pessoal. Tal achado reforça a ideia de Fromm Reichmann (citado por Cardoso, 1985) que considera a escuta como uma arte que não se adquire sem um treinamento especial. Menciona que dentre outros fatores, o autoconhecimento proporciona ao psicoterapeuta a 31 possibilidade de escutar, fator observado também nas opiniões dos entrevistados (subcategoria 2.1). Já o que é ser psicoterapeuta para os pacientes (subcategoria 1.2) encontra-se a percepção da necessidade do profissional estudar muito e, além disso ser alguém que possua capacidade para lidar com o ser humano. Através das verbalizações dos pacientes, é possível inferir que esta capacidade de lidar com pessoas é muitas vezes percebida pelos pacientes como um “dom”, contudo Bucher (1989) referiu que o interesse pelo ser humano é a primeira característica essencial do psicoterapeuta. Este profissional deve possuir interesse em aprofundar-se no funcionamento dinâmico e dialético do ser humano. Pode-se observar que os conceitos oferecidos pelos pacientes não diferem muito dos mesmos dados pelos profissionais entrevistados, o que sugere que a percepção dos pacientes tem ligação com o que os psicoterapeutas pensam sobre si mesmos. Pode-se inferir que os psicoterapeutas transmitem para seus pacientes estas mesmas percepções sobre a identidade de ser psicoterapeuta. Além disso, o psicoterapeuta é visto pelos pacientes como alguém que se pode contar em todos os momentos, sendo muitas vezes idealizado, principalmente no início da psicoterapia. Segundo Pessanha (2000) o bom desempenho na profissão de psicoterapeuta exige destes profissionais qualidades definidas e específicas. A idealização do paciente pelo psicoterapeuta pode estar ligada à percepção destes profissionais sobre estas qualidades. As atribuições exigidas para o exercício da psicoterapia tais como capacidade de escuta, disponibilidade de ajuda, muito treino e estudo, possivelmente estão relacionadas a esta idealização, pois o psicoterapeuta pode sentir-se e ser, realmente, visto como alguém que se encontra disponível para ajudar a qualquer momento. Também pode ser percebido como “grandioso” e possuidor de um poder de cura e soluções mágicas. Conforme relato dos profissionais, pode-se observar uma série de características percebidas pelos mesmos como essenciais para o psicoterapeuta (subcategoria 2.1), já referidas pela literatura psicanalítica. Isto se evidencia nas verbalizações dos profissionais acerca de diversos atributos que os profissionais devem possuir, citados por Zimerman (1995) e Bion (1992). Dentre estes, 32 referem como principal a capacidade de continência, seguida pela necessidade de entrar no setting sem expectativas prontas em relação ao paciente, sem algo arquitetado e sem uma necessidade de compreensão imediata. Ainda acerca da subcategoria 2.1 foi possível identificar similaridades nas opiniões dos profissionais entrevistados, pois todos consideram o tratamento pessoal e a supervisão como fundamentais para a formação do psicoterapeuta. A análise pessoal é vista como um dos aspectos primordiais para se tornar um bom psicoterapeuta, visto que os profissionais consideram extremamente necessário o autoconhecimentopara o exercício desta profissão. E a supervisão é vista como essencial no processo de construção da identidade do psicoterapeuta. Em relação à questão do tratamento pessoal pode-se inferir que as percepções dos profissionais condizem com o que é visto na teoria na qual os autores referem que supervisão constante e o estudo da teoria e da técnica são fatores muito importantes, mas destacam o tratamento pessoal como um fator determinante neste processo de formação. Este aspecto encontra-se reforçado pelo exposto por Zimerman (1999) acerca da atitude psicanalítica composta pelos atributos naturais e pelos desenvolvidos na a análise pessoal. Os profissionais referem que para entender o paciente, e ajudá-lo, é necessário que possam se conhecer. Mencionam ainda que através do tratamento pessoal, o psicoterapeuta tem mais possibilidades de entendimento em relação ao paciente, bem como menos probabilidade de se misturar com as questões do mesmo, fato mencionado por Freud em 1912. Além disso, a questão do tratamento pessoal é vista pelos profissionais como constituinte da ética profissional. Se é transmitido para o paciente a necessidade dele se conhecer, é importante que esteja claro para o psicoterapeuta que esta é uma condição necessária a ele. Outro atributo mencionado por Zimerman (1999) é o respeito, no qual o profissional deve aceitar o paciente como de fato ele é e, portanto, aceitar o que este paciente traz. Através de suas verbalizações, os profissionais mencionam que é necessário que o psicoterapeuta respeite o tempo e os desejos do paciente, devendo ainda perceber no vínculo com o paciente o que pode ser conseguido na relação terapêutica com ele. 33 Os profissionais entrevistados referiram ainda como atributos a necessidade do psicoterapeuta reconhecer seus próprios limites; saber tolerar o não saber, bem como o que pode lidar e o que não pode. Pode-se deduzir que o reconhecimento destes limites pelo psicoterapeuta está relacionado com o autoconhecimento que este adquire através de seu tratamento pessoal, fator já referido anteriormente. Através do tratamento pessoal, o psicoterapeuta poderá conhecer seu próprio inconsciente e, portanto suas limitações, o que facilitará seu exercício. Conforme Bucher (1989) o autoconhecimento proporciona ao profissional em psicoterapia uma familiarização com suas questões inconscientes, bem como uma resolução ao menos aproximativa de seus conflitos, fatores importantes em sua formação. O Grupo 1 referiu a supervisão como o aspecto que proporciona reconhecer as questões implicadas na relação terapêutica, bem como suas limitações frente a esta relação, o que vai ao encontro com o que fora mencionado por Schlesinger (1981). Este cita como uma das principais funções da supervisão o desenvolvimento no psicoterapeuta supervisionando de uma capacidade em perceber suas dificuldades frente a seus pacientes. Dentro da categoria 2, pode-se observar que as percepções dos pacientes, em alguns momentos, se assemelha com as dos profissionais. No entanto, em determinados aspectos os pacientes percebem o psicoterapeuta de uma forma diferenciada. Os pacientes entrevistados estão extremamente preocupados com a experiência do psicoterapeuta, em termos de estudo e especialização. Cabe destacar ainda que os pacientes não diferem tão claramente o que é ser psicoterapeuta do que acreditam ser um bom psicoterapeuta, pois repetem as mesmas características nestas diferentes questões. Ao não diferenciarem estas características (subcategoria 2.2), pode-se inferir que os pacientes entrevistados demonstram que para o psicoterapeuta lhes transmitir credibilidade e confiança é necessário que saibam que o mesmo tem uma vasta experiência e muito estudo teórico. Sabe-se, contudo, que a teoria é algo muito importante, mas não garante por si só a formação do psicoterapeuta. 34 Nota-se aqui a diferença básica entre os psicoterapeutas e os pacientes sobre o que é ser um bom psicoterapeuta: para os pacientes a formação do psicoterapeuta está centrada no estudo teórico, enquanto que para os profissionais esta é apenas uma das partes que constituem esta construção. Os pacientes entrevistados concordam em um ponto no que se refere às características do psicoterapeuta: este deste transmitir segurança e confiança, fatores especificados, anteriormente. Neste sentido, relatam que este profissional deve ser alguém sério, competente, dedicado, honesto, sincero e que se possa contar em todos os momentos. No que se refere à categoria 3, foi possível conhecer se os psicoterapeutas percebem as características como sendo inatas ou desenvolvidas. Infere-se que grande parte dos psicoterapeutas acredita que para se tornar um bom psicoterapeuta é necessária uma construção, alicerçada por algumas características inatas que corroboram para isso. Esta construção se opera através do aperfeiçoamento teórico, supervisão e, principalmente do tratamento pessoal. Além disso, os modelos de identificação têm grande influência neste processo de aquisição dos atributos necessários ao bom psicoterapeuta. Estes modelos são os supervisores, os teóricos, enfim, pessoas significativas em seus processos de formação. Grinberg (1975) refere acerca dos supervisores, que estes podem ser internalizados como modelos na medida em que demonstram ao psicoterapeuta supervisionando sua maneira de abordar o material, bem como o modo que utilizam e aplicam a teoria. Os profissionais referem ainda que existem algumas características inatas que contribuem para que se possa adquirir as demais. Dentre estas citam uma personalidade adequada, condições egóicas e, até mesmo, certa, predisposição para esta escolha profissional. Levisky (citado por Outeiral, 1995) descreve algo muito semelhante ao que os entrevistados trouxeram em relação a esta construção da identidade do psicoterapeuta. Este autor salienta que a mesma é desenvolvida por atributos pessoais já característicos do psicoterapeuta, bem como por conhecimentos adquiridos pela análise pessoal, pela prática clínica, pela realização de cursos, seminários e supervisões. 35 Através da categoria 4, foi possível observar se os profissionais acreditam que seus pacientes percebem as características que lhes proporcionam a condição de bom psicoterapeuta. Conforme os psicoterapeutas é exatamente esta percepção que faz o paciente permanecer em tratamento. Mencionam ainda que esta percepção e a continuidade no tratamento se dá a partir da empatia, ou seja, o paciente sente quando está sendo compreendido pelo psicoterapeuta, o que é extremamente importante, especialmente no início do tratamento, para o estabelecimento do vínculo terapêutico. No entanto, esta percepção é sutil e nem sempre é consciente. O pensamento dos profissionais encontra eco nas palavras de Bion (1992). Conforme este autor, a capacidade empática é essencial ao psicanalista e se, ao contrário, o analista tomasse uma atitude apática, não se manteria sintonizado com o paciente, o que poderia transformar o tratamento em algo monótono ou até mesmo sem continuidade. Possivelmente, a empatia é vista pelos profissionais como a característica mais percebida pelos pacientes. Por isso entende-se que outras características estejam interligadas, tais como a capacidade de continência. Além disso, estas duas características estão relacionadas com a análise pessoal percebida como essencial pela bibliografia pesquisada. Através do autoconhecimento e da experiência de ter sido paciente, o psicoterapeuta tem mais possibilidades de se colocar no lugar do mesmo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em relação ao que é ser psicoterapeuta conclui-se que este profissional é alguém que deve estar preparado teórica e tecnicamente, e além disso, deve estar em constante aperfeiçoamento. Esta preparação é percebida como, extremamente,importante na medida em que o psicoterapeuta é um profissional que se dispõe a ocupar uma posição de ajuda frente a seus pacientes. E estando neste lugar de quem oferece esta ajuda a outras pessoas, o psicoterapeuta deve estar ciente da responsabilidade que abrange esta profissão, bem como estar preparado para lidar com o mundo interno de seus pacientes. Para tanto, é exigido deste profissional características peculiares e determinantes no exercício da psicoterapia. 36 Os questionamentos acerca destas características é uma preocupação antiga. Precursores da psicanálise como Freud e Bion já mencionavam os atributos referentes ao psicoterapeuta colocados também nos relatos dos profissionais entrevistados, tais como a capacidade de ser continente, a empatia e a conscientização de que é necessário realizar tratamento pessoal e supervisão. Entende-se que para ser um “bom” psicoterapeuta estes atributos devem estar internalizados e serem observados e refletidos ao longo da vida profissional. Para os psicoterapeutas, as qualidades necessárias para ser um bom profissional podem ser desenvolvidas, desde que se tenha uma personalidade adequada, com boas condições de ego, e acima de tudo pela vontade em trabalhar com seres humanos. Ter este desejo em conhecer a dinâmica da personalidade humana, bem como os fenômenos psíquicos, é um fator determinante visto como um grande potencial para desenvolver as demais características. Estas podem ser desenvolvidas durante a construção da identidade psicoterapêutica, que se dá através de muito estudo, treino, prática, supervisão, análise pessoal. 37 15 BIBLIOGRAFIA Abreu, J. R. P. (1997). Psicoterapeutas no Brasil: formação e atividades terapêuticas- Estudo Piloto. Arquivos de Psiquiatria e.Psicoterapia.Psicanalítica, pp. 45-60 Bardin, L. (1988). Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70 Bion, W. R. (1992). Conversando com Bion. Rio de Janeiro: Imago. Bion, W. (2000). Cogitações. Rio de Janeiro: Imago Bloch, S. (1999). Uma introdução às psicoterapias. Lisboa: Climepsi Bucher, R. (1989). A psicoterapia depois da fala: fundamentos, princípios, questionamentos. São Paulo: EPU. Cardoso, E. R. G. (1985). A formação profissional do psicoterapeuta. São Paulo: Summus Cordioli, A. V. 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