Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Direito Processual Penal (Prof.: Ridison Lucas) 1 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu Olá! Vamos ao nosso 3º encontro de Direito Processual Penal. Hoje é dia de estudar sobre o tema INQUÉRITO POLICIAL. O assunto não cai, ele despenca em provas. Você terá acesso, ao final do material, a cadernos de questões para treinar e avaliar seus conhecimentos. Aqui, no PHD Concursos, você terá acesso a todas as ferramentas necessárias para acertar as questões de Processo Penal. Mas RILU, o material é muito grande, são muitas páginas... Para de reclamar e pode confiar no trabalho. Tudo foi confeccionado com muito carinho. A linguagem adotada será simples e objetiva, trazendo o conteúdo necessário para você alcançar o seu objetivo. Siga o nosso passo a passo e, em breve, tenho certeza de que você me mandará mensagem dizendo: hoje é o dia da minha posse. Então vamos lutar com sangue nos olhos até a posse. Pra cimaaaaaaa! Caveeeeeira! @PROFRILU 2 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu SUMÁRIO 1. INQUÉRITO POLICIAL .......................................................................................... 3 1.1 CONCEITO, NATUREZA E CARACTERÍSTICAS .................................................. 3 1.2 SUSPEIÇÃO DA AUTORIDADE POLICIAL .......................................................... 5 1.3 FORMAS DE INSTAURAÇÃO (INÍCIO DO IP) .................................................... 5 1.4 NOTITIA CRIMINS E DELATIO CRIMINIS .......................................................... 7 1.5 PROCEDIMENTOS INVESTIGATIVOS (DILIGÊNCIAS) ........................................ 9 1.6 INDICIAMENTO ............................................................................................ 12 1.7 CONCLUSÃO, PRAZOS E RELATÓRIO ............................................................ 13 1.8 INQUÉRITO POLÍCIAL CONTRA AGENTES DE SEGURANÇA PÚBLICA ............. 15 1.9 ARQUIVAMENTO ......................................................................................... 16 1.10 VALOR PROBATÓRIO .................................................................................. 21 1.11 MP E O PODER DE INVESTIGAÇÃO ............................................................. 21 1.12 DEMAIS DISPOSIÇÕES LEGAIS .................................................................... 21 3 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu 1. INQUÉRITO POLICIAL 1.1 CONCEITO, NATUREZA E CARACTERÍSTICAS Quando uma infração penal é praticada, ainda que ocorra a prisão em flagrante, ela não pode ser considerada culpada até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória (presunção de inocência). Assim, após a conduta típica, a polícia judiciária realizará um conjunto de diligências para obter elementos de prova e, após a conclusão, será utilizado pela pessoa responsável por protocolar em Juízo a ação com o pedido de condenação do infrator, iniciando o processo penal. Esse ciclo formado pela fase investigativa e a fase processual é chamado de persecução penal. Persecução penal é o conjunto de atividades que o Estado desenvolve no sentido de tornar realizável a sua atividade repressiva em sede penal. Comporta duas fases: investigação criminal (fase administrativa) e ação penal (fase processual). Na primeira fase da persecução penal, temos o inquérito policial (IP), que é um PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO, realizando antes do início do processo judicial, composto por uma série de diligências realizadas pela Polícia Judiciária para apurar a autoria e materialidade de uma infração penal. O IP é extrajudicial, anterior ao início da ação penal. O objetivo é fornecer elementos de prova para que o titular da ação penal possa propô-la em Juízo, daí o caráter informativo (reunir informações). O destinatário IMEDIATO do IP é o titular da ação penal (Ministério Publico ou ofendido) e o destinatário MEDIATO é o Juízo. Vejamos o art. 4º do CPP: Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria. Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função. A Polícia Judiciária é representada pela Polícia Civil e pela Polícia Federal. A função delas é apurar fatos criminosos e reunir elementos sobre a autoria e materialidade. No entanto, outras autoridades administrativas, com competência legal, também realizam investigações, como é o caso das Comissões Parlamentares de Inquérito – CPI, Inquéritos Policiais Militares e etc. O IP tem natureza administrativa e não é uma fase do processo (ele é pré-processual). Assim, irregularidades na fase de investigação não geram nulidade do processo. O IP é 4 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu chefiado por uma autoridade administrativa (autoridade policial) e tem as características descritas abaixo: SIGILOSO O IP é sigiloso para o povo em geral. Aqui não se aplica a publicidade como regra, pois não é um processo, mas sim um procedimento administrativo. O sigilo, contudo, não é absoluto. Ele não se aplica ao Juízo, MP, autoridade policial e na hipótese da Súmula Vinculante n. 14 do STF: SV 14: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. CPP: Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito contra os requerentes. Sobre a presença de advogado no interrogatório realizado na fase do inquérito policial, prevalece o entendimento de que o indiciado deve ser alertado sobre seu direito à presença de advogado. Entretanto, caso queira ser ouvido sem a presença do advogado, não haverá nulidade. A regra é que deve ser possibilitado ao indiciado, ter seu advogado presente no ato de seu interrogatório policial. INQUISITIVO No IP não há acusação e, assim, a pessoa ainda não pode ser chamada de acusada. É investigada ou indiciada, conforme o caso. O processo ainda não teve início e, por tal motivo, não há o direito ao contraditório e nem à ampla defesa. Observe que a CF/88 garante os princípios no PROCESSO, mas o IP é um procedimento. Por conta da ausência de contraditório, o valor probatório das provas obtidas no IP é reduzido. Apesar disso, o investigado ou indicado pode constituir defensor (é uma faculdade) e requerer algumas diligências, que serão realizadas ou não pela autoridade policial. OFICIOSIDADE As infrações penais podem ser de Ação Penal Pública (titular é o MP e pode ser Incondicionada ou Condicionada) ou de Ação Penal Privada (titular é o Ofendido). Quando se tratar de Ação Penal Pública Incondicionada, a autoridade policial deve instaurar DE OFÍCIO o IP, ou seja, independentemente de pedido. Nessa situação, será expedido um documento chamado Portaria. ESCRITO Todas as peças do IP serão reduzidas a escrito. Veja que o interrogatório ou oitiva de testemunhas devem ser reduzidos a termo (passar para o papel). Podemos dizer que o IP é um procedimento FORMAL. 5 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu Art. 9º Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado,reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade. OFICIALIDADE O IP é conduzido por um órgão OFICIAL do Estado, que é a Polícia Judiciária. INDISPONIBILIDADE Após a instauração do IP, a autoridade policial não pode efetuar o arquivamento, pois a função é exclusiva do Poder Judiciário. (A regra prevista no Pacote Anticrime de arquivamento do IP pelo Ministério Público está suspensa pelo STF). Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito. DISPENSABILIDADE IP não é obrigatório. Se o titular da ação penal possuir elementos suficientes para propor a ação penal em Juízo, o IP pode ser dispensado. Art. 39 (...)§5º O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de 15 dias. DISCRICIONARIEDADE NA CONDUÇÃO Não existe um padrão obrigatório prévio nas investigações. A autoridade policial tem liberdade para conduzir o IP da forma mais eficiente. A finalidade da diligência, todavia, deve observar o interesse público. Em face da discricionariedade, não há obrigatoriedade de realizar todas as diligências descritas no art. 6º do CPP. Ora, se houver um crime de homicídio, não há como ouvir o ofendido (inciso IV). 1.2 SUSPEIÇÃO DA AUTORIDADE POLICIAL A autoridade policial deve atuar com imparcialidade e deve se declarar suspeita quando houver motivo legal. Entretanto, se a própria autoridade não se declarar suspeita, a parte não poderá arguir a suspeição, conforme o CPP. CPP: Art. 107. Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito, mas deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal. 1.3 FORMAS DE INSTAURAÇÃO (INÍCIO DO IP) Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: I - de ofício; II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. Existem infrações que são de ação penal pública e, neste caso, a titularidade é do Ministério Público. No entanto, ela pode ser incondicionada ou condicionada. Nesta última, o MP somente poderá apresentar a denúncia, em Juízo, mediante a apresentação da condição 6 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu de procedibilidade, que pode ser a representação do ofendido ou a requisição do Ministro da Justiça. Nas ações penais privadas o titular é o próprio ofendido. Rilu, em que hipótese o crime será de ação penal pública ou privada, como faço para saber? A própria legislação vai dizer qual o tipo de ação penal para cada tipo penal. Se a lei for omissa, será de ação penal pública incondicionada. Vamos estudar com mais detalhes sobre isso na aula de ação penal. As formas de instauração do IP são as seguintes: DE OFÍCIO Ocorrendo um crime de ação penal pública incondicionada, a autoridade policial procederá à instauração do IP sem a necessidade de requerimento. No caso, será expedido um documento chamado Portaria. Se o crime for de ação penal privada ou pública condicionada, a instauração não poderá ser de ofício. REQUISIÇÃO DO MP O Ministério Público pode fazer uma requisição para que a autoridade policial instaure o IP. A requisição tem sentido de ordem e deve ser cumprida, salvo se for manifestamente ilegal ou não contiver os elementos fáticos mínimos para embasar a investigação. No último caso, a autoridade policial deve solicitar ao MP o fornecimento dos elementos. REQUISIÇÃO DA AUTORIDADE JUDICIAL O CPP estabelece de forma expressa que o Juízo pode requisitar a instauração do IP, nos moldes daquela realizada pelo MP (sinônimo de ordem). Ocorre que a Lei n. 13.964/19 acrescentou o art. 3º-A ao CPP, deixando de forma expressa que o sistema processual brasileiro é o acusatório, o que impediria, por consequência, a referida iniciativa do Juízo. Mas a Lei não alterou de forma expressa o art. 5º do CPP e, ainda por cima, o STF suspendeu a eficácia do art. 3º-A do CPP, logo, a regra ainda está em vigor e pode ser cobrada em provas. REQUERIMENTO DO OFENDIDO O próprio ofendido ou, conforme o caso, o seu representante legal, pode requerer a instauração do IP, fazendo constar, sempre que possível, os requisitos previstos no art. 5º, §1º, CPP. Requerimento é diferente de Requisição (ordem). Assim, se não houver elementos suficientes, o pedido do ofendido pode ser indeferido pela autoridade policial. Imagine, por exemplo, a hipótese de pedido para investigação de um adultério, que não é crime, caso claro de indeferimento. Caso ocorra o indeferimento, cabe recurso para o Chefe de Polícia. E quem é o Chefe de Polícia, Rilu? Depende da Unidade da Federação, em algumas é o Secretário de Segurança Pública e em outras é o Delegado Geral de Polícia. Para questões do CPP, siga a norma (Chefe de Polícia). 7 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu Art. 5º (...) §1º O requerimento a que se refere o n. II conterá sempre que possível: a) a narração do fato, com todas as circunstâncias; b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer; c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência. §2º Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia. AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE Apesar de não constar no rol do art. 5º do CPP, a doutrina enuncia que o IP também pode ter início com o auto de prisão em flagrante. Importante salientar que, no caso de crime processado por ação penal pública condicionada, a autoridade policial não pode dar início à investigação de ofício. Ora, se o MP não pode ajuizar a ação (denúncia) sem as condições de procedibilidade, o mesmo raciocínio serve para a instauração do IP. Art. 5º (...) §4º O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser iniciado. Nas ações penais privadas (cabíveis, por exemplo, nos crimes de Calúnia, Injúria simples e Difamação), a autoridade policial não pode instaurar o IP de oficio, pois depende de requerimento de quem tem qualidade para intentá-la. Em caso de falecimento da vítima, o CADI (Cônjuge, Ascendente, Descendente ou Irmão) poderá apresentar o requerimento. Art. 5º(...) §5º Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la. Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. Caso o IP tenha como objetivo a investigação de pessoa com foro privilegiado, a autoridade policial dependerá de autorização do Tribunal com competência para julgar a autoridade, que pode ser o STF, STJ, TRF ou TJ, conforme o caso. 1.4 NOTITIA CRIMINS E DELATIO CRIMINIS NOTITIA CRIMINIS é o CONHECIMENTO de um fato criminoso pela autoridade policial, que pode ser pela internet, comunicação de qualquer pessoa do povo e etc. Pode ser classificada da seguinte forma: 8 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu Notitia criminis de cognição imediata ou direta: quando a própria autoridade policial, através de suas atividades rotineiras, toma conhecimento do fato criminoso. Notitia criminis de cognição mediata ou indireta: na hipótese em que o conhecimento ocorre através de terceiros, como no caso de requerimento do ofendido com dados do fato criminoso. Notitia criminis de cognição coercitiva = na hipótese da prisão em flagrante. DELATIO CRIMINIS é a COMUNICAÇÃO do fato criminoso à autoridade policial. Para ficar fácil a compreensão, imagine que você fez um ConcursoPúblico, obteve a aprovação e está aguardando a nomeação. Aí eu acordo bem cedo, pesquiso na internet e o seu nome está lá! Pegaaaaaa! Imediatamente eu ligo para te dar conhecimento do fato. No caso, eu (Rilu) fiz uma DELATIO (comuniquei) e você recebeu uma NOTITIA (tomou conhecimento). Ficou fácil, né!? A Delatio Criminis pode ser: Delatio criminis simples: comunicação realizada por qualquer pessoa do povo, na forma do art. 5º, §3º, CPP. Art. 5º(...) §3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito. Delatio criminis postulatória: comunicação realizada pelo ofendido nos crimes de ação penal privada ou pública condicionada. Delatio criminis inqualificada: quando a comunicação é feita sem identificação, através do anonimato (delação apócrifa). Nesse caso, considerando a vedação constitucional ao anonimato, a autoridade policial verificará a procedência ou não das informações e, se realmente houver embasamento, instaurará o IP. Podemos afirmar que o IP não pode ser instaurado com base exclusiva (por si só) em denúncia anônima. Interessante observar que o STJ já decidiu que, no caso da delatio criminis inqualificada, o IP poderá ser instaurado quando o documento em questão (denúncia anônima) tiver sido produzido pelo próprio acusado ou constituir o próprio corpo de delito. 9 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu 1.5 PROCEDIMENTOS INVESTIGATIVOS (DILIGÊNCIAS) O art. 6º do CPP contém um rol não taxativo de diligências do IP. A autoridade policial não é obrigada a realizar todos os procedimentos descritos abaixo, pois ela possui discricionariedade na condução do IP. Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais; III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; IV - ouvir o ofendido; V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura; VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias; VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes; IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter. X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. O art. 7º do CPP prevê a reprodução simulada dos fatos. Importante observar que a participação do investigado/indiciado no ato não é obrigatória, pois ele não e obrigado a produzir prova contra si. Além disso, o procedimento é vedado no caso de contrariar a moralidade ou a ordem pública. Art. 7º Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública. O art. 13-A do CPP enuncia que, na hipótese de 6 (seis) tipos penais, o MP ou o Delegado de Polícia poderão requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de 10 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu empresas da iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos. A requisição deve ser atendida no prazo de 24 (vinte e quatro) horas. A regra vale para: →Sequestro ou cárcere privado (Art. 148 do CP) →Redução à condição análoga a de escravo (Art. 149 do CP) →Tráfico de Pessoas (Art. 149-A do CP) →Extorsão mediante restrição da liberdade (Art. 158, §3º, CP; sequestro relâmpago) →Extorsão mediante sequestro (Art. 159 do CP) →Facilitação de envio de criança ou adolescentes ao exterior (Art. 239 da Lei n. 8.069/90 - ECA) Art. 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no §3º do art. 158 e no art. 159 do Código Penal, e no art. 239 da Lei n. 8.069/90 (ECA), o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos. Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, conterá: I - o nome da autoridade requisitante; II - o número do inquérito policial; e III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela investigação. Nos crimes relacionados ao TRÁFICO DE PESSOAS, na forma do art. 13-B do CPP, para efeito de prevenção e repressão, o MP ou o Delegado de Polícia poderão requisitar, mediante autorização judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso. A disponibilização dos meios técnicos deve ser imediata e, no caso de prestadora de telefonia móvel celular (Vivo, Claro, Oi e etc.), durará até 30 dias, renovável, uma única vez, por igual período. Se houver necessidade de mais tempo, dependerá de autorização judicial. Além disso, o IP, no caso, deverá ser instaurado no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas, contadas do registro da respectiva ocorrência policial. 11 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) horas sobre a requisição, o MP ou o Delegado de Polícia requisitarão às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso, com imediata comunicação ao juiz. Observe que, nas hipóteses previstas no art. 13-A do CPP (dados e informações cadastrais) não há necessidade de autorização judicial, diferentemente do caso previsto no art. 13-B (meios técnicos adequados). Art. 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados ao tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderão requisitar, mediante autorização judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso. §1o Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento da estação de cobertura, setorização e intensidade de radiofrequência. §2o Na hipótese de que trata o caput, o sinal: I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qualquer natureza, que dependerá de autorização judicial, conforme disposto em lei; II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel celular por período não superior a 30 (trinta) dias, renovável por uma única vez, por igual período; III - para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será necessária a apresentação de ordem judicial. §3o Na hipóteseprevista neste artigo, o inquérito policial deverá ser instaurado no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas, contado do registro da respectiva ocorrência policial. §4o Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) horas, a autoridade competente requisitará às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso, com imediata comunicação ao juiz. O investigado ou indiciado e o ofendido poderão requerer a realização de diligências no IP, que serão realizadas ou não a juízo da autoridade policial. No entanto, se a infração deixar vestígios, o exame de corpo de delito será indispensável e o requerimento, na hipótese, não poderá ser negado. Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade. 12 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará a perícia requerida pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade. Vale destacar que o art. 15 do CPP está sem utilidade. A nomeação de curador pela autoridade policia era uma regra utilizada durante o período em que a maioridade civil era de 21 anos. Afinal, os menores são regidos pelo ECA. Sobre o art. 21 do CPP, que fala sobre a incomunicabilidade do preso, ou seja, deixa-lo sem nenhum contato com a família, advogado e mundo exterior, a doutrina é unânime ao afirmar que o dispositivo não foi recepcionado pela CF/88, principalmente pela vedação expressa da incomunicabilidade durante o estado de defesa (Art. 136, §3º, IV, da CF/88). Se durante o estado de sítio há proibição do instituto, imagine nos períodos ordinários. 1.6 INDICIAMENTO O indiciamento, que é ato privativo do Delegado de Polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias. Em outras palavras, é um ato em que a investigação é centralizada em um ou alguns suspeitos. Assim, hipoteticamente, se existiam 10 (dez) suspeitos da prática de uma infração penal e a autoridade polícia verificar que uma delas é a provável autora, o suspeito passará a ser indiciado e as investigações serão direcionadas para ele. Em relação às autoridades detentoras de foro por prerrogativa de função, a instauração do inquérito policial e indiciamento dependerão de prévia autorização do Tribunal com competência para julgamento do agente. Lei n. 12.830/13: Art. 2º(...) §6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar- se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias. O indiciamento constitui ato próprio do inquérito policial, privativo da autoridade policial, e somente poderá ser praticado até o recebimento da denúncia. A ausência de indiciamento não gera nulidade do processo. Segundo o STJ, o indiciamento após o recebimento da denúncia configura constrangimento ilegal, por ser ato próprio da fase inquisitorial. São tipos de indiciamento: 13 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu → Indiciamento FORMAL é a formalização do indiciamento, hipótese em que o Delegado de Polícia forma seu convencimento no sentido de que existir provas da materialidade do crime e indícios suficientes de autoria. Na situação, deve ser efetivado o auto de qualificação e interrogatório do indiciado, informações sobre sua vida pregressa e, por fim, o boletim de identificação, que, dependendo do caso, pode vir acompanhado da identificação criminal pelo processo datiloscópico. → Indiciamento MATERIAL ocorre antes da formalização; quando o Delegado de Polícia expõe as razões e os fundamentos da sua decisão. → Indiciamento COERCITIVO decorre da lavratura do auto de prisão em flagrante e, nesse caso, ele é obrigatório, coercitivo. → Indiciamento INDIRETO acontece na situação de o investigado não ser encontrado por estar em local incerto e não sabido. Nessa situação, o conteúdo do indiciamento formal ficará comprometido devido à falta do interrogatório do indiciado. 1.7 CONCLUSÃO, PRAZOS E RELATÓRIO O prazo para conclusão do IP, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, será de 10 (dez) dias, contados a partir do dia em que se executar a ordem de prisão. Se ele estiver solto, mediante fiança ou sem ela, o prazo será de 30 (trinta) dias. Esgotados os prazos, ou antes, se concluídas as investigações, a autoridade policial confeccionará um minucioso relatório das apurações realizadas no IP, que será enviado ao Juízo competente. Importante observar que, no caso de decretação de prisão temporária e, em seguida, convertida em prisão preventiva, o prazo para conclusão do inquérito é contado da data em que a prisão temporária tiver sido convertida em prisão preventiva, pois o art. 10, caput, do CPP, não faz menção à prisão temporária. Se o indiciado estiver solto e o fato for de difícil elucidação, a autoridade policial poderá requerer prorrogação do prazo ao Juízo. A decisão caberá ao Poder Judiciário, que pode deferir a prorrogação mais de uma vez, conforme o caso. O Art. 3º-B, §2º, do CPP, acrescido pela Lei n. 13.964/19, trouxe a possibilidade de prorrogação do inquérito, uma única vez, por até 15 (quinze) dias, no caso em que o investigado estiver preso, mediante representação da autoridade policial e ouvido o MP. Ocorre que o STF, na ADI 6.298, deferiu liminar para suspender a eficácia desta e de outras regras. Assim, continua em vigor a regra que permite a prorrogação do prazo apenas com o indiciado solto. 14 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu Art. 3º-B(...) §2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá, mediante representação da autoridade policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito por até 15 (quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação não for concluída, a prisão será imediatamente relaxada. Os prazos previstos no CPP são a regra, mas existem exceções previstas em outras leis: →Crimes de competência da Justiça Federal PRESO = 15 dias, prorrogáveis por até 15 dias SOLTO = 30 dias →Lei de Drogas, Tortura, Terrorismo ou Crimes Hediondos PRESO = 30 dias, podendo ser duplicados SOLTO = 90 dias, podendo ser duplicados →Crimes contra a economia popular PRESO ou SOLTO = 10 dias →Inquérito Policial Militar PRESO = 20 dias SOLTO = 40 dias, prorrogáveis por mais 20 dias. →Decretação de prisão temporária no caso de Crime Hediondo ou equiparado: O IP deve ser concluído no prazo máximo previsto para a prisão temporária (30 dias, prorrogáveis por mais 30 dias) Segundo o STJ, o prazo para conclusão da investigação, quando o indiciado estiver SOLTO, não gera qualquer repercussão por não acarretar prejuízos, logo, é considerando um PRAZO IMPRÓPRIO. Rilu, e como é feita a contagem do prazo para conclusão do IP, utilizando a regra do Processo Penal ou a do Direito Penal? Você deve saber que os prazos processuais são contados com a exclusão do dia do começo e inclusão do vencimento (Art. 798, §1º, CPP). Os prazos penais são contados coma inclusão do dia do começo (Art. 10 do CP). Assim, é importante memorizar que os prazos do IP têm natureza processual, aplicando-se, assim, a regra do CPP. No entanto, se o indiciado estiver preso, a contagem do prazo para conclusão do IP terá natureza material, utilizando a regra do CP(inclusão do dia do começo). 15 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu Concluídas as investigações, a autoridade policial fará um minucioso relatório, podendo indicar testemunhas que não foram inquiridas (mencionando o lugar que possam ser encontradas) e enviará os autos ao Juízo competente. Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela. §1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente. §2º No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas. §3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz. 1.8 INQUÉRITO POLÍCIAL CONTRA AGENTES DE SEGURANÇA PÚBLICA Na hipótese de investigações (inquérito policial, inquérito policial militar e demais procedimentos extrajudiciais) para apurar infração penal relativa ao USO DA FORÇA LETAL no exercício da função, pelos agentes descritos abaixo, de forma consumada ou tentada, incluindo as excludentes de ilicitude, serão aplicadas as seguintes regras: - O indiciado poderá constituir defensor (isso não é bem uma novidade, pois todos podem); - O investigado DEVERÁ SER CITADO da instauração do procedimento de investigação; - Se o indiciado não indicar defensor no prazo de 48h, a instituição a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos deverá ser intimada para a indicação de defensor. Como se vê, existe uma obrigatoriedade de representação por defensor na fase de investigação. Assim, hipoteticamente, se um agente de segurança pública, no exercício da função, usar força letal, resultando em infração penal, mesmo que em legítima defesa, ele poderá constituir defensor para atuar na investigação e será citado da instauração. Casos ele não constitua defensor no prazo de 48h, a instituição a que ele estava vinculado na época dos fatos será intimada para indicar defensor. 16 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu Tome cuidado, pois as referidas regras são aplicáveis para os agentes abaixo: →Polícia Federal →Polícia Rodoviária Federal →Polícia Ferroviária Federal →Polícias Civis →Polícias Militares →Corpo de Bombeiros Militares →Polícias Penais →Forças Armadas (se o fato ocorrer em missão para a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às instituições dispostas no art. 144 da Constituição Federal figurarem como investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações dispostas no art. 23 do Código Penal, o indiciado poderá constituir defensor. §1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser citado da instauração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação. §2º Esgotado o prazo disposto no §1º deste artigo com ausência de nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para a representação do investigado. § 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos servidores militares vinculados às instituições dispostas no art. 142 da Constituição Federal, desde que os fatos investigados digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem. 1.9 ARQUIVAMENTO Quando o crime for de ação penal pública, com é o caso do roubo, cabe ao MP protocolar em Juízo uma petição, chamada de Denúncia, com o pedido de aplicação de pena ao acusado. No entanto, caso o MP entenda que não tem elementos suficientes para oferecer a denúncia, ele fará um pedido para que o Juízo determine o arquivamento do IP. O pedido deve ser fundamentado e incluirá todos os fatos investigados. 17 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu Caso o Juízo discorde do MP por entender que não é o caso de arquivamento, remeterá os autos ao Chefe do MP (Procurador Geral). A autoridade máxima do MP decidirá se mantém ou não o requerimento de arquivamento. Se entender que a denúncia deve ser oferecida, o próprio Procurador Geral fará, ou então, designará outro membro do MP para que faça (ele tem que cumprir a determinação). Convencendo-se que o caso é de arquivamento, ele insistirá e o Juízo terá que acatar, arquivando o IP. CPP: Art. 28 (texto em vigor até a decisão definitiva da ADI 6.298). Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender. Nos casos de competência originária do STF ou do STJ, não se aplica o disposto no art. 28 do CPP, pois quem atua perante o STJ ou o STF é o próprio Procurador Geral da República (Chefe do MPU) ou um Subprocurador-Geral da República por delegação do PGR, de maneira que não seria cabível reapreciação do pedido de arquivamento pelo próprio PGR. Se o PGR requereu o arquivamento da investigação, não teria lógica o STF ou STJ discordar do pedido e remeter de volta para análise pelo próprio PGR. Nessa situação, o pedido do PGR não estará sujeito a controle jurisdicional, devendo ser atendido. Nos crimes de ação penal privada, após a conclusão do IP, os autos serão enviados ao Juízo para que o ofendido ou seu representante legal apresente Queixa-Crime (petição inicial na ação privada) no prazo decadencial de 6 (seis) meses. Escoado o prazo legal sem a iniciativa do ofendido, a decadência será reconhecida. Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito serão remetidos ao juízo competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir, mediante traslado. Apesar de não haver previsão legal, a doutrina fala sobre o ARQUIVAMENTO IMPLICITO, que ocorre nos casos em que o MP oferece denúncia contra apenas algum ou alguns dos investigados, ou ainda, em relação a apenas alguns fatos. Com relação aos demais indiciados e fatos, entende-se que ocorreu o arquivamento, não de forma expressa, mas implicitamente. O STF, contudo, não acata a teoria do arquivamento implícito por inexistência de previsão legal. 18 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu Existe, ainda, o ARQUIVAMENTO INDIRETO, que era utilizado por alguns doutrinadores para explicar a situação em que o MP deixava de oferecer a denúncia por entender que aquele Juízo era incompetente para receber a ação penal. No entanto, como o IP, depois de concluído, é encaminhado ao Juízo, ele recebe o pedido de declínio de competência com um tipo indireto de arquivamento e remete para o Juízo com competência prevista em Lei. Na verdade, não há um arquivamento propriamente dito, pois outro Juízo receberá a peça. Imagine um IP instaurado para apurar um fato atípico ou que já ocorreu a prescrição, ou ainda,para investigar alguém por mera perseguição (abusivo). Nestes casos, ocorrerá o TRANCAMENTO DO IP, que é um tipo anômalo de encerramento da atividade investigatória por decisão judicial na hipótese de não existir fundamento razoável para a instauração ou prosseguimento. A pessoa constrangida pela instauração do IP poderá impetrar Habeas Corpus para que o Juízo determine o trancamento. É o chamado HC “trancativo”. O Magistrado, ao decidir pelo arquivamento do IP, proferira uma sentença. Toda sentença transitada em julgado faz coisa julgada formal, isto é, produz efeitos dentro do processo em que foi proferida (eficácia endoprocessual), mas não impede que a causa seja novamente discutida em outro processo. Para que o trânsito em julgado impeça que o fato seja discutido novamente em outro processo, é necessário fazer coisa julga material. Rilu, a decisão de arquivamento do IP faz coisa julga material? Em REGRA, NÃO, pois a autoridade policial pode realizar novas diligências, com base em OUTRAS PROVAS (novas). Aí teríamos o desarquivamento do IP. Mas apenas para análise de novas provas, pois os elementos analisados anteriormente não foram suficientes para o prosseguimento da persecução penal. CPP: Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia. Súmula 524 do STF: Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas. 19 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu Para haver o desarquivamento do IP basta a existência de NOTÍCIA de novas provas. De acordo com a doutrina, há duas espécies de provas novas que podem gerar o desarquivamento do IP: → Substancialmente novas: são as inéditas, desconhecidas até então, porque ocultas, ou ainda inexistentes. Será uma prova nova, por exemplo, a arma do crime, até então escondida, contendo a impressão digital do acusado, seja encontrada posteriormente; → formalmente novas: as que já são conhecidas e até mesmo foram utilizadas pelo Estado, mas que ganham nova versão, como, por exemplo, uma testemunha que já havia sido inquirida, mas que altera sua versão porque fora ameaçada quando do primeiro depoimento. Todavia, existem exceções, casos em que o arquivamento fará coisa julgada material e, assim, as investigações não poderão ser retomadas, vedando-se o desarquivamento. Mesmo que o Juiz seja absolutamente incompetente, são incabíveis novas diligências nos casos abaixo: → Arquivamento por ATIPICIDADE da conduta não tem sentido desarquivar o IP para apurar novamente um fato que não é típico. Nesse caso, por exemplo, se houve arquivamento judicial com base no princípio da insignificância, não poderá haver reabertura das investigações. Da mesma, já pensou em desarquivar um IP para apurar um adultério? Não pode! Não pode ocorrer o adultério (rsrs) e nem a reabertura de investigações, mesmo diante de novas provas. → Arquivamento pela EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE Nas hipóteses previstas no art. 107 do CP, a decisão judicial de arquivamento do IP faz coisa julgada material, salvo na hipótese extinção da punibilidade por morte do agente e que, posteriormente, descubra-se que a certidão de óbito era falsa e a pessoa não estava morta (caso em que as investigações podem ser reabertas e desarquivado o IP). Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: I - pela morte do agente; II - pela anistia, graça ou indulto; III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; IV - pela prescrição, decadência ou perempção; V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; VII e VIII - (Revogados pela Lei nº 11.106, de 2005) IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. 20 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu →Arquivamento em face das EXCLUDENTES DE ILICITUDE ou CULPABILIDADE Aqui não é um ponto pacífico na doutrina e jurisprudência. O STF já decidiu que o arquivamento do IP motivado pelas excludentes de ilicitude ou culpabilidade não faz coisa julgada material e, por conseguinte, não impede a reabertura das investigações. O STJ, por sua vez, decidiu, pela 6ª Turma, que, “a par da atipicidade da conduta e da presença de causa extintiva da punibilidade, o arquivamento de inquérito policial lastreado em circunstância excludente de ilicitude também produz coisa julgada material.” A tendência é que as bancas cobrem apenas se o tema é pacífico ou não. E você sabe que, por enquanto, NÃO! Caso você tenha que se posicionar numa questão de prova, aconselho que siga o STF. Nas demais hipóteses (Atipicidade e Extinção da punibilidade) é pacífico que a decisão faz coisa julgada material, vedando o desarquivamento do IP. Mais um detalhe, existe hipótese excepcional de “recurso de ofício” no caso de arquivamento de IP relativo a crime contra a economia popular, na forma do art. 7º da Lei 1.521/51. Visto isso, cabe salientar que a Lei n. 13.964/19 alterou o art. 28 do CPP. No entanto, a nova regra foi suspensa pelo STF até o julgamento definitivo da ADI 6.298. O pacote anticrime excluiu o requerimento de arquivamento feito pelo MP ao Juiz. O arquivamento é realizado pelo próprio MP. Após isso, o MP comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial. Em seguida, o membro do MP encaminhará os autos para instância de revisão ministerial para fins de homologação do arquivamento. Observe que o controle do arquivamento é feito pelo próprio MP. A revisão do arquivamento também pode ser provocada por requerimento expresso da vítima ou do seu representante legal no prazo de 30 dias a contar da comunicação do arquivamento pelo membro do MP. Se o crime apurado foi praticado em detrimento da União, Estados e Municípios, a Chefia do órgão a quem couber a representação judicial do ente poderá requerer a revisão do arquivamento. Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei. (Redação dada pela Lei nº 13.964/19) §1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da 21 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu comunicação, submeter a matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica. (Incluído pela Lei nº 13.964/19) § 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento da União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamento do inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua representação judicial. Ufa, falta pouco para concluirmos o tema e você partir para a resolução de questões. Espero que esteja gostando do material. Ele é enxuto, objeto e minha meta e colocar apenas o que é importante para a prova. É um desafio gigantesco para mim, mas tem muito carinho aqui. Vamos pra cima com sangue nos olhos até a posse! 1.10 VALOR PROBATÓRIO No Brasil, vale o princípio do livre convencimento motivado, também chamado de persuasão racional. Assim, cabe ao Juízo, de acordo com o caso concreto, a valoração das provas. Ele é livre para decidir o peso que cada prova tem, ou seja, não existe hierarquia entre elas. O magistrado pode, inclusive, utilizar elementos colhidos na fase investigatória. O que não pode é fundamentar a decisão EXCLUSIVAMENTE em provas obtidas no IP. Por que Rilu? É que asprovas do IP são produzidas sem a obrigatoriedade do contraditório e da ampla defesa. CPP: Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. O valor probatório do inquérito policial, como regra, é considerado relativo, entretanto, nada obsta que o Juízo ABSOLVA o réu por decisão fundamentada exclusivamente em elementos informativos colhidos na investigação. Condenar não! 1.11 MP E O PODER DE INVESTIGAÇÃO O MP não pode instaurar e nem presidir o IP, pois a atribuição é da Polícia Judiciária. No entanto, a CF/88 autoriza a realização de procedimentos próprios de investigação. 1.12 DEMAIS DISPOSIÇÕES LEGAIS Além do que já estudamos, tome cuidado com os artigos do CPP abaixo e com o teor da Lei n. 12.830/13. 22 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu CODIGO DE PROCESSO PENAL Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito. Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra. Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial: I - fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos; II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público; III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias; IV - representar acerca da prisão preventiva. Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito à autoridade policial, senão para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia. Art. 22. No Distrito Federal e nas comarcas em que houver mais de uma circunscrição policial, a autoridade com exercício em uma delas poderá, nos inquéritos a que esteja procedendo, ordenar diligências em circunscrição de outra, independentemente de precatórias ou requisições, e bem assim providenciará, até que compareça a autoridade competente, sobre qualquer fato que ocorra em sua presença, noutra circunscrição. Art. 23. Ao fazer a remessa dos autos do inquérito ao juiz competente, a autoridade policial oficiará ao Instituto de Identificação e Estatística, ou repartição congênere, mencionando o juízo a que tiverem sido distribuídos, e os dados relativos à infração penal e à pessoa do indiciado. Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos. Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas. ESTATUTO DA OAB Art. 7º São direitos do advogado: (....) XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e 23 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; LEI Nº 12.830, DE 20 DE JUNHO DE 2013. Dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo delegado de polícia. Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo delegado de polícia. Art. 2º As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado. § 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais. § 2º Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de perícia, informações, documentos e dados que interessem à apuração dos fatos. § 3º (VETADO). § 4º O inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei em curso somente poderá ser avocado ou redistribuído por superior hierárquico, mediante despacho fundamentado, por motivo de interesse público ou nas hipóteses de inobservância dos procedimentos previstos em regulamento da corporação que prejudique a eficácia da investigação. § 5º A remoção do delegado de polícia dar-se-á somente por ato fundamentado. § 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias. Art. 3º O cargo de delegado de polícia é privativo de bacharel em Direito, devendo-lhe ser dispensado o mesmo tratamento protocolar que recebem os magistrados, os membros da Defensoria Pública e do Ministério Público e os advogados. UFA! Aqui encerramos a nossa AULA 3. Até o nosso próximo encontro. 24 Direito Processual Penal – Ridison Lucas @profrilu Professor Ridison Lucas (instagram @profrilu)
Compartilhar